Tag: Len Wein

  • Resenha | Monstro do Pântano: Raízes – Volume 2

    Resenha | Monstro do Pântano: Raízes – Volume 2

    No segundo encadernado de histórias do Monstro do Pântano, somos apresentados às histórias compreendidas entre as edições 7 e 13 de Swamp Thing. Ainda com roteiros de Len Wein, o titulo de terror da DC Comics mantém a sua média de ótimas histórias, além de plantar uma ideia muito interessante que viria a ser abordada futuramente por Alan Moore.

    É interessante observar que Wein vai adicionando cada vez mais camadas ao Monstro do Pântano, fazendo com que ele forme algumas alianças que poderiam soar improváveis. É o que acontece na primeira história, quando Alec Holland chega a Gotham City e se une ao Batman. É uma pena que em dado momento o protagonista tenha que ceder muito espaço para o Homem Morcego, porém ainda assim a dinâmica é bem interessante. O mesmo pode ser dito de Mutt, o cão que o Monstro meio que adota. Há um acontecimento no final dessa história que a faz marcante, ainda que não seja das melhores.

    O roteirista continua fazendo uso de referências históricas e culturais ao longo dos roteiros. H. P. Lovecraft surge como inspiração em vários momentos, assim como obras de ficção-científica como Star Trek. Há ainda alguns sub-textos sociais bem interessantes adicionados a algumas histórias, principalmente em O Homem que Não Quis Morrer, onde Wein mistura elementos de horror à escravidão dos negros nas plantações de algodão dos sul dos Estados Unidos. Todas essas referências e inspirações do autor Len Wein conferem uma profundidade a história e também aos personagens, tanto o protagonista quanto a alguns coadjuvantes.

    A arte de Bernie Wrightson se mantém ótima e muito condizente com toda a pretensão da HQ. Porém, O Homem que Não Quis Morrer marca a ultima edição do ilustrador no comando da arte. A partir de As Minhocas Gigantes ele é substituído por Nestor Redondo, que apesar de ser um ótimo desenhista, não tem um estilo que encaixe tão bem com o personagem. Há uma espécie de humanização do Monstro do Pântano, com seus traços se tornando menos bestiais e mais humanos.

    O compilado da Panini se encerra com a história A Conspiração Leviatã, história que funciona de forma dupla para o Monstro Pântano: caso a série não tivesse continuidade, fecharia o arco do personagem com uma descoberta bombástica para ele, visto que a trama se concentra em uma espécie de desvendamento da origem do estranho ser. A história também poderia servir como um reboot leve, com o Monstro do Pântano adquirindo novas características e pavimentando um início de caminho para quem viesse assumir os roteiros posteriormente, visto que Len Wein não mais queria fazer nada com o monstro desde a saída de Wrightson.

    Enfim, esse segundo volume de Monstro do Pântano: Raízes apresenta mais um compêndio de histórias desse intrigante personagem da DC Comics, que apesar de não serem brilhantes, tem alguns ótimos momentos.

  • Review | Swamp Thing (Episódio Piloto)

    Review | Swamp Thing (Episódio Piloto)

    A DC/Warner tem investido bastante em seus novos produtos para televisão. Com Titãs e Patrulha do Destina houve uma bela dedicação em produção, elenco e direção de arte. Por mais que ambas não sejam perfeitas, há méritos em ambas, e não poderia ser diferente com o Monstro do Pântano, em Swamp Thing, seriado de horror que adapta a criação de Len Wein, e posteriormente, imortalizada por Alan Moore.

    O piloto se inicia bastante sombrio, com pessoas sendo atacados num barco. Dirigido por Len Wiseman, diretor e criador de Underworld e realizador de Duro de Matar 4.0. Sua carreira recente é mais frequente em produções de TV, e apesar de seus longa-metragens não terem tanto sucesso, a condução aqui é bastante correta. O maior mérito certamente é o equilíbrio da fotografia com elementos digitais.

    Há um bocado de influências visuais de James Wan (diretor de Aquaman e um dos produtores da série), Tobe Hooper (Massacre da Serra Elétrica) e Wes Craven (Pânico) – esse último responsável pela péssima adaptação para os cinemas de 1982. O episódio é contemplativo em seu início e introduz paulatinamente os personagens, como Abigail Arcane (Crystal Reed) e Alec Holland (Andy Bean). A introdução de Holland mistura elementos de horror e gore que se espera nessa produção.

    No entanto, há uma “barriga” no roteiro. A parte “humanizada” é demasiado longa e pouco desenvolvida, soando forçada em muitos momentos, embora seja fundamental algum aprofundamento, ainda que as partes de horror compensem todo o restante. Mesmo as cenas escuras são muito bem trabalhadas e os efeitos não deixam nada a desejar às produções de cinema recentes.

    O pecado mora na trilha, bastante expositiva, antecipando quase todas as sensações dos personagens. A criatura é bem construída e funciona visualmente, ao menos nesse pequeno vislumbre. O texto é bastante óbvio dentro dessa construção, abrindo possibilidades para que absolutamente qualquer coisa possa ser exibida ao longo dos dez episódios que estarão nessa primeira temporada, podendo dar vazão a histórias mais genéricas ou clássicas, como já vem sendo feito em Patrulha do Destino. Há potencial para algo grandioso, mas a sensação primária é de que será algo mais genérico, com potencial para melhorar tal qual ocorreu com Preacher. É esperar para ver.

    https://www.youtube.com/watch?v=n9AkPtOxaws

  • Resenha | Lendas do Universo DC: Darkseid

    Resenha | Lendas do Universo DC: Darkseid

    A Editora Panini vem publicando há algum tempo uma série de encadernados em capa cartão que se propõe a apresentar histórias consideradas clássicas dos maiores personagens da DC Comics. Após várias séries bem-sucedidas com o Batman de décadas passadas, Superman e Mulher-Maravilha também ganharam sua coleção lendária. Em 2017, os leitores foram pegos de surpresa com o título Lendas do Universo DC: Darkseid, primeiro da série dedicado a um vilão e desenhado por John Byrne. O que o título da edição deixou escapar é que tratava-se de uma republicação da minissérie Lendas, um marco inicial para várias séries da DC após a reformulação desencadeada em Crise nas Infinitas Terras. A importância de Lendas para a cronologia DC parece ter sido colocada em segundo plano, já que foi o nome do vilão da trama que estampou a capa da revista.

    Infelizmente, ler a saga hoje sem o contexto histórico da época pode ser frustrante para quem não acompanhou o desenrolar das reformulações pós-Crise. Escrita por nomes de peso como John Ostrander e Len Wein e desenhada por Byrne com arte-final de Karl Kesel, Lendas foi o primeiro crossover da DC após o turbilhão que arrasou o multiverso de seus personagens em Crise nas Infinitas Terras. A minissérie principal, apresentada nesse volume, tem seis partes, mas desenrola-se por outros 22 capítulos nos títulos mensais da época. Isso faz com que ler o encadernado traga a sensação de que algo está faltando – e realmente está! Somos apresentados a conceitos que não se desfecham e desfechos que não vimos o desenrolar. Ainda assim, é divertido ver os maiores heróis da época juntos em uma mesma aventura.

    A trama apresenta o vilão-título com um plano para acabar com os super-heróis fazendo com que o povo da Terra passe a desconfiar dos justiceiros de collant. Para isso, Darkseid envia ao nosso planeta o Glorioso Godfrey, que aqui se torna um líder político carismático, que ganha seguidores através de bravatas e discurso de ódio contra as minorias e seus defensores. Distorcendo a visão de seu público sobre os chamados super-heróis, Godfrey consegue uma legião de seguidores fanáticos que o vê como uma espécie de messias que vai libertar o povo de uma ameaça que apenas ele vê. Seus seguidores fanáticos enxergam nele uma aura quase mítica, de alguém que “fala o que pensa” e “conta a verdade”, mas precisa lidar com um governo que, segundo ele, estaria contra o povo do seu país. Com esses pensamentos extremos, consegue convencer o presidente Ronald Reagan (sim, ele está na história) a expedir um Ato Institucional proibindo as atividades dos super-heróis, fazendo com que a Liga da Justiça e os Novos Titãs se tornem ilegais.

    O restante da história se divide em como os heróis lidam com a situação até se unirem para desmascarar o vilão e em ganchos para as dezenas de subtramas que não aparecem na revista. Vemos a Liga da Justiça  de Detroit aparecer e, mais tarde ficamos sabendo que ela foi desativada para, então, uma nova Liga surgir ao final. Vemos o legionário Cósmico em apuros logo no início, mas jamais sabemos o que houve com ele, pois seu desfecho aconteceu em uma série própria. O único tie-in apresentado na edição é o do Superman em Apokolips. Ainda assim, é interessante ver o surgimento do Esquadrão Suicida (uma vez que atividades heroicas estavam proibidas), o ressurgimento do Capitão Marvel (quando seu nome ainda não tinha sido editorialmente mudado para Shazam) e o primeiro encontro da Mulher-Maravilha com outros heróis (também deslocado, graças à reformulação da personagem que o próprio Wein desenvolvia, à época, com George Perez).

    Lendas do Universo DC: Darkseid pode ser uma aventura divertida, mas depende muito de conhecimentos prévios do leitor ou de certo desprendimento das questões editoriais. Byrne está em sua melhor fase, e seus desenhos são bonitos de se ver, mesmo que caricato às vezes ou com soluções fáceis (como desenhar apenas as cabeças de personagens ao retratar uma multidão). Uma leitura leve, descompromissada, possivelmente datada, mas com alguns temas que, se vistos como metáfora, ainda nos parecem muito atuais.

    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram.

  • Resenha | Batman ’66: O Episódio Perdido

    Resenha | Batman ’66: O Episódio Perdido

    Batman 66 - O Episódio Perdido - Capa

    Algumas versões, interpretações ou fases de personagem se tornam tão marcantes que viram objeto de culto pelo público. Em 1966, Batman já havia estrelado em séries anteriores, porém a série produzida pela ABC conquistou grande audiência em suas três temporadas, em 120 episódios reverenciados. A vertente narrativa – diferente daquela conhecida hoje, focada em um herói mais inocente, sem uma personalidade taciturna – traduziu-se de formas diferentes ao abordar o Homem-Morcego. Mesmo hoje, tendo momentos quase cômicos, permaneceu no imaginário pelas boas aventuras de um período que não havia um conceito hiper-realista como representação.

    Diante deste sucesso, a DC Comics desenvolveu uma nova revista destacando essa fase do herói, uma homenagem explícita explorando a narrativa da série, como os conhecidos cortes de cena e as cenas de luta cujas onomatopeias apareceriam na tela. Batman 66’ teve 30 edições e um especial lançado em 2015.

    Contendo diversas histórias curtas, a revista conseguiu se manter por um bom período no mercado, ainda que, devido à ausência de uma cronologia, o projeto tivesse sobrevivido em um fôlego breve e se destacasse pela natural nostalgia dos leitores. Dentro destas histórias, Batman 66’ – O Episódio Perdido apresenta uma interessante intersecção entre a série original e os quadrinhos.

    Lançado no país pela Panini Comics como edição capa dura, mesmo formato da série Batman 66’ regular, este especial adapta um roteiro que nunca foi ao ar, apresentando a origem do Duas-Caras. Portanto, trata-se de um episódio inédito cujo roteiro foi desenvolvido por Len Wein a partir do original de época, com arte assinada pelo grande José Luis García-Lopez.

    Se a série como um todo é uma homenagem nostálgica, este especial é aquele que traz o maior ganho narrativo por simbolizar uma continuidade inédita da trama original. Estruturalmente, o estilo se mantém como nos anteriores: roteiro e desenhos se apoiam na dinâmica do seriado com falas de impacto, e ação simples e bem pontuada que, evidente, ressalta o talento de nossos heróis ao combater o crime.

    Por se tratar de uma única história, a edição contém, além do especial, esboços da composição dos personagens e trechos do roteiro. Recheado com material extra que sempre agrada aos leitores, Batman 66’ – O Episódio Perdido é a edição que mais se destaca dentro da homenagem à série clássica. Ainda que não fuja da emulação do mesmo estilo narrativo, ao menos resgata um produto genuíno de uma época anterior, produzido como um registro novo de uma publicação presente na memória de grande parte dos leitores do Homem-Morcego.

    Compre: Batman 66′ – O Episódio Perdido

    Batman 66 - O Episódio Perdido - 01

  • Resenha | Monstro do Pântano: Raízes – Volume 1

    Resenha | Monstro do Pântano: Raízes – Volume 1

    Monstro do Pântano - Raizes - Vol. 1

    Oscilando entre a genialidade científica e ataques de ira compreensíveis e razoáveis, já que são inerentes a sua natureza, o herói do encadernado da Panini ganha vida nas primeiras histórias de Len Wein, apresentando o que seria, talvez, sua maior contribuição para os quadrinhos. Em O Monstro do Pântano (Swamp Thing), o autor apresenta seu alter-ego, o cientista Alec Holland, que após uma fatalidade torna-se um avatar da natureza, trazendo à baila uma discussão interessante, que leva em conta os desmandos e exageros presentes na maioria das ações humanas em relação ao planeta em que vive.

    Na introdução feita por Wein, o autor começa falando que não sabia estar criando uma lenda. Notar a perplexidade do escritor é algo evidente, até pela ordem dos fatos que seguiram aquele dezembro de 1970. A ideia original foi aceita por parte daqueles que cercavam Wein, ainda que a sua premissa não fosse completamente entendida por eles. Uma vez aprovada, a história foi publicada em House of Secrets número 92, iniciando-se com a narração de seu protagonista, que ainda tentava entender o que tinha acontecido. O modo como a “criatura” faz seu recordatório varia entre o presente e o passado inócuo, fazendo uma confusão quanto à temporalidade do período enquadrado. Somente quando o monstro atravessa a janela para salvar sua amada, pode-se compreender o que era alucinação ou realidade dentro dessa primeira trama. Sua aparência abominável o faz sentir-se indigno perante os olhos da mulher que ele um dia ele chamou de sua. O pântano era o único lugar que o aceitaria naquela configuração, mas isso não era conforto suficiente para seu coração choroso.

    No primeiro número de Swamp Thing, é contada a história do cientista Alec Holland, que habita o seu laboratório, fazendo seus experimentos sob os olhares dos seus inimigos. A armadilha que captura Holland é mostrada de forma muito violenta, especialmente em comparação com os outros pares de revistas e gibis infantis. A tragédia e o pântano, lugar onde não há qualquer possibilidade de esperança, tornam-se uma nova chance de vida, uma alternativa perturbadora, mas libertária. O protagonista assume, então, sua nova vida de criatura grotesca, denominada Monstro do Pântano. Seus vilões são figuras tacanhas, caricatas, feios como o diabo, bandidos clássicos que se mostram seres maniqueístas,

    O trabalho de arte de Bernie Wrightson aumenta a bizarrice presente na história, retratando figuras inumanas, que se tornam ainda mais assustadores pela contraditória verossimilhança que há em seus contornos. A situação é ainda mais piorada com as cores da edição feita pela Panini, que aumentam o caráter bizarro da obra. A criatura em que Holland se tornou tem sua trajetória carregada de símbolos que remetem ao messianismo. Mesmo rejeitado em um primeiro momento, a sua mente elevada é vista pelas criaturas fisicamente prejudicas como possibilidade de ter qualquer sinal de ascensão.

    Logo se descobre que toda a fisiologia do Monstro é vegetal, até seu modo de respirar é dependente de dióxido de carbono. Arcane propõe, então, a Alec que ele compartilhe seu fardo, o que devolveria sua configuração humana. Mas como os heróis altruístas da DC Comics, ele abre mão disso para deter o vilão e impedir que ele ficasse mais poderoso ainda. Ver a si mesmo como um homem-monstro é penoso, mas é um fardo que Holland se vê obrigado a carregar, mesmo com todo o desgosto.

    O ideário visual remete demais aos filmes de monstro da Universal, como A Noiva de Frankenstein, seja na figura deformada de Arcane ou na de sua filha, Abigail Arcane, que mais tarde, ganharia ainda mais importância. Semelhante às películas dos anos 30 e 40,  Monstro do Pântano retoma a caça às criaturas. Por mais que não haja todo o subtexto que marcou a fase do mago Alan Moore à frente do título, há uma chancela de história em clima clássico, aumentada demais pela belíssima arte, sem dúvida, o maior destaque.

    As referências ao cinema seguem, mencionando graficamente até os filmes barrocos da Hammer, protagonizados por Christopher Lee e/ou Peter Cushing. Os vilões deixam de ser somente homens gananciosos, para exibir também figuras transmorfas. A capacidade de Wrightson em transformar figuras grotescas em seres absurdamente assustadores é impressionante. Próximo ao fim da publicação, no penúltimo número do compilado, a temática de aparência versus essência é novamente resgatada, mostrando a maldade analisada de modo não normativo, já que o preconceito não é partilhado pelos infantes.

    A trágica trajetória do Monstro o impede de viver qualquer sensação que não seja negativa. Mesmo superando a impossibilidade física de se relacionar fisicamente com humanos, ele assiste à destruição de seu par, incólume ante a terrível constatação de que a solidão habitaria os seus dias. Extravasar sua fúria é algo que naturalmente o impele a agir. Raízes Volume 1 termina no número 6 de Monstro do Pântano, com um gancho para a próxima edição, que ainda não foi lançada no Brasil por motivos ainda não esclarecidos. É notório que muito da qualidade de roteirista de Len Wein se perdeu, tomando por base seu episódio Ozymandias de Antes de Watchmen. Seu ofício como editor tornou-se muito mais digno de nota do que seus guiões, mas certamente, nesse exemplar, ele ainda estava em forma. O criador do Wolverine ainda teria na parceria com Bernie Wrightson um casamento perfeito, apresentando uma figura visualmente assustadora e empática ao extremo, cuja jornada é tragicômica e singular.

  • Resenha | Antes de Watchmen: Ozymandias

    Resenha | Antes de Watchmen: Ozymandias

    Antes de Watchmen - Ozzymandias

    A birra entre Len Wein e Alan Moore, que ocorre desde a época de Monstro do Pântano ganha novos capítulos na parte que cabia a Wein em Before Watchmen. A escolha não foi por acaso, pois este título era o que tinha maior potencial para polêmica e para espinafração e dor de cabeça ao escritor barbudo, claro, se ela ainda se importasse com os tais “guaxinins que mexem no seu lixo”. Este volume tem a arte do excelente Jae Lee.

    A história é uma recordatória, datada de pouco antes do infalível plano impingido pelo homem mais inteligente do mundo. Redundante e proativo, Wein resolve visitar a infância do personagem, que até havia sido citada por alto na obra de Moore, utilizando os detalhes da história original e acrescentando outras nuances, destacando o fato dele esconder seu intelecto ainda na escola. É curioso como ele esconde sua inteligência, mas não teima em cair na mão com seus colegas, quase sendo expulso, sua impulsividade é insultante e mal construída, mesmo tratando-se de um infante. Ao menos tal coisa serviu para ele sair do armário e assumir sua genialidade.

    Após isto, começa a peregrinação do herói, a busca de repetir os passos de Alexandre o Grande, inclusive mostrando uma cena em que ele dorme com uma mulher, afim de afastar qualquer referência a sua suposta homossexualidade, e além de salvá-lo desta “condição”, tornou-se o catalisador para ele se tornar um herói mascarado, na busca por desvendar os motivos de sua morte. Apesar da história um tanto pobre, o lápis de Lee é absurdamente bom e dá a trama um ar de história pulp fantástico, que até a faz se diferenciar do resto dos volumes.

    Também é mostrado o início da rivalidade entre Veidt e o Comediante, graças a investigação de discípulo de Ramses atrás do paradeiro do Justiceiro Encapuzado. Logo até o protagonismo da história é deixado de lado, pois Wein se preocupa mais em recontar os eventos da obra original do que tentar contar uma história minimamente original, até o preenchimento das lacunas vagas – coisa que ele prometeu “corrigir” – não é feita de modo minimamente satisfatório.

    O herói decide exercer o poder semelhante ao do Grande Irmão, do romance de George Orwell, monitorando os principais atos da humanidade, praticando a vigia aos vigilantes. É vendo o Doutor Manhattan que ele se lança em outra nova aventura. A partir do ingresso do “Super-Homem” neste universo, tudo mudou, até as tomadas que incluem discursos políticos têm o mesmo tom azulado, como a pele do indestrutível personagem. Até se levanta uma possibilidade que poderia ser interessante, ligando o uso do azulão como arma por JFK, apontando este como um motivo para sua morte, mas a forma como foi conduzida, a coisa foi demasiada pretensiosa e muito incongruente.

    A mão de Len Wein é pesada ao mostrar as questões polemizantes da revista, é quase tão sutil quanto Zack Snyder, dado a falta de traquejo em conduzir a rivalidade Comediante x Ozymandias. Ao menos, os desenhos de Lee são ótimos, especialmente quando mostram as ações de Manhattan no Vietnã, dilacerando os inimigos dos americanos.

    A conclusão da biografia em áudio de Veidt mostra os momentos imediatamente anteriores a saga principal, obviamente explicitando a construção do plano sobre a “invasão” que seria realizada em Nova Iorque. A superioridade do intelectual é demonstrada visualmente, com ângulos que o engrandecem e o põem em perspectivas de maior tamanho que os seus iguais. O recrutamento dos participantes da teoria da conspiração a respeito da polêmica ao herói atômico é dos mais óbvios e completamente desnecessário. O grande problema da história certamente é a necessidade de Len Wein procurar pelo em ovo ao invés de tentar contar uma nova história num mundo já conhecido. Em alguns momentos, a HQ até parece um remake, mas dos piores já feitos, sem dúvida. A vontade de ser “mais real que o rei” e o revanchismo são os maiores pecados desta obra.