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  • Resenha | Lendas do Universo DC: Darkseid

    Resenha | Lendas do Universo DC: Darkseid

    A Editora Panini vem publicando há algum tempo uma série de encadernados em capa cartão que se propõe a apresentar histórias consideradas clássicas dos maiores personagens da DC Comics. Após várias séries bem-sucedidas com o Batman de décadas passadas, Superman e Mulher-Maravilha também ganharam sua coleção lendária. Em 2017, os leitores foram pegos de surpresa com o título Lendas do Universo DC: Darkseid, primeiro da série dedicado a um vilão e desenhado por John Byrne. O que o título da edição deixou escapar é que tratava-se de uma republicação da minissérie Lendas, um marco inicial para várias séries da DC após a reformulação desencadeada em Crise nas Infinitas Terras. A importância de Lendas para a cronologia DC parece ter sido colocada em segundo plano, já que foi o nome do vilão da trama que estampou a capa da revista.

    Infelizmente, ler a saga hoje sem o contexto histórico da época pode ser frustrante para quem não acompanhou o desenrolar das reformulações pós-Crise. Escrita por nomes de peso como John Ostrander e Len Wein e desenhada por Byrne com arte-final de Karl Kesel, Lendas foi o primeiro crossover da DC após o turbilhão que arrasou o multiverso de seus personagens em Crise nas Infinitas Terras. A minissérie principal, apresentada nesse volume, tem seis partes, mas desenrola-se por outros 22 capítulos nos títulos mensais da época. Isso faz com que ler o encadernado traga a sensação de que algo está faltando – e realmente está! Somos apresentados a conceitos que não se desfecham e desfechos que não vimos o desenrolar. Ainda assim, é divertido ver os maiores heróis da época juntos em uma mesma aventura.

    A trama apresenta o vilão-título com um plano para acabar com os super-heróis fazendo com que o povo da Terra passe a desconfiar dos justiceiros de collant. Para isso, Darkseid envia ao nosso planeta o Glorioso Godfrey, que aqui se torna um líder político carismático, que ganha seguidores através de bravatas e discurso de ódio contra as minorias e seus defensores. Distorcendo a visão de seu público sobre os chamados super-heróis, Godfrey consegue uma legião de seguidores fanáticos que o vê como uma espécie de messias que vai libertar o povo de uma ameaça que apenas ele vê. Seus seguidores fanáticos enxergam nele uma aura quase mítica, de alguém que “fala o que pensa” e “conta a verdade”, mas precisa lidar com um governo que, segundo ele, estaria contra o povo do seu país. Com esses pensamentos extremos, consegue convencer o presidente Ronald Reagan (sim, ele está na história) a expedir um Ato Institucional proibindo as atividades dos super-heróis, fazendo com que a Liga da Justiça e os Novos Titãs se tornem ilegais.

    O restante da história se divide em como os heróis lidam com a situação até se unirem para desmascarar o vilão e em ganchos para as dezenas de subtramas que não aparecem na revista. Vemos a Liga da Justiça  de Detroit aparecer e, mais tarde ficamos sabendo que ela foi desativada para, então, uma nova Liga surgir ao final. Vemos o legionário Cósmico em apuros logo no início, mas jamais sabemos o que houve com ele, pois seu desfecho aconteceu em uma série própria. O único tie-in apresentado na edição é o do Superman em Apokolips. Ainda assim, é interessante ver o surgimento do Esquadrão Suicida (uma vez que atividades heroicas estavam proibidas), o ressurgimento do Capitão Marvel (quando seu nome ainda não tinha sido editorialmente mudado para Shazam) e o primeiro encontro da Mulher-Maravilha com outros heróis (também deslocado, graças à reformulação da personagem que o próprio Wein desenvolvia, à época, com George Perez).

    Lendas do Universo DC: Darkseid pode ser uma aventura divertida, mas depende muito de conhecimentos prévios do leitor ou de certo desprendimento das questões editoriais. Byrne está em sua melhor fase, e seus desenhos são bonitos de se ver, mesmo que caricato às vezes ou com soluções fáceis (como desenhar apenas as cabeças de personagens ao retratar uma multidão). Uma leitura leve, descompromissada, possivelmente datada, mas com alguns temas que, se vistos como metáfora, ainda nos parecem muito atuais.

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  • Resenha | Quarteto Fantástico: Imaginautas

    Resenha | Quarteto Fantástico: Imaginautas

    Quarteto Fantastico - Imaginautas - Capa

    Em sincronia com o lançamento do novo filme do Quarteto Fantástico, cuja estreia está programada para agosto, a Panini Comics lança no mercado uma edição especial reunindo as primeiras histórias da fase de Mark Waid, uma elogiada passagem no maior gibi do mundo – de acordo com Stan Lee – e um bom momento para novos leitores.

    Recentemente, dois arcos de Waid foram relançados na coleção de Graphic Novels da Salvat / Marvel: Inconcebível e Ações Autoritárias. Imaginautas marca o início de sua passagem pelo título e demonstra um acerto por parte da editora em lançar um conteúdo diferente ao invés de replicar em outro formato as histórias da Salvat. Reunindo tais arcos, temos metade da passagem de Waid pela revista em compilados.

    Primeiros volumes de novos roteiristas sempre seguem um padrão que introduz a narrativa do autor a um novo universo, ao mesmo tempo que incorpora argumentos anteriores, coerentes com a nova visão a ser explorada. Diferentemente de outros roteiristas, Waid não promove uma longa história em sua estreia. Mas se apoia em duas narrativas breves, de uma única edição, para introduzir bases da equipe, e ainda realiza um interessante jogo metalinguístico. Em Virado do Avesso, o grupo constata que está em baixa no mercado de super-heróis e contrata uma nova equipe de marketing para retrabalhar a imagem do Quarteto Fantástico. De certa maneira, o roteiro reflete as passagens de escritores por um título, muitas vezes convidados para alavancar vendas e atrair o público. Neste primeiro momento, Waid deixa de lado o lado heroico e enfoca a família. As brincadeiras entre Johnny Storm e Ben Grimm, o trabalho constante do cientista Reed Richards e como sua obsessão afeta a esposa Sue e seus filhos. Buscando maior responsabilidade para o sempre adolescente Tocha Humana, Sue promove-o, em 24 Quadras e Uma Quina, à equipe financeira da Quarteto Fantástico LTDA. Modificações simples na estrutura narrativa que reforçam a mensagem familiar do grupo, uma vertente existente desde sua criação.

    Os Imaginautas configuram a alcunha de equipe pioneira, não apenas por esta ser a primeira lançada pela Marvel, mas também por ser desbravadora de novos mundos e universos. A ficção científica e a aventura sempre foram fios condutores destas histórias. Dividida em três partes, Consciência é um bom exemplo da inovação aventureira, com uma narrativa plausível sobre uma equação viva que deseja encontrar em Richards um igual. Pequenas coisas… também transita neste mesmo tom, sem refletir o ideal realista que foi a base de muitos títulos da Casa das Ideias na última década. Trata-se de uma trama leve de ação e aventura sem um apoio fiel da realidade.

    Ao contrário do que informa a contra-capa, a edição reúne os números 57, 60 a 66 – e não 65 – e apresenta uma história curta do roteirista anterior, Karl Kesel, o qual trabalha posteriormente com Waid nos roteiros. Nesta história, Ben Grimm é a personagem central em retorno à mítica Rua Nancy e sua gangue. Em recortes do passado, o histórico pregresso do jovem Grimm é apresentado em contraposição ao presente em que, adulto, retorna ao local para reencontrar um dono de uma loja de penhores, tradicional na região. Uma trama poética que intensifica a vertente familiar e sensível vista, nesse caso, por outro roteirista.

    Com 196 páginas e capa cartonada, Imaginautas é um bom ponto de início aos novos leitores e um começo bem acertado ao fugir das tradicionais narrativas longas e situar as personagens em pequenas histórias fechadas, antes de partir para uma grande história. Quarteto Fantástico - Imaginautas