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  • Resenha | Legião: Origem Secreta

    Resenha | Legião: Origem Secreta

    Um dos principais supergrupos da DC, a Legião dos Super-Heróis tem uma questão editorial um tanto complicada. Após a Crise nas Infinitas Terras ficou estabelecido que Superman jamais teria sido o Superboy na sua adolescência, quebrando assim a principal motivação dos heróis do futuro para se unirem. Houve uma tentativa, nos anos 1980, de criar um Universo Compacto onde teria existido uma versão jovem de Kal-El, e que essa versão teria se aventurado com os legionários. Mas com a aproximação do reboot conhecido como Novos 52, ficou mais fácil resolver esse tipo de questão.

    Lançado sem o selo Novos 52, Legião: Origem Secreta foi escrita por Paul Levitz e traz de volta todo o clima que as aventuras dos jovens heróis do futuro sempre teve. Conhecemos aqui o século XXXI e nos deparamos com muitos termos científicos “inventados” (as tecno-baboseiras), que dá o clima da ambientação do cenário de forma leve e divertida. A história mostra os bastidores da formação da equipe: após salvarem o milionário R.J. Brande de um assassinato, Cósmico, Relâmpago e Satúrnia formam a Legião, mas essa passagem é mostrada de forma muito rápida no início da série. Levitz parece querer mais mostrar os elementos políticos envolvendo os Planetas Unidos do que a própria interação entre os membros da equipe.

    Algo que faz muita falta nessa edição é a relação entre a Legião e seu amigo do passado e inspiração maior, o Superboy – ou o Jovem Superman, como foi batizado na série animada da equipe. Claro que isso se deve a vários motivos, como os problemas judiciais envolvendo os direitos do personagem de Siegel e Shuster, e as constantes reformulações do próprio passado do Superman, que vez ou outra teria ou não assumido uma identidade heroica na juventude. Nesse ponto, Geoff Johns foi muito mais assertivo em sua Origem Secreta do Azulão, fazendo com que o Superboy tivesse parte na história mesmo sem ter assumido esse nome em nossa época.

    Chris Batista se mostra muito competente na arte e seus desenhos estão cada vez melhores durante a edição, casando perfeitamente com o texto de Levitz. Porém por questões editoriais, a série não foi pra frente e logo foi cancelada. Origem Secreta entra pra História das HQs da Legião como uma boa oportunidade perdida, que se esvaiu graças aos constantes reboots pelos quais a Editora das Lendas passa. Fica, então, como uma boa curiosidade para quem é fã do grupo de heróis adolescentes do futuro.

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  • Resenha | Shazam!: Com Uma Palavra Mágica

    Resenha | Shazam!: Com Uma Palavra Mágica

    A fase da DC chamada Os Novos 52 representou um movimento de extrema mudança no universo dos heróis clássicos, chamado por  uns de reboot e por outros de uma “pequena reformulação, acabou por gerar muita discussão e claro, alguns recuos  por parte da editora. Nesse cenário, algumas origens de personagens foram alteradas e recontadas, entre elas a do antigo Capitão Marvel e atual Shazam. Lançada depois em encadernado, Shazam! Com Uma Palavra Mágica foi originalmente publicada como backups da revista da Liga da Justiça, pela dupla Geoff Johns e Gary Frank, a mesma que já havia feito bons trabalhos em Superman, Batman Terra Um e coisas mais recentes como Dooms Day Clock.

    A historia se diferencia das outras origens (analisadas por nós em Shazam: Desvendando as Origens do Capitão Marvel Original) na composição de quem é Billy Batson, o menino que é o alter ego do homem poderoso e que recebe as dádivas do Mago Shazam. Billy é um adolescente problema, fato que antes era pouco explorado e obviamente faz muto sentido, pois ele é um rapaz na puberdade, sem pais, desamparado e que convive em um orfanato em que só lhe causam enfado.

    Até por serem estas historias backup, as primeiras aparições do personagem e da mitologia que cerca Shazam são bem curtas, reciclando conceitos de um jeito que Johns é especialista, começando de maneira despretensiosa a procura do Mago por um hospedeiro de seus poderes, tendo esse processo apressado após mostrar um dos vilões, o doutor Silvana procurando  itens mágicos, que leu ao se aprofundar na lenda do Adão Negro. A obsessão do sujeito o faz reprisar outras figuras vilanescas também, parecido demais com o Lex Luthor de Superman- Origens Secretas, e isso faz a revista cair um pouco de qualidade, pois parece um prato requentado.

    Billy é um orfão disperso, que não consegue ser adotado por ser um pré adolescente, mas  ele consegue fingir não ser um rapaz genioso. Ao encontrar os Vasquez, sua futura nova família, ele diz gostar de ler e fazer podcasts, e se surpreende ao receber uma resposta afirmativa. Na verdade isso era um teatro, ele não queria ser adotado por achar o casal idiota, mas sua vontade de se distanciar do orfanato era maior. Ao ir para a sua nova casa, é estabelecida uma rivalidade com Freddy, que vem a ser a contra parte antiga do Capitão Marvel Jr., e fora o rapaz loiro, todas as outras crianças são bem receptivas a ele, desde Mary (que carrega o nome de sua antiga irmã gêmea) até Pedro, Billy e Darla.

    Os elementos clássicos da mitologia de Marvel estão lá, como o tigre Tawny. A historia demora um pouco a engrenar, muito por conta desse clima de teaser, mas isso tem seu lado positivo, pois a problemática de Billy ser um párea é bem sentida, assim como os laços sentimentais que ele vai fazendo com Freddy e seus novos irmãos. A questão envolvendo os filhos do homem mais rico da Filadelfia o senhor Bryer também fazem sentido, afinal, é um drama pequeno para um adulto, mas grande o suficiente para um adolescente.

    Quando Silvana finalmente retorna, ele acha a tumba do Adão Negro, e magicamente fala a língua dele, dominado por uma força maligna maior e isso apressa o senso de urgência do Mago, que ao ver seu antigo pupilo ressurgir, se apressa em fazer de Billy o detentor de seu poder. Isso é uma boa explicação para a escolha do rapaz, pois o tempo se esgotando faz primar por uma solução veloz mesmo.

    O Mago Shazam é o ultimo dos vivos que foram do conselho de Magos antigos e embora não se aprofunde muito nessa questão, esse pano de fundo dá ao mentor um ar de importância. Billy recebe o poder do Relâmpago Vivo mesmo não sendo uma criança fofa e puramente boa, basicamente para ser o sujeito que derrotaria o Adão Negro, e a partir daí começa uma corrida contra o tempo para o rapaz se tornar um sujeito exímio no que faz. Esta não é uma historia extraordinária como O Poder de Shazam de Jerry Ordway ou Shazam e a Sociedade Monstruosa do Mal do Jeff Smith, mas é bem legal em boa parte da exploração do mito que a Fawcett publicava nas revistas antigas.

    No entanto, em algo a  publicação acerta demais, que é na composição das crianças. Billy e Freddy se contentam com pouco, salvam pessoas, recebem vinte dólares e ficam felizes demais, e essa atmosfera juvenil é muito bem vinda dada as características do personagem. Até o fato delas desejarem cerveja, desistindo na hora  da compra por não saber qual comprar faz muito sentido. Já a obsessão do Adão Negro em aumentar seu poder roubando o do Mago é  explicada como um paralelo entre Caim e Abel, o mito bíblico em que o irmão primogênito canibaliza o caçula, e obviamente é repaginado a um novo estilo aqui, mais moderno e parecido com o ideal da DC Comics do século XXI.

    Da parte dos outros antagonistas, mesmo com Silvana sendo um pouco descartável, a reunião dos Sete Pecados encarnados é bem legal, e conversa com  Superman/Shazam: O Primeiro Trovão, de Judd Winnick, e a solução final de Shazam com relação ao poder do relâmpago enganando seu inimigo é uma boa sacada, e mesmo que beire o artificial, a ideia em si é bem executada, em especial porque as crianças se doam de fato umas para as outras. Apesar de o final ser parecido demais com os de outras origens, Shazam: Com Uma Palavra Mágica é uma boa reimaginação do personagem, contando com um roteiro de Johns muito correto, divertido e juvenil.

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  • Resenha | Arlequina: Se Jogando na Cidade

    Resenha | Arlequina: Se Jogando na Cidade

    Reformulada após o início da fase Os Novos 52 da DC Comics, a personagem de maior sucesso na editora dos últimos tempos ganhou uma revista mensal solo em novembro de 2013 nos EUA, e seu primeiro arco de nove edições foi publicado por aqui no encadernado de capa dura Arlequina: Se Jogando na Cidade. A revista foi uma das mais bem-sucedidas no mercado norte-americano, tendo várias reimpressões e uma nova série com a chegada da fase Renascimento. O sucesso dessa fase da ex-namorada do Coringa (ops, vítima de relacionamento abusivo) se deve à talentosa roteirista e artista Amanda Conner, com eventual participação de seu marido Jimmy Palmiotti. Conner entrega uma Arlequina altamente carismática, ao mesmo tempo fofa e psicótica, com uma violência extrema em certos momentos que, paradoxalmente, nos fazem rir.

    A Arlequina desse gibi já superou seu passado com o Príncipe Palhaço do Crime (embora tenha alguns deslizes de paixonite que servem apenas como alívio cômico), e é uma personagem completa e independente. O estilo de humor utilizado no texto e as situações absurdas em que os personagens são colocados não combinam com o restante dos títulos com o selo Novos 52 na capa, o que nem de longe é um defeito. O ambiente em que as histórias se passam permite que o leitor não precise de mais nada para compreender e se divertir com o encadernado, e parece por vezes nem mesmo fazer parte do Universo DC regular. a primeira história, publicada no número zero da revista americana, brinca com todos os estereótipos possíveis da indústria, inclusive com a hiperssexualização de personagens femininas e desenhistas que não conseguem cumprir prazos, e cada página é desenhada por um artista diferente (os maiores nomes da DC na atualidade). Na história seguinte começa o arco propriamente dito.

    Harleen Quinzel ganha uma herança de um falecido paciente psiquiátrico, e precisa se mudar para Coney Island – o lugar perfeito para ela. Ela se torna a senhoria de um prédio que abriga uma trupe de freak show, nos apresentando personagens bizarros que se tornam seu elenco de apoio. Enquanto tenta uma vida normal como Dra. Quinzel, seu alter-ego precisa enfrentar uma série de caçadores de recompensa que querem um prêmio oferecido pela sua cabeça, velhinhos espiões de uma guerra há muito encerrada, disputar partidas no time local de roller derby e lidar com… cocô de cachorro! Sim, esses são os tipos de problemas que surgem – e sobra até pra equipe criativa da própria DC em determinado momento. Harleen ainda ganha uma coadjuvante de peso quando Pamela Isley (a Hera Venenosa) passa a integrar o elenco como sua melhor amiga (às vezes, com benefícios).

    A arte de Conner é estupenda em suas capas, e muito competente no desenrolar da história, com algumas oscilações compreensíveis para uma série em que a função de roteirista é acumulada com a de desenhista. As cenas de página inteira ou duplas são um deslumbre, e a Arlequina de Conner é ao mesmo tempo engraçada e sexy. Conner já disse em entrevistas que procura dar à Arlequina um visual que, embora atraente, possa ser usado facilmente por cosplayers em convenções de quadrinhos sem necessariamente hiperssexualizar a personagem. Esse pensamento só é possível por ter uma roteirista/desenhista mulher, garantindo a diversidade em seus títulos e empatia com o público feminino, que pode ler sem medo de objetificação. Ponto pra DC! Dito isso, é interessante notar o quanto o clima das histórias nos lembra o de outro personagem da DC que não tem absolutamente nada de inclusivo ou feminista: o Lobo! Sim, o tipo de violência misturada com comédia é bastante parecido com as edições mensais do Flagelo da Galáxia publicada nos anos 1990, por mais estranho que isso possa parecer (inclusive, mais tarde, os dois personagens co-estrelariam um crossover na casa). Arlequina: Se jogando na cidade pode não vir a ser um clássico, tem seus defeitos, mas faz algo que é o mais importante para uma história em quadrinhos: diverte seu leitor como nenhuma outra série em andamento!

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  • Resenha | Batman: Faces da Morte

    Resenha | Batman: Faces da Morte

    Em novembro de 2011, a DC Comics realizou um feito impensável até então para suas duas mais antigas publicações, Action Comics e Detective Comics, renumerando-as com novas “primeiras edições” sob o selo Novos 52. Detective Comics (cuja sigla nomeia a editora hoje) apresentou um novo arco de histórias do Batman, escrito e desenhado por Tony Salvador Daniel que lançou as bases do que viria a seguir nos próximos números. Diferente de sua revista irmã Action Comics, porém, Detective Comics não começou uma história do zero. Ao invés disso, seguiu mais ou menos a linha editorial que já vinha sendo estabelecida antes do evento Ponto de Ignição (Flashpoint), que redefiniu (também mais ou menos) o Universo DC. Aparentemente, em time que está ganhando não se mexe (muito), e a DC resolveu não rebootar (muito) o universo do Batman, da mesma forma que não alterou (muito) a cronologia do Lanterna Verde. (Esses “muitos” entre parênteses são mesmo necessários, pois embora Os Novos 52 apresentassem novas histórias e um reboot de vários personagens, Batman e Lanterna permaneceram praticamente intactos, com algumas mudanças sutis em suas cronologias.)

    As primeiras sete edições foram compiladas em 2016 pela Panini em um volume de capa dura intitulado Batman: Faces da Morte. O encadernado acaba sendo um pouco confuso, pois apresenta algumas ideias e linhas de histórias que não se fecham. O maior exemplo disso é o Coringa, vilão que aparece na capa e na primeira história, mas não tem maior desenvolvimento além de um cliffhanger para uma edição futura (A Morte da Família), deixando toda  a pele de seu rosto arrancada e pendurada em uma parede. O vilão da trama é o Criador de Bonecas, que utiliza partes de pessoas mortas para recriar outras, como um Doutor Frankenstein moderno. Batman precisa salvar seu amigo Comissário Gordon das mãos do vilão e ainda lidar com a opinião pública no meio do caminho.

    Na quinta edição, mudamos de arco e agora outro icônico vilão, o Pinguim, aparece… para também não ser o antagonista! Assim como o Coringa na primeira história foi apenas um chamariz de leitores, o Pinguim aqui apenas serve para estabelecer seu Cassino Iceberg como cenário para a caçada a outro vilão, o Pele de Cobra. Além disso, vemos o desenrolar de mais um interesse amoroso de Bruce Wayne que acaba servindo como vítima, sem surpresa alguma. Isso fica ainda mais banal se levarmos em conta que, na mesma época, um arco de histórias contra o Chapeleiro Louco também usa uma namorada como vítima para dar seguimento ao roteiro. Aparentemente, as mulheres do Universo DC continuam sendo colocadas na geladeira pelo “bem” da trama!

    Batman: Faces da Morte não é um clássico do Homem Morcego e tampouco serve para iniciar novos leitores aos quadrinhos do Cavaleiro das Trevas. Seu maior ponto positivo é a arte de Tony Daniel, sempre exuberante e garantindo o ritmo da ação, lembrando em muito os quadrinhos dos anos 90 nas quais o roteiro ficava sempre em segundo lugar.

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  • Resenha | Aquaman: As Profundezas

    Resenha | Aquaman: As Profundezas

    A quantidade de personagens no universo da Dc Comics não é proporcional a quantidade de roteiristas da casa que entregam narrativas acima da média geral. Um fator que resulta em um movimento natural em que personagens oscilam dependendo do texto. Sem dúvida, grandes personagens são dedicados aos roteiristas de renome, ainda que novos talentos em alta recebam novas revistas como uma espécie de desafio, para provar a criatividade. Assim como há roteiristas que se destacam por se manterem na média, sem poucas histórias significativas no currículo, mas com tramas divertidas. Não há como suprir uma demanda alta sempre a procura de grandes histórias.

    Dentre os personagens de grande destaque do estúdio, principalmente os que participam ou participaram da Liga da Justiça, Aquaman sempre foi um motivo de piada. O riso retoma uma época antiga em que o desenho Super-Amigos e sua abordagem infantil ajudou a popularizar e ridicularizar o herói. Como poucos autores investiram em uma boa história para a personagem, o herói nunca ganhou o destaque merecido. A fase de Peter David, lançada em 1994 a 1998, é uma dessas exceções. Porém, no Brasil, as histórias foram lançadas no mix da Melhores do Mundo, na época dos formatinhos da Abril, e nunca relançada. Em 2006, na fase Um Ano Depois da casa, Kurt Busiek tentou recriar a personagem, mas a série foi logo cancelada.

    A chegada dos Novos 52 ao menos trouxe a possibilidade de analisar alguns personagens que há tempos não obtiam destaque e reconfigura-los. Com essa fase encerrada, resultando no distanciamento necessário para análise, é possível observar novos bons personagens como Batwing e Batman e autores que, em meio a uma fase criticada pela ideia de reboot, trouxeram um bom material como Flash de Francis Manapul e Aquaman escrito por Geoff Johns.

    Relançado pela Panini Comics em edição encadernada em 2015, As Profundezas compila os seis primeiros números de Aquaman, apresentando três histórias iniciais: a incrível O Fosso, demonstrando como um bom roteirista não precisa de longas sagas para uma trama competente, e Perdido e Abandonado, focados em Mera.

    Johns trabalha a própria má-fama do herói dentro da história: um homem, rei dos mares, considerado motivo de riso pela população por ser considerado alguém sem nenhum poder bem delineado. A situação se modifica quando seres humanoides surgem do mar e a polícia pede ajuda do soberano para o caso. Ao contrário das megas sagas, em apenas quatro partes, o roteirista demostra a renovação de seu Aquaman e a qualidade de sua obra. Apresentando um soberano cansado por não ser considerado heroico, ao mesmo tempo em que, durante a ação, demonstra habilidades além da malfalada telepatia marítima. Justificando porquê o personagem integrou diversas formações da Liga da Justiça. Assim como mostra a potência de Arthur, também desenvolve Mera no mesmo patamar, uma rainha poderosa, capaz de controlar a própria água.

    As cenas de ação na trama são pontuais, realizadas com qualidade a favor da narrativa, uma boa história contrapondo o herói e o vilão de maneira tradicional. Ao inserir a trama em primeiro plano, o próprio leitor vai reconstruindo o Aquaman de acordo com as ações em cena observando sua inteligência, a superforça e outras características capazes de derrubar o mito de um herói bobo.

    Aquaman – As Profundezas é um dos melhores inícios da fase Novos 52, capaz de reescrever a personagem, inserindo-a no merecido panteão de grandes heróis da Dc Comics. Geoff Johns faz jus ao seu sucesso, demonstrando conhecimento da personagem e domínio narrativo para criar uma história inicial robusta com uma trama simples, mas eficiente, e cenas de ação pontuais que demonstram que a fase do Aquaman perdedor foi deixada de lado.

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  • Crítica | Liga Da Justiça Sombria

    Crítica | Liga Da Justiça Sombria

    Quando nem sequer os maiores heróis da Terra – Superman, Mulher Maravilha, Batman, etc – conseguem resolver uma questão que aparentemente é espiritual, um novo grupo de justiceiros deveria ser acionado. A questão é que não há uma reunião desses místicos super poderosos, até que haja um convocação feita pelo Homem-Morcego. Liga da Justiça Sombria é baseada livremente na revista homônima dos Novos 52, e mostra Constantine, Zatanna, Desafiador, Jason Blood/Etrigan, Monstro do Pântano e outros agindo juntos, a fim de resolver uma questão envolvendo seres incorpóreos.

    A adaptação que o filme de Jay Oliva se propõe a fazer é a do primeiro arco da revista  da fase dos Novos 52. A mudança mais drástica é por conta do vilão, que nas HQs era a Magia (ou Enchantress, no original), e que é retirada para não se confundir com a trama do péssimo Esquadrão Suicida, de David Ayer, que acabava de receber críticas muito negativas à época. Fora essa mudança, não há muito do que reclamar em relação a fidelidade relativa ao cânone dos personagens, exceto é claro que a maioria deles é mostrada de maneira muito genérica.

    Etrigan, Constantine e o Monstro do Pantano são mostrados como quaisquer outros personagens da DC Comics, sem quaisquer complexidades de identidade ou de aceitação, como normalmente são retratados nos quadrinhos. Tal fato nos faz perguntar qual a necessidade colocá-los nesse grupo denominado como dark, exceto é claro pela vulnerabilidade de Superman a ataques mágicos. O Felix Faust utilizado como antagonista também não mostra muito potencial de exploração. Os combates corporais não empolgam, tampouco decepcionam, tudo na produção soa morno.

    O argumento de J. M. DeMatteis (Batman: Absolvição, Liga da Justiça Cômica) e Ernie Altbacker é genérico e a aventura não tem um clímax minimamente cativante, tudo isso aliados aos personagens que sequer causam apreço no público fazem desse Liga Justiça Sombria uma das mais descartáveis animações da DC.

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  • Resenha | Flash: Seguindo em Frente

    Resenha | Flash: Seguindo em Frente

    A nova fase da Dc Comics, Renascimento, promoveu o natural distanciamento dos Novos 52, e aprofundou a opinião de alguns leitores que hoje afirmam que os Novos 52 foram uma pequena distorçam que a nova fase intenta corrigir. Afinal, a linha dos N52 foi um reboot agressivo e todos sabiam que, em algum momento, tudo iria mudar novamente.

    Críticas e discussões à parte, os Novos 52 se tornou passado mas ainda estão em alta, principalmente devido a popularidade dos encadernados, naturalmente, selecionando as histórias mais renomadas das diversas revistas descartáveis lançadas mensalmente. A Panini Comics vem tentando seguir a lógica americana de transformar títulos populares e elogiados em edições encadernadas (especificamente, nos Estados Unidos, quase tudo sai em compilados, a diferença é que somente os mais rentáveis ganham versão em capa dura). Um novo formato que sempre conquista uma nova parcela de público, além daqueles que, mesmo com a revista mensal, compram novamente o material em uma qualidade melhor.

    O fato é que a quantidade de títulos lançados pela casa, ao todo 52 mensais em sua primeira fase, era incompatível com a quantidade de bons roteiristas disponíveis. Dessa maneira, há histórias difíceis de serem lidas, principalmente em personagens menores, afinal, os medalhões sempre são destinados a grandes personagens. Nesse caso, coube a Francis Manapul assumir a releitura de Flash. O autor já havia trabalhado com a personagem na fase de Geoff Johns e assumiu tanto roteiro quanto desenhos durante as 25 primeiras edições do título.

    Lançado em formato encadernado pela Panini em 2015, a primeira edição de Flash, Seguindo em Frente, compila os oito primeiros números da revista homônima americana, apresentando duas histórias. Considerando o distanciamento temporal entre a publicação e a nova fase da DC, é possível observar como o roteirista inseriu sua versão de Flash neste novo universo em que os personagens foram rejuvenescidos, com muitas tramas inseridas logo após sua origem como heróis. Dessa forma, como outros medalhões da casa, Flash está iniciando uma carreira como herói logo após descobrir seus poderes e ainda superando suas limitações.

    Como todo arco inicial de uma história, pressupõe-se que um novo público lerá a história. Dessa maneira, algumas bases da personagem são apresentadas de maneira didática. Nos quadros, Barry Allen mantém as características básicas de sua versão pré-reboot, porém, ainda é um herói novato tentando descobrir o significado da força de aceleração. Nas histórias, o Flash é visto de maneira contrastante entre herói e vilão, em parte porque, ao desconhecer a própria força, promove a destruição da cidade em um apagão generalizado em Keystone City.

    Conforme o personagem evolui sua compreensão sobre seus poderes, com a ajuda de um cientista, também vai adquirindo maior personalidade. Neste início, Manupau alterna bons e maus momentos em sua histórias. Como trata-se de uma trama inicial, o roteirista desenvolve com qualidade o herói central, mas a trama fica em segundo plano, principalmente ao deixar qualquer linearidade de lado para focar em grandes cenas de ação.

    Contudo, é possível observar a potência da personagem dentro do universo, potência tanto como personagem solo como herói poderoso. Afinal, em todo o universo DC, Flash sempre foi capaz de resolver diversas crises, tanto as clássicas como a mais recente, Ponto de Ignição, parte da justificativa para as alterações dos Novos 52. Se o roteiro é um pouco desestruturado na primeira história, ele cresce na segunda, destacando o Capitão Frio, um dos clássicos vilões da galeria do herói. Uma história equilibrada em que o didatismo não exagera em cena. Os atos do vilão servem como contraponto natural ao heroísmo de Barry, sem nenhuma explicação desnecessária.

    Manupul também merece destaque na composição dos quadros, muitas vezes, feitos a partir de um close de um personagem e dividindo os demais de maneira não-usual. Há, por exemplo, uma bonita página dupla com um personagem chorando e as lágrimas dividindo os quadros. Uma cena dinâmica que causa forte impacto. As cores de Brian Bucelato também estão em sincronia com a história sem exagerar nas cores escuras como certas vertentes da editora ao forçar um realismo. Os tons pasteis casam com a leveza do roteiro e demonstra que o roteirista compreendeu bem a sua missão em apresentar a personagem a uma nova versão de si mesma.

    Flash – Seguindo em Frente é um inicio promissor que, apesar do didatismo, transformou-se em um dos recomeços mais elogiados dessa fase, provando que nem tudo foi perdido nessa longa empreitada da Dc Comics.

  • Superman: Um Renascimento Perigoso

    Superman: Um Renascimento Perigoso

    superman-rebirth-new-beardOs fãs da velha guarda realmente ficaram entusiasmados quando a DC Comics anunciou que retornaria à suas origens para resgatar o verdadeiro Superman há tempos esquecido na “Zona Fantasma” da editora. Todavia, mantenhamos a calma, pois não parece ser isto o que de fato está acontecendo.

    A partir de agora deixo o aviso de SPOILERS, já que seria impossível redigir esta matéria sem adentrar nos recentes acontecimentos do Rebirth, desta forma, caso o leitor deseje continuar avançando, estará por sua própria conta e risco.

    Deixando de lado todo este papo, vamos logo ao que de fato interessa: Quem é o Superman do Universo Rebirth?

    Para quem acompanhou a saga Convergência, sabe que o Homem de Aço idealizado por John Byrne jamais deixou de existir. Ele foi retirado de seu universo e levado pelo arauto de Brainiac ao Planeta Thelos, onde permaneceu por um ano dentro de uma redoma e, sem os seus poderes, constituiu família com Lois Lane, gerando, inclusive, uma criança que levou o nome de Jonathan.

    Não entrarei no mérito destes acontecimentos e partirei para o que verdadeiramente importa no momento. Com a resolução de Convergência, o Super-Homem do Pós-Crise passou a dividir um mesmo universo com o seu sucessor, ainda que nas sombras, escondido com sua família. Com o desenrolar dos fatos, entretanto, ele se viu obrigado a revelar sua presença em uma tentativa frustrada de salvar a vida do Superman atuante, ou seja, o dos Novos 52. Ao falhar, rapidamente voltou às sombras e deixou a todos que presenciaram o acontecido com um grande ponto de interrogação. Outros eventos ocorreram, como por exemplo a revelação de sua verdadeira identidade a Lana Lang, dentre outros, que não são os que quero verdadeiramente explorar, então me permitam a lacuna e partamos diretamente para a sua primeira aparição em público.

    Acompanhando o noticiário pela TV, em que era transmitida a invasão das instalações da empresa Geneticron, com inúmeros funcionários feitos de refém, Superman deparou-se com uma inusitada versão de sua identidade heroica, o “Superlex”. Indignado, resolveu deixar de lado a sua pacata vida de chefe de família e partiu rumo ao local dos fatos, onde se revelou ao mundo através das câmeras, das autoridades policiais e dos olhos curiosos dos expectadores que ali estavam. Como era de se esperar, uma briga tomou conta da cena, de um lado Lex o acusando de impostor, e de outro, Superman o taxando de falso herói. Mas o que quero de fato partilhar com cada um de vocês que me acompanham, é o que surge a seguir: o retorno de Apocalypse (Pré-52) e de Clark Kent (o repórter que teve sua dupla identidade revelada ao mundo por Lois Lane e portanto, dado como morto). É a partir daí que as coisas ficam bastante interessantes.

    As perguntas que ficam são: Quem é o Superman mais velho, mais poderoso e mais experiente? Quem é o Clark Kent que ressurgiu dos mortos? O que é a besta selvagem que surgiu do nada e trouxe consigo uma devastadora onda de destruição?

    De trás para frente e muito rapidamente, digo que é uma verdadeira licença poética a editora ter entregado neste momento a Dan Jurgens, o quadrinista responsável pelo arco da morte de Superman pelas mãos de Apocalypse na década de 90, o roteiro desta fase de Actions e Comics, em que o herói ressurge dos mortos – no contexto da história – e enfrenta logo de cara o seu maior algoz, desta vez, entretanto, conseguindo, além da vitória, preservar a sua vida. Isso foi uma sacada absurdamente maravilhosa para os fãs da velha guarda. Mas em resposta à pergunta, até o presente momento não nos foi revelada a sua verdadeira origem, tão somente o seu propósito: o de ser usado como arma, contra o quê ou quem, ainda não sabemos.

    Ainda na contramão dos questionamentos, Clark Kent, dado como morto, ressurge do além vida e deixa a todos com uma interrogação gigantesca, principalmente quando percebem que ele é apenas um ser humano. Isso mesmo, neste Universo Rebirth, ele jamais foi Superman.

    A explicação dada para esta total desconstrução do personagem, é a de que o verdadeiro Superman, o dos Novos 52, diante do perigo que o repórter corria em sua investigação às empresas Geneticron, assumiu a sua identidade e o escondeu com o objetivo de garantir a sua segurança. Entretanto, com o decorrer do tempo, acontecimentos fizeram com que Superman se afastasse de seu objetivo e Clark Kent, isolado, caísse em esquecimento. Cansado de esperar, o repórter retornou a Metrópolis num momento bastante conturbado, tendo que enfrentar logo de cara o ataque de uma fera descontrolada, bem como as notícias de sua própria morte em razão da do herói que assumiu o seu lugar.

    Após a derrota de Apocalyspse, Clark Kent passou por inúmeros testes, feitos inclusive pelo próprio Superman – o Pós-Crise, no caso – , mas os resultados foram assustadores, ele de fato era um ser humano.

    Percebem a gravidade dessa desconstrução do personagem?!

    Encerrando as questões levantadas, já foi respondido que o Superman mais velho, mais forte e mais experiente, trata-se daquele idealizado por John Byrne, entretanto, ele não é de todo fiel, por isso algumas considerações precisam ser feitas.

    De fato, ele continua com sua grandeza heroica, não ouso dizer que ele continua “O ALTRUÍSTA” que conhecemos lá do Pré-52, mesmo porque é difícil pescar este tipo de informação com tantas mudanças ainda em andamento, muito embora tenha sido esta a proposta da DC com o seu retorno, ou seja, trazer de volta o bom e velho otimismo. O fato é que ele parece ter deixado para trás certos conceitos e adotado novas condutas que nunca foram pertinentes ao personagem.

    Achei muito interessante a Fortaleza da Solidão que ele mesmo construiu com os restos de tecnologias alienígenas. Isso nos mostra um personagem com uma grande intimidade com a ciência, algo que nunca havíamos visto com tamanho destaque e intensidade. Ele chega a concluir, às pressas, no meio de um combate, um artefato para enviar Apocalypse à Zona Fantasma. Sua Fortaleza é praticamente uma “Supercaverna”, inspirada nos “aposentos” de nosso querido Homem Morcego, isso é evidente até mesmo no visual. Ele dispõe de inúmeros artefatos científicos, inclusive todos os exames feitos em Clark Kent, foram realizados em seu quartel general.  Mas o que mais me impressionou, foi uma gigantesca escultura de seus pais disposta bem no centro de suas instalações, não dos terrestres, mas sim de seus verdadeiros genitores kryptonianos. Isso é verdadeiramente inusitado, pois não se fazia presente desde o Pré-Crise.

    Além dessa “Supercaverna”, Superman criou um túnel sob seu rancho, que os levam – a ele e sua família – a uma distância segura de sua residência, afim de que possam entrar e sair sem que despertem suspeitas. Isto me remete novamente ao inspirador cenário de Batman.

    Vejam bem, meu intuito não é macular logo de cara este novo projeto da DC, mas sim alertar ao fã saudosista que o retorno às origens não está ocorrendo da forma como a maioria previa ou até mesmo esperava. Há inúmeras alterações já feitas e tantas outras ainda em andamento para esta nova fase do personagem. Todavia, para mim é muito grave a desconstrução de Superman como Clark Kent, rebaixando o repórter a um simples mortal. Até o presente momento, as publicações mostram um Clark Kent com uma personalidade anteriormente endereçada a Lois Lane, que por sua vez, assumiu a posição de Superwoman. Por outro lado, vemos um Superman ainda heroico, mas com algumas diferenças bastante incisivas: o distanciamento de suas verdadeiras raízes marcado pela substituição de Jonathan e Martha Kent por Lois e Jon (esposa e filho), destacando, sobretudo, a mudança de seu sobrenome para Smith, bem como esta nova vertente trazida ao personagem, a de cientista, assim como seu pai kryptoniano o era. Aliás, será esta a razão de um monumento destinado a seus verdadeiros pais? Irá a DC Comics finalmente nos mostrar a verdadeira face de Kal-El? Não sei bem o rumo que o personagem irá tomar, mas a editora corre um risco de entrar num retrocesso ainda maior do que aquele sofrido com a versão trazida pelos Novos 52, principalmente com o Warner Channel mostrando semanalmente o verdadeiro Superman, que até agora não foi visto nos cinemas e até o presente momento, tampouco nesta nova fase dos quadrinhos.

    Texto de autoria de José Macedo.

  • Crítica | Batman: Assalto em Arkham

    Crítica | Batman: Assalto em Arkham

    Batman Assalto em Arkham

    De começo simplista, Batman: Assalto em Arkham segue a nova onda de animações da DC Comics pós-reboot, e diferentemente de outros pares como Liga da Justiça: Guerra e O Filho do Batman, esta foca personagens secundários do universo do Morcego, mais especificamente os vilões. A toada é diferenciada da estética dos Novos 52, já que logo no início é mostrada uma Amanda Waller ainda obesa, com a costumeira e bela construção de sua personagem antes da última “reinvenção”. A violência também é inserida no filme de maneira mais acentuada se comparada a de seus primos, com direito a sangue e dilacerações.

    O mote da história varia nas referências, com momentos que lembram a série recente de games de Batman relacionados a Franquia Arkham e, claro, a formação do Esquadrão Suicida, idealizada pela membro do Projeto Cadmus. A velha máxima do grupo de bandidos é reafirmada, cuja sentença aparece em duas formas: a total cooperação deles em troca da remissão de seus pecados ou a morte.

    A missão desta vez caracteriza-se por uma invasão ao asilo de Amadeus Arkham para recuperar o cajado do Charada, que poderia conter uma arma de destruição em massa. A desculpa para a ausência de Batman na história se dá por ele estar em outra missão, ainda que tal prioridade seja muito discutível.

    O submundo de Gotham é um campo muito fértil para as desventuras do grupo de marginais, ao exibirem toda a a sua misantropia à procura das condições mínimas para a execução da missão a qual foram comissionados. No entanto, a postura dos personagens do ideário da cidade é curiosa e contrastante com a violência gráfica mostrada anteriormente.

    O mafioso superpoderoso Pinguim é apresentado como um selvagem se alimentando de uma pilha de peixes crus, como fazia sua contraparte deformada e monstruosa em Batman: O Retorno – tal caracterização além de datada é contraditória por ser demasiada imatura, especialmente quando é precedida por uma cena de cunho sexual envolvendo Arlequina e o Pistoleiro.

    Os ares do universo pré-Novos 52 são notados na escolha de dubladores, especialmente com o retorno de Kevin Conroy como dublador do Cruzado Encapuzado, o que não ocorria em longas desde Liga da Justiça: Ponto de Ignição. É curioso como o diretor Jay Oliva prossegue reverenciando o segundo filme de Tim Burton à frente do herói, com cenas literalmente copiadas e com o design do batmóvel muito semelhante ao veículo pilotado por Michael Keaton. Por mais que não seja o personagem que mais aparece em tela, o Morcego ainda envolve-se em cenas de luta impressionantes se analisadas sob o ponto de vista gráfico.

    Alguns outros easter eggs são mostrados, entre eles máscaras dos palhaços capangas do Coringa de Heath Ledger. Do meio para o final da exibição, a tônica volta para os personagens mais conhecidos e carismáticos, primeiro remetendo à óbvia rivalidade de Batman com seu nêmese, depois com a reativação do romance protagonizado por Coringa e Arlequina – é esta relação, aliás, a responsável para que o caótico plano do Palhaço do Crime fosse às vias de fato. O caos do manicômio ganha as ruas da cidade, pondo-se além dos portões da casa de loucos.

    O Coringa rouba a cena, fazendo do Asilo e seus arredores um zoológico ao liberar todas as feras enjauladas para desviar a atenção da bomba de Nygma, que ele resolve ativar só por diversão. Tudo ocorre em tempo o suficiente para o herói destravar todas as traquitanas de seu rival. Se por um lado há uma sobra de violência nos primeiros momentos, o roteiro de Heath Corson não consegue desenvolver algo mais elaborado quando se cobra uma visão mais adulta dos fatos.

    Esse desequilíbrio entre o juvenil e o infantil denigre muito a fita, fazendo dela uma peça de gosto duvidoso e de público não definido. Seu caráter é de difícil distinção, e fora a bela coordenação de vozes de Andrea Romano e seu atores, pouco há para se elogiar no filme, claro, destacando a melhora aparente quando comparado com as animações que emulam os Novos 52.

  • Resenha | Batman: A Morte da Família

    Resenha | Batman: A Morte da Família

    Batman - Morte da Familia

    Após a mega mini-saga A Noite das Corujas, Scott Snyder prosseguiu no título principal do Homem-Morcego e consequentemente fez o esboço da saga posterior, que envolveria o arquirrival e gênese oficial do Cruzado Encapuzado além dos títulos acessórios de Batman. O Coringa, que estava um pouco apagado após a estreia de Detective Comics, voltaria em grande estilo ao crime e à vilania de Gotham.

    A obra foi lançada após a edição número zero de Batman, cujas edições lançadas pela editora mostram histórias anteriores às apresentadas nos primeiros arcos do reboot, narrando os primeiros acontecimentos do retorno de Bruce Wayne à sua cidade natal quando infiltrado em meio à gangue do Capuz Vermelho. Ao final da edição, há uma reimaginação interessante da inspiração dos Robins Dick Grayson, Jason Todd e Tim Drake, mostrando um pouco a admiração que cada um teve pelo líder do Bat-Squad.

    A ausência do Coringa é sentida por praticamente doze meses em todo o primeiro ano após o reboot, exceto pela já citada história de Tony Salvador Daniels. Não à toa, a retomada viria por meio da revista do personagem que ele aleijou anos antes. Morte da Família tem seu primeiro episódio em Batgirl 13 – com o lápis do brasileiro Ed Benes (especialista em desenhar mulheres de corpos esculturais) -, uma história curiosa por mexer com os brios da moça, já que Barbara Gordon sofreu o diabo com o Palhaço Infernal. O período em que Coringa estava em hiato era obviamente ligado à sua possível morte, uma vez que um vilão estava com o seu rosto, uma face dilacerada que depois é roubada por seu antigo dono.

    O retorno triunfal do Bobo seria infectando toda a cidade, aterrorizando o Comissário Gordon, que, graças a esse fato, igualaria o seu comportamento ao de uma garotinha indefesa diante do maior apuro de sua vida inocente. A manipulação que o vilão exerce não influi somente nos cidadãos, mas também em alguns dos vilões de Gotham, especialmente nos estreitamente ligados ao bandido.

    A tática consiste em atacar o Morcego em nível pessoal, com uma das primeiras ações consistindo no rapto de Alfred Pennyworth para desestabilizar Bruce Wayne e irritar “você sabe quem“. É curioso como Coringa mostra saber a identidade secreta de Batman, mas não se importa com isso, não de um modo expositivo que demonstre uma vontade de contar a novidade ao mundo. É como se o cargo estivesse vazio, sem a mesma importância que qualquer outro membro da galeria de vilões daria ao descobrir, de fato, a identidade do Cruzado Encapuzado. Mas a circunstância não o impede de atacar seu rival. O golpe é baixo: exibir qual a contraparte do herói é irrelevante; a volúpia é por humilhar o paladino.

    Os ataques prosseguem. James Gordon cai, vítima de uma hemorragia causada pela intoxicação do Gás do Riso. O plano de minar as emoções do herói esbarram no sangue frio e na decisão de atacar o Coringa de modo planejado, mas ainda assim o bombardeio prossegue, e de modo sério. Dois momentos mostram o quão sério e assertivo é o modus operandi do insano palhaço. Primeiro, quando ele e o Pinguim são comparados, demonstrando a diferença do pensamento anárquico, em cometer delitos, e o do crime organizado, mostrando que o primeiro é muito mais exitoso do que o outro; o segundo momento é a disposição do vilão em atacar um a um dos membros da família do Morcego, já que, para ele, não são segredos as suas identidades e as suas rotinas pessoais.

    É uma pena que não haja uma unicidade de traços entre os desenhistas das revistas, que têm no visual do Coringa o avatar da incompetência. Alguns artistas dão um maior foco ao rosto disforme do personagem, enquanto outros tratam a sua face como algo semelhante a uma máscara de látex, o que diminui, e muito, o impacto que teriam as atitudes loucas do idealizador daquele estratagema. Mas tal defeito não consegue encobrir a principal qualidade de Coringa enquanto vilão, que é a imprevisibilidade. O palhaço, que mostra uma nova loucura sempre que aparece, relembra os bons momentos de Grant Morrison à frente do número – mais uma vez Snyder bebe da fonte deixada pelo roteirista escocês.

    Uma das histórias paralelas que mais atraem a atenção do leitor é o tie-in presente em Asa Noturna (Nightwing), com roteiro de Kyle Higgins e desenhos do brasileiro Eddie Barrows. Dick Grayson começa a namorar uma moça que mais tarde revela ser filha de Tony Zucco, o que reabre algumas feridas internas, escondidas após anos de vigilantismo, mas que ainda marcam a vida do primeiro parceiro-mirim do Morcego. O ataque do Coringa a ele é talvez o mais catastrófico das atitudes do vilão, pois ceifa as esperanças do ex-acrobata e prenuncia a sua mudança de atitude num futuro próximo.

    Batman se sente acuado. O vilão conseguiu tocar a psiquê do Cruzado. O megalomaníaco plano visa desmoralizar o guardião de Gotham. A tensão presente nas histórias contém muito mais elementos interessantes que os momentos pregressos, talvez por Snyder estar um pouco mais à vontade à frente do título. Por incrível que pareça, seus méritos não são todos fundamentados no gigantesco carisma do Coringa. As ações registradas são justificadas pela óbvia loucura e fazem sentido dentro do microuniverso da Bat-família.

    É notório que as decisões em relação ao Palhaço do Crime passem muito pelo estilo diferente do personagem, primeiro com a decisão da retirada do seu rosto, pondo-o numa posição mais grotesca de sua história, mas também exagerando nas características da loucura. O que não pode ser associado à repetição da fórmula é o modo como o vilão trata os personagens acessórios, tocando de modo pessoal na rotina dos aliados do Morcego, especialmente em relação a Bartgirl (Barbara Gordon) e Asa Noturna, abalando, direta e indiretamente, a confiança dos dois em Batman.

    A conclusão da saga, presente em Batman 17, mostra toda a Bat-família capturada pelo Coringa, todos diante de uma mesa, em uma referência obscura à família de canibais de Massacre da Serra Elétrica, de Tobe Hooper. Todo o plano arquitetado e posto em prática vai bem, até esbarrar na decisão final, no modo como o Morcego resolve os mistérios e vence seu adversário, jogando com ele em um campo onde jamais gostaria de entrar.

    O Batman blefa, usa as mesmas artimanhas que seu inimigo, e isto até poderia ser uma boa saída, mas o modo como ela é construída é bastante preguiçosa, tendo muitos casos semelhantes em toda a trajetória do personagem. Durante setenta e cinco anos, o Morcego já usou artifícios semelhantes de enganação. Até mesmo no final de Batman Eternamente o modo como o Bat-Val Kilmer vence o Duas Caras de Tommy Lee Jones é muito semelhante ao caderno que contém a malfadada “identidade real” do Palhaço. A questão poderia ter sido melhor pensada, até pela pompa que a saga ganhou com o passar do tempo. A explicação que Bruce dá por não ter assassinado seu nêmese chega a ser plausível, e, aliada à separação do Bat-Squad, quase fez com que as soluções fáceis de Snyder fossem toleráveis. Contudo, elas não apagam o gosto ruim que fica após saborear o desfecho de Morte da Família, apesar dessa história ser muito mais bem urdida que as sagas anteriores.

    Compre: Batman – A Morte da Família.

  • Resenha | Batman: A Corte Das Corujas

    Resenha | Batman: A Corte Das Corujas

    Batman - A Corte das Corujas - Panini
    Scott Snyder havia se notabilizado com uma história no selo Vertigo, passando os roteiros de O Vampiro Americano para Stephen King no começo e depois fechando a saga sozinho. Após fazer dez números de Detective Comics, Snyder se tornaria um dos queridinhos de Dan DiDidio e de todo o editorial da DC Comics responsável por Superman Sem Limites e pelas primeiras histórias do Monstro do Pântano. A primeira mostra dessa predileção é o título do Batman, que conta com desenhos de Greg Capullo.

    A primeira história, O Truque da Faca, mostra uma Gotham desesperançosa, quase jogada às baratas e repleta de malfeitores. Semelhante a uma reunião mequetrefe, a história é mais condizente com as do Homem-Aranha do que com as do Morcego, com criaturas como Espantalho, Crocodilo, Duas Caras, Charada e outros, que atacam o Cruzado Encapuzado de modo afoito, num embate puramente físico, que mal dá chance a qualquer elaboração de um plano mais sofisticado. Tal ataque serve para a comparação textual que Batman faz, comparando seus antagonistas a adolescentes, refutando a ideia de que a cidade reflete os seus vilões.

    Gotham é a imagem e semelhança de seu protetor, tanto é que o único bandido que se diferencia da patuleia é o Coringa. Não há uma introdução da origem do personagem. A figura que (supostamente) sofreu pouco ou quase nada com o reboot, de modo que a história de sua origem é postergada. Voltando à máxima da definição da cidade, Bruce Wayne, em discurso, fala que Gotham é algo indefinido, entre lar, família e/ou propósito. Diante de toda essa esperança, Bruce é apresentado a Lincoln March, CEO da March Venture, magnata e homem de negócio de importância enorme para a cidade, visto que quer se tornar prefeito.

    O mistério de um assassinato leva Batman a investigar o que seria a ação de um serial killer, que, segundo testes de DNA, bateria com as descrições de Dick Grayson, seu primeiro parceiro, o que estabeleceria uma clara quebra de confiança. Paralelo a isto, Lincoln March se aproxima de Bruce, mas não para captar apoio público ou verba para sua campanha, mas sim para ganhar um único voto, o do herdeiro e reconstrutor de Gotham. Há uma tentativa clara de criar-se uma ponte entre os dois socialites de Gotham, até pelo passado semelhante de ambos, pois Lincoln também foi órfão muito cedo. Mas a bela discussão dos dois é interrompida por um assassino, com vestes de coruja, que esfaqueia o político na frente de um temporariamente inerte Wayne. A reação de Bruce é de parecer defender-se de modo legítimo, como se tivesse sorte, e, como era de se esperar, o alvo real era mesmo ele. A Corte das Corujas é revelada aos seus olhos, e ele reafirma a promessa de que a cidade só teria uma lenda: o Batman.

    Uma das coisas mais interessantes dessa nova abordagem é o uso que o detetive dá à tecnologia, com interfaces mais interativas e dispositivos de alto rendimento e fácil manuseio – ao menos para ele. Nas palavras de Alfred, é como se a Batcaverna fosse levada para qualquer lugar através de uma “simples” lente ocular. As ultrapassadas ideias de que um computador do tamanho de uma caverna seria mais eficiente que dispositivos portáteis repletos de memória foram finalmente deixadas de lado, evoluindo alguns dos conceitos apresentados na fase de Grant Morrison à frente do número.

    Os problemas do roteiro de Snyder não são grotescos, mas sim de concepção. A ideia de instalar uma sociedade secreta – formada por novos ricos, que tem em si um número grande de assassinos treinados, e que se vale dos décimos terceiros andares dos prédios da metrópole – é curiosa, mas inverossímil. Acreditar que todo aquele aparato ficou incógnito por décadas e só seria descoberto pelo maior detetive do mundo em pleno século XXI é contestável demais, além de exigir do leitor uma suspensão de descrença imensa. A vontade de emular a questão de que os ninhos de corujas são feitos em lugares escondidos, longe dos olhos humanos mas próximos de seus lares, tem uma intenção genuína, porém conta com uma execução fraca.

    Com o desenrolar da trama, Batman se recusa a acreditar na existência da Corte das Corujas, um pouco por falta de fé, mas também por deixar transparecer um pouco de preciosismo e egocentrismo, e tal erro lhe custa caro. O Morcego é convidado a enfrentar seus opositores em um labirinto soturno, um local que, mesmo que o personagem geralmente se sinta à vontade, torna-se amedrontador. O embate não é exatamente físico e varia entre delírios mentais envolvendo o passado de Gotham e a realidade perigosa e predatória que ataca o vigilante.

    A arte de Capullo tem uma qualidade que é no mínimo discutível, mas ganha bons momentos nas edições cinco e seis, onde ele decide usar o seu lápis de modo mais anárquico, fazendo o seu Batman ficar até mais parrudo, semelhante ao que ocorrera com o Cavaleiro das Trevas de Frank Miller.

    O oponente Garra é um combatente interessante no começo, mas logo se mostra um sujeito comum, sendo mais um vilão ordinário e pouco diferenciado da patuleia criminosa de Gotham. Uma caça que ocorre na cadeia alimentar natural das aves sobre os mamíferos voadores. A explicação de Bruce a Dick de que ele poderia ser um membro da tal corte é risível, graças ao famigerado soco cirúrgico de Batman, que consegue arrancar exatamente o dente com a inscrição da ave esculpida. A solução é fraquíssima e causa gargalhadas em quem acompanha as desventuras do Cruzado Encapuzado. Logo depois, a Corte manda seu “exército de Garras” cruzar o caminho de Bruce Wayne, no que seria a primeira mega saga envolvendo a batfamília, denominada Noite das Corujas. Apesar dos muitos tropeços, os primeiros sete números de Batman mostram uma aventura escapista até divertida, claro, levando-se em conta concessões às problemáticas infantis.

     Compre: Batman – A Corte das Corujas.

  • Crítica | Liga da Justiça: Guerra

    Crítica | Liga da Justiça: Guerra

    leaguejustice

    Iniciando o reboot das animações do DCAU (DC Animated Universe), Liga da Justiça: Guerra adapta o primeiro arco de histórias de Geoff Johns à frente do título dos Novos 52. O início, introduzindo Batman – até então uma lenda urbana – e o Lanterna Verde (Hal Jordan) mostra uma das primeiras ações conjuntas dos heróis mascarados, ainda bastante desentrosados. A cena em si pouco inspira entusiasmo e quase não diz nada ao espectador.

    A personalidade dos vigilantes é fraca, sua constituição é vazia e não permite nuances, é quase como se o poder fosse a personalidade deles. Quase não há variações e o nível de ação sem propósito é grande, no sentido de não explorar grandes motivações. O erro seria até perdoável, caso as cenas de ação fossem bem feitas e plásticas, mas isso não ocorre com frequência. As animações da DC jamais foram um primor quanto ao roteiro, mas sempre foram redondas, algumas vezes até se saindo melhor que as sagas originais, vide Liga da Jusiça: A Legião do Mal por exemplo. Este sucesso não se repete nesta obra.

    O foco maior das ações dos seres superpoderosos é em atos isolados dos feitos dantescos, quebrados no máximo por ações em dupla com outros vigilantes coloridos. O quadro muda decorridos 60 minutos de exibição, especialmente com a presença do opositor, o soberano de Apokolips: Darkseid. O ruim é que o excessivo tempo gasto em piadas desvirtua a atenção do público, e a falta de exploração dos dramas dos personagens causa uma total falta de empatia por seus caracteres.

    A equipe de dublagem não é ruim, mas está muito aquém dos antigos castings de Andrea Romano. Vozes como as de Kevin Conroy, Tim Daly, Michael Ironside e tantos outros fazem uma falta considerável, visto que estes encarnaram os heróis mais famosos dos comics por muitos anos. Outro inconveniente é o opositor. Antes retratado como um inimigo imponente de discurso orgulhoso e bravo, é mostrado como uma ameaça física unicamente, se importar com si é praticamente impossível pois sua faceta não tem o mínimo apelo ou carisma.

    Justice League War inicia mal a nova seara de animações da DC Comics. Tem um caráter ordinário, falha em produzir algo novo, em rememorar os bons momentos da editora e tampouco revitaliza o tema de modo competente. Jay Oliva traz uma fita insossa e apática, muito inferior a sua anterior, Liga da Justiça: Ponto de Ignição mesmo quando apela para a violência pueril e tudo isso é ainda mais lamentável quando percebe-se que acabaram com a equipe criativa antiga para trazer isso à tona. A cena pós créditos dá um gancho para continuações vindouras, mas é tão gratuito que mal justifica a menção.