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  • Resenha | Universo DC Renascimento: Aquaman – Volume 1

    Resenha | Universo DC Renascimento: Aquaman – Volume 1

    Após o conturbado reboot do Universo DC batizado de Novos 52, a editora das lendas iniciou uma nova empreitada para corrigir desvios que ocorreram no meio do caminho e trazer de volta o clima heroico das histórias de seus personagens. Assim surgiu a linha Universo DC: Renascimento (cuja análise dos primeiros números você pode ler aqui e aqui), trazendo novos ares para os principais personagens da casa sem, contudo, reiniciar tudo novamente. Novas séries mensais foram lançadas para trazer de volta os leitores que se afastaram nos cinco anos de Novos 52. Aqui no Brasil, a editora Panini concentrou suas publicações mensais nos títulos do Batman e do Superman (cada um tendo, agora, dois títulos mensais com a metade do conteúdo das revistas anteriores), enquanto outros personagens tiveram suas histórias lançadas em encadernados contendo o correspondente a seis ou sete edições americanas. É o caso de Aquaman: Volume 01, que traz a primeira parte do arco O afogamento, de Dan Abnett.

    Aquaman – ou Arthur Curry – é retratado como rei de Atlântida nesse arco, onde vemos ressaltado o seu lado outsider em todos os sentidos: os seres da superfície o temem, os atlantes nutrem certa desconfiança e seus colegas da Liga da Justiça não lhe dão o devido valor (“E nem mesmo os peixes falam com ele”, diria o narrador da primeira história). Apesar disso, tenta exercer seu poder monárquico de forma diplomática ao estreitar os laços com o governo dos Estados Unidos, fundando uma embaixada atlante em solo americano. Claro que a desconfiança do governo norte-americano com as intenções do soberano dos mares (unida a um atentado terrorista na embaixada) não iria deixar que a diplomacia de Curry durasse muito tempo. Aquaman se vê em meio a um incidente diplomático de proporções épicas, que pode levar a uma terrível guerra.

    Abnett não foge das questões políticas na história, inclusive retratando o governo americano de forma bastante cínica e prepotente. As histórias anteriores ao Renascimento ainda valem, mas é possível entender a edição sem ter lido a fase anterior – afinal, é feita para ser um novo ponto de início para novos leitores. Toda informação relevante sobre os últimos cinco anos de cronologia é didaticamente explicado, seja em diálogos (como a “catástrofe de 2013”, da saga O trono de Atlântida) ou em flashbacks (como a questão da rivalidade entre Aquaman e Arraia Negra). O relacionamento de Arthur e Mera é um dos pontos fortes do arco: ambos se vêem como iguais, se amam, e ainda assim mantém diferenças políticas na forma de resolver os conflitos.

    Claro que uma ou outra piada de peixe surge aqui e ali, mas no momento certo, sem exageros e, principalmente, sem desmerecer o protagonista. Aquaman é um verdadeiro herói, páreo até mesmo para o Superman (que faz uma ponta necessária no enredo) e sua obstinação em unir seus dois mundos é o mote da hq. A edição da Panini segue os moldes da reedição encadernada americana, e contém apenas a primeira parte do arco – que continua no volume 02. A história tem envergadura o suficiente para segurar um possível título mensal do herói, caso sua popularidade cresça no país com o lançamento de seu filme solo no fim do ano. Enquanto isso, podemos esperar por mais encadernados de periodicidade eventual como esse, que faz justiça ao super-herói mais ridicularizado pelos bazingueiros nos últimos tempos (e pela própria Warner, com as recorrentes piadas em The Big Bang Theory).

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  • Superman: Um Renascimento Perigoso

    Superman: Um Renascimento Perigoso

    superman-rebirth-new-beardOs fãs da velha guarda realmente ficaram entusiasmados quando a DC Comics anunciou que retornaria à suas origens para resgatar o verdadeiro Superman há tempos esquecido na “Zona Fantasma” da editora. Todavia, mantenhamos a calma, pois não parece ser isto o que de fato está acontecendo.

    A partir de agora deixo o aviso de SPOILERS, já que seria impossível redigir esta matéria sem adentrar nos recentes acontecimentos do Rebirth, desta forma, caso o leitor deseje continuar avançando, estará por sua própria conta e risco.

    Deixando de lado todo este papo, vamos logo ao que de fato interessa: Quem é o Superman do Universo Rebirth?

    Para quem acompanhou a saga Convergência, sabe que o Homem de Aço idealizado por John Byrne jamais deixou de existir. Ele foi retirado de seu universo e levado pelo arauto de Brainiac ao Planeta Thelos, onde permaneceu por um ano dentro de uma redoma e, sem os seus poderes, constituiu família com Lois Lane, gerando, inclusive, uma criança que levou o nome de Jonathan.

    Não entrarei no mérito destes acontecimentos e partirei para o que verdadeiramente importa no momento. Com a resolução de Convergência, o Super-Homem do Pós-Crise passou a dividir um mesmo universo com o seu sucessor, ainda que nas sombras, escondido com sua família. Com o desenrolar dos fatos, entretanto, ele se viu obrigado a revelar sua presença em uma tentativa frustrada de salvar a vida do Superman atuante, ou seja, o dos Novos 52. Ao falhar, rapidamente voltou às sombras e deixou a todos que presenciaram o acontecido com um grande ponto de interrogação. Outros eventos ocorreram, como por exemplo a revelação de sua verdadeira identidade a Lana Lang, dentre outros, que não são os que quero verdadeiramente explorar, então me permitam a lacuna e partamos diretamente para a sua primeira aparição em público.

    Acompanhando o noticiário pela TV, em que era transmitida a invasão das instalações da empresa Geneticron, com inúmeros funcionários feitos de refém, Superman deparou-se com uma inusitada versão de sua identidade heroica, o “Superlex”. Indignado, resolveu deixar de lado a sua pacata vida de chefe de família e partiu rumo ao local dos fatos, onde se revelou ao mundo através das câmeras, das autoridades policiais e dos olhos curiosos dos expectadores que ali estavam. Como era de se esperar, uma briga tomou conta da cena, de um lado Lex o acusando de impostor, e de outro, Superman o taxando de falso herói. Mas o que quero de fato partilhar com cada um de vocês que me acompanham, é o que surge a seguir: o retorno de Apocalypse (Pré-52) e de Clark Kent (o repórter que teve sua dupla identidade revelada ao mundo por Lois Lane e portanto, dado como morto). É a partir daí que as coisas ficam bastante interessantes.

    As perguntas que ficam são: Quem é o Superman mais velho, mais poderoso e mais experiente? Quem é o Clark Kent que ressurgiu dos mortos? O que é a besta selvagem que surgiu do nada e trouxe consigo uma devastadora onda de destruição?

    De trás para frente e muito rapidamente, digo que é uma verdadeira licença poética a editora ter entregado neste momento a Dan Jurgens, o quadrinista responsável pelo arco da morte de Superman pelas mãos de Apocalypse na década de 90, o roteiro desta fase de Actions e Comics, em que o herói ressurge dos mortos – no contexto da história – e enfrenta logo de cara o seu maior algoz, desta vez, entretanto, conseguindo, além da vitória, preservar a sua vida. Isso foi uma sacada absurdamente maravilhosa para os fãs da velha guarda. Mas em resposta à pergunta, até o presente momento não nos foi revelada a sua verdadeira origem, tão somente o seu propósito: o de ser usado como arma, contra o quê ou quem, ainda não sabemos.

    Ainda na contramão dos questionamentos, Clark Kent, dado como morto, ressurge do além vida e deixa a todos com uma interrogação gigantesca, principalmente quando percebem que ele é apenas um ser humano. Isso mesmo, neste Universo Rebirth, ele jamais foi Superman.

    A explicação dada para esta total desconstrução do personagem, é a de que o verdadeiro Superman, o dos Novos 52, diante do perigo que o repórter corria em sua investigação às empresas Geneticron, assumiu a sua identidade e o escondeu com o objetivo de garantir a sua segurança. Entretanto, com o decorrer do tempo, acontecimentos fizeram com que Superman se afastasse de seu objetivo e Clark Kent, isolado, caísse em esquecimento. Cansado de esperar, o repórter retornou a Metrópolis num momento bastante conturbado, tendo que enfrentar logo de cara o ataque de uma fera descontrolada, bem como as notícias de sua própria morte em razão da do herói que assumiu o seu lugar.

    Após a derrota de Apocalyspse, Clark Kent passou por inúmeros testes, feitos inclusive pelo próprio Superman – o Pós-Crise, no caso – , mas os resultados foram assustadores, ele de fato era um ser humano.

    Percebem a gravidade dessa desconstrução do personagem?!

    Encerrando as questões levantadas, já foi respondido que o Superman mais velho, mais forte e mais experiente, trata-se daquele idealizado por John Byrne, entretanto, ele não é de todo fiel, por isso algumas considerações precisam ser feitas.

    De fato, ele continua com sua grandeza heroica, não ouso dizer que ele continua “O ALTRUÍSTA” que conhecemos lá do Pré-52, mesmo porque é difícil pescar este tipo de informação com tantas mudanças ainda em andamento, muito embora tenha sido esta a proposta da DC com o seu retorno, ou seja, trazer de volta o bom e velho otimismo. O fato é que ele parece ter deixado para trás certos conceitos e adotado novas condutas que nunca foram pertinentes ao personagem.

    Achei muito interessante a Fortaleza da Solidão que ele mesmo construiu com os restos de tecnologias alienígenas. Isso nos mostra um personagem com uma grande intimidade com a ciência, algo que nunca havíamos visto com tamanho destaque e intensidade. Ele chega a concluir, às pressas, no meio de um combate, um artefato para enviar Apocalypse à Zona Fantasma. Sua Fortaleza é praticamente uma “Supercaverna”, inspirada nos “aposentos” de nosso querido Homem Morcego, isso é evidente até mesmo no visual. Ele dispõe de inúmeros artefatos científicos, inclusive todos os exames feitos em Clark Kent, foram realizados em seu quartel general.  Mas o que mais me impressionou, foi uma gigantesca escultura de seus pais disposta bem no centro de suas instalações, não dos terrestres, mas sim de seus verdadeiros genitores kryptonianos. Isso é verdadeiramente inusitado, pois não se fazia presente desde o Pré-Crise.

    Além dessa “Supercaverna”, Superman criou um túnel sob seu rancho, que os levam – a ele e sua família – a uma distância segura de sua residência, afim de que possam entrar e sair sem que despertem suspeitas. Isto me remete novamente ao inspirador cenário de Batman.

    Vejam bem, meu intuito não é macular logo de cara este novo projeto da DC, mas sim alertar ao fã saudosista que o retorno às origens não está ocorrendo da forma como a maioria previa ou até mesmo esperava. Há inúmeras alterações já feitas e tantas outras ainda em andamento para esta nova fase do personagem. Todavia, para mim é muito grave a desconstrução de Superman como Clark Kent, rebaixando o repórter a um simples mortal. Até o presente momento, as publicações mostram um Clark Kent com uma personalidade anteriormente endereçada a Lois Lane, que por sua vez, assumiu a posição de Superwoman. Por outro lado, vemos um Superman ainda heroico, mas com algumas diferenças bastante incisivas: o distanciamento de suas verdadeiras raízes marcado pela substituição de Jonathan e Martha Kent por Lois e Jon (esposa e filho), destacando, sobretudo, a mudança de seu sobrenome para Smith, bem como esta nova vertente trazida ao personagem, a de cientista, assim como seu pai kryptoniano o era. Aliás, será esta a razão de um monumento destinado a seus verdadeiros pais? Irá a DC Comics finalmente nos mostrar a verdadeira face de Kal-El? Não sei bem o rumo que o personagem irá tomar, mas a editora corre um risco de entrar num retrocesso ainda maior do que aquele sofrido com a versão trazida pelos Novos 52, principalmente com o Warner Channel mostrando semanalmente o verdadeiro Superman, que até agora não foi visto nos cinemas e até o presente momento, tampouco nesta nova fase dos quadrinhos.

    Texto de autoria de José Macedo.

  • Rebirth: O Renascimento da DC Comics – Parte 2

    Rebirth: O Renascimento da DC Comics – Parte 2

    Após a nossa análise da primeira parte de Rebirth – O Renascimento da DC Comics, com os volumes especiais com nome vinculado à saga, prosseguimos com os primeiros números de Liga da Justiça, Asa Noturna e Hal Jordan e os Lanternas Verdes, além de um interessante material extra de revistas mensais que corroboram este novo momento na editora.

    Sem maiores delongas, vamos aos reviews:

    Liga da Justiça – Renascimento #01

    Liga da Justica - Renascimento 01

    Esperada não só por ser a publicação do principal grupo de heróis da história, a publicação também era cercada de expectativas por ser escrita e desenhada por Bryan Hitch, que havia brilhado bastante nas publicações de Os Supremos e Authority. A história se passa em um ataque alienígena urbano, em que a equipe clássica – Flash, Batman, Mulher Maravilha, Cyborg – as exceções estão em missões paralelas, com Lanterna explorado na próxima revista e o Superman Clark Kent analisando a sua vida de casado com Lois Lane, estranhando sua atual rotina.

    O grupo se vê em dúvida em aceitar a aposentadoria do Azulão e abraçar a nova versão do último kriptoniano, uma vez que não confiam nele. Há uma leve semelhança entre a ameaça alienígena vista nesta e a criatura de Ozymandias em Watchmen, mas não parecida o suficiente para associá-la a um easter egg.

    Prós: Hitch desenha muito bem e consegue equilibrar texto e arte. O mesmo deverá deixar os desenhos a cargo de outrem, uma vez que tem um terrível histórico de atrasos. Interessante também é a utilização de Jessica Cruz e Simon Baz como os Lanternas Verdes da história.

    Contras: A revista não possui muitas conclusões, o que torna o arco um pouco capenga, deixando uma grande dúvida de quais perspectivas serão traçadas na linha regular da Liga.

    Hal Jordan e os Lanternas Verdes #01

    Hal Jordan e os Lanternas Rebirth

    A revista correspondente às aventuras do piloto que veste o manto do gladiador esmeralda começa mostrando a ação da Tropa Sinestro e de seu comandante, já bem idoso, variando entre o encantamento com a suposta vitória naquele setor espacial, já que a lanternas verde nada fazem, e a obsolescência programada que sofre, não aceitando qualquer mimo a si causado por sua saúde pouco abundante.

    No roteiro de Robert Venditti há uma repetitiva, porém interessante recontagem da origem de Jordan, atrelando seu destino a cada um dos terráqueos detentores do poderoso anel, bem como aponta novos rumos de rivalidade com Sinestro e Parallax. Essa talvez seja a revista mais inspirada até aqui, e a química entre a equipe criativa é enorme.

    Prós: Mais uma vez Ethan Van Sciver consegue êxito ao capturar um clima aventuresco e escapista mesmo em poucas páginas e em uma história introdutória. A chance que tem de destacar cada um dos representantes das tropas coloridas é plenamente cabível, e não se preocupa em termos de argumentos de explicar todas as ações.

    Contras: Há poucos defeitos, talvez o maior é a necessidade de sempre precisar mostrar Hal recebendo o anel de Abin Sur, fato que rivaliza com a morte dos Wayne e a destruição de Kripton como clichê mais repetido da editora.

    Asa Noturna – Renascimento #01

    Asa Noturna Rebirth

    A história de Tim Seeley começa com uma explicação sobre a alcunha do herói, ligando esta a uma lenda de Kripton, dos heróis Asa Noturna e Flamejante, para, mais tarde, mostrar Dick Grayson retomando sua relação com Damian Wayne. Há um cuidado em lembrar-se das histórias do herói órfão como Agente 37, inclusive dando uma finalização deste arco transitando para outro. O reencontro do herói com seu mentor soa frio mas não burocrático, repleto de emoções conflitantes, como se houvesse emoções ali guardadas, de um vigilante que quer provar aos outros e a si mesmo seu valor.

    Prós: A curiosidade em assistir a interação entre Grayson e o antigo análogo da Wildstorm para o Batman, e atualmente herói recorrente da DC, Meia-Noite, é bastante proveitosa, e gera no público a vontade de ver mais daquela interação. O desfecho dribla seus próprios defeitos e soa nostálgico ao finalmente retornar do herói ao seu clássico manto.

    Contras: O link com a Noite das Corujas – com a diferenciação nominal de Planalto das Corujas – soa muito longínqua da historia de Scott Snyder, por mais que faça sentido se lembrado.

    Aproveitando o hype, analisamos também algumas das revistas de linha, lançadas quinzenalmente. Abaixo, algumas opiniões sobre:

    Aquaman #01

    Aquaman - Rebirth

    A história começa com uma conversa franca e íntima entre Arthur Curry e Mera, em terra, após uma noite de prazer. A discussão envolve o assumir dos atlantes aos habitantes da superfície. A publicação, com roteiros de Dann Abnett, consegue harmonizar bem a importância que o Aquaman deveria ter no universo DC, com as pitadas de humor e escapismo necessárias para a boa fruição de uma simples história em quadrinhos. Esse é o início do arco Afogamento e mostra consequências bastante adultas para um ingresso de uma nova raça/espécie no cenário político mundial, com o acréscimo surpresa de um dos maiores vilões do rei atlântico. Os prós envolvem os desenhos inspirados de Brad Walker e a cobertura midiática do Planeta Diário, ainda que grande parte do que é aventado seja apenas um despiste e, até este momento, haja poucos defeitos neste pontapé inicial.

    Batman #01

    Batman 1

    Eu Sou Gotham começa na vista aérea da metrópole, observada por um infante, enquanto o Morcego se ocupa de tentar salvar um avião em chamas mesmo sem ter os poderes de seus companheiros de Liga, como o Lanterna Verde, Superman e afins. As tramas escolhidas pelo roteirista Tom King e desenhista David Finch soam harmoniosas com a historiografia do personagem, alem de contar com uma boa dose de heroísmo. O poder heroico do vigilante é emocionante, mas é interrompido por uma interferência externa que soa como o aspecto mais negativo da publicação, por utilizar um deus ex machina banalizado e que será trabalhado mais para frente.

    Flash #01

    Flash - Renascimento

    Joshua Williamson retorna aos roteiros para descortinar as consequências no cotidiano de Barry Allen, após o retorno de seu velho amigo Wally West e a consequente descoberta da perda geral de dez anos, para todos que habitam aquele universo. Apesar de levar em conta essas novas informações, o decorrer da história é morno, exceto pelo final que guarda um mistério sobre o uso da força da aceleração.

    Arqueiro Verde #01

    Arqueiro Verde - Renascimento

    A trama segue os eventos diretos de Arqueiro Verde – Renascimento #01, com  a mesma equipe criativa – roteiro de Benjamin Percy e arte de Otto Schmidt – com o Arqueiro e Canário enfrentando um grupo de assalto misterioso. Uma das artes de capa variante é assinada por Neal Adams, que mostra ainda estar afiado, apesar da distância temporal em que desenhava as aventuras de Oliver Queen. A despeito de toda ação escapista, o evento mais digno de nota na revista é a discussão que Dinah propõe, de que todas as relações de Olliver tem a ver com seu dinheiro, inclusive dos bandidos que enfrentaram em Seattle, os quais estavam atrás dos materiais da Companhia Queen, usando uma discussão normalmente relegada ao Batman como possível fonte do desequilíbrio social de sua respectiva cidade. O desfecho contém um cliffhanger interessante, que inclusive põe personagens presentes na primeira temporada de Arrow para conviver com esta versão do vigilante.

    Conclusão:

    Rebirth ainda não consegue mostrar a que veio, em um limbo entre reboot e retorno às origens. Ao menos, vale o intuito de reprisar origens dos personagens, além de resgatar de maneira inteligente o tom heroico clássico, que sempre foi a marca registrada do corpo de personagens da DC Comics.

  • Rebirth: O Renascimento da DC Comics – Parte 1

    Rebirth: O Renascimento da DC Comics – Parte 1

    DC Rebirth 3

    A polêmica a respeito do reboot dos quadrinhos da DC Comics produziu em público e crítica uma enorme discussão tanto em relação aos motivos desse acontecimento quanto à qualidade dos textos e artes dos Novos 52. Como consequência, aliada a reclamações constantes dos artistas – entre eles Geoff Johns, que foi um dos poucos roteiristas medalhões que permaneceram na casa – ensaiou-se uma saída deste paradigma, e o evento de grandes proporções, chamado de Rebirth ou Renascimento, possivelmente procura retomar origens.

    Renascimento usa o mesmo nome dado às revistas que trouxeram tanto Hal Jordan quanto Barry Allen ao posto de Lanterna Verde e Flash, com roteiros de Johns e desenhos de Ethan Van Sciver. Após um remendo de qualidade discutível, e rumos do já antigo reboot, finalmente se dá vazão a essa história, que traria novos visuais, conceitos antigos e um possível ensaio para uma volta ao universo pós-Crise nas Infinitas Terras.

    Se Renascimento é ou não um reboot, o tempo dirá, fato é que a saga veio para mudar os paradigmas editoriais, sendo esta a despedida de Johns da linha regular de histórias e o início de uma participação mais ativa nos bastidores de quadrinhos e áudio visual, a fim de auxiliar Zack Snyder no cinema. Abaixo, uma breve análise das primeiras publicações desde junho, com os especiais já lançados:

    Universo DC – Renascimento #01

    DC Rebirth 2

    Talvez seja a mais polêmica revista dessa primeira fase, uma vez que trabalha com uma situação clássica, esquecida por muitos. O pivô desta saga é Wally West, que após a Crise de Marv Wolfman e George Pérez, se tornou o Flash. A primeira aparição do personagem é com o Batman, como seu tio fez outrora, mas evidenciando o fato de vestir o traje de Kid Flash e a memória existente antes de Ponto de Ignição, acusando outros personagens, e ele mesmo, de estarem bem mais jovens.

    Este artifício metalinguístico, com West simbolizando o leitor antigo, não desconsidera o novo fã do universo DC, uma vez que há uma pequena explicação tanto sobre a Força de Aceleração, que dá aos velocistas poderosos suas habilidades – inclusive a de viajar no tempo – quanto sobre o começo da carreira de West como vigilante e como fã do Flash da Era de Prata. A publicação é um arremedo e introduz muitos elementos do passado, como a relação do Arqueiro Verde e Canário Negro, esquecida nesta versão, e outros elementos da relação de mentor e pupilo entre Barry Allen e Wally West.

    Pontos Positivos: Há muitas referências à trágica morte do Flash Barry Allen, através de seu sucessor, e é bastante interessante e saudosista vê-lo tentando entrar em contato com seus antigos amigos dos Titãs, entre eles Asa Noturna, Cyborg e Arsenal. Os desenhos emulam, inclusive, o traço de Pérez em Crise nas Infinitas Terras, e compõem quadros belíssimos.

    Pontos Negativos: a tola necessidade de novamente tentar mesclar o universo comum da DC e Watchmen, justificando o conceito levantado por Alan Moore de que a indústria de quadrinhos atual resgata suas ideias como guaxinins vasculhando seu lixo na calada da noite.

    Lanterna Verde – Renascimento #01

    DC Rebirth 5

    Conduzida por Johns e Sam Humphries no roteiro e desenhos de Van Sciver e do brasileiro Ed Benes, a publicação do Gladiador Esmeralda inicia-se tratando rapidamente sobre a sucessão dos Lanternas terráqueos, Hal Jordan, John Stewart, Guy Gardner e Kyle Rayner, ainda que a primeira narração direta seja feita por Simon Baz, o lanterna árabe, que tem de lidar com a islamofobia já no primeiro quadro em que aparece. Logo, este se encontra com outra versão do herói, feminina e latina, chamada de Jessica Cruz, também introduzida na época pós-Novos 52. Os eventos culminam na chegada de Hal, afirmando o quão crus estão os dois atuais representantes da Terra, mas sem esclarecer onde estão Rayner, Garner e outros. Ao final, os destinos dos dois novos heróis se alinham aos vilões lanternas vermelhos, referenciando A Noite Mais Densa, mega-saga do Universo DC comandada por Johns.

    Prós: Ingresso dos mais recentes membros da tropa, destacam-se duas minorias normalmente perseguidas nos Estados Unidos, um islâmico residente na América e uma mulher latino-americana, evocando o clássico lema da tropa de inclusão e representação de povos diversos. Outro ponto curioso é a capa de Van Sciver homenageando a própria arte antiga de Lanterna Verde: Renascimento, trocando Jordan pelas duas novas encarnações do herói.

    Contras: A história em si soa genérica. A ideia de inserir um dos caçadores é até esperta, mas seu resultado final é óbvio, como um preparativo do velho Jordan, que testava os dois recrutas. O didatismo exacerbado faz a história perder um pouco do caráter de introdução, ainda que o saldo seja positivo.

    Arqueiro Verde - Rebirth

    Arqueiro Verde – Renascimento #01

    Bastante diferente do visto nos Novos 52 – que, por sua vez, baseava-se na versão do personagem em Smallville – O Arqueiro Verde segue estilizado e semelhante à sua real origem. A aventura, escrita por Benjamin Percy e desenhada magistralmente por Otto Schmidt, se passa nesse início em Seattle, e não em Star City, o que faz lembrar uma das características de Oliver Queen há muito esquecida. A participação da Canário Negro oferece um ar nostálgico, fazendo um paralelo com a antiga minissérie Caçadores. Ao final, a dupla de vigilantes enfrenta os estranhos opositores, e dá vazão ao romance que antes existia, e que nesta versão parece muito mais subliminar do que qualquer outra coisa.

    Prós: Arte estilizada de Schmidt é bastante bonita, modernizando os temas clássicos do herói. Outro ponto que favorece a publicação é o grato retorno à essência contestadora do personagem, apresentado como um sujeito ranzinza e ligado ao pensamento progressista. Além disso, é charmoso o reatar do interesse amoroso dos dois protagonistas.

    Contras: A origem dos vilões enfrentados é pouco trabalhada, e tanto visual quanto atitudes pouco fazem lembrar os antagonistas tradicionais do arqueiro, fator que deixa o real antagonismo por parte das circunstâncias comuns a um relacionamento amoroso.

    DC Rebirth Bat

    Batman – Renascimento #01

    A história de Scott Snyder – que escreve a saga Noite das Corujas, e demais arcos que iniciaram o Morcego nos Novos 52 – e Tom King mostra um Bruce Wayne enrolando Lucius Fox em uma versão tão despreocupada quanto sua persona em Batman Begins. A Arte de Mikel Janín pressupõe momentos grandiosos, com cenários gigantes explorados por um protagonista diminuto, apelando para a extrema humanidade do Cruzado Encapuzado diante de um mundo de semi-deuses, aspecto antes explorado em algumas revistas da Liga da Justiça e agora trabalhada em sua revista solo.

    Prós: Os desenhos de Janín são belíssimos e fazem lembrar a arquitetura da Gotham que Tim Burton pensou para o morcego em Batman, de 1989, além de inúmeros elementos da animação de Bruce W. Timm.

    Contras: Falta emoção no arco, já que as conclusões seriam deixadas para os momentos posteriores. Mesmo diante desse adiamento, que haveria como ser contornado, Snyder não se esforça para tal, defeito que carrega desde suas fases antigas com o herói.

    Dc

    Superman – Renascimento #01

    O começo da história é melancólico, narrando a morte do Super-Homem e trazendo um retorno imediato de uma figura intitulada com a alcunha do herói, mas misteriosamente sem a identidade dupla de Clark Kent. A história de Peter J. Tomasi e Patrick Gleason é quase um remake dos eventos da A Morte do Superman e O Retorno de Superman, referenciando cenas inteiras e uniformes iguais. O desfecho é otimista, apesar de pouco revelar o entorno do herói-ícone da editora.

    Prós: Os desenhos de Doug Mahnke são muito bons, agregando um valor que a história simplesmente não consegue equiparar. Mesmo os quadros copiados de Dan Jurgens são mais bem feitos e mais significativos se comparados com a saga original.

    Contras: Mais decepcionante dentre as primeiras histórias, principalmente por ser necessária uma longa leitura anterior para entender o contexto histórico, o que atrapalha o ingresso de novos leitores.

    Aquaman - Rebirth

    Aquaman – Renascimento #01

    Apesar de sempre ser relegado ao arquétipo de alívio cômico e consequente piada – como visto nos arcos de Johns e Ivan Reis no ultimo reboot – o rei de Atlantis Aquaman tem uma versão mais séria e condizente com o papel de fundador da Liga da Justiça e de poderoso governante de dois terços do mundo. A história de Dan Abnett mostra Arthur Curry após o pedido de casamento a Mera, usando a tradição dos homens da superfície e a figura heroica como uma ameaça para os homens comuns, fato alardeado, inclusive pela imprensa especializada, como uma espécie de terrorista, o que garante um tom adulto à trama, ainda que moderado.

    Prós: A revista não perde tempo com enrolações, ao contrário, a ação inicial é desenfreada e fortificada pela bela arte de Scott Eaton e Oscar Jiménez, trazendo à tona parte dos melhores momentos de Liga da Justiça: Guerra.

    Contras: Assim como Superman, é necessário um pouco mais de contexto para entender o mote da história, ainda que a introdução à catástrofe de 2013 seja melhor explicitada neste do que na revista do Super. Outro problema é a tentativa de fazer humor, não exitosa como o arco de Johns e Reis lá atrás.

    Mulher Maravilha - Rebirth

    Mulher-Maravilha – Renascimento #01

    Mais uma vez coube à amazona de Themyscira a incumbência de ter em seu argumento o melhor dos artistas da editora. Nos Novos 52 foi Brian Azzarello, e nesta versão, Greg Rucka, que faz outra vez uma reimaginação da origem de Diana, resgatando o romance de Hipólita antes do nascimento de sua herdeira. Mathew Clark traz em sua arte um uniforme mais clássico, bastante parecido com o traje que George Pérez idealizou, passando também pelo utilizado por Gal Gadot em Batman vs Superman: A Origem da Justiça. A história é direta e repleta de ação, e em seus easter eggs promete ser divertido acompanhar as publicações.

    Prós: Mulher-Maravilha é uma personagem inteligente e sagaz, fator comumente esquecido pelos escritores, e na revista ela chega a conclusões brilhantes sobre o mote do mega evento, com uma clarividência até inédita para os padrões desses arcos. A conclusão à qual ela chega não é acompanhada da ajuda de nenhum personagem externo, e, assim que percebe isso, Diana muda de postura e passa por fortes lutas em ambiente olímpico, fato que reata suas origens aos mitos gregos.

    Contras: O visual planejado pela equipe criativa de Azzarello era funcional e abraçava a ideia de leitoras mais atentas a temas feministas, uma vez que Diana Prince era bem menos fetichizada do que o tradicional registro da heroína, e isso não se repete nesta edição, com a exclusão de suas calças compridas.

    DC Rebirth Flash

    Flash – Renascimento #01

    Novamente começando sob uma premissa policial, parecida com as séries televisivas que mostram cenas de crime, Flash é escrito por Joshua Williamson com uma pegada mais adulta e violenta, em um contraponto que faz equilibrar e harmonizar o escapismo heroico resgatado em uma aura mais madura. Este é um título enigmático que promete grandes mudanças, possivelmente com o retorno do Barry Allen, clássico mega poderoso, apesar de não ter sido permitido ao roteirista falar muito sobre sua revista. Ao final da publicação, permanece um clima profético, parecendo que a origem do problema recairá sobre esse número, como ocorreu com Flashpoint.

    Prós: Desenhada por Carmine di Giandomenico, a edição é bem interessante e ácida, com uma arte fluida e interessante narrativamente. O desenhista consegue emular estilos bem diferentes e todos de maneira bem competente. Outro fator excepcional é a ligação afetiva bem elaborada entre Wally e Barry, fazendo lembrar uma remontagem da Era de Prata ainda mais interessante.

    Contras: A ausência de respostas incomoda um pouco, e a aparição dos elementos ligados ao Comediante em Watchmen também faz irritar pela insistência em um argumento que dificilmente não soará pueril e ofensivo para os fãs de Moore, além de ajudar a fortalecer o conceito de que a DC tenta se vingar do escritor.

    Titans - Rebirth

    Titãs – Renascimento #01

    Também narrada por Wally West, a história começa com uma lembrança da Turma Titã e da evolução do grupo pairando sobre o presente, em que o herói esquecido muda de uniforme, retornando ao vermelho para obter contato com seu antigo amigo, Asa Noturna (Dick Grayson). Com texto de Dan Abnett e arte de Bret Booth, Titãs também tem em seu cerne o resgate às origens .

    Prós: Apesar do começo em meio às catástrofes, o desfecho é bem otimista para West, que finalmente retoma suas antigas parcerias e seu lugar de direito junto aos antigos sidekicks, para construir a partir dali uma relação mais sólida.

    Contras: com toda a confusão envolvendo os membros dos Titãs originais nos últimos tempos, é bem difícil tratar de Donna Troy, Roy Harper, Dick Grayson, Garth (Tempest) e Lilith. Este número não é diferente, e trabalha tudo de forma “zerada”, sem muitas explicações por parte de Abnett

    Conclusão:

    O lançamento das edições até aqui é bastante conservador, visando agradar tanto ao publico mais antigo – ávido pelo retorno de uma era heroica mais clássica –  quanto aos vendedores consignados, apelando para os clichês mais populares. As equipes criativas não são lotadas de medalhões até o momento, e há uma preocupação em não ousar tanto, apostando em um feijão com arroz bem medroso, abusando do “mais do mesmo”.

    Rebirth ainda se desenrolará, mas seu primeiros momentos já reúnem alguns bons argumentos. Porém, ainda engatinha em sua fórmula, causando no leitor a mesma sensação de bom começo em grandes sagas anteriores, mas que não necessariamente terminaram bem.