Tag: DC Rebirth

  • Resenha | Batman/Flash: O Bóton

    Resenha | Batman/Flash: O Bóton

    Preparando terreno para o lançamento de Doomsday Clock, o especial Batman/Flash: O Bóton serve como um “capítulo do meio” para a saga da Editora das Lendas que se iniciou em Universo DC: Renascimento. O crossover entre os dois heróis foi publicado nos Estados Unidos em suas respectivas séries mensais e reunidas depois em um volume único, publicado no Brasil em capa dura pela Panini.

    Escrita por Tom King e Joshua Williamson, a história retoma partes importantes do evento Ponto de Ignição, em que o Flash altera toda a realidade ao tentar salvar sua mãe voltando no tempo. Essa transformação na linha do tempo do Universo DC deu origem ao reboot conhecido editorialmente como Novos 52, e nessa edição vemos que existem resquícios de outras linhas da editora se mesclando à realidade dos personagens. O bóton do título já havia aparecido no final do especial Renascimento, e aqui volta a ter importância, pois mostra que o universo criado por Alan Moore para abrigar a saga Watchmen está se misturando com o das séries mensais de super-heróis.

    A história começa com o vilão Flash Reverso invadindo a Batcaverna em uma luta impressionante com o Batman, na qual cada segundo conta. A invasão ocorreu porque, ao investigar o bóton sorridente, Bruce Wayne o deixou na bancada próximo a outro objeto bastante específico: a máscara do Pirata Psíquico, personagem que ainda se lembrava dos eventos da Crise nas Infinitas Terras (reboot da editora nos anos 1980). Ao ficarem lado a lado, os dois objetos começaram a emanar energia que atraiu o vilão do Flash pra caverna.

    A luta com o Flash Reverso culmina com a revelação da existência uma entidade maior no universo – ou um deus, como o vilão o descreve – e leva a uma investigação sobre  o que realmente está acontecendo. Para isso, Batman e Flash utilizam a Esteira Cósmica para viajar através do Multiverso – e de linhas temporais diferentes – se encontrando com realidades diversas, entre elas a surgida na saga Ponto de Ignição. A dinâmica entre os personagens nessa parte da história é bem interessante, pois mostra um relacionamento entre Bruce e Thomas Wayne que jamais poderia ter acontecido.

    Da mesma forma que Wally West surge da Força da Aceleração em Renascimento, vemos aqui o ressurgimento de outro famoso velocista da DC, que desperta ainda mais questões a serem resolvidas num futuro próximo. Isso porque a história não se conclui de fato, deixando muito a ser desenvolvido na saga vindoura. O Bóton é um interlúdio para a saga que a editora está planejando, e um pontapé inicial para grandes mudanças que virão com O Relógio do Juízo Final.

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  • Resenha | Universo DC: Renascimento

    Resenha | Universo DC: Renascimento

    Após o fim da fase conhecida como Novos 52 e uma breve passagem como DC & Você, a Editora das Lendas resolveu passar um pano em suas publicações, porém sem a obrigatoriedade de um novo reboot. Assim, teve início uma nova fase editorial que prometia trazer de volta toda a grandeza de seus mais icônicos personagens, e seu pontapé inicial deu-se com a publicação do especial Universo DC: Renascimento. Assim, todas as publicações posteriores carregariam o selo “Renascimento” nas capas, e deveriam acertar os ponteiros da bagunçada cronologia da editora.

    O especial em si não traz exatamente uma história, mas apresenta os rumos que o Universo DC iria tomar a partir desse ponto. A história começa com uma clara referência à clássica graphic novel de Alan Moore e Dave Gibbons, Watchmen, que até então nunca havia sido parte oficial do Universo DC (coisa que, alguns anos depois do lançamento desse especial, já sabemos que se alterou). Temos uma narração em off de uma figura misteriosa que parece observar de fora os acontecimentos recentes, e vemos o Batman em sua soturna caverna tentando desvendar o mistério que lhe fora parcialmente revelado em uma saga anterior, a ideia de que existem três Coringas no mundo. Logo descobrimos que o observador (e narrador) misterioso é ninguém menos que Wally West, o terceiro Flash, em sua clássica versão anterior ao reboot. Wally parece estar preso no tecido entre as realidades, e ao se revelar ao Homem-Morcego, começa a desaparecer na Força da Aceleração, pois Batman não se lembra dele.

    Vemos então uma recapitulação da origem de Wally West, com direito a lembranças da primeira formação da Turma Titã e da morte de Barry Allen em Crise nas Infinitas Terras, além de boa parte da aclamada (e negligenciada pela editora) fase do roteirista Mark Waid pelo título do personagem. Wally então percebe toda a mudança ocorrida no evento Ponto de Ignição (Flashpoint), que deu origem ao reboot do universo, e sente que dez anos foram apagados da história.

    A história começa então a nos mostrar pequenos eventos acontecendo com alguns personagens-chave, como Jonny Trovoada, Satúrnia, Átomo e seu pupilo, além de mostrar Ted Kord vivo e sendo mentor de Jaime Reiyes como Besouro Azul. Ficam também estabelecidos conceitos como a sexualidade de Aqualad, a idade do Robin (13 anos), e o início do relacionamento amoroso entre Arqueiro Verde e Canário Negro. Vemos também a personagem Pandora (que permeava toda a fase dos Novos 52) ser desintegrada num beco por uma figura misteriosa. Wally chega à conclusão que, além do tempo, o amor também foi roubado desse universo e sai à procura de Linda Parker, sua esposa na linha temporal anterior. Após muitas idas e vindas, Wally consegue fazer com Barry Allen se lembre dele, o retirando da Força da Aceleração segundos antes de seu completo desaparecimento.

    A história deixa então várias pistas do que viria a acontecer na editora nos anos vindouros. Batman encontra o bótom do Comediante (de Watchmen) na parede da Batcaverna após reler a carta de Thomas Wayne, ou melhor, de sua versão do Flashpoint. Isso e outros acontecimentos teriam repercussão mais pra frente, e o final da edição reproduzindo o diálogo entre o Dr. Manhatan e Ozzymandias preparam o caminho para a saga que possivelmente vai redefinir novamente a editora, a vindoura Doomsday Clock.

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  • Resenha | Universo DC Renascimento: Arqueiro Verde – Volume 1

    Resenha | Universo DC Renascimento: Arqueiro Verde – Volume 1

    Umas das premissas da fase Renascimento da DC Comics é trazer seus personagens de volta às suas representações mais icônicas. Em Os Novos 52, o veterano personagem Arqueiro Verde foi modernizado, assumindo características mais próximas das suas versões live-action nos seriados Smallville e Arrow, onde ele é representado como um jovem milionário – algo bem próximo de suas primeiras histórias em quadrinhos, que tentavam emular o estilo dos gibis do Batman na época. Mas o Oliver Queen que mais se destaca na memória dos leitores de quadrinhos é o personagem da fase de Dennis O’Neil e Neal Adams, quando o herói apresenta ao Lanterna Verde os problemas reais da classe menos abastada dos Estados Unidos em uma road trip repleta de aventuras e críticas sociais. Um marco para os quadrinhos. Esse estilo foi muito bem retratado na animação Liga da Justiça – Sem Limites, onde ele se define como “um velho esquerdista”.

    Neste primeiro volume da fase Renascimento do Arqueiro Verde, vemos um retorno a essa caracterização. O “riquinho metido” dá lugar ao autoproclamado “Guerreiro da Justiça Social”, voltando inclusive a adotar o cavanhaque típico de Robin Hood. Seu relacionamento com a Canário Negro volta a ser ponto chave da trama, e muito do que foi estabelecido na fase anterior (principalmente seus laços de família) continua sendo explorado.

    O roteiro de Benjamim Percy, por vezes com boas ideias, peca pelo exagero e o cliché. Embora as caracterizações dos personagens estejam coerentes e os diálogos bem sacados (mesmo quando toscos), a narrativa que envolve uma sociedade secreta dominando o submundo – literalmente – de Seattle parece algo não muito condizente com o status de herói urbano do Arqueiro Verde. Embora enfrentar todo tipo de monstros não seja lá algo estranho ao velho Oliver, o teor místico do Nono Círculo (organização secreta que remete ao Inferno de Dante Alighieri) parece forçar a barra. Junte-se a isso a mudança abrupta do estilo de arte no meio do volume e a história parece não ser mais a mesma do início.

    Não que a arte seja ruim, muito pelo contrário! A primeira parte conta com a leveza e o dinamismo da arte de Otto Schmidt, que faz com que o texto de Percy flua de forma natural. Já o estilo da segunda parte – que ficou a cargo de Juan Ferreyra – lembra em muito o visual da série Os Caçadores, clássico do herói nos anos 1980. Apesar de um espetáculo visual, em alguns momentos a ação fica um tanto “truncada” e o ritmo se perde um pouco.

    A decisão da Panini em publicar esse arco – e os outros na sequência – em um volume encadernado está de acordo com a nova estratégia da editora de focar suas mensais nos títulos do Batman e do Superman, evitando os mixes de outrora que deixavam boas histórias perdidas no meio de outras medíocres. Contudo, faltou o conteúdo extra presente na edição americana na qual foi baseada a versão nacional. Embora não seja uma obra prima, esse primeiro volume pode ser, principalmente, um bom ponto de partida para leitores novos ou antigos que se afastaram nos últimos anos.

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  • VortCast 41 | A Representatividade nos Quadrinhos

    VortCast 41 | A Representatividade nos Quadrinhos

    Vortcast 41Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Thiago Augusto Corrêa (tdmundomente), Jackson Good (@jacksgood), Filipe Pereira (@filipepereiral) Rafael Moreira (@_rmc) recebem a convidada Caroline Bardese, do site Setor 2814, para comentar a respeito da importância da diversidade e a representatividade nos quadrinhos de super-heróis.

    Duração: 84 min.
    Edição: Victor Marçon
    Trilha Sonora: Victor Marçon
    Arte do Banner: 
    Bruno Gaspar

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  • Rebirth: O Renascimento da DC Comics – Parte 2

    Rebirth: O Renascimento da DC Comics – Parte 2

    Após a nossa análise da primeira parte de Rebirth – O Renascimento da DC Comics, com os volumes especiais com nome vinculado à saga, prosseguimos com os primeiros números de Liga da Justiça, Asa Noturna e Hal Jordan e os Lanternas Verdes, além de um interessante material extra de revistas mensais que corroboram este novo momento na editora.

    Sem maiores delongas, vamos aos reviews:

    Liga da Justiça – Renascimento #01

    Liga da Justica - Renascimento 01

    Esperada não só por ser a publicação do principal grupo de heróis da história, a publicação também era cercada de expectativas por ser escrita e desenhada por Bryan Hitch, que havia brilhado bastante nas publicações de Os Supremos e Authority. A história se passa em um ataque alienígena urbano, em que a equipe clássica – Flash, Batman, Mulher Maravilha, Cyborg – as exceções estão em missões paralelas, com Lanterna explorado na próxima revista e o Superman Clark Kent analisando a sua vida de casado com Lois Lane, estranhando sua atual rotina.

    O grupo se vê em dúvida em aceitar a aposentadoria do Azulão e abraçar a nova versão do último kriptoniano, uma vez que não confiam nele. Há uma leve semelhança entre a ameaça alienígena vista nesta e a criatura de Ozymandias em Watchmen, mas não parecida o suficiente para associá-la a um easter egg.

    Prós: Hitch desenha muito bem e consegue equilibrar texto e arte. O mesmo deverá deixar os desenhos a cargo de outrem, uma vez que tem um terrível histórico de atrasos. Interessante também é a utilização de Jessica Cruz e Simon Baz como os Lanternas Verdes da história.

    Contras: A revista não possui muitas conclusões, o que torna o arco um pouco capenga, deixando uma grande dúvida de quais perspectivas serão traçadas na linha regular da Liga.

    Hal Jordan e os Lanternas Verdes #01

    Hal Jordan e os Lanternas Rebirth

    A revista correspondente às aventuras do piloto que veste o manto do gladiador esmeralda começa mostrando a ação da Tropa Sinestro e de seu comandante, já bem idoso, variando entre o encantamento com a suposta vitória naquele setor espacial, já que a lanternas verde nada fazem, e a obsolescência programada que sofre, não aceitando qualquer mimo a si causado por sua saúde pouco abundante.

    No roteiro de Robert Venditti há uma repetitiva, porém interessante recontagem da origem de Jordan, atrelando seu destino a cada um dos terráqueos detentores do poderoso anel, bem como aponta novos rumos de rivalidade com Sinestro e Parallax. Essa talvez seja a revista mais inspirada até aqui, e a química entre a equipe criativa é enorme.

    Prós: Mais uma vez Ethan Van Sciver consegue êxito ao capturar um clima aventuresco e escapista mesmo em poucas páginas e em uma história introdutória. A chance que tem de destacar cada um dos representantes das tropas coloridas é plenamente cabível, e não se preocupa em termos de argumentos de explicar todas as ações.

    Contras: Há poucos defeitos, talvez o maior é a necessidade de sempre precisar mostrar Hal recebendo o anel de Abin Sur, fato que rivaliza com a morte dos Wayne e a destruição de Kripton como clichê mais repetido da editora.

    Asa Noturna – Renascimento #01

    Asa Noturna Rebirth

    A história de Tim Seeley começa com uma explicação sobre a alcunha do herói, ligando esta a uma lenda de Kripton, dos heróis Asa Noturna e Flamejante, para, mais tarde, mostrar Dick Grayson retomando sua relação com Damian Wayne. Há um cuidado em lembrar-se das histórias do herói órfão como Agente 37, inclusive dando uma finalização deste arco transitando para outro. O reencontro do herói com seu mentor soa frio mas não burocrático, repleto de emoções conflitantes, como se houvesse emoções ali guardadas, de um vigilante que quer provar aos outros e a si mesmo seu valor.

    Prós: A curiosidade em assistir a interação entre Grayson e o antigo análogo da Wildstorm para o Batman, e atualmente herói recorrente da DC, Meia-Noite, é bastante proveitosa, e gera no público a vontade de ver mais daquela interação. O desfecho dribla seus próprios defeitos e soa nostálgico ao finalmente retornar do herói ao seu clássico manto.

    Contras: O link com a Noite das Corujas – com a diferenciação nominal de Planalto das Corujas – soa muito longínqua da historia de Scott Snyder, por mais que faça sentido se lembrado.

    Aproveitando o hype, analisamos também algumas das revistas de linha, lançadas quinzenalmente. Abaixo, algumas opiniões sobre:

    Aquaman #01

    Aquaman - Rebirth

    A história começa com uma conversa franca e íntima entre Arthur Curry e Mera, em terra, após uma noite de prazer. A discussão envolve o assumir dos atlantes aos habitantes da superfície. A publicação, com roteiros de Dann Abnett, consegue harmonizar bem a importância que o Aquaman deveria ter no universo DC, com as pitadas de humor e escapismo necessárias para a boa fruição de uma simples história em quadrinhos. Esse é o início do arco Afogamento e mostra consequências bastante adultas para um ingresso de uma nova raça/espécie no cenário político mundial, com o acréscimo surpresa de um dos maiores vilões do rei atlântico. Os prós envolvem os desenhos inspirados de Brad Walker e a cobertura midiática do Planeta Diário, ainda que grande parte do que é aventado seja apenas um despiste e, até este momento, haja poucos defeitos neste pontapé inicial.

    Batman #01

    Batman 1

    Eu Sou Gotham começa na vista aérea da metrópole, observada por um infante, enquanto o Morcego se ocupa de tentar salvar um avião em chamas mesmo sem ter os poderes de seus companheiros de Liga, como o Lanterna Verde, Superman e afins. As tramas escolhidas pelo roteirista Tom King e desenhista David Finch soam harmoniosas com a historiografia do personagem, alem de contar com uma boa dose de heroísmo. O poder heroico do vigilante é emocionante, mas é interrompido por uma interferência externa que soa como o aspecto mais negativo da publicação, por utilizar um deus ex machina banalizado e que será trabalhado mais para frente.

    Flash #01

    Flash - Renascimento

    Joshua Williamson retorna aos roteiros para descortinar as consequências no cotidiano de Barry Allen, após o retorno de seu velho amigo Wally West e a consequente descoberta da perda geral de dez anos, para todos que habitam aquele universo. Apesar de levar em conta essas novas informações, o decorrer da história é morno, exceto pelo final que guarda um mistério sobre o uso da força da aceleração.

    Arqueiro Verde #01

    Arqueiro Verde - Renascimento

    A trama segue os eventos diretos de Arqueiro Verde – Renascimento #01, com  a mesma equipe criativa – roteiro de Benjamin Percy e arte de Otto Schmidt – com o Arqueiro e Canário enfrentando um grupo de assalto misterioso. Uma das artes de capa variante é assinada por Neal Adams, que mostra ainda estar afiado, apesar da distância temporal em que desenhava as aventuras de Oliver Queen. A despeito de toda ação escapista, o evento mais digno de nota na revista é a discussão que Dinah propõe, de que todas as relações de Olliver tem a ver com seu dinheiro, inclusive dos bandidos que enfrentaram em Seattle, os quais estavam atrás dos materiais da Companhia Queen, usando uma discussão normalmente relegada ao Batman como possível fonte do desequilíbrio social de sua respectiva cidade. O desfecho contém um cliffhanger interessante, que inclusive põe personagens presentes na primeira temporada de Arrow para conviver com esta versão do vigilante.

    Conclusão:

    Rebirth ainda não consegue mostrar a que veio, em um limbo entre reboot e retorno às origens. Ao menos, vale o intuito de reprisar origens dos personagens, além de resgatar de maneira inteligente o tom heroico clássico, que sempre foi a marca registrada do corpo de personagens da DC Comics.

  • Rebirth: O Renascimento da DC Comics – Parte 1

    Rebirth: O Renascimento da DC Comics – Parte 1

    DC Rebirth 3

    A polêmica a respeito do reboot dos quadrinhos da DC Comics produziu em público e crítica uma enorme discussão tanto em relação aos motivos desse acontecimento quanto à qualidade dos textos e artes dos Novos 52. Como consequência, aliada a reclamações constantes dos artistas – entre eles Geoff Johns, que foi um dos poucos roteiristas medalhões que permaneceram na casa – ensaiou-se uma saída deste paradigma, e o evento de grandes proporções, chamado de Rebirth ou Renascimento, possivelmente procura retomar origens.

    Renascimento usa o mesmo nome dado às revistas que trouxeram tanto Hal Jordan quanto Barry Allen ao posto de Lanterna Verde e Flash, com roteiros de Johns e desenhos de Ethan Van Sciver. Após um remendo de qualidade discutível, e rumos do já antigo reboot, finalmente se dá vazão a essa história, que traria novos visuais, conceitos antigos e um possível ensaio para uma volta ao universo pós-Crise nas Infinitas Terras.

    Se Renascimento é ou não um reboot, o tempo dirá, fato é que a saga veio para mudar os paradigmas editoriais, sendo esta a despedida de Johns da linha regular de histórias e o início de uma participação mais ativa nos bastidores de quadrinhos e áudio visual, a fim de auxiliar Zack Snyder no cinema. Abaixo, uma breve análise das primeiras publicações desde junho, com os especiais já lançados:

    Universo DC – Renascimento #01

    DC Rebirth 2

    Talvez seja a mais polêmica revista dessa primeira fase, uma vez que trabalha com uma situação clássica, esquecida por muitos. O pivô desta saga é Wally West, que após a Crise de Marv Wolfman e George Pérez, se tornou o Flash. A primeira aparição do personagem é com o Batman, como seu tio fez outrora, mas evidenciando o fato de vestir o traje de Kid Flash e a memória existente antes de Ponto de Ignição, acusando outros personagens, e ele mesmo, de estarem bem mais jovens.

    Este artifício metalinguístico, com West simbolizando o leitor antigo, não desconsidera o novo fã do universo DC, uma vez que há uma pequena explicação tanto sobre a Força de Aceleração, que dá aos velocistas poderosos suas habilidades – inclusive a de viajar no tempo – quanto sobre o começo da carreira de West como vigilante e como fã do Flash da Era de Prata. A publicação é um arremedo e introduz muitos elementos do passado, como a relação do Arqueiro Verde e Canário Negro, esquecida nesta versão, e outros elementos da relação de mentor e pupilo entre Barry Allen e Wally West.

    Pontos Positivos: Há muitas referências à trágica morte do Flash Barry Allen, através de seu sucessor, e é bastante interessante e saudosista vê-lo tentando entrar em contato com seus antigos amigos dos Titãs, entre eles Asa Noturna, Cyborg e Arsenal. Os desenhos emulam, inclusive, o traço de Pérez em Crise nas Infinitas Terras, e compõem quadros belíssimos.

    Pontos Negativos: a tola necessidade de novamente tentar mesclar o universo comum da DC e Watchmen, justificando o conceito levantado por Alan Moore de que a indústria de quadrinhos atual resgata suas ideias como guaxinins vasculhando seu lixo na calada da noite.

    Lanterna Verde – Renascimento #01

    DC Rebirth 5

    Conduzida por Johns e Sam Humphries no roteiro e desenhos de Van Sciver e do brasileiro Ed Benes, a publicação do Gladiador Esmeralda inicia-se tratando rapidamente sobre a sucessão dos Lanternas terráqueos, Hal Jordan, John Stewart, Guy Gardner e Kyle Rayner, ainda que a primeira narração direta seja feita por Simon Baz, o lanterna árabe, que tem de lidar com a islamofobia já no primeiro quadro em que aparece. Logo, este se encontra com outra versão do herói, feminina e latina, chamada de Jessica Cruz, também introduzida na época pós-Novos 52. Os eventos culminam na chegada de Hal, afirmando o quão crus estão os dois atuais representantes da Terra, mas sem esclarecer onde estão Rayner, Garner e outros. Ao final, os destinos dos dois novos heróis se alinham aos vilões lanternas vermelhos, referenciando A Noite Mais Densa, mega-saga do Universo DC comandada por Johns.

    Prós: Ingresso dos mais recentes membros da tropa, destacam-se duas minorias normalmente perseguidas nos Estados Unidos, um islâmico residente na América e uma mulher latino-americana, evocando o clássico lema da tropa de inclusão e representação de povos diversos. Outro ponto curioso é a capa de Van Sciver homenageando a própria arte antiga de Lanterna Verde: Renascimento, trocando Jordan pelas duas novas encarnações do herói.

    Contras: A história em si soa genérica. A ideia de inserir um dos caçadores é até esperta, mas seu resultado final é óbvio, como um preparativo do velho Jordan, que testava os dois recrutas. O didatismo exacerbado faz a história perder um pouco do caráter de introdução, ainda que o saldo seja positivo.

    Arqueiro Verde - Rebirth

    Arqueiro Verde – Renascimento #01

    Bastante diferente do visto nos Novos 52 – que, por sua vez, baseava-se na versão do personagem em Smallville – O Arqueiro Verde segue estilizado e semelhante à sua real origem. A aventura, escrita por Benjamin Percy e desenhada magistralmente por Otto Schmidt, se passa nesse início em Seattle, e não em Star City, o que faz lembrar uma das características de Oliver Queen há muito esquecida. A participação da Canário Negro oferece um ar nostálgico, fazendo um paralelo com a antiga minissérie Caçadores. Ao final, a dupla de vigilantes enfrenta os estranhos opositores, e dá vazão ao romance que antes existia, e que nesta versão parece muito mais subliminar do que qualquer outra coisa.

    Prós: Arte estilizada de Schmidt é bastante bonita, modernizando os temas clássicos do herói. Outro ponto que favorece a publicação é o grato retorno à essência contestadora do personagem, apresentado como um sujeito ranzinza e ligado ao pensamento progressista. Além disso, é charmoso o reatar do interesse amoroso dos dois protagonistas.

    Contras: A origem dos vilões enfrentados é pouco trabalhada, e tanto visual quanto atitudes pouco fazem lembrar os antagonistas tradicionais do arqueiro, fator que deixa o real antagonismo por parte das circunstâncias comuns a um relacionamento amoroso.

    DC Rebirth Bat

    Batman – Renascimento #01

    A história de Scott Snyder – que escreve a saga Noite das Corujas, e demais arcos que iniciaram o Morcego nos Novos 52 – e Tom King mostra um Bruce Wayne enrolando Lucius Fox em uma versão tão despreocupada quanto sua persona em Batman Begins. A Arte de Mikel Janín pressupõe momentos grandiosos, com cenários gigantes explorados por um protagonista diminuto, apelando para a extrema humanidade do Cruzado Encapuzado diante de um mundo de semi-deuses, aspecto antes explorado em algumas revistas da Liga da Justiça e agora trabalhada em sua revista solo.

    Prós: Os desenhos de Janín são belíssimos e fazem lembrar a arquitetura da Gotham que Tim Burton pensou para o morcego em Batman, de 1989, além de inúmeros elementos da animação de Bruce W. Timm.

    Contras: Falta emoção no arco, já que as conclusões seriam deixadas para os momentos posteriores. Mesmo diante desse adiamento, que haveria como ser contornado, Snyder não se esforça para tal, defeito que carrega desde suas fases antigas com o herói.

    Dc

    Superman – Renascimento #01

    O começo da história é melancólico, narrando a morte do Super-Homem e trazendo um retorno imediato de uma figura intitulada com a alcunha do herói, mas misteriosamente sem a identidade dupla de Clark Kent. A história de Peter J. Tomasi e Patrick Gleason é quase um remake dos eventos da A Morte do Superman e O Retorno de Superman, referenciando cenas inteiras e uniformes iguais. O desfecho é otimista, apesar de pouco revelar o entorno do herói-ícone da editora.

    Prós: Os desenhos de Doug Mahnke são muito bons, agregando um valor que a história simplesmente não consegue equiparar. Mesmo os quadros copiados de Dan Jurgens são mais bem feitos e mais significativos se comparados com a saga original.

    Contras: Mais decepcionante dentre as primeiras histórias, principalmente por ser necessária uma longa leitura anterior para entender o contexto histórico, o que atrapalha o ingresso de novos leitores.

    Aquaman - Rebirth

    Aquaman – Renascimento #01

    Apesar de sempre ser relegado ao arquétipo de alívio cômico e consequente piada – como visto nos arcos de Johns e Ivan Reis no ultimo reboot – o rei de Atlantis Aquaman tem uma versão mais séria e condizente com o papel de fundador da Liga da Justiça e de poderoso governante de dois terços do mundo. A história de Dan Abnett mostra Arthur Curry após o pedido de casamento a Mera, usando a tradição dos homens da superfície e a figura heroica como uma ameaça para os homens comuns, fato alardeado, inclusive pela imprensa especializada, como uma espécie de terrorista, o que garante um tom adulto à trama, ainda que moderado.

    Prós: A revista não perde tempo com enrolações, ao contrário, a ação inicial é desenfreada e fortificada pela bela arte de Scott Eaton e Oscar Jiménez, trazendo à tona parte dos melhores momentos de Liga da Justiça: Guerra.

    Contras: Assim como Superman, é necessário um pouco mais de contexto para entender o mote da história, ainda que a introdução à catástrofe de 2013 seja melhor explicitada neste do que na revista do Super. Outro problema é a tentativa de fazer humor, não exitosa como o arco de Johns e Reis lá atrás.

    Mulher Maravilha - Rebirth

    Mulher-Maravilha – Renascimento #01

    Mais uma vez coube à amazona de Themyscira a incumbência de ter em seu argumento o melhor dos artistas da editora. Nos Novos 52 foi Brian Azzarello, e nesta versão, Greg Rucka, que faz outra vez uma reimaginação da origem de Diana, resgatando o romance de Hipólita antes do nascimento de sua herdeira. Mathew Clark traz em sua arte um uniforme mais clássico, bastante parecido com o traje que George Pérez idealizou, passando também pelo utilizado por Gal Gadot em Batman vs Superman: A Origem da Justiça. A história é direta e repleta de ação, e em seus easter eggs promete ser divertido acompanhar as publicações.

    Prós: Mulher-Maravilha é uma personagem inteligente e sagaz, fator comumente esquecido pelos escritores, e na revista ela chega a conclusões brilhantes sobre o mote do mega evento, com uma clarividência até inédita para os padrões desses arcos. A conclusão à qual ela chega não é acompanhada da ajuda de nenhum personagem externo, e, assim que percebe isso, Diana muda de postura e passa por fortes lutas em ambiente olímpico, fato que reata suas origens aos mitos gregos.

    Contras: O visual planejado pela equipe criativa de Azzarello era funcional e abraçava a ideia de leitoras mais atentas a temas feministas, uma vez que Diana Prince era bem menos fetichizada do que o tradicional registro da heroína, e isso não se repete nesta edição, com a exclusão de suas calças compridas.

    DC Rebirth Flash

    Flash – Renascimento #01

    Novamente começando sob uma premissa policial, parecida com as séries televisivas que mostram cenas de crime, Flash é escrito por Joshua Williamson com uma pegada mais adulta e violenta, em um contraponto que faz equilibrar e harmonizar o escapismo heroico resgatado em uma aura mais madura. Este é um título enigmático que promete grandes mudanças, possivelmente com o retorno do Barry Allen, clássico mega poderoso, apesar de não ter sido permitido ao roteirista falar muito sobre sua revista. Ao final da publicação, permanece um clima profético, parecendo que a origem do problema recairá sobre esse número, como ocorreu com Flashpoint.

    Prós: Desenhada por Carmine di Giandomenico, a edição é bem interessante e ácida, com uma arte fluida e interessante narrativamente. O desenhista consegue emular estilos bem diferentes e todos de maneira bem competente. Outro fator excepcional é a ligação afetiva bem elaborada entre Wally e Barry, fazendo lembrar uma remontagem da Era de Prata ainda mais interessante.

    Contras: A ausência de respostas incomoda um pouco, e a aparição dos elementos ligados ao Comediante em Watchmen também faz irritar pela insistência em um argumento que dificilmente não soará pueril e ofensivo para os fãs de Moore, além de ajudar a fortalecer o conceito de que a DC tenta se vingar do escritor.

    Titans - Rebirth

    Titãs – Renascimento #01

    Também narrada por Wally West, a história começa com uma lembrança da Turma Titã e da evolução do grupo pairando sobre o presente, em que o herói esquecido muda de uniforme, retornando ao vermelho para obter contato com seu antigo amigo, Asa Noturna (Dick Grayson). Com texto de Dan Abnett e arte de Bret Booth, Titãs também tem em seu cerne o resgate às origens .

    Prós: Apesar do começo em meio às catástrofes, o desfecho é bem otimista para West, que finalmente retoma suas antigas parcerias e seu lugar de direito junto aos antigos sidekicks, para construir a partir dali uma relação mais sólida.

    Contras: com toda a confusão envolvendo os membros dos Titãs originais nos últimos tempos, é bem difícil tratar de Donna Troy, Roy Harper, Dick Grayson, Garth (Tempest) e Lilith. Este número não é diferente, e trabalha tudo de forma “zerada”, sem muitas explicações por parte de Abnett

    Conclusão:

    O lançamento das edições até aqui é bastante conservador, visando agradar tanto ao publico mais antigo – ávido pelo retorno de uma era heroica mais clássica –  quanto aos vendedores consignados, apelando para os clichês mais populares. As equipes criativas não são lotadas de medalhões até o momento, e há uma preocupação em não ousar tanto, apostando em um feijão com arroz bem medroso, abusando do “mais do mesmo”.

    Rebirth ainda se desenrolará, mas seu primeiros momentos já reúnem alguns bons argumentos. Porém, ainda engatinha em sua fórmula, causando no leitor a mesma sensação de bom começo em grandes sagas anteriores, mas que não necessariamente terminaram bem.