Tag: movimento negro

  • Crítica | Se a Rua Beale Falasse

    Crítica | Se a Rua Beale Falasse

    Após o sucesso de Moonlight, Barry Jenkins retoma um dos assuntos que fez do filme oscarizado um diferencial sobre o lado sentimental de sua obra. Se A Rua Beale Falasse tem a temática racial como base mas também um drama sobre relações, amor, rejeição e injustiças, levadas de maneira muito delicada e referenciando a obra original de James Baldwin, inclusive usando uma de suas citações para iniciar sua trama. O roteiro é baseado no romance homônimo.

    A trama se passa em Nova Orleans, e mostra um casal apaixonado, Alonzo Hunt (Stephan James) chamado por todos de Fonny e Tish Rivers (Kiki Layne). O casal apaixonado tem uma história longa e muito bonita, são amigos desde a infância e tem uma relação de cumplicidade poucas vezes vistas em um namoro, ainda mais com pessoas tão jovens.

    Fonny é um artista, se dedica a fazer obras conceituais e plásticas, mas a sociedade ultra conservadora e retrógrada o olha de outro modo, como um sujeito rebelde e revolucionário, unicamente porque ele decide dar vazão aos seus sonhos, sonhando em trabalhar com o fruto de sua criatividade, adentrando um aspecto da arte que normalmente não é ocupado por negros. Fonny é preso, acusado de um crime que provavelmente não cometeu, caindo então em uma possível armação orquestrada por uma figura da lei.

    Tish por sua vez tem uma boa base familiar, e busca forças principalmente em sua mãe, Sharon Rivers (Regina King, absolutamente soberba em tela), que lhe dá base para enfrentar não só a questão de ter que lidar com manifestações de amor através de um vidro em  horários de visita muito ingratos, mas também pela gravidez que ela carrega. Apesar de emocionalmente comedido na maioria dos pontos, há um momento crucial aqui, que envolve uma discussão familiar para a o anúncio desse filho que virá. O diálogo entre os Rivers e os Hunt é áspero, demonstra um abismo de discurso entre as famílias, sendo uma delas mais permissiva e amorosa e outra mais fundamentada no extremismo religioso protestante e castrador, que acusa ao invés de acolher. Uma das primeiras provas de amor certamente é o choque dessas famílias, e a sobrevivência dos dois é posta à prova ao ponto de conseguir evoluir e passar pela perseguição da lei e pelos preconceitos litúrgicos de um filho concebido em meio ao pecado, se levar em conta o discurso ultramoralista de de Mrs Hunt (Aunjanue Ellis), a mãe de Alonzo, tão distante do filho que poucas vezes pronuncia a alcunha Fonny.

    A linha do tempo do filme é bastante variável e isso permite que os elementos da construção desse romance soem naturais. A história de amor mistura elementos pueris com manifestações sexuais conduzidas de um modo muito delicado. A primeira relação dos dois é registrada de uma forma muito pura, com uma paixão muito livre de lascívia e a entrega de ambos beira a poesia, dado a delicadeza da cena. Jenkins orquestra tudo isso de uma maneira artisticamente certeira e bastante delicada.

    No entanto, o cineasta não foge do pragmatismo e da realidade, e por mais que os apaixonados vivam em seu mundo particular, os infelizes clichês da realidade também se fazem presentes, e para aplacar sua pena o herói da jornada aceita usar uma capa de vilão, por conta do estado falhar consigo na questão de conseguir provar sua inocência. A aceitação do acordo para reduzir a pena é uma derrota moral para as duas famílias, mas é também um artifício para que a sua liberdade seja retomada. Se A Rua Beale Falasse é um filme emotivo, e ainda muito real, infelizmente.

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  • Crítica | Tyrel

    Crítica | Tyrel

    Tyrel é um filme de Sebastian Silva, que mostra o personagem-título vivido por Jason Mitchell indo junto ao amigo para uma viagem nas montanhas de Castkills, em uma festa de aniversário de um desconhecido que tem laços com esse amigo. Por ser desconhecido da maioria das pessoas que lá estão, o protagonista fica completamente deslocado em um primeiro momento e passa a ser incomodado não só por sua timidez, mas também pela indelicadeza das outras pessoas.

    O modo de interação daquele grupo de pessoas é para Tyrel algo estranho, não só pela quantidade absurda de palhaçadas que ali impera, mas também por conta do incômodo deles com a sua presença. O motivo dessa diferenciação não é dita abertamente, mas através dos eufemismos e brincadeiras de cunho preconceituoso, se nota que a questão envolve a cor de sua pele.

    O único ser vivo com que Tyrel consegue estabelecer alguma conexão é com o cachorro da casa, basicamente aludindo a questão de que um animal irracional não liga para questões raciais, tampouco é capaz de transmitir preconceitos por meio de atos jocosos ou de preconceito velado, assim como também não faz questão de estabelecer um verniz social para esconder qualquer falha de caráter.

    O protagonista se sente incomodado e importunado e nem o seu conhecido parece fazer questão de protege-lo dos ataques ou sequer frear as gracinhas preconceituosas, basicamente porque ele não percebe o seu erro e nem dos outros, por não entender como racismo os impropérios ditos na casa onde estão todos. A situação do personagem se agrava tanto que ele decide se refugiar na casa de uma vizinha que ele viu assim que chegou, pois nem conseguir dormir ele consegue, provavelmente não só por conta do barulho que o grupo faz, mas também pela sensação de não pertencimento àquele microcosmo, além da repetição inconveniente de toda sorte de pressão racista e lembranças do passado, onde tinha que lidar com isso sem necessariamente ter maturidade suficiente. Ao contrário do que se falou por quem viu, Tyrel não é uma nova versão de Corra!, até porque o objetivo é claramente outro, não há catarse ou revide, mas apenas a contemplação do quão baixo o ser humano pode mergulhar.

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  • Crítica | Infiltrado na Klan

    Crítica | Infiltrado na Klan

    Spike Lee retorna com um dos filmes mais importantes do ano. Infiltrado na Klan, no original BlacKkKlansman, é baseado na investigação real de Ron Stallworth nos anos 70, um policial negro de Colorado Springs que conseguiu se infiltrar na Ku Klux Klan. Com um material tão peculiar em mãos, Lee o prova através de decisões importantes e entrega um longa engraçado e urgente.

    Porém, focado em seguir uma linha estilística, o diretor escolhe desenrolar tua história de forma didática, as situações são convenientes, algumas camadas de complexidade ou até realismo nunca chegam a serem tocadas e deixa obviedades serem verbalizadas para um andamento sem grandes obstáculos. Mesmo longe de ser uma escolha ruim, o longa não deixa de perder força e conflitos poderosos.

    A comédia, de fato, é bastante funcional ao escancarar o quão peculiar é a operação realizada por Ron (John David Wahington) e Flip (Adam Driver). Os dois atores, além de compartilharem de uma química quase energética nesse ponto, também carregam nas costas cargas dramáticas muito relacionáveis e verdadeiras, o que deslancha Infiltrado na Klan ao que lhe triunfa.

    Ao criar boas relações, Lee entrega nelas as melhores nuances e discussões mais genuínas do longa. O fato de Flip, o personagem do sempre bom Adam Driver,  ser judeu nessa missão como infiltrado rende reflexões muito pertinentes acerca identidade, reconexão e reconhecimento de semelhantes. Outro exemplo é a personagem de Laura Harrier, Patrice, possivelmente inspirada na figura histórica da militância negra americana Angela Davis. O conflito dela com Ron acerta demais em expor posturas divergentes contra o racismo e é uma pena que isso dure pouco em meio a tanta coisa acontecendo logo ali no plot principal.

    Esse, que se desenrola numa tensão crescente com veia de puro entretenimento, é diversão funcional na ação, no humor, no drama, e se equilibra na medida de suas facilitações. Porém, ao final, o longa dá um jeito de derrubar o lençol para olhos mais desatentos, os anos 70 não estão tão longe como gostamos de pensar. Tem gente no mundo todo, como na passeata assustadora da supremacia branca nos EUA ou na recente situação política do Brasil, espalhando discurso de ódio, seja com capuz na cabeça, seja fazendo arma com a mão.

    Spike Lee aos tropeços de um filme difícil e imperfeito em suas complexidades, ainda traz uma obra atual e necessária ao refletir nossos tempos, um puxão de orelha bem dado a nós da memória tão curta.

    Texto de autoria de Felipe Freitas.

  • Crítica | A Outra História Americana

    Crítica | A Outra História Americana

    Tony Kaye trouxe à luz o jovem clássico A Outra História Americana, um filme incisivo sobre questões de intolerância e preconceito, que chegava aos cinemas em 1998. O início do longa ocorre em preto e branco, mostrando uma família estranha e desajustada chamada Vyniard, comandada – ao menos no meio da noite – por Derek (Edward Norton) um jovem supremacista branco, que tem armas pela casa inteira, cartazes de louvor ao pensamento de extrema direita e uma tatuagem no peito esquerdo de uma suástica nazista.

    Os primeiros eventos do filme mostram o irmão mais velho transando com uma moça, e seu irmão Danny (Edward Furlong) acordando por conta o barulho do lado de fora da casa. Ao perceber que eram assaltantes negros, ele interrompe o ato sexual do irmão, que se levanta, toma um revólver e tenta assassinar os jovens que tentavam roubar seu carro. A câmera registra esses eventos lentamente, mostrando em detalhes a crueldade do sujeito que, para todos os efeitos, falava em tom de autodefesa, de que só havia feito aquilo para proteger sua propriedade e a vida dos seus.

    Logo, o primogênito sai de cena e o filme foca no irmão caçula, Danny, e nesse ponto é mostrado o Dr. Bob Sweeney (Avery Brooks), um professor inteligente e letrado que não desiste do menino que flerta com a delinquência. Na mente do docente, ele perdeu Derek, mas não queria perder o outro irmão, já que quando novo, Derek se revolta com uma tragédia familiar, e em meio a essa juventude sem argumentos válidos e apelando sempre para um pensamento simplista, revelou seu pensamento racista, culpando tudo que é não branco pelos males do país, inclusive por aquilo que lhe ocorreu.

    Kaye diferencia o filme através das cores, as partes coloridas mostram o presente da história, enquanto o passado é retratado em preto e branco. A identidade passada de Derek, um garoto ardiloso, capaz de travar um jogo de basquete contra os negros do bairro só para tentar provar a eles que os Vyniard e seus amigos são melhores e mais bem preparados, dignos da glória de ter uma quadra pública só para si.

    O objetivo central do filme é mostrar os personagens como humanos, seres falhos, mostrando que esse pensamento não é exclusivo de monstros, e sim de gente com mente fraca, fragilizada e desesperada, que se agarra em um discurso desonesto, imoral e oportunista por falta de opção, se valendo de valores comuns e caros a todos para se estabelecer como comportamento dominante.

    Em seu retorno, após passar pela prisão, a transformação de Derek não é só física. Ele perdeu 22 quilos, deixou o cabelo crescer e tem vergonha de ficar sem camisa exatamente por conta de suas tatuagens. Ao voltar da prisão ele realmente parece diferente, cobrando moralidade de seus parentes. Só após algum tempo de exibição é que é elucidada como terminou a cena do início, e o quão violenta e grave era ação do personagem central. Danny mudou e se tornou um skinhead após ver seu irmão matando um negro a sangue frio. Aquele foi o momento em que ambos mudariam drasticamente, o início do processo de redenção de um e deterioração do outro.

    O roteiro de David McKenna é tão franco e pragmático que não se permite ser sonhador ou ingênuo, mostrando que os destinos das pessoas que se envolvem ou se envolveram com ideias dessa natureza ou com a intolerância pura e simples, tendem a sofrer, mesmo que se arrependam e vivam de modo diferente. A Outra História Americana mostra de maneira certeira o quanto o fascismo pode facilmente tocar as pessoas simples, ajudando a evocar os piores sentimentos possíveis, dominando corações e mentes com facilidade, e deixando apenas um rastro de sangue e tristeza por onde passou.

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  • Crítica | Moonlight: Sob a Luz do Luar

    Crítica | Moonlight: Sob a Luz do Luar

    Logo no início de Moonlight: Sob a Luz do Luar observaremos uma criança, Chiron, sendo perseguida e insultada por outras crianças através de apelidos pejorativos relacionadas à sua sexualidade. Buscando refúgio e consolo, o menino se isola e é então que vemos surgir em sua jornada o traficante Juan (Mahershala Ali) que compadecido com tal situação decide ajudá-lo. Ao levá-lo de volta pra casa, Juan e nós espectadores, acabamos por descobrir que a mãe do menino — Vanessa (Naomie Harris) —, sofre de dependência química e então percebemos os conflitos se intensificando ainda mais à confusão que habita dentro do garoto.

    Juan e sua namorada Teresa (Janelle Monáe) acabam apadrinhando de certa forma o menino, buscando-lhe proteger e acolhê -lo se necessário. Daí por diante, acompanharemos a vida de Chiron, desde sua infância, perpassando sua adolescência e ensejando por fim em sua fase adulta, sendo interpretado por três atores em suas respectivas fases distintas  —  Alex R. Hibbert, Ashton Sanders e Trevante Rhodes  —  solução essa, que também se dará com o amigo/parceiro do protagonista, Kevin, que de maneira reflexiva também será vivenciado por três intérpretes diferentes, Jaden Piner, Jharrel Jerome e André Holland.

    O filme se alinha de forma cíclica com a jornada da personagem principal e é dividido claramente em três partes, estabelecendo inclusive etapas na passagem do tempo através dos títulos: Moleque, Chiron e Black.

    A mágica obra dirigida por Barry Jenkins, atinge diversos ápices em vários momentos e de forma bastante multifacetada. O diretor sabe exatamente onde quer chegar, se utilizando de um domínio da mise-en-scéne em seus enquadramentos através dos assuntos que pretende evocar e principalmente em sua narrativa. Nada escapa de sua câmera precisa, desde os mais profundos olhares e intenções, até os silêncios mais reflexivos possíveis. A sensibilidade do cineasta vai se mostrando aos poucos através de símbolos, destacando dentre muitos tantas emulações à presença constante da cor azul, seja retratada em uma mochila, um tênis, ou mesmo em um carro, sempre de forma orgânica dentro da trama.

    Em determinado momento, Chiron acende um cigarro para sua mãe já bem debilitada em uma clínica de recuperação, e tal gesto, se torna mais do que simbólico, ganhando um cunho metafórico, ao trazer consigo camadas emocionais de pesos descomunais. São nessas simplicidades narradas a todo o instante, que acabamos por perceber as sutilezas de Jenkins ao mostrar o quão incrivelmente sentimentais são os desfechos, os meios ou mesmo os inícios de tudo àquilo que nos circunda no cotidiano. A obra pode fazer doer em alguns momentos, mas se o faz é justamente por ser tão real, tão tangível e por literalmente transpirar o que é estar vivo e manter-se vivendo e vivenciando esses altos e baixos. É sobre se descobrir, transpor situações e se identificar com o amor independente de sua condição, seja ela para com alguém do mesmo sexo ou não.

    A história de Chiron, pode ser minha, sua, nossa; e se não nos identificamos com sua jornada, podemos observá-la todos os dias em alguém próximo, basta que pra isso tenhamos olhos para enxergar. Experimentar esses “batismos de fogo” e assimilar todo esse processo talvez não seja tão difícil quanto imaginamos, basta que nos empenhemos para tal. No próprio filme, Chiron diz que por vezes “chora tanto que acaba seco por dentro”. Quantos de nós já não nos sentimos secos por dentro? Preso em algo/alguém ou em lembranças e os sentimentos que elas automaticamente suscitam? Entre um forte drama familiar, instantes de incertezas e passagens marcantes, a impressão final é que Chiron trinfou diante as adversidades e se consolidou quando se decidiu. Decisão que tomou por si mesmo sem deixar que lhe ditassem como ele deveria ser ou o que fazer.

    O filme é colossal e transcende qualquer premiação. É em certa instância uma obra até difícil de se condensar em palavras escritas já que pulsa emoção desde seu início até o minuto final. Uma experiência extra-sensorial que irá permear o inconsciente do público por um longo tempo.

    Texto de autoria de Tiago Lopes.

  • VortCast 41 | A Representatividade nos Quadrinhos

    VortCast 41 | A Representatividade nos Quadrinhos

    Vortcast 41Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Thiago Augusto Corrêa (tdmundomente), Jackson Good (@jacksgood), Filipe Pereira (@filipepereiral) Rafael Moreira (@_rmc) recebem a convidada Caroline Bardese, do site Setor 2814, para comentar a respeito da importância da diversidade e a representatividade nos quadrinhos de super-heróis.

    Duração: 84 min.
    Edição: Victor Marçon
    Trilha Sonora: Victor Marçon
    Arte do Banner: 
    Bruno Gaspar

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  • Estudo de Personagem | Negro Místico

    Estudo de Personagem | Negro Místico

    Negro Mistico

    Ele surge do nada, é sábio, está sempre pronto pra nos ensinar e muitas vezes é o Morgan Freeman.

    Sujeito perdido na vida, enfrentando dificuldades em se adaptar à um novo mundo, novo poder, novas responsabilidades… Eis então que surge um homem misterioso e sem passado, geralmente um faxineiro, zelador, jardineiro… Ele é surpreendentemente sábio e nobre, dono de habilidades muito diferentes daquelas que aparenta ter e sempre passa despercebido aos olhos de todos, menos do nosso herói. Já viu essa história antes? Pois é, ele é o “Negro Místico”(Tchan-tchan, tchan tcham).

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    Após o fim da luta pelos direitos civis nos EUA e a ascensão de negros interpretando figuras públicas (Malcolm-X, Mandela), como uma forma de encarar essas mudanças, a indústria do cinema criou o conceito do “Negro Místico”, ou “Negro Mágico”. Trata-se de um personagem inserido na trama, e que tem como função guiar o protagonista em sua jornada. Ele não precisa ser negro, pode ser um nativo, negro, latino, ou qualquer outra minoria étnica e cultural, o importante é o contraste do herói branco incapaz, e o minoritário capaz; e a inserção do herói numa nova cultura, mais nobre e eficaz da qual mais pra frente ele fará parte. O Negro Místico tem algumas variações:

    Garota Alternativa

    500 Dias com Ela

    Garota de vida sem regras que chega para mudar a vida do personagem preso em suas próprias regras, inicialmente prejudicando a vida como ele a entende, mas então, mudando sua realidade positivamente.

    EX:

    • Clementine (Kate Winslet) – Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças;
    • Summer (Zooey Deschannel) – 500 Dias Com Ela e Sim, Senhor;
    • Polly (Jennifer Aniston) – Quero Ficar com Polly;
    • Ramona Flowers (Mary Elizabeth Winstead) – Scott Pilgrim Contra o Mundo.

    Asiático Místico (Mestre)

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    Na representação americana da cultura oriental, na qual  asiáticos são geralmente mostrados como pessoas grosseiras e ao mesmo tempo nobres, o Asiático Místico é esse preconceito mostrado de forma positiva. Geralmente faz o herói passar por provações humilhantes para, então, aprender por meio da própria experiência e do sacrifício a ser mais nobre e capaz.

    Ex:

    • Senhor Miyagi (Pat Morita) – Karatê Kid;
    • Mestre Kan – Kung Fu Panda;
    • Senzo Tanaka – O Grande Dragão Branco;
    • Pai Mei – Kill Bill.

    Veja que todos esses exemplos são uma generalização do “Negro Místico”, e apenas fazem pegar preconceitos e colocá-los na tela de forma positiva. A mulher, geralmente retratada como imatura, irresponsável e descuidada, aparece como sendo uma pessoa livre. O asiático considerado ríspido, é mostrado como um pai rigoroso, e etc.

    Estes são recursos artísticos que servem como atalho para inserir uma certa moralidade sem ocupar muito tempo de tela, tanto é que o Místico geralmente não tem passado e surge do nada, é quase uma cota social artística, pois ainda é raro encontrar negros como os heróis, o que nos leva a outros conceitos como:

    O Negro Melhor Amigo

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    Melhor amigo do mocinho, geralmente de minoria, fiel, de modo a nunca esbarrar nos planos do protagonista e está sempre preparado para segui-lo em planos malucos. Geralmente, seu papel quase sempre gira em torno do bem-estar do protagonista (Assim como nos demais exemplos, ele não precisa ser negro, e, na versão feminina, geralmente a melhor amiga não é tão atraente quanto a protagonista).

    EX:

    • Bubba (Mykelti Williamson) – Forrest Gump;
    • Pete Ross (Sam Jones III)- Smallville.

    Uma inversão interessante deste papel é em Independence Day, em que temos Jeff Goldblum como o “amigo negro” de Will Smith.

    Exemplos do Negro Místico

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    Morgan Freeman em:

    Além do Morgan Freeman:

    • John Coffey (Michael Clarck Duncan) – Á Espera de um Milagre;
    • Morpheus (Laurence Fishburne) – Matrix, apenas no começo, pois sua trajetória se altera durante o filme;
    • Hitch (Will Smith Hitch: Conselheiro Amoroso, novamente uma versão do conceito, pois ele é também o protagonista;
    • Rafiki – O Rei Leão;
    • Dr. King Schultz (Christoph Waltz) – Django Livre; invertendo totalmente este papel, e tornando o personagem de cultura maioritária o que antes era renegado aos personagens étnicos (pensem agora sobre as acusações de racismo que o filme sofre);
    • Michael JordanSpace Jam;
    • Omar SyIntocáveis.

    Como veem, temos Morgan Freeman como campeão do personagem ao lado de Stephen King, que usa este conceito diversas vezes em seus livros, como em A Torre Negra, Um Sonho de Liberdade, a Próprio “À Espera de Um Milagre” entre outros. E Will Smith, um dos pouco a conseguir subverter a situação e, também ser o protagonista.

    Texto de autoria de Marcos Paulo Oliveira.