Tag: Mahershala Ali

  • VortCast 64 | True Detective – Terceira Temporada

    VortCast 64 | True Detective – Terceira Temporada

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Thiago Augusto Corrêa e Filipe Pereira  comentam sobre a terceira temporada da série da HBO, True Detective, estrelada por Mahershala Ali e Stephen Dorff, escrita por Nic Pizzolatto. Saiba um pouco mais sobre a nova temporada da série, seus personagens e todos os temas que envolvem a trama.

    Duração: 109 min.
    Edição: Julio Assano Júnior
    Trilha Sonora: Julio Assano Júnior e Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

    Agregadores do Podcast

    Feed Completo
    iTunes
    Spotify

    Contato

    Elogios, Críticas ou Sugestões: [email protected].
    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram

    Acessem

    Brisa de Cultura
    Cine Alerta

    Comentados na Edição

    Review True Detective – Primeira Temporada
    Review True Detective – Segunda Temporada
    True Detective – Terceira Temporada
    VortCast 33 | True Detective – Primeira Temporada

    Avalie-nos na iTunes Store | Ouça-nos no Spotify.

  • Crítica | Alita: Anjo de Combate

    Crítica | Alita: Anjo de Combate

    Pelos meados dos anos noventa, James Cameron pensou em adaptar A obra Gunnm ou Gun-Mu, de Yukito Kishiro, uma historia sobre uma adolescente encarnada em uma inteligência artificial capaz de matar qualquer pessoa. O tempo passou e entre as duas maiores bilheterias do cinema, Titanic e Avatar e Cameron passou um bom tempo sem dirigir produtos para o cinema, e graças a sua dedicação as continuações de Avatar, a adaptação de Alita: Anjo de Batalha recaiu sobre outro diretor, Robert Rodriguez, que é um cineasta de produtos mais autorais mas que também sabe fazer filmes que rendem bem. Cercado de expectativas, ele possui alto e baixos, mas não erra tanto quanto outras versões americanas de mangás.

    A historia da adolescente guerreira começa com a introdução de Ido, um doutor interpretado por Christoph Waltz que tem por costume consertar ciborgues. O cenário aqui é muito bem explorado, se explica bem como funcionam o sistema de castas dessa sociedade, com a elite vivendo no alto, em uma cidade flutuante, e a ralé vivendo em baixo. Os restos da ciborgue/androide são encontrados no lixão, como restos de Zalem, a tal moradia dos ricos, mas obviamente que ela é mais do que isso.

    A primeira hora do filme consegue dar vazão a toda a mitologia que Kishiro pensou, e embora hajam problemas sérios com as motivações dos personagens periféricos a protagonista, em especial Ido, que faz o mentor clichê que não tem qualquer firmeza como figura paterna (além de ter uma assistente que sempre está presente mas quase não profere palavras), de Hugo (Keen Johnson) que é o interesse romântico da personagem-título cuja vontade de ascender socialmente o faz um personagem confuso moralmente (além de oportunista), a interpretação de Rosa Salazar como Alita é bastante crível e verossímil, e conseguir atuar embaixo de muita maquiagem já é difícil, sendo uma boneca digital então é mais difícil ainda, e tanto visualmente quanto em espírito, Salazar consegue imprimir uma menina carismática, intrigante e que gera muito interesse no espectador não só sobre seu passado, mas também como ocorrerá o seu futuro.

    Há um pequeno problema de ritmo no filme, a segunda metade se dedica demais a construção do possível romance entre Alita e Hugo, e não há qualquer química entre os dois, talvez pela dificuldade de Johnson em lidar com um par digital, além disso, se dá muita vazão a alguns vilões bobos, como os personagens de Mahershala Ali (Vector) e Jennifer Connoly (Chiren), essa ultima, ao menos no final, consegue se redimir de certa forma.

    No entanto, toda a configuração tirada do mangá como a questão dos caçadores de recompensas que lidam com os ciborgues marginais e o esporte Motorball são exemplificadas de modo muito rico, e é nessa parte que se percebem semelhanças visuais com Jogador Nº1 de Steven Spielberg, filme recente que tem coincidências temáticas. De resto, há também referencias a Blade Runner e a continuação mais recente Blade Runner 2049, e a dúvida que pairava sobre Rodriguez conseguir lidar com computação gráfica de orçamento alto foram completamente sanadas, e o resultado é lindíssimo visualmente, muito por mérito da fotografia de Bill Pope, de Mogli: O Menino Lobo e Homem-Aranha.

    As cenas de ação são muito bem coreografadas, e por mais que perca tempo demais com os personagens periféricos e em draminhas fúteis, a construção da personagem de Alita é muito bem feita, ao menos no que tange a personagem não há muitas liberdades poéticas ou suavização de qualquer drama seu. Há uma possibilidade de  continuação em um dos confrontos finais, fator que preocupa, pois além do filme ser caro, em torno de 200 milhões, os vilões são péssimos, em especial o visual de Nova, feito por Edward Norton que está irreconhecível no papel. Mesmo não tendo uma execução tão divertida quanto no mangá, Alita: Anjo de Combate acerta mais do que erra, e talvez seja a adaptação Hollywood mais fiel  ao material original e que consegue imprimir melhor o caráter da arte japonesa, embora obviamente não seja tão complexa em temática e reflexão.

    Facebook – Página e Grupo | TwitterInstagram | Spotify.
  • Crítica | Green Book: O Guia

    Crítica | Green Book: O Guia

    A historia de Green Book – O Guia começa em Nova York, no ano de 1962, em um evento social numa boate chamada Copacabana, onde o espectador é apresentado a Tony Lip (Viggo Mortensen),um segurança ítalo-americano, que aparece no local para mais um dia comum, onde tem de conter conflitos na casa noturna.  Tony fica sem trabalho, e com o tempo, aceita uma estranha proposta, do famoso músico Don Shirley (Mahershala Ali), para que fosse seu motorista particular. O protagonista faz uma proposta alta e é coberto.

    O filme de Peter Farrelly marca aparentemente uma nova fase na carreira do diretor, que costumava dirigir filmes com seu irmão, Bobby Farrelly. A ultima vez que ele havia feito um filme solo foi em Debi e Loide, em 1994, e obviamente que, apesar de ter algumas pitadas de humor, especial na família de Lip, formada por italianos barulhentos e gesticuladores como manda a caricatura dos mesmos. A abordagem desse é tão ou mais estereotipada quanto os italianos vistos em Todo Mundo Odeia o Chris, em alguns pontos, até mais apegado ao pastiche que os negros da série, o que é péssimo, pois o programa de Chris Rock tinha um caráter bem diferente, mas nonsense que este Green Book.

    As viagens rumo aos locais onde Doc (é assim que Tony o chama) tocará são cortados por diálogos mordazes entre patrão e empregado, em conversas que invertem expectativas e mostram dois homens de formações bem diferentes, o homem negro é erudito e polido, enquantoo o descendente de europeus é mais popular, com gostos usuais, o verdadeiro homem comum. A troca de experiências dos dois é desenvolvida gradualmente e contem momentos bem engraçados e curiosos.

    Há discussões sobre Little Richards, Aretha Franklin e outros musicistas que Doc não conhece e não costuma apreciar. Além de momentos onde o empregado tem que salvar seu patrão de enrascadas, causadas basicamente por  conta dele querer tomar um drink em um bar, o que nos anos sessenta era demais para um homem negro. Esse é só um episodio de discriminação que ele sofre ao longo das pouco mais de duas horas de exibição. Doc, em sua zona de conforto é tratado como aristocrata, sem muitas diferenças entre ele e os brancos, mas basta estar em outro cenário que mesmo funcionários rasos de casas de show o tratam como alguém menor, como alguém que mal se enquadra nos padrões de humanidade.

    Shirley passa o filme inteiro prestes a estourar, por uma junção de fatores bem tangíveis. Em discussões que tem com seu subordinado, o trabalhador declara que sua realidade é bem mais precária que a dele, ao passo que Doc quando não está no castelo em que mora é tratado como qualquer outro negro segregado, e o comentário social que o roteiro de Nick Vallelonga faz serve para outras minorias também.

    O final do filme é bastante conciliador, mostra que cada personagem aprendeu sua lição moral, o que o faz soar como uma propaganda de margarina. O roteiro que foi vencedor de algumas premiações carece de uma resolução mais contundente, e obviamente que tem que se levar em conta claro que é baseado em uma história de verdade, no entanto isso não explica a falta de um dinamismo maior. O filme talvez passe por um esquecimento/boicote na maioria das premiações por conta de escândalos políticos envolvendo Vallelonga, mas independente disso ele toca em questões sociais pontuais e tem um desempenho excelente da parte de Ali e Mortensen, que além de terem uma química invejável, conseguem também ter performances individuais magistrais.

    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram | Spotify.

  • Crítica | Homem-Aranha no Aranhaverso

    Crítica | Homem-Aranha no Aranhaverso

    Desde que fez Homem-Aranha 2, de Sam Raimi, a Sony parece tatear quanto a conduzir bem um filme sobre o herói da Marvel que lhe cabe. Homem Aranha 3 foi muito achincalhado, O Espetacular Homem-Aranha e sua sequência, O Espetacular Homem Aranha 2 : A Ameaça de Electro, não tiveram vida fácil, Venom foi um fracasso de critica e até Homem-Aranha: De Volta ao Lar não é uma unanimidade, mesmo entre os fãs. Por conta disso, a nova animação era cercada de expectativas, e a maior parte delas foram correspondidas.

    Homem-Aranha no Aranhaverso começa narrado por Peter Parker, o herói aracnídeo original, que goza de grande popularidade nesta versão e que conversa diretamente com as fases Ultimate do herói, escritas por Brian Michael Bendis e desenhadas por Mark Bagley. Outra característica própria e que cria uma boa conexão do filme com o espectador é a narração engraçadinha, que flerta com uma camada fina de metalinguagem, quase quebrando a quarta parede. Parker é dublado por Chris Pine, e sua personificação é bem semelhante ao auge que o herói teve após o casamento com Mary Jane.

    A animação causa um certo estranhamento, em especial quando Miles Morales (Shameik Moore) é introduzido. A velocidade dos quadros soa esquisita por conta da pigmentação da pele dos personagens, quando eles usam máscara isso não parece tão evidente, mas aos poucos isso passa a ser algo comum. O roteiro de Phil Lord e Rodney Rothman trata muito bem de Morales e é fácil entender o deslocamento dele na nova escola, que ele julga elitista – e de fato é, ainda mais para um garoto negro e latino como ele – bem como no seu cotidiano, uma vez que ele tem o desejo de manifestar sua arte do grafite de alguma forma, mas é sempre proibido por seu pai, Jefferson Davis (Brian Tyree Henry). Ele encontra eco na figura do tio Aaron (Mahershala Ali), e divide com ele o mesmo hobby pela arte.

    É aí que mora o diferencial do  filme de Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rothman, ele obviamente alude as crianças, mas traz tramas complexas. Mesmo o Peter Parker desse dimensão, forte, famoso e loiro (em uma alusão clara ao clone Ben Reilly) tem seus defeitos, e quando este sai de cena, deixa pontas soltas, seja pelo fracasso de não ter detido o vilão Rei Do Crime (Liev Schreiber) ou por não ter sido o exemplar mentor de Miles. O choque dimensional traz à tona outras versões do amigão da vizinhança,  e é nesse crossover que habita boa parte do carisma, principalmente com a figura de Peter B. Parker, de Jake Johnson.

    Apesar de algumas divergências criativas e pessoais, fato é que os dois criadores do Homem-Aranha, Steve Ditko e Stan Lee tinham em mente que seu personagem deveria inspirar o público, mostrando que qualquer pessoa pode ser heroica mesmo com todos os percalços mundanos e cotidianos, e nesse ponto, o filme talvez seja o produto em áudio visual mais acertado, incluindo aí até o Homem-Aranha de Sam Raimi. Tanto Morales, quanto B. Parker e até a jovem Gwen (Hailee Steinfield),  transpiram isso, obviamente com a sardinha puxada para o lado do jovem negro e latino,que está em fase de amadurecimento e numa jornada rumo ao conhecimento do que é ser um herói e de como lidar com o clichê de com grandes poderes vem grandes responsabilidades. Destaque também para o engraçado Homem-Aranha Noir, feito por Nicolas Cage, um personagem sério mas com ótimas piadas, e mais uma participação do ator em adaptação de quadrinhos.

    O humor do filme é muito presente, Miles é engraçado e seu mal jeito e timidez dão a ele um charme exótico, variando entre as descobertas típicas da adolescência bem como o alvorecer do heroísmo. Há também um largo uso de onomatopeias e balões típicos dos quadrinhos, que reverberam as falas e pensamentos dos personagens. O grupo de personagens, tanto vilanescos quanto de benfeitores é grande, diverso e ambos os lados desafiam Morales, para finalmente entender qual é a sua vocação.

    Qualquer uma das contra-partes do Aranha tem algo em comum, que é a perda de um ente querido, que serviu como manifestação física da perda e esse luto, seja recente ou não é bem explorado, unindo assim os personagens tão diferentes, que trabalham bem em equipe graças a um inconsciente coletivo muito forte, que pode ou não ter a ver claro com o sentido de aranha que a maioria deles tem. O filme tem um ritmo frenético e mal parece que tem pouco menos de duas horas, mas o maior acerto de Homem Aranha no Aranhaverso certamente é o fato de que ele é carregado de alma e sentimento, com expressões que funcionam bem com todas as referencias que Lee e Ditko pensaram para seu personagem mais humano, servindo como reverência ao primeiro desses que faleceu recentemente e com uma carga emotiva muito forte, sem medo de parecer um produto de super herói, super colorido e cheio de escapismos, como os bons momentos da Era de Prata dos quadrinhos.

    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram.

  • Review | Luke Cage – 1ª Temporada

    Review | Luke Cage – 1ª Temporada

    Situado no Harlem, Luke Cage, em sua primeira temporada representa um outro ângulo da parte urbana do universo audiovisual da Marvel Comics, ainda que tenha muitos paralelos com o que já foi visto nas séries do Demolidor e Jessica Jones. Desde o começo, Luke Cage (Mike Colter) é mostrado como um homem humilde, que ganha a vida lavando pratos e trabalhando como subalterno na barbearia de Henry ‘Pop’ Hunter (Frankie Faison). Ele se esconde atrás da aparente normalidade, mas guarda características do chamado exército de um homem só.

    A rotina de Luke é a de um homem que tem serviço duplo, um como homem comum que tenta viver seus dias e outra como vigilante, que aos poucos começa a agir mais e mais graças as ações criminosas do bandido Cornell Stokes (Mahershala Ali), apelidado originalmente de Cottonmouth (ou Boca de Algodão, na tradução brasileira).

    Cornell é influente na comunidade, mas essa face dele é claramente um despiste para suas ações criminosas, semelhante e muito com o que acontece na máfia ítalo-americana que se instalou em Nova York. Paralelo a isso, Luke também presta serviço a um lugar que serve de fachada para os negócios do vilão, e lá que ele conhece Misty Knight (Simone Missick), uma mulher que depois se revela como policial.

    Cage recebe oferta para se tornar segurança do restaurante asiático que salvou mas ele recusa. Esse aliás é só mais um dos estereótipos evocados e desconstruídos pelo showrunner Cheo Hodari Coker e sua equipe de roteiristas. Luke claramente não quer ser mais o leão de chácara bombado. Em outros momentos ocorrem outras desconstruções de arquétipos, como quando Misty tenta se enturmar com os jovens jogando basquete, ou com acréscimo de Rosario Dawson na série onde seu personagem, a  Enfermeira Claire começa sendo assaltada assim que retorna ao Harlem, para logo depois ela mudar o paradigma de moça indefesa revidando ao bandido a violência sofrida. A todo momento a narrativa tenta afeiçoar público e personagens, normalmente de modo bastante lento.

    A realidade é que apesar do bom começo, o seriado não mantém seu folego. A fórmula se desgasta rápido, e mesmo as coisas que antes funcionavam passam a perder força na metade final. Os dramas se tornam enfadonhos, e o bom vilão que Cornell se tornou é deixado de lado para a entrada de um antagonista não tão carismático quanto o anterior. Cottonmouth tem ligação no passado com Bob, ele tem realmente uma motivação para invadir o cotidiano de Luke, já o outro não, é apenas um personagem caricato, que parece ter sido retirado de um filme de ação genérico dos anos oitenta, o que é uma pena, pois tanto o ator Erik LaRay Harvey quanto seu personagem Kid Cascavel (no original era Willis ‘Diamondback’ Stryker) tinham potencial para desenvolver ainda mais seus dramas.

    A parte do passado do vigilante é bem mostrada no início, na cadeia e onde sofre os experimentos que lhe deram as habilidades que possui. Lá, quando ainda era chamado de Carl Lucas ele tinha um visual como a das fases clássicas da sua revista, com cabelo black power e com uma tiara metálica em alguns momentos. O problema é que a tentativa de fazer ele se reabilitar, remontando o momento em que ele ganhou os poderes é bastante fraca e feita de uma maneira estranha. A série recorre a saídas fáceis para resolver os problemas da segunda metade da temporada.

    A abordagem da trama é lenta demais, os ganchos nos finais dos episódios ou são fracos ou inexistem e a fórmula demora a engrenar, sem falar que o Luke Cage é um personagem um tanto caricato em sua origem, mas divertido ao extremo, e nessa versão já se mostra como alguém bastante soturno. A fuga da caricatura blackxploitation só acontece quando é conveniente, ao mesmo tempo em que ele não é o “super malandro” ele também é um homem mulherengo, estereotipo que para muitos soa viril, mas também traz conotações pejorativas. O fato de a Netflix Marvel não assumir em seus seriados que aquilo é um produto de super-herói pesa ainda mais nessa versão que Colter assume, por não saber escolher nem como uma exploração dramática,  muito menos como produto de adaptação fiel aos quadrinhos.

    https://www.youtube.com/watch?v=ytkjQvSk2VA

    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram.
  • Crítica | Moonlight: Sob a Luz do Luar

    Crítica | Moonlight: Sob a Luz do Luar

    Logo no início de Moonlight: Sob a Luz do Luar observaremos uma criança, Chiron, sendo perseguida e insultada por outras crianças através de apelidos pejorativos relacionadas à sua sexualidade. Buscando refúgio e consolo, o menino se isola e é então que vemos surgir em sua jornada o traficante Juan (Mahershala Ali) que compadecido com tal situação decide ajudá-lo. Ao levá-lo de volta pra casa, Juan e nós espectadores, acabamos por descobrir que a mãe do menino — Vanessa (Naomie Harris) —, sofre de dependência química e então percebemos os conflitos se intensificando ainda mais à confusão que habita dentro do garoto.

    Juan e sua namorada Teresa (Janelle Monáe) acabam apadrinhando de certa forma o menino, buscando-lhe proteger e acolhê -lo se necessário. Daí por diante, acompanharemos a vida de Chiron, desde sua infância, perpassando sua adolescência e ensejando por fim em sua fase adulta, sendo interpretado por três atores em suas respectivas fases distintas  —  Alex R. Hibbert, Ashton Sanders e Trevante Rhodes  —  solução essa, que também se dará com o amigo/parceiro do protagonista, Kevin, que de maneira reflexiva também será vivenciado por três intérpretes diferentes, Jaden Piner, Jharrel Jerome e André Holland.

    O filme se alinha de forma cíclica com a jornada da personagem principal e é dividido claramente em três partes, estabelecendo inclusive etapas na passagem do tempo através dos títulos: Moleque, Chiron e Black.

    A mágica obra dirigida por Barry Jenkins, atinge diversos ápices em vários momentos e de forma bastante multifacetada. O diretor sabe exatamente onde quer chegar, se utilizando de um domínio da mise-en-scéne em seus enquadramentos através dos assuntos que pretende evocar e principalmente em sua narrativa. Nada escapa de sua câmera precisa, desde os mais profundos olhares e intenções, até os silêncios mais reflexivos possíveis. A sensibilidade do cineasta vai se mostrando aos poucos através de símbolos, destacando dentre muitos tantas emulações à presença constante da cor azul, seja retratada em uma mochila, um tênis, ou mesmo em um carro, sempre de forma orgânica dentro da trama.

    Em determinado momento, Chiron acende um cigarro para sua mãe já bem debilitada em uma clínica de recuperação, e tal gesto, se torna mais do que simbólico, ganhando um cunho metafórico, ao trazer consigo camadas emocionais de pesos descomunais. São nessas simplicidades narradas a todo o instante, que acabamos por perceber as sutilezas de Jenkins ao mostrar o quão incrivelmente sentimentais são os desfechos, os meios ou mesmo os inícios de tudo àquilo que nos circunda no cotidiano. A obra pode fazer doer em alguns momentos, mas se o faz é justamente por ser tão real, tão tangível e por literalmente transpirar o que é estar vivo e manter-se vivendo e vivenciando esses altos e baixos. É sobre se descobrir, transpor situações e se identificar com o amor independente de sua condição, seja ela para com alguém do mesmo sexo ou não.

    A história de Chiron, pode ser minha, sua, nossa; e se não nos identificamos com sua jornada, podemos observá-la todos os dias em alguém próximo, basta que pra isso tenhamos olhos para enxergar. Experimentar esses “batismos de fogo” e assimilar todo esse processo talvez não seja tão difícil quanto imaginamos, basta que nos empenhemos para tal. No próprio filme, Chiron diz que por vezes “chora tanto que acaba seco por dentro”. Quantos de nós já não nos sentimos secos por dentro? Preso em algo/alguém ou em lembranças e os sentimentos que elas automaticamente suscitam? Entre um forte drama familiar, instantes de incertezas e passagens marcantes, a impressão final é que Chiron trinfou diante as adversidades e se consolidou quando se decidiu. Decisão que tomou por si mesmo sem deixar que lhe ditassem como ele deveria ser ou o que fazer.

    O filme é colossal e transcende qualquer premiação. É em certa instância uma obra até difícil de se condensar em palavras escritas já que pulsa emoção desde seu início até o minuto final. Uma experiência extra-sensorial que irá permear o inconsciente do público por um longo tempo.

    Texto de autoria de Tiago Lopes.