Tag: Carmen Ejogo

  • VortCast 64 | True Detective – Terceira Temporada

    VortCast 64 | True Detective – Terceira Temporada

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Thiago Augusto Corrêa e Filipe Pereira  comentam sobre a terceira temporada da série da HBO, True Detective, estrelada por Mahershala Ali e Stephen Dorff, escrita por Nic Pizzolatto. Saiba um pouco mais sobre a nova temporada da série, seus personagens e todos os temas que envolvem a trama.

    Duração: 109 min.
    Edição: Julio Assano Júnior
    Trilha Sonora: Julio Assano Júnior e Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

    Agregadores do Podcast

    Feed Completo
    iTunes
    Spotify

    Contato

    Elogios, Críticas ou Sugestões: [email protected].
    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram

    Acessem

    Brisa de Cultura
    Cine Alerta

    Comentados na Edição

    Review True Detective – Primeira Temporada
    Review True Detective – Segunda Temporada
    True Detective – Terceira Temporada
    VortCast 33 | True Detective – Primeira Temporada

    Avalie-nos na iTunes Store | Ouça-nos no Spotify.

  • Crítica | Ao Cair da Noite

    Crítica | Ao Cair da Noite

    Se tem algo que a sétima arte é capaz de fazer, é tocar seu espectador. Com a imagem, o som, o texto, uma narrativa tem a capacidade de transcender os limites de alguns dos nossos sentidos, ou seja, ela provoca reações. Para um filme causar reações, sejam externamente físicas como o levantar dos braços em comemoração numa cena triunfante, ou íntimas como o desconforto em uma sequência que lhe incomoda, o filme deve ser ou muito bom ou muito ruim. Ao Cair da Noite (It Comes At Night) é um exemplo ímpar de como a arte do cinema pode tomar conta da sua mente por duas horas e te presentear com algumas sensações, quando os créditos sobem o filme não te deixa, ele fica com você ainda por muitos dias, te fazendo refletir, reagir.

    Trey Edward Shults, diretor e roteirista do longa, tem no currículo o incrível Krisha, filme que nos mostra de cara como Trey sabe construir uma atmosfera imersiva e criar personagens tridimensionais e propensos a identificação. Em Ao Cair da Noite, o diretor nos coloca em um futuro aparentemente não tão distante, em que uma doença desconhecida e contagiosa mantém uma família – composta pelo casal Paul (Joel Edgerton) e Sarah (Carmen Ejogo) e pelo único filho Travis (Kelvin Harrison Jr.) – refugiados dentro de uma casa no meio de uma floresta. A “paz” é contrariada quando a família recebe a visita de novas pessoas.

    Como em A Bruxa (The Witch), que inclusive é da mesma distribuidora, a A24 – o longa teve um marketing que o vendeu como terror e teve/terá reações decepcionadas de parte do grande público, não que o longa não tenha uma veia de horror, mas aqui o suspense paranoico e sem grandes jump scares é que prevalece. Suspense esse que é arquitetado da maneira mais ambígua possível, enquanto a trama possa parecer lenta e sem grandes acontecimentos, é só observar mais a fundo que percebe-se o quão complexo e alarmante é o caminho que a trama segue, deixando com que o silêncio se case com uma trilha musical singular, a fotografia escura e composta por sombras e silhuetas dê às cenas incríveis pontos de vista, e que as personagens pareçam críveis.

    Acompanhamos a trama pelos olhos do adolescente Travis, e como Shults trabalha os impactos de um “pós-apocalipse” na vida de um jovem é genial, mais do que tudo soa sincero e corajoso. Harrison Jr. entrega a atuação mais tridimensional com seu Travis, o personagem tem constantes pesadelos e isso vai tomando dimensões cada vez maiores e é neles que o filme abusa um pouco mais de seu viés do horror e do suspense. É através do garoto também que o longa expõe as relações de suas personagens, desde o cachorro Stanley até o pequeno Andrew (Griffin Robert Faulkner).

    Dando o tempo que sua história precisa, Ao Cair da Noite é como uma fragmento no tempo, nem um pouco preso em obrigações de se explicar tudo, o filme não subestima seu espectador e soa como uma das muitas tristes histórias que o universo do longa abriga. É uma aula de construção de expectativa, ambiente e personagens, além de ser impecável nos responsáveis pelo filme causar tantas sensações: imagem e som. É um casamento perfeito. Shults entrega um daqueles filmes memoráveis, que te faz ficar inquieto na cadeira do cinema, que te faz torcer e criar fortes relações com o que se vê em tela mesmo que seja um sentimento inevitavelmente pessimista levando em conta  tudo que já se viu. É de provocar reações, é de ser como um peso que você carrega nas costas quando sai do cinema. Pesado. O trabalho de Shults é a confirmação de que o terror e suas variáveis está em alto nível e de que seu diretor é uma das promessas dessa nova geração.

    É de sair do cinema e se enxergar como humano, e falho. Ao Cair da Noite é desses.

    Texto de autoria de Felipe Freitas.

  • Crítica | Born To Be Blue

    Crítica | Born To Be Blue

    BornToBeBlue_web

    – Te pagam dois mil dólares por um beijo e dois dólares pela sua alma. Sabe quem disse isso?

    – Não.

    – Marilyn Monroe.

    Através de diálogos assim, econômicos e não menos vorazes, que logo notamos o tom de Born to te Blue, uma obra não de primórdios, mas sim de recortes.

    Procurando retratar um momento, a obra usufrui de todo intimismo possível para nos situar dentro do controverso e genial mundo do lendário trompetista de Jazz Chet Baker.

    É sabido que o cultuado e problemático músico, que sempre oscilou entre seu brilhantismo dom e momentos auto-destrutivos, acarretados principalmente por seu envolvimento com heroína. Fruto de uma geração transgressora e, portanto, cheia de excessos é importante salientar que a heroína infelizmente assolou grande parte dos integrantes do movimento artístico-musical originado nos E.U.A.

    Aqui encontraremos um Chet em processo de recuperação, confrontando seu demônios, pagando por seus erros passados e tentando ressurgir mental e estruturalmente, buscando se desvencilhar do ostracismo e novamente se firmar no Hall que sempre lhe pertenceu, ou seja – em um palco com holofotes e plateia.

    O filme dirigido por Robert Budreau (produtor e também assinante do roteiro), mesmo não se arriscando, segue uma cartilha precisa e entrega ao público um bom material. Assumindo um caráter minimalista, as tensões se revelam contidas, porém não menos ‘explosivas’, ao contrário, denotam uma angústia que casa bem com o ritmo proposto.

    Abro um parênteses e aponto que, de todos os acertos do filme, indubitavelmente está principalmente a performance de Ethan Hawke que, assumindo a persona de Chet, acerta em cheio. Neste trabalho, o ator vai além do notório arquétipo e constrói uma sutil interpretação merecedora de todos aplausos possíveis. A força de sua interpretação fica mais evidente em seu olhar do que propriamente em seus diálogos, algo que se escancara em um notório momento chave da trama, que se dá entre o diálogo de Chet com seu pai. Há de se apontar também o belo trabalho de Carmen Ejogo (Jane) companheira de Chet que lhe dá bastante força em sua jornada, sendo para o artista uma âncora em seu momentos mais sombrios.

    Não obstante todos os fantasmas acarretados, acompanharemos um outro forte drama do músico que, após perder os dentes em uma briga de rua, deverá encontrar forças para reverter esse quadro, reformulando até sua embocadura se assim for necessário, superando s si mesmo e tudo o que um dia fez dele uma estrela.

    Afiado o cálamo, o garoto da Costa Oeste se encontrará em um complexo dilema de suas escolhas, em que se verá confrontado e advertido sobre isso, pois sabe que, mesmo que “cante com a língua dos anjos, se não tiver amor, será apenas um címbalo que retine”.

    Sobre a efígie de um Fauno, que deixa um rastro de poeira a cada movimento de seu percurso, entre encontros e desilusões, Chet volta aos palcos com seu atípico swing, e é então que as luzes se acendem, as cortinas se abrem e surge pro mundo My Funny Valentine e Born to Be Blue – canções extremamente românticas sublimadas por uma indomável angústia sem fim.

    O que fica evidente, não só ao desfecho mas ao longo de todo o filme, é que o maior inimigo da vida Chet sempre foi “seu eu”, que por muitas vezes, na busca por uma libertação, acabou se tornando refém de si mesmo.

    Texto de autoria de Tiago Lopes.

  • Crítica | Selma: Uma Luta Pela Igualdade

    Crítica | Selma: Uma Luta Pela Igualdade

    Selma - Luta pela Liberdade - poster brasileiro

    Vulgarizamos o que não entendemos, essa é uma das verdades sobre nós. Assim é com a matemática, quando esta deixa de ser divisão e vira fração na terceira série, ou com aquela redação dada em uma época que ainda não sabemos como segurar a caneta corretamente. Estende-se essa negação quando muitos veem um casal gay na calçada, e, se não atravessam a rua, preferem cometer barbaridades a deixar que cada um viva como queira viver.

    Desculpas ao riso são músicas em inglês em ouvidos treinados em uma única língua, ou alguém que veste amarelo aos olhos de quem só gosta de verde. Não menos que um negro, hoje o homem mais poderoso do mundo ocidental, disputando eleições na maior democracia consolidada do planeta. Fato risível, isso sim, na penosa, quase cármica época que o leve e forte filme da (ótima) cineasta Ava DuVernay se apropria em recriar com fidelidade, dor e esperança no Cinema, sem quaisquer apologias emocionais ou de caráter caricatural como nos recentes 12 Anos de Escravidão, Django Livre ou Gran Torino – neste último caso, racismo explícito contra japoneses.

    Todos esses filmes, bons ou regulares, atestam a ignorância humana a favor do desumano, enquanto Selma – Uma Luta Pela Igualdade opta pela ausência dessa ignorância em troca da presença do medo que poderosos brancos tinham de dividir um grama de seu poder com uma voz… diferente. Não é ignorância frente ao desconhecido, é medo de perder o poder, pois sabiam e sabem que, se uma voz consegue reunir duas pessoas, pode reunir 200 ou 3000 para protestar contra o que as impede de ser feliz na tentativa de sobreviver. E assim como Doze Homens e Uma Sentença, clássico de Sidney Lumet, um filme americano novamente discute, sem medo e com um fôlego renovado, as dívidas morais de uma sociedade, procurando um calor progressista em um conservadorismo congelado e congelante.

    Há muitos paralelos entre a obra de Lumet e esta de Ava, em especial o debate temático mostrado em tela, o suficiente para inspirar o espectador a se posicionar ante o certo e o errado, diante do que sente, sobretudo na perspicácia de explorar recantos intrínsecos ao status de cidadania, como a criminalidade, direitos civis e meritocracia, com um background repleto de questões atemporais e principalmente ricas em perspectiva e grau de tratamento artístico.  Ao “reescrever” a história de Martin Luther King, primeiro o homem e depois o herói, o escritor Paul Webb, de Lincoln (um ótimo roteiro, fragilmente adaptado por Steven Spielberg) volta aos malabarismos com o racismo e a segregação temporal, numa verdadeira lucidez temática sobre o assunto, e finalmente muito bem traduzido por Ava. A diretora, em seu terceiro longa-metragem – quase Like a Virgin, mas habilidosa a ponto de deixar ações e trilha sonora falarem mais alto que palavras – não se apoia nos recursos de liderança já citados, mas no gênio da artista de extrair bom senso, leveza e ponderação ética do material escrito por Webb. Trabalho de veterano(a) com garra de principiante.

    Faça a Coisa Certa, Fruitvale Station: A Última Parada, Compasso de Espera e, agora, este belo tratado sobre as fraturas do convívio humano… Ressacas sociais filmadas como rito de consciência e inteligência interemocional, fazendo, através de um arranjo tão forte, grandes filmes. Filmes além de pretensões para com gregos e troianos, senão com a harmonia entre a realidade e a ficção, com o contraponto da política teórica de gabinete e a política violenta das calçadas, valorizando a força real das situações graças à potência empregada com uma câmera de Cinema (um toque de parcialidade quanto ao drama vivido), e o poder deste em recriar uma época, suas cicatrizes e implicações com o hoje e, certamente, o amanhã.

    Selma carrega uma grande e imperturbável estabilidade emocional, transmitindo-nos segurança para a veracidade de fatos e relatos demonstrados em imagens difíceis de esquecer, como as impressionantes marchas de negros nas ruas e pontes de uma nação de mentalidade ainda escravista, excomungando cidadãos não reconhecidos como tal, com forças policiais caninas e leis de separação étnica, como se não bastasse. Cenário ainda retratado no Brasil, graças à violência policial e outras expressões de poder igualmente apodrecidas de dentro para fora. No filme, um retrato sem moldura, um alívio da realidade. Em cada olhar de uma atuação coletiva impecável, notam-se as expressões reproduzidas nos jornais, de famílias removidas de suas casas, e feições em protestos a favor de uma qualidade de vida melhor – e proibida.

    Extrovertido em suas conclusões, com alma introvertida em momentos mais íntimos, onde o Sr. e a Sra. King tiram a limpo suas disposições à causa negra e devoções conjugais. O que é para muitos um drama, tachado como melodrama, tamanha a sensibilidade, feminina ou não, para com o seio a nutrir e transmitir forças ao herói em frente a Casa Branca, num discurso de políticas igualitárias histórico, num dos momentos decisivos da história americana. Selma é um símbolo que vai além de justificar, por sinal, apenas o nome da cidade onde os negros foram primeiramente reconhecidos como gente antes do resto do mundo, assim como o bairro Castro, em São Francisco, o foi para os homossexuais, e todas as veredas ainda a se tornarem marcantes para “populações inferiores”, no futuro. Assim, a partir de tais verdades compartilhadas ao leitor, nenhuma tecnologia evitará que o futuro seja o espelho do passado, enquanto quem usa verde desprezar quem gosta de amarelo.

  • Crítica | Uma Noite de Crime: Anarquia

    Crítica | Uma Noite de Crime: Anarquia

    A primeira semana de exibição de Uma Noite de Crime gerou uma bilheteria suficiente para pagar dez vezes o orçamento da produção. Uma sequência foi programada para este ano, com o diretor James Demonaco retornando ao universo distópico situado em um futuro de uma sociedade americana sem violência e composta por uma lei que, durante uma noite, autoriza assassinatos e crimes em geral como maneira terapêutica de expurgar o estresse anual.

    Se a história anterior enfocava a casa de uma família rica e um grupo que tentava invadi-la, Uma Noite de Crime: Anarquia se passa inteiramente nas ruas, local em que o expurgo acontece sem nenhuma censura. A trama apresenta personagens, em situações distintas, formando o grupo que tenta sobreviver durante esta noite. Além destes representantes do povo, surge um grupo político contra o governo e que, através da internet, produz vídeos de protesto contra o dia anárquico, explicando por que este é um sistema feito para exterminar as classes mais baixas da sociedade, incapazes de se defenderem.

    A tensão é melhor sustentada do que a produção anterior pela urgência de uma trama passada nas ruas, sem a proteção de um sistema de segurança caro, como na casa vista anteriormente. Entre as personagens da trama estão duas irmãs que acabaram de perder o pai – vendeu-se para um expurgo de ricos para garantir dinheiro para as filhas; um casal que tem o carro sabotado no trajeto para casa; e um homem que se prepara para uma vingança e, com aparatos e um veículo, ajuda as demais personagens a não perecerem nesta noite.

    A ausência de nomes conhecidos no elenco demonstra a intenção de apresentar uma história sem nenhum personagem em destaque como foco evidente de atenção. O grupo segue o homem que prepara a vingança não por ser o centro do roteiro, mas pela necessidade de sobrevivência. E, assim, vão se movimentando contra grupos de extermínio. Além dos cidadãos que realizam o direito constitucional de matar por uma noite, há um grupo de mercenários pagos para caçar outros e vendê-los para ricos que desejam expurgar, mas não se sentem confortáveis para ir à caça.

    Apresentando com melhor qualidade os ideários por trás deste futuro, a trama tem mais intensidade e apresenta um jogo político que a história anterior não mostrava. O conceito é rico e poderia ser desenvolvido em diversas tramas apresentando outras esferas de poder, embora a intenção de Demonaco seja, aparentemente, focar somente a ação e o suspense e a força imagética de um período em que a anarquia impera durante algumas horas.