Crítica | Tyrel
Tyrel é um filme de Sebastian Silva, que mostra o personagem-título vivido por Jason Mitchell indo junto ao amigo para uma viagem nas montanhas de Castkills, em uma festa de aniversário de um desconhecido que tem laços com esse amigo. Por ser desconhecido da maioria das pessoas que lá estão, o protagonista fica completamente deslocado em um primeiro momento e passa a ser incomodado não só por sua timidez, mas também pela indelicadeza das outras pessoas.
O modo de interação daquele grupo de pessoas é para Tyrel algo estranho, não só pela quantidade absurda de palhaçadas que ali impera, mas também por conta do incômodo deles com a sua presença. O motivo dessa diferenciação não é dita abertamente, mas através dos eufemismos e brincadeiras de cunho preconceituoso, se nota que a questão envolve a cor de sua pele.
O único ser vivo com que Tyrel consegue estabelecer alguma conexão é com o cachorro da casa, basicamente aludindo a questão de que um animal irracional não liga para questões raciais, tampouco é capaz de transmitir preconceitos por meio de atos jocosos ou de preconceito velado, assim como também não faz questão de estabelecer um verniz social para esconder qualquer falha de caráter.
O protagonista se sente incomodado e importunado e nem o seu conhecido parece fazer questão de protege-lo dos ataques ou sequer frear as gracinhas preconceituosas, basicamente porque ele não percebe o seu erro e nem dos outros, por não entender como racismo os impropérios ditos na casa onde estão todos. A situação do personagem se agrava tanto que ele decide se refugiar na casa de uma vizinha que ele viu assim que chegou, pois nem conseguir dormir ele consegue, provavelmente não só por conta do barulho que o grupo faz, mas também pela sensação de não pertencimento àquele microcosmo, além da repetição inconveniente de toda sorte de pressão racista e lembranças do passado, onde tinha que lidar com isso sem necessariamente ter maturidade suficiente. Ao contrário do que se falou por quem viu, Tyrel não é uma nova versão de Corra!, até porque o objetivo é claramente outro, não há catarse ou revide, mas apenas a contemplação do quão baixo o ser humano pode mergulhar.