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  • Resenha | Batman/Flash: O Bóton

    Resenha | Batman/Flash: O Bóton

    Preparando terreno para o lançamento de Doomsday Clock, o especial Batman/Flash: O Bóton serve como um “capítulo do meio” para a saga da Editora das Lendas que se iniciou em Universo DC: Renascimento. O crossover entre os dois heróis foi publicado nos Estados Unidos em suas respectivas séries mensais e reunidas depois em um volume único, publicado no Brasil em capa dura pela Panini.

    Escrita por Tom King e Joshua Williamson, a história retoma partes importantes do evento Ponto de Ignição, em que o Flash altera toda a realidade ao tentar salvar sua mãe voltando no tempo. Essa transformação na linha do tempo do Universo DC deu origem ao reboot conhecido editorialmente como Novos 52, e nessa edição vemos que existem resquícios de outras linhas da editora se mesclando à realidade dos personagens. O bóton do título já havia aparecido no final do especial Renascimento, e aqui volta a ter importância, pois mostra que o universo criado por Alan Moore para abrigar a saga Watchmen está se misturando com o das séries mensais de super-heróis.

    A história começa com o vilão Flash Reverso invadindo a Batcaverna em uma luta impressionante com o Batman, na qual cada segundo conta. A invasão ocorreu porque, ao investigar o bóton sorridente, Bruce Wayne o deixou na bancada próximo a outro objeto bastante específico: a máscara do Pirata Psíquico, personagem que ainda se lembrava dos eventos da Crise nas Infinitas Terras (reboot da editora nos anos 1980). Ao ficarem lado a lado, os dois objetos começaram a emanar energia que atraiu o vilão do Flash pra caverna.

    A luta com o Flash Reverso culmina com a revelação da existência uma entidade maior no universo – ou um deus, como o vilão o descreve – e leva a uma investigação sobre  o que realmente está acontecendo. Para isso, Batman e Flash utilizam a Esteira Cósmica para viajar através do Multiverso – e de linhas temporais diferentes – se encontrando com realidades diversas, entre elas a surgida na saga Ponto de Ignição. A dinâmica entre os personagens nessa parte da história é bem interessante, pois mostra um relacionamento entre Bruce e Thomas Wayne que jamais poderia ter acontecido.

    Da mesma forma que Wally West surge da Força da Aceleração em Renascimento, vemos aqui o ressurgimento de outro famoso velocista da DC, que desperta ainda mais questões a serem resolvidas num futuro próximo. Isso porque a história não se conclui de fato, deixando muito a ser desenvolvido na saga vindoura. O Bóton é um interlúdio para a saga que a editora está planejando, e um pontapé inicial para grandes mudanças que virão com O Relógio do Juízo Final.

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  • Shazam | Desvendando as Origens do Capitão Marvel Original

    Shazam | Desvendando as Origens do Capitão Marvel Original

    Quando Billy Batson encontrou o mago Shazam, após perseguir um homem misterioso no metrô, encontrando-se  rumo à Pedra de Eternidade, nem a Editora Fawcett e nem seus criadores C.C. Beck e Bill Parker imaginavam o rebuliço que Capitão Marvel faria na cultura pop e no consumo de revistas em quadrinhos. Shazam se tornava um fenômeno, marcando tanto o nome da revista do herói e seu mentor, como recentemente se tornou o nome do personagem, reunindo um conjunto de poderes singulares: Salomão, a força de Hércules, o vigor de Atlas, o poder de Zeus, a coragem de Aquiles e a velocidade de Mercúrio.

    Mais do que o apego a mitos e a magia, havia uma ligação diferente do personagem com o público por Billy Batson, sua contraparte, ser uma criança. Um feito realizado muito antes do adventos dos sidekicks como Robin ou dos personagens humanizados na Marvel de Stan Lee. Lançado em 1940 (na verdade em 1939, dado o atraso comum a essas publicações, ou seja, o herói completa 80 anos) o personagem símbolo da Fawcett teve sua vida útil abreviada em 1953, após uma série de brigas jurídicas com a Nacional Comics (antiga alcunha da DC Comics) que usava sua força e dinheiro para mover um processo por plágio, acusando o estúdio de realizar uma cópia do Superman. Todo o imbróglio aconteceu pelo sucesso do herói, pois, Marvel era mais popular, ganhando até mesmo uma produção em live action antes do Azulão, enquanto as vendas continuavam em alta.

    Em 1942, nascia o conceito da Família Marvel, que na época só com Mary Marvel, irmã gêmea de Billy, e o Capitão Marvel Jr., que invocava o nome Capitão Marvel e ganhava poderes. Este último era tão popular que inspirou boa parte do visual do rei do rock, Elvis Presley. Mary foi uma das primeiras personagens femininas heroicas, antes de Supergirl, e só um ano mais velha que a Mulher Maravilha. Além dessa composição, a família teve outras encarnações, como os Tenentes Marvel, e a participação do bonachão tio Dudley, da California, que  fingia ter poderes e usava um roupa igual a do Capitão.

    Sobre o personagem no Brasil, pelos anos de 1950, a revista Shazam, composta por uma antologia de historias antigas, tinha em seu mix Capitão Marvel e, pasmem, Namor. Depois, a edição se fundiu com a Revista Biriba e. a partir de entãoa, lançada com o nome (terrível, por sinal) de Biriba Shazam, reunindo historias da Jane das Selvas e outros personagens. Estranhamente não havia histórias do Capitão Marvel, essas estavam na Marvel Magazine, também publicada pela RGE (antigo nome da Editora Globo de Roberto Marinho). Na época, o nome do empresário era tão forte que sustentava as duas publicações em banca.

    Por ironia do destino foi a DC que relançou, em 1972, historias licenciadas do personagem, ainda sem propriedade intelectual. O personagem havia parado no tempo, tal qual Capitão America de Jack Apenas em 1991 a empresa teve os direitos do personagem, fato que explica a ausência de uma revista própria, ainda que os motivos para a baixa de sua popularidade sejam discutíveis até hoje. Como é natural nos quadrinhos, diversas histórias foram lançadas como base para uma nova cronologia. Analisamos algumas dessas histórias de origem do personagem e suas reformulações.

    The New Beginning, de Roy Thomas

    Minissérie de origem do Capitão Marvel, escrita por Roy Thomas e desenhada por Tom Mandrake, Shazam! The New Beginning jamais foi publicada no Brasil. Trata-se da primeira reformulação do personagem pós Crise. Os principais destaques da publicação são a presença de Doutor Silvana (ou Sivana, no original) tanto como vilão, como tio de Billy, fazendo com que o garoto procure uma família. Esse conceito é bem mal explorado, hiper dramático, mas ao menos alude aos hieróglifos como vínculo mágico e mitológico da origem do Capitão.

    Billy se transforma na frente de Silvana em uma referência a Era de Ouro, em que o vilão descobre sua identidade. Fora isso, é difícil falar desta origem por conta da dificuldade de acha-la (somente em edições gringas, tanto soltas como na edição de 30 anos), além de ter uma arte um pouco peculiar de Mandrake, em alguns momentos, bem feia.

    O Poder de Shazam, de Jerry Ordway

    Publicado em 1994 (1996 no Brasil), O Poder de Shazam é uma revista bem legal, de temática leve e divertida.  Escrita e desenha por Jerry Ordway (que arte finalizou  com George Perez em Crise nas Infinitas Terras e também acumulou função de texto e arte de Superman entre 1986 e 1989, além de ser um dos artistas por trás de Zero Hora). A história tem pouco menos que 100 páginas e começa no Egito com uma equipe de arqueologia.  Aqui há um elemento um polêmico, envolvendo o passado do Senhor Batson, o pai de Billy, com o Silvana e com o outro arqui rival do Capitão Marvel, Adão Negro, colocando o vilão na escavação do pai para, em seguida matá-lo, em ação semelhante a que Tim Burton fez em seu Batman, pegando algumas das coincidências de New Beginning.

    Tirando essa estranheza, a historia é bem legal. O traço de Ordway combina com o clima de aventura super otimista  do herói. Billy é mostrado como um menino pobre e necessitado que vende jornais nos sinais de transito. Ao ser encontrado por uma figura misteriosa, passa por uma caverna, onde há estatuas dos inimigos mortais do homem: Orgulho, Inveja, Cobiça, Ódio, Egoísmo, Preguiça, Injustiça, resgatando visualmente o que os criadores fizeram e lançando moda, pois quase toda origem repetiria esses conceitos.

    Um fato interessante e inesperado na historia, é que Billy ao  ganhar os poderes fica ressabiado e nervoso, não aceita a “dádiva” como algo bom, por não ter estrutura enquanto criança para lidar com tamanho poder e conhecimento, afinal a mudança é radical demais e repentina. Mais poder não significa mais equilíbrio emocional.

    Há momentos curiosos, como quando ao pegar um grupo de criminosos ele vira o carro, tal qual a capa clássica de Action Comics em uma piada visual com o Super Homem, bem como com a mania do personagem durante a Era de Ouro de ser o justiceiro dos pobres. O embate entre o heroi e Adão Negro fluí e toda a sequência a partir daí funciona como o regaste da memória do pai de Billy e a definição de Adão como o nêmese de Shazam. A arte de Ordway é uma grande homenagem aos quadrinhos dos anos 40. O sucesso fez com que estivesse a frente do título por um bom tempo.

    Primeiro Trovão e Os Desafios de Shazam, de Judd Winick

    Judd Winick se dedicou a duas histórias com o personagem entre 2006 e 2007. Na primeira, chamada Superman e Shazam: Primeiro Trovão, com arte de Josh Middleton, a narrativa parte do principio que  Superman e Batman acabaram de começar a nova era heroica enquanto o Capitão Marvel realiza suas primeiras ações, Acompanhado por seu mentor, o Mago Shazam. Para muitos esse é o equivalente ao Ano Um do personagem.  Apesar de não ser exatamente uma origem, os elementos clássicos do personagem estão lá: o clima dos anos 40, o escapismo e o traço de Middleton, mesmo sem ser primoroso, tem um ar de coisa antiga. Seu Capitão Marvel parece mesmo uma criança em tamanho grande. O contraponto entre o Capitão e o Superman é gritante e a dinâmica de herói novato e o veterano funciona bem.

    Silvana é um magnata poderoso e chefe de uma corporação maligna e criminosa. O Capitão se  descontrola e quase mata o capanga que disparou um tiro contra seu amigo, o pequeno Scott. É natural que aja assim, pois é uma criança para todos os efeitos, sem um código ético definido. O paradoxo é curioso. Marvel quase mata o vilão para evitar que ele assassine mais pessoas. Porém, sem coragem de dar cabo dele, decide se isolar no Everest, onde Superman o encontra. Nesse momento, acontece algo bem incomum: uma reclamação do kriptoniano com o Mago, por ter escolhido um menino para usar seu manto, dizendo que as atribuições de salvar as pessoas não deveriam ser destinadas a uma criança. Afinal, o peso do mundo não é compatível com seus ombros. É incrível como se demorou tanto a ter essa reflexão nos quadrinhos, e essa conclusão surgir do Super faz todo sentido, pois, seu destino inicial como salvador também era assim.

    A segunda história do roteirista foi uma minissérie em 12 edições, Os Desafios de Shazam, com arte de Howard Porter. A trama é polêmica por substituir Billy como herói, mas foi importante pra a cronologia do personagem. Porém, ao meu ver, o fato mais polêmica está em sua qualidade. A arte é estranha, com uma coloração que emula aquarela mas que parece feia. Além disso, a série tentou ser ambiciosa ao reorganizar a face página do Universo DC pós Crise Infinita. Com direito a presença de outros personagens mágicos, como Zatanna, mas que não tem nenhuma importância à trama.

    Na história, o Mago morre e o Capitão assume seu lugar e convoca Freddy Freeman, (Capitão Marvel Jr.) para ser o herdeiro do manto, tornando-se o novo Shazam. Alcunha utilizada para evitar problemas judiciais com a Marvel que se apossou do nome do personagem enquanto ele estava no limbo de publicações. O grande problema é o descarte de personagens clássicos como Mary Marvel, mostrada como deficiente, para deixar o caminho livre para Freddy. A série é prolixa, mastiga demais o universo mágico, e mesmo que tenha conceitos legais como o herói de legado (com uma década de atraso, diga-se de passagem), e a busca pelos paralelos dos personagens míticos do nome SHAZAM, não é o suficiente para salvar a publicação. A arte nas ultimas edições é assinada por Mauco Cascioli mas só melhora o quadro ligeiramente, pois as cores seguem terríveis. Na narrativa não há melhora, seguindo atrapalhada até o final com uma vilã que lembra o Adão Negro (Sabina), mas que não tem o mesmo peso, além da participação da Liga da Justiça de uma forma Deus Ex Machina. Neste ponto, Primeiro Trovão é bem mais reverencial.

    A Sociedade dos Monstros, de Jeff Smith

    O criador de Bone escreveu em 2007 Shazam! E a Sociedade dos Monstros, uma revista que equilibra um pouco de caráter autoral com apego a cronologia. Nela, Billy é um menino bem pequeno, abandonado, que sofre perseguição. O tom do quadrinho é bem infantil e fofo. Lembra em alguns momentos O Poder de Shazam de Ordway, mas tem sua própria identidade, especialmente visual, em muito tempo não havia historia cujo contraponto de Billy e Capitão são igualmente especiais e importantes.

    A figura de Marvel/Shazam é carismática, em especial por conta de detalhes pequenos, como seu gosto por hot dogs e seus inimigos, monstros animalescos comandados pelo Senhor Cérebro, um vilão clássico da época da Fawcett Comics. Além disso, o gibi contrapõe o desprezo de todos ao Billy, por ele ser um menino em situação de rua, e traz uma repaginação da sua irmã Mary e do  senhor Malhado tão legais quanto a versão de Billy. O clima da revista é bem fantasioso, infantil, mas também é sério quando precisa, e principalmente, lisérgico quando é mostrado Sr. Cérebro em ação.

    É engraçado como o Silvana de Smith lembra levemente a figura física de Robert Crumb, ainda que ele seja careca enquanto o quadrinista anarquista não seja. Também é legal que os antagonistas sejam mais pueris, em uma versão parecida com a dos desenhos do Super Homem dos irmãos Fleischer e dos quadrinhos pulp. O final da revista é otimista e combina demais com a docilidade de seu autor que ainda repagina Shazam também em um tamanho gigante emulando os tokusatsus.

    Com Uma Palavra Mágica, de Geoff Johns

    A versão de Geoff Johns e Gary Frank foi introduzida nos backups da revista da Liga e tem como principal diferença o fato de Billy ser um adolescente problemático, em sintonia com um rapaz sozinho vivendo a puberdade. As primeiras aparições são bem curtas, fundamentando a origem do personagem em paralelo a acontecimentos da fase Novos 52, reciclando conceitos de um jeito que o roteirista é especialista. A trama começa de maneira despretensiosa, apresentando a procura do Mago por um hospedeiro de seus poderes, encontrando no jovem disperso seu representante. Ao ser adotado pela família Vasquez, Billy encontra uma nova família e, aos poucos, afeiçoa-se a eles.

    O Doutor Silvana é um estudioso obcecado nas lendas antigas, reprisando de certa forma o que o autor fez com seu Lex Luthor em Superman: Origens Secretas, substituindo a questão de Kripton pelo Adão Negro. A forma como se lida com a família Marvel é bem legal, expandindo-se a mitologia, a partir de Freddy Freeman. Além disso, é mostrado também o tigre Tawny como uma das poucas lembranças dos pais de Billy. Apesar de demorar a engrenar, a ação da revista é bem fundamentada, não é extraordinária, mas repagina bem a maior parte dos conceitos, seja com o Mago, com os vilões, a questão do Relâmpago Vivo.  O momento em que Billy e Freddy lidam com os poderes no começo é interessante, e a motivação do Adão Negro também é bem construída.  Esta deve ser a origem que ganhará destaque no roteiro de Henry Gayden no filme de David F. Sandberg. Momentos vistos no trailer como a sobrecarga de materiais com eletricidade ou a recompensa de muitos doces por salvar um lojista de um assalto vieram direto dessa aventura e, como outros filmes da Dc Comics já se pautaram na fase Novos 52, é natural que esta trama sirva de nova versão do herói, por estar mais alinhada com o cânone atual.

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  • Resenha | Liga da Justiça: Torre de Babel

    Resenha | Liga da Justiça: Torre de Babel

    Liga da Justiça - Torre de Babel - capa

    Quarto lançamento da recém-lançada coleção de Graphic Novels da DC Comics pela Eaglemoss, Liga da Justiça – Torre de Babel apresenta uma elogiada história publicada originalmente no país pela Editora Abril em uma época que tentaram renovar os quadrinhos e, abandonando o formatinho, lançaram edições em estilo americano, fase conhecida como premium. Um interessante projeto que não se adaptou ao mercado naquele período.

    Escrita por Mark Waid e desenhada por Howard Potter, a história envolve os membros da Liga da Justiça mas se destaca devido ao Batman e um de seus grandes vilões, Ra´s Al Ghul, com um elaborado plano para derrotar a equipe. A trama estruturava um aspecto conflitante na personagem do Homem-Morcego que se tornaria definitiva em anos posteriores e fundamental para causar atrito entre a comunidade heroica, nas futuras grandes sagas da DC Comics: um herói de alta inteligência, precavido e paranoico, desenvolvendo planos de contingência para derrotar cada um de seus colegas, caso necessário. Planos que são furtados pela Liga dos Assassinos e executados por Ra´s ao lado de um sistema que inibe a compreensão da fala, fato que justifica o mito bíblico da Torre de Babel do título.

    A personalidade do Morcego é definida diante destas duas vertentes. Ao mesmo tempo que demonstra engenhosidade em estudar os pontos fracos de cada um de seus colegas, a preocupação de Bruce Wayne soa exagerada, e assume que, diante de adversidades, somente ele seria um personagem incorruptível. Se os planos ressaltam sua inteligência, também apontam uma falta de confiança na equipe, motivo que lhe faria desenvolver um satélite espião, parte fundamental do conflito em Crise de Identidade e Crise Final.

    O argumento de um Bruce Wayne metódico e preparado para qualquer adversidade foi utilizado na revista do Morcego na saga Jogos de Guerra, quando um plano para fazer o alterego Fosforos Mallone se tornar o chefão de Gotham é interceptado pela Salteadora e colocado em prática, resultando em uma guerra entre gangues no local. Ressalta-se, novamente, a vertente controladora di personagem, talvez por ele reconhecer intimamente que, mesmo sendo herói com muitos recursos, é ainda humano diante de toda uma equipe formada por super-seres. Wayne insere a dúvida dentro de uma equipe que deveria ser coesa, demonstrando que, mesmo com um senso nítido de moral heroica, há desvios que favorecem um bem maior em detrimento de um plano e paranoia pessoais.

    Como Batman se torna simultaneamente o herói e uma espécie de vilão, a figura de Ra´s Al Ghul funciona para aplicar seus planos de contingência, roubados da Batcaverna, para destruir a liga enquanto desenvolve o sistema que inibe a compreensão da linguagem. Mesmo como um coadjuvante catalisador do conflito, o vilão se apresenta fiel a sua personalidade, desejando uma nova ordem no mundo diante de uma condição global desoladora. A filha Talia também se destaca e é personagem principal de uma das partes da aventura que apresenta o roubo dos dados na Batcaverna.

    Os desenhos da história são o elemento mais destoante. A princípio, em comparação com o padrão atual, soam menos sombrios e menos realistas, fato que não diminui em nada a história a não ser pela composição exagerada de muitas expressões que desequilibram a densidade e um certo senso de realidade que o roteiro de Waid tenta impor.

    A edição da Eaglemoss apresenta também a primeira história da Liga da Justiça, momento em que os heróis se reuniram para lutar contra o vilão Starro. Uma visão bem diferente da maneira pela qual os heróis são descritos atualmente, mas interessante por tratar-se de material histórico de quando os quadrinhos eram somente um divertimento de primeira linha.

    Torre de Babel expande a composição do heróis, focando no medo de cada um, principalmente no de Bruce Wayne, em uma carga realista que demonstra o medo e apreensão de um mundo dominado por vilões e da validade de qualquer medida externa para evitar que isto ocorra. Sem dúvida, uma história que aflora mais o lado humano do que heroico das personagens, o que seria o conflito principal das futuras sagas mencionadas.

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    Liga da Justiça - Torre de Babel - capa 2

  • Resenha | Quarteto Fantástico: Ações Autoritárias

    Resenha | Quarteto Fantástico: Ações Autoritárias

    Quarteto Fantástico - Ações Autoritárias

    Sequência direta do arco anterior, Inconcebível, o encadernado de Ações Autoritárias – lançado também pela coleção Salvat – apresenta as consequências dos fatos em três arcos narrativos. Mark Waid mantém a escolha de inaugurar histórias de maneira concisa, evitando o erro de se estender além do necessário. As três histórias deste encadernado da coleção Salvat possuem o mesmo tema em comum retratando como cada membro do Quarteto lidou com a última investida de Doutor Destino.

    A primeira história enfoca o garoto Franklin Richards e seu trauma ao ser deixado no inferno. O aspecto familiar é ressaltado pela trama, além de ser um entreato calmo para a futura história, mais densa. O arco que intitula o compilado se passa na Latvéria, local em que o Quarteto Fantástico assumiu o poder – contrariando a ONU e Nick Fury – temendo que civis pudessem se apoderar do arsenal altamente tecnológico do vilão.

    Um devastado Reed Richards se afasta ainda mais de sua família, obcecado em desvendar o local e desenvolver um plano que respondesse à altura do inconcebível anterior. A imagem de Von Doom diante de seus súditos é o primeiro passo destrutivo que afasta a única imagem positiva de Destino. Conhecendo suas intenções malignas e um arsenal de destruição em massa, com direito a robôs torturadores, os latverianos encontram em Richards um possível recomeço para o local. A política entra em cena situando a equipe dentro do universo Marvel e sua projeção realista. Nick Fury participa como um intermediador entre Richards e a ONU, que considera a invasão do Quarteto um erro. Porém, a atitude é apenas parte do plano definitivo para controlar o vilão.

    A dicotomia entre herói e vilão nunca foi tão clara. Como a morte nunca é uma opção, a saída de Sr. Fantástico é heroica visando o bem maior de sua família. Um sacrifício que colocaria Destino e Reed em uma prisão localizada em uma realidade paralela. Como nada é fácil para a equipe, Destino foge deste universo, controla a equipe mentalmente e causa mais uma baixa no Quarteto: a morte de Ben Grimm.

    O público sabe que as mortes heroicas sempre terão um futuro retorno. Quando nada é definitivo, cabe à narrativa produzir um bom argumento para causar conflitos necessários e explicar, ao menos plausivelmente, o retorno da personagem. Iniciando seis meses após os eventos de Ações, Richards estuda o corpo de Grimm buscando um meio de trazê-lo de volta. Quando suas intenções falham, a personagem retoma um experimento de seu arqui-inimigo para desvendar um novo universo não explorado. Waid retorna à fundação do Quarteto, na origem de Destino, para fundamentar sua aventura. Tentando encontrar sua mãe no inferno, Vom Doom desenvolve um aparelho mágico-tecnológico e falha por não ouvir os conselhos de Richards. Dessa forma, a trama reflete sua própria trajetória e avança rumo ao céu, transformando a religiosidade em um universo como tantos outros explorados pela equipe. Sempre desenvolvendo ao máximo o argumento aventureiro, este recurso funciona pela coerência e o equilíbrio entre a ciência e a magia.

    O desfecho promove um mergulho metalinguístico promovendo um inusitado encontro entre Quarteto Fantástico e Deus. Mais especificamente, o deus das personagens em quadrinhos: seus autores. A escolha é ousada, porém, diante de uma progressão de acontecimentos cada vez mais impactantes, a escolha de Waid por um final grandioso que não caísse no clichê é bem-sucedida. E as aventuras da equipe até então dão a base necessária para que este encontro seja plausível. Pela linha da metalinguagem, a história se encerra analisando a própria criação desta arte, e corrige – em um ponto alto do famoso deus ex machina – a cicatriz que Richards ostentava desde o arco anterior. Finalizando com um interessante ápice, a primeira grande jornada da equipe pelas mãos de Waid é considerada ousada para uma narrativa de linha mensal.

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    Quarteto Fantástico - Ações Autoritárias