Tag: Robert A Heinlein

  • VortCast 71 | Diários de Quarentena I

    VortCast 71 | Diários de Quarentena I

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe PereiraJackson Good (@jacksgood) e Rafael Moreira (@_rmc) se reúnem para comentar sobre os seus dias na quarentena em um bate-papo descompromissado sobre reality shows, lives e muito mais.

    Duração: 110 min.
    Edição: Julio Assano Júnior
    Trilha Sonora: Julio Assano Júnior
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

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  • Resenha | Guerra do Velho – John Scalzi

    Resenha | Guerra do Velho – John Scalzi

    De vez em quando nos cai em mãos um livro com uma premissa interessante, muito criativa e, ao mesmo tempo, tão, tão simples que é impossível não se perguntar “Como ninguém tinha pensado nisso antes?”. Guerra do Velho, de John Scalzi, é assim. Ao pegar o livro e ler a frase na 4ª capa, nossa primeira reação é: “Uót? Como assim?!”. Mas é isso mesmo. Aos 75 anos, idosos são recrutados pelas FCD (Forças de Defesa Coloniais) – uma espécie de exército interestelar – que os deixa em condições de lutar, tanto para conquistar novos territórios (leia-se “planetas”) como para defender as colônias já existentes.

    “Eu odeio este lugar. Odeio que a mulher que viveu comigo durante 42 anos esteja morta, que em um minuto, numa manhã de sábado, ela estivesse na cozinha misturando massa dae waffle em uma tigela e me contando sobre a briga na reunião do conselho da biblioteca na noite anterior e, no minuto seguinte, estivesse no chão, contorcendo-se enquanto o derrame partia seu cérebro ao meio. Odeio o fato de suas últimas palavras terem sido: ‘Onde eu botei a porcaria da baunilha?’.”
    (pag.15)

    John Perry, o protagonista, ao completar 75 anos, se alista, assim como tantos outros. Era para ter se alistado junto com Kathy, sua esposa. Porém, ela faleceu em decorrência de um AVC e ele parte sozinho para essa nova etapa de sua vida. Lógico que nada é de graça. Para serem rejuvenescidos e estarem em condições de “ir à guerra”, os que se alistam assinam um contrato de dois anos de serviços à FCD (extensíveis a 10 anos em caso de guerra) e passam a ser considerados mortos na Terra, abrindo mão de todos seus bens. A forma como os futuros soldados são rejuvenescidos é um mistério. Aliás, quase tudo o que envolve as FCD é um mistério para quem está na Terra. Não há qualquer informação sobre sua forma de atuação, seu nível tecnológico ou como obtêm as tecnologias utilizadas. Enfim, ninguém sabe “quem são, o que comem, como se reproduzem”.

    Não pense você leitor que usei o humor de forma gratuita na frase acima. O livro é narrado em primeira pessoa por Perry. E o narrador tem um humor bem sarcástico, o que garante algumas boas gargalhadas durante a leitura. É possível afirmar que a obra é um “crossover” entre Tropas estelares (de Robert A. Heinlein) e Perdido em Marte (de Andy Weir). Há toda a temática envolvendo o treinamento dos futuros soldados, de Tropas estelares, somada ao sarcasmo do narrador, como no livro de Weir. Perry pode não ser um cientista tão nerd quando Mark Whatney, mas os comentários ácidos, muitas vezes politicamente incorretos, o poder de observação e a capacidade de pensar fora da caixa para resolver problemas são bastante semelhantes. Além disso, o fato de o narrador ser uma pessoa de 75 anos bem vividos, experiente e maduro dá uma perspectiva interessante sobre essa nova situação que ele e seus colegas septuagenários vivenciam.

    “Mas, por fim, vocês devem se importar porque são velhos o bastante para saber que devem. Esse é um dos motivos pelos quais as FCD selecionam idosos para se tornarem soldados. Não é porque vocês todos estão aposentados e são um peso para a economia. É também porque vocês viveram o bastante para saber que há mais na vida do que a própria vida.”
    (pag.169)

    O próprio autor afirmou que escreveu pensando no livro de Heinlein. Guerra do Velho não dá tanta ênfase à discussão sobre a ideologia militarista. Mas não deixa de falar a respeito. Há algumas boas discussões sobre a necessidade da existência dos militares, da própria FCD. E mesmo sobre a necessidade de entrar em guerra com os habitantes de outros planetas, do porquê de se ter como premissa que as outras civilizações são a priori inimigas dos humanos, do motivo de as FCD preferirem usar armas em vez de diplomacia.

    “— Malditas pessoas de carne e osso, ficando no caminhos dos ideais pacíficos — eu disse.”
    (pag.212)

    A porção sci-fi da história também não deixa a desejar. Boas ideias, bem factíveis tendo em vista o nível da tecnologia atual. A melhor sacada é a forma como rejuvenescem os recrutas. Soltei um palavrão (em tom de elogio, lógico) ao descobrir, junto com o narrador, o que iria acontecer. É, com certeza, um dos melhores capítulos do livro. E o que é mais interessante, totalmente compatível com o conhecimento científico que temos hoje. Não é magia, nem um salto de fé. É ciência. E o mesmo se aplica à concepção das armas, naves e raças alienígenas.

    É preciso destacar que Perry é um mestre na arte de segurar o leitor imerso na história. A narrativa é tão envolvente que, arrisco dizer, mesmo quem não é leitor assíduo de ficção científica se delicia com a narrativa. Indubitavelmente, é uma leitura difícil de largar. Mas engana-se quem pensa que o autor consegue isso colocando um “gancho” a cada final de capítulo. Nada disso. Há “ganchos”? Lógico. E nem poderia ser diferente. Como todo bom contador de histórias sabe, criar suspense é imprescindível para tornar a história interessante. Mas Perry consegue isso com um texto conciso, limpo, sem firulas. Vale agradecer ao tradutor, Petê Rissati, por manter a qualidade da voz narrativa. Uma constante nos comentários de quem já leu é que começar a leitura significa ler 50, 60 páginas sem perceber o tempo passar. O texto flui tão bem, o narrador conduz a história com tanta habilidade que mesmo nos trechos mais introspectivos, filosóficos até, o ritmo da narrativa se mantém.

    Se há algo que se possa chamar de defeito, é o fato de ser o primeiro livro de uma série. É possível lê-lo sem o compromisso de continuar? Sim, certamente. Mas há tanto a ser descoberto no universo criado por Scalzi, que é difícil se separar dos personagens. Queremos mais 🙂

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Crítica | O Predestinado

    Crítica | O Predestinado

    o predestinado - capa - dvd

    Clamando pelos clássicos filmes de ação focados na vingança, com um visual que mistura elementos noir e aspectos visuais e estilísticos steampunk, O Predestinado começa violento, com uma câmera inquisitiva, investigando os meandros do modus operandi de um exímio assassino que teria feito um mal terrível por seus rivais. Baseado em um conto de Robert A. Heinlein, a fita desconstrói alguns dos recursos típicos dos filmes sci-fi.

    O ofício detetivesco é o aspecto policial mais evidente na rotina do personagem anônimo de Ethan Hawke, ferido gravemente por queimaduras, causadas logo no início da fita, marcas que deixaram seu rosto deformado, e seu espírito, ainda mais desejoso por um revés. Logo, o agente retorna ao passado, quando atuava como um competente agente de campo, munido de dons físicos e de um arsenal vasto que faziam dele o espécime perfeito para o tipo de trabalho que exercia.

    Trabalhando como bartender, o personagem principal encontra uma contadora de histórias vivida por Sarah Snook, que, no balcão de bar, movida pelo tédio, começa a remontar sua história, como uma órfã tradicionalmente rejeitada por figuras superiores e por aqueles que deveriam ser seus amigos. A aflição de sua alma, a instabilidade emocional, o pouco traquejo social, além da capacidade de observação bastante avançada fazem dela a escolha ideal para o ofício de agente governamental, servindo a uma filial que controla ações no espaço.

    Em comum com as histórias que conta, a personagem antes chamada Jane focaliza as rejeições amorosas que sofre, repetindo o paradigma exaustivamente, fato que a torna ainda mais vulnerável às propostas indecentes do braço podre do governo, o qual faz experiências com seu corpo, dando-lhe uma chance de sucesso quase nula. Ao se aproveitarem da moça partindo de sua principal característica, a carência, de certa forma até amenizam-se os desmandos que a “organização” faz com ela, quase justificando a mudança clínica – e pouco ética – pós-parto. A mudança clínica realizada a desfigurou tanto que uma mudança de identidade se fazia necessária, algo semelhante processo ocorreu com o funcionário do bar, no preâmbulo do filme.

    Logo, o destino dos dois personagens se mostra cruzado tempo demais antes do encontro casual, interligado por uma questão que flerta com teorias da conspiração, sociedades secretas e clichês de ficção científica, mas apresentados de modo hermético e muito natural. As mudanças feitas no espaço-tempo fazem lembrar belas referências a filmes laureados, os recursos narrativos presentes em 12 Macacos, claro, com um significado bastante diferente, catastrófico em essência.

    O conceito de predestinação é corrompido, mostrado nos últimos momentos como algo literalmente arquitetado, e não como um talento natural. Cada gama desse destino construído é explicado de um modo esmiuçado, mas não exageradamente didático. A rede de acontecimentos faz com que a linha temporal se assemelhe a uma intrincada rede de eventos que devem ser seguidos, ou ao menos algo a se buscar, mesmo a custo da sanidade daqueles que viajam por tais vias.

    A ética e responsabilidade de quem tem acesso a informação são questões levemente discutidas pelo encontro do protagonista com o Detonador Sussurrante, que, além de escancarar um fato que era prenunciado há tempos, exibe outro paradoxo, no qual consiste em mais chamar atenção por sua moralidade do que pelo fato de reprisar as questões de enfrentamento das contrapartes.

    A questão fundamental da inexorabilidade da existência é mantida, mesmo com tantas idas e vindas no espaço-tempo, acrescentando um viés bastante filosófico ao competente filme de Michael e Peter Spierig, que conseguem reunir ação frenética a um roteiro cativante. Apesar da fórmula redundante em si e dos furos, não cansa, até por seu caráter de absoluta despretensão.

  • Resenha | Eu, Robô – Isaac Asimov

    Resenha | Eu, Robô – Isaac Asimov

    eu-robo

    Isaac Asimov (1920-1992), natural da Rússia, foi professor assistente de bioquímica na  Escola de Medicina da Universidade de Boston. A partir de 1958, passou a se dedicar à literatura e acabou se tornando um dos principais ícones da ficção científica, juntamente com Arthur C. Clarke e Robert A. Heinlein. Em Eu, Robô, publicado em 1950, Asimov desenvolve a relação entre humanos e robôs, inovando o modo de pensar os robôs e, ao mesmo tempo, se afastando da lógica de Frankstein (Mary Shelley) – em que uma criatura entra em conflito com o criador, por este tentar se aproximar de deus – muito comum à época.

    “Eu, Robô” é uma coletânea de nove contos interligados entre si, os quais perpassam pela história da robótica na humanidade pelos olhos de Susan Calvin, em 2057, uma psicóloga de robôs prestes a se aposentar que dedicou a maior parte da sua vida trabalhando para a empresa U.S. Robôs, fabricante cuja proposta era construir robôs para servirem os seres humanos para as mais diversas atividades. Todos eles estariam apoiados sobre três leis fundamentais da robótica (as quais foram criadas pelo próprio Asimov):

    1) Um robô não pode ferir um ser humano ou, por omissão, permitir que um ser humano sofra algum mal.

    2) Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens contrariem a Primeira Lei.

    3) Um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira e a Segunda Lei.

    Desde o primeiro conto, intitulado “Robbie”, somos levados à progressão da relação dos robôs com os seres humanos e a forma como essas três leis se aplicam de maneira intrínseca no intelecto desses seres. Neste primeiro momento temos uma história de Robbie, um robô mudo cuja atribuição é servir de babá para uma criança, mas sofre com a rejeição e preconceito da mãe da garota. Asimov nos apresenta uma humanidade temerosa por mudanças drásticas, de serem substituídos por máquinas em seus trabalhos, além de evidenciar uma metáfora para a discriminação de minorias.

    Deste momento em diante encontramos robôs que falam, que raciocinam sobre questões esotéricas e existenciais, com crises de estresse, que cuidam de linhas de produção inteiras e que projetam o futuro para a humanidade. O relato por parte de Susan, a qual se dedicou a compreender como pensam os robôs, evidencia sua afinidade maior com estas máquinas, pois acredita que estas são dotadas de bondade. Mesmo quando temos dúvida que um robô poderia se revoltar contra um ser humano (que seria um ser tecnicamente inferior), as três leis da robótica sempre se mostram superiores, refletindo dessa forma em uma ética por parte dos mesmos.

    No conto “Razão”, Cutie é um robô que possui uma incrível capacidade de raciocinar sobre as mais diversas coisas. Seu passatempo preferido é ler romances de ficção científica, pois lhe atrai ver a forma como humanos pensavam o futuro em um passado pouco tecnológico. Asimov praticamente se diverte consigo mesmo ao descrever Cutie, ainda mais visualizando esta realidade em meados de 1950 e considerando que até hoje o ser humano se fascina em sonhar e imaginar o futuro desconhecido.

    No último conto, quase como uma profecia, “O Conflito Evitável”,  a primeira lei da robótica atinge um nível mundial e as máquinas passam a cuidar dos seres humanos, evitando conflitos, guerras e perpetuando nossa existência. No fim, os seres humanos dependem das máquinas para sua existência.

    “Eu, Robô” é uma ficção científica intrigante que leva o leitor a pensar, juntamente com a robô-psicóloga Susan Calvin, a forma como os robôs pensam, sua evolução e a forma como se tornaram cada vez mais participativos no seio da sociedade. O livro é mais do que uma mera obra de ficção científica. É um ensinamento, uma experiência filosófica e uma obra de reflexão para a humanidade.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.