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  • Crítica | A Maldição da Casa Winchester

    Crítica | A Maldição da Casa Winchester

    Em San Jose, na Califórnia, está localizada uma casa considerada mal-assombrada e que com o passar dos anos se tornou atração turística em função dos mistérios que preenchem seus cômodos. A residência foi propriedade de Sarah Winchester, esposa do empresário da indústria de armamentos, William Wirt Winchester. E é baseado na história dessa curiosa construção, que o filme A Maldição da Casa Winchester, dos irmãos Michael e Peter Spierig, se concentra.

    É sempre difícil encontrar algo do gênero terror que mantenha a qualidade de sua construção do enredo, mas se o objetivo de quem procura por filmes assim é sentir alguns sustinhos na sala escura do cinema, a satisfação é garantida facilmente. Para criar o clima propício não é necessário inserir criaturas horripilantes, mas elaborar situações de tensão por meio dos clichês que nos assustam desde a infância.

    Esse filme consegue fazer isso a partir do momento em que o psiquiatra Eric Price (Jason Clarke) entra na residência para elaborar um relatório sobre o estado de saúde da viúva Winchester (Helen Mirren), a fim de declarar se ela está apta a continuar administrando a mais importante empresa fabricante de armas dos EUA. Eric é bem recebido por empregados da mansão, com muitos cômodos de madeira – o que já traz aquela sensação de desconfiança que só uma casa antiga consegue provocar, por meio de estalos muito bem explicados pelo estudo científico da dilatação térmica dos materiais, mas que a irracionalidade insiste em apontar para outras causas.

    Antes de chegar à casa, as cenas são cheias de fotografias de paisagens lindas, mostrando como era a vida entre o final do século XIX e início do século XX. Eric sai de sua vida entediante –embora regada ao uso de uma droga alucinógena e o convívio rotineiro com prostitutas para obter o prazer necessário que o faça esquecer de seu passado – para assumir a missão que lhe garantirá o pagamento atrasado de sua hipoteca.

    Todos os elementos clichês do gênero então se apresentam: uma senhora grisalha e misteriosa fala aquilo que ninguém acredita no princípio, mas que aos poucos se torna verossímil; uma criança passa a se comportar de maneira estranha, com olhos que mudam de cor e feição que varia entre o angelical e o diabólico; a mãe dessa criança é a mulher jovial que precisa ser salva por um homem corajoso; e o homem corajoso, que tem a coragem e inteligência para solucionar os mistérios.

    Trata-se de uma obra composta por tudo que já estamos cansados de ver, com um enredo cheio de falhas, mas com diversão garantida para quem ainda reage às armadilhas dos filmes ruins de terror.

    Texto de autoria de André Luiz Cavanha.

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  • Crítica | Jessabelle: O Passado Nunca Morre

    Crítica | Jessabelle: O Passado Nunca Morre

    Jessabelle 1

    Contando com uma história de mistério, e uma edição que em virtude do estilo deixa a fita ainda mais confusa, Jessabelle: O Passado Nunca Morre mostra a personagem-título (Sarah Snook, de O Predestinado) tentando se adequar a um novo estilo de vida, como cadeirante, após um trágico acidente, reunindo alguns dos temas mais comuns de contos e romances de terror. A impossibilidade de se locomover constitui-se como um paradigma comum, além de inserir Jessie em uma posição desagradável de fragilidade.

    A mudança forçada para a casa de seu pai faz a protagonista ter assombros noturnos se manifestando, em um primeiro momento, de maneira bastante tímida, em cenas curtas nas quais um filtro esverdeado prevalece, curiosamente aludindo a tons escuros, que não o preto, exatamente para referenciar a deficiência passageira que a paciente sofre.

    Em um dos momentos de solidão, Jessie acidentalmente encontra uma fita de vídeo, filmada no final dos anos 1990, põe-a para rodar e vê sua falecida mãe. Assistir ao filme se mostrou tão acintoso que seu perturbado pai, Leon (David Andrews), lhe dá uma bronca, proibindo-a de mexer em quaisquer lembranças da mulher. Isso faz com que Jessie finalmente tenha um sentimento real após o acidente, já que, até então, não possuía qualquer expressão, nem mesmo de tristeza ou medo. Como uma anestesia que lhe foi dada após o infortúnio.

    A experiência de Kevin Greutert como diretor conta como um auxílio à aura de terror prevista no roteiro de Robert Ben Garant, ainda que a união de ambos seja bastante improvável, já que a filmografia pregressa dos dois cineastas muito se diferenciava: Greutert dirigiu os dois últimos filmes da série Jogos Mortais – obras que explicam sua predileção por contar histórias no estilo home video – enquanto Garant roteirizava produções de comédia ácida, que guardam vagas semelhanças com partes essenciais do texto assustador de Jessabelle.

    As circunstâncias atemorizantes envolvem azares comuns, como os ligados a superstições tradicionais, como a quebra de espelho, solidão forçada e eventuais aparições de figuras noturnas, que ora são encaradas como delírio do álcool, ora como objetos do sonho. O que torna irritante a fita é a série de coincidências que formam o cotidiano da protagonista, permitindo assim que a paranoia tome conta de sua mente e torne conveniente a trama de espanto.

    A inteligência do argumento está em destacar a duplicidade de alma através do objeto que cerca a personagem principal. O cuidado em revelar aos poucos a trama vai desde momentos óbvios, como a brincadeira da alcunha de Jessabelle com a figura bíblica da rainha pagã Jezabel – que, segundo os escritos, trouxe uma grande parcela de paganismo à tribo israelita – até indícios de sacrifícios humanos, com investigações da parte de seu amigo de infância (e posterior capacho) Preston (Mark Webber), que também se vê envolvido pela entidade que persegue a moça.

    Os momentos finais são demasiadamente explícitos, o que pesa contra o suspense que deveria permear o filme. A exploração dos temas, realizada de modo tão direto nos últimos momentos, condiz com todo o caráter sensacionalista que o filme mostrou, uma crueldade dentro das ilusões/visões imerecida para os personagens que sofrem tais destinos, evocando tradições religiosas bastante antigas. Dessa forma, o uso dessa temática mostra que a justiça normalmente se introduz através de sacrifícios de inocentes, em tramas de vingança que não necessariamente buscam justiça, apesar de aludir a isso em algum nível. Jessabelle consegue ter momentos bons o suficiente para se separar da patuleia comum dos filmes de terror atuais.

  • Crítica | O Predestinado

    Crítica | O Predestinado

    o predestinado - capa - dvd

    Clamando pelos clássicos filmes de ação focados na vingança, com um visual que mistura elementos noir e aspectos visuais e estilísticos steampunk, O Predestinado começa violento, com uma câmera inquisitiva, investigando os meandros do modus operandi de um exímio assassino que teria feito um mal terrível por seus rivais. Baseado em um conto de Robert A. Heinlein, a fita desconstrói alguns dos recursos típicos dos filmes sci-fi.

    O ofício detetivesco é o aspecto policial mais evidente na rotina do personagem anônimo de Ethan Hawke, ferido gravemente por queimaduras, causadas logo no início da fita, marcas que deixaram seu rosto deformado, e seu espírito, ainda mais desejoso por um revés. Logo, o agente retorna ao passado, quando atuava como um competente agente de campo, munido de dons físicos e de um arsenal vasto que faziam dele o espécime perfeito para o tipo de trabalho que exercia.

    Trabalhando como bartender, o personagem principal encontra uma contadora de histórias vivida por Sarah Snook, que, no balcão de bar, movida pelo tédio, começa a remontar sua história, como uma órfã tradicionalmente rejeitada por figuras superiores e por aqueles que deveriam ser seus amigos. A aflição de sua alma, a instabilidade emocional, o pouco traquejo social, além da capacidade de observação bastante avançada fazem dela a escolha ideal para o ofício de agente governamental, servindo a uma filial que controla ações no espaço.

    Em comum com as histórias que conta, a personagem antes chamada Jane focaliza as rejeições amorosas que sofre, repetindo o paradigma exaustivamente, fato que a torna ainda mais vulnerável às propostas indecentes do braço podre do governo, o qual faz experiências com seu corpo, dando-lhe uma chance de sucesso quase nula. Ao se aproveitarem da moça partindo de sua principal característica, a carência, de certa forma até amenizam-se os desmandos que a “organização” faz com ela, quase justificando a mudança clínica – e pouco ética – pós-parto. A mudança clínica realizada a desfigurou tanto que uma mudança de identidade se fazia necessária, algo semelhante processo ocorreu com o funcionário do bar, no preâmbulo do filme.

    Logo, o destino dos dois personagens se mostra cruzado tempo demais antes do encontro casual, interligado por uma questão que flerta com teorias da conspiração, sociedades secretas e clichês de ficção científica, mas apresentados de modo hermético e muito natural. As mudanças feitas no espaço-tempo fazem lembrar belas referências a filmes laureados, os recursos narrativos presentes em 12 Macacos, claro, com um significado bastante diferente, catastrófico em essência.

    O conceito de predestinação é corrompido, mostrado nos últimos momentos como algo literalmente arquitetado, e não como um talento natural. Cada gama desse destino construído é explicado de um modo esmiuçado, mas não exageradamente didático. A rede de acontecimentos faz com que a linha temporal se assemelhe a uma intrincada rede de eventos que devem ser seguidos, ou ao menos algo a se buscar, mesmo a custo da sanidade daqueles que viajam por tais vias.

    A ética e responsabilidade de quem tem acesso a informação são questões levemente discutidas pelo encontro do protagonista com o Detonador Sussurrante, que, além de escancarar um fato que era prenunciado há tempos, exibe outro paradoxo, no qual consiste em mais chamar atenção por sua moralidade do que pelo fato de reprisar as questões de enfrentamento das contrapartes.

    A questão fundamental da inexorabilidade da existência é mantida, mesmo com tantas idas e vindas no espaço-tempo, acrescentando um viés bastante filosófico ao competente filme de Michael e Peter Spierig, que conseguem reunir ação frenética a um roteiro cativante. Apesar da fórmula redundante em si e dos furos, não cansa, até por seu caráter de absoluta despretensão.