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  • Os Dinossauros e o Cinema – Parte 3

    Os Dinossauros e o Cinema – Parte 3

    Dando continuidade a nossa série de textos sobre os dinossauros no audiovisual, em 1991 estreou Família Dinossauro, que retratava a história de Dino, seus três filhos, esposa e sogra, além de seu emprego maçante, que só exerce para ter como pagar suas contas, onde basicamente recebe para desmatar uma floresta. A comédia mostra os dinossauros como seres inteligentes antes dos humanos, e como os homens depredam tudo, inclusive levando a existência para algo que em breve deve se findar. A série contou com 43 episódios, e foi criada por Michael Jacobs e Bob Young, em parceria da Disney com a The Jim Henson Company. Seu fim é discutido até hoje, por conta do cunho ecológico e o denuncismo existente.

    Em 1993, tudo mudou com a chegada do clássico moderno de Steven Spielberg: Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros. Nos primeiros minutos do filme é mostrado um dinossauro comendo um dos funcionários do parque, deixando claro que apesar de ser voltado para crianças, ainda existe elementos de terror no longa. Na adaptação, há um enfoque em Alan Grant (Sam Neil), e não em Ian Malcolm (Jeff Goldblum) como no livro de Michael Crichton. Ao tocar o tema musical de John Williams é impossível ficar indiferente, da mesma forma que ocorre com a primeira cena em que o brontossauro aparece.

    A continuação, também baseada em um livro de Michael CrichtonO Mundo Perdido: Jurassic Park começa na Ilha Sorna, chamado de Sítio B. Os dinossauros deveriam ter morrido, por conta da necessidade de lisina, a que foram acometidos quando criados, mas sobreviveram. Hammond (Richard Attenborough) convoca Malcolm, para liderar uma equipe que fotografará a ação dos dinossauros, provando que eles estão vivos, basicamente para pedir ajuda governamental na preservação do local, já que até a sua empresa, a Ingen, está prestes a ser retirada do seu poder. Malcolm se recusa, e acusa John de ter mudado de capitalista para ambientalista em 4 anos, no entanto, acaba mudando de ideia ao saber que sua namorada Sarah (Julianne Moore) está na Ilha.

    A primeira cena do filme mostra um incidente com uma garotinha, a filha de um magnata, e essa situação foi usada para tirar o velho Hammond do comando de sua empresa, os investidores mandaram um grupo de caça, e a partir daí o filme ganha uma licença poética para se tornar um épico de ação, com mais cenas de chuva (como o primeiro), ações com o filhote de tiranossauro e sequências maravilhosas. Por mais que o filme tenha deixado de ser fantasioso  para os núcleos familiares, esse é um roteiro que fala de clã e da necessidade de se sentir pertencente a um grupo.

    O Mundo Perdido: Jurassic Park, de 1997, dirigido por Steven Spielberg

    A robótica Stan Winston garantiu mais cenas com os T-Rex em detalhes grandiosos, e o final que emula o romance de Arthur Conan Doyle é sensacional. É lamentável a recepção ruim que boa parte do público teve com este filme, na verdade ele lembra bastante o exercício que James Cameron fez com duas continuações que comandou, Aliens e O Exterminador do Futuro 2, mudando de Terror para Ação em ambos. Aqui obviamente que se mudou de outros gêneros, de fantasia e aventura para uma ação mais frenética, e ainda contém momentos bastante épicos, diferente demais do que aconteceria em Jurassic Park 3, comandada por Joe Johnston, lançado em 2001.

    A história se passa na mesma Ilha Sorna, e Alan Grant (Sam Neil) volta, enganado por dois empresários. Talvez o maior problema seja a mudança do antagonismo principal, já que o Espinossauro apesar de ser maior e mais agressivo, claramente não tem o mesmo carisma do outro dinossauro, e esse “erro” foi de certa forma repetido em Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros, ainda que ali tenha sido melhor explorado. Ainda assim, o filme de Johnston tem seus momentos. A tensão é bem construída e fora as piadinhas com os personagens que contratam Grant, é divertido acompanhar o protagonista do primeiro filme novamente.

    Ainda em 1993, Steven Spielberg produziu um longa animado, através da Amblin Entertainment, Os Dinossauros Estão de Volta, uma animação divertida sobre quatro dinossauros que viajam pelo tempo e fazem amizade com duas crianças, que mais tarde, tentam ajuda-los eles a fugirem para o seu lugar de origem. A animação é comandada por Dick ZondagRalph ZondagPhil NibbelinkSimon Wells e cada um deles esteve envolvidos em obras seminais, desde Balto e Fievel, até o filme da Disney Dinossauro. O longa explora o lado lúdico dos Dinossauros, tornando as figuras de Jurassic Park algo mais próximo do universo infantil.

    O filme que tenta traduzir o jogo Super Mario Bros também tem dinossauros. A premissa inclusive trata disso, mostrando que o meteoro que teria matado os dinossauros, na verdade divide a realidade em duas, e Koopa (ou Bowser) vivido por Dennis Hooper tenta raptar a princesa de sua dimensão, Daisy (Samantha Mathis), que seria a chave para unir os dois mundos. Daisy é arqueóloga, o que a faz se aproximar da ideia dos dinossauros. Na realidade onde Koopa vive, os dinossauros evoluem para humanos, e o mundo é desolado, um deserto que só tem uma cidade grande, que é Koopa City, onde o vilão é o soberano. O boneco que faz o Yoshi é até bem feito, e foi executado antes de Jurassic Park, e ele até usa a língua, como nos jogos, mas a transformação do inimigo em T-Rex é risível, e claramente é uma vergonha para todo elenco ter participado desse filme, inclusive para Bob Hoskins e John Leguizamo, que fazem Mario e Luigi.

    Em 1993, Annabel Jankel e Rocky Morton dirigiram a terrível adaptação Super Mario Bros

    A partir de 1993, houve uma trilogia produzida por Roger Corman, chamada de Carnossauro, em que basicamente se mostrava uma figura reptliana que ao consumir carne ia crescendo com o tempo. Em 1995, Louis Morneau dirigiu a continuação, Carnossauro 2. Esta versão tem 82 minutos, e demora-se demais para finalmente aparecer o tal vilão, com mais de meia hora decorrido de filme, sendo esse uma figura parecida com um velociraptor terrivelmente mal feito. Esse segundo capítulo é monótono, com praticamente um cenário fechado que tenta reunir diversos clichês. Há um tiranossauro que aparece no final, basicamente para relembrar a proximidade dessa saga com Jurassic Park.

    Somente em Carnossauro 3, ou Criaturas do Terror como foi chamado no Brasil, existe uma explicação melhor de como funcionam os carnossauros, que emulam características de algumas espécies do animal. Esse terceiro longa é basicamente igual aos anteriores, só estava lá para tentar angariar pessoas que queriam mais aventuras como as de Spielberg. O curioso é a que a trilogia foi concluída em dezembro de 1996, antes mesmo do lançamento de O Mundo Perdido: Jurassic Park, em maio de 1997.

    Em 1994, levando em conta o sucesso não só de Jurassic Park mas também de Família Addams (1992), foi realizado Os Flintstones: O Filme, com um elenco repleto de astros e bons atores. A adaptação do desenho clássico de 1960 ocorreu em uma parceria entre a Amblin e a Hanna-Barbera e o escolhido para a tarefa de direção foi Brian Levant. A história começa com o plano maligno de um homem ganancioso, e logo depois mostra-se uma cena que faz lembrar a abertura clássica, com o apito da pedreira tocando e Fred (John Goodman) descendo e encontrando seu amigo Barney (Rick Moranis). A primeira cena do filme mostra um brontossauro trabalhando. Nesse momento é claramente um robô que faz a cena, mas quando se trata de mostrar o pet da família, Dino, sua realização é toda por  computação gráfica, e os efeitos são quase perfeitos, aliás toda a atmosfera que Levant traz é muito condizente com a do seriado animado, desde as gags visuais, até a amizade inabalável de Fred e Barney.

    O começo do filme, as caracterizações e sacadas são muito boas, mas a ideia central do roteiro e o final carecem de uma qualidade maior, semelhante ao resto, mas ainda assim é um filme bem digno, em especial se comparado a outras animações baseadas em desenhos, ainda que Dino merecesse um pouco mais de participação na trama, como era no desenho. Em 2000, lançaram Os Flintstones em Viva Rock Vegas, que é uma continuação/prequel também conduzida por Levant, e que não leva praticamente ninguém do elenco original, exceto um ou outro figurante, e apesar de tudo, não chega a ser um filme terrível, embora perverta boa parte dos bons conceitos do filme anterior, em especial no Barney de Stephen Baldwin, que é um imbecil.

    Cena de Os Flintstones: O Filme, de 1994, adaptação de Brian Levant do desenho animado da Hanna-Barbera

    Já em 1995, Jonathan Betuel dirigiu Meu Parceiro é um Dinossauro, e na trama mostra um futuro alternativo, onde dinossauros foram recriados por engenharia genética, e vivem com os humanos. A policial Katie Coltrane (Whoopi Goldberg) ganha um novo companheiro, chamado Theodore. O visual dos animais pré-históricos lembram muito o utilizado em Família Dinossauro, mas o filme em si tem quase nenhuma graça. Isso foi em 1995, em 1999 mais uma vez O Mundo Perdido foi adaptado, agora para a televisão. Durou três temporadas, tendo mais de sessenta episódios. Os efeitos evidentemente deixavam a desejar, mas era uma diversão juvenil descompromissada, em especial para as crianças brasileiras que assistiam na Record. Obviamente que tinha um certo apelo sexual, em especial com a personagem Veronica (Jennifer O’Dell), que parecia um Tarzan feminina, sempre de biquíni de tanga.

    1998 foi a vez do telefilme Gargantua, sobre uma ilha na Polinésia, onde ocorrem atividades sísmicas estranhas, incluindo diversos afogamentos, que alegam ser obra de uma espécie de anfíbio, aparentemente, de tamanho gigante. As criaturas se assemelham demais a dinossauros, mas são mostrados com efeitos visuais terríveis, e o filme não passa de uma Sessão da Tarde terrivelmente mal pensada.

    Em 2000, a Disney lançou Dinossauro, uma animação divertida e aventuresca, com um caráter muito parecido com o de Rei Leão. Lançado para TV, Dinotopia é uma minissérie conduzida por Michal Bramblia, o mesmo diretor de O Demolidor filme com Sly e Wesley Snipes. Na trama, conhecemos a história de dois irmãos que viajam com seu pai e acabam parando em um lugar estranho, onde homens e dinossauros vivem em harmonia e parceria. O especial tenta ser lúdico, mas tem uma história enfadonha e que causa bastante sono em quem a acompanhou, passava aqui no Brasil no SBT e contém um elenco cheio de rostos conhecidos, como David  Thewlis, Colin Salmon, Jim Carter, Wentworth Miller, Geraldine Chaplin e outros, mas tanto o elenco quanto os dinossauros são bem sub-aproveitados, já que não há quase conflito nenhum e o discurso excessivamente politicamente correto também faz todo o drama em volta da minissérie desimportante.

    Dinotopia, minissérie de 2002, que propunha uma sociedade onde humanos e dinossauros conviviam pacificamente

    Como parte dos filmes e séries mais recentes, pode-se destacar o terrível O Som do Trovão, um longa dirigido por Peter Hyams. A história é baseada levemente em um conto de Ray Bradbury, mas sua execução é ruim em um nível inaceitável. Uma empresa presta serviços de viagem no tempo a quem pode pagar muito, levando os endinheirados ao passado para matar um dinossauro que já morreria sem interferência dos mesmos, o problema é que essas viagens tem de ocorrer muito protocolarmente, sem alteração nenhuma, se não todo o futuro mudará.

    A ideia, apesar de um pouco absurda, não é de todo mal, mas a execução… a maior parte dos cenários parece ter sido retirada de um show de horrores, se assemelhando demais as fitas de ficção cientifica da Asylum ou do canal Syfy, e o filme de 2005 ainda possui um elenco recheado de atores que em breve estariam em alta ou que já estiveram, como Ben Kingsley, David Oyelowo, Catherine McCormack, Corey Johnson. Ainda assim, o maior enfoque parece mesmo o de fazer um dos efeitos de computação gráfica mais mal feitos da história recente do cinema. Sequer o dinossauro que aparece é risível e não causa espécie em quem está vendo, completamente esquecível.

    Em 2008, houve uma outra versão do livro de Jules Verne, Viagem ao Centro da Terra: O Filme é conduzido por Eric Brevig, mostrando o (na época) astro Brendan Fraser vivendo o cientista malfadado Trevor Anderson, tentando provar suas teorias. Já aparecem dinossauros no início do filme, em uma espécie de epilogo, antes mesmo da ação começar, mostrando o que aconteceu a Max (Jean Michel Paré), irmão do personagem principal, que desapareceu. A vida do sujeito é bagunçada e ele recebe a visita de seu sobrinho, Sean (Josh Hutcherson),e ele vem junto com uma caixa de pertences do pai de Sean.

    O livro de Verne existe no universo do filme, ou seja, serve de inspiração para os personagens, além de obviamente ser baseado no romance. As anotações em uma cópia barata do livro os levam a um novo paradeiro, decidindo viajar até os pontos do mundo onde a pesquisa dele levou. Há todo um grupo de fãs do escritor que acreditam que o que o autor falava era realidade. As cenas de computação gráfica usada nos dinossauros são fraquíssimas, em especial, envolvendo um T-Rex, o que é no mínimo lamentável. Em 2012 houve uma continuação, Viagem 2: A Ilha Misteriosa, em que se mudou o diretor e Fraser foi trocado The Rock, mas esse não possui dinossauros, e é baseado em outra obra de Verne.

    Em A Era do Gelo 3, ainda sob a tutela do diretor Carlos Saldanha, Sid, Diego e Manny se deparam com seres que aparentemente já estariam extintos. Lançado em 2009, o filme era ainda um exemplar decente da franquia, antes de se tornar totalmente desprezível. O longa mostra a preguiça encontrando três ovos, que se revelam ser de tiranossauro. O mamute inclusive cita que os T-Rex deveriam estar extintos, mas há um vale onde os dinossauros vivem em paz e isolados. O problema seria dali para frente, onde até a suspensão de descrença ultrapassaria seus limites.

    A Era do Gelo 3 (2009), de Carlos Saldanha, introduziu dinossauros na franquia

    Ainda em 2009, como parte da tentativa de fazer filmes remakes de séries famosas, Brad Silberling conduziu O Elo Perdido, tendo Will Ferrell no papel principal. O filme pega emprestado a mitologia do seriado para ser mais um show de Ferrell, e apesar de fazer muita piada com os clichês do programa, é extremamente reverencial, e repleto de piadas que desconstroem o conservadorismo típico das comédias típicas dos anos 1990/2000. Seu final é um pouco complicado, e o filme não deu o retorno esperado ao estúdio, mas é bem mais que um filme bobo. Bastante subestimado, na verdade.

    Caminhando com Dinossauros foi um filme em 3D de 2013, dirigido por Barry Cook e Neil Nightingale. Ele conta com uma introdução mostrando humanos chegando a um lugar esmo, para logo depois mostrar animais falantes, que recontam histórias com dinossauros do período cretáceo, que são obviamente dublados, contendo voz de famosos como Leguizamo e Justin Long. O filme é baseado num programa de TV que fez sucesso, e tem um tom lúdico, mas não fez muito sucesso além do público infantil. Visualmente o filme é interessante, mas a historia é boba e superficial, sem grandes atrativos para o público mais velho.

    Assim também é o filme da Pixar O Bom Dinossauro, de Peter Sohn. A história acompanha o frágil Arlo, um pequeno filhote de apatossauro que vive com a sua família, que por sua vez, cultiva uma fazenda de leguminosas. Nessa realidade, o asteróide que teria acertado a Terra desviou do planeta, dessa forma homens e dinossauros coexistiram. Apesar de lidar com sentimentos de perda e orfandade, em comparação com outros filmes da Pixar, o longa é fraco, rivalizando com Carros, suas sequências e Procurando Dory, como produto menos elogiável.

    Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros deu um novo fôlego para a franquia e para a exposição dos dinossauros no cinema, e apesar de não ter sido um primor de história, ajudou a tornar o assunto popular novamente. Nesse meio tempo, a Asylum e outras companhias semelhantes fizeram diversos filmes de baixo orçamento com dinos. Um pior que o outro. Depois de Jurassic World, de Colin Trevorrow, a continuação que J.A. Bayona trouxe, em Jurassic World: O Reino Ameaçado ajuda a resgatar um tipo de cinema como os das matinês, onde o espectador ia ávido por assistir filmes onde o escapismo imperava e os personagens eram afortunados unicamente por terem uma existência capaz lidar com acontecimentos grandiosos, que fogem do ordinário, e tudo por conta do encontro com criaturas de proporções dantescas, o mesmo fascínio que encantou Doyle, Burroughs, Crichton, O’Brien e Spielberg, além é claro do espectador, que certamente age como as crianças que encontraram o brontossauro na árvore, no clássico Jurassic Park, se encantando com as criaturas que já reinaram sobre a Terra.

    Leia: Parte 1 | Parte 2.

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  • Resenha | Jurassic Park – Michael Crichton

    Resenha | Jurassic Park – Michael Crichton

    Em 1990, o escritor e diretor de cinema Michael Crichton (Devoradores de Mortos) publicaria sua obra mais famosa e seminal, misturando elementos de fantasia e terror com uma pitada de teoria do caos e discussões sobre ética na biologia. Jurassic Park, já em sua introdução destaca o avanço biotecnológico de manipulação genética que ocorria no século XX, tudo para tornar mais plausível o seu conto fantástico que tentava tornar congruente a habitação mútua do mundo entre homens e os seres pré-históricos.

    Os capítulos começam sempre com uma citação de personagens, a chamada primeira iteração é aberta com uma frase de Ian Malcolm – o cientista que no filme Parque dos Dinossauros foi interpretado por Jeff Goldblum – em que diz: nos primeiros desenhos da curva fractal, poucas pistas da estrutura matemática subjacente serão vistas. Há também uma maior descrição da geografia das ilhas no livro, onde se fala abertamente em quais localidade ocorrem os eventos dentro do parque e nos arredores, coisa que fica um pouco confusa nos dois primeiros filmes de Steven Spielberg.

    O livro já começa agressivo, descrevendo um bocado de violência e já denotando um pouco do que Crichton esperava de seu romance. Aliás, há uma timidez atroz do texto em chamar as criaturas de qualquer coisa que não lagartos, uma vez que as primeiras criaturas descritas nessas páginas são bastante pequenas. Além disso, a Costa Rica era desmatada, o que provocava um êxodo de animais, o que propiciava também a chegada de novos moradores, os tais lagartos, que também eram acompanhados de outras preocupações, como a dos vírus que acompanham os lagartos, prejudiciais inclusive para os humanos.

    Ainda falando de localidades, o parque fica localizada na Ilha Nublar – ou Isla Nublar – um espaço arrendado pela Internacional Genetics Technologies Inc (ou simplesmente Ingen), de Palo Alto. Apesar da nomenclatura, o lugar não é exatamente uma ilha, segundo o livro, e sim um monte submarino, uma elevação de rocha vulcânica no fundo do mar, que possui géisers e outros fenômenos naturais. Obviamente, este é um lugar fictício.

     A leitura do material de Crichton é muito simples e dinâmica, seu estilo é muito comparado ao de Dan Brown, embora ele claramente tenha mais conteúdo a discutir e estilo literário. A apresentação dos personagens é bastante rica e quando eles aparecem têm uma recepção calorosa, típica de rockstar, em especial claro, Ian Malcolm, o matemático que brinca com o estereótipo de James Bond.

    As conversas entre Malcolm e o doutor Doutor Wu (que voltaria na franquia Jurassic World, do cinema) é bem detalhada quanto aos problemas de decomposição de fezes das criaturas, uma vez que por elas terem sua extinção a milhões de anos, as bactérias que faziam suas necessidades se decomporem também não existem mais, de modo que se cria um problema de logística ai. Nesse trecho também há uma discussão de matemático com o paleontólogo Alan Grant, que explica que os velociraptors tem uma conjuntura de DNA que mescla elementos de répteis na aparência e aves nos movimentos, fato que faz deles figuras muito imprevisíveis. Quando Wu – ou qualquer outro funcionário do parque – é indagado sobre os raptors a resposta é sempre a mesma, de que há total controle sobre as criaturas, de que elas não poderiam viver fora do cativeiro e de que há total vigilância sobre os animais, exceto por alguns filhotes, esses também, inofensivos e é nessa margem de erro que fica a dúvida de Malcolm e consequentemente, do leitor também, que é conduzido pelo personagem a sentir isso.

    Após discutir com o idealizador do parque John Hammond e outros que trabalham no espaço, Malcolm levanta a possibilidade de os dinossauros estarem se reproduzindo sem controle, fato que segundo Wu e Hammond seria impossível, já que eram todas fêmeas, mas como diz o discurso de Malcolm – Porque a história da evolução é de que a vida escapa a todas as barreiras. A vida se liberta, a vida se expande para novos territórios. Dolorosamente, talvez até perigosamente mas a vida encontra um jeito – e a preocupação dos investidores não era de que a população aumentasse e sim diminuísse.

    A Quarta Iteração começa frenética, quando os visitantes se deparam pela primeira vez com o Tiranossauro Rex, com a criatura percebendo que em meio a chuva, a cerca eletrificada deixou de fazer efeito. Crichton cria muita expectativa no leitor, e seu modo de lidar com elementos de thriller e suspense são muitíssimo bem elaborados, acompanhando atenciosamente os fatos narrados, deixando o leitor bastante apreensivo, em especial no embate entre Grant e o T-Rex, tanto no momento em que o doutor percebe que se ficar imóvel não será detectado, como também quando é arremessado longe pelo animal, onde mesmo com dor pode sentir a atmosfera ao seu redor mudar, em uma sensação semelhante a de quem está morrendo, ou ao menos é o que se passa em sua cabeça. De maneira bem simples essas sensações são passadas a quem lê, e quase se pode viver esses acontecimentos.

    Se discute nos lados internos do parque a Teoria do Caos, que Malcolm tanto defende e estuda, e o engenheiro chefe Ray Arnold (interpretado por Samuel L. Jackson no longa), diz que ela não se aplicaria ao parque porque os dinossauros não são máquinas ou dados de computador. Por ter sua gênese artificial isso é discutível, mas o que Malcolm explica é que a teoria do caos não necessariamente afeta só seres não vivos, mas também as curvas que a natureza tem, em especial se há alguma interferência externa. Mais tarde, isso seria evoluído, como visto em Jurassic World – Reino Ameaçado, em que a natureza tende a pressionar o rumo da vida ao status quo novamente, ou seja, tende a extinguir o que deveria permanecer extinto e claramente a ação humana pode alterar isso, possivelmente de maneira só temporária, e esses conceitos todos estão presentes no livro de Crichton

    As principais diferenças entre o material literário e a adaptação de Spielberg moram na persona de Malcolm, que talvez seja o mais próximo no livro de um protagonista – isso cabe no filme mais ao Grant, de Sam Neill – e também a questão da vida útil dos dinossauros, que não conseguiriam ter uma sobrevivência maior fora de ambiente controlado, obviamente para poder ter possibilidade de mais continuações. Sobre essas diferenças, há uma boa entrevista dentro da edição recente que a Editora Aleph fez, onde o autor fala sobre como foi difícil o processo de transformar o romance num roteiro, já que para fazer o livro, ele precisou abrir mão de algumas ideias, daí teve que revisitar seus esboços, resgatar ideias e propor novos rumos para a trama que seria filmada.

    Há um sub-capítulo, chamado Destruindo o Mundo, ele é dos mais curtos, tem apenas três páginas, mas tem nele das melhores discussões do livro, com Malcolm dando uma bronca em Hammond que teme que suas criaturas destruam o mundo. Para o matemático, o magnata é arrogante, acreditando que seus animais artificiais são capazes de dar fim a um planeta que sobrevive a bilhões de anos e que suas intervenções não seriam capazes de mudar isso agora.

    Grant comemora a queda da população do parque, uma vez que a cadeia alimentar começa a se estabelecer, para ele, o chamado equilíbrio jurássico faz um bem para o local e também para as populações dos dinossauros, uma vez que a natureza segue seu curso natural, ou ao menos tenta se adequar dessa forma. Sua conclusão de que os animais que saem dali não estão fugindo, e sim migrando é acompanhada de um sentimento bastante singelo.

    O desfecho do livro não tem uma cena icônica como a briga entre os velocirraptors e T-Rex, mas ainda assim é bem fechado e condizente com o restante da leitura, com uma esperança de que a vida prosseguirá para aquelas criaturas, sem a exploração predatória do homem, mesmo daqueles munidos de boas intenções como era o idealista John Hammond. No epílogo estão todos os envolvidos no incidente Ingen prisioneiros do governo costa riquenho, ainda que sejam tratados de modo suave, e são obviamente liberados depois, já que há dinheiro envolvido, ou seja, mesmo com o rumo das criaturas sendo controlado pela Natureza, a linguagem do capital ainda prossegue universal para quem vive aquele mundo.

    A ideia de Crichton em filosofar não sobre o que o homem deve ou não saber, mas sim sobre fatos que o homem simplesmente não saberá como saber é muito bem construída, e seu livro consegue aprofundar essa discussão ainda mais que o belíssimo filme que Spielberg conduziu. Ele fala abertamente que sua ideia seria de fazer um filme, mas que ficaria caro demais e portanto preferiu escrever um livro, que obviamente deu origem a um dos produtos  hollywoodianos que fez história, exatamente por ter um grande aporte em questões técnicas de efeitos digitais. Independente até das obras do cinema, Jurassic Park é um romance muito divertido, com personagens carismáticos, reais e com um clima aventuresco muito bem estabelecido desde o seu principio.

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  • Crítica | Westworld: Onde Ninguém Tem Alma

    Crítica | Westworld: Onde Ninguém Tem Alma

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    Começando de modo bastante apelativo, emulando uma propaganda setentista de um parque temático, Westworld – Onde Ninguém Tem Alma tem em suas primeiras cenas uma explicação de como funciona a Delos, um lugar onde crianças, adultos e velhos pagam para ter a experiência do cinema em suas vidas tridimensionais, combatendo autômatos programados para perder para eles. Todo o preâmbulo é na verdade uma desculpa para referenciar o complexo de Frankenstein, apontado por Asimov como um aspecto mui negativo, por demonizar as máquinas, desviando normalmente o homem de suas próprias responsabilidades, pondo a culpa sobre elementos externos. Não é o caso do filme de Michael Crichton, ao menos não em sua premissa.

    O conceito de blockbuster ainda maturava no cinema hollywoodiano, de modo que a estética do filme representava essencialmente sua época, especialmente nos penteados do personagem de James Brolin, John Blane, e seu amigo Peter Martin (Richard Benjamin), dois homens que dividiam o mesmo quarto, dentro do resort de faroeste do complexo Delos. A imaginação visual dos anos 1880 é bastante fiel ao analisado nos westerns filmados ao modo de cinema de John Ford, incluindo até armas carregadas nos pacotes turísticos, de custo relacionado a mil dólares.

    A trama passa a ficar interessante ao apresentar as máquinas humanoides, que vão desde profissionais do sexo até assaltantes e pistoleiros, tendo no Gunsliger de Yul Brynner seu avatar mais amedrontador. A forma mecânica com que o famoso ator se retrata faz jus tanto ao seu papel em Sete Homens e Um Destino, pela figura de homem valoroso posterior à fase áurea do cinema de gênero faroeste, bem como remete a uma qualidade ímpar de retratar um ser frio e sem sentimentos, lembrando vagamente o seu papel de Ramsés de Os Dez Mandamentos. É em sua rotina que pousam as maiores discussões do roteiro de Crichton, que rediscute através das tomadas noturnas e nos laboratórios de manutenção, a mesma ação intempestiva e intervencionista do homem, que decide dar vida aos seus próprios desejos e anseios.

    O colapso inicia-se de modo bem lento, com pequenas ações hostis do maquinário, que põem a saúde dos hóspedes, isso já com metade do tempo decorrido. A revolta dos explorados acontece da maneira mais violenta possível, com uma curiosa complacência dos cientistas que somente observam passivos a loucura nos atos dos robôs, que atentam contra a vida alheia de modo hostil, viril e assassino.

    O avatar de Gunsliger representa a máquina assassina implacável, de fúria animalesca, semelhante ao perigo do tiranossauro Rex do filme Jurassic Park, que é baseado no livro do Crichton, assim como também reproduz o comportamento monstruoso do T800 de Schwarzenegger em O Exterminador do Futuro, inclusive utilizando a mesma aura de medo e a deformação via fogo como ponto fraco. A invulnerabilidade da criatura torna-o um algoz quase imortal, contemplando ao homem comum o conceito de presa fácil.

    A solução final é de cunho bastante sensacionalista, típica da abordagem de filmes B, ainda que o selo da Metro Goldwyn Mayer ateste a aposta de estúdio no filme, que entrega uma história interessante, datada, mas que ainda dialoga com os temas apreciados pela plateia aficionada pelo gênero sci-fi e pelo tema robótico, já que o protagonismo da fita é quase todo dedicado aos revoltados autômatos que se viram contra o seus criadores,  amadurecendo a questão em um nível além até dos filmes de sua época.

  • Crítica | Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros

    Crítica | Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros

    Jurassic World 1

    Os acordes de John Williams são lembrados em estilo diversificado, agora com a batuta de Michael Giacchino, seguido de uma cena de ovos eclodindo, dando prosseguimento ao processo chamado vida. O diretor e roteirista Colin Trevorrow faz em Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros uma homenagem ao trilogia original e ao filme Mundo Perdido de 1925, ao mesmo tempo em que situa o público no universo estabelecido que pressupõe a abertura do dantesco parque temático Mundo Jurássico, na mesma Costa Rica onde aconteceram os eventos de Jurassic Park e de  Jurassic Park: Mundo Perdido e Jurassic Park III da franquia. O encanto do menino Gray (Ty Simpkis) relembra o quão era bela a expectativa do público, em 1993, por ver os seres pré-históricos revividos e convivendo com a humanidade.

    Nos primeiros minutos da produção, há uma clara crítica ao excessivo gasto para produzir a estrutura artificial do Parque dos Dinossauros,  aludindo aos preços de naming rights (diretos reservado de nome) da nova criatura geneticamente criada, Indominus Rex. Como um magnata entediado, que faz as vezes de John Hammond, Masrani (Irrfan Khan) é o responsável por injetar dinheiro no Parque e também por financiar as atividaded de Claire (Bryce Dallas Howard), uma executiva de sucesso que graças a sua dedicação a carreira é uma parente relapsa.

    Na introdução da personagem de Chris Pratt, Owen Grady, descobrimos seu ofício como adestrador de velociraptores. Owen é o típico herói arquetípico, belo, audaz, corajoso, tendencioso e desbravador, seu modus operandi é intervencionista, como o de um exímio caçador, parecido demais com seu Starlord de Os Guardiões da Galáxia, um perfil que se torna irresistível para a quadrada Claire que tenta em vão esconder sua rendição amorosa.

    Ao menos na esfera de expectativas, o filme entrega bem seus préstimos, mantendo um suspense que encontra no público uma boa resposta. Mantém-se uma leve excitação sobre o visual de Indominus, com a sábia decisão de não escancarar sua aparência no primeiro ataque. A primeira intervenção entre o monstro e homens é breve, mas guarda uma dose de violência grande, cuidadosamente feita para não chocar as plateias conservadoras e famílias, parte do público alvo. Enquanto esse dinossauro impacta pela violência, os velociraptores estabelecem uma forte crítica a manipulação genética e a produção de híbridos com a possibilidade de se tornarem uma arma bélica, uma análise incomum para um filme para as massas.

    Os clichês seguem firmes e mais repetidos do que as histórias anteriores, curiosamente reprisando arquétipos dos filmes passados como a versão do CEO intervencionista, piloto de aeronaves como o presidente de Bill Pullman em Independence Day, (ainda que seu desfecho seja muito mais realista do que a vista no filme de Rolland Emerich).

    Os personagens centrais evoluem durante a história, principalmente Claire que deixa a pompa de lado, agindo de modo mais enérgico, provando que sua corrupção era fruto da falta de tempo e que a negligência não fazia parte de sua índole e caráter. Apesar de não apresentar nada que seja realmente inédito – ainda mais com trailers bastante reveladores – o roteiro mantém interessante viradas.

    A personagem de Pratt é superexposta e cada aparição o amplia como uma espécie de mito, ampliando as habilidades e capacidades sobre-humanas, seja no adestramento dos animais, como também nos atos heroicos, estilo sempre em voga em Hollywood, como também visto na persona de The Rock em Terremoto: A Falha de San Andreas, ainda que Owen Grady seja uma figura muito mais aceitável e carismática do que os heróis genéricos dos subprodutos de ação do cinema blockbuster.

    Os momentos finais aludem ao desfecho do primeiro filme, reprisando os mesmos heróis. Apesar de não apresentar uma obra prima, Trevorrow resgata parcialmente a aura do original, baseado nos livros de Michael Crichton, lembrando o espírito presente no reboot da franquia Planeta dos Macacos. Ainda assim peca ao repetir os mesmos erros de um sem número de filmes de aventura atuais, principalmente por não ousar em quase nada e reforçar a exaustão todo o conjunto de clichês de ação e aventura.

  • Crítica | Jurassic Park III

    Crítica | Jurassic Park III

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    Dando sequência ao universo imaginado por Steven Spielberg a partir da obra de Michael Crichton, Jurassic Park III utiliza a grife estabelecida pelo diretor em uma trama inferior aos dois movimentos iniciais. Spielberg deixou a direção a cargo de John Johnston, o qual já havia demonstrado interesse em realizar O Mundo Perdido: Jurassic Park mas fora relegado a uma possível segunda sequência.

    Mesmo responsável por dois bons projetos familiares, Querida, Encolhi as Crianças e Jumanji, Johnston não possui a mesma capacidade técnica de seu mentor e, além das limitações artísticas, tinha em mãos um roteiro mal executado. A trama utiliza apenas algumas cenas das obras de Crichton e desenvolve um argumento inédito. Entretanto, os possíveis roteiros desagradaram a produção e, apenas cinco semanas antes do início das gravações, uma nova história foi desenvolvida. O curto espaço de tempo para a composição bem delineada de um roteiro deixa a impressão de que assistimos a um esboço inicial que precisaria de ajustes para ser eficiente.

    Jurassic Park – O Parque Dos Dinossauros e O Mundo Perdido fundamentavam e desenvolviam o universo que inseria dinossauros no mundo contemporâneo. Sem nenhuma novidade aparente, essa continuação retoma o personagem de Alan Grant (Sam Neil) – que não participa do acidente em San Diego – como um ponto forte para o público. O enredo parece fora de tom, sem a mesma visão estética e narrativa dos anteriores. Além de uma metragem enxuta, a necessidade explícita de novidades modificou os dinossauros mais conhecidos da franquia: velociraptor e T-Rex são deixados de lado para dar lugar a duas novas espécies: o gigantesco Spinossauro – cujo esqueleto substitui Rex até mesmo no pôster – e o voador Pteranodone (em tempo, os raptores ainda se destacam em parte da história mas, devido a estudos lançados na época, ganharam penas na cabeça, parecendo topetes irados que destoavam da concepção dos outros longas).

    O núcleo central de personagens, representados por uma família que vai até a ilha com auxílio de Grant para resgatar um filho desaparecido, não possui o carisma necessário e não transparece a urgência da perda. Sem nenhuma sintonia, William H. Macy e Tea Leoni são o elemento cômico da trama, tanto em momentos propositais como em situações involuntárias. Nem mesmo o apelo infantil do garoto desaparecido – o infante em perigo, recurso clássico das obras de Spielberg – é bem executado.

    O maior orçamento da trilogia não impediu que as cenas de ação parecessem simuladas em um cenário cenográfico. Os ataques de dinossauros aleatórios não produzem medo aparente e são ineficazes diante de uma trama irregular. A obrigatoriedade de inserir novas espécies leva as personagens a locais não explorados anteriormente, como uma travessia pelo mar somente como pretexto para a cena de ação com o dinossauro voador. Cenas episódicas que tentam pelo impacto esconder a trama sem emoção.

    A sensação de uma obra inacabada é ainda mais evidente quando a trama se encerra de maneira breve, sem um terceiro ato dramático. Um anti-clímax que parece finalizar antecipadamente a história por falta de tempo em desenvolver um roteiro adequado. Nem mesmo a cena final é inédita, se assemelhando ao final do primeiro filme, com os personagens saindo da ilha, com direito à música original de John Williams como lembrete ao público de que essa trama fez parte de uma trilogia. De qualquer maneira, ainda é uma cópia pálida que pouco lembra as divertidas e familiares aventuras anteriores.

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  • Crítica | O Mundo Perdido: Jurassic Park

    Crítica | O Mundo Perdido: Jurassic Park

    De começo inofensivo, mostrando uma família rica em uma região praiana, a continuação de Jurassic Park começa tão jocosa quanto seu protagonista, o Doutor Ian Malcolm (Jeff Goldblum), único remanescente do episódio primário. A mostra dos pequenos dinossauros atacando uma criança é bastante grotesca, dando o tom de como seria a exploração da trama spielberguiana – com auxílio de David Koepp e Michael Crichton.

    O chamado aventura começa com a revelação de que Malcolm rompeu o contrato de sigilo sobre os fatos ocorridos no filme anterior, tendo absolutamente negado pela família de John Hammond (Richard Attenborough), especialmente por seu sobrinho e advogado Peter Ludlow (Arliss Howard). Hammond convoca Malcolm para conversar com ele sobre uma ilha reserva, próximo da Costa Rica, onde cultivava os animais pré-históricos, que graças a acidentes naturais, foram liberados. A mudança de postura do ancião é notada logo em seu discurso, de maior preocupação com as criaturas do que com os lucros, mas sua esperteza ardilosa também se nota, especialmente ao analisar o modo de convívio dele junto a Ian, pondo seu antigo par como a estudante de paleontologia responsável pelo grupo.

    Mesmo contrariado, o matemático prolixo decide ir ao lugar, para resgatar sua amada como uma espécie de príncipe encantado às avessas. A busca por Sarah Harding (Julianne Moore) revela cenas belíssimas, de estegossauros se exibindo em meio a mata desbravada. O resto do grupo é formado pelo fotografo Nick Van Owen (Vince Vaughn) e Eddie Carr (Richard Schiff), antigos aliados da moça, o que faz com que o isolamento de Ian seja ainda maior, compondo assim um papel de párea no mesmo grupo que deveria liderar. A diferença de objetivos era notória, transitando entre o resgate e documentação fílmica do que ocorria na ilha.

    Ainda sob uma égide de contar uma história (também) para crianças, o filme demora a ter baixas humanas, exibindo-se em quase uma hora antes de matar personagens, mesmo os que aparentemente tem mau caráter, como os caçadores liderados por Roland Tembo (Pete Postlethwaite). A excursão que deveria ser de quatro (na verdade cinco) pessoas logo é mostrado em dezenas, homens que buscam capturar os monstros para leva-los a cidade.

    O primeiro momento de absoluto suspense, ocorre quando há um confronto entre o cuidado com as crias, mostradas com a caça da casal de tiranossauros indo atrás do quinteto, que tem a posse do pequeno filhote destes. A cena da queda do carro trailer é emblemática e simbólica, pois revela a fragilidade do homem diante das monstruosidades, revelando a impotência destes mesmo quando eles se esforçam para ser justos e bons com as criaturas. Outro bom confronto, é o esmero de Ian com sua filha Kelly, que o enganou, partindo junto a ele, escondido em sua bagagem, refutando qualquer possibilidade do protagonista de fugir daquela paternidade incomum que exerce. No âmago dos “dois pais”, há somente o desejo por ter seus filhotes em um habitat seguro, no alto, longe da ação frenética típica da predação.

    A escolha por tons mais escuros e por lugares mal iluminados, revela uma evolução na narrativa proposta pelo realizador. Não havia mais espaço para a idílica fantasia de Parque dos Dinossauros, ao contrário, o que sobreviveu foi o espírito de caça e caçador, com o homem sendo o principal alvo da fome, apesar dos esforços de Tembo e de seus homens.

    A baixa auto estima, unida a clara ganância fizeram Ludlow escolher errado, tolamente decidir por levar um dos tiranossauros para San Diego, planejando exibi-lo onde seria o mais novo parque temático dos Hammonds. Não demora para esta decisão se mostrar a mais  desacertada possível, com a fuga da criatura, que atemoriza agora um ambiente urbano, igual ao visto no filme de 1925.

    Apesar de os momentos finais deste apresentarem ainda mais maniqueísmo da parte dos T-Rexs, substituindo o Deus Ex Machina do primeiro volume pela vingança a la Charles Bronson, Mundo Perdido consegue ter um desfecho um bocado mais definitivo, completando o arco em si, impossibilitando em partes futuras continuações caça-níqueis, tratando os dinossauros como vítimas da ação predatória e irresponsável humana. Apesar de não conter um caráter tão edificante, o discurso de Hammond valida a frase que foi responsável por deixar Ian Malcolm famoso, de que a vida encontrará um jeito, claro, se o homem não interferir mais entre as criaturas.

  • Crítica | Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros

    Crítica | Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros

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    Imagine a seguinte situação: com o avanço da medicina, e consequentemente do estudo da genética, tornou-se possível coletar DNA preservado de animais extintos e cloná-los. E se, em vez de recriarmos mamutes e tigres dentes-de-sabre, recriássemos os maiores e mais temidos animais que este planeta já hospedou? O diretor Steven Spielberg tornou isso possível e foi um sucesso.

    Após o bizarro Hook – A Volta do Capitão Gancho (um de seus piores filmes), Spielberg juntou forças com os roteiristas Michael Crichton e David Koepp para criar um dos filmes mais extraordinários já feitos: Jurassic Park – O Parque dos Dinossauros. O filme revolucionou com efeitos especiais nunca antes vistos e com um realismo absurdo, fenômeno esse que acontece de tempos em tempos na história do cinema. O resultado? Um sucesso de bilheteria que faturou mais de um bilhão de dólares. Vale lembrar que até o pôster e o logotipo do filme são sensacionais.

    De início, somos apresentados aos arqueólogos e doutores Alan Grant (Sam Neill) e Ellie Sattler (Laura Dern), que estão muito preocupados com seu trabalho, uma vez que não conseguem mais financiamento para escavações. Porém, as coisas parecem mudar com a chegada de John Hammond (Richard Attenborough), um simpático senhor que os convida para uma viagem. No caminho, conhecem Tim (Joseph Mazello) e Lex (Ariana Richards), netos de Hammond e o Dr. Ian Malcolm, vivido por Jeff Goldblum e, após passarem por paisagens fantásticas, o helicóptero em que se encontram aterrissa numa misteriosa ilha. Não demora muito para que o primeiro Braquiossauro salte na tela em busca de uma folha num galho de uma árvore gigantesca. A história do cinema estava sendo feita. A cara do Dr. Grant nesse momento, aliada à trilha sonora certeira do maestro (e mestre) John Williams, imprime bem as feições de cada espectador naquele momento: como eles fizeram isso? Para ele, os dinossauros. Para nós, os dinossauros.

    Passada a excitação inicial, os protagonistas fazem um pequeno tour que explica exatamente o parágrafo inicial desta crítica, além de mostrar o primeira momento de tensão entre os doutores Grant, Sattler e Malcolm ao descobrirem que a equipe de geneticistas do Sr. Hammond clonou Velociraptors e um Tiranossauro Rex, tidos no filme como as espécies mais perigosas. Assim, são demonstradas, também, as reais intenções do Sr. Hammond, que acabou por construir um parque, nos mesmos moldes da Disney World, para, futuramente, abri-lo ao público, após a consultoria dos especialistas que ali estão. O problema é que uma grande tempestade se aproxima, anunciada por um tímido Samuel L. Jackson e que põe a perder todo o plano.

    Jurassic Park tem o que Spielberg sabe fazer de melhor: cenas de ação misturadas com suspense e até mesmo terror, algo que ele explorou muito bem em Os Caçadores da Arca Perdida, Contatos Imediatos de Terceiro Grau e Tubarão. E, sim, é possível se divertir, ficar tenso e sentir medo com as mais variadas situações e pequenas subtramas que compõem a trama.

    E os dinossauros? Ah, os dinossauros…

    O filme foi lançado em 1993, mas se você assistir a ele hoje, verá que ainda é atual. Os efeitos em CGI, junto com os dinossauros animatrônicos (efeitos práticos) criados pela Industrial Light & Magic são bastante realistas, o que justifica a surpresa do Dr. Grant e do espectador em relação aos dinossauros. Chega a ser emocionante a cena em que ele, juntos de Tim e Lex correm junto à “manada” de Galimimos. Aliás, é possível se deparar com diversas raças, mas, realmente, quem rouba a cena é o Tiranossauro Rex. Dotado de um rugido ameaçador e com um instinto assassino no mínimo cruel, aquele que foi o topo da cadeia alimentar há milhões de anos protagoniza uma das melhores e mais aterrorizantes cenas do longa, roubando para si o título de clímax do filme antes mesmo do final.

    Felizmente, não há do que reclamar de Jurassic Park, um filme para ficar na memória e na estante de qualquer apaixonado por cinema.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Resenha | Devoradores de Mortos – Michael Crichton

    Resenha | Devoradores de Mortos – Michael Crichton

    Em Devoradores de Mortos, Michael Crichton (1942-2008) nos presenteia com o relato de Ahmad Ibn Fadlan, contando as diversas aventuras vividas por ele junto a um grupo de nórdicos no ano de 922.

    Fadlan foi enviado como embaixador de Bagdá ao rei dos búlgaros, missão essa que não chegou a se concretizar, pois, durante a trajetória, encontrou um grupo de vikings, uma experiência que, depois de relatada, se tornou o documento mais antigo que se tem notícia, escrito por alguém que testemunhou um pouco a cultura e sociedade viking.

    Este documento tem um valor histórico inestimável, pois podemos ter uma clara ideia da visão que os povos civilizados tinham dos ditos bárbaros e o choque cultural que havia no convívio entre eles. Assim que Fadlan encontra o grupo de nórdicos, logo embarca a contragosto em uma missão de socorro a um reino que está sendo assolado pelo Wendol, a névoa que encobre os demônios comedores de mortos.

    É no desenrolar dessa missão que mergulhamos de cabeça na cultura nórdica, pois Fadlan é minucioso em relatar todo o modo de vida de seus novos companheiros de viagem, desde os costumes mais triviais, como a higiene duvidosa, o trato com suas esposas e escravas, até o seu modo peculiar de encarar vida e morte, mas, principalmente, sua religião. O árabe é questionado diversas vezes pelo fato de ser monoteísta com diálogos como este: “É arriscado demais. Um homem não pode depositar demasiada fé numa coisa só, seja uma mulher, um cavalo, uma arma, qualquer coisa única”.

    Obviamente, o manuscrito não atravessou mais de mil anos intacto, restando apenas versões e trechos aleatórios em diversas línguas. E é aqui que entra Crichton (autor de O Parque dos Dinossauros) que se utilizou da versão do Professor norueguês de literatura Fraus-Dolus, o qual compilou todas as fontes conhecidas do relato. Crichton admite que fez poucas alterações no texto original, suprimiu passagens desnecessárias e deixou-o com uma sintaxe contemporânea mais dinâmica e inteligível. Alguns dos pontos altos do livro são as ricas notas de rodapé, que denotam um trabalho de pesquisa hercúleo.

    Não há como o leitor passar incólume por essa leitura, Devoradores de Mortos não nos faz apenas viajar no tempo a bordo de um barco viking empunhando um machado e desejando o Valhalla. Aprendemos, através da leitura, uma lição de tolerância de mil anos de culturas opostas que, por um breve período de tempo, souberam aproveitar o que havia de bom uma na outra.

    Vale lembrar que Crichton foi um dos mais talentosos roteiristas de cinema americano e trabalhou como produtor e roteirista na adaptação deste livro para o cinema, que ganhou o nome de O 13° Guerreiro, estrelado por Antonio Banderas no papel de Ibn Fadlan. Em comparação com o livro, a adaptação para as telas é rasa, mas não chega a ser desprezível e vale a pena conferir.

    Texto de autoria de Fabio Monteiro.