Tag: Brad Bird

  • Crítica | Os Incriveis 2

    Crítica | Os Incriveis 2

    Os Incríveis 2 começa após o final do primeiro filme, mostrando uma luta realizada pela família com o vilão subterrâneo que tem aspecto de toupeira (assim como em Quarteto Fantástico). Após uma ação conjunta muito plástica, o que se vê é uma destruição geral, fato que faz voltar à tona o discurso anti-heróis que começou, principalmente, após a proibição dos vigilantes em Watchmen.

    O novo produto de Brad Bird fala principalmente de um assunto: a saída do ostracismo e o desejo de ser notado, esse sentimento fica muito evidente na inquietação que não só o Senhor Incrível tem, mas também toda sua família. A única que não admite isso é sua esposa, a Mulher Elástica — também chamada Helena (ou Helen no original) —, ainda que claramente ela se sinta melhor agindo como uma super-heroína. Após perderem a ajuda governamental que os mantinha incógnitos, os parentes e seu amigo Gelado são chamados a conhecer um magnata interessado nos heróis.

    O empresário é Winston Deavor, um homem bastante crédulo e adorador da cultura de heróis. Ele tem uma empresa que herdou de seu pai, que por sua vez era um incentivador dos heróis mais antigos e acabou morto de maneira trágica. Ao seu lado está Evelyn, sua irmã e a mente mais inventiva da empresa. A dupla decide equipar e financiar os heróis, fazendo com que voltem a ação com câmeras. Isso abre muitas discussões, não só a respeito do plano, como também de privacidade, vigilância sobre os atos e outros assuntos espinhosos, que obviamente são suavizados por se tratar de um filme voltado para o público infantil. No entanto, ao menos no começo, o longa consegue abordar bem seus fatos importantes, em especial na situação familiar de Helena ir para a ação e não seu marido, assim como o desenvolvimento do novo antagonista da família, Hipnotizador.

    A dupla de irmãos é diferente, enquanto Winston é um mero empresário focado em vender, Evelyn é inteligente, engenhosa e até genial, a grande questão é que os desdobramentos a partir daí soam um pouco óbvios demais. Nesse meio tempo, a tentativa de Beto em ser apenas um pai e não um super herói é muito válida, e bem exemplificada em cada momento.

    Uma coisa evoluiu muito do primeiro filme para esse, que são as cenas de luta. Apesar de não haver sangue, elas são bem agressivas e disputadas, emocionantes num nível alto, mais vistosas por exemplo que os filmes recentes da Marvel e DC. A música de Michael Giacchino ajuda a dar um ar ainda mais pulp e escapista a história, fazendo lembrar demais os quadrinhos da Era de Prata, em um clima nostálgico que faz muito bem a obra.

    Há um problema com o vilão dessa versão. Se no primeiro, Syndrome era um fã que lidou mal com a rejeição e arrogância do seu ídolo, aqui é uma pessoa decepcionada com o ideal heroico, e de certa forma, o roteiro de Bird soa um pouco simplista, dando margem a um pensamento que refuta e trata como cínico quem não lida bem com o maniqueísmo presente na necessidade das pessoas de terem alguém que olhe por elas. Isso é complicado, mesmo em um mundo habitado por super-seres. Uma das boas histórias do Superman mostra o herói tendo que filtrar bem quem ele ajudará, pois sua super audição o deixa numa posição de loucura se for atender a todos os chamados. Cabe ao kriptoniano priorizar aqueles que só terão sobrevida caso ele aja, e essa essência de história é completamente contrariada no discurso contra o ideal que o Hipnotizador prega.

    De certa forma, o personagem antagonista tem sua razão, e o texto mostra essas nuances em sua identidade secreta, mas não se enquadra isso no discurso relevante que ele traz. Mesmo no final, quando o ideal dos heróis poderia ser ressignificado, isso não acontece, e não há sequer um pensamento mais aprofundado acerca do papel que os vigilantes exercem. Ainda assim , o próprio papel de Wilson como homem engravatado que no final estava correto é um pouco simplista demais.

    O Girl Power é bem encaixado e não soa panfletário, seja no heroísmo da Mulher Elástica, seguindo a esteira do que Gal Gadot e Patty Jenkins fizeram em Mulher-Maravilha, bem como na questão da personagem Evelyn, que consegue soar convincente nas múltiplas e dúbias atitudes que possuí. Apesar de algumas saídas fáceis de roteiro, Os Incríveis 2 tem um ritmo frenético e tem cores suficientes para distrair as crianças e os adultos.

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  • Crítica | O Gigante de Ferro

    Crítica | O Gigante de Ferro

    Brad Bird é um dos diretores mais bem quistos em Hollywood, em especial no circuito comercial, e certamente O Gigante de Ferro foi o produto primordial para essa boa aceitação de seu cinema. O longa-metragem de 1999 é narrado a partir da vivência do menino Hogarth Hughes (Eli Marienthal), que vive nos anos cinquenta e que tem um olhar bastante inocente e sonhador a respeito da turbulenta situação sócio político e econômica pela qual passa o mundo, com a corrida espacial a pleno vapor e acirrando os ânimos entre Estados Unidos e soviéticos.

    A carência do menino, que mora apenas com a mãe faz ele querer desesperadamente ter um animalzinho de estimação, para lhe fazer companhia nas noites vazias. A curiosidade do rapaz o faz explorar a parte florestal do Maine, onde ele encontra uma criatura robótica enorme, de origem desconhecida, que mistura em si elementos visuais distintos, primeiro com notáveis semelhanças aos filmes de monstros da Universal, no tocante a atitude e a musica da trilha, além de obviamente tocar no assunto do atomic horror, tema recorrente no clássico. Mais tarde, se nota também uma influência dos seriados tokusatsus, na confecção e design do ser agigantado.

    A figura de Sean (dublado por Vin Diesel) rapidamente faz ganhar a simpatia de Hogarth, que começa a entende-lo como um ser amigável e não bélico. O roteiro de Tim McCanlies e Brad Bird (baseado no livro de Ted Hughes) prima pela simplicidade dramática, que utiliza da inocência juvenil para vociferar contra o preconceito, ao mesmo tempo em que faz um comentário sobre as dificuldade de driblar a natureza, já que o robô age de maneira hostil quando vê um armamento.

    Como era de se esperar, levando em atenção os anos cinquenta e a recente guerra mundial que ocorreu contra o Eixo nazi-fascista, o exercito americano passa a perseguir o ser extra-terrestre, primeiro através do relato do agente Kent Mansley (Christopher McDonald), um sujeito paranoico, arredio e desconfiado, um retrato do cidadão médio americano em tempos de conflitos da Guerra Fria, depois passam a querer destruir Sean  com todo o armamento aéreo e terrestre possível. A reação do robô é a de fugir e evitar o confronto, uma vez que ele percebe ter sentimentos e sensações fortes o bastante para não querer travar guerra com os homens.

    Após perceber estar sozinho  o gigante larga seu intuito pacifista, já que pensava ter perdido a única pessoa que o compreendia como ele era e que julgava além exterior. A percepção de que não é possível negar a própria natureza revela uma trama ainda mais adulta do que o pressuposto pelo público, além de pavimentar a história rumo aos emocionantes acontecimentos finais, onde finalmente o gigante se assume como um herói, indo em direção ao sacrifício, se entregar para que seu amigo não perecesse. O Gigante de Ferro ainda possui algumas cenas antes de se encerrar, deixando um restante de esperança, relembrando o escapismo típico dos filmes infantis, sem descuidar das mensagens adultas, que serviriam para pavimentar o futuro da Pixar Animations e demais animações que fariam sucesso por volta das décadas de noventa e 2000, junto a Toy Story e outros.

  • Crítica | Missão: Impossível – Protocolo Fantasma

    Crítica | Missão: Impossível – Protocolo Fantasma

    Missão Impossível 4 - Protocolo Fantasma

    O começo do ano 2000 foi bom para Tom Cruise devido ao sucesso de bilheteria e sua participação em filmes blockbuster, como a adaptação de Guerra dos Mundos de Steven Spielberg. Foi aproximadamente em 2005 que seu nome perdeu parte do status, graças a seus afastamento nas telas ao se dedicar ao casamento com Katie Holmes, um enlace lembrado pelo público nos pulos desenfreados no sofá de Oprah, fato que fez a mídia chamar-lhe de maluco para baixo. No ano seguinte, o nascimento da filha foi o centro de suas atenções e, ainda assim, o ator estrelou Missão: Impossível 3, seu último filme de grande sucesso.

    Em seguida, participou de longas-metragens interpretando personagens menores ou diferentes de seus heróis habituais: um congressista em Leões e Cordeiros, drama político de Robert Redford; Operação Valkyria como um militar que deseja acabar com os planos da Alemanha, e se destacou com muita maquiagem e pelo em Trovão Tropical. A produção Encontro Explosivo foi lançada para realocar o astro em seu papel de ação, um status que sempre foi constante em sua carreira, muitas vezes em detrimento do ator potencialmente talentoso em certos papéis. O filme foi um fracasso, marcou mais um passo ruim de sua carreira e parecia anunciar a morte de um dos últimos astros de Hollywood.

    O sucesso de Tom Cruise surgiu em uma época em que astros eram a grande estrela sem depender da qualidade. Mesmo filmes com uma bilheteria mais fraca alcançavam o esperado pelas produtoras. Um reflexo do mercado que hoje não mais se vê motivo pelo qual muitos outros colegas de profissão hoje estão em papeis secundários ou produções duvidosas, seja por opção ou por um mal gerenciamento da carreira que ainda os vê como astros acima de qualquer produção.

    Missão: Impossível – Protocolo Fantasma carregava a responsabilidade de demonstrar que o astro ainda era uma figura rentável na indústria, ao mesmo tempo que era um desafio para Brad Bird na direção. Até então, o diretor havia feito apenas grandes animações, como Gigantes de Ferro, Os Incríveis e Ratatouille. Como nas três histórias anteriores, a produção é coerente com sua temporalidade no quesito linguagem cinematográfica enquanto manter certa personalidade de seu diretor. O filme já está situado na era do realismo Bourne, porém, como a franquia permite cenas mirabolantes, o roteiro de Josh Appelbau e André Nemec preservam a coesão em grandes cenas impossíveis e ao mesmo tempo realistas, um paradoxo que parece impossível.

    Assim como o James Bond em Skyfall representava uma queda e reinvenção da personagem, o protocolo fantasma do título é instaurado após um ataque terrorista ao Kremlin, fortaleza russa, encerrando a força-tarefa Missão Impossível. Fora de um campo de restrições implicitamente anacrônicos, Ethan Hunt e sua equipe atuam para recuperar dados de diversos mísseis nucleares roubados durante a explosão. Interceptando a compra destes dados, a equipe segue em missão por diversos locais do globo – Rússia, Dubai e Índia – à procura do vilão terrorista. Cenários que não só engrandecem a trama visualmente como proporcionam grandes cenas de ação, como a insana escalada de Junt no lado externo do prédio Burj Khalifa, conhecido com o mais alto do mundo.

    No papel de Hunt, Tom Cruise continua sendo um grande símbolo. Demonstra não só seu antigo status de astro como também sua dedicação ao não utilizar nenhum dublê em suas cenas, trazendo mais autenticidade para a história. Bird, em seu primeiro filme live action, sabe trabalhar as cenas de ação tanto em seus picos máximos de tensão quanto aproveitando pequenos detalhes que trazem conflito à missão. Como destaque, a sensacional perseguição em meio a uma tempestade de areia em Dubai, claustrofóbica e tensa ao mesmo tempo, e que encerra o ato nesta cidade dos Emirados Árabes. Uma diferença das histórias anteriores é o tratamento dado às cenas de ação exageradas: a própria equipe assume o perigo e incredulidade diante de alguns atos de Hunt, como se soubessem que, diante de uma situação sem fugas, é necessário encontrar um caminho  mesmo que seja, aparentemente, impossível. O jogo de rir de si quebra o exagero que os filmes anteriores consideravam normal e reforça o teor realista – na medida do possível – da história.

    A nova trama alinha um novo personagem, William Brandt, parceiro que se iguala com Hunt como um espião bem treinado, além de retomar Simon Pegg como bom alívio cômico, bem composto para descontrair certas cenas sem destoar por completo do foco da ação, além de trazer uma participação de Ving Rhames como o parceiro Luther Stickell. A produção conseguiu 694.713.380 milhões na bilheteria mundial. Não só o maior retorno para a franquia – atualmente, Missão Impossível – Nação Secreta chegou a marca dos US$300.000.000 – como também uma das maiores bilheteiras da carreira de Cruise. Prova de que o astro conseguiu ser uma exceção no mercado, e manteve seu status de astro capaz de se reinventar no melhor que consegue fazer: sendo um astro de ação carismático, rentável e autêntico.

  • Crítica | Tomorrowland: Um Lugar Onde Nada é Impossível

    Crítica | Tomorrowland: Um Lugar Onde Nada é Impossível

    Tomorrowland - poster br

    A ficção científica como narrativa especulativa atravessa reflexões contemporâneas como base para projetar o futuro. No período da Segunda Guerra Mundial, obras distópicas como 1984, de George Orwell, e Fahrenheit 451 de Ray Bradbury focavam em um futuro totalitário e na completa ausência do indivíduo. O estudo da Cosmologia através dos tempos transformou seres de outro planeta em prováveis inimigos para estabelecer uma análise da evolução humana em várias obras, como O Jogo do Exterminador de Orson Scott Card e Contato de Carl Sagan.

    Tais cenários são utilizados frequentemente em narrativas como o futuro totalitário presente nos juvenis Jogos Vorazes ou na saga Divergente. São tendências que surgem como reflexo de cada tempo, conforme o contexto dos autores.

    Com este argumento em voga, é perceptível um crescimento de conceitos que questionam o futuro da Terra e suas transformações climáticas devido a ação humana. No cinema-catástrofe, o hiperbólico Roland Emmerich explorou o assunto em 2012 e, mais próximo do cenário de ficção científica, Danny Boyle dirigiu o eficiente Sunshine – Alerta Solar. Bem como Interstellar de Christopher Nolan também discutiu a sobrevivência da espécie à procura de outros habitats. A destruição futura do planeta também é tema de Tomorrowland – Um Lugar Onde Nada é Impossível, produção dirigida por Brad Bird em sua segunda incursão fora da animação, e obra cuja bilheteria tem sido aquém da esperada pela Walt Disney Pictures. Estrelado por George Clooney, o projeto de Bird, que também assina o roteiro ao lado de Damon Lindelof e Jeff Jensen, era aguardado com expectativa e, diante de uma história simples, e a esperança de uma grande obra de ficção científica foi deixada de lado.

    Grande parte da ficção científica trabalha com duas histórias dentro de sua narrativa, projetando um futuro provável para analisar o próprio ser humano. Muitas tramas são metáforas simbólicas para reflexões profundas e metafísicas de nossa própria evolução. A necessidade de produzir um filme familiar gerou um desafio natural para os roteiristas que precisavam equilibrar uma boa trama sem perder o escopo reflexivo. A solução foi transformar a história em uma aventura semelhante às da década de oitenta, evocando personagens juvenis como centro e lhes dando o poder para transformar sua trajetória, mantendo a fantasia dentro do enredo.

    Na década de 60, o pequeno Frank Walker é um inventor prodígio que participa de uma feira de invenções com um protótipo de um propulsor a jato. Mesmo o aparelho não empolgando Nix, um dos jurados do local, sua filha Athena confia na inteligência do garoto e convida-o para embarcar em uma aventura em uma cidade situada no mesmo espaço que a Terra, mas em outra dimensão. Habitado por cientistas, professores e intelectuais em geral, Tomorrowland é composto somente por mentes pensantes que desejam um futuro melhor sem os vícios do planeta Terra.

    A origem do garoto é apenas um preâmbulo para equiparar a história de Case Newton, uma adolescente que, como também o jovem Walker, acreditava ser capaz de modificar o mundo ao seu redor com a potência da imaginação e criação inventiva. Convocadas pela mesma Athena, as personagens devem salvar o planeta de uma iminente catástrofe.

    A aventura de fantasia é definida em um logo primeiro ato com uma hora de duração, firmando a parceria entre Casey e um velho Walker, interpretado pelo sempre galã George Clooney. O longo ato inicial evidencia a intenção de evocar a narrativa de outras décadas, tanto pela condução mais lenta como também na evocação de um universo inocente, conduzido por uma pureza juvenil. Ao contrário de obras como Os Goonies e E. T. – O Extraterestre a presença deste elemento puro não parece natural, mas inserida no contexto para ampliar o público e a bilheteria.

    Nestes dois exemplos de produções oitentistas, entre outras que poderiam ser citadas, os dramas envolvidos em cena eram densos, apesar da história simples. Principalmente, devido a uma época em que não havia amenidades nos conflitos em histórias infantis. Personagens lidavam com a morte e a perda como adultos também lidam com tais situações. Compondo sua base apenas com cores vibrantes, Tomorrowland evita, por consequência, um conflito, nem que seja o tradicional embate de mocinhos e vilões.

    A Disney vem tentando modificar o paradigma de suas histórias mas ainda não encontra uma maneira adequada de acrescentar novas camadas a sua outrora simplicidade bem equilibrada. Vê-se uma tendência em trabalhar argumentos em pares, utilizando em tramas diferentes as mesmas soluções narrativas. Assim como Frozen – Uma Aventura Congelante e Malévola compartilhavam o mesmo efeito moralizante do amor fraternal, essa produção se assemelha com o futuro colorido de Operação Big Hero: um local evoluído tecnologicamente em uma Terra desgastada em que personagens se destacam pelo caráter e a inocência – bem como a criatividade – e são inspiração para mudanças. Além da impressão de um reconhecimento prévio de um conflito visto em um recente filme do estúdio, a trajetória das personagens não parece urgente nem mesmo conflituosa como deveria, retirando qualquer potencial destrutivo do vilão interpretado por Hugh Laurie. Mesmo seu discurso megalomaníaco não parece ameaçador.

    Esteticamente a obra tem muita beleza, principalmente nos claros cenários do futuro e nos enquadramentos que demonstram um início de estilo na câmera de Bird. Porém, a falta de densidade retira a potência base de uma ficção científica projetada antecipadamente durante a divulgação do filme. Mesmo sendo apenas uma obra familiar entre aventura e fantasia, a intenção de ampliar o público impede que a história atinja com eficiência um desses gêneros e, diante disso, falta-lhe fôlego em qualquer uma de suas vertentes.

  • Crítica | Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros

    Crítica | Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros

    Jurassic World 1

    Os acordes de John Williams são lembrados em estilo diversificado, agora com a batuta de Michael Giacchino, seguido de uma cena de ovos eclodindo, dando prosseguimento ao processo chamado vida. O diretor e roteirista Colin Trevorrow faz em Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros uma homenagem ao trilogia original e ao filme Mundo Perdido de 1925, ao mesmo tempo em que situa o público no universo estabelecido que pressupõe a abertura do dantesco parque temático Mundo Jurássico, na mesma Costa Rica onde aconteceram os eventos de Jurassic Park e de  Jurassic Park: Mundo Perdido e Jurassic Park III da franquia. O encanto do menino Gray (Ty Simpkis) relembra o quão era bela a expectativa do público, em 1993, por ver os seres pré-históricos revividos e convivendo com a humanidade.

    Nos primeiros minutos da produção, há uma clara crítica ao excessivo gasto para produzir a estrutura artificial do Parque dos Dinossauros,  aludindo aos preços de naming rights (diretos reservado de nome) da nova criatura geneticamente criada, Indominus Rex. Como um magnata entediado, que faz as vezes de John Hammond, Masrani (Irrfan Khan) é o responsável por injetar dinheiro no Parque e também por financiar as atividaded de Claire (Bryce Dallas Howard), uma executiva de sucesso que graças a sua dedicação a carreira é uma parente relapsa.

    Na introdução da personagem de Chris Pratt, Owen Grady, descobrimos seu ofício como adestrador de velociraptores. Owen é o típico herói arquetípico, belo, audaz, corajoso, tendencioso e desbravador, seu modus operandi é intervencionista, como o de um exímio caçador, parecido demais com seu Starlord de Os Guardiões da Galáxia, um perfil que se torna irresistível para a quadrada Claire que tenta em vão esconder sua rendição amorosa.

    Ao menos na esfera de expectativas, o filme entrega bem seus préstimos, mantendo um suspense que encontra no público uma boa resposta. Mantém-se uma leve excitação sobre o visual de Indominus, com a sábia decisão de não escancarar sua aparência no primeiro ataque. A primeira intervenção entre o monstro e homens é breve, mas guarda uma dose de violência grande, cuidadosamente feita para não chocar as plateias conservadoras e famílias, parte do público alvo. Enquanto esse dinossauro impacta pela violência, os velociraptores estabelecem uma forte crítica a manipulação genética e a produção de híbridos com a possibilidade de se tornarem uma arma bélica, uma análise incomum para um filme para as massas.

    Os clichês seguem firmes e mais repetidos do que as histórias anteriores, curiosamente reprisando arquétipos dos filmes passados como a versão do CEO intervencionista, piloto de aeronaves como o presidente de Bill Pullman em Independence Day, (ainda que seu desfecho seja muito mais realista do que a vista no filme de Rolland Emerich).

    Os personagens centrais evoluem durante a história, principalmente Claire que deixa a pompa de lado, agindo de modo mais enérgico, provando que sua corrupção era fruto da falta de tempo e que a negligência não fazia parte de sua índole e caráter. Apesar de não apresentar nada que seja realmente inédito – ainda mais com trailers bastante reveladores – o roteiro mantém interessante viradas.

    A personagem de Pratt é superexposta e cada aparição o amplia como uma espécie de mito, ampliando as habilidades e capacidades sobre-humanas, seja no adestramento dos animais, como também nos atos heroicos, estilo sempre em voga em Hollywood, como também visto na persona de The Rock em Terremoto: A Falha de San Andreas, ainda que Owen Grady seja uma figura muito mais aceitável e carismática do que os heróis genéricos dos subprodutos de ação do cinema blockbuster.

    Os momentos finais aludem ao desfecho do primeiro filme, reprisando os mesmos heróis. Apesar de não apresentar uma obra prima, Trevorrow resgata parcialmente a aura do original, baseado nos livros de Michael Crichton, lembrando o espírito presente no reboot da franquia Planeta dos Macacos. Ainda assim peca ao repetir os mesmos erros de um sem número de filmes de aventura atuais, principalmente por não ousar em quase nada e reforçar a exaustão todo o conjunto de clichês de ação e aventura.