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  • Crítica | As Panteras (2019)

    Crítica | As Panteras (2019)

    A nova versão de As Panteras, já começa com uma ação das agentes de Charlie, sem muita introdução, se baseando na beleza e carisma de Kristen Stewart para não só criticar o machismo do cinema mainstream mas também o tradicional modo de subestimar mulheres basicamente por elas serem atraentes. Nesse ínterim já dá para perceber os pontos positivos e negativos do longa, introduzindo não só a já citada Sabine, mas também a outra agente que será protagonista, Jane (Ella Balinska), além de ocorrer todos esses momentos no Rio de Janeiro, com a trilha musical de Anitta.

    Essa versão já começa aposentando um dos Bosley, de Patrick Stewart, e nesse momento além de ocorrerem brincadeiras com as versões antigas, tanto da série clássica quanto dos filmes dos anos 2000 feitos por MCG. Essa versão, de Elizabeth Banks (que também atua, por sinal, num papel bastante importante como uma das Bosley) toma bastante cuidado para não sexualizar ao extremo suas personagens, mas também não cai na armadilha de deixar o filme inócuo ou assexual.

    As mulheres agem como querem, se vestem como querem e inclusive usam sua sensualidade para ludibriar os homens imbecis, em uma versão bem mais acertada que boa parte das tentativas de Zack Snyder em ser elegante com seu nada sutil Sucker Punch e obviamente sem a caretice do visionário.

    A introdução de personagens não afeitos ao mundo da espionagem é bem pensada, a personagem de Naomi Scott, Selena é inteligente, proativa e interessante para muito além de sua beleza, até porque a figura de Femme Fatale Alfa é Sabine. O trio de protagonistas aliás faz muito uso disso, são mulheres bonitas, carismáticas, divertidas, que usam decotes mas que são mais do que apenas rostos e corpos bonitos.

    A configuração da Agência Townsend não apresenta quase nada de novo em níveis de estruturas, sendo basicamente uma imitação do MI-6 de James Bond ou o serviço secreto que municia os personagens de Velozes e Furiosos 8 ou Hobbs e Shaw. A trama a respeito da nova tecnologia de iluminação – a tal Calisto – também é bastante genérica, mas até essa falta de inventividade é driblada pelo desempenho das personagens principais, incluindo Banks como a patroa/superior das mesmas.

    As questões sentimentais também não são bem pensadas, as perdas que as meninas sofrem não causam tanto impacto, mesmo que os personagens que perecem sejam feitos por bons atores, mas certamente o que faz Panteras ser tão legal é o choque de personalidade tão diferentes. O trio funciona demais como equipe, sendo bem mais entrosadas que foram Lucy Liu, Cameron Diaz e Drew Barrymore, uma vez que elas realmente parecem amigas.

    As piadas, em especial as que passam pelo fato de que nem as mulheres ouvem Elena são ótimas, pois mostram que não são só homens que fazem as mulheres se calarem, mas também as pessoas (no caso aí, mulheres) arrogantes, que julgam principiantes de maneira desnecessariamente altiva.

    O plano maléfico dos vilões também não é bem construído – é recheado de furos – mas as Panteras ganha muito pelo entrosamento de suas estrelas, pelo ritmo frenético e pela graça com que tudo é conduzido, incluindo as cenas dos créditos, que são bem engraçadas e repletas de participações especiais.

    O ponto mais negativo do filme certamente são as cenas de ação, que carecem de força, não são tão bem conduzidas e parecem estar com o senso de urgência no mínimo, mas o desempenho do trio é muito bom, Scott faz a novata divertida e curiosa,  Balinska é uma bela surpresa, dado que seu carisma era pouco conhecido até então e Stewart rouba a cena, é engraçada até quando age como uma pessoa tonta, e essa tríade salva o filme da mediocridade que o roteiro infelizmente entrega.

  • Crítica | Personal Shopper

    Crítica | Personal Shopper

    Estreando em Cannes como um divisor de águas (fato que se tornou evidente pelas vaias que brotavam nos intervalos das palmas), o novo feito da dupla Assayas-Stewart é, no mínimo, algo para entrar na lista de prioridades de qualquer um que se interesse por cinema. E a frase anterior pode até carregar um tom de autoridade, mas é nesses filmes de opiniões tão dissonantes que se encontra o que clama para ser visto e discutido, independente de quanto o telespectador amará ou odiará no final.

    Personal Shopper é um longa-metragem escrito e dirigido por Olivier Assayas (Acima das Nuvens, Horas de Verão) e estrelado por Kristen Stewart. Um drama que se mescla com terror e gera uma obra de natureza única, utilizando-se de diversas ferramentas do gênero para tratar de temas complexos, entre eles o luto, ao mesmo tempo que aborda a questão espiritual de maneira distinta. O longa acompanha Maureen, uma médium que busca entrar em contato com seu falecido irmão, ainda que se veja detida de se dedicar completamente a isso graças a seu emprego como personal shopper, relacionamento amoroso e algum tipo de perseguidor.

    O primeiro passo para compreender a densidade desse filme se faz pela percepção do que cerca Maureen. Ela é uma personal shopper, ou seja, é alguém que apresenta discernimento, “gosto”, para selecionar as roupas a serem alugadas ou compradas para compor o guarda-roupa e estilo de quem a contratou, no caso em questão a celebridade Kyra (Nora von Waldstätten). Percebe-se, então, que o atuante nessa profissão é um tipo de avatar, um link entre pessoas de um mundo de status econômica e socialmente elevado e essa atividade mundana tão banal, a compra de roupas. Ao mesmo tempo, Maureen é uma médium. É alguém que apresenta “sensibilidade” para entrar em contato com almas atormentadas, habitantes de outro plano que por algum motivo conseguem atuar no mundo humano. Também médium era seu falecido irmão, com quem logo no início busca contato em uma sequência de “casa assombrada”, já que prometeram entrar em contato um com o outro caso morressem. De duas maneiras, na sua profissão e seu dom, ela demonstra a sensibilidade para atuar como ponte entre realidades, tal como faz uma atriz.

    As atividades previamente citadas se realizam enquanto a personagem encara o doloroso período de luto; o extenso tempo de questionamentos e busca por respostas. O falecimento de seu irmão, inclusive, se deu por uma doença que Maureen também compartilha. É o conjunto de todas essas ações junto ao contexto que a colocam no intermediário entre o que era e o que virá a ser. É o que faz com que transite entre ela mesma e outras identidades, seja alguém como o irmão ou Kyra, a vida ou a morte. Da mesma forma é a natureza da comunicação com seu namorado, que está em outro país, através de vídeo-chamadas; seu perseguidor entra em cena por mensagens de celular, que são utilizadas por uma extensa parte da história enquanto incrivelmente conseguem manter a tensão. E nada disso seria tão bem realizado como é se não fosse a direção de Assayas e atuação de Stewart.

    Kristen Stewart efetua com louvor as dinâmicas demandadas pelo roteiro. As nuances de sua atuação reafirmam a temática geral da obra por manter o luto enquanto aflita, contente, impaciente; por ser ela mesma ao mesmo que não, pois em sintonia com o tema de transição também se faz a personalidade de Maureen. Fator esse que também esteve presente em Acima das Nuvens, longa prévio de Olivier no qual Stewart contracenou com Juliette Binoche. Entretanto, aqui Stewart está grande parte do tempo sozinha, ou com um celular. É um enorme testamento para sua capacidade como atriz o feito de acompanhar o desenvolvimento e manter coerente e coesa, ao mesmo tempo que progressiva, sua interpretação.

    É notável do roteiro a maneira orgânica com que se permite transitar entre os temas; o luto assombra, porém ao mesmo tempo há a relação de Maureen com seu namorado, a questão espiritual e a do perseguidor, além da mescla de gêneros cinematográficos. Por exemplo, a sequência de abertura anteriormente mencionada, a casa assombrada, demonstra as habilidades de Assayas como diretor para além da autolimitação de qualquer estilo que seja. É um diretor que sabe como moldar a atmosfera e o ritmo do que ocorre em cena em prol da cena; seja uma casa assombrada, ou a escolha de alguma roupa de alta costura. Da mesma forma quando corajosamente logo confirma a existência dos espíritos e não brinca com o “será que fantasmas existem?”. Olivier sabe no que deve focar, ou não, para tirar o melhor proveito de sua narrativa.

    As finalidades de Assayas para realizar uma obra como essa não são o ponto principal, já que perceptivelmente ele não busca respostas. Por isso há o desenvolvimento e dispersão de tantos assuntos que se encaixam de forma tão certa nessa história. Esse é realmente o fator mais impressionante: a maneira com que o filme se permite comunicar com a audiência para além de prévias concepções sobre qual o caminho correto para tomar com os atributos aqui apresentados. Há sinais aqui e ali, manifestações de algo que quer comunicar, mas acabamos tendo que nos satisfazem com o vulto; sejam eles o luto, um perseguidor, os espíritos; um olhar, o cinema e nós.

    Texto de autoria de Leonardo Amaral.

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  • Crítica | Certas Mulheres

    Crítica | Certas Mulheres

    certas-mulheres

    Filme de Kelly Reichardt, o drama episódico Certas Mulheres (Certain Woman no original) mostra a vida de algumas mulheres que residem em Livingston, Montana. O filme ganhou notoriedade por estar na seleção do Festival de Sundance em sua edição de 2016 e contém um caráter feminista interessante, em especial em sua primeira história.

    O primeiro segmento mostra a advogada Laura Wells (Laura Dern), uma mulher inteligente e ótima profissional que se encarrega do caso de Fullher (Jared Harris), um operário que foi vitimado em um acidente de trabalho. O drama dela é que apesar dos muitos avisos, o cliente simplesmente não a ouve, demonstrando um velho clichê machista de se ignorar a voz feminina unicamente por ser a de uma mulher. Das histórias é a mais interessante, especialmente pelo atabalhoada final e pela química interessante entre Dern (melhor atriz do filme, alias) e o carente personagem de Harris.

    A segunda história é protagonizada pela premiada Michelle Williams (Gina Lewis), que com seu marido uma casa, tentando então conversar com Albert (Rene Auberjonois) para conseguir o terreno do homem idoso. Neste ponto, nada acontece, há pouca movimentação e toda a trama soa desinteressante, exatamente por não existir qualquer necessidade dos eventos ocorrerem daquela forma. Tudo soa frívolo e é aqui que o drama aqui cai de qualidade, se tornando moroso e cansativo, fator que chega a denegrir até o próximo evento, que envolve a professora Beth Travis, vivida por uma tímida e contida Kristen Stewart, e que sofre com a obsessão de Patty (Ashlie Atkinson), uma moça carente que só busca aceitação e empatia da mesma.

    O tomo três é mediano, bem melhor que o segundo, mas a esse ponto o todo já estava comprometido. É válido mostrar uma pessoa que tem uma obsessão pela outra sem necessariamente apelar para a violência ou agressividade, uma vez que esses fatores não acontecem sempre em questões de stalker. Próximo ao final, Reichardt resgata os personagens que deram certo e que funcionaram bem, conseguindo então um desfecho que é bastante digno para suas personagens femininas fortes, ainda que sua estética e o modo de contar história soe um pouco desinteressante, graças ao terço do meio de seu longa.

  • Crítica | Café Society

    Crítica | Café Society

    Cafe Society - poster

    Desde o início dos tempos uma capacidade e uma verdade vieram para separar o ser humano dos demais animais. A capacidade é o uso do polegar opositor, usado para apanhar e agarrar, nos permitindo produzir e manipular ferramentas e assim construir mundos. A verdade é a inexorabilidade do tempo, que traz consigo a presença constante da morte e irreversibilidade dos fatos, e assim saber que todos os mundos construídos, reais ou platônicos, uma hora verão seu fim. Será doloroso, haverá angústia, haverá rebelião, mas o tempo atropelará a todos.

    O filme inicia-se com uma declaração de estranheza e amor com a Hollywood de antes e de hoje, com seus egos inflados, vidas boêmias e casamentos de fachada, a Califórnia parece vir sempre com um filtro laranja fazendo de suas paisagens um paraíso tão brilhante quanto estéril, e por isso geratriz de tantas ficções. Desta forma o jovem Bobby (Jesse Eisenberg) muda-se de Nova York para a ensolarada California atrás de dias menos monótonos trabalhando para o seu tio (Steve Carrel), onde se apaixona por Vonnie (Kirsten Stwart).

    E é assim o tempo, compositor dos destinos e tambor dos ritmos.

    É natural pensar que com o passar dos anos Woody Allen tenha tido tempo para repensar sua vida e ações, mas aqui surge o filme onde ele é mais colocado de escanteio, permitindo-se análises mais cruas. Se não é incomum que ele se reinterprete como protagonista de suas histórias, ou que outros atores façam o papel de Woody Allen, aqui ele se coloca como um estereótipo intelectual que faz pouco mais do que um coadjuvante. Um cunhado comunista versado em filosofia, último na hierarquia familiar dos EUA.

    Poucos morrem de amor. Talvez ninguém. Uma hora melhora, e se não melhora é porque há mais do que a rejeição para ter de lidar. Muitos se apoiam na carreira, na ambição, no adorno de ter ao seu lado alguém que satisfaça suas necessidades pessoais e sociais. A parceria amorosa gera todo um ecossistema de vida ao redor, amigos se misturam, amigos são agregados e em algum momento as pessoas optam por substituir a pessoa antiga por outra que lhe sirva a este papel. Este ecossistema nos nutre e dá algum arcabouço para uma vida mais plena e satisfatória. Tão importante quanto o romance é a sua bagagem, e na vista de um amargurado a bagagem é mais importante que a pessoa em si. Nisso estabelece-se protocolos de “gostar” que nunca serão alcançados por uma pessoa real, e não importando mais quão boa a vida, esta será sempre frustrante. A vida é uma comédia roteirizada por um sádico.

    Mas o amor ingênuo, aquele quase impossível surge eventualmente como nota amarga do champanhe de final de ano. Um amor que nunca seria mais do que acabou sendo não deveria pautar vidas inteiras, mudanças de endereço, mudanças de comportamento e nem mesmo saudade. Mas o faz, e faz por percebermos que simplesmente não há amor suficiente para todos.

    Texto de autoria de Marcos Paulo Oliveira.

     

  • Crítica | Branca de Neve e o Caçador

    Crítica | Branca de Neve e o Caçador

    Branca de Neve e o Caçador 1

    Versão pseudo adulta e muito mais sombria do conto dos Irmãos Grimm, Branca de Neve e o Caçador reimagina a clássica história infantil, usando elementos bélicos que estavam muito em voga na época, a exemplo das primeiras temporadas de Game of Thrones. O filme de Rupert Sanders inicia-se com o rei Magnus (Noah Huntley) guerreando suas próprias batalhas, buscando no conflito o consolo para sua recente viuvez. É nesse contexto que ele resgata a bela Ravenna, vivida por Charlize Theron, que no auge de sua beleza, prepara um ardil para seu futuro marido.

    Toda a rotina da sucessão da nobreza e o assumir do governo pela antiga cativa é resumida nos dez minutos iniciais, assim como a promessa de que a pequena Branca de Neve seria a mais bela entre as mulheres, ainda que fosse apenas uma criança a esta altura. O tempo passa, a moça cresce e passa a ser interpretada por Kristen Stewart, e a sua presença interfere nos poderes e rejuvenescimento da rainha. Dali, se desenvolve uma trama repleta de violência e perseguição, envolvendo a Bella de Crepúsculo em uma trama cheia de confusões e azaração.

    A relação de Ravennea com Finn (Sam Spruell), seu irmão, faz lembrar o casal Jaime e Cersei Lannister, de GoT, ainda que a relação incestuosa seja apenas sugerida nesta versão. A característica soa oportunista e transforma o filme em algo ainda mais genérico, piorando o nível quando a personagem principal consegue travar seu cavalo na lama e ao mesmo tempo, sair do pântano lodorento sem sujar o rosto.

    A tentativa de tornar a personagem da vilã em um ser injustiçado de certa forma previu uma tendência que se tornaria bastante popular, e que teria seu ápice em Malévola. No entanto, a justificativa para o ato contra a nobreza fica nebuloso, com uma dúvida mal construída, como é de prática do argumento de Evan Daugherty, John Lee Hancock e Hossein Amini. O embate entre as duas figuras femininas fortes é tão fraco que há espaço de sobra para os coadjuvantes, em especial o caçador vivido por Cris Hemsworth.

    Dos pedaços de trama, é difícil escolher qual é o aspecto mais desnecessário, se é o plot de escolhida envolvendo a princesa fugitiva ou o overaction que beira o insuportável que Charlize emprega. O longa soa como uma oportunidade boba de fazer dinheiro em cima de uma história já consagrada e contada inúmeras vezes, quase nunca tão pouco inspirada ou tão sem alma quanto esta versão. Somente não surpreende o fato do filme ter tido suficiente para gerar uma continuação, graças à moda recente de produtos ligados a fantasia pseudo medieval.

    Se for analisar sob um viés mais realista, Branca de Neve e o Caçador é ainda mais falho, uma vez que dificilmente uma princesa sem nenhum preparo militar vestiria uma armadura prateada e serviria de ponta de lança em meio a um conflito onde só os mais bravos guerreiros sobrevivem. Os efeitos em CGI ao menos resistem ao tempo, mas não garantem qualquer consistência as lutas. O pior do filme é o desperdício que ocorre nas duas figuras femininas, que deveriam ser fortes mas que soam banais, fazendo muito barulho para nada, resultando em um filme com personagens vazios em uma história desinteressante.

  • Crítica | American Ultra: Armados e Alucinados

    Crítica | American Ultra: Armados e Alucinados

    American Ultra - Armados e Alucinados - poster

    Desde 2014, quando este projeto foi anunciado, parecia evidente que American Ultra: Armados e Alucinados seria um típico produto desenvolvido como teste para o carisma de dois atores em ascensão que haviam trabalhado juntos anteriormente: Kristen Stewart, destacada pela saga Crepúsculo e Jesse Eisenberg, de boas produções como Zumbilândia e A Rede Social e agora catapultado a astro devido ao vindouro Batman e Superman: Alvorecer da Justiça.

    Do mesmo roteirista de Poder Sem Limites, um interessante filme sobre poderes heroicos na vida real, e do recente Frankenstein, a produção é uma colagem que intenta satirizar o universo da espionagem através de uma paródia de ação, uma proposta semelhante a de Kingsman – Serviço Secreto. Na trama, Mike Howell é um jovem pacato que trabalha em uma loja de conveniências sem saber que, na verdade, é um agente da CIA mortalmente treinado. Quando uma operação decide matá-lo, o jovem é reativado para descobrir os responsáveis pelo fato em companhia de sua namorada depressiva.

    Tentando uma proposta cômica dentro de uma narrativa comum com clichê repetidos em diversos filmes de ação, falta uma credibilidade mínima para que se veja a história como uma paródia e não como um produto mal executado. Eisenberg entrega seu personagem costumeiro entre falas rápidas, pouca expressão facial e um estilo verborrágico que caracteriza um papel deslocado. Não há nenhum carisma ou credibilidade que sustente o passado de agente federal do jovem. Mesmo que algumas cenas sejam bem coreografadas, a falta de porte físico ou traquejo técnico para o ator não lhe dá segurança de que, um dia, foi um homem treinado para o combate e muito menos produz riso por seu estilo desajeitado. Ainda que, mesmo assim, algumas cenas que parodiam o exagero de filmes de ação sejam eficientes de qualquer maneira.

    Além da ausência de credibilidade do ator principal, o roteiro também incomoda quando explora o passado do agente da CIA. As personagens são caricaturais ao extremo, e os intérpretes nem parecem acreditar em si. Há certos momentos que a trama mais parece um filme juvenil de Sessão da Tarde devido a situações inverossímeis e bobas. Porém, esta não é a intenção da paródia, o que prova um desalinho geral da produção, como se não houvesse um trabalho melhor no roteiro para que a sátira fosse bem produzida e equilibrada, desenvolvendo, ou tentando, um estilo próprio.

    Kristen Stewart, que aparece dividindo os cartazes com o outro personagem, pouco aparece em cena, sendo Mike o verdadeiro personagem central. Quando a ação engrena e o casal poderia se juntar e promover boas cenas de ação, seu papel é submetido a mocinha em perigo, perdendo uma boa oportunidade de colocar dois atores fora do mundo de ação para executar cenas do estilo.

    Sem saber exatamente o que o filme tenta parodiar, a produção repete os clichês habituais de maneira incômoda e insossa. Nos Estados Unidos, estreou em sexto lugar nas bilheterias e foi a estreia mais fraca da semana, ficando atrás de A Entidade 2 e Hitman – Agente 47. Sua bilheteria arrecadou pouco mais de 50% de sua produção, um fracasso notável e coerente com uma obra comum e sem nenhuma identidade.

  • Crítica | Para Sempre Alice

    Crítica | Para Sempre Alice

    Para-Sempre-Alice-Poster-Nacional

    Ao começar a fita de Richard Glatzer e Wash Westmoreland com uma comemoração de aniversário da professora Alice Howland, o intuito é ambientar o público na condição inspiradora da mulher sobre os seus, iniciando por sua família, devota à matriarca, passando pelo ofício da mulher, exibindo-a habilmente em uma palestra diante de uma plateia renomada. A linguística, parte fundamental de seu trabalho, é o tema de seu discurso, atrapalhado levemente por um simples acontecimento, o esquecimento de uma palavra básica, que  – traduzida para o português – seria lexical.

    Alice é vivida por uma madura Juliane Moore, tendo em comum com sua personagem o fato de não aparentar ter chegado aos cinquenta anos. Tal fator é importante para a formação da psiquê da professora e mãe, que tem de lidar com as perdas e ganhos familiares, e até com o esquecimento de fatos que lhe causam azedume. Em uma visita à sua filha Lydia (Kristen Stewart), Alice é convidada a pensar mais em si, impondo um desapego aos problemas de sua herdeira, quase como uma premonição de sua condição ainda nem descoberta, a doença tão temida e incurável. Uma relação bastante conturbada, presente no choque de gerações entre Lydia e Alice.

    Os testes de memória impingidos à personagem são preconizados por um close-up em Moore, revelando olhos marejados, prontos a desabar em lágrimas, como mais um evento de sensibilidade intuitiva e alarmista, ainda que neste momento nada se acuse. As reuniões familiares em datas especiais prosseguem, mas sempre com a falta de um dos membros, emulando as perdas memoriais que se somam na lembrança de Alice.

    As consultas ao médico vão tomando a forma do medo não dito, e aos poucos ela toma coragem o suficiente para se abrir ao marido, John (Alec Baldwin), que tenta demovê-la da ideia de que as memórias estão realmente se esvaindo, jogando estes fatos no irrelevante ponto da normalidade, associando o problema ao avanço da idade. A resposta imediata da protagonista é chorar e berrar, externalizando todo o grupo de sensações atrozes que se retêm apenas na parte calada do cérebro.

    O sentimento de impotência é agravado quando Alice descobre que a condição raríssima é transmitida de forma hereditária, “herdando-a” possivelmente de seu pai, o que demonstra a grande possibilidade de transmissão dos genes aos seus descendentes, fato que se consuma. A devastação emocional a faz balançar, e manter-se íntegra e sã é uma tarefa cada vez mais difícil.

    A delicadeza com que a condição é tratada em tela chega a assustar, desde o modo como a adoentada tem de lidar com sua situação imutável até as consequências da revelação, assoladora dentro do seio familiar. A necessidade de mudanças se mostra um exercício árduo para todas as partes, piorado pela sensação da heroína de impotência e de obsolescência não programada. Todo o entorno e as alterações rotineiras são exibidos paulatinamente e na mesma velocidade com que o Mal se alastra pelas sinapses da personagem.

    A gradativa perda de articulação faz Alice perder mais que “simples” palavras, pois ela também se distancia de sua identidade, por vezes desaprendendo os valores éticos e morais que sempre regeram sua vida. A lente se embaça. Em mais uma visita à clínica, revelam-se mais perdas, tantas que a consciência da personagem mal é estabelecida.

    Alice começa a visitar o HD de seu computador, encontrando mensagens gravadas em vídeo por ela, em momentos pretéritos ao avanço estupendo da doença. Até a possibilidade de suicídio é aventada e contada passo a passo, para que o peso de sua culpa e a dos seus entes queridos pudessem ser aplacados de algum modo. Um gesto pensado de um modo que causaria ainda mais tristeza naqueles que a cercam e da qual cuidam.

    A história baseada no livro de Lisa Genova apresenta uma faceta melancólica e singela de uma síndrome tão pouco conhecida pelo homem, fato que por si só causa muito temor em quem a contrai e em quem fica ao redor. A solidariedade, divisão do fardo do sofrimento belamente mostrada na direção de Glatzer e Westmoreland, só é possível pela completa entrega de Moore, que não cansa de se reinventar, tanto como figura sedutora e cativante, quanto no ofício artístico. Para Sempre Alice produz sensações de indignação, comiseração e necessidade de amparo, alertando o público para uma questão aviltante, com muito mais alcance que qualquer panfleto institucional.

  • Crítica | Acima das Nuvens

    Crítica | Acima das Nuvens

    Acima das nuvens 1

    A câmera de Olivier Assayas foge de qualquer efeito estático, movimentando-se de modo tremido, como se sofrendo movimentos involuntários. A primeira personagem a ser retratada é Valentine (Kristen Stewart), uma moça ocupada, que usa o telefone para se comunicar com os profissionais que cercam sua cliente. Nas primeiras falas, a intérprete afasta o estereótipo de mulher insensível, conseguindo, com poucas expressões, subverter o julgamento feito a ela e que a fez ficar famosa, fechando o ciclo de críticas azedas a sua performance em tela.

    A trama de Acima das Nuvens gira em torno da obsolescência, focada no drama da atriz veterana Maria Anders (Juliette Binoche), que vê a personagem que a fez tão celebrada ser entregue a uma novata. O caminho que o trem faz, atravessando o continente europeu, serve para levá-la ao confronto com sua contraparte, para ensaiar uma possível interação com a estrela hollywoodiana, contrapondo-se dois mundos no mesmo palco.

    A viagem na estrada sobre trilhos, rumo ao inconveniente embate, é irrompida por uma péssima notícia: a morte de um autor e dramaturgo muito próximo a Maria. Além de realizar  os espetáculos, a artista deveria também receber um prêmio em homenagem ao falecido, além de dividir as honrarias com um antigo desafeto Henryk Wald (Hanns Zischler). O primeiro e revelador encontro físico entre os dois reativa as rusgas do passado, rememorando velhos traumas, depois narrados por Anders. A intimidade da atriz é revelada por verborrágicas conversas dela com sua curiosa assistente Valentine, que contempla ávida todo o discurso de Maria.

    O convite para interpretar outro papel na peça faz a protagonista viajar dentro de si, procurando uma nova motivação válida para executar o trabalho. A partir dali, ela não seria mais a musa, e sim uma coadjuvante, simplista, prostrada ante a beleza e juventude de Jo-An Ellis, cuja trajetória inicial coincide com a de sua intérprete, Chloë Grace Moretz, por ter menos de 20 anos, ser uma estrela em ascensão e ter protagonizado um filme de herói. Ao escrutinar a intimidade da nova “substituta”, Maria se depara com uma pessoa problemática, agressiva com os paparazzi e pouco afeita às gracinhas da imprensa. A fúria e a dor da atriz excedem o comportamento normativo, fazendo dela uma artista errática, que age por instinto, com um senso artístico latente, que não consegue se encerrar internamente, fazendo-a agir como uma louca. A manifestação tresloucada do talento faz Anders mudar de ideia, se preparando para as sobras que sua carreira lhe deixou.

    O desenrolar das emoções da atriz revela um medo de se mostrar decadente, e com um receio ainda maior deste movimento tornar-se uma verdade absoluta. Todas as suas certezas são questionadas, desde seu talento, envelhecimento aos olhos vistos – apesar da ainda mui bela compleição da nudez de Binoche – e as fraquezas de espírito, que a fazem querer desistir de tudo a todo instante. As pressões mentais atingem também a sua auxiliar, que aceita um outro ofício em um continente distante, dando um fim definitivo à extensa e íntima relação de interdependência.

    A heroína da fita percebe suas falhas de relação, repensando todas as suas ações, ao aceitar conversar com Jo-Ann, passando a se afeiçoar pela intrépida jovem, fazendo a aceitação do tal papel mais tragável, apesar de toda a confusão moral que envolve a novata.

    A aceitação do fato de ser obsoleta é quase ofuscado por conhecer uma persona tão ligada aos desígnios de diva presentes no comportamento de Ellis. Assistir à versão mais jovem de si, andando ao seu lado e cometendo erros semelhantes aos que Maria passou é demasiado grotesco, mas é uma sensação subalterna diante do desejo de reinvenção.

    Anders descobre que a transformação é o caminho mais digno a seguir, provando ser superior à sina que estava prestes a abraçá-la. A transformação que sua mente sofre se reflete em sua postura em tela, evoluindo-se a ponto de não precisar mais lançar mão de seu passado e currículo para sentir-se plena. Acima das Nuvens é um filme sobre evolução, que trata as relações inexoráveis à existência humana, tomando o estado de depressão como uma tela em branco, jogando com a alma e espírito humanos para apresentar uma contemplativa história de superação, distante de qualquer melindre ou covardia narrativa.

  • Crítica | O Quarto do Pânico

    Crítica | O Quarto do Pânico

    O início da década de 2000 não foi muito generoso com alguns dos maiores cineastas da modernidade. Os irmãos Coen patinavam com produções como O Amor Custa Caro e Matadores de Velhinhas; Terrence Malick trazia o bom, mas cansativo, O Novo Mundo; Martin Scorsese sofria com duras críticas ao filmes Gangues de Nova York e O Aviador, dentre outros exemplos. Nesse contexto, David Fincher não conseguiu escapar da curva com seu quinto filme como diretor: O Quarto do Pânico.

    O filme abre-se de maneira bem interessante, com tomadas externas de pontos específicos de Nova York, enquanto os seus componentes, como os prédios e seus vidros espelhados, se misturam, refletem e interagem com as letras dos créditos, causando um belo efeito visual. Após termos contato com toda a amplitude da cidade, o foco se volta aos personagens principais, Meg Altman (Jodie Foster) e Sarah Altman (Kristen Stewart), que visitam uma bela e enorme casa, incomum em Manhattan.

    Por estar se divorciando do rico marido, Meg procura uma nova casa para ela e sua filha, e dinheiro não é problema. Porém, a casa pertencia a um investidor paranoico que construiu em seu lar uma verdadeira fortaleza para resistir a tudo, especialmente invasores, transformando seu quarto em um “quarto do pânico” revestido de aço, concreto e com linha telefônica separada, sistema interno de TV, além de um estoque de água e outros itens de sobrevivência. Ao adentrar o quarto fechado, Meg se vê sofrendo os sintomas da claustrofobia, que estranhamente irá passar conforme o filme avança. Mas, mesmo assim, fecha o negócio e se muda para a casa.

    Na noite da mudança, três homens invadem a casa para roubar o cofre que se encontra justamente dentro do quarto secreto. Títulos ao portador que valiam milhões. Os invasores Burnham (Forest Whitaker), Raoul (Dwight Yoakam) e Junior (Jared Leto) não sabiam que teriam moradores na casa porque Junior se confunde com as datas: por meio de uma desculpa muito preguiçosa do filme de tornar tudo um simples “acaso”, Junior acha que 14 dias são três semanas, acreditando que só seriam contados os dias úteis. Raoul, o desconhecido que Junior traz sem avisá-lo do assalto, já se mostra desde o início portador de uma estranha e violenta personalidade, que assusta o pacato Burnham, funcionário de uma empresa em que trabalha instalando equipamentos de segurança, como os do quarto da casa.

    Os três decidem realizar o trabalho mesmo assim, mas ao descobrir que existem invasores no domicílio, Meg e Sarah se escondem no quarto do pânico, e aí que começam os problemas para ambos os grupos. A tensão é bem estabelecida e mantida durante o segundo ato, pois se dentro do quarto mãe e filha estão seguras, não houve tempo de ligarem todos os equipamentos de segurança, como o telefone, além de Sarah ser diabética e não ter levado sua injeção de insulina.

    Enquanto Junior e Raoul tentam de forma brutal achar um jeito de entrar no quarto, Bunham tenta tirar de lá as duas moradoras de várias formas, uma engenhosidade dos personagens, especialmente de Meg, que soa um pouco estranha, como se qualquer cidadão normal pudesse tê-la, ainda mais sob tamanho stress.

    A relação entre os próprios bandidos começa a mudar quando suas divergências sobre os métodos de como lidar com a situação começam a ir por caminhos muito diferentes. Bunham não quer machucar ninguém, e Raoul não se importa com isso, tanto que Junior é morto por este, agravando a tensão entre ambos.

    Após Meg conseguir fazer um contato mínimo com seu ex-marido, este aparece e é usado como refém pelos bandidos, o que força Meg a sair novamente do quarto. Porém, Sarah lá permanece e Meg consegue jogar para ela o estojo com a insulina.

    Bunham abre o cofre e pega os papéis, que eram muito mais valiosos do que pensavam. Mas Raoul, fazendo o claro clichê papel do bandido mau, tenta matar Meg, e Bunham acaba salvando-a, fazendo o papel do bandido bom, e é preso por isso. As sequências finais, com imenso potencial, acabam se perdendo em meio a tantas reviravoltas que abusam de clichês.

    Esse emaranhado de acontecimentos no terceiro ato são um exemplo claro do principal problema do filme. Apesar de ficarmos tensos ao acompanhar o desenrolar da trama, ela não tem uma base para se sustentar e não consegue cativar profundamente o espectador, já que trabalha sempre em cima de superficialidades. O filme se torna esquecível a partir do momento que acaba

    O Quarto do Pânico tem vários elementos que funcionam bem. A casa escura, grande e solitária, totalmente vigiada, ajuda a contar a história através de suas câmeras. Porém, o que acaba prejudicando a obra é justamente o fato da trama não ter muitos atrativos além do quarto e como várias coincidências são necessárias para se estabelecerem as tensões que a fazem andar. Dentro daquele universo, fica difícil saber se haveria algo mais a ser feito, mas o fato é que a produção falha em pisar fora do lugar comum das obras do gênero, tornando sua experiência quase que descartável após assisti-la, algo que deixa muito a desejar frente a uma filmografia tão grande e importante quanto a de Fincher. Felizmente, os outros filmes compensam.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Crítica | Na Estrada

    Crítica | Na Estrada

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    Walter Salles é um diretor que gosta de road movies: Central do Brasil e Diários de Motocicleta, seus dois filmes mais conhecidos, se passam quase inteiros na estrada. Foi provavelmente o sucesso na biografia de Che Guevara que fez com que Francis Ford Coppola (detentor dos direitos do romance e produtor executivo de Na Estrada) desse a Salles a direção de um filme que parecia impossível de ser feito (Gus Van Sant e Joel Schumacher já haviam desistido da adaptação).

    Salles prova que sim, Na Estrada era um livro adaptável e inclusive bastante cinematográfico, mas talvez sua vontade de ser fiel ao romance impeça o filme de ser extraordinário.

    Na Estrada é um bom filme e, principalmente, uma boa adaptação: é fiel ao espírito do livro e a maior parte de sua trama, bem atuado, com fotografia impecável, edição eficiente e bons planos na maior parte. Mas é um filme que poderia ser excelente.

    Salles constrói bons contrastes: entre Sal e Dean; Marylou e Camille; Nova Iorque e a Califórnia; entre planos fechados, cheios, quase claustrofóbicos e enormes paisagens abertas; a linguagem direta, simples e apressada de Jack Kerouac e as frases longas e pomposas de Proust (Sal carrega No Caminho de Swann por quase todo o filme). Mas tudo isso não parece se achar no filme que não explora a fundo as contradições e os personagens que tem na mão. Da mesma forma a beleza da fotografia acaba servindo apenas pra isso, não tem função narrativa, não ajuda na construção de uma ideia, o que é uma pena vindo do diretor de Abril Despedaçado.

    Em diversos momentos o diretor faz mais literatura do que cinema, se apoia mais em diálogos e na narração em off do que nas imagens que possui e na boa atuação dos protagonistas. Aliás, um dos grandes méritos do filme é o trabalho dos atores, com um destaque surpreendente para Kristen Stewart, que  equilibra bem o apelo e a fragilidade de Marylou e consegue não ficar apagada perto do trabalho Kirsten Dunst.

    A impressão final é de um diretor com medo de seu material original: um medo de se distanciar do livro, que faz com que o filme perca em linguagem, e medo de cortar passagens, o que o torna um pouco longo e cansativo. Não é um filme ruim, mas não é o filme que Walter Salles poderia fazer, há um encantamento e um frescor em Diários de Motocicleta que deveriam estar presentes aqui, mas não estão.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • Crítica | Corações Perdidos

    Crítica | Corações Perdidos

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    Após um longo atraso, finalmente chega ao Brasil Corações Perdidos (Welcome to the Rileys), um drama estrelado por James Gandolfini, Melissa Leo e Kristen Stewart, que interpretam três personagens que se unem em busca de uma razão para viver, e não apenas uma existência sem motivação alguma.

    Na trama, conhecemos Doug Riley (Gandolfini) e Lois (Leo), um casal que vê sua vida completamente estagnada e repleta de uma tristeza absoluta após uma tragédia que envolvendo a única filha do casal. Com isso, ambos se isolam de sua maneira, Lois passa a se fechar dentro de cada, ficando completamente isolada do mundo exterior, enquanto Doug externa seus sentimentos em casos extraconjugais, casos esses consentidos tácitamente por sua esposa.

    Não que não exista mais amor, mas é perceptível como pouco-a-pouco ele se esvai, e isso fica claro nos diálogos mecânico entre eles, como algo que deixou de ser natural e passa a ser estritamente necessário para a manutenção de um relacionamento a dois. E Neste isolamento dos dois protagonistas é necessário que o algo aconteça em suas vidas e demonstre que a vida continua, por mais difícil que isso seja. E esse fator externo é expresso na figura da personagem de Stewart, a stripper Mallory.

    Após a súbita morte de sua amante, Doug faz uma viagem de negócios para Nova Orleans onde conhece Mallory. Doug vê na figura da garota uma chance de redenção por ter sido um pai ausente, e a garota vê nele um pai que nunca teve. É óbvio que existe um choque de gerações e de culturas, enquanto Doug é um empresário de classe média e pai de família respeitado, Mallory ganha a vida como stripper em um bairro pobre de Nova Orleans. Enquanto isso temos Lois tentando se reencontrar. O desenvolvimento desses personagens é o ponto alto do longa.

    As atuações de Gandolfini esbanjam carisma e parece encaixar com perfeição e naturalidade para o personagem que vemos em tela, uma figura protetora e paternal, que demonstra em seus olhares e trejeitos esperança e doçura, mas que ao mesmo tempo externa um profundo trauma. Melissa Leo está contida, mas levando sua personagem ao ápice ao interpretar toda sua insegurança e sensibilidade. O ponto mais fraco fica por conta de Kristen Stewart, porém, tem seus méritos ao construir uma personagem ingênua e imatura, longe de ser pejorativa a crítica de sua atuação.

    O roteiro de Ken Hixon não passa de um drama de superação onde temos personagens que decidem superar suas perdas e buscar um novo significado em suas vidas. Alguns clichês incomodam como a figura do marido frio, da esposa sentimental e de algumas escolhas para o desenvolvimento da trama, mas o filme em nenhum momento utiliza sentimentalismo barato e maniqueísmos como muitos longas do gênero.

    A trilha sonora encaixa com maestria, talvez pela experiência do diretor, Jake Scott, em dirigir videoclipes. Seu trabalho de direção é simples, no entanto competente, privilegiando as atuações e o roteiro. Um filme redondo e sem grandes surpresas, mas que irá surpreender muita gente.