Tag: Sam Rockwell

  • Crítica | Jojo Rabbit

    Crítica | Jojo Rabbit

    O novo filme de TaikaWaititi, Jojo Rabbit começa com seu protagonista, Jojo Betzler de Roman Griffin Davis olhando para frente, onde ele dedica um discurso ao soberano da Alemanha, Adolf Hitler, em um juramento ao exercito de Jungvolk, onde em breve ele irá acampar. Seu sonho é ingressar na juventude hitlerista, e sob sua ótica infantil e inocente, ele tenciona se tornar um cidadão alemão fiel e temente a palavra nazista que impera em seu país, a Alemanha.

    É bizarro como nessa comédia o mundo varia entre uma versão alternativa e ao mesmo tempo é real, onde o nazi-fascismo alemão tem uma popularidade semelhante a Beatlemania, pontuado inclusive por uma versão da música I Want to Hold Your Hands. É fato que na Alemanha havia realmente uma idolatria cega, que é bem exemplificada pelos desejos do pequeno e esperto Jojo, que inclusive, tem sonhos e ilusões com figuras políticas importantes do Regime. O quadro só tem uma mudança real quando a mãe do menino é apresentada, a Rosie de Scarlett Johansson, mas até o seu drama é levado de maneira lenta e gradual.

    Assusta um pouco o fato de crianças usarem a saudação nazista típica da SS – Heil Hitler – e tal artifício serve para mostrar como ocorre a dominação de corações e mentes. Antes mesmo de receber a  alcunha que dá nome ao filme, Jojo aparece tendo contato com Adolf, personagem de Taika que obviamente usa as roupas do Fuhrer, e que serve de inspiração bizarra/alter ego do protagonista, numa relação semelhante a do Clarence Worley de Christian Slater com Elvis em Amor a Queima Roupa. No imaginário geral, Hitler é um herói, que precisa de adulação e adoração cega, tal qual boa parte das maléficas e egoístas entidades das religiões soberanas no ocidente.

    Há um sem numero de versões de músicas famosas, como I Don’t Wanna Grow Up dos Ramones, sendo embaladas pelas crianças, que dentro do campo de verão, sob a supervisão do estranho e louco Capitão K (Sam Rockwell, engraçadíssimo por sinal), brincam com armamentos reais, e lidam com o bullying dos garotos arianos mais velhos.

    A descoberta do menino a respeito do que Rosie guardava em casa se dá em um momento bem semelhante a um filme de terror, em que a menina judia, Elsa, feita por Thomasin McKenzie aparece  realmente como um fantasma, ou comum uma mulher possuída que se escondia nas paredes. É natural que para uma mente fraca e que apóia o nazismo, a moça pareça um monstro, numa clara alusão ao documentário alemão O Eterno Judeu, mas há nisso também uma crítica muito inteligente, pois somente uma mente imatura e sem caráter formado poderia achar a iconografia e o visual bonito dos uniformes nazistas algo lúdico o suficiente para ser seguido. A demonização dos judeus só poderia ocorrer por via de mentes sujas, porcas ou ignorantes, e o caso do protagonista é o terceiro.

    Mesmo nessa versão fantasiosa da Alemanha nazista, há espaço para estanhamento, e muito. O lugar onde o rapaz se recupera é um ginásio, onde K e seus assistentes Finkel (Alfie Allen) e Fraulein Rahm (Rebel Wilson)  treinam os futuros soldados, fazendo-os pular na piscina com roupas e fardas de escoteiros, não sem conviver com jovens mutilados, por ações de armas e de bombas. Os novos e possíveis membros dos alistados lidam com os feridos como se nada de errado houvesse naquela vida, e mesmo Jojo defende o ideal da guerra, invocado claro por Adolf, na mesa  de jantar junto com sua mãe.

    Há um largo uso de piadas repetitivas e de momentos fálicos, como quando o personagem de Stephen Merchant, o oficial Deertz afirma que o boato de que Hitler tinha apenas uma bola era mentira – ele teria quatro na verdade – mas também há muita tensão e receio de que Elsa seja pega, pois dela, vinha afeição e carinho.

    O terço final se passa na virada da guerra, e é assustador de certa forma, tornando esse Jojo Rabbit um irmão em espírito da temática de A vida é bela, denunciando os males do extremismo e sendo pragmático, ao menos em seu encerramento. A fantasia adocicada e colorida  do menino é interrompida de maneira  brusca pela guerra e pelo sangue derramado de justos e dos injustos. Em determinado ponto, por vias tortas e sentimentais, Jojo para de ter contato com Adolf, numa alusão clara ao amadurecimento, mostrando que sua jornada mudaria ali, ainda que guardasse em si um pouco da ingenuidade infantil, não havia mais espaço para a intolerância, pois Elsa é a prova viva de que o anti semitismo era algo cruel e fútil, alem do que, discriminar qualquer pessoa por uma condição de nascença não faz sentido em um mundo civilizado, nem em um mundo sem uma visão adulta das coisas.

    Facebook – Página e Grupo | TwitterInstagram | Spotify.

  • Crítica | Homem de Ferro 2

    Crítica | Homem de Ferro 2

    O segundo filme de Jon Favreau com o personagem do Homem de Ferro começa com a declaração do protagonista, Tony Stark de Robert Downey Jr. assumindo ser o alter ego do herói robótico, assistido por um senhor idoso que está a beira da morte em país europeu, acompanhado por seu filho, o inventivo Ivan Vanko (Mickey Rourke), conhecido nas revistas como Chicote Negro, que aparentemente quer dar a Stark uma lição.

    É nesse mistério que Homem de Ferro 2 começa, sabiamente apelando para um pouco de drama, para só depois mostrar as presepadas engraçadas de Tony, agindo como Homem de Ferro, pousando de terno embaixo da armadura, em um evento onde é esperado como um popstar. O diretor equilibra bem uma situação mais engraçada com outras mais sérias e esse equilíbrio é talvez seu maior mérito como realizador nessa duologia, isso inclusive faria muita falta não só nos filmes do personagem, mas em outras obras da Marvel Studios pós compra da Disney.

    Existe uma escalada de importância em um dos temas que é apenas arranhado no primeiro filme, que é a questão armamentista, e embora seja mais pretensiosa e arrogante aqui – até um pouco reducionista – explorar esse argumento aqui faz algum sentido, embora todo o envolvimento dos personagens de Sam Rockwell, Justin Hammer, nem o de Don Cheadle, Jim Rhodes. Os personagens inclusive são mostrados de maneira um pouco gratuita, e um deles prossegue apresentado sem qualquer importância maior.

    O filme se perde um pouco nos show offs de ação que faz, tanto no momento em que mostra uma briga entre Happy (personagem de Favreau que ganha mais minutos de tela) com a bela Natasha Rushman, de Scarlett Johansson, que a essa altura não é mais surpresa para ninguém sua identidade com Viúva Negra (isso inclusive torna mais palatável a gratuidade de sua aparição e disfarce), mas no caso da exibição de Tony como piloto de corrida, interrompida pelo vilão Chicote Negro há só preciosismo mesmo, uma desculpa para mostrar outra variação de armadura. A sequência ao menos termina bem graças ao caráter massa veio que ela toma, mas as piadas envolvendo Pepper Potts de Gwynett Paltrow soam vazias e infantis demais para um filme desse porte.

    Outro ponto fraco é o quão caricato é Vanko, falando em russo, com seus cabelos com mechas brancas artificiais e com um palito na boca, parece  saído de um filme de brucutu de Stallone ou Van Damme, com características e clichês típicos dos anos oitenta e noventa, assim como Rockwell também faz uma caricatura de milionário mal intencionado, que se apóia e alguém fisicamente forte.

    Isso, somado as cenas que Stark faz uma festa e dança bêbado, munido de sua armadura não combina em nada com o resto do tom do filme, e mesmo ao tratar da questão do alcoolismo do personagem, que existe nos quadrinhos, é aqui tratada como uma simples piada infanto juvenil, mesmo que hajam algumas tiradas engraçadas. O tom debochado faz imbecilizar todo o restante da trama, e piora demais quando Rhodes utiliza o traje protótipo de Máquina de Guerra. Em alguns momentos a luta é tão artificial que parece um gameplay de Virtua Fighter onde ambos players escolhem Dural, a chefe do primeiro jogo da franquia, com a obvia diferença de que estes não são personagens pixelados.

    Nota-se um desgaste  da formula do primeiro filme, apesar de novas participações do Agente Coulson (Clark Gregg), de Nick Fury (Samuel L. Jackson) e da Viúva, as piadas e tiradas de Tony soam repetitivas, não só em comparação com o filme um, mas também com o personagem em si. Ele se leva pouco a sério, mas o filme continua se levando muito a sério, e isso causa um problema de identidade grande.

    Sam Rockwell consegue ser ainda menos sutil do que foi Bridges no primeiro filme, alias o arco de Rhodes não faz sentido, além da mudança do ator aparentemente foi trocada também sua mentalidade e código ético. Jim jamais se voltaria contra Stark, mesmo com os erros do milionário. Mesmo em sequências de acerto, o filme teima com algumas gags desnecessárias. Após uma cena eletrizante de ação com a Viúva, há uma discussão de relação totalmente desnecessária entre Tony e Pepper, em mais um escapa cômico bobo, que ao menos, termina com outra boa cooperação entre Rhodes e Stark, contra os capangas robóticos de Hammer.

    O final é um pouco piegas, além de também ter uma cena pós crédito gratuita, como foi em O Incrível Hulk, que faz referência ao próximo filme do estúdio, Thor, mas ainda assim há boas sequências de luta, e o carisma de Tony e Natasha ainda dão  alguns motivos para celebrar a obra, é uma pena que os produtores tiveram pressa em lançar logo um segundo filme, pois se tivesse um roteiro um pouco menos apressado, Homem de Ferro 2 teria ainda mais méritos do que tem. Ao menos serviu para solidificar a ideia do personagem como o ponto de partida desse novo universo compartilhado, melhorando bastante o nível do que ocorreu no filme do Hulk.

    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram | Spotify.
  • Crítica | Três Anúncios Para um Crime

    Crítica | Três Anúncios Para um Crime

    A impunidade diante de um sistema policial sempre injusto e parcial às condições classicistas e raciais de um povo são o tema principais que movem uma mãe em busca da famosa justiça com as próprias mãos em Três Anúncios Para Um Crime. Destacando o peso da memória de sua filha estuprada e morta, cuja investigação foi encerrada pela polícia local. É nessa situação difícil que a mãe coloca três anúncios na cidade, em cada um deles pedindo explicações sobre o que acontecerá agora, caso aconteça, com os criminosos protegidos sob a aparente égide das leis do Missouri. Uma ação inconformada que simboliza o codinome pelo qual o estado é mais conhecido: The Show Me State! (Estado do Prove-me!), ou seja, não é lá que um bando de policiais bundões iriam tentar fingir que está tudo normal, abafar um caso de grave feminicídio jovem para manter a normatividade pública.

    Outra novidade: Dramas como esse exibido, em que a protagonista enfrenta bravamente fora (e dentro) de casa, em  um compêndio de cenas às vezes hilárias e outras bastante pesadas, são situações que ocorrem todos os dias em diversos lugares de violência, inclusive com maior índice de violência do que aquela visto na película, como nos atuais estados da Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro, onde a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado por, bem, ser negro. Num mapa de violência muito além do que qualquer mãe, mesmo com cem filhos, pudesse suportar. Ao traçarmos panoramas desta magnitude, vemos como é urgente o debate da violência seja pela mídia e instituições de segurança pública que sempre abafam nossos genocídios, seja pelas plataformas modernas que podemos usar para contextualizar o problema e buscar força para soluções que só chegam, teoricamente, de quatro em quatro anos.

    O cineasta Martin McDonagh, vindo de comédias de humor negro como Na Mira do Chefe, conseguiu relativamente entender e traduzir, na forma de personagens, essa aflição social vivida por todas as tribos nem tão civilizadas assim. Uma angústia por isonomia, fazendo a releitura da vida real conforme uma visão mais leve e com muita influência do cinema dos irmãos Coen, desenvolvendo com boa sustentamento um víes que muitos julgam como ofensivo ou de mal gosto: ironizar situações extremamente pesadas por si só.

    Ao longo da projeção, nota-se como Três Anúncios para um Crime é um filme indeciso. Não sobre o que mostra, mas como expõe certos desdobramentos básicos, como escolher se é enfim um filme de situações, ou de personagens tão curiosos quanto. O diretor parece ter noção desse desafio, mas ao tentar equilibrar a força das suas intenções pessoais, enquanto autor fazendo cinema autoral pra premiações anuais, e a força natural de um enredo que incluiu casos de barbárie contra uma jovem mulher, e por conseguinte com sua instituição familiar, falha por não achar uma coerência particular ao conto de uma mãe contra Deus, o mundo e a realidade deste.

    O autor, sendo corajoso, tenta abraçar a sociedade num projeto aberto a tanto, contando com bons agentes no enredo em ordem de esclarecer suas mensagens principais (O xerife de Woody Harrelson resume tudo aquilo que o filme expressa, sendo o elemento personificado de uma racionalização sobre tudo), mas por sua clara inexperiência com um material rico de significados, e também pela falta de sensibilidade na composição e no manejo dessa realidade mencionada antes, fica claro que a apropriação de um mundo de relações e valores cada vez mais obscurecidos e labirínticos, devido a aparente impunidade e revolta dos  cidadãos perante a justiça mundana, resulta numa indecisão significativa que atrapalha a execução da obra, refletindo num filme incoerente e possivelmente fragilizado por reflexões posteriores advindas dele – as quais certamente surgirão por parte de vários espectadores, exibições afora.

    Mesmo assim, desequilibrado entre seus fatores, a produção é uma dessas que, por mais formulado que seja para o Oscar, ainda consegue ser gostoso de se assistir (algumas soluções visuais são boas e mostram o domínio da iconografia que existe em McDonagh), a ponto desse mergulho narrativo, tipicamente estadunidense, e repleto de problemas universais, beirar certa diversão reflexiva. E sobre a atuação de Frances McDormand aqui? Quase duas horas de deleite total. Inestimável.

    Acompanhe-nos pelo Twitter e Instagram, curta a fanpage Vortex Cultural no Facebook, e participe das discussões no nosso grupo no Facebook.

  • Crítica | Poltergeist: O Fenômeno (2015)

    Crítica | Poltergeist: O Fenômeno (2015)

    Poltereist 15 4

    O game jogado pelo pequeno Griffin Bowen (Kyle Catlett) precede a mensagem que seria o mote da nova versão do clássico dos anos oitenta de Steven Spielberg e Tobe Hooper, Poltergeist: O Fenômeno. O incômodo principal começa pela enorme duração desta versão, além de artifício que resulta em uma fita que banaliza por completo o gênero de terror.

    A cena citada logo no início desvela não intencionalmente o quão contraditória é a covardia do filho do meio, sendo o rapaz peça-chave de uma engrenagem familiar mal construída e repleta de clichês. Ao invés de situar o público em arquétipos universais, o roteiro de David Lindsay-Abaire se mostra confuso, com dificuldade em dar importância aos dramas alheios. A experiência do escritor em filmes como A Lenda dos Guardiões e Robôs ajuda a explicar a extrema infantilidade, os sustos e a inocência das cenas de ação.

    Sam Rockwell faz Eric Bowen, um patriarca deprimido, resignado e desempregado, que pilota a nave familiar rumo a uma casa suburbana, em um bairro mal quisto pelos moradores da cidade, se isolando de praticamente todos os familiares, amigos e possíveis colegas de trabalho. Mais estranho do que esse background é a quantidade de cor saturada que predomina nos cenários, além do excessivo humor nos trejeitos de Rockwell, como no contexto da obra em geral, que reduz o espectro do medo a quase zero.

    A parte assustadora se concentra na desenfreada gritaria do menino, um personagem irritante, chato e escandaloso, ainda mais covarde e fraco que o rapaz do filme original. Seu discurso gera tanto enfado que todos os seus reclames são prontamente ignorados, mesmo quando os espíritos formam equivalentes a castelo de cartas com revistas em quadrinhos.

    Sam Rockwell e Jared Harris falham ao tentar dar credibilidade ao remake, especialmente pela pouca inspiração de ambos e pela total displicência com o argumento final. Ambos se mostram apáticos em relação ao drama das personagens, e o elenco parece coadjuvante diante dos muitos aparatos tecnológicos, que fazem lembrar um comercial publicitário bem pobre.

    O abusivo uso de CGI, em cenas sem o menor impacto visual aumenta a sensação de que o filme é uma paródia mal feita, orquestrada pelos irmãos Wayans. Gil Kenan já havia feito uma animação de tema semelhante, até mesmo em A Casa Monstro ele consegue emular mais elementos de terror do que neste. Sequer o argumento antigo, unindo a possibilidade dos pais lançarem mão de alucinógenos, é inserido nesta versão, resultando em um filme de horror para toda a família, por mais contraditório que isso seja.

    Falta alma e substância. Mesmo os péssimos filmes de Marcus Nispel, e mesmo o novo Carrie: A Estranha conseguem trazer mais novidades que essa versão. O desfecho mostra uma explicação sobre o modo de operar dos espíritos, evocando novas diretrizes, jamais vistas e nunca provadas. Poltergeist: O Fenômeno mais parece um pastiche do original, já que até sua cena pós-crédito remete à comédia, resultando em um dos espécimes mais patéticos do cenário de filmes de terror.

  • Crítica | O Verão da Minha Vida

    Crítica | O Verão da Minha Vida

    o verão da minha vida

    Curiosidade: os produtores e o elenco são de filmes consagrados pela maioria do público, crítica e premiações. Indagação automática: por que esse filme não fez sucesso na temporada de prêmios entre 2013 e este ano? Resposta: O Verão da Minha Vida é uma aula de como desperdiçar um ótimo elenco com um rascunho que ousaram chamar de Cinema. Um mundo de aparências, afinal.

    O filme começa e termina feito uma cópia menos inspirada e mais broxante da modesta obra americana recente de Alexander PayneOs Descendentes, com ideias, cortejos e arranjos individuais bem semelhantes à película, mas que não consegue achar o adendo louvável que diretores, com o talento genuíno de Payne, trazem através de sua pegada no material, tratamento e calor aos produtos – os quais, mesmo que adaptados de livros, caso dos dois filmes, chegam nas mãos dos cineastas ainda em estado bruto, carentes de lapidação e fomento artístico. Os escritores de Descendentes, sob influência de fórmulas que também deram certo, como Pequena Miss Sunshine e Juno, conseguem a proeza de rodar um filme de contexto semi-inexistente e mostram que têm fogo de palha nas veias e não seguram por um segundo sequer o interesse e a evolução gradual do filme, jamais linear do começo ao fim; tão imaturo quanto os irritantes personagens adultos, que agem como adolescentes de quatorze anos, e os adolescentes, espécies de virgens melancólicos mimados que tentam amadurecer no fluxo de esquetes frias e gratuitas que forjam a vergonha de conter semelhante projeto no currículo de qualquer um.

    É justamente esta a razão de ser do filme: mostrar, sem densidades além da superfície, os contrastes de gerações. Uma quer ser igual à outra, com a primeira com mais vontade que a segunda, e por isso, corre para se modernizar, evitando ser esquecida pela modernidade, enquanto ela mesma esquece seu lugar de direito na vida dos filhos. Contudo, é de se louvar, em meio a uma incômoda disfuncionalidade crônica da história, as veredas que a trama ganha na narrativa regimental, mesclando as personagens idiotas com uma agradável leveza que aflora das doces intenções, na visível tentativa de tornar tudo menos unilateral do que é, nesta irreversível “quase-tragédia” anunciada após as primeiras sequências, cheias de risadas e piadas fúteis sobre uma sociedade fútil com problemas e dilemas fúteis – ainda que universais – no jogo imagético da eterna reprodução.

    Feel Good Movies são malditos: podem ser muito bons ou muito ruins, tiros no escuro. E esta não é a única maldição por aqui. Steve Carell tenta a todo custo nos fazer esquecer de seu marcante protagonista na série The Office, mas, à parte de seus esforços, sua veia cômica aflora nos momentos dramáticos – ou que tentam ser e nunca são, na verdade – na cadência fraca e apática de um filme inexpressivo em demasia, portanto exagerado em um sentido contrário e pouco usual no mural dos exageros, causados geralmente por abundâncias. A rasa crosta de existencialismo não aponta a aspectos surreais ou de propriedade na produção, todavia, quem disse que O Verão da Minha Vida desiste de nos fazer acreditar que tal vida e as condições nas quais a tocamos pra frente não são duas coisas completamente diferentes? Perdão aos envolvidos, mas… Errado! Como já sugere a imagem acima, nós estamos ligados uns aos outros pela esperança de ficarmos completos, nalgum dia de sol, talvez.

  • Crítica | Sete Psicopatas e um Shih Tzu

    Crítica | Sete Psicopatas e um Shih Tzu

    Sete Psicopatas e um Shih Tzu

    Depois do excelente Na Mira do Chefe o diretor e roteirista Martin McDonagh volta às telas com Sete Psicopatas e um Shih Tzu. Apesar do primeiro ainda ser melhor, esse segundo ainda cai bem como uma comédia de humor negro e metalinguagem a respeito do cinema e violência, que lembra os bons tempos de Guy Ritchie com Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes e Snatch – Porcos e Diamantes.

    Com um excelente elenco, que junta Colin Farrell, Sam Rockwell, Christopher Walken, Woody Harrelson e outros, o filme começa com o escritor Martin (Farrell) tentando bolar uma ideia a respeito de Sete Psicopatas com histórias interessantes de vida, e com a ajuda de amigos (Rockwell e depois Walken), vai acrescentando em seu bloco de notas um psicopata com uma história mais interessante e exótica que outra.

    Porém, conforme vai passando, podemos ver que a conversa dos personagens dentro do filme é cada vez mais metalinguística, e cada vez mais referencial ao próprio filme e ao que está acontecendo, subvertendo totalmente a experiência inicial do longa, que nos levava para um caminho tradicional do filme de “máfia-com-perseguição-e-vingança” (e que o próprio filme tira sarro de sua escolha).

    Quando é finalizada a subversão e a história vira totalmente auto referencial e se preocupa somente com isso, um pouco da mágica e da graça acabam, tornando tudo uma paródia dos filmes violentos de Hollywood, com seus finais grandiloquentes e redenções ainda mais carregadas de emoções milimetricamente construídas. Outro ponto positivo é que em momento algum os personagens são tratados como arquétipos tradicionais de “mafioso” ou “psicopata”, o que dá espaço a piadas e situações muito boas, principalmente com Woody Harrelson, cada vez melhor.

    A intenção da sátira é louvável, mas seu resultado acaba fazendo o filme perder um pouco da graça e da intenção original, apesar de garantir algumas risadas, porém, mais pela graça do escândalo do que pela inteligência da construção do clímax.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.