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  • Crítica | Celular

    Crítica | Celular

    Celular-Cell-Poster

    Baseado em um romance homônimo de Stephen King, lançado em 2006, Celular reprisa a parceria de John Cusack e Samuel L. Jackson que contracenaram juntos em 1607, outra produção baseada na obra do mestre do horror. O filme teria, inicialmente, Eli Roth como diretor. Um nome que possibilitaria maior sucesso a esta produção. Porém, valendo-se das tradicionais diferenças criativas, o diretor saiu do projeto sendo substituído por Tod Williams de Atividade Paranormal 2.

    A trama deste terror reflete um tema comum ao público atual tanto na vertente realista, que estabelece uma crítica a um movimento contemporâneo, como na fictícia em que desenvolve a história. A real apresenta o uso exagerado da tecnologia como um malefício para a sociedade contemporânea, fator que possibilita que um pulso eletromagnético, transmitido via celular, transforme os usuário em zumbis, o enfoque fictício explorando o combalido tema dos zumbis. Dessa forma, a tecnologia se torna um vilão enquanto um pequeno grupo de pessoas tenta sobreviver a procura de um meio para derrota-los. Ou seja, um argumento nada inédito mas que, devido a grife de Mr. King, potencializa-se como possível obra rentável.

    Porém, mesmo que formatado em uma vertente diferente, partindo de uma crítica de um mundo conectado e escravizado pela tecnologia, os zumbis são matéria saturada para o público e nem a história, nem os personagens, são carismáticos suficiente para irem além de uma narrativa sem força. Em cena, Cusack e Johnson formam a tradicional equipe improvável, unida pela necessidade da sobrevivência. Porém, sem nenhuma urgência, embora relembrem, a todo momento, a necessidade de procurar seus familiares.

    O fato é que grande parte do horror desenvolvido por King se pauta em seu vigoroso estilo literário, algo que sempre se perde em uma adaptação, motivo pelo qual muitas obras cinematográficas oriundas de seus livros sejam fracas ou medianas. Mesmo que o roteiro seja assinado pelo próprio autor, trata-se de um campo novo a ser explorado e, por consequência, irregular. Como o desfecho do original do livro sofreu reclamações dos leitores, King compôs outro final para a versão cinematográfica. Um desfecho sem impacto, sinalizando a afirmativa de que, muitas vezes, suas histórias falham em uma conclusão insossa.

    Celular resultou em um fracasso de bilheteria, conivente com a qualidade da produção, um horror sem sustos e sem nenhuma urgência, repetido pela temática de zumbis e conduzido de maneira apática.

  • Crítica | Meia-Noite no Jardim do Bem e do Mal

    Crítica | Meia-Noite no Jardim do Bem e do Mal

    Meia Noite no Jardim do Bem e do Mal 1

    Bastante diferente da sua filmografia costumeira, Clint Eastwood se aventura ao adaptar o livro de John Berendt, cuja história mistura metalinguagem e apreço por fantasia. Meia-Noite no Jardim do Bem e do Mal inicia-se com o ingresso de John Kelso (John Cusack), um jovem escritor de Nova York, na pequena cidade de Savanah, onde deveria cobrir uma festa de Natal bastante abastada, com “patrocínio” de Jim Williams (Kevin Spacey), o qual visa tornar visíveis para o país inteiro as comemorações locais.

    Kelso é um homem atento, que beira o deslumbre ao observar a incomum rotina dos membros da alta sociedade residentes ali. A todo momento ele toma nota, mostrando estar atento a todos os acontecimentos, por menor ou mais tediosos que sejam os eventos que envolvem os ricos de Savanah.

    A investigação do protagonista mudaria, quando um conflito estranho ocorre em plena festa, em uma discussão envolvendo Williams e o jovem e inconsequente Billy Hanson (Jude Law), com o primeiro alvejando o segundo, em um ato supostamente de legítima defesa. Após o ocorrido, uma intricada trama de tribunal se desenrola, com os dois lados distintos se digladiando, com o importante líder da comunidade se valendo de seu prestígio para se livrar da prisão.

    Enquanto o jornalista enxerga a possibilidade de uma história interessante e além da monotonia da cidade interiorana, os argumentos dos advogados do acusado usam um discurso conservador e simplista, que revela as vias pelas quais passam o ideal do pensamento médio norte-americano.

    O filme possui um grave problema de ritmo, tendo partes excessivamente longas, especialmente na metade de sua duração, que mistura elementos diversos que pouco combinam entre si, gerando uma quantidade enorme de aspectos estranhos ao olhar do público. A atmosfera presente no roteiro de John Lee Hancock (também roteirista de Um Mundo Perfeito e Branca de Neve e O Caçador) apresenta longos períodos mornos que ajudam a fazer o espectador perder o interesse no suspense que deveria predominar na fita.

    O desfecho para os envolvidos no assassinato é misterioso e envolve uma dubiedade de caráter e abordagem que deveriam ter ocorrido no restante do filme, e que se apresentam tardiamente, atrelando um conceito de justiça divina sobre os destinos dos “culpados”. Apelando para uma ação divina não-cristã, fugindo do convencionalmente utilizado nos filmes dos Estados Unidos, ainda assim o filme é muito pouco para um produto dirigido por Clint Eastwood.

  • Crítica | Woody Allen: Um Documentário

    Crítica | Woody Allen: Um Documentário

    A evolução de um artista se mede pelo catálogo conjurado ao longo de tantos anos. De lá pra cá, uma lista que atesta o gênio de um comediante não pode ser menos que homérica, ou mais digna de ser debatida, filme por filme, num documentário feito sob medida a fãs, estudantes e curiosos sobre a vida (e obra) de Woody Allen, o criador dos monólogos, diálogos e de toda a comédia mais textual que visual de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (seu melhor filme), Memórias e Meia-Noite em Paris. Uma mente a serviço de um gênero que dedicou sua vida a aprimorar, muito além do estilo de comedia americana, das lições de Buster Keaton, Charles Chaplin e os lendários irmãos Marx, a trindade que ainda tanto espira Allen em sua máquina de escrever, de onde saíram seus mais de 50 roteiros, sem exceção ou afetações tecnológicas. Ao costurar a vida de um artista, o jornalista Robert B. Weide, fã do humorista, não escapa do humor leve e afiado de seu ídolo no ritmo de seu filme, e tampouco esquece que ninguém é perfeito.

    A tarefa de mistificar Woody Allen e ser justo, ao mesmo tempo, com os altos e baixos da carreira de quem faz praticamente um filme por ano, há quase oito décadas, nunca seria fácil. Reunindo velhos amigos como Diane Keaton e Mia Farrow, as duas musas do judeu inseguro e inquieto, tal qual Penélope Cruz e Scarlett Johansson, um pouco de sangue novo, entrevistas inspiradas pretendem mais revelar que comentar, expondo a arte mais nobre dos documentários a favor da reflexão: levar o fato ao público e deixá-lo ruminar, sem condicionar o rebanho a uma única opinião. E igual nossa relação de amor e ódio com os loucos e normais personagens criados pelo artista, aos poucos vamos descobrindo segredos e resgatando fatos, interessantes o bastante para merecer o registro, de uma vida tão polêmica quanto produtiva, ainda que parcial aos talentos e desejos de Woody. O próprio Martin Scorsese, colega desde os anos 70 (Taxi Driver e Noivo Neurótico, Noiva Nervosa são clássicos da mesma época), admite que poucos têm tanto a dizer quanto a mente por trás de A Rosa Púrpura do Cairo, Zelig e A Era do Rádio.

    Das mãos de onde saíram tantas reinvenções de um gênero que não se limita mais, também pela contribuição inteligente do cineasta, a provocar apenas aquela risada fácil, Woody Allen: Um Documentário nos remete a lições extraídas dos filmes, dos livros e da carreira que postula e converge numa vida curiosa, voltada à análise das emoções humanas, das traições entre casais, dos laços familiares, das fugas ao passado, do desejo pelas mulheres, das paranoias de viver em sociedade, universos inevitáveis nas histórias do autor. Elevar ao hall das lendas esses aspectos é tarefa de fã, o que certamente torna mais doce o desafio, ainda que incompleto, de emoldurar carreiras tão prolíficas numa obra que vai do jazz à psicologia, sendo divertido e deliciosamente previsível, como pede o figurino. Imagine um documentário sobre Scorsese (o que já está na hora de acontecer): o culto a diversidade cultural e a violência qualificada seriam omitidas? Resposta óbvia.

    Seria loucura afirmar que o documentário de Robert Weide não tem lugar entre os livros sobre o artista, em especial o hilário e amplamente pessoal Conversas com Woody Allen, da editora Cosac Naify, livro-chave para conhecer mais a fundo o que move e mantém na ativa a ostra octogenária que, com suas pérolas, nunca subestimou a inteligência do público. Um documentário quase à altura das fases do ídolo, se não a falta de precisão entre a arte da pessoa, e a pessoa da arte. Se o homem vale mais que o mito, ou vice-versa, o filme não se dá o direito de concluir essa questão, à margem de nosso juízo a partir dessa pendência, dessa falta de postura e coerência. Destaque, mesmo, ao equilíbrio entre o que é lendário na carreira de Allen e o simplório, tal seu platônico amor por sua eterna parceira: uma clarineta.

  • Crítica | Mapas Para as Estrelas

    Crítica | Mapas Para as Estrelas

    Mapa Para As Estrelas 1.5

    A viagem em um ônibus popular que atravessa municípios está longe demais da realidade almejada por Agatha Weiss (Mia Wasikowska, cada vez mais linda e madura), que chega a Hollywood para dar uma volta na limusine dirigida pelo aspirante a ator Jerome (Robert Pattinson). Numa breve conversa, revelam-se as dificuldades que se apresentam ao viver no olho do furacão da cultura pop, surgindo, claro, os graves assuntos familiares que a fazem ser obrigada a ficar longe dos seus.

    A câmera de David Cronenberg trata de variar logo seu foco, mostrando uma família disfuncional, que em níveis diferentes reflete as neuras e paranoias típicas do show business. O pai Sanford, feito por John Cusack – com visual tão bizarro quanto em Obsessão –, é um psicólogo que se vale dos incautos que compram seus livros de autoajuda. Ele é o guia do clã rumo a qualquer possibilidade de sucesso, e investe em carreiras distintas entre os parentes. Seus esforços físicos são mais voltados ao tratamento de uma atriz cinquentenária repleta de crises – interpretada por uma oxigenada Julianne Moore –, que tenta, através de madeixas louras, esconder a real idade (e o envelhecimento físico visto a quilômetros) no intuito de conseguir interpretar um papel que sua mãe fez, em um remake. Havana Sangrand tem sérios problemas psíquicos, encarando com frequência o espectro de sua mãe Clarice (Sarah Gordon), que a atormenta e faz duras críticas a cada performance sua.

    Benjie (Evan Bird) é um jovem menino, que tem sua precoce carreira cuidada pela mãe da família Christina (Olivia Williams). A pressão que sua genitora realiza para que ele tome as melhores decisões possíveis revela – mais uma vez – a profunda perseguição à notoriedade no ambiente que é o mundo dos célebres astros do audiovisual. A tentativa do roteiro de Bruce Wagner é parodiar esse ambiente apontando seus absurdos, que se tornam caricatos pela lente e edição de Cronenberg, exagerando o tema em muitos pontos da trama para provar os pontos que defende.

    Cada um dos humanos parece deslocado da realidade, como se a febre da corrida por glória e renome anestesiasse os personagens, tornando relação e conversa travada por eles artificiais e aéreas. Apesar de não perder o apelo sexual, o visual de Moore e Wasikowska é estranho em algum nível, revelando defeitos estéticos, como marcas e envelhecimento da epiderme, provando que elas são espécimes humanas vvendo pateticamente em um ambiente semifantástico.

    A aura predominante é uma ode ao grotesco. As reações às recusas são intolerantes, especialmente da parte da debilitada Havana. Há estranhamento do público ao analisar os fatos recorrentes da fita. Os inimagináveis exemplos fazem lembrar a face pouco usual do cinema de David Lynch, onde os limites explorados passavam longe do comportamento padrão da indústria cinematográfica e não restringiam o desenrolar de qualquer história. No entanto, o modo como Cronenberg faz seus planos não é tão inspirado, também pelo caráter depressivo de seu conto.

    A esquizofrenia e as cicatrizes de deformação de Agatha não só a diferenciam visualmente dos corpos sem vida que vagam pelo mundo estranho apresentado na película, como também são avatares da insanidade que habita a mente e alma dos fúteis homens que compõem o clã dos Weiss. Uma análise cuidadosa do quadro revela que os demônios que atormentam uma das gerações reverberam na outra, denotando a maldição hereditária e a praticamente incombatível realidade inexorável e incondicional.

    As esferas de perturbação mental variam seus ápices entre as tentativas de morticínio familiar e a quantidade exorbitante de devaneios e ilusões com seres incorpóreos, algo que ocorre a mais de um personagem por vez e cuja razão não é explicada. As maiores possibilidades de origem de tais fatos podem prevalecer no uso abusivo de alucinógenos ou na cada vez mais crescente possibilidade de insanidade do coletivo, igualmente agravados pelo envolvimento com infantes e adolescentes, pessoas cujo caráter e inteligência emocional ainda estão em formação, mas dentro do escopo dessas fantasias.

    A obra segue fiel aos preceitos do início da carreira de seu diretor e faz lembrar, em espírito e algumas cenas violentas, o gore dos clássicos insanos Scanners e A Mosca. Ainda assim, Cronenberg perde em seriedade, repetindo grande parte dos erros de Um Método Perigoso, ainda que, em se tratando de qualidade, Mapas Para as Estrelas esteja anos luz à frente dos últimos filmes do cineasta. O foco em apresentar um deboche inspirado na falsidade ideológica que Hollywood exala é pontual, mas o roteiro que tinha em mãos é bastante atabalhoado, sendo, em alguns momentos, salvo pela ótima direção de atores. Porém, sobra em excentricidade em alguns dos núcleos. O saldo final é positivo, especialmente pelo pastiche e pela referência à crueldade do método e da arte.

  • Crítica | Profissão de Risco

    Crítica | Profissão de Risco

    The Bag Man

    David Grovic traz à luz o seu primeiro longa-metragem. Profissão de Risco (seu nome original é The Bag Man) é um filme baseado em um antigo roteiro do ator James Russo — que estrelou Inimigos Públicos e Donnie Brasco, escreveu A Caixa, além de ficar algum tempo na geladeira  mostrando a história de Jack, protagonizado por John Cusack, um sujeito comum que se infiltra em um trabalho sujo, o de entregar uma encomenda para o gângster Dragna, vivido por Robert DeNiro.

    Os aspectos escusos da vida de Jack são prenunciados pelos cenários por onde ele passa, sempre imundos, mal iluminados, envoltos de fornicação e de outros pecados de cunho sexual. Sua vida é uma imundície tamanha que, antes dos primeiros atos violentos que comete, prepara seu revólver com movimentos semelhantes ao ato da masturbação. Há um contraste entre o cotidiano do protagonista e do seu mandante, pois Dragna é um homem bruto, talhado pelos atos que praticou durante toda a vida. A atitude do chefão também destoa de seu cenário  uma mansão belíssima, divergente e muito da face sangrando da bela mulher que este emprega. Em comum entre os dois há a vida marginal e a selvageria dos seus modus operandi; de dissemelhante há a posição social, e, claro, a discussão sobre o que há dentro da maleta.

    No decorrer da trama, Jack acredita que seu contratante tem planos escusos para ele, e que os sujeitos que tentam matá-lo estão no encalço a mando de Dragna. O caminho do personagem é cruzado pelo da garota de programa Rivka (da brasileira Rebecca Da Costa), que pede a ajuda do homem e desperta nele a atitude do “bom anti-herói aquele que pratica o mal somente com quem o merece. Os dois tornam-se “sócios”, de certo modo, tendo suas vidas unidas por uma curiosa necessidade. Os diálogos entre os dois começam bastante tensos, mas tornam-se cada vez mais engraçados, apesar do humor não predominar na fita.

    A violência gráfica é um ponto primordial do filme. Tudo gira em torno disso, especialmente nas cenas de agressões às mulheres, o que pode gerar um sem número de críticas do espectador mais conservador à misoginia constatada nas ações dos personagens. Não há para quem torcer, o caráter de praticamente todos os personagens é presenteado por alguma corruptela.

    São discutidas, o tempo todo, as relações humanas e a necessidade da sinceridade nessas interações, e, claro, a autoconfiança quase nunca presente na vida de Jack, mesmo com seu histórico de trabalhos muitíssimos bem feitos. Seu talento é também a sua maldição, o que o faz se distanciar do oásis de tranquilidade que tanto busca para si e da paz que não consegue alcançar, apesar de todos os seus esforços. Profissão de Risco é uma fita divertida, cujo conteúdo é imerso no característico humor negro, elevando o conceito de mind game à enésima potência. Seu roteiro brinca e perverte os clichês de filmes de perseguição, de máfia e do gênero policial, tudo de uma única vez.

  • Crítica | Toque de Mestre

    Crítica | Toque de Mestre

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    Produção espanhola de baixo orçamento, escrito por Damien Chazelle (de Agnosia), Toque de Mestre conta a história de Tom Selznic (Elijah Wood), um talentoso pianista que sofre de medo do palco, retornando às salas de concerto após cinco anos de afastamento, depois de uma performance desastrosa. Momentos antes da apresentação que marca seu retorno, recebe uma ameaça, afirmando que deve fazer o melhor concerto de sua vida, sem errar uma única nota caso queira salvar a si próprio e à sua esposa, Emma (Kerry Bishé). Sem sair do piano – ou quase – tenta descobrir o autor da ameaça e como conseguir ajuda.

    Não há como não pensar em O Homem Que Sabia Demais de Hitchcock devido à ambientação da trama. Utiliza-se o mesmo conceito: uma situação dramática que se desenrola enquanto a orquestra executa uma obra. Neste, diferente da produção de Hitchcock, a ação do filme se passa toda dentro do teatro – com exceção dos primeiros minutos em que o público é apresentado ao protagonista (em pânico) e seu piano. Personagens confinados em apenas um local costumam render boas histórias, com bons momentos de suspense. Com este não é diferente, apesar de não conseguir manter um nível de tensão suficiente para evitar um eventual bocejo do espectador.

    Se, no seu primeiro terço, o filme se sustenta bem, o mesmo não ocorre no restante do tempo. No início, o suspense se mantém, pois, junto com Tom, o espectador tenta entender a extensão da ameaça ao mesmo tempo em que se pergunta por que raios o vilão está fazendo aquilo. Do segundo terço em diante vai se tornando cada vez mais irregular. A começar pelo momento em que “descobrimos” quem é o vilão – poderiam ao menos ter tido o cuidado de suprimir o nome do ator dos créditos iniciais – e em que é revelada a motivação do vilão – um tremendo anti-clímax. Impossível não pensar “Mas era só isso?”. Dali em diante, a trama se torna errática. As ameaças a Tom se tornam repetitivas. O foco da ação é desviado para personagens sem qualquer função narrativa – algo similar ao Rodrigo Santoro em Lost (entendedores entenderão). O filme vai perdendo fôlego e se encaminha para o desfecho sem muito entusiasmo.

    É preciso relevar vários detalhes para comprar a história, principalmente se o expectador tiver conhecimento, mesmo que mínimo, do universo de concertos de música erudita. Se o pianista sofre de ataques de pânico, por que não está em tratamento – terapia e/ou medicamentos? Que maestro correria o risco de fazer uma performance com esse pianista, que não se apresenta em público há anos – sem ao menos um ensaio? Que maestro não percebe que o pianista não está agindo normalmente? E, se percebe, por que não o procura durante o intermezzo? Aliás, como não perceber, e o pianista deveria estar polidamente sentado ao piano ao invés de sair do palco sucessivas vezes enquanto a orquestra executa a peça? Para o espectador que já tenha tocado algum instrumento, fica a dúvida: por mais virtuoso que seja o músico, é humanamente impossível tocar passagens complexas como aquelas, tão excepcionalmente bem quanto ele as toca e ainda conversar com um desconhecido que o ameaça. E como é possível que o vilão tenha se preparado por três anos e não ter controle total sobre toda e qualquer ação de Tom? E ainda, se o vilão apenas queria a chave, havia várias outras possibilidades de obtê-la que não envolveriam um plano tão mirabolante e tão suscetível a falhas como o que foi engendrado.

    O elenco está bem, nenhuma atuação excepcional nem nada terrível demais. A fotografia está ok, exceto nos momentos em que tenta ser inovadora e usa certas angulações sem qualquer justificativa. Se praticamente não há sangue no filme, isso é compensado pelo vermelho carmim do cenário, tão excessivo que chega a enjoar. Há algumas boas sacadas na montagem, que na maior parte do tempo se aproveita do ritmo da música. Quanto à trilha sonora, pode não agradar a todos pelo caráter atonal das composições, mas casa bem com o clima de suspense do filme.

    Mesmo estando longe de ser um Hitchcock em termos de estrutura narrativa e desenvolvimento da tensão, ainda assim consegue ser um filme de suspense ‘assistível’. Não é inovador, mas cumpre o que se propõe – entreter o espectador e deixá-lo (um pouco) tenso durante 90 minutos.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Crítica | Obsessão

    Crítica | Obsessão

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    Um pouco distante da temática que o fez ganhar notoriedade – ligada e muito à questão racial e sempre pelo olhar do negro, citando Preciosa e O Mordomo da Casa BrancaLee Daniels aborda questões de interesse público e privado, sob uma estética bastante semelhante às andanças de Jack Kerouac e aos poemas de Allen Ginsberg. O roteiro de Obsessão é baseado no livro de Pete Dexter, lançado no Brasil como Paperboy – Não Existem Homens Íntegros (compre aqui). É interessante como tanto o subtítulo do romance quanto a tradução do nome do filme expressam bastante o espírito da película, resumindo algumas das questões apresentadas no roteiro do autor e do realizador da obra.

    A imoralidade contrastava com o ambiente rural dos white trash, um lugar tradicional que remete normalmente a momentos de extremo conservadorismo. A escolha do diretor ao contar a história começando com uma filmagem documental é um enorme acerto, pois dá à película um aspecto de veracidade, o que obviamente faz toda a efervescência de insanidade presente na história fazer sentido dentro do universo proposto. A escolha do bom menino Zac Efron para interpretar Jack aumenta ainda mais o escopo de cinismo do filme, assim como a opção pela figura de musa para Nicole Kidman (Charlotte Bless), cinquentenária, decadente, entupida de botox, mas ainda assim, sensualíssima. A dupla formada por Matthew McConaughey (Ward Jansen, irmão mais velho de Jack) e David Oyeleywo (Yardley Acheman) é uma perversão do ideal mostrado em Todos os Homens do Presidente  por Hoffman e Redford obviamente levando em consideração a tensão racial e os conflitos que a interação entre ele e o mundo poderiam ocasionar.

    A câmera, por múltiplas vezes, registra os personagens de uma vista aérea, distante fisicamente deles, no intuito de se fazer notar a diferença entre o pensamento comum e a insana psiquê de cada um dos obcecados personagens. Charlotte é uma tiete de marginais; Jack tem uma séria necessidade sentimental pela senhorita Bless, fantasiando o seu status conjugal de noiva; Ward e Acheman querem chegar ao cerne do personagem investigado  o assassino encarcerado Hillary Van Wetter, interpretado por um desfigurado John Cusack. Dos insanos, ele obviamente é o pior, vide o repertório que o fez ser preso: pelos idos de 28/29 minutos de exibição, ele dá mostras de um pouco de sua insanidade pessoal, pondo em prática seus diálogos sujos que troca com Charlotte através de cartas, e consegue se sujar sem sequer tocar na mulher.

    O script é cortado por disfunções comportamentais protagonizadas por quase todos os personagens principais. O eterno desejo de Jack não se concretiza, apesar de ele desejar desfrutar das curvas de sua musa, sem se mostrar um predador sexual em momento algum. O auge do platonismo na relação, e que mais se aproxima do seu tencionado alvo, é o momento em que ele é obrigado a sofrer com uma chuva dourada dela em plena praia, em uma situação no mínimo inesperada.

    O clã Wetter, ligado a Hillary, é formado por caipiras de aspecto visual degradante, todas figuras esquisitíssimas, maltrapilhas e de aparência asquerosa ou desleixada. Uma das moças, grávida, é mostrada sem camisa ou roupa de baixo, exibindo sua barriga e partes íntimas no pântano. A possibilidade de anomalia mental parece ser algo que abrange as famílias, tanto os Wetter quanto os Jansen.

    As figuras de inspiração de Jack vão caindo diante dele, a começar por seu pai, até o seu irmão, pego em uma situação constrangedora. Quem estende a mão a ele é Charlotte, que está no lugar e momento certos para aliviar as tensões do rapaz. O caçula guarda seus sentimentos e não se entristece com o irmão, graças às suas “preferências”, mas não contém a mágoa por ele ter escondido o segredo de si.

    A fotografia de Roberto Schaefer é um primor e a câmera nervosa de Daniels consegue emular as sensações dúbias das conversas após a revelação de Ward. As relações vão ruindo na medida em que o interesse acaba, ligado, é claro, à solução do caso graças ao artigo publicado. Dali em diante, as situações tornam-se ainda mais loucas e doentias. As cenas de “amor” entre Hillary e Charlotte revezam-se entre o violento coito e flagrantes de animais no pântano. Cusack consegue fazer uma das mais demoníacas figuras do cinema atual sem precisar apelar para clichês, e sua insanidade é justificada e plausível graças a toda sua caracterização.

    Jack era um menino solitário, sem a presença do irmão que sempre trabalhou fora e com a presença da figura opressora da madrasta. Só se afeiçoaria por Anitta (Macy Gray), a doméstica negra que serviu como para-raio de sua solidão e que por muito tempo foi a única pessoa em quem confiou. No seu pensamento irreal, Charlotte era a princesa encantada, a protagonista do conto de fadas, quem ele imaginava ter uma vida perfeita. Saber que ela estava com o asqueroso psicopata o enojava, o que pioraria evidentemente após saber o destino de sua amada. Na fúria elevada pelo ciúme, Jack se mostra um macho viril, mas tal estado ilusório logo cede com a queda do irmão, sua figura de exemplo. O instinto de sobrevivência rivaliza com a aspiração assassina do facínora e este, após perder tudo, finalmente tem sua primeira vitória sobre o inimigo baseada no único comportamento que conhecia: a covardia.

    A película faz apologia ao bizarro e constitui um dos melhores exemplares de filmes que usam o homem como figura monstruosa, tecendo uma possibilidade de futuro nada otimista. O curioso é que o jovem motorista não é tão diferente da nêmese, especialmente no que envolve o nível de isolamento destes do mundo real: enquanto um volta suas atenções para a fria psicopatia sem limites, o outro torna-se um criador de histórias, provavelmente de cunho tão grotesco quanto o que foi narrado em tela.

  • Crítica | Alta Fidelidade

    Crítica | Alta Fidelidade

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    Baseado na obra de Nick Hornby, Alta Fidelidade é o 14° longa de Stephen Frears – de Coisas Belas e Sujas e Terra de Paixões. Traz em seu conteúdo uma comédia intimista, pessimista e até conformista, dependendo é claro dos olhos que a analisam. Mais do que isso, High Fidelity é um filme sobre como as escolhas da vida são feitas e sobre o que se deve insistir.

    John Cusack faz Rob Gordon, um rapaz já não tão jovem, com idade aproximada de três décadas, mas que guarda em seu estilo de vida algo de infanto-juvenil. Não é um loser completo por possuir uma loja de discos que mais se assemelha a um sebo nos moldes brasileiros, onde emprega dois desajustados que não saem de lá mesmo com os baixos salários que recebem, mas que ainda assim, se permitem acreditar que são melhores do que os clientes que por lá passam. Em uma fala, vinda de um amigo dos três, em que ele compra um disco raro e que o vendedor se recusara a vender para um cara “comum”, exemplifica bem essa máxima (que é também o resumo a auto-imagem que alguns blogs nerds brasileiros se encaixariam – entre eles, este Vortex Cultural):

    “- Por que o vendeu para mim e não para ele?
    – Você não é tonto, Louis.
    – Vocês são esnobes.
    – Não somos.
    – É sério. São totalmente elitistas. Julgam-se os eruditos, depreciados e desprezam as pessoas que sabem menos que vocês, que é todo mundo.
    – Sim.
    – É muito triste, só isso.”

    Rob tem uma estranha tara por querer ranquear tudo, passando todo o seu tempo junto a Barry – Jack Black – fazendo listas Top 5, de setlists, bons filmes ou momentos marcantes da vida. Tais ações lembram muito os maneirismos do comportamento obsessivo, a ânsia por qualificar a tudo e a todos é reflexo de outra máxima dos personagens, de que o que faz uma pessoa importante é o que o indivíduo gosta, não o que ele é. A declaração soa superficial, e é, segundo o protagonista, mas corresponde a realidade daqueles que são mostrados em tela, e é obviamente crível visto a ótima construção dos personagens.

    A estrutura narrativa que Frears escolheu não poderia ser melhor, a narração de Rob tratando de quase todos os assuntos diretamente com o público não soa estranho em momento algum, e deixa de ser estranha com poucos momentos de exibição. O modo como o conjunto de nerds é retratado é engraçado, pitoresco, mas não é super caricato. A falta de tato social dos personagens é mostrado de forma verossímil, e eles não precisam ser os estereótipos em todo o tempo, cada um deles é mostrado com nuances, complexidade e dimensionalidades múltiplas.

    As relações mostradas constituem um dos pontos fortes do roteiro, que contempla na relação de Rob e Laura – Iben Hjejle – uma linha guia, mas que ramifica por cada um dos namoros que ele teve durante sua vida. O resgate aos momentos anteriores de sua vida representam em alguns momentos nostalgia e em outros pontos de puro terror,  mas tem em comum a interessante tarefa de análise do caráter e do comportamento de Rob diante das tão temíveis relações amorosas, explicitando as inseguranças e os medos do sujeito medíocre diante do temível gigante chamado solidão – que se solidifica com a decisão dele de parar de pular de galho em galho. Gordon não termina o filme como um sujeito perfeito, mas demonstra que seu personagem evoluiu, e aprendeu que deve tentar se arriscar mais, ousar e tentar ser algo mais além do ordinário.

    Apesar da mensagem final ter um tom de auto-ajuda, a criatividade em como as coisas se desenrolam passam por cima de qualquer possibilidade de pieguismo barato, graças ao roteiro de Cusack, Steve Pink, Scott Roserberg e D V DeVincentis, além é claro, da portentosa lente de Stepher Frears, que soube condensar todo o humor cáustico e nonsense com toda a metalinguagem presente no script e tirando de seu elenco as melhores atuações possíveis.

  • Crítica | O Mordomo da Casa Branca

    Crítica | O Mordomo da Casa Branca

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    O filme se inicia com uma emblemática citação a Martin Luther King “A escuridão não pode expulsar a escuridão, apenas a luz pode fazer isso.”. The Butler mostra a trajetória do negro Cecil Gaines – Forest Whitaker – desde sua traumática e trágica infância, até a vida adulta, onde atuou como um servil mordomo na casa presidencial americana por longevos anos, passando por grande parte dos momentos marcantes da história americana, em especial pelos martírios e conquistas executadas pelo povo negro.

    No ato primeiro, Cecil é mostrado ainda como uma criança, aparentemente feliz, mas que logo teria sua vida marcada. Seu pai deixa claro como são as regras: “não se meta com esse homem (branco), o mundo é dele, e nós só vivemos aqui” – após essa fala a sua mãe é levada para fora de sua vista, para satisfazer o desejo de seu “patrão” e logo em seguida seu pai é morto, mesmo não apresentando nenhuma resistência. O trauma ocasionou nele a vontade de fugir, e garantir que seus herdeiros não tivessem acesso aquele mau, encarnado como o Sul dos Estados Unidos, uma região intolerante por si só.

    Cecil cresce, e se torna um “negro de casa”. Após consumar sua fuga, encontra em seu caminho um sujeito que o ajuda, lhe dá emprego e toma para si a máscara de mentor, dando-lhe um tapa no rosto ao ver o rapaz dizendo a palavra nigger – “este é um termo feito por brancos, carregado de ódio”. Já adulto, o protagonista passa a trabalhar em Washington DC, e graças à sua boa postura – cabeça baixa, submissão, e capacidade de invisibilidade – é convidado a trabalhar na Casa Branca.

    A magnífica atuação de Forest Whitaker faz o espectador crer em cada um dos seus dilemas, seja o medo de perder o bom emprego que tem, as preocupações com as reclamações de sua esposa – Oprah Winfrey, competente em sua proposta – ou com o bem estar de seus filhos. Louis, personagem de David Oyelowo, evolui de um menino próximo do pensamento rebelde americano, para um “revolucionário” membro dos panteras negras. A cena intercalada entre um protesto numa lanchonete no sul do país e o salão de jantar na casa branca é emblemática em mostrar a atitude geral do povo negro, alguns como inconformados, e outros serviçais leais ao homem branco.

    A trajetória de pai e filho vai em direções bastante opostas, mas igualmente emocionantes. A luta não é leve, é tratada como visceral e cheia de significados. A primeira-dama chorando após o assassinato de JFK, ensanguentada pelos restos do marido é de partir o coração, muito bem montada, e faz Cecil retornar à triste memória da morte de seu pai – mais uma figura inspiradora se foi.

    Os filhos de Cecil se engajam cada um para um lado, enquanto Louis torna-se um ativista político e evolui, deixando de lado a luta “rebelde” para se tornar um combatente intelectual, Charlie alista-se para a guerra do Vietnã. Quando indagado pelo irmão mais velho, o personagem, cômico a maior parte do tempo, diz seriamente que quer lutar a favor de seu país, e não contra ele, mostrando que ele enxerga a situação tão mal quanto o seu pai. A morte do filho faz Cecil rever alguns de seus conceitos. O convite do jantar impingido pelo presidente Reagan causa constrangimento no mordomo, que se sente como um mentiroso, um fantoche feito para exibição de uma falsa aceitação. A postura do político ajuda-o a enxergar o real valor de seu filho, igualando-o a um herói e não há mais um simples marginal. O reatar da relação acontece num primeiro passo com o pedido de demissão depois com o engajamento por parte do patriarca, e no último ato são os únicos dois que permanecem.

    O paralelo com os presidentes também é interessante, os mais importantes para o negro foram Jack Kennedy (James Marsden), que o fez começar a mudar o seu pensamento em relação à causa, e Ronald Reagan (Alan Rickman), que se mostra contra o término da segregação ignorando o apartheid – mesmo sobre protesto do seu próprio gabinete. Reagan é mostrado como um bufão, apresentado quase sempre de forma jocosa e pouco reflexiva, bastante parecida com a interpretação recente de George W. Bush, ambos encarados como imbecis por uma boa parte da opinião pública.

    Ao visitar Barack Obama – um novo tempo – Cecil lança mão dos presentes dados pela senhora Kennedy e por Reagan, e quando entra na sala de espera é enquadrado junto a uma foto de Abraham Lincoln, com um claro simbolismo de que ali começava mais uma etapa na guerra pela igualdade. O registro de Lee Daniels é muito bonito, repleto de simbolismo e demonstrações realistas da história, obviamente escolhendo o lado oprimido, mas em momento panfletário de forma gratuita. Tem todo o cunho político que a Academia tanto gosta e sem dúvida merece atenção especial por parte do espectador.

  • Crítica | O Corvo

    Crítica | O Corvo

    raven

    Explorando a mente singular do famoso romancista do século XIX, Edgard Allan PoeO Corvo, do diretor James McTeigue (V de Vingança), mostra muito potencial nos 30 primeiros minutos de filme, o qual, infelizmente, é totalmente exaurido no decorrer do filme.

    No último ano de sua vida, Allan Poe está afundado em dívidas em bares e fracassos na sua carreira literária, porém acaba sendo obrigado a ajudar o Inspetor Fields a desvendar os crimes de um Serial Killer, que aparentemente se inspira nas obras do autor para cometer seus crimes. Poe se vê obrigado a participar das investigações quando sua amada Emily é sequestrada pelo assassino.

    Nos 30 minutos iniciais do filme, quando nos é apresentado um Allan Poe beberrão, arrogante e um tanto quanto genial (não que isso não seja um retrato da realidade), a trama parece se mostrar sólida. Poe com toda sua genialidade passa por dificuldades financeiras e por um lapso de criatividade – a versatilidade do personagem é um ponto forte que chama bastante a atenção -, mas sua versatilidade acaba lhe causando problemas. Em certos momentos o personagem se passa por bobo da corte, o que acaba tirando um ar de seriedade que seria muito mais interessante a ser atribuída ao personagem. Ora temos um Poe totalmente profundo e lírico, ora temos o oposto se sujeitando até a situações cômicas. Por todas essas questões, acaba restando prejudicado o desenvolvimento do personagem na trama, pois começa com um tom misterioso – com aquele contraste de facetas – e conclui na mesmice dos filmes de suspense que envolvem serial killers.

    O roteiro tem vários problemas. O suspense que não te deixa tenso a nenhum momento é realmente o elemento principal para deixar essa obra tão pobre. Pistas são deixadas em todas as cenas do crime, porém a resolução das charadas deixadas nas pistas são instantâneas (com a desculpa de que é o autor reavaliando suas obras), o que tira totalmente a tensão exercida pelo momento. Cenas desnecessárias são usadas como via de escape para pontas soltas deixadas do desenvolvimento da história.

    Os personagens parecem perder sua motivações a partir da metade do filme. Um exemplo disso é o pai de Emily que a todo momento culpa Poe pelo sequestro de sua filha, porém em um determinado momento esquece totalmente a raiva que sentia por ele, colidindo assim com o que foi apresentado anteriormente e com um desenvolvimento fraco. Outro ponto é que as características que marcavam Allan Poe desde o início do filme somem, deixando no lugar um personagem desesperado e sem rumo na trama.

    A atuação de John Cusak como o protagonista não é ruim, pois consegue personificar um personagem histórico de uma forma muito interessante, porém acaba sendo prejudicado pelo mal desenvolvimento do personagem no roteiro. Outro ator que deve ser destacado, porém negativamente, é Luke Evans, que interpreta um inspetor com um semblante estático e inexpressivo.

    Em algum lugar desse filme desmotivador há um filme lírico que pincela muito bem a imaginação poética de Poe. Infelizmente o roteiro de Ben Livingston e Hannah Shakespeare não foi feliz tentando fazer isso. A direção de James McTeigue  não chama muita atenção mas é competente na parte técnica, principalmente pela sua fotografia (ambiente sombrio e uso frequente de neblina). O Corvo é um filme que tinha algum potencial escondido, mas que preferiu beber da fonte dos filmes de Serial Killer que evidentemente não expressam mais nenhuma surpresa no público.

    Texto de autoria de Raphael Wisnesky.