Tag: Damien Chazelle

  • Agenda Cultural 69 | Nova Era, esquenta Pré-Oscar e mais Aquaman

    Agenda Cultural 69 | Nova Era, esquenta Pré-Oscar e mais Aquaman

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira, Jackson Good (@jacksgood) e Rafael Moreira (@_rmc) se reúnem para a primeira Agenda Cultural da Nova Era, talkei? Nesta edição, comentamos um pouco sobre as novas polêmicas envolvendo Lars von Trier, o novo filme do Harry Potter sem Harry Potter (é golpe?), como se balançar com fluidez no novo jogo do Homem-Aranha e muito mais.

    Duração: 123 min.
    Edição: Julio Assano Junior
    Trilha Sonora: Flávio Vieira e Julio Assano Junior
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    Comentados na Edição

    Cinema

    Crítica Nasce uma Estrela
    Crítica O Primeiro Homem
    Crítica Halloween
    Crítica A Casa que Jack Construiu
    Crítica Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald
    Crítica As Viúvas
    Crítica Aquaman
    Crítica Bohemian Rhapsody

    Séries

    Review Demolidor – 3ª Temporada

    Literatura

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    Games

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  • Crítica | O Primeiro Homem

    Crítica | O Primeiro Homem

    Após o sucesso estrondoso de Whiplash e do oscarizado La La Land, Damien Chazelle não demorou a retornar a feitoria de longas. Em O Primeiro Homem ele faz uma cine biografia diferente, explorando as fragilidades de Neil Armstrong, mostrando ele se preparando nos anos sessenta para a viagem espacial histórica que teria a Lua. O filme começa no começo da década de sessenta e mostra Ryan Gosling se alistando para o concurso da Nasa e sofrendo testes para tal, além obviamente de conviver com a sua família.

    O roteiro de Josh Singer varia bem entre momentos entre os momentos de treinamento e de intimidade da família de Neil, isso confere ao personagem uma aura de naturalidade e humanidade, realmente se acredita que o homem que vai desbravar o espaço é um homem, apesar do feito extraordinário que ele fará.

    O filme é quase onírico ao mostrar a jornada mental e emocional dos astronautas que vão protagonizar  a viagem. Ao mesmo tempo em que Armstrong tem que frequentar festas da alta sociedade e fingir que se interessa por qualquer conversa dessas pessoas, ainda recebe uma ligação exatamente no momento em que está ali, interagindo com as altas rodas, com a noticia de que um dos testes de estabilidade da nave que o levaria até o corpo lunar sofreu um incidente terrível, cujo grafismo da cena tem peso emocional muito grande, com o fogo tomando a cabine, e as consequências sendo vistas na parte de fora do cubículo, onde apenas uma pequena fumaça sai do pequeno buraco que serviria para abrir a cápsula.

    Chazelle não se preocupa em fazer reverência a Armstrong, ao contrário, ele é um sujeito com defeitos, cuja família sofre com sua ausência mesmo quando está de corpo presente, e de certa forma, o diretor e o roteiro de Singer desdenham da corrida espacial e da relação de rivalidade da Guerra Fria. Mesmo quando o personagem principal se emociona no espaço, nada tem a ver com essa tola disputa de egos e vaidades, é a solidão que o faz padecer de emoção e chegar quase ao ponto de chorar no vazio espacial. O conjunto de emoções do filme leva em consideração o conflito, mas não de um modo orgulhoso e preciosista, e sim com um sentimento de lástima por ter sido esse o combustível para e chegada na lua.

    Gosling entende muito bem a intenção do diretor, e consegue representar de maneira muito forte e sentimental a figura  por trás da lenda, e torna palpável a humanidade do sujeito que fez parte da historia, e consegue demonstrar de maneira bem certeira e simples como a construção de lendas vivas pode ser falaciosa e enganadora, e demonstrando que  a culpa disso não necessariamente é da pessoa que se tornou o ícone.

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  • VortCast 45 | Pós-Oscar 2017

    VortCast 45 | Pós-Oscar 2017

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira, Carlos Brito e Mario Abbade (@fanaticc) se reúnem, com o atraso habitual, para comentar sobre a cerimônia do Oscar, os principais filmes indicados, as polêmicas e o futuro da premiação mais importante de Hollywood.

    Duração: 108 min.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
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    Filmes comentados

    Crítica Estrelas Além do Tempo
    Crítica Até o Último Homem
    Crítica Manchester à Beira-Mar
    Crítica Moonlight: Sob a Luz do Luar
    Crítica Lion: Uma Jornada para Casa
    Crítica Um Limite Entre Nós
    Crítica A Qualquer Custo
    Crítica A Chegada
    Crítica La La Land: Cantando Estações

    Comentados nesta edição

    Oscar 2017 – Indicados e Vencedores
    Agenda Cultural 40 – Hugo, Drive, O Artista e tudo mais
    VortCast 18: James Dean

    Monólogo Jimmy Kimmel

    Tweets de Jimmy Kimmel à Donald Trump

    Discurso Gael Garcia Bernal

    https://www.youtube.com/watch?v=ykpXwPEKTzM

    Leitura da carta-protesto de Asghar Farhadi no recebimento do Oscar de melhor filme estrangeiro 

    Anúncio de melhor filme e toda a confusão envolvida

    Montagem – Referências de La La Land

  • Crítica | La La Land: Cantando Estações

    Crítica | La La Land: Cantando Estações

    A carreira de Damien Chazelle ainda está no início. O musical La La Land: Cantando Estações é apenas o terceiro longa metragem até aqui, e o segundo no formato cantado, precedido pelo pulsante  Whiplash: Em Busca da Perfeição. A nova produção do diretor mira uma história metalinguística, levando em conta dois personagens bastante diferentes entre si mas com algo em comum: a paixão não correspondida pelas artes.

    O primeiro personagem mostrado é o pianista e aficionado por jazz, Sebastian (Ryan Gosling), um homem belo, talentoso e genioso, que anseia por construir seu próprio bar de jazz, para poder reverenciar em paz seus ídolos que ficaram no passado. Sua trajetória envolve a aceitação de empregos degradantes e supressão de seus sonhos e talentos em detrimento de ganhar dinheiro com o que gosta de fazer, fator que se repete também na jornada de Mia Dolan (Emma Stone), uma atriz também frustrada que sempre vai mal nas audições de dança e que trabalha em uma cafeteria.

    Já na primeira cena, em meio a estação invernal, há um número belíssimo de canto e dança, com as pessoas se retirando dos carros engarrafados em uma via de Los Angeles, celebrando um dia de sol em meio a estação que deveria ser a mais fria do ano. Nesse momento já se estabelece o cenário de muitas luzes, holofotes e contato direto com as celebridades e com as locações hollywoodianas, soando irônica essa proximidade, uma vez que o fato dos dois personagens – e de tantos outros que o cercam – viverem sob aquela localidade não garante a eles uma facilidade maior para a realização das suas aspirações.

    Diferente de Whiplash, a via crucis para o auge do artista não é mostrada sob um olhar megero e de extremo sacrifício, embora haja sim uma enorme dose de entrega dos protagonistas, que demoram inclusive a engrenar o romance entre ambos, a despeito até da química previamente estabelecida entre Stone e Gosling, que já contracenaram em Caça aos Gângsteres e Amor à Toda Prova. O enlace entre os dois somente ocorre após algumas insistências, dificuldades essas que facilitam a empatia do público com a dupla.

    Chazelle consegue misturar bem os elementos triviais com os mais rebuscados em seu roteiro. Ao mesmo tempo em que todas as coincidências soam naturais os comentários metalinguísticos também, em especial no destino reservado a Mia, trajetória essa que lembra demais a do próprio cineasta, que antes de conseguir elevar seus textos a um patamar premiável, teve que se submeter a trabalhar nos scripts de filmes visivelmente menos inspirados, como os de Toque de Mestre e O Último Exorcismo Parte 2. As ligações entre autor e obra se dão principalmente na parte final do caminho que Mia percorre, mas os acontecimentos não são descuidados ao ponto de deixar a série de eventos soar banal ou sem emoção, todo o percurso é extremamente cativante e surpreendente em cada fato.

    Muito se fala do desempenho de Stone, que normalmente é deixada de lado por grande parte da crítica por não ter uma beleza típica das mulheres fatais. De fato em La La Land todos os esforços de trabalho e feições da moça funcionam a perfeição, já que ela varia entre a menina comum e de repertório extraordinário e é bonita na medida para deixar qualquer homem encantado com sua docilidade. Mas é a Gosling que resta o melhor papel, e após um hiato de atuações arrebatadoras é muito gratificante observar os seus trejeitos e suas respostas rápidas para as mais diversas situações, principalmente as cômicas. Suas manias e obsessões o tornam um sujeito irresistível e carisma magnético. Apesar dos dois atores já terem uma história de trabalho em conjunto antiga, é aqui que ocorre o ápice da performance romântica, que varia entre o melodrama, a paixão gratuita e o agridoce típico do destino.

    Musicais normalmente tem uma dificuldade para findar suas histórias, e mais uma vez La La Land foge à regra, já que é nos momentos finais que se gera a discussão mais madura e poética do longa, pondo de lado a vaidade e os sonhos mais infantis em comparação com a obrigação adulta de ter uma renda. A aceitação do destino e a visão plena de que para se realizar a maioria dos sonhos é preciso ser pragmático e escolher vias menos agradáveis são elementos que tornam o argumento bem inteligente, tornando-o imune a maioria das críticas ranzinzas que sofreu no início das exibições testes. O modo como é conduzido a cisão com os sonhos idílicos mostra o quão cruel pode ser a vida, expondo uma realidade crua e que não permite que algumas idealizações andem lado a lado.

    A mensagem final é explicita de que é preciso escolher um rumo para prosseguir, e de que observar o passado com nostalgia pode até ser prazeroso, mas ainda assim é um exercício fútil e sem sentido. Impressiona como esse recado soa tão harmônico com uma proposta tão poética e doce, fazendo lembrar o espectador que apesar de doer deixar passar os sentimentos mais profundos da alma humana, ainda é possível suplantar esse vazio com outros suportes emocionais, sem necessariamente se apoiar em placebos ou em discursos fáceis de aceitação da dor e da perda.

  • Crítica | Rua Cloverfield, 10

    Crítica | Rua Cloverfield, 10

    Rua Cloverfield 10

    Localizada em uma versão paralela, que pode ou não ter ligações diretas com seu primo de nome Cloverfield: Monstro, a nova produção de J. J. Abrams chega às telas para estabelecer mais possibilidades dentro desse presente distópico e pouco otimista visto no capítulo de 2008. Rua Cloverfield, 10 começa na esteira de seu estiloso trailer recente, usando a música para estabelecer as lacunas de intimidade ainda não mostradas no ínterim da jovem interpretada por Mary Elizabeth Winstead, com a trilha sustentando uma falsa realidade melodiosa forte.

    Winstead interpreta Michelle, uma moça confusa, que foge de seu relacionamento anterior por sentir-se pressionada. No caminho da fuga, um acidente ocorre, cena que coloca a prova o talento de Dan Trachtenberg em momento interessante, violento, muito bem filmado e que casa quase a perfeição com a edição de som. A moça se vê cativa, e para manter vivo o mistério, são mostradas poucas imagens do tal agressor, deixando que o som produza o horror, que aos poucos se torna uma sensação dupla, semelhante a Síndrome de Estocolmo.

    Com o desenrolar dos fatos, a trama deixa qualquer maniqueísmo de lado, mostrando que a presença da mulher é motivada por uma causa externa forte, já que algo parece ter envenenado a população do lado de fora. Com isto estabelecido, o argumento se dedica a construir um personagem dicotômico, Howard (John Goodman), um adorável psicótico, sendo altruísta o suficiente para salvar desconhecidos e insano ao ponto de manter cativos aqueles que não querem permanecer em seu bunker anti fim do mundo. Outra figura que habita o esconderijo subterrâneo é Emmett (John Gallagher Jr.), que já conhecia o dono do endereço na rua Cloverfield, antes inclusive do ingresso de Michelle no local.

    Ao menos neste começo, o roteiro de Damien Chazelle, Josh Campbell e Matt Stuecken desenvolve bem a ambiguidade, adocicando a figura do agressor para causar no espectador a mesma sensação de dúvida que a protagonista tem, antes mesmo de ganhar um nome. O filme aos poucos deixa de ser um objeto despretensioso para se tornar um louvor a paranoia, valendo-se de um sentimento típico dos que vivem nos Estados Unidos, como eco da Guerra Fria, onde a razão é a lei de um sociopata convicto e senhor de seus domínios totalitários.

    A sensação de conforto aparente ajuda a esconder a total falta de privacidade dos confinados, o que ajuda a ligar o público com o filme, ainda mais em tempos em que reality shows são tão populares. A harmonia entre um filme sobre a obsessão humana e um objeto de atomic horror também soa interessante, gerando um confronto de sub gêneros que poucas vezes acertou tanto quanto neste, inclusive na quantidade tímida de gore dedicada ao longa.

    O final soa conveniente, principalmente nos seus onze minutos finais, onde as capacidades da personagem principal são elevadas a um nível quase heroico, e onde suas habilidades de improviso também são supervalorizadas. Não há qualquer problema na exposição da catástrofe, nem com as semelhanças deste Rua Cloverfield, 10 com a série Falling Skies, mas os pecados seguem vivos, quando se trata das soluções fáceis e da perícia adquirida a partir do acaso, incluindo nesta algumas convenientes vitórias de uma raça supostamente inferior e sem preparo para outra invasora. Ainda assim, as manifestações dos monstros, previstas no material de divulgação é muito bem explorada, de um modo que faz o conteúdo desta versão ser muito superior a produções semelhantes.

  • Crítica | Whiplash: Em Busca da Perfeição

    Crítica | Whiplash: Em Busca da Perfeição

    Whiplash 1

    Antes de abrir os créditos iniciais, ainda com a tela negra, ouve-se um barulho frenético de uma baqueta tamborilando agressivamente sobre os tambores, num solo longo, o único ponto existente naquele universo que seria apresentado no filme de Damien Chazelle. A tônica do que seria Whiplash apresenta-se antes mesmo do “início do filme”, como uma longa preparação de um sujeito que busca o sonho de viver da arte.

    Andrew Neyman (Miles Teller) mostra-se tão entorpecido pela ideia de tocar o instrumento que se impressiona com qualquer audição de seu trabalho, na escola de música de Shaffer. Na execução de seus ensaios, ele vê vultos, silhuetas formadas pelo seu inconsciente e desejos, que, aos poucos, ganham contornos reais. Sua perspectiva é completamente distante e distinta da de seus entes queridos, mesmo diante de seu pai – vivido discreta mas magistralmente por Paul Reiser -, o homem que sempre lhe apoiou mesmo não o entendendo completamente, seja pelo choque de gerações, seja pelos níveis díspares de ambição.

    Shaffer é uma escola onde deveriam brotar anseios pela música, mesmo sendo ali o lugar em que são sepultados muitos desejos de notoriedade. Quando o sonho começa a se materializar, a trilha sobe num suspense atroz. A expectativa em parecer perfeito o faz se atrasar e “quase” – mentira – perder o encontro com o mentor. O método paramilitar do regente funciona, ao menos para ele. A mão de ferro ajuda-o a separar os bons dos maus músicos, ainda que a crueldade impere, às vezes. O agressivo método chega a ser cômico, dado o seu tom caricatural.

    A entropia e um pouco do caráter estabanado do protagonista permitem a Neyman ser titular na banda de Terence Fletcher (J. K. Simmons), que é um referencial enquanto professor, músico e garimpador de talentos. O estado de espírito de Andrew é mostrado pela câmera na mão, tão passional quanto a mente juvenil do formando. A busca pelo ideal é sangrenta e exige tudo do personagem, o que o faz perder o tato com aqueles que o consideram caro.

    Ao mesmo tempo que a raiva deveria predominar em seu ser, Andrew vê na piedade uma boa forma de encarar seu maestro exigente. Nem mesmo a emoção o faz aplacar o castigo físico a que se impõe. Em alguns pontos, ele encara a rigidez do ensino louco de Fletcher como combustível para sua luta, um obstáculo a mais para sobrepujar na jornada rumo ao sucesso.

    O envolvimento de Andrew com a música faz submeter o drama a seu público. Mas nem isto parece ser o suficiente em determinado momento, e ele cede à pressão dos que antes achavam-no fraco, denunciando seu antigo mentor após ser agredido. A leveza com que Fletcher apresenta os acordes no piano é diferenciada de seu método docente – no reencontro dos dois, o regente já teve sua derrocada –, como se os dois personagens fossem encerrados na mesma mente e psiquê, fazendo-o um ser ainda mais rico. A desgraça faz o professor se mostrar mais solícito; seu intuito é empurrar os alunos a conseguir superar suas expectativas.

    No retorno aos palcos, convidado por Fletcher, Neyman vê uma chance de retomar sua jornada rumo à fama, mas, ao executar os acordes, tem uma terrível surpresa. A rivalidade está presente e, junto ao azedume vingativo do mestre, o aluno é esmagado pela banda e plateia. Diante da queda iminente, ele contra-ataca, fazendo do palco seu objeto de revanche, uma emocional réplica digna dos grandes, semelhante ao que a sua ambição sempre buscou, pervertendo-se todos os preceitos do maestro ante sua presença e a dos seus, ganhando o jogo – ao menos em alguns momentos – na casa do adversário.

    A guerra de ego prossegue até mesmo ao final da música, com a última tentativa de apogeu de Andrew. O papel de condutor é incumbido ao baterista, não mais ao maestro. Suas vezes de Charlie Parker o fazem sentir o torpor de dar o seu máximo, passando por cima de todas as convenções e formalidades. Ser grande envolver ser mais do que ele é, exercer mais o que lhe é devido, ter mais braços do que um simples par, e também contrariar a si próprio, para que, finalmente, o talento bruto se aprimore e dê vazão a sua essência. Neste espírito, o filme de Chazelle tem na excelência a sua madura adjetivação.

  • Crítica | Toque de Mestre

    Crítica | Toque de Mestre

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    Produção espanhola de baixo orçamento, escrito por Damien Chazelle (de Agnosia), Toque de Mestre conta a história de Tom Selznic (Elijah Wood), um talentoso pianista que sofre de medo do palco, retornando às salas de concerto após cinco anos de afastamento, depois de uma performance desastrosa. Momentos antes da apresentação que marca seu retorno, recebe uma ameaça, afirmando que deve fazer o melhor concerto de sua vida, sem errar uma única nota caso queira salvar a si próprio e à sua esposa, Emma (Kerry Bishé). Sem sair do piano – ou quase – tenta descobrir o autor da ameaça e como conseguir ajuda.

    Não há como não pensar em O Homem Que Sabia Demais de Hitchcock devido à ambientação da trama. Utiliza-se o mesmo conceito: uma situação dramática que se desenrola enquanto a orquestra executa uma obra. Neste, diferente da produção de Hitchcock, a ação do filme se passa toda dentro do teatro – com exceção dos primeiros minutos em que o público é apresentado ao protagonista (em pânico) e seu piano. Personagens confinados em apenas um local costumam render boas histórias, com bons momentos de suspense. Com este não é diferente, apesar de não conseguir manter um nível de tensão suficiente para evitar um eventual bocejo do espectador.

    Se, no seu primeiro terço, o filme se sustenta bem, o mesmo não ocorre no restante do tempo. No início, o suspense se mantém, pois, junto com Tom, o espectador tenta entender a extensão da ameaça ao mesmo tempo em que se pergunta por que raios o vilão está fazendo aquilo. Do segundo terço em diante vai se tornando cada vez mais irregular. A começar pelo momento em que “descobrimos” quem é o vilão – poderiam ao menos ter tido o cuidado de suprimir o nome do ator dos créditos iniciais – e em que é revelada a motivação do vilão – um tremendo anti-clímax. Impossível não pensar “Mas era só isso?”. Dali em diante, a trama se torna errática. As ameaças a Tom se tornam repetitivas. O foco da ação é desviado para personagens sem qualquer função narrativa – algo similar ao Rodrigo Santoro em Lost (entendedores entenderão). O filme vai perdendo fôlego e se encaminha para o desfecho sem muito entusiasmo.

    É preciso relevar vários detalhes para comprar a história, principalmente se o expectador tiver conhecimento, mesmo que mínimo, do universo de concertos de música erudita. Se o pianista sofre de ataques de pânico, por que não está em tratamento – terapia e/ou medicamentos? Que maestro correria o risco de fazer uma performance com esse pianista, que não se apresenta em público há anos – sem ao menos um ensaio? Que maestro não percebe que o pianista não está agindo normalmente? E, se percebe, por que não o procura durante o intermezzo? Aliás, como não perceber, e o pianista deveria estar polidamente sentado ao piano ao invés de sair do palco sucessivas vezes enquanto a orquestra executa a peça? Para o espectador que já tenha tocado algum instrumento, fica a dúvida: por mais virtuoso que seja o músico, é humanamente impossível tocar passagens complexas como aquelas, tão excepcionalmente bem quanto ele as toca e ainda conversar com um desconhecido que o ameaça. E como é possível que o vilão tenha se preparado por três anos e não ter controle total sobre toda e qualquer ação de Tom? E ainda, se o vilão apenas queria a chave, havia várias outras possibilidades de obtê-la que não envolveriam um plano tão mirabolante e tão suscetível a falhas como o que foi engendrado.

    O elenco está bem, nenhuma atuação excepcional nem nada terrível demais. A fotografia está ok, exceto nos momentos em que tenta ser inovadora e usa certas angulações sem qualquer justificativa. Se praticamente não há sangue no filme, isso é compensado pelo vermelho carmim do cenário, tão excessivo que chega a enjoar. Há algumas boas sacadas na montagem, que na maior parte do tempo se aproveita do ritmo da música. Quanto à trilha sonora, pode não agradar a todos pelo caráter atonal das composições, mas casa bem com o clima de suspense do filme.

    Mesmo estando longe de ser um Hitchcock em termos de estrutura narrativa e desenvolvimento da tensão, ainda assim consegue ser um filme de suspense ‘assistível’. Não é inovador, mas cumpre o que se propõe – entreter o espectador e deixá-lo (um pouco) tenso durante 90 minutos.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.