Tag: Billy Wilder

  • 10 Grandes Filmes de Tribunal

    10 Grandes Filmes de Tribunal

    Um quarto de casal. Um ringue de luta. Uma corte de tribunal. O que todos esses espaços guardariam em comum além de serem palcos perfeitos para conflitos de (quase) todo tipo? Entre o certo e o errado, e sob a égide das leis de cada país e sociedade, o Cinema vem acompanhando e traduzindo na ficção justiças e injustiças que brotam das suas histórias, e se articulam nas relações humanas.

    Fúria (Fritz Lang, 1936)

    Anos depois de O Vampiro de Dusseldorf, o deus Fritz Lang (ele merece ser chamado assim) rodou esse Fúria, outro manifesto da injustiça que pode infectar a reputação de um sistema judiciário dependendo do caso, mas com um adendo que faz toda a diferença: A direção de Lang, faraônica, dramática e firme como poucas, resultando numa grande e curta obra tão ciente de todo o seu imenso potencial apresentado.

    A Mocidade de Lincoln (John Ford, 1939)

    Nunca pensei ver Henry Fonda, lenda de Hollywood como Lincoln, e a metamorfose na tela é perfeita, refletindo outros júbilos igualmente maravilhosos do todo. John Ford opta pela exploração da formação de um povo, trilhando assim a formação e o destino de um mito nacional. Vale não só pelas cenas na corte, mas vai muito além disso. Filmaço.

    Testemunha de Acusação (Billy Wilder, 1957)

    Billy Wilder adaptando Agatha Christie. Previsível seria afirmar o quanto Wilder era versátil em absolutamente tudo o que produziu, em todos os gêneros, e sob todos os propósitos. Aqui, podemos ver os mais clássicos arquétipos de tribunal acerca do poder de um veterano criminalista que nunca perde um caso, e de todas as reviravoltas que podem habitar o decorrer de uma sentença. Orgulhosamente cinematográfico, conta com um dos melhores finais, diálogos e atuações de um filme da sua gloriosa época.

    12 Homens e uma Sentença (Sidney Lumet, 1957)

    Quando foi preciso uma dúzia de homens trancados numa sala para decidir a culpa ou a inocência de um homem, eis então o palco já citado nesse artigo para o cineasta Sidney Lumet entregar uma das mais poderosas narrativas investigativas da história do Cinema em geral. Obra-prima absoluta e atemporal.

    Anatomia de um Crime (Otto Preminger, 1959)

    Se Lumet aceitou o cenário reduzido para encapsular todo o drama e o suspense que rondam uma acusação incerta, aqui o mestre Otto Preminger extrapola por vezes o espaço reduzido, ampliando assim com majestade o escopo de uma história adaptada de grandes desconfianças morais, tensão jurídica, ciúme e assassinato. Filmão maior que a vida, incorrigível e provavelmente o clássico maior do seu cineasta.

    O Caso dos Irmãos Naves (Luiz Sérgio Person, 1967)

    Cena do filme O Caso dos Irmãos Naves

    Eis um filme que nos faz visualizar, nitidamente, o enorme abismo cego que existe, no Brasil, entre réu e os juízes super poderosos desse país. No estado mineiro, ao denunciarem um crime, os irmãos Naves são tidos como autor do mesmo, torturados por algo que insistem não ter cometido, sendo que quinze anos depois, a vítima reaparece, chocando a todos. A injustiça vai aos tribunais, e lá faz morada, intimidando os humildes denunciados por um sistema sedento por culpados de qualquer forma.

    O Bravo Guerreiro (Gustavo Dahl, 1968)

    Um dos grandes monumentos do Cinema Novo de Glauber Rocha, e cia., O Bravo Guerreiro é quando a embriaguez do sucesso acontece no âmbito político. Personagens divididas em um forte existencialismo social cultivado em um quebra-cabeça perfeitamente bem estruturado, numa excelente direção de atores. Mais uma ótima produção brasileira subestimada pelo povo que despreza a própria cultura.

    Close-up (Abbas Kiarostami, 1990)

    Se a verdade e a mentira duelam numa corte, para Abbas Kiarostami, nosso finado mestre iraniano, não há desculpa maior e melhor para emaranhar realidade e ficção num julgamento sobre tentativa de fraude de identidade. Mesclando um julgamento real, com a encenação de um crime, Kiarostami nos deixou Close-Up como sendo um dos grandes filmes da década de 90.

    O Leitor (Stephen Daldry, 2008)

    O Oscar o fez vilão em 2009, preferindo indicar O Leitor a Melhor Filme ao invés de O Cavaleiro das Trevas e Walle. Quase dez anos depois da polêmica, sobraram duas coisas deste drama de época sobre afiliações nazistas: A atuação soberba de Kate Winslet, e as tensas cenas impactantes de tribunal, onde a atriz desnuda todo seu enorme talento e entrega uma das grandes performances da década passada.

    O.J.: Made in America (Ezra Edelman, 2016)

    Orenthal James Simpson matou a ex-esposa em 1994. Disso, desdobra-se um mural de temas ao redor da figura do esportista, suas motivações de vida, a fama, o racismo, a justiça que o julga, o próprio sentido de sonho americano, etc., etc., etc… Temos aqui uma verdadeira guerra jurídica registrada sem dó, nem piedade, numa maratona biográfica de épicos e inesquecíveis 467 minutos de duração. Livre de qualquer espetacularização gratuita, O.J. é O clássico moderno dos documentários e dificilmente será superado, nos próximos anos.

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  • 10 Grandes Filmes Sobre Jornalismo

    10 Grandes Filmes Sobre Jornalismo

    “Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade.”
    – George Orwell

    Jejum de Amor (Howard Hawks, 1940)

    Nem Howard Hawks escapou desse tema. Um dos mais versáteis cineastas era cirurgião especialista em desdobrar a falsa sanidade da América urbana, relendo-a nos viés do drama, suspense, romance e comédia, sendo a mais celebre delas a loucura bem-humorada e incansavelmente genial de dois jornalistas (Cary Grant e Rosalind Russell, perfeitos se amando e se xingando) ziguezagueando entre mil e uma loucuras. Muito, mas muito difícil imaginar uma comédia mais gostosa e inteligente que Jejum de Amor.

    Cidadão Kane (Orson Welles, 1941)

    Quando vejo alguém questionar a importância desse título entre todos, nessa altura do campeonato, quando assistimos cinema na palma da nossa mão e o fazemos com a câmera de um celular, eu percebo que esse alguém não entendeu nada, ainda. Eis o epítome do Cinema, tal como o debute mais bem-sucedido da sétima arte, em geral. O menino Orson Welles injetou a ganância humana encharcando os bastidores da mídia impressa e entrou para a história através da empreitada do mais respeitado dos mitos, presente no TOP 10 de 10 entre cada 10 listas sobre os 10 melhores filmes de todos os tempos (acompanhou?). Sim, talvez no futuro haverá algo de inédito a se falar sobre Cidadão Kane, o que é mais provável ainda se alguém entrar numa máquina do tempo e reescrever alguns dos seus mais nobres escritos desde os saudosos e modernosos idos de 1941. Todos nascemos na época errada, exceto Welles – acredite.

    A Montanha dos Sete Abutres (Billy Wilder, 1951)

    E se o Cidadão Kane fosse um maníaco à beira da psicopatia a fim de tudo para provar, a si mesmo, que o fim justifica quaisquer meios para se chegar incólume a ele? Na melhor atuação de Kirk Douglas, os maravilhosos truques de câmera são mais um complemento para mais uma obra-prima sobre a ambição, o jornalismo sensacionalista e impiedoso e o poder do acaso que habita e firma o cinema de Billy Wilder como um dos grandes – nunca suas metáforas visuais foram tão afiadas..

    A Dama de Preto (Samuel Fuller, 1952)

    Sobre as melhores intenções do indivíduo num mundo infernal; um macro ambiente caótico e encapsulado por Samuel Fuller no âmbito de uma rua onde tudo acontece. Uma ode à liberdade de imprensa e ao próprio jornalismo em si, ao direito de viver o bom combate da mídia em paralelo a quem vive a manipulação jornalística, a construção pretensiosa de fatos ao invés do ato de se construir e difundir informação de qualidade. Nos 76 anos de A Dama de Preto, vamos encará-la então como uma grande obra, ainda que 100% influenciada em tema e técnica por um tal de Cidadão Kane.

    Paixões Que Alucinam (Samuel Fuller, 1963)

    Não gostaria de assistir a nenhum retrato mais perturbador acerca de um tema que esse. Caminho sem volta que haveria de ser, a trajetória de um jornalista que topa entrar num hospício para encontrar um criminoso e extrair a verdade dele já é mindblowing o bastante. Samuel Fuller nunca fui de poupar plateias, e encontra em cenas como a inadvertida perseguição de um negro contra outro numa alusão a KKK o terreno perfeito para filmar e discutir as faces da violência social que existe em qualquer profissão.

    O Monstro na Primeira Página (Marco Bellocchio, 1972)

    Na intenção de manipular a hiper volátil opinião pública sobre um assassinato, um periódico de direita italiano não tem vergonha de acusar um jovem trabalhador de esquerda do fato, mirando na difamação indireta da esquerda para garantir a valorização da elite, pelo público, nas eleições. Uma aula magna extremamente atual sobre como a imprensa pode ser manipuladora e imoral, quando precisa atender a interesses partidários.

    Obs. Gian Maria Volonté foi um dos grandes atores desse mundo.

    Todos os Homens do Presidente (Alan J. Pakula, 1976)

    Aqui já começamos nossa descida ao mundo dos clássicos do século passado. Nos anos 70, dois jornalistas americanos do Washington Post se envolvem no escândalo midiático do Watergate, também durante o governo conturbado de Nixon nos EUA. Em meio as investigações que levavam a crer que Nixon comandava um esquema de espionagem política, e que acabaram conduzindo-o ao impeachment, Carl Bernstein (Dustin Hoffman) e Bob Woodward (Robert Redford) viraram ícones da investigação criminal.

    Rede de Intrigas (Sidney Lumet, 1976)

    Os bastidores da epifania, o retrato sádico da cacofonia do background do espetáculo das notícias – sem nenhuma maquiagem ou truques de câmera. Na busca imoral e absurda pela audiência, as personagem sambam em conflito e loucura, cada vez mais, em meio a relações fadadas ao fracasso de sua humanidade. Rede de Intrigas é um dos melhores roteiros da fantástica década de setenta, num nível de atuação coletiva soberba (destaque ao último diálogo de Peter Finch e Faye Dunaway, duelo de titãs).

    Frost/Nixon (Ron Howard, 2008)

    E se Fincher deu uma aula sobre a força dos diálogos no cinema contemporâneo com A Rede Social, o diretor Ron Howard (Han Solo: Uma História Star Wars) sugeriu isso três anos antes com o embate ideológico entre o jornalista britânico David Frost, e o super polêmico presidenciável Richard Nixon, cara a cara, numa clássica entrevista da TV americana. Frank Langella na pele de um Nixon já cansado, e doa a quem doer em suas declarações, ainda espera seu custoso Oscar por sua impecável atuação, aliás.

    Millennium: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres (David Fincher, 2011)

    O melhor dos filmes recentes sobre o tema, e o integrante mais completo dessa lista sobre os fatores mais misteriosos que fazem parte do ofício, quando o profissional é submetido a trilhar uma zona de perigo. Um filme maduro, superior ao frouxo suspense sueco de 2009, dotado de uma parte técnica exemplar devido a vários elementos que David Fincher (Clube da Luta) não se esforça para dosar como ninguém.

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  • Crítica | A Montanha dos Sete Abutres

    Crítica | A Montanha dos Sete Abutres

    É muito difícil, quiçá impossível, conseguir raciocinar e entender como um filme dessa magnitude pode ser esquecido por muitos nas listas de melhores filmes de todos os tempos. Uma afirmação que se se aproxima do exagero, é porque neste caso, no caso de A Montanha dos Sete Abutres, ainda está longe mesmo assim de compreender a absurda significância e poder de um dos três melhores filmes de Billy Wilder, junto de Se Meu Apartamento Falasse e Pacto de Sangue.

    Costumo dizer que há sempre dois personagens que dão o tom na carreira de um ator/atriz, sempre dois, sendo que o resto são reciclagens irregulares de ambos os pontos mais altos de uma vida dedicada a interpretação. Com uma das maiores atrizes italianas, Anna Magnani, o destaque fica por conta da mãe obstinada Maddalena (Belíssima) e a atriz livre, leve e solta Camilla (A Carruagem de Ouro). Já com Marlon Brando, salienta-se o problemático criminoso Terry Malloy (Sindicato de Ladrões) e o mafioso Don Corleone (O Poderoso Chefão).

    No caso do também americnao Kirk Douglas, verdadeiro camaleão, destaco o tira machista e obcecado por justiça de Chaga de Amor, o ótimo filme de William Wyler, mas, acima de tudo, o repórter desumano e oportunista (no pior sentido da palavra) Charles Tatum, de A Montanha dos Sete Abutres, num trabalho de composição de personalidade extremamente forte e raro de se ver aonde atuação e todo o resto brilham espantosamente, habitando num uníssono, numa fusão de brilhantismos clássicos e inquestionáveis um seleto hall de excelência onde poucas obras primas de Hollywood ousaram se imaginar chegando perto.

    Os maravilhosos truques de câmera por exemplo são outro complemento bem-vindo para mais uma gema dourada em preto-e-branco sobre ambição do cinema de Wilder – nunca suas metáforas visuais foram tão afiadas, nem mesmo em Crepúsculo dos Deuses. Desde o primeiro até o último plano com a câmera quase que engolindo Douglas após sua longa trajetória de desumanização e danação, por conseguinte, o filme é constantemente arrebatado por fatores cinematográficos elevados com rigor de mestre à enésima potência pelo inesquecível diretor, em que se não apresenta aqui o seu melhor e mais inspirador trabalho de direção de Cinema, absolutamente não fica longe disso. Nem sequer indicado ao Oscar foi, sendo grande demais para premiações, afinal.

    Até onde chega a ambição e a antiética de um ser-humano no abuso de outros para se chegar a certo patamar, mesmo que esse outro esteja em completa desvantagem (no caso, de vida ou morte) é o que o longa-metragem investiga da mesma forma que O Tesouro de Sierra Madre e mais recentemente Sangue Negro foram bem-sucedidos na tentativa, porém é certo que foi Wilder junto do igualmente seminal Ouro e Ambição, do gênio austríaco Erich von Stroheim, a conjurar o retrato filmado da cobiça que chamamos cinicamente às vezes de ‘instinto de sobrevivência’.

    A questão é o que permite a ganância de se perpetuar no espírito humano como um simbionte, e a partir de que momento perde-se a moral para se investir cegamente no sucesso pessoal a qualquer custo. Essas respostas são exclamadas principalmente pela postura de Douglas, o mais perverso dos protagonistas, de fato, numa crítica mais que coerente tanto a sociedade do espetáculo, quanto suas engrenagens midiáticas tão corruptíveis quanto quem as consome, todos nós, e sobretudo, ao lado mais negro da alma humana, usando de um cenário longe dos centros urbanos para enfatizar e explorar, ainda mais, o lado animalesco das verdades sobre as ‘pessoas comuns’.

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  • Os Maiores Indicados ao Oscar de Melhor Direção

    Os Maiores Indicados ao Oscar de Melhor Direção

    Todo ano, desde 1929, a Academia seleciona o melhor diretor em uma lista de cinco indicados. O prêmio mais desejado da indústria do Cinema dá direito ao vencedor de receber a cobiçada estatueta e de fazer um breve discurso — quase sempre interrompido por uma música indesejada. Contudo, o objetivo deste artigo não é de celebrarmos os grandes vencedores da premiação, mas relembrarmos os cineastas que mais vezes foram indicados ao longo de toda a história da Academia. Para não tornar a lista extensa demais, fizemos um recorte de diretores com um número de no mínimo 6 indicações.

    8. Frank Capra (1897 – 1991)

    Francesco Rosario Capra nasceu em 18 de maio de 1897, em Bisacquino, na Sicília, Itália. Mudou-se para os Estados Unidos ainda criança, com os pais e mais seis irmãos, vindo a se instalar numa comunidade italiana em Los Angeles. Capra trabalhou desde muito jovem, formando-se no California Institute of Technology com diploma de engenharia química. Alistou-se no exército do EUA, servindo como segundo-tenente durante o último ano do conflito, mas voltou para casa após contrair gripe espanhola. Com a morte do pai, Capra passou os anos seguintes sem emprego fixo. Durante essa época se tornou cidadão americano, assumindo o nome de Frank Russell Capra.

    O interesse por Capra pelo cinema se deu durante os anos 1920, quando trabalhou em pequenos estúdios, como assistente de câmera, edição, escritor, assistente de direção, entre outras atividades. Acabou contratado pela Columbia Pictures para produzir novos longas-metragens e competir com os principais estúdios da época. Inovador, rapidamente Capra se adaptou para o “cinema falado” e toda nova tecnologia do som, enquanto grandes nomes da indústria lutavam para realizar essa transição.

    Na década de 1930, Capra já havia abandonado os filmes B e era considerado como um dos diretores mais influentes de sua época, entregando comédias escapistas e inovadoras. Nessa época, diversos sucessos vieram à luz e muitas de suas estruturas cênicas são utilizadas até os dias de hoje. Aconteceu Naquela Noite (1934) se torna um marco para o diretor, que em sua segunda indicação como diretor já se torna um dos premiados. Capra repete o fato bienalmente, com O Galante Mr. Deeds (1936) e Do Mundo Nada se Leva (1938).

    Com o advento da Segunda Guerra Mundial, Capra novamente se alista. Suas contribuições no conflito se dão em forma de uma série de documentários informativos aos soldados. Com o fim da Guerra, faz um de seus maiores filmes: A Felicidade Não Se Compra, uma mensagem de esperança após o horror vivido. Com as mudanças da indústria e do gosto do público, o cineasta abandona Hollywood em 1952, retornando para dirigir seus últimos três filmes entre 1959 e 1964. Falece em 1991, passando seus últimos anos se dedicando à ciência. Capra recebeu 5 indicações ao Oscar, sendo premiado em 3 delas, apenas na década de 1930. Sua última indicação ocorreu pelo clássico já mencionado, A Felicidade Não Se Compra, de 1946.

    Indicações: 6
    Dama por um Dia (1933), Aconteceu Naquela Noite (1934), O Galante Mr. Deeds (1936), Do Mundo Nada se Leva (1938), A Mulher Faz o Homem (1939) e A Felicidade Não Se Compra (1946).

    Premiações: 3
    Aconteceu Naquela Noite (1934), O Galante Mr. Deeds (1936) e Do Mundo Nada se Leva (1938).

    7. Woody Allen (1935 – )

    Nova iorquino nascido no Brooklyn, em 1 de dezembro de 1935, Allen Stewart Konigsberg mudou seu nome para Heywood Allen quando tinha 17 anos, e posteriormente, Woody Allen. Vindo de uma família judia de classe média, Allen começou a escrever monólogos e fazer comédia stand-up ainda adolescente. Seu pai trabalhou com diversas profissões, de vendedor a barman, motorista de táxi a joalheiro, entre diversas outras. Essa rotina de certo modo influenciou o modo de Allen ver o mundo laboral, saltando de um projeto sempre que o aborrecesse. Sua relação com a mãe se dava de maneira agressiva, com constantes discussões e castigos físicos.

    Em 1953, Allen frequenta a New York University, mas falha miseravelmente em adquirir o diploma de produção cinematográfica. Abandonando os estudos, rapidamente consegue um trabalho de roteirista para a TV, incluindo no popular programa Your Show of Shows, que lhe rendeu uma indicação ao Emmy. Mas rapidamente Allen se entedia e retorna ao stand-up, tornando-se popular num clube de comédia de Nova York.

    No entanto, apenas no meio da década de 1960 que o diretor começa a destacar nos cinemas. Sua estreia como diretor ocorreu apenas em 1966 com com O Que Há, Tigresa?. Contudo, alcançou um novo patamar apenas em 1977 com Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, estrelado pelo diretor e Diane Keaton, com quem Allen se envolveu de maneira romântica. O filme ganhou quatro prêmios da Academia, inclusive de melhor fotografia, melhor direção e melhor roteiro. No ano seguinte foi novamente indicado ao Oscar de melhor direção por Interiores.

    Na década seguinte foi indicado por 3 vezes, pelos maravilhosos Broadway Danny Rose (1984), Hannah e suas Irmãs (1986) e Crimes e Pecados (1989). Em 1994, Tiros na Broadway, com John Cusack e Dianne Wiest, foi indicado em diversas categorias, rendendo um Oscar para Wiest. Ao longo dos anos 90, infelizmente, o nome do diretor esteve mais relacionado aos tabloides de fofoca do que pelo conteúdo de seus filmes, por conta do casamento controverso com a filha adotiva de sua ex-namorada, Mia Farrow.

    Nos anos 2000, Allen fez grandes filmes, vindo a ser indicado algumas vezes por roteiro original, sendo hoje o roteirista que mais vezes foi indicado: dezesseis indicações. Apenas em 2011, a academia o indicou novamente pelo lindo trabalho em Meia-Noite em Paris. O cineasta é “um dos grandes tesouros de Hollywood”, como dito pelo saudoso crítico de cinema Roger Ebert. Dono de um texto ácido, divertido e crítico, Allen tem uma produção por trás das câmeras de mais de 50 longas-metragem.

    Com o advento dos escândalos envolvendo o nome do produtor Harvey Weinstein, Allen se viu mais uma vez envolto em acusações e uma série de boicotes. Em 2014, Dylan Farrow, filha da atriz Mia Farrow escreveu uma carta onde detalha ter sido abusada sexualmente quando tinha sete anos de idade. O caso foi judicializado anos atrás, e o diretor foi absolvido das acusações.

    Indicações: 7
    Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977), Interiores (1978), Broadway Danny Rose (1984), Hannah e suas Irmãs (1986), Crimes e Pecados (1989), Tiros na Broadway (1994) e Meia-Noite em Paris (2011).

    Premiações: 1
    Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977).

    6. Fred Zinnemann (1907 – 1997)

    Natural de Viena, Fred Zinnemann começou no universo cinematográfico como assistente de câmera em Paris e Berlim antes de imigrar para Hollywood em 1929. Começou dirigindo curtas na MGM em 1937 e, em poucos anos, tornou-se diretor, realizando grandes filmes como A Sétima Cruz (1944) e Meu Irmão Fala com Cavalos (1947). O trabalho inovador de Zinnemann se deu em Ato de Violência (1949), um forte filme noir sobre os sentimentos de culpa de um ex-prisioneiro de guerra. Anos mais tarde, mudou completamente o tom, dirigindo uma emocionante versão cinematográfica do musical da Broadway, Oklahoma! (1955).

    As escolhas de elenco de Zinnemann eram muitas vezes tão ousadas quanto perigosas. Em sua adaptação da peça Cruel Desengano (1952), o diretor escolheu a atriz Julie Harris, de 26 anos, para interpretar a protagonista do filme, uma personagem de 12 anos. A ousadia rendeu a Harris uma indicação ao Oscar. Em A Um Passo da Eternidade (1953), que trouxe o primeiro Oscar para o diretor, ele lançou Frank Sinatra, que estava no ponto mais baixo de sua popularidade. Como o loser Maggio, Sinatra ganhou um Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Audrey Hepburn, anteriormente lançada em deliciosos papéis cômicos, deu o desempenho de sua carreira como a angustiada Irmã Luke no altamente aclamado Uma Cruz à Beira do Abismo (1959).

    Ao longo de sua carreira, Zinnemann preferiu protagonistas moralmente impulsionados a agir heroicamente em defesa de suas crenças. Hepburn no já citado Uma Cruz à Beira do Abismo e Gary Cooper em Matar ou Morrer (1952), decididos a enfrentar os ultrajantes selvagens com fome de vingança, são dois exemplos proeminentes. Paul Scofield como Sir Thomas More em O Homem Que Não Vendeu Sua Alma (1966), que trouxe o segundo Oscar de direção ao cineasta, deu um retrato brilhante de um homem impulsionado pela consciência para seu destino final.

    Zinnemann foi um diretor que abraçou todos os gêneros, fazendo incursões no cinema noir, melodrama e musicais, sabendo retirar de seu elenco grandes atuações, e claro, fazendo de seu trabalho um cinema de grandes temas e difíceis lições, compromissado com a razão e a autenticidade.

    Indicações: 7
    Perdidos na Tormenta (1948), Matar ou Morrer (1952), A Um Passo da Eternidade (1953), Uma Cruz à Beira do Abismo (1959), Peregrino da Esperança (1960), O Homem Que Não Vendeu Sua Alma (1966) e Júlia (1977).

    Premiações: 2
    A Um Passo da Eternidade (1953) e O Homem Que Não Vendeu Sua Alma (1966).

    5. Steven Spielberg (1946 – )

    Nascido em 18 de dezembro de 1946 em Cincinnati, Ohio, Steven Spielberg, assim como muitos diretores de hoje, começou a experimentar o cinema no início de sua vida. Na adolescência, o cineasta fez filmes exibidos somente a sua família. Filho dos Judeus Leah Posner Spielberg Adler, restauradora e pianista de concerto, e Arnold Spielberg, um engenheiro eletricista envolvido no desenvolvimento de computadores, o casal se separaria poucos anos após seu nascimento. Por conta de sua origem judia, sofria preconceito, muitas vezes dos próprios vizinhos.

    Sendo o irmão mais velho de três irmãs, Spielberg usava-as costumeiramente como cobaias em seus filmes caseiros. Aos 13 anos de idade, venceu seu primeiro concurso de curta-metragem com o filme Fuga do Inferno. No mesmo ano, 1963, fez sua estreia profissional com o curta-metragem Amblin’ que conta a história de um casal de jovens que se encontram no deserto de Mojave. O curta tinha duração de 24 minutos, foi exibido no Festival de Filmes de Atlanta e foi premiado em festivais importantes como o de Veneza.

    Apesar do início promissor, Spielberg não conseguiu cursar cinema na University of Southern California, e terminou por cursar literatura inglesa em outra escola. Depois de dirigir alguns programas de TV e curtas, Spielberg finalmente criou seu primeiro longa-metragem profissional Sugarland Express em 1974. Embora o filme não tenha sido um sucesso na bilheteria, o cineasta foi visto como uma estrela potencial por muitos críticos e executivos da indústria. No ano seguinte, no entanto, Tubarão (1975) lançaria Spielberg ao estrelato. Com um orçamento de US$ 8 milhões e que arrecadou uma incrível soma de US$ 191 milhões no ano de seu lançamento.

    Após Tubarão, o próximo filme de Spielberg foi uma ficção científica, Encontros Imediatos de Terceiro Grau (1977), obtendo 6 indicações ao Oscar, incluindo o de Melhor Diretor. Em 1981, foi indicado novamente por Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida (1981), e no ano seguinte, com outro filme de ficção científica, ET – O Extraterrestre (1982). Apenas em 1993, com A Lista de Schindler, Spielberg recebeu seu primeiro Oscar de Melhor Diretor. O filme tinha como personagem central Oskar Schindler (Liam Neeson), um industrial alemão que ajudou a salvar mais de 1.000 judeus durante o Holocausto.

    Em 1999, foi premiado novamente por O Resgate do Soldado Ryan (1999), que lhe rendeu mais 5 Prêmios da Academia. O cineasta continua fazendo filmes bem-sucedidos e segue observado de perto pela Academia, sendo hoje um dos maiores diretores da indústria cinematográfica.

    Indicações: 7
    Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977), Os Caçadores da Arca Perdida (1981), E.T. – O Extraterrestre (1982), A Lista de Schindler (1993), O Resgate do Soldado Ryan (1998), Munique (2005) e Lincoln (2012).

    Premiações: 2
    A Lista de Schindler (1993) e O Resgate do Soldado Ryan (1998).

    4. David Lean (1908 – 1991)

    De origem inglesa — mais precisamente em Croydon, Surrey —, e nascido em 25 de março de 1908, David Lean foi educado na rígida Leighton Park School. Contudo, sem obter grandes méritos, abandonou os estudos e foi trabalhar com o seu pai no ofício de contador. Não durou muito na profissão, que achou simplesmente insuportável e em 1927, aos 19 anos, candidatou-se a um emprego nos estúdios Gainsborough, sendo contratado sem salário e por um período de experiência como continuísta, ficando responsável pela claquete. Posteriormente, exerceu sucessivamente as funções de assistente de câmera e terceiro assistente de direção. Desse modo, Lean mergulhou de cabeça no universo cinematográfico, com atenção especial ao trabalho realizado na sala de montagem, com o chefe do departamento, Merrill White, que havia sido montador de Ernst Lubitsch em Hollywood. Sua reputação subiu ainda mais em 1938, quando trabalhou como montador no clássico Pigmaleão, de Anthony Asquith e Leslie Howard, baseado na peça de Bernard Shaw. Um ano depois, esteve de novo com Asquith em Caçadora de Corações, adaptação da comédia de Terence Rattigan, e, subsequentemente, montou importantes filmes britânicos dos anos 40 como Espionagem de Guerra (1940), Major Barbara (1941), Invasão de Bárbaros (1942)e E… um Avião não Regressou (1942).

    Com a rápida projeção como editor, Lean recebeu várias propostas para dirigir filmes de qualidade duvidosa, porém acabou rejeitando-as, temendo que a participação em filmes B viessem a prejudicar sua carreira. A oportunidade de dirigir surgiu quando o produtor criativo Filippe Del Giudice, persuadiu o consagrado escritor Noel Coward a realizar um filme para a sua companhia, Two Cities. Assim surgiu Nosso Barco, Nossa Alma (1942). Lean co-dirigiu o filme com Coward e a parceria se estendeu na adaptação de mais três peças do escritor: Este Povo Alegre (1942), Uma Mulher do Outro Mundo (1945) e o delicado Desencanto (1945), que lhe rendeu três indicações ao Oscar, inclusive na categoria de Melhor Direção. O grande autor inglês Charles Dickens foi a próxima fonte de inspiração para o diretor, que realizou dois clássicos absolutos dos anos 1940 Grandes Esperanças (1946) — indicado a 5 Oscars, inclusive direção — e Oliver Twist (1948).

    No final dos anos 1950 e começo de 1960, Lean se tornou um dos diretores mais consagrados, entregando superproduções bem-sucedidas e icônicas do cinema, como A Ponte do Rio Kwai (1957), que lhe valeu o primeiro Oscar de direção; Lawrence da Arábia (1962), o segundo Oscar da categoria; e Doutor Jivago (1965), pelo qual foi novamente indicado ao prêmio. Em 1970, dirigiu o fracasso de público e crítica A Filha de Ryan, e decidiu se afastar do cinema, retornando mais de dez anos depois para dirigir aquele que seria seu último trabalho, Passagem Para a Índia (1983), indicado a 11 prêmios — inclusive direção e melhor filme — e conquistando dois deles: Peggy Ashcroft venceu o Oscar de melhor atriz coadjuvante e Maurice Jarre conquistou seu terceiro prêmio de melhor trilha sonora.

    David Lean recebeu, em 1984, o título de Cavaleiro do Império Britânico e faleceu no dia 16 de Abril de 1991, em Londres, pouco tempo antes de começar as filmagens de Nostromo, filme que seria baseado na obra homônima de Joseph Conrad. Lean é citado como referência e principal influência de grandes cineastas como Steven Spielberg e Martin Scorsese.

    Indicações: 7
    Desencanto (1945), Grandes Esperanças (1946), Quando o Coração Floresce (1955), A Ponte do Rio Kwai (1957), Lawrence da Arábia (1962), Doutor Jivago (1965) e Passagem para a Índia (1984).

    Premiações: 2
    A Ponte do Rio Kwai (1957) e Lawrence da Arábia (1962).

    3. Martin Scorsese (1942 – )

    Nascido em 17 de novembro de 1942, em Nova York, EUA, Martin Scorsese é conhecido por seu estilo de cinema meticuloso, além de ser considerado um dos diretores mais importantes de todos os tempos. A paixão de Scorsese pelos filmes começou ainda bem jovem, quando dividia seu tempo entre a comunidade siciliana no distrito de Little Italy em Manhattan, a devoção católica e a obsessão pelo cinema. Essa paixão pelo cinema teve relação com uma forte asma que afligia o diretor. E com uma certa limitação para realizar atividades físicas, passou a maior parte de seu tempo livre na frente da televisão ou no cinema do bairro. Aos 8 anos de idade, já criava seus próprios storyboards. Criado como um católico praticante, durante a juventude cogitou entrar para o sacerdócio, no entanto, a ideia foi deixada de lado ao ganhar uma bolsa de estudos de US$ 500 para cursar cinema na New York University.

    Depois de formado, Scorsese trabalhou brevemente lecionando como instrutor de cinema, tendo como seus alunos Jonathan Kaplan e Oliver Stone. Em 1968, completou seu primeiro longa-metragem, Quem Bate à Minha Porta?, primeira parceria do diretor com o ator Harvey Keitel e a montadora Thelma Schoonmaker. O longa foi indicado ao Festival Internacional de Cinema de Chicago. Em 1973, Scorsese dirigiu Caminhos Perigosos, seu primeiro filme a ser amplamente reconhecido como uma obra-prima. Revisitando personagens de “Quem Bate…”, o filme mostrou elementos que se tornaram marcas comerciais da filmagem de Scorsese: temas pesados, personagens antipáticos, religião, máfia, técnicas de câmera incomuns para o padrão da indústria e música contemporânea. O longa também introduziu uma nova e prolífica parceria na filmografia do diretor ao lado de Robert De Niro.

    Ao longo dos anos 1970 e 1980, Scorsese dirigiu filmes de grande impacto que ajudaram a definir uma geração de cinema. Sua graciosa obra-prima de 1976, Táxi Driver, ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes e fixou o status de De Niro como uma lenda viva do cinema. Scorsese e De Niro, mais uma vez juntos, realizaram Touro Indomável (1980), considerado por muitos como um dos melhores filmes de todos os tempos. O longa foi marcado por ser a primeira indicação na Academia como melhor diretor — Táxi Driver foi indicado em Melhor filme, Melhor Ator, Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Trilha Sonora; enquanto Alice Não Mora Mais Aqui (1974) foi indicada nas categorias de Melhor Roteiro Original e Melhor Atriz Coadjuvante e premiando Ellen Burstyn na categoria de Melhor Atriz. Em 1986 alcançou seu primeiro grande sucesso de bilheteria com A Cor do Dinheiro, com Paul Newman e Tom Cruise.

    Foi indicado novamente como melhor diretor no final dos anos 1980 pelo polêmico A Última Tentação de Cristo (1988), e dois anos depois pelo clássico Os Bons Companheiros (1990). Durante os anos 2000, Scorsese se revigorou com outra importante parceria, dessa vez com o ator Leonardo DiCaprio, com quem estrelou diversos papéis como protagonista e que o agradece profundamente por mostrar um outro caminho dentro de Hollywood. A Academia indicou-o novamente como diretor por Gangues de Nova York (2002) e O Aviador (2004), mas só recebeu o esperado Oscar de direção por Os Infiltrados, de 2006.

    Em 2011, o cineasta realizou seu primeiro filme 3D, a aventura fantástica sobre o cinema, A Invenção de Hugo Cabret. Embora não tenha sido um sucesso de bilheteria, mostrou ao público e crítica como utilizar um recurso que muitos ainda utilizam de maneira pífia. O longa conquistou 11 indicações ao Oscar, além de um Globo de Ouro para Melhor Diretor. Scorsese permanece trabalhando e é considerado um dos maiores nomes do cinema norte-americano.

    Indicações: 8
    Touro Indomável (1980), A Última Tentação de Cristo (1988), Os Bons Companheiros (1990), Gangues de Nova York (2002), O Aviador (2004), Os Infiltrados (2006), A Invenção de Hugo Cabret (2011) e O Lobo de Wall Street (2013)

    Premiações: 1
    Os Infiltrados (2006)

    2. Billy Wilder (1906 – 2002)

    Samuel Wilder, nasceu em 22 de junho de 1906, em Sucha Beskidzka, Polônia, em uma família de judeus, onde foi apelidado de Billie por sua mãe — ao chegar na América, se tornou Billy. Seus pais possuíam uma bem-sucedida loja de bolos em uma estação de trem de Sucha e tentaram, sem sucesso, persuadir seu filho a se juntar ao negócio familiar. Mas Billy Wilder optou por seguir a carreira de jornalista e se mudou para Berlim. Após trabalhar por um tempo como freelancer, o cineasta foi aceito em um tabloide e sua habilidade no ofício ajudou a desenvolver o interesse como roteirista, uma vez que havia se tornado um amante da sétima arte. Durante os anos 1930, Wilder colaborou com alguns roteiros ainda na Alemanha.

    Com a ascensão do Partido Nazista, Wilder se muda para Paris e acaba realizando seu primeiro trabalho como diretor em Semente do Mal (1934). Antes do lançamento do filme, e com o crescimento da extrema-direita na Europa, Wilder se muda novamente, dessa vez para os EUA. A mãe, a avó e o padrasto do cineasta seriam assassinados no Holocausto anos depois.

    Já nos EUA, Wilder retoma sua carreira como roteirista, vindo a dirigir novamente apenas em A Incrível Suzana (1942). Seu filme seguinte, Cinco Covas no Egito (1943), que assina o roteiro em co-autoria com Charles Brackett — parceiro de Wilder em muitos filmes — , chamou a atenção da Academia, que acabou indicando o filmes para Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte e Melhor Montagem. Seu terceiro filme como diretor, Pacto de Sangue (1944) foi um grande sucesso. Um filme noir, indicado a 7 Oscar, incluindo Melhor Diretor e Roteiro. Co-escrito com o grande Raymond Chandler — o criador do detetive Philip Marlowe e ainda hoje um dos grandes nomes da literatura policial —, Pacto de Sangue não só estabeleceu convenções para o gênero noir (como a iluminação e a narração em off), mas também foi um marco na batalha contra a censura de Hollywood, uma vez que o adultério era um ponto central da trama mas que, no entanto, feria o Código Hays, um conjunto de regras de censura que tinha por objetivo subordinar as produções teatrais e de cinema dos EUA a padrões determinados por um grupo de instituições religiosas.

    Em 1946, Wilder ganhou o prêmio de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado, além do ator Ray Milland ter recebido o prêmio de Melhor Ator, por Farrapo Humano (1945). O longa ainda foi indicado nas categorias de Melhor Fotografia, Montagem e Trilha Sonora. Cinco anos depois, Wilder é indicado em 11 categorias por Crepúsculo dos Deuses (1950) e venceu em Melhor Roteiro Original, Direção de Arte e Trilha Sonora. O longa retratava os bastidores de Hollywood, na figura de uma estrela de cinema reclusa e com delírios de grandeza, e de um aspirante a roteirista oportunista.

    No ano seguinte, o cineasta se uniu com Kirk Douglas e fez A Montanha dos Sete Abutres, um conto de exploração midiática sobre um acidente ocorrido em uma caverna no interior dos EUA. Na década de 1950, Wilder também dirigiu duas adaptações de peças da Broadway, o drama de guerra O Inferno Nº 17 (1953), que resultou em um Oscar de Melhor Ator para William Holden, e o romance de mistério escrito por Agatha Christie, Testemunha de Acusação (1957). Ainda nos anos 1950, Wilder fez grandes comédias como Sabrina (1954), indicado em Melhor Direção, Roteiro Adaptado, Fotografia, Direção de Arte, Atriz e vencedor na categoria de Melhor Figurino; O Pecado Mora ao Lado (1955), considerada pela American Film Institute como a melhor comédia americana já feita; e Amor na Tarde (1957), primeira colaboração de Wilder com o escritor-produtor I.A.L. Diamond, uma parceria que continuou até o final da carreira de ambos os homens.

    Se Meu Apartamento Falasse (1960) venceu como Melhor Filme, Direção, Roteiro Original, Direção de Arte e Montagem, além de ter sido indicado em mais cinco categorias, no entanto, a carreira de Wilder diminuí a partir de então, realizando filmes menores como Irma la Douce (1963) e Beija-me, Idiota (1964). Trabalhos como A Vida Íntima de Sherlock Holmes (1970) se tornou conhecido pelos diversos cortes realizados pelo estúdio e até hoje não foi totalmente restaurado. Filmes posteriores como Fedora (1978) e Amigos, Amigos, Negócios à Parte (1981) não conseguiram impressionar os críticos e não tiveram uma boa resposta de bilheteria. Já no fim de sua vida profissional, Wilder reclamou que estava sendo discriminado, devido à sua idade. Infelizmente, os estúdios não o contrataram novamente. Faleceu em 27 de março de 2002, aos 95 anos de idade, vítima de pneumonia após lutar contra diversos problemas de saúde, incluindo câncer. Nos dias de hoje, a filmografia segue sendo revista e resgatada por diretores, roteiristas e amantes do cinema.

    Indicações: 8
    Pacto de Sangue (1944), Farrapo Humano (1945), Crepúsculo dos Deuses (1950), O Inferno Nº 17 (1953), Sabrina (1954), Testemunha de Acusação (1957), Quanto Mais Quente Melhor (1959) e Se Meu Apartamento Falasse (1960).

    Premiações: 2
    Farrapo Humano (1945) e Se Meu Apartamento Falasse (1960).

    1. William Wyler (1902 – 1981)

    William Wyler tinha reputação como o artesão mais minucioso de Hollywood, um perfeccionista que exigia múltiplas tomadas para capturar as nuances de cada cena. Esses métodos tornaram-no o diretor que mais vezes foi indicado ao Oscar (doze para ele próprio como Melhor Diretor, além de diversas outras indicações), vindo a receber três prêmios na categoria citada, empatando em números com Frank Capra, e ficando atrás apenas de John Ford, que detém a incrível marca de 5 Oscars por direção.

    Nascido de uma família judaica em 1 de julho de 1902, em Mülhausen, Alemanha, desde muito cedo, sua mãe levava Wyler e o irmão mais velho para assistir concertos, ópera, teatro e o cinema ainda em fase embrionária. Às vezes, em casa, sua família e seus amigos organizavam teatros amadores para se divertirem. Sua reputação e mau comportamento levaram-no a ser expulso de diversas escolas. Com o advento da Primeira Guerra Mundial, a família acaba se mudando para Paris. Em virtude da situação financeiro, Wyler emigrou para os EUA ainda jovem, para trabalhar na Universal Pictures, em um emprego oferecido pelo primo de sua mãe, Carl Laemmle, que tinha o hábito de ir para a Europa anualmente, buscando jovens promissores para trabalhar na América.

    Por volta de 1923, Wyler chegou a Los Angeles e começou a trabalhar na Universal Pictures limpando e movendo os sets. A ruptura veio quando foi contratado como um segundo editor assistente. No entanto, Wyler frequentemente abandonava o trabalho para jogar bilhar do outro lado da rua ou organizar jogos de cartas durante o horário de trabalho, o que acarretou em sua demissão. Depois de alguns altos e baixos, Wyler foi recontratado e se concentrou em se tornar diretor. Começou como terceiro assistente de direção e, em 1925, torna-se diretor de filmes B. Em 1929 chama a atenção com o filme Os Três Padrinhos (1929), e pouco a pouco se torna uma referência dentro de Hollywood nos anos seguintes.

    Nos anos 1930, faz filmes seminais como O Conselheiro (1933); A Boa Fada (1935); Infâmia (1936); Fogo de Outono (1936), indicado em 6 categorias, incluindo Melhor Filme, Direção e Roteiro Adaptado; Meu Filho é Meu Rival (1936), co-dirigido com Howard Hawks e Richard Rosson; Beco Sem Saída (1937), indicado a quatro categorias, incluindo Melhor Filme; Jezebel (1938), vencedor do Oscar de Melhor Atriz para Bette Davis, e Atriz Coadjuvante para Fay Bainter; e O Morro dos Ventos Uivantes (1939), que lhe rendeu sua segunda indicação como Melhor Diretor.

    Wyler é indicado em mais dois momentos — A Carta (1940) e Pérfida (1941) — até receber seu primeiro Oscar em Rosa de Esperança, de 1942. O longa ganhou seis prêmios da Academia, tornando-se o melhor sucesso de bilheteria de 1942. Nessa mesma época, Wyler decide servir como oficial na Aeronáutica durante a Segunda Grande Guerra, realizando diversos documentários, incluindo The Fighting Lady (1944), vencedor do Oscar. Com o fim da guerra, fez um de seus maiores filmes, o antibélico Os Melhores Anos de Nossa Vida (1946), vencedor de 7 oscar, incluindo Melhor Direção.

    Durante os anos 1950 fez filmes magistrais como Tarde Demais (1949), indicado como Melhor Diretor; Chaga de Fogo (1951), novamente indicado como Melhor Diretor e com uma bela performance de Kirk Douglas; Perdição por Amor (1952); A Princesa e o Plebeu (1953), que tinha como roteirista Dalton Trumbo, mas que só foi creditado anos depois por constar na lista negra do Macartismo por ser um comunista declarado; Horas de Desespero (1955); Sublime Tentação (1956); e Da Terra Nascem os Homens (1958). Mas apenas em 1959 Wyler receberia seu último Oscar de diretor, no épico Ben-Hur, ganhador de mais 10 Oscar.

    Em 27 de julho de 1981, faleceu vítima de um ataque cardíaco, aos 79 anos de idade. Wyler até o fim de sua carreira entregou filmes inesquecíveis como Infâmia (1961); O Colecionador (1965); Funny Girl: A Garota Genial (1968); e A Libertação de Lord Byron Jones (1970). Seu trabalho e dedicação como diretor é lembrado por vários atores, desde Bette Davis a Charlton Heston, que sempre ressaltaram seu talento e criatividade, além de ser o diretor com maior número de performances de atores indicados ao Oscar do que qualquer outro na história. Sua técnica de profundidade de campo é utilizada, estudada e copiada ao longo de décadas por diversos diretores.

    Indicações: 12
    Fogo de Outono (1936), O Morro dos Ventos Uivantes (1939), A Carta (1940), Pérfida (1941), Rosa de Esperança (1942), Os Melhores Anos de Nossa Vida (1946), Tarde Demais (1949), Chaga de Fogo (1951), A Princesa e o Plebeu (1953), Sublime Tentação (1956), Ben-Hur (1959) e O Colecionador (1965).

    Premiações: 3
    Rosa de Esperança (1942), Os Melhores Anos de Nossa Vida (1946) e Ben-Hur (1959).

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  • Noir | Um guia para assistir aos filmes de detetive

    Noir | Um guia para assistir aos filmes de detetive

    Noir Um guia para assistir aos filmes de detetive

    Volta e meia surgem ciclos temáticos dentro da história do cinema norte-americano. Iniciando com os monstros da Universal, faroestes dos anos 1940 e 1950, filmes de ficção científica dos anos 1950, a era dos épicos dos anos 1960, o cinema de contra-cultura dos anos 1970, os brucutus do cinema de ação dos anos 1980, e a atual safra de filmes de super-heróis dos anos 2000.

    Porém, entre esses temas, um dos mais reverenciados é o noir dos anos 1940 e 1950. Considerado um dos grandes sub-gêneros dos filmes policiais, o noir surgiu na literatura nos 30 e conseguiu ser transposto para o cinema com maestria pelos melhores diretores e roteiristas dos anos 40 e 50. O ScriptLab esmiuçou os principais elementos de um filme noir, sendo eles o contexto, a escuridão, o fatalismo, voz off e flashbacks que nem sempre são necessários, o protagonista falho, e, principalmente, a dama fatal.

    Munido dessas informações, elaborei uma lista com os 20 filmes mais importantes e/ou marcantes do gênero em ordem cronológica para quem deseja se aventurar pelo cinema noir. Lembrando sempre que pode haver algum título importante que deixei passar.

    1941O Falcão Maltês (The Malthese Falcon, 1941)

    Escrito e dirigido por John Houston e baseado no livro de Dashiell Hammett, O Falcão Maltês é talvez o mais emblemático entre os filmes noir que ajudou a estabelecer o gênero. Humphrey Bogart é o detetive particular que aceita pegar o caso do desaparecimento da irmã de Mary Astor. Após seu sócio Jerome Cowan aparecer morto, a investigação se desdobra em algo muito maior que envolve uma relíquia rara de valor incalculável.

    double_indemnityPacto de Sangue (Double Indemnity, 1944)

    Dirigido por Billy Wilder, este se tornou um dos noir mais memoráveis ao inverter a estrutura do gênero. Fred Macmurray, detetive de uma companhia de seguro, se une a Barbara Stanwick, esposa de um homem rico, na tentativa de assassiná-lo e fraudar a investigação para ficar com o dinheiro.

    laura-movie-poster-1944-1020143698Laura (Laura, 1944)

    Com Vincent Price no elenco, Laura narra a clássica investigação do assassinato da personagem título, interpretada por Gene Tierney, conduzida pelo detetive Dana Andrews, que não só descobre que ela está viva como se apaixona por ela.

    lost_weekend_xlgFarrapo Humano (The Lost Wekeend, 1945)

    Outro filme dirigido por Billy Wilder, Farrapo Humano é um noir que foge da trama policial ao focar no drama e na condição humana de Ray Milland, um alcoolatra que não consegue largar o vício enquanto tenta ser salvo por Phillip Terry, seu irmão e Jane Wyman, sua namorada, enquanto quase tem um caso com Doris Dowling. Destaque para as cenas do bar com Howard da Silva.

    Detour_(poster)A Curva do Destino (Detour, 1945)

    Mais um noir de drama, A Curva do Destino apresenta Tom Neal, um músico de jazz que viaja pelos Estados Unidos de carona e assume a identidade do motorista que morreu na sua frente. Após se envolver com Ann Savage, uma mulher que lhe dá outra carona, a relação dos dois termina mal.

    big-sleep-movie-poster-1946À Beira do Abismo (The Big Sleep, 1946)

    Considerados por muitos como um dos melhores filmes noir, À Beira do Abismo é baseado no livro de Raymond Chandler e tem a direção de Howard Hawks. O detetive particular Humphrey Bogart investiga o caso de extorsão contra a filha mais nova de um rico industrial enquanto se envolve com a sua irmã mais velha, Lauren Bacall.

    The-Killers-PosterAssassinos (The Killers, 1946)

    Baseado em uma história de Ernest Hemingway, a morte do personagem de Burt Lancaster desencadeia uma investigação por parte do detetive de uma agência de seguros, e acaba por revelar como se deu um grande crime no passado e o envolvimento de Lancaster com Ava Gardner.

    blue_dahliaDália Azul (The Blue Dahlia, 1946)

    No filme escrito por Raymond Chandler e dirigido por George Marshall, Alan Ladd é um ex-piloto de guerra que se torna o principal suspeito de matar Doris Dowling, sua infiel esposa, que tem um caso com Howard da Silva, o dono da boate Dália Azul. Para provar a sua inocência, tem a ajuda de Veronica Lake, a ex-esposa do dono da boate.

    20319302Gilda (Gilda, 1946)

    O filme dirigido por Charles Vidor que consagrou Rita Hayworth é outro noir que foge às tramas policiais. Gleen Ford é um apostador que abandona o vício do jogo e vai trabalhar para o dono de um Cassino em Buenos Aires. A sua vida vira ao avesso ao ver que seu chefe voltou de viagem casado com Rita Hayworth, antigo caso seu.

    the-lady-from-shanghai-movie-poster-1948-1020414234A Dama de Shanghai (Lady From Shanghai, 1947)

    Escrito, dirigido e protagonizado por Orson Welles, se tornou um dos grandes filmes da sua carreira com todos os elementos noir. Welles é um marinheiro que se apaixona por Rita Hayworth e aceita fazer parte da equipe do navio de seu marido, Everett Sloane, acabando por se envolver em uma trama de assassinato.

    b70-9896Fuga ao Passado (Out of The Past, 1947)

    Robert Mitchum está refugiado em uma pequena cidade, até ser encontrado pelo capanga do seu antigo chefe, Kirk Douglas, para acertar as contas sobre um serviço não realizado do passado, que envolvia a bela Jane Greer e uma alta quantidade de dinheiro. Participação de Rhonda Fleming.

    Francesco-Francavilla-The-Third-Man-Movie-Poster-2015O Terceiro Homem (The Third Man, 1949)

    Outro grande noir sobre espionagem na Europa pós-Segunda Guerra Mundial. Dirigido por Carol Reed, Joseph Cotten é um escritor americano que chega a Viena para encontrar um antigo amigo, interpretado magistralmente por Orson Welles, que foi dado como morto e tenta por todos os meios continuar assim.

    sunset-boulevard-movie-poster-1950-1020142705Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard, 1950)

    Outra direção de Billy Wilder, Crepúsculo dos Deuses é um dos filmes mais marcantes da história do cinema fazendo referência à própria indústria em um grande noir de drama humano. William Holden é contratado para reescrever o roteiro de um filme por Gloria Swanson, em uma interpretação memorável como uma ex-estrela do cinema mudo que caiu no ostracismo. Participação memorável de Cecil B. DeMille e Buster Keaton como eles mesmos, além de Erick von Stroheim.

    InaLonelyPlace_US_30x40No Silêncio da Noite (In A Lonely Place, 1950)

    Uma mistura de policial e drama, Humphrey Bogart é um roteirista violento que vive no mundo de glamour de Hollywood. Suspeito de assassinato, ele é inocentado por sua vizinha, Gloria Grahame, e os dois acabam se envolvendo até que a sua difícil personalidade complica a relação.

    the-asphalt-jungle-movie-poster-1950-1020190945O Segredo das Joias (The Asphalt Jungle, 1950)

    Em outro filme dirigido por John Houston e com Marilyn Monroe fazendo uma pequena participação, O Segredo das Joias é o típico filme de assalto onde se mostram todas as etapas de preparação, além do roubo. Conduzido pela mente criminosa do recém-saído da prisão Sam Jaffe, conta com Sterling Hayden no elenco.

    cry-danger-movieGolpe do Destino (Cry Danger, 1951)

    Nesta obra dirigida por Robert Parish, Dick Powell vive um homem inocente que sai da prisão perpétua após uma testemunha ajudá-lo com um álibi, mas que na verdade quer informações sobre um assalto que Powell não cometeu. Durante a vingança contra quem o colocou na cadeia, tentam incriminá-lo novamente enquanto se envolve com a bela Rhonda Fleming.

    1953 - The Big Heat 2Os Corruptos (The Big Heat, 1953)

    Em outro grande noir, Os Corruptos é dirigido por Fritz Lang e conta a história de Gleen Ford, um detetive que ao investigar a morte de um colega se vê lidando com criminosos que comandam o próprio departamento de polícia, sendo um deles Lee Marvin. Após ter a sua família assassinada, ele busca justiça ao lado de Gloria Grahame.

    killing_xlgO Grande Golpe (The Killing, 1956)

    O Grande Golpe é outro dos filmes noir diferentes. O terceiro longa-metragem dirigido por Stanley Kubrick é o típico filme de assalto que lembra bastante a estrutura de O Segredo das Joias. Um bando de vigaristas é liderado também por um ex-presidiário, Sterling Hayden, que planeja um grande assalto durante uma corrida de cavalo.

    large_i2gJBlr01BZiZb5b5TOJudc4nv6A Marca da Maldade (Touch of Evil, 1958)

    O filme que tem a melhor cena de abertura da história do cinema, A Marca da Maldade, dirigido por Orson Welles, é também o último dos filmes noir. Charlton Heston e Janet Leigh são um casal composto por um mexicano e uma americana que vivem na perigosa fronteira entre os dois países, em uma perigosa investigação conduzida por Welles sobre uma bomba que explodiu um carro.

    film-noir-chinatown-1974-movie-poster-via-professormortis-wordpressChinatown (Chinatown, 1974)

    Considerado pós-noir, o filme dirigido por Roman Polanski é uma homenagem aos filmes de 20 e 30 anos anteriores, com todos os elementos do noir, inclusive com a presença de John Houston. Jack Nicholson é um detetive particular que investiga o caso de uma mulher traída, e que acaba se revelando algo muito maior. Com a ajuda de Faye Dunaway, ele enfrenta uma trama política e de assassinato sobre a seca na Califórnia. Leia a crítica do filme aqui.

    Texto de autoria de Pablo Grilo.

  • Crítica | A Vida Íntima de Sherlock Holmes

    Crítica | A Vida Íntima de Sherlock Holmes

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    A valise aberta no cofre do banco, somente autorizada a ser aberta após passados 50 anos da morte do seu antigo dono, lembra, em importância, guardadas as devidas proporções, a Arca da Aliança, por conter em si materiais que se mostrariam sagrados para toda uma geração de fiéis. Em pouco mais de 3 minutos, Billy Wilder, um realizador polonês de nascimento – mas ainda assim ícone da narrativa clássica americana – consegue transmitir como ninguém todo o charme de um dos maiores personagens da literatura britânica.

    O afetadíssimo Sherlock de Robert Stephens – que usa uma sobrancelha postiça, garantindo a ele um ar aristocrático – começa o filme praticando algo que o detetive adorava fazer nos livros: desdenhar da escrita de Watson (Colin Bradley), acusando-o de aproximar a imagem de si da de um misógino, além de exagerar em seus dotes musicais. Mas o que realmente incomodava o protagonista eram as liberdades poéticas tomadas pelo médico, que faziam dele um personagem longe demais da realidade e mais próximo de um ideal heroico.

    O auge do sarcasmo acontece quando Holmes recusa um convite para “deitar-se” com uma renomada artista russa, alegando que, assim como Tchaikovsky, seu prato preferido não seria este – a homoafetividade antes insinuada é encarnada de forma jocosa, anedótica e pontual. O escândalo que a mulher rejeitada faz certamente é parecido com a reação que os fãs mais conservadores teriam ao ouvir uma revelação da homossexualidade factual do personagem; o grito de protesto pelo desperdício de tão viril figura – ao menos à primeira vista – seria uma resposta comum de parte dos leitores.

    É evidente que esta liberdade de roteiro era apenas anedótica, um artifício do detetive para rejeitar a mulher sem maiores problemas. Mas a indagação de Watson a respeito de seu currículo com o “beau sexe” (“belo sexo”, em tradução literal) incomoda o frágil detetive. A própria orientação sexual constituía para Holmes um mistério mais difícil de desatar do que os vários nós das vidas alheias – provando, aqui, mais uma grande característica do Detetive no cânone, o interesse diminuto em realizar autoanálise.

    O humor negro é muito presente sob uma máscara cínica e em abordagem ácida dos fatos absolutamente pouco usuais que aconteceram sob o teto de 221b de Baker Street. O registro visual lembra muito Topázio e Marnie – Confissões de uma Ladra, enquanto as viradas de roteiro remetem a Festim Diabólico e Disque M para Matar – Wilder era apenas sete anos mais jovem que Hitchcock, e, nesta película, optou por reverenciá-lo citando partes de sua filmografia, mesmo quando a crítica considerava o realizador em declínio, e Alfred estava às portas da aposentadoria.

    A fonte da desconfiança de Holmes com as mulheres seria sua noiva, que morrera de gripe pouco antes do casamento, mostrando que por trás do suposto comportamento misógino havia um coração ferido por uma perda irreparável, e até inesquecível, dada uma fala do detetive no filme:

    Alguns de nós vivem atormentados com uma memória de elefante, com uma quantidade tremenda de dados variados lá cravados, mas na maioria inúteis”  – esta citação entra em contradição com uma afirmação de Holmes em Um Estudo em Vermelho, na qual ele compara o cérebro a um sótão, onde é interessante guardar somente o necessário. Talvez a argumentação de Wilder fosse a de mostrar que Holmes era incapaz de atingir este ponto ideal, assim não poderia esquecer-se de nada, desde que não seja algo inconveniente.

    Para Holmes, perceber que foi enganado e tratado como joguete pela única mulher por quem conseguira se afeiçoar – numa clara repaginação de Irene Adler – derrubou significativamente sua autoestima e a possibilidade de um romance com a única mulher que Sherlock seria capaz de amar. Mas, ainda assim, a reação do detetive fora benevolente, sugerindo ao seu irmão, Mycroft, que Gabrielle (Geneviève Page) tivesse amenizada sua pena por espionagem. A notícia que recebera por carta no final sepulta de vez qualquer possibilidade de haver um romance imaginado em sua mente, encerrando em seu triste coração partido a inexorável solidão, que deveria estar presente até o fim dos seus dias, provavelmente vivendo estes de modo melancólico.