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  • Crítica | Inferno na Torre

    Crítica | Inferno na Torre

     

    Inferno na Torre consegue uma proeza difícil de se conseguir hoje em dia, por mais estranho que seja. É filmaço de ação que não se leva a sério demais, mas tampouco subestima sua força e o seu impacto sensorial, dada a urgência e a execução da história: na inauguração de um pomposo edifício comercial, desses de dar inveja a Dubai, um incêndio sem precedentes acomete o arranha-céus, com labaredas gigantescas engolindo os andares, e os convidados vestidos de gala. O que era luxo, vira cinzas e, de repente, os 135 andares da torre correm o risco de serem engolidos, tal o Titanic pelo mar, no desespero de uma noite infinita. Mas o clássico romântico de James Cameron não é a única comparação objetiva com o de 74: Inferno na Torre só existe devido ao sucesso, dois anos antes, de O Destino de Poseidon, sendo que o filme do incêndio supera dramaticamente quase tudo do seu primo mais velho.

    Robert Vaughn comanda o filme catástrofe (e o seu filme mais famoso), filho de dois estúdios que uniram suas forças para produzir esse épico, que só poderia ser feito com o dinheiro e o marketing de Hollywood. Para o nosso deleite, ao longo dos quase 50 anos da obra, todos os efeitos especiais aqui foram práticos, e o uso de maquetes é extremamente inspirador para retratar, da forma mais realista possível (não só para a época) o caos vertical, com pessoas caindo daquelas janelas ou pelo poço dos elevadores. As chamas que não param de subir. A Warner Bros. e a Fox se deram bem, e o filme foi um estouro de público, também por conta dos grandes astros Paul Newman, Fred Astaire, Faye Dunaway (no grande ano da atriz, estrelando também Chinatown em 74) e Steve McQueen (líder dos pobres bombeiros, já que a corporação sofre como nunca), no maior sucesso de bilheteria de todos eles. Todos tentando sobreviver ao fogo, entre momentos superdivertidos (o resgate tresloucado entre dois prédios) e assustadores.

    Negando ser apenas megalomaníaco em sua escala de produção, Inferno na Torre torna-se um equilíbrio perfeito de ação, drama, e aventura, que tanto inspiram Michael Bay e outros diretores do século XXI, na tentativa de replicar essa “fórmula”. Com o foco bem estabelecido nos personagens e nas suas evoluções (ou digressões) morais (as máscaras caem diante do perigo extremo), a sagacidade realmente marcante do diretor Guillermin não poderia ser melhor, pulsando o suspense e até o terror em meio a um purgatório na Terra e explorando ao máximo o potencial da trama – isso explica as quase 3 horas do filme, mas que passam muito mais rápido que muitos de 1 hora e meia. Inferno na Torre entrou para a história de Hollywood pelo elenco de estrelas, o custo assombroso, e o tamanho do filme (nunca uma produção usou de tantos bombeiros nos sets grandiosos de filmagem), mas deve ser reconhecida também pela alta qualidade substancial e não somente a técnica do espetáculo, cujo peso emocional e entretenimento perduram, intactos, até hoje para as novas gerações.

  • Crítica | Crown, O Magnífico

    Crítica | Crown, O Magnífico

    Filmes de assalto, assim chamados heist movies, geralmente caem nos clichês do gênero, ainda mais hoje em dia. Histórias de gangues que roubam um banco, tudo dá errado, as desavenças entre os ladrões só cresce, enquanto a polícia fica na cola deles – e é inacreditável como A Casa de Papel soube usar desses clichês para transmitir a falsa sensação de novidade a um público que não assiste nada que veio antes de Titanic (existia cinema antes de Titanic?). Mas impressionante mesmo é ver como em 1968, e contando com um grande elenco, Crown: O Magnífico institucionalizou de forma histórica todas as cenas que esperamos ver em filmes de assalto (reféns, tiroteio, fuga) com uma força poucas vezes superada mais de 50 anos depois.

    Digo poucas, porque Um Dia de Cão chegou perto, focando na histeria do longo assalto ao banco e mais nada. Aqui, é como se Jean-Luc Godard fizesse um filme de ladrões, com todo seu experimentalismo técnico, e com uma montagem que faz as cenas pularem, brilharem, explodirem na tela, e funciona a ponto de tornar o filme impecável em ritmo e visual, ilustrando a história de Thomas Crown. Um banqueiro podre de rico e ganancioso que entediado pela sua vida de luxo sem grandes problemas, decide juntar meia-dúzia de criminosos para assaltarem uma agência bancária, com a mesma simplicidade de quem contrata uma diarista. Tudo dá certo e o dinheiro vai para a conta de Crown na Suíça e parece que habemus o crime perfeito! Só que a seguradora do banco chama sua melhor investigadora, a inteligente Nickie Anderson (mulher à frente do seu tempo, o que choca os homens mais tradicionais dos anos 60), para seguir os rastros do dinheiro e tentar desvendar o plano por trás do roubo.

    E ela o faz, em pouco tempo com os olhos da experiência. Logo fica claro que Crown está por trás desse esquema de 3 milhões de dólares extorquidos, mas Nickie precisa provar como e o porquê. Para isso, a mulher começa a se relacionar com o magnata. Duas raposas, uma tentando passa a perna na outra, até Nickie perceber que está obcecada com aquele estranho e quase não consegue separar o trabalho da paixão.

    Crown: O Magnífico é um estudo psicológico e divertido da natureza de corrupção do ser humano e dos tipos que só pensam em dinheiro, os Lobos de Wall Street. O diretor Norman Jewison brinca com as nossas expectativas e dá um show na direção, organizando a trama com bons momentos de comédia e ótimas cenas de puro suspense. Assim, temos um excelente jogo de gato e rato no limite entre o financeiro e o pessoal, que faz o espectador roer as unhas para ver quem irá ganhar. Tudo graças também as atuações dos gigantes Steve McQueen e Faye Dunaway, essa última ainda colhendo, na época, os louros pelo fenômeno Bonnie e Clyde.

  • Crítica | Supergirl

    Crítica | Supergirl

    Apenas um ano após o lançamento do vexaminoso Superman III, os produtores Ilya e Alexander Salkind levavam as telas de cinema um spin off, protagonizado por Helen Slater e dirigido por Jeannot Szwarc. A Supergirl de 1984 contém semelhanças em sua abertura com a versão de 1978 de Superman, ainda que tenha uma apresentação mais colorida,  mais voltado para o que os produtores achavam ser comum para o público feminino, primando por tons rosas. A construção do passado de Kara Zor-El é mais pautada em alguns poucos uma ambientação mágica, onde habitam os remanescentes do planeta extinto, na cidade de Argo.

    O missão de Kara envolve um mentor estranho, Zaltar, interpretado pelo veterano Peter O’Toole, que tem em seu comportamento algumas ideias bastante contraditórias, a respeito de enviar a moça em uma missão a Terra, lançando no espaço, em direção ao planeta onde não só seu primo está como tambem um artefato, chamado Omegahedron. O objetivo da moça é recupera-lo que deveria, pois ele caiu em mãos erradas, ficando em posse da bruxa moderna Selena (Faye Dunaway), que tenciona dominar a terra com esse poder.

    Ilya Salkind consegue produzir um longa estranho em essência, que começa pela chegada personagem ao planeta já trajada como heroína, sem qualquer preparação ou algo que o valha, seguida de cenas de voo terrivelmente mal feitas, com fundo verde mais vagabundo possível, com erros de escala assustadores entre a figura em movimento e o cenário fixo. Algumas referências interessantes são notadas, como a cidade engarrafada de Kandor, mas só há menção, nenhuma exploração o tema é feita o que é lastimável, já que isto poderia fazer enriquecer a trama.

    A direção de Szwarc é curiosa, e até tenta ousar. Sua experiência com seriados televisivos como Galeria do Terror e a versão oitentista de Alem da Imaginação o credencia a montar um cenário sci-fi para sua versão do mito kriptoniano. O roteiro de David Odell é confuso em sua confecção, apresentando uma personagem solitária, já experimentada, na fase da puberdade, que necessita encontrar companhia em uma escola, sem qualquer quantia em dinheiro para pagar seus estudos ou necessidade prévia de convívio com outros adolescentes. Não faz qualquer sentido a construção em volta de identidade de Linda Lee, a não ser forçar uma ligação emocional com o público alvo feminino.

    O romance ocorrido entre a protagonista e Ethan (Hart Bochner) surge sem qualquer plausibilidade. Os arcos dramáticos do longa são movidos por um tipo estranho de magia, que pouco tem a ver tanto com as histórias em quadrinhos de Kara Zor El quanto com os filmes anteriores da franquia Super. O resultado final é um produto confuso, com uma crise de identidade tremenda e que não conseguiu se valer em quase nada dos filmes clássicos do Superman, resultando em um fracasso de  bilheteria, arrecadando menos de metade de seu orçamento e não à toa, pois a mistura dos elementos heroicos com magia simplesmente não funcionam.

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  • Noir | Um guia para assistir aos filmes de detetive

    Noir | Um guia para assistir aos filmes de detetive

    Noir Um guia para assistir aos filmes de detetive

    Volta e meia surgem ciclos temáticos dentro da história do cinema norte-americano. Iniciando com os monstros da Universal, faroestes dos anos 1940 e 1950, filmes de ficção científica dos anos 1950, a era dos épicos dos anos 1960, o cinema de contra-cultura dos anos 1970, os brucutus do cinema de ação dos anos 1980, e a atual safra de filmes de super-heróis dos anos 2000.

    Porém, entre esses temas, um dos mais reverenciados é o noir dos anos 1940 e 1950. Considerado um dos grandes sub-gêneros dos filmes policiais, o noir surgiu na literatura nos 30 e conseguiu ser transposto para o cinema com maestria pelos melhores diretores e roteiristas dos anos 40 e 50. O ScriptLab esmiuçou os principais elementos de um filme noir, sendo eles o contexto, a escuridão, o fatalismo, voz off e flashbacks que nem sempre são necessários, o protagonista falho, e, principalmente, a dama fatal.

    Munido dessas informações, elaborei uma lista com os 20 filmes mais importantes e/ou marcantes do gênero em ordem cronológica para quem deseja se aventurar pelo cinema noir. Lembrando sempre que pode haver algum título importante que deixei passar.

    1941O Falcão Maltês (The Malthese Falcon, 1941)

    Escrito e dirigido por John Houston e baseado no livro de Dashiell Hammett, O Falcão Maltês é talvez o mais emblemático entre os filmes noir que ajudou a estabelecer o gênero. Humphrey Bogart é o detetive particular que aceita pegar o caso do desaparecimento da irmã de Mary Astor. Após seu sócio Jerome Cowan aparecer morto, a investigação se desdobra em algo muito maior que envolve uma relíquia rara de valor incalculável.

    double_indemnityPacto de Sangue (Double Indemnity, 1944)

    Dirigido por Billy Wilder, este se tornou um dos noir mais memoráveis ao inverter a estrutura do gênero. Fred Macmurray, detetive de uma companhia de seguro, se une a Barbara Stanwick, esposa de um homem rico, na tentativa de assassiná-lo e fraudar a investigação para ficar com o dinheiro.

    laura-movie-poster-1944-1020143698Laura (Laura, 1944)

    Com Vincent Price no elenco, Laura narra a clássica investigação do assassinato da personagem título, interpretada por Gene Tierney, conduzida pelo detetive Dana Andrews, que não só descobre que ela está viva como se apaixona por ela.

    lost_weekend_xlgFarrapo Humano (The Lost Wekeend, 1945)

    Outro filme dirigido por Billy Wilder, Farrapo Humano é um noir que foge da trama policial ao focar no drama e na condição humana de Ray Milland, um alcoolatra que não consegue largar o vício enquanto tenta ser salvo por Phillip Terry, seu irmão e Jane Wyman, sua namorada, enquanto quase tem um caso com Doris Dowling. Destaque para as cenas do bar com Howard da Silva.

    Detour_(poster)A Curva do Destino (Detour, 1945)

    Mais um noir de drama, A Curva do Destino apresenta Tom Neal, um músico de jazz que viaja pelos Estados Unidos de carona e assume a identidade do motorista que morreu na sua frente. Após se envolver com Ann Savage, uma mulher que lhe dá outra carona, a relação dos dois termina mal.

    big-sleep-movie-poster-1946À Beira do Abismo (The Big Sleep, 1946)

    Considerados por muitos como um dos melhores filmes noir, À Beira do Abismo é baseado no livro de Raymond Chandler e tem a direção de Howard Hawks. O detetive particular Humphrey Bogart investiga o caso de extorsão contra a filha mais nova de um rico industrial enquanto se envolve com a sua irmã mais velha, Lauren Bacall.

    The-Killers-PosterAssassinos (The Killers, 1946)

    Baseado em uma história de Ernest Hemingway, a morte do personagem de Burt Lancaster desencadeia uma investigação por parte do detetive de uma agência de seguros, e acaba por revelar como se deu um grande crime no passado e o envolvimento de Lancaster com Ava Gardner.

    blue_dahliaDália Azul (The Blue Dahlia, 1946)

    No filme escrito por Raymond Chandler e dirigido por George Marshall, Alan Ladd é um ex-piloto de guerra que se torna o principal suspeito de matar Doris Dowling, sua infiel esposa, que tem um caso com Howard da Silva, o dono da boate Dália Azul. Para provar a sua inocência, tem a ajuda de Veronica Lake, a ex-esposa do dono da boate.

    20319302Gilda (Gilda, 1946)

    O filme dirigido por Charles Vidor que consagrou Rita Hayworth é outro noir que foge às tramas policiais. Gleen Ford é um apostador que abandona o vício do jogo e vai trabalhar para o dono de um Cassino em Buenos Aires. A sua vida vira ao avesso ao ver que seu chefe voltou de viagem casado com Rita Hayworth, antigo caso seu.

    the-lady-from-shanghai-movie-poster-1948-1020414234A Dama de Shanghai (Lady From Shanghai, 1947)

    Escrito, dirigido e protagonizado por Orson Welles, se tornou um dos grandes filmes da sua carreira com todos os elementos noir. Welles é um marinheiro que se apaixona por Rita Hayworth e aceita fazer parte da equipe do navio de seu marido, Everett Sloane, acabando por se envolver em uma trama de assassinato.

    b70-9896Fuga ao Passado (Out of The Past, 1947)

    Robert Mitchum está refugiado em uma pequena cidade, até ser encontrado pelo capanga do seu antigo chefe, Kirk Douglas, para acertar as contas sobre um serviço não realizado do passado, que envolvia a bela Jane Greer e uma alta quantidade de dinheiro. Participação de Rhonda Fleming.

    Francesco-Francavilla-The-Third-Man-Movie-Poster-2015O Terceiro Homem (The Third Man, 1949)

    Outro grande noir sobre espionagem na Europa pós-Segunda Guerra Mundial. Dirigido por Carol Reed, Joseph Cotten é um escritor americano que chega a Viena para encontrar um antigo amigo, interpretado magistralmente por Orson Welles, que foi dado como morto e tenta por todos os meios continuar assim.

    sunset-boulevard-movie-poster-1950-1020142705Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard, 1950)

    Outra direção de Billy Wilder, Crepúsculo dos Deuses é um dos filmes mais marcantes da história do cinema fazendo referência à própria indústria em um grande noir de drama humano. William Holden é contratado para reescrever o roteiro de um filme por Gloria Swanson, em uma interpretação memorável como uma ex-estrela do cinema mudo que caiu no ostracismo. Participação memorável de Cecil B. DeMille e Buster Keaton como eles mesmos, além de Erick von Stroheim.

    InaLonelyPlace_US_30x40No Silêncio da Noite (In A Lonely Place, 1950)

    Uma mistura de policial e drama, Humphrey Bogart é um roteirista violento que vive no mundo de glamour de Hollywood. Suspeito de assassinato, ele é inocentado por sua vizinha, Gloria Grahame, e os dois acabam se envolvendo até que a sua difícil personalidade complica a relação.

    the-asphalt-jungle-movie-poster-1950-1020190945O Segredo das Joias (The Asphalt Jungle, 1950)

    Em outro filme dirigido por John Houston e com Marilyn Monroe fazendo uma pequena participação, O Segredo das Joias é o típico filme de assalto onde se mostram todas as etapas de preparação, além do roubo. Conduzido pela mente criminosa do recém-saído da prisão Sam Jaffe, conta com Sterling Hayden no elenco.

    cry-danger-movieGolpe do Destino (Cry Danger, 1951)

    Nesta obra dirigida por Robert Parish, Dick Powell vive um homem inocente que sai da prisão perpétua após uma testemunha ajudá-lo com um álibi, mas que na verdade quer informações sobre um assalto que Powell não cometeu. Durante a vingança contra quem o colocou na cadeia, tentam incriminá-lo novamente enquanto se envolve com a bela Rhonda Fleming.

    1953 - The Big Heat 2Os Corruptos (The Big Heat, 1953)

    Em outro grande noir, Os Corruptos é dirigido por Fritz Lang e conta a história de Gleen Ford, um detetive que ao investigar a morte de um colega se vê lidando com criminosos que comandam o próprio departamento de polícia, sendo um deles Lee Marvin. Após ter a sua família assassinada, ele busca justiça ao lado de Gloria Grahame.

    killing_xlgO Grande Golpe (The Killing, 1956)

    O Grande Golpe é outro dos filmes noir diferentes. O terceiro longa-metragem dirigido por Stanley Kubrick é o típico filme de assalto que lembra bastante a estrutura de O Segredo das Joias. Um bando de vigaristas é liderado também por um ex-presidiário, Sterling Hayden, que planeja um grande assalto durante uma corrida de cavalo.

    large_i2gJBlr01BZiZb5b5TOJudc4nv6A Marca da Maldade (Touch of Evil, 1958)

    O filme que tem a melhor cena de abertura da história do cinema, A Marca da Maldade, dirigido por Orson Welles, é também o último dos filmes noir. Charlton Heston e Janet Leigh são um casal composto por um mexicano e uma americana que vivem na perigosa fronteira entre os dois países, em uma perigosa investigação conduzida por Welles sobre uma bomba que explodiu um carro.

    film-noir-chinatown-1974-movie-poster-via-professormortis-wordpressChinatown (Chinatown, 1974)

    Considerado pós-noir, o filme dirigido por Roman Polanski é uma homenagem aos filmes de 20 e 30 anos anteriores, com todos os elementos do noir, inclusive com a presença de John Houston. Jack Nicholson é um detetive particular que investiga o caso de uma mulher traída, e que acaba se revelando algo muito maior. Com a ajuda de Faye Dunaway, ele enfrenta uma trama política e de assassinato sobre a seca na Califórnia. Leia a crítica do filme aqui.

    Texto de autoria de Pablo Grilo.

  • Crítica | Chinatown

    Crítica | Chinatown

    8FItRq1pNPeni9FkDYUug7YhfggLançado no meio dos anos 70, Chinatown aproveitou a contracultura que revolucionou o cinema norte-americano e inseriu a marca de autor baseada em um realismo dramático dentro do gênero noir, que havia estacionado no cinema clássico hollywoodiano dos anos 40 e 50.

    Na Los Angeles de 1937, um detetive particular é contratado por uma mulher para investigar a traição que esta sofre do marido, mas descobre que foi enganado quando a verdadeira esposa aparece, revelando uma conspiração na Companhia de Água da cidade.

    O ótimo roteiro de Robert Towne aproveitou fatos verídicos e conseguiu criar uma ambientação diferente de um filme noir mantendo as características do gênero. O interessante do argumento são os elementos noir que variam dos filmes clássicos: a investigação de J.J. Gittes (Jack Nicholson) vai desenrolando uma trama simples até revelar um complexo sistema de corrupção; a falsa mulher fatal que inicia o filme também foi outra marca interessante do autor; os motivos que movem o protagonista são mais sólidos, como ser enganado e virar piada no seu meio de trabalho; os perigos que ele enfrenta são reais, já que está mexendo com a máfia que existe em uma grande empresa como a Companhia de Águas.

    A direção de Roman Polanski conduz com habilidade e destreza o bom roteiro de Towne, desde a escolha dos enquadramentos, passando pela boa direção de atores, até a ótima mise-en-scene. Enfim, Polanski é um maestro que mantém a ótima direção que o havia revelado para o mundo no clássico O Bebê de Rosemary seis anos antes.

    A atuação de Nicholson é um dos pontos altos do filme. O ator consegue compor o detetive com passado obscuro, de moral duvidosa, que tem sentimentos contraditórios quanto a Evelyn, a ótima Faye Dunaway que dá vida a mulher fatal, objeto de desejo do protagonista. Roman Polanski faz uma rápida aparição como o Homem Com Uma Faca. Destaca-se também a participação do ator e diretor John Houston (que, talvez com Humphrey Bogart, seja um dos maiores expoentes dos filmes noir).

    A boa fotografia naturalista de John A. Alonzo mantém os tons alaranjados e amarelos do filme, características dos filmes rodados em Los Angeles que focam muito a fotografia de deserto. Ela se sobressai nas cenas com Dunaway. A edição de Sam O’Steen, além de ser invisível, mantém o filme com um bom ritmo. Ela se destaca nas cenas de ação, como a da perseguição de carro na fazenda e sempre que os dois protagonistas se encontram.

    A direção de arte de W. Stewart Campbell, aliado à composição de cenário e locação de Ruby R. Levitt e ao figurino de Anthea Sylbert, ambientou de forma muito competente os anos 30 de Los Angeles.

    Chinatown vale a pena por ser o tipo de filme que transcende não só o gênero noir, mas também a preferência dos amantes do cinema norte-americano dos anos 70. O tipo de clássico obrigatório para quem aprecia a sétima arte.

    Texto de autoria de Pablo Grilo.