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  • Crítica | Mank

    Crítica | Mank

    Você já viu um artista trabalhando? Herman Mankiewicz não seria um bom exemplo. Escritor alcoólatra e incontrolável no sistema de estúdios de Hollywood, a Terra dos Sonhos aonde a política é encoberta por nuvens de algodão doce, através do jovem cineasta Orson Welles, lhe soltou um ultimato: escrever um filme nos anos 1930, isolado do mundo (e da bebida) em Victorville, na Califórnia (o que iria inspirá-lo para criar a mansão Xanadú, no clássico dos clássicos: Cidadão Kane). Mank ganhou a oportunidade da vida, bem quando sua vida já não valia muito para o sistema – enquanto Welles mandava seus assistentes ficarem de olho na produtividade do genial bebum. Mank bebeu para viver, para ganhar o Oscar, para suas amantes, para suportar a pressão, e a falta de amigos reais. Jack Fincher, pai do autor de Benjamin Button, Zodíaco, Millennium e A Rede Social, viu no drama dessa figura o retrato ambulante dos anos 30, em Hollywood. Anos da Grande Depressão, de problemas sociais tão grandes que só a fantasia poderia compensar a vida real do povo. Uma fantasia que pode ser muito cruel aos tolos, por trás dela. Mank foi um tolo.

    Essa bela cinebiografia da sua vida, um recorte super definido sobre a produção do roteiro de Cidadão Kane, e mais nada, é uma denúncia (um tanto anistórica) sobre o caos atemporal que é fazer parte do coração de Hollywood. Mank conhecia todo mundo, era de casa, e Jack Fincher escreveu a história mais cinematográfica que se teve notícia dele. Falecido em 2003, seu filho nunca teve o aval da Warner, Universal ou Paramount para rodar a história – que David Fincher sempre quis rodar em preto e branco, para reverenciar a época de 30. Diante da recusa generalizada, finalmente a Netflix abraçou o fardo herdado por quem nunca quis fazer um Star Wars da vida, preferindo ser um artista livre e rebelde em busca da sofisticação (nisso, Christopher Nolan é A exceção). Agora, com Gary Oldman (O Destino de uma Nação) dando vida ao complicado Mank, um elenco de elite e uma parte técnica impecável (remetendo, com orgulho, a muitos elementos visuais e sonoros revolucionários de Cidadão Kane), Jack Fincher teve enfim o seu roteiro honrado através da visão perfeccionista de David, e por uma plataforma de streaming que vem sendo apontada como o futuro do cinema – amplamente descentralizado.

    Mank foi um tolo, sim, mas de tolo Fincher não tem nada. Mesmo após alcançar o status de melhor cineasta americano dos anos 1990 (olá, Tarantino), David Fincher (igual outros tantos mestres) está desiludido com Hollywood. Este é o drama latente aqui, o que explica porque o autor de Clube da Luta fugiu para as séries desde 2014. E não é à toa: a indústria que Mank, Welles e tantos outros ajudaram a valorizar, a base de suor e muita dedicação histórica, dá cada vez mais espaço às franquias sem fim, e menos para as grandes ideias ousadas. O próprio público nos anos 2010 só pagou um ingresso caro de cinema para ver uma história inédita, se ela veio do próprio Christopher Nolan – e olhe lá! Com uma audiência sedada por remakes, adaptações de propriedades intelectuais já consolidadas, e eternas continuações (vamos para o nono Velozes e Furiosos), qual espaço que Fincher, um autor verdadeiro, possui nesta máquina? Mank reflete também suas mágoas a essa bilionária indústria, ao showbusiness cruel que demoliu inúmeras carreiras brilhantes, e o fez da noite para o dia.

    É justamente a respeito disso que fala a melhor cena de Mank: quando o fracassado e velho roteirista, após desferir um chilique homérico no palácio do chefão de Hollywood, William Randolph Hearst (interpretado pelo monstro Charles Dance, a grande atuação do filme), é posto com absoluto cinismo e delicadeza, para fora do castelo. Para sempre. O capitalismo não pode ser humanizado, e a pandemia de 2020 nos lembrou disso. Assim, Fincher ilustra através das peripécias de Mank e todos os seus colaboradores o que poderia, muito bem, ter acontecido com ele desde Alien 3, o problemático filme da trilogia que serviu de início de carreira. Com o escritor de Cidadão Kane, ocorreu o pior pesadelo de qualquer artista (lê-se: homem de negócios) em Hollywood: a exclusão. A difamação, não tanto em público, mas entre seus pares, a ponto do autor morrer de fome, ou escapar dos Estados Unidos, como se deu famosamente com Charles Chaplin – o maior artista que Hollywood já viu. O próprio Fincher já admitiu: “Clube da Luta foi um verdade milagre”. Está aí uma coisa que não parece exagero.

    Todavia, a não-obrigação de produzir lucro (apenas requinte para a Netflix, que quer Oscars para ganhar prestígio) deixa os autores livres para caírem numa armadilha: fazer seus filmes para eles mesmos. Como uma faca de dois gumes, isso pode tornar a obra inacessível para a maioria das pessoas, e Mank certamente sofre disso, tal qual Roma de Alfonso Cuarón, e O Irlandês de Martin Scorsese, em menor proporção. A Netflix simplesmente construiu um parque para eles, e a lei foi clara: “sejam vocês mesmos, vocês podem!” Eles foram com certeza, e os três construíram projetos belíssimos nesta autonomia, mas sem grande apelo para as massas se interessarem por um tipo de cinema mais sofisticado, e que não precisa ser assim, gelado. Distante. Algo sagrado, lá no alto do altar. O público fora da bolha de cinéfilos poderia se identificar mais, se interessar mais pelo luxuoso Mank, o novo possível clássico de Fincher, assim como se importa com as aventuras coloridas da Marvel, mas essa não é a vontade dos grandes mestres, ainda. Ser mais acessível, talvez, seja a última pedra que falta na manopla de Fincher.

  • Crítica | A História do Mundo: Parte 1

    Crítica | A História do Mundo: Parte 1

    Estrelado, dirigido e produzido por Mel Brooks, narrado pela lenda do cinema Orson Welles, A História do Mundo: Parte 1 é um épico, ou ao menos é uma paródia metalinguística desses, satirizando grandes partes da história da humanidade. Antes de falar da idade da Pedra e da descoberta do fogo pelo homem, Brooks homenageia, de seu modo, 2001: Um Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick, antecipando um pouco do que seria o clima de sua obra posterior, SOS: Tem Um Louco Solto no Espaço, em que o alvo principal eram as space óperas como Star Wars.

    Na fase da Pré-História, o roteiro mostra homens lidando com dinossauros e descobrindo o humor físico ao mesmo tempo em que entendem como funciona o fogo, e por mais que não seja pretensioso, o roteiro aponta para esse  aspecto cômico como algo antigo, mas ainda assim fundamental para o que se considera engraçado ou não, dando importância ao que fez gente como Jerry Lewis ficar tão famoso.

    Não demora a começar a se explorar o Velho Testamento, na verdade o Pentateuco, que é o conjunto de livros que Moisés escreveu lá no início da Bíblia Sagrada. Aqui, o próprio Brooks brinca de fazer Moisés, imitando Charlton Heston em Os Dez Mandamentos, de Cecil B. Demille. A parte em que se fala da Roma antiga também faz alusão a mitos bíblicos, em especial na que deve ser a melhor das piadas do filme, quando o diretor atua como um taverneiro que pergunta aos apóstolos o que eles querem beber, no meio da Santa Ceia. Ele inquire Judas sobre o que beberia exatamente quando Jesus fala que um deles seria o traidor, e por mais telegrafada que seja a piada hoje, na época, funcionou de maneira hilária.

    Roma  parece ser o maior alvo de críticas do texto, seja com o comércio, ou com piadas que discutem o racismo desse que seria o berço da civilização ocidental. Também se zomba das autoridades, na figura de Cesar, mostrando um sujeito incapaz de entender as mais simples piadas, proferidas pelo bobo da corte que faz um número Stand Up (obviamente, feito também por Brooks). As questões políticas também são levantadas, e o voto do Senado por retirar direitos dos pobres mostra que a política não mudou nada.

    Também há um sem números de piadas com o cinema clássico, com os guerreiros reclamando de usarem armas de papelão, e essa desconstrução era tão comum nos filmes de Brooks que influenciaram até mesmo humoristas brasileiros, como o elenco d’Os Trapalhões, que também ironizavam falhas de orçamento do seu programa. O humor rasgado combina muito com a filmografia dos irmãos Zucker, embora esse tenha um pouco mais de inteligência, inclusive em suas diversas críticas aos costumes ao longo do filme.

    A História do Mundo: Parte 1 é um filme de esquetes, tal qual A Vida De Brian e O Sentido da Vida, do grupo inglês Monty Python, mas com um humor americano típico, repleto de sátiras a si mesmo e a nossa história. O filme ainda conta com momentos musicais inspirados (como os da Inquisição Espanhola) desdenhando da maneira com que o cinema lidava com períodos sangrentos e nefastos. O timing de comédia de Brooks é sem igual e seu filme beira o genial, contando ainda com cenas pré créditos que aludem a uma parte 2 até hoje não concluída, cujo teor é um dos mais engraçados durante os 90 minutos de exibição. O clássico de Brooks funciona como motivação de riso, mas também de reflexão.

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  • Crítica | O Outro Lado do Vento

    Crítica | O Outro Lado do Vento

    O Outro Lado do Vento é um atestado de imortalidade; sobre raras marolas que nunca cessam. Filme inacabado por excelência, eis um manifesto por aquilo que nunca será esquecido, ou depreciado. Para Orson Welles, certamente que não. Era o menino prodígio que revolucionou o cinema em tempos de outras tantas revoluções menores. Junto de Charles Chaplin, Buster Keaton, Howard Hawks, Alfred Hitchcock e alguns outros deuses do Cinema, neste seleto clubinho de divindades, Welles não reinventou a roda, mas aperfeiçoou-a em verdadeiros atestados de genialidade em estado bruto como O Processo, A Marca da Maldade e Verdades e Mentiras. Gemas obrigatórias, para se dizer o mínimo.

    Não chegou a ver o Cinema mudar a ponto de sair da tela, ganhar novos arranjos, entrar na casa das pessoas, anda por ai nos nossos celulares. Não chegou a criar opiniões a respeito disso. Welles, o homem, morreu em 1985, quando o Cinema americano já começava a significar tecnologia, cada vez mais, e durante setenta anos, projetou em suas histórias as suas próprias paixões por essa arte, a sétima delas, pela qual jamais será um talento substituível; um mero bastardo fiel a experimentações de todo tipo. Como o mesmo diria: “O Cinema não tem fronteiras nem limites. É um fluxo constante de sonho.”, e é justamente esse sentimento que se tem ao se assistir um dos melhores filmes de 2018.

    A Netflix fez questão de remontar um filme assumidamente estranho a habitar seu catálogo de jóias e bijuterias, e sem apelar para saudosismo a tanto.Colando e deixando que trechos pré-editados das filmagens que o próprio Welles chegou a rodar ditem o tom do filme, por si só, o foco aqui vai longe da lógica, perseguindo com uma lente frenética e cores exageradas atores nus, sorridentes, chorosos e agressivos e que se cruzam, colidem-se, num absoluto caos cinematográfico cuja construção essencial, e o seu valor, baseiam-se unicamente na própria experiência poética de senti-lo, ao invés de atender a imediatista pretensão de compreendê-lo – algo que pode afugentar inúmeros espectadores acostumados apenas a entender imagens, em vez de capturar e absorver a vibração que nelas e entre elas existem, germinando muito mais que um sentido fácil.

    O Outro Lado do Vento torna-se acachapante, neste finado exercício do mestre centenário, não apenas por ser uma ode à criação, a arte ou a história dessa arte (a sétima delas, como mencionado). Vira peça chave da produção contemporânea por, em 2018,conseguir reviver, mesmo que com certas vaidades estéticas ligadas a efervescência apologética de algumas imagens, a soberba pujança que os grandes clássicos imbatíveis de Welles, os aclamados e os que ainda serão (re)descobertos por novas gerações,jorram e exalam com uma vitalidade muita própria, antes ou agora; em tempos mais simples e complexos que, afinal, clamam por revitalizações de ideias e ideais de um passado glorioso, e que não merece abandonar o glamour e a visibilidade das telas de projeção – sejam elas quais forem, hoje em dia.

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  • 10 Grandes Filmes Sobre Jornalismo

    10 Grandes Filmes Sobre Jornalismo

    “Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade.”
    – George Orwell

    Jejum de Amor (Howard Hawks, 1940)

    Nem Howard Hawks escapou desse tema. Um dos mais versáteis cineastas era cirurgião especialista em desdobrar a falsa sanidade da América urbana, relendo-a nos viés do drama, suspense, romance e comédia, sendo a mais celebre delas a loucura bem-humorada e incansavelmente genial de dois jornalistas (Cary Grant e Rosalind Russell, perfeitos se amando e se xingando) ziguezagueando entre mil e uma loucuras. Muito, mas muito difícil imaginar uma comédia mais gostosa e inteligente que Jejum de Amor.

    Cidadão Kane (Orson Welles, 1941)

    Quando vejo alguém questionar a importância desse título entre todos, nessa altura do campeonato, quando assistimos cinema na palma da nossa mão e o fazemos com a câmera de um celular, eu percebo que esse alguém não entendeu nada, ainda. Eis o epítome do Cinema, tal como o debute mais bem-sucedido da sétima arte, em geral. O menino Orson Welles injetou a ganância humana encharcando os bastidores da mídia impressa e entrou para a história através da empreitada do mais respeitado dos mitos, presente no TOP 10 de 10 entre cada 10 listas sobre os 10 melhores filmes de todos os tempos (acompanhou?). Sim, talvez no futuro haverá algo de inédito a se falar sobre Cidadão Kane, o que é mais provável ainda se alguém entrar numa máquina do tempo e reescrever alguns dos seus mais nobres escritos desde os saudosos e modernosos idos de 1941. Todos nascemos na época errada, exceto Welles – acredite.

    A Montanha dos Sete Abutres (Billy Wilder, 1951)

    E se o Cidadão Kane fosse um maníaco à beira da psicopatia a fim de tudo para provar, a si mesmo, que o fim justifica quaisquer meios para se chegar incólume a ele? Na melhor atuação de Kirk Douglas, os maravilhosos truques de câmera são mais um complemento para mais uma obra-prima sobre a ambição, o jornalismo sensacionalista e impiedoso e o poder do acaso que habita e firma o cinema de Billy Wilder como um dos grandes – nunca suas metáforas visuais foram tão afiadas..

    A Dama de Preto (Samuel Fuller, 1952)

    Sobre as melhores intenções do indivíduo num mundo infernal; um macro ambiente caótico e encapsulado por Samuel Fuller no âmbito de uma rua onde tudo acontece. Uma ode à liberdade de imprensa e ao próprio jornalismo em si, ao direito de viver o bom combate da mídia em paralelo a quem vive a manipulação jornalística, a construção pretensiosa de fatos ao invés do ato de se construir e difundir informação de qualidade. Nos 76 anos de A Dama de Preto, vamos encará-la então como uma grande obra, ainda que 100% influenciada em tema e técnica por um tal de Cidadão Kane.

    Paixões Que Alucinam (Samuel Fuller, 1963)

    Não gostaria de assistir a nenhum retrato mais perturbador acerca de um tema que esse. Caminho sem volta que haveria de ser, a trajetória de um jornalista que topa entrar num hospício para encontrar um criminoso e extrair a verdade dele já é mindblowing o bastante. Samuel Fuller nunca fui de poupar plateias, e encontra em cenas como a inadvertida perseguição de um negro contra outro numa alusão a KKK o terreno perfeito para filmar e discutir as faces da violência social que existe em qualquer profissão.

    O Monstro na Primeira Página (Marco Bellocchio, 1972)

    Na intenção de manipular a hiper volátil opinião pública sobre um assassinato, um periódico de direita italiano não tem vergonha de acusar um jovem trabalhador de esquerda do fato, mirando na difamação indireta da esquerda para garantir a valorização da elite, pelo público, nas eleições. Uma aula magna extremamente atual sobre como a imprensa pode ser manipuladora e imoral, quando precisa atender a interesses partidários.

    Obs. Gian Maria Volonté foi um dos grandes atores desse mundo.

    Todos os Homens do Presidente (Alan J. Pakula, 1976)

    Aqui já começamos nossa descida ao mundo dos clássicos do século passado. Nos anos 70, dois jornalistas americanos do Washington Post se envolvem no escândalo midiático do Watergate, também durante o governo conturbado de Nixon nos EUA. Em meio as investigações que levavam a crer que Nixon comandava um esquema de espionagem política, e que acabaram conduzindo-o ao impeachment, Carl Bernstein (Dustin Hoffman) e Bob Woodward (Robert Redford) viraram ícones da investigação criminal.

    Rede de Intrigas (Sidney Lumet, 1976)

    Os bastidores da epifania, o retrato sádico da cacofonia do background do espetáculo das notícias – sem nenhuma maquiagem ou truques de câmera. Na busca imoral e absurda pela audiência, as personagem sambam em conflito e loucura, cada vez mais, em meio a relações fadadas ao fracasso de sua humanidade. Rede de Intrigas é um dos melhores roteiros da fantástica década de setenta, num nível de atuação coletiva soberba (destaque ao último diálogo de Peter Finch e Faye Dunaway, duelo de titãs).

    Frost/Nixon (Ron Howard, 2008)

    E se Fincher deu uma aula sobre a força dos diálogos no cinema contemporâneo com A Rede Social, o diretor Ron Howard (Han Solo: Uma História Star Wars) sugeriu isso três anos antes com o embate ideológico entre o jornalista britânico David Frost, e o super polêmico presidenciável Richard Nixon, cara a cara, numa clássica entrevista da TV americana. Frank Langella na pele de um Nixon já cansado, e doa a quem doer em suas declarações, ainda espera seu custoso Oscar por sua impecável atuação, aliás.

    Millennium: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres (David Fincher, 2011)

    O melhor dos filmes recentes sobre o tema, e o integrante mais completo dessa lista sobre os fatores mais misteriosos que fazem parte do ofício, quando o profissional é submetido a trilhar uma zona de perigo. Um filme maduro, superior ao frouxo suspense sueco de 2009, dotado de uma parte técnica exemplar devido a vários elementos que David Fincher (Clube da Luta) não se esforça para dosar como ninguém.

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  • Noir | Um guia para assistir aos filmes de detetive

    Noir | Um guia para assistir aos filmes de detetive

    Noir Um guia para assistir aos filmes de detetive

    Volta e meia surgem ciclos temáticos dentro da história do cinema norte-americano. Iniciando com os monstros da Universal, faroestes dos anos 1940 e 1950, filmes de ficção científica dos anos 1950, a era dos épicos dos anos 1960, o cinema de contra-cultura dos anos 1970, os brucutus do cinema de ação dos anos 1980, e a atual safra de filmes de super-heróis dos anos 2000.

    Porém, entre esses temas, um dos mais reverenciados é o noir dos anos 1940 e 1950. Considerado um dos grandes sub-gêneros dos filmes policiais, o noir surgiu na literatura nos 30 e conseguiu ser transposto para o cinema com maestria pelos melhores diretores e roteiristas dos anos 40 e 50. O ScriptLab esmiuçou os principais elementos de um filme noir, sendo eles o contexto, a escuridão, o fatalismo, voz off e flashbacks que nem sempre são necessários, o protagonista falho, e, principalmente, a dama fatal.

    Munido dessas informações, elaborei uma lista com os 20 filmes mais importantes e/ou marcantes do gênero em ordem cronológica para quem deseja se aventurar pelo cinema noir. Lembrando sempre que pode haver algum título importante que deixei passar.

    1941O Falcão Maltês (The Malthese Falcon, 1941)

    Escrito e dirigido por John Houston e baseado no livro de Dashiell Hammett, O Falcão Maltês é talvez o mais emblemático entre os filmes noir que ajudou a estabelecer o gênero. Humphrey Bogart é o detetive particular que aceita pegar o caso do desaparecimento da irmã de Mary Astor. Após seu sócio Jerome Cowan aparecer morto, a investigação se desdobra em algo muito maior que envolve uma relíquia rara de valor incalculável.

    double_indemnityPacto de Sangue (Double Indemnity, 1944)

    Dirigido por Billy Wilder, este se tornou um dos noir mais memoráveis ao inverter a estrutura do gênero. Fred Macmurray, detetive de uma companhia de seguro, se une a Barbara Stanwick, esposa de um homem rico, na tentativa de assassiná-lo e fraudar a investigação para ficar com o dinheiro.

    laura-movie-poster-1944-1020143698Laura (Laura, 1944)

    Com Vincent Price no elenco, Laura narra a clássica investigação do assassinato da personagem título, interpretada por Gene Tierney, conduzida pelo detetive Dana Andrews, que não só descobre que ela está viva como se apaixona por ela.

    lost_weekend_xlgFarrapo Humano (The Lost Wekeend, 1945)

    Outro filme dirigido por Billy Wilder, Farrapo Humano é um noir que foge da trama policial ao focar no drama e na condição humana de Ray Milland, um alcoolatra que não consegue largar o vício enquanto tenta ser salvo por Phillip Terry, seu irmão e Jane Wyman, sua namorada, enquanto quase tem um caso com Doris Dowling. Destaque para as cenas do bar com Howard da Silva.

    Detour_(poster)A Curva do Destino (Detour, 1945)

    Mais um noir de drama, A Curva do Destino apresenta Tom Neal, um músico de jazz que viaja pelos Estados Unidos de carona e assume a identidade do motorista que morreu na sua frente. Após se envolver com Ann Savage, uma mulher que lhe dá outra carona, a relação dos dois termina mal.

    big-sleep-movie-poster-1946À Beira do Abismo (The Big Sleep, 1946)

    Considerados por muitos como um dos melhores filmes noir, À Beira do Abismo é baseado no livro de Raymond Chandler e tem a direção de Howard Hawks. O detetive particular Humphrey Bogart investiga o caso de extorsão contra a filha mais nova de um rico industrial enquanto se envolve com a sua irmã mais velha, Lauren Bacall.

    The-Killers-PosterAssassinos (The Killers, 1946)

    Baseado em uma história de Ernest Hemingway, a morte do personagem de Burt Lancaster desencadeia uma investigação por parte do detetive de uma agência de seguros, e acaba por revelar como se deu um grande crime no passado e o envolvimento de Lancaster com Ava Gardner.

    blue_dahliaDália Azul (The Blue Dahlia, 1946)

    No filme escrito por Raymond Chandler e dirigido por George Marshall, Alan Ladd é um ex-piloto de guerra que se torna o principal suspeito de matar Doris Dowling, sua infiel esposa, que tem um caso com Howard da Silva, o dono da boate Dália Azul. Para provar a sua inocência, tem a ajuda de Veronica Lake, a ex-esposa do dono da boate.

    20319302Gilda (Gilda, 1946)

    O filme dirigido por Charles Vidor que consagrou Rita Hayworth é outro noir que foge às tramas policiais. Gleen Ford é um apostador que abandona o vício do jogo e vai trabalhar para o dono de um Cassino em Buenos Aires. A sua vida vira ao avesso ao ver que seu chefe voltou de viagem casado com Rita Hayworth, antigo caso seu.

    the-lady-from-shanghai-movie-poster-1948-1020414234A Dama de Shanghai (Lady From Shanghai, 1947)

    Escrito, dirigido e protagonizado por Orson Welles, se tornou um dos grandes filmes da sua carreira com todos os elementos noir. Welles é um marinheiro que se apaixona por Rita Hayworth e aceita fazer parte da equipe do navio de seu marido, Everett Sloane, acabando por se envolver em uma trama de assassinato.

    b70-9896Fuga ao Passado (Out of The Past, 1947)

    Robert Mitchum está refugiado em uma pequena cidade, até ser encontrado pelo capanga do seu antigo chefe, Kirk Douglas, para acertar as contas sobre um serviço não realizado do passado, que envolvia a bela Jane Greer e uma alta quantidade de dinheiro. Participação de Rhonda Fleming.

    Francesco-Francavilla-The-Third-Man-Movie-Poster-2015O Terceiro Homem (The Third Man, 1949)

    Outro grande noir sobre espionagem na Europa pós-Segunda Guerra Mundial. Dirigido por Carol Reed, Joseph Cotten é um escritor americano que chega a Viena para encontrar um antigo amigo, interpretado magistralmente por Orson Welles, que foi dado como morto e tenta por todos os meios continuar assim.

    sunset-boulevard-movie-poster-1950-1020142705Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard, 1950)

    Outra direção de Billy Wilder, Crepúsculo dos Deuses é um dos filmes mais marcantes da história do cinema fazendo referência à própria indústria em um grande noir de drama humano. William Holden é contratado para reescrever o roteiro de um filme por Gloria Swanson, em uma interpretação memorável como uma ex-estrela do cinema mudo que caiu no ostracismo. Participação memorável de Cecil B. DeMille e Buster Keaton como eles mesmos, além de Erick von Stroheim.

    InaLonelyPlace_US_30x40No Silêncio da Noite (In A Lonely Place, 1950)

    Uma mistura de policial e drama, Humphrey Bogart é um roteirista violento que vive no mundo de glamour de Hollywood. Suspeito de assassinato, ele é inocentado por sua vizinha, Gloria Grahame, e os dois acabam se envolvendo até que a sua difícil personalidade complica a relação.

    the-asphalt-jungle-movie-poster-1950-1020190945O Segredo das Joias (The Asphalt Jungle, 1950)

    Em outro filme dirigido por John Houston e com Marilyn Monroe fazendo uma pequena participação, O Segredo das Joias é o típico filme de assalto onde se mostram todas as etapas de preparação, além do roubo. Conduzido pela mente criminosa do recém-saído da prisão Sam Jaffe, conta com Sterling Hayden no elenco.

    cry-danger-movieGolpe do Destino (Cry Danger, 1951)

    Nesta obra dirigida por Robert Parish, Dick Powell vive um homem inocente que sai da prisão perpétua após uma testemunha ajudá-lo com um álibi, mas que na verdade quer informações sobre um assalto que Powell não cometeu. Durante a vingança contra quem o colocou na cadeia, tentam incriminá-lo novamente enquanto se envolve com a bela Rhonda Fleming.

    1953 - The Big Heat 2Os Corruptos (The Big Heat, 1953)

    Em outro grande noir, Os Corruptos é dirigido por Fritz Lang e conta a história de Gleen Ford, um detetive que ao investigar a morte de um colega se vê lidando com criminosos que comandam o próprio departamento de polícia, sendo um deles Lee Marvin. Após ter a sua família assassinada, ele busca justiça ao lado de Gloria Grahame.

    killing_xlgO Grande Golpe (The Killing, 1956)

    O Grande Golpe é outro dos filmes noir diferentes. O terceiro longa-metragem dirigido por Stanley Kubrick é o típico filme de assalto que lembra bastante a estrutura de O Segredo das Joias. Um bando de vigaristas é liderado também por um ex-presidiário, Sterling Hayden, que planeja um grande assalto durante uma corrida de cavalo.

    large_i2gJBlr01BZiZb5b5TOJudc4nv6A Marca da Maldade (Touch of Evil, 1958)

    O filme que tem a melhor cena de abertura da história do cinema, A Marca da Maldade, dirigido por Orson Welles, é também o último dos filmes noir. Charlton Heston e Janet Leigh são um casal composto por um mexicano e uma americana que vivem na perigosa fronteira entre os dois países, em uma perigosa investigação conduzida por Welles sobre uma bomba que explodiu um carro.

    film-noir-chinatown-1974-movie-poster-via-professormortis-wordpressChinatown (Chinatown, 1974)

    Considerado pós-noir, o filme dirigido por Roman Polanski é uma homenagem aos filmes de 20 e 30 anos anteriores, com todos os elementos do noir, inclusive com a presença de John Houston. Jack Nicholson é um detetive particular que investiga o caso de uma mulher traída, e que acaba se revelando algo muito maior. Com a ajuda de Faye Dunaway, ele enfrenta uma trama política e de assassinato sobre a seca na Califórnia. Leia a crítica do filme aqui.

    Texto de autoria de Pablo Grilo.