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  • Noir | Um guia para assistir aos filmes de detetive

    Noir | Um guia para assistir aos filmes de detetive

    Noir Um guia para assistir aos filmes de detetive

    Volta e meia surgem ciclos temáticos dentro da história do cinema norte-americano. Iniciando com os monstros da Universal, faroestes dos anos 1940 e 1950, filmes de ficção científica dos anos 1950, a era dos épicos dos anos 1960, o cinema de contra-cultura dos anos 1970, os brucutus do cinema de ação dos anos 1980, e a atual safra de filmes de super-heróis dos anos 2000.

    Porém, entre esses temas, um dos mais reverenciados é o noir dos anos 1940 e 1950. Considerado um dos grandes sub-gêneros dos filmes policiais, o noir surgiu na literatura nos 30 e conseguiu ser transposto para o cinema com maestria pelos melhores diretores e roteiristas dos anos 40 e 50. O ScriptLab esmiuçou os principais elementos de um filme noir, sendo eles o contexto, a escuridão, o fatalismo, voz off e flashbacks que nem sempre são necessários, o protagonista falho, e, principalmente, a dama fatal.

    Munido dessas informações, elaborei uma lista com os 20 filmes mais importantes e/ou marcantes do gênero em ordem cronológica para quem deseja se aventurar pelo cinema noir. Lembrando sempre que pode haver algum título importante que deixei passar.

    1941O Falcão Maltês (The Malthese Falcon, 1941)

    Escrito e dirigido por John Houston e baseado no livro de Dashiell Hammett, O Falcão Maltês é talvez o mais emblemático entre os filmes noir que ajudou a estabelecer o gênero. Humphrey Bogart é o detetive particular que aceita pegar o caso do desaparecimento da irmã de Mary Astor. Após seu sócio Jerome Cowan aparecer morto, a investigação se desdobra em algo muito maior que envolve uma relíquia rara de valor incalculável.

    double_indemnityPacto de Sangue (Double Indemnity, 1944)

    Dirigido por Billy Wilder, este se tornou um dos noir mais memoráveis ao inverter a estrutura do gênero. Fred Macmurray, detetive de uma companhia de seguro, se une a Barbara Stanwick, esposa de um homem rico, na tentativa de assassiná-lo e fraudar a investigação para ficar com o dinheiro.

    laura-movie-poster-1944-1020143698Laura (Laura, 1944)

    Com Vincent Price no elenco, Laura narra a clássica investigação do assassinato da personagem título, interpretada por Gene Tierney, conduzida pelo detetive Dana Andrews, que não só descobre que ela está viva como se apaixona por ela.

    lost_weekend_xlgFarrapo Humano (The Lost Wekeend, 1945)

    Outro filme dirigido por Billy Wilder, Farrapo Humano é um noir que foge da trama policial ao focar no drama e na condição humana de Ray Milland, um alcoolatra que não consegue largar o vício enquanto tenta ser salvo por Phillip Terry, seu irmão e Jane Wyman, sua namorada, enquanto quase tem um caso com Doris Dowling. Destaque para as cenas do bar com Howard da Silva.

    Detour_(poster)A Curva do Destino (Detour, 1945)

    Mais um noir de drama, A Curva do Destino apresenta Tom Neal, um músico de jazz que viaja pelos Estados Unidos de carona e assume a identidade do motorista que morreu na sua frente. Após se envolver com Ann Savage, uma mulher que lhe dá outra carona, a relação dos dois termina mal.

    big-sleep-movie-poster-1946À Beira do Abismo (The Big Sleep, 1946)

    Considerados por muitos como um dos melhores filmes noir, À Beira do Abismo é baseado no livro de Raymond Chandler e tem a direção de Howard Hawks. O detetive particular Humphrey Bogart investiga o caso de extorsão contra a filha mais nova de um rico industrial enquanto se envolve com a sua irmã mais velha, Lauren Bacall.

    The-Killers-PosterAssassinos (The Killers, 1946)

    Baseado em uma história de Ernest Hemingway, a morte do personagem de Burt Lancaster desencadeia uma investigação por parte do detetive de uma agência de seguros, e acaba por revelar como se deu um grande crime no passado e o envolvimento de Lancaster com Ava Gardner.

    blue_dahliaDália Azul (The Blue Dahlia, 1946)

    No filme escrito por Raymond Chandler e dirigido por George Marshall, Alan Ladd é um ex-piloto de guerra que se torna o principal suspeito de matar Doris Dowling, sua infiel esposa, que tem um caso com Howard da Silva, o dono da boate Dália Azul. Para provar a sua inocência, tem a ajuda de Veronica Lake, a ex-esposa do dono da boate.

    20319302Gilda (Gilda, 1946)

    O filme dirigido por Charles Vidor que consagrou Rita Hayworth é outro noir que foge às tramas policiais. Gleen Ford é um apostador que abandona o vício do jogo e vai trabalhar para o dono de um Cassino em Buenos Aires. A sua vida vira ao avesso ao ver que seu chefe voltou de viagem casado com Rita Hayworth, antigo caso seu.

    the-lady-from-shanghai-movie-poster-1948-1020414234A Dama de Shanghai (Lady From Shanghai, 1947)

    Escrito, dirigido e protagonizado por Orson Welles, se tornou um dos grandes filmes da sua carreira com todos os elementos noir. Welles é um marinheiro que se apaixona por Rita Hayworth e aceita fazer parte da equipe do navio de seu marido, Everett Sloane, acabando por se envolver em uma trama de assassinato.

    b70-9896Fuga ao Passado (Out of The Past, 1947)

    Robert Mitchum está refugiado em uma pequena cidade, até ser encontrado pelo capanga do seu antigo chefe, Kirk Douglas, para acertar as contas sobre um serviço não realizado do passado, que envolvia a bela Jane Greer e uma alta quantidade de dinheiro. Participação de Rhonda Fleming.

    Francesco-Francavilla-The-Third-Man-Movie-Poster-2015O Terceiro Homem (The Third Man, 1949)

    Outro grande noir sobre espionagem na Europa pós-Segunda Guerra Mundial. Dirigido por Carol Reed, Joseph Cotten é um escritor americano que chega a Viena para encontrar um antigo amigo, interpretado magistralmente por Orson Welles, que foi dado como morto e tenta por todos os meios continuar assim.

    sunset-boulevard-movie-poster-1950-1020142705Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard, 1950)

    Outra direção de Billy Wilder, Crepúsculo dos Deuses é um dos filmes mais marcantes da história do cinema fazendo referência à própria indústria em um grande noir de drama humano. William Holden é contratado para reescrever o roteiro de um filme por Gloria Swanson, em uma interpretação memorável como uma ex-estrela do cinema mudo que caiu no ostracismo. Participação memorável de Cecil B. DeMille e Buster Keaton como eles mesmos, além de Erick von Stroheim.

    InaLonelyPlace_US_30x40No Silêncio da Noite (In A Lonely Place, 1950)

    Uma mistura de policial e drama, Humphrey Bogart é um roteirista violento que vive no mundo de glamour de Hollywood. Suspeito de assassinato, ele é inocentado por sua vizinha, Gloria Grahame, e os dois acabam se envolvendo até que a sua difícil personalidade complica a relação.

    the-asphalt-jungle-movie-poster-1950-1020190945O Segredo das Joias (The Asphalt Jungle, 1950)

    Em outro filme dirigido por John Houston e com Marilyn Monroe fazendo uma pequena participação, O Segredo das Joias é o típico filme de assalto onde se mostram todas as etapas de preparação, além do roubo. Conduzido pela mente criminosa do recém-saído da prisão Sam Jaffe, conta com Sterling Hayden no elenco.

    cry-danger-movieGolpe do Destino (Cry Danger, 1951)

    Nesta obra dirigida por Robert Parish, Dick Powell vive um homem inocente que sai da prisão perpétua após uma testemunha ajudá-lo com um álibi, mas que na verdade quer informações sobre um assalto que Powell não cometeu. Durante a vingança contra quem o colocou na cadeia, tentam incriminá-lo novamente enquanto se envolve com a bela Rhonda Fleming.

    1953 - The Big Heat 2Os Corruptos (The Big Heat, 1953)

    Em outro grande noir, Os Corruptos é dirigido por Fritz Lang e conta a história de Gleen Ford, um detetive que ao investigar a morte de um colega se vê lidando com criminosos que comandam o próprio departamento de polícia, sendo um deles Lee Marvin. Após ter a sua família assassinada, ele busca justiça ao lado de Gloria Grahame.

    killing_xlgO Grande Golpe (The Killing, 1956)

    O Grande Golpe é outro dos filmes noir diferentes. O terceiro longa-metragem dirigido por Stanley Kubrick é o típico filme de assalto que lembra bastante a estrutura de O Segredo das Joias. Um bando de vigaristas é liderado também por um ex-presidiário, Sterling Hayden, que planeja um grande assalto durante uma corrida de cavalo.

    large_i2gJBlr01BZiZb5b5TOJudc4nv6A Marca da Maldade (Touch of Evil, 1958)

    O filme que tem a melhor cena de abertura da história do cinema, A Marca da Maldade, dirigido por Orson Welles, é também o último dos filmes noir. Charlton Heston e Janet Leigh são um casal composto por um mexicano e uma americana que vivem na perigosa fronteira entre os dois países, em uma perigosa investigação conduzida por Welles sobre uma bomba que explodiu um carro.

    film-noir-chinatown-1974-movie-poster-via-professormortis-wordpressChinatown (Chinatown, 1974)

    Considerado pós-noir, o filme dirigido por Roman Polanski é uma homenagem aos filmes de 20 e 30 anos anteriores, com todos os elementos do noir, inclusive com a presença de John Houston. Jack Nicholson é um detetive particular que investiga o caso de uma mulher traída, e que acaba se revelando algo muito maior. Com a ajuda de Faye Dunaway, ele enfrenta uma trama política e de assassinato sobre a seca na Califórnia. Leia a crítica do filme aqui.

    Texto de autoria de Pablo Grilo.

  • Crítica | Chorei Por Você

    Crítica | Chorei Por Você

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    “Porque está tão sério?”O Cavaleiro das Trevas. “Eu vou fazer uma oferta que ele não vai recusar.”O Poderoso Chefão. “Precisamos de um barco maior.”Tubarão. “Não se pode chegar aqui sem grana, e também não se pode sair daqui sem ela.”Chorei Por Você. Todo filme, peça e livro possui uma frase que resume tudo. Faz parte do show.

    Ao pintar em preto e branco a energia dos musicais, o mundo sentia o colorido que deles emanava com uma vibração superior as matizes que hoje se apropriam, em bizarrices feito Chicago ou Moulin Rouge. Talvez o sapateado e a cantoria numa tela de cinema seja a última das tangentes que precisam de cor, dada a sensação naturalmente radiante que se sente, e depois se assiste, perante a espetáculos de pirotecnia, luzes e fumaça artificial. O mundo da Broadway sempre teve urgência pelo som, vide O Cantor de Jazz, o primeiro filme falado, mas também carrega a democracia em usar, ou não, a paleta que ilustra o pulsar das coreografias e o retumbar dos corais. A maioria apela a este estilo. Outros como o brasileiro Quem Roubou Meu Samba e este Chorei Por Você, deixam suas frases, ritmo e sua história ditando seu lugar na história de uma arte.

    Se isso é bom, ou ruim? Depende da referência. Não porque é impossível imaginar O Mágico de Oz em preto e branco, mas porque técnica é tudo quando o filme se apoia nela pra existir. Chorei Por Você é o típico filme de maré: existe (e persiste como boa obra) pelos acontecimentos que, na realidade, são extra-filme e permeavam os fatos que obrigam a arte a se apoiar no real em suas narrativas de heroísmo e redenção, vez ou outra. Nada mais natural que, do lado de cá das câmeras, os desdobramentos da vida continuem a insuflar as artes. Essas sim, dependentes uma da intervenção da outra, diferente das relações abertas entre cor e celuloide. Até mesmo para Sinatra e sua inconfundível voz. O mito tinha outra arma, e tão boa quanto: era também um belo ator.

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    A exposição de Sinatra está proporcional a esta obra como um estudo fundamental de personagem, com um homem à beira da culpa e de um caminho sem volta: a odisseia rumo a fama, e às consequências que a mesma acarreta na vida de quem a vive, além daqueles coadjuvantes que o observam brilhar nos palcos, enquanto poucos reconhecem os bastidores da alegoria. A culpa do comediante e músico, daí motivo pelos gêneros entrelaçados do filme, cresce e viabiliza leves pinceladas de metalinguagem na trajetória de quem se arrisca, aos poucos, nas veredas dos holofotes. O que vem quando as cortinas fecham, senão a tristeza do palhaço? O filme não investiga, tampouco critica, mas apenas relata, num roteiro simples e previsível à praxe das fitas regulares da época.

    Uma história forjada na expectativa de traçar uma espiral em torno de uma alma dividida entre o certo, o errado e a necessidade de agir na competição primitiva do show business. O cantor Joe E. Lewis ganha profundidade no olhar de Sinatra, com ombros pesados sobretudo por uma crise existencial e corrosiva, porém, sem fim. Quando o artista leva uma surra, logo no começo do filme, nota-se a fragilidade de um status pueril. O que busca essa gente que vivem pela fama? Diz-se que, de qualquer forma, um grande homem não existe sem a grande mulher de sua vida, no caso, as paixões do cantor que tornam seu andar um pouco mais leve, e sua respiração, tal como a fluidez da história, mais equilibrada e identificável, perante a plateia.

    É claro que, no contexto de uma época, no qual se situa outro filme estrelado por Sinatra, o clássico A Um Passo da Eternidade, a guerra se torna um conceito onipresente muito longe dos campos de batalha, mas nos conflitos interiores de quem imprime sua voz em diálogos afiados e canções a base de piano e bebida. Um filme boêmio, sim, com ecos de um realismo que, em plena era de ouro (os anos 50), ainda não ia muito longe, emoldurando uma sociedade americana, muito antes de ser global, em seus costumes e na aurora de seus valores ainda em desenvolvimento. Uma sociedade do espetáculo, tal como é descrita pelo filósofo Guy Debord. Isto, sobretudo, é o grande trunfo deste misto de drama, comédia e musical, sob a ciência artística de que é possível mixar tanto som, quantos gêneros. Ser o espelho que registra um mundo de carência, lenitivos aplausos e doce ilusão. Filmes nascidos sob a premissa de qual realidade se pode extrair da ficção.