Tag: Miley Cyrus

  • Crítica | A Very Murray Christmas

    Crítica | A Very Murray Christmas

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    O modelo de comédia americana está cada vez mais falido, a molecada não ri mais de Woody Allen ou Jerry Lewis, nem sabem quem foi Buster Keaton ou Harold Lloyd, já que os padrões de riso e de susto morrem a cada filme lançado, ou melhor, a cada risada ou calafrios desperdiçados! Assustar e emocionar é difícil, sem dúvida, mas rir, provocar risada com a mesma piada para todas as pessoas e culturas do mundo não é algo fácil. Com Borat se oficializou, em 2006, um modo pelo menos temporário de fazer as novas gerações rirem, senão delas mesmas, num espelho anacrônico e, porque não, irônico do mundo real tão contemporâneo, globalizado, ridículo, cheio de memes e comediantes stand-up. Mas tem uma figura que o americano ama mais que black friday, SuperBowl e Amy Poehler juntos!

    Olhando pra Bill Murray, ele é o tipo (em um milhão) que causa empatia simplesmente por se deixar ser simpático, nada mais. Nos almoços de família, ninguém tem coragem de dizer que não curte um tipo assim, até fazer falta quando deixa de aparecer (pelo menos uma vez por ano, e no caso de Murray, mesmo que para um público restrito que razoavelmente sabe o que precisa assistir). Ai chega a Netflix, dona de tudo e mais um pouco hoje em dia e lança A Very Murray Christmas, sem tradução, abraçando a causa Murray e natalina, afinal juntas elas combinam que só, coisa leve e lenitiva aos cético de plantão, nesse espírito mágico, balsâmico da tradição anual.

    O musical mais inofensivo desde Nine, só que Rob Marshall não queria que fosse assim. Aqui, Sofia Coppola acerta o ritmo e compõe uma sinfonia lenitiva a um mundo que não faz parte do palco, com George Clooney, Maya Rudolph (comediante do Saturday Night Live), Chris Rock e Miley Cyrus, cantando “silent night” (“Noite feliz”, em português) com o Paul do David Letterman no piano, sendo a cena um possível clássico americano do humor involuntário, já que Miley não é conhecida por cantar canções sobre Jesus… enfim!

    Passar uma hora com celebridades agradáveis de Hollywood é isso, cantar em sua companhia e degustar em meia-dúzia de cenas síntese do filme, como a noiva triste que após ouvir uma canção de natal, retoma seu casamento como se nada tivesse acontecido. Nem Murray ou Coppola, nem ninguém aqui quer entregar um filme doce demais, dai o comedimento nas canções e o evitar de muitos confetes, sendo A Murray Christmas um especial honesto, chique, econômico na sua graça.

     

    https://www.youtube.com/watch?v=XJP3db3R014

  • Review | Crisis in Six Scenes

    Review | Crisis in Six Scenes

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    Muitos cineastas de renome migraram para a televisão norte-americana nas últimas décadas quando esse meio passou a ser considerado tão ou mais inovador do que o cinema comercial. Com os novos sistemas de exibição e o boom dos portais de streaming, as formas de consumo de seriados de televisão se transformaram drasticamente, e foi nessa esteira de mercado que a Amazon, produtora de séries como Transparent, convidou o veterano cineasta Woody Allen a realizar sua primeira empreitada no formato.

    Crisis in Six Scenes se passa nos anos 1960 e segue o casal Sidney (interpretado pelo próprio diretor) e Kay Munsinger (Elaine May), enfocando os conflitos e transformações em suas vidas ocasionados pela visita inesperada de Lenny (Miley Cyrus), uma militante revolucionária de esquerda em fuga da polícia. A série se divide em 6 episódios de cerca de 23 minutos. Ao longo da narrativa, fica claro o profundo desconhecimento de Allen com relação ao modelo seriado: podemos afirmar que ele não só não domina essa linguagem, mas que possivelmente não construiu o hábito de assistir a séries, tamanha a inadequação do cineasta ao meio.

    Vemos um Woody Allen constrangido, de sequências despropositadamente longas, com piadas repetidas à exaustão (algumas delas claramente emprestadas dos seus filmes). O ritmo cômico, que o diretor domina tão bem no cinema, é aqui vacilante e inseguro e por vezes tem-se a impressão de estar diante de um sitcom envelhecido prematuramente, de um modelo de comédia situacional perdido nos anos 1950/60, com piadas sublinhadas ad infinitum e diálogos repetitivos.

    Por outro lado, a estrutura dos episódios é extremamente frágil: não se trata de células narrativas coesas, mas de um longa-metragem que parece ter sido mal cortado em pedaços, fato bastante repetido (e com razão) pela crítica norte-americana no lançamento da obra. Se Allen tenta criar ganchos entre os episódios, eles são fracos e esquemáticos, de forma que o diretor fica perdido entre o formato seriado e o stand-alone (estrutura de muitos shows do passado, em que um episódio constitui uma unidade dramática fechada em si mesma), sem atender bem a nenhum deles.

    O charme alleniano se mantém, aqui e ali, e para os fãs a série é capaz de prender o interesse, a despeito da questionável atuação de Cyrus como a militante arraigada que questiona os valores burgueses do casal. De fato, à parte o prazer sempre renovado de vermos Allen em cena ou algumas piadas acertadas (em especial nos episódios finais), Crisis in Six Scenes não se sustenta de forma alguma. Se o cineasta desejar retornar ao formato (o que parece improvável, a julgar por suas declarações com relação à experiência), vai precisar estudar melhor a linguagem televisiva contemporânea e (por que não?) tratá-la com um pouquinho mais de deferência.

    Texto de autoria de Maria Caú.

    https://www.youtube.com/watch?v=6KOsQMfEMXM