Tag: steven soderbergh

  • Crítica | A Lavanderia

    Crítica | A Lavanderia

    Steven Soderbergh tem executado uma boa parceria com a Netflix. Seu longa anterior, High Flying Bird foi bem pouco falado, e é uma obra subestimada, pois trata bem sobre os sonhos e frustrações ligados ao basquete e aos esportes em alto rendimento como um todo. A Lavanderia, começa metalinguístico, com dois narradores estranhos, os personagens de Gary Oldman e Antonio Banderas, Jürgen Mossack e Ramón Fonseca, quebrando a quarta parede, elucubrando sobre dinheiro, bem ao estilo de A Grande Aposta, ainda que ao estilo de Soderbergh.

    A trama logo vai para Lake George, em Nova York, mostrando o casal Ellen e Joe Mart, de Meryl Streep e James Cromwell. Os dois sofrem um infortúnio e é nessa parte que se notam as fragilidades orçamentárias do filme. Quando a água toma a embarcação onde eles estão, vem um efeito digital da água que é bem artificial, graças obviamente ao baixo custo da produção. O diretor consegue convencer grandes astros a participar, mas todo o resto dos custos tem que ser bancado, mas aqui ao menos, funciona, dado o caráter satírico do roteiro e abordagem.

    O script mostra pessoas comuns, sendo ludibriadas por outras pessoas, essas bastante instruídas, gente malandreada que não tem qualquer receio em empregar seus golpes e maracutaias nos que pouco tem, e incrivelmente não há um julgamento ultra moralista, ao contrário, há leveza na condução das historias paralelas e assessórias na quantidade de esquemas e propinas mostrados, em especial nos casos de aliciamento, de uso de laranjas e de assassinatos.

    Como a trama não se leva a sério, Oldman, Banderas e Streep tem espaço para exercerem suas facetas mais caricatas e canastronas possíveis. Em boa parte do filme, o overaction funciona, mas em outros, mais parece um filme ruim de Eddie Murphy. O longa carece de equilíbrio em muitos pontos, e se perde um pouco em meio as muitas tramas paralelas, mas incrivelmente não deixa de ser divertido quase nunca, principalmente por não ter apenas uma historia de guia, e sim várias, indo e voltando ao arco de Ellen.

    A Lavanderia é baseada no livro de Jake Bernstein, Secrecy World: Inside the Panama Papers Investigation of Illicit Money Networks and the Global Elite, que obviamente não é uma obra ficcional, e a forma como o longa aborda as partes reais é um pouco atrapalhada e nada sutil. Toda a questão dos Panama Papers e da Odebrecht soa um pouco rasa, não há muito aprofundamento e o desfecho não é tão potente quanto todo o resto – nos momentos finais, chega a soar um bocado moralista –  mas dado que praticamente nada na obra é encarado com seriedade, faz pouco sentido dar vazão ao azedume ao analisar esta obra, que mesmo soando exagerada, é repleta de bom humor e jocosidade, onde o alvo principal, são os ricos e gananciosos da classe A estadunidense.

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  • Crítica | High Flying Bird

    Crítica | High Flying Bird

    Após uma longa carreira de sucessos, Steven Soderbergh passou a fazer filmes cada vez mais segmentados. Em A Toda Prova ele e Gina Carano fizeram um filme da ação com personagem feminino, e em 2018 lançou Distúrbio (ou Unsane, no original), seu primeiro longa filmado com iPhone, e este ano, em parceria com a Netflix, ele entregou High Flying Bird, um filme dramático, que utiliza o  esporte apaixonante que é o basquete para pavimentar sua historia, baseada no roteiro de Tarell Alvin McCraney, o mesmo que fez o argumento de Moonlight.

    Começa com falas de jogadores recentemente draftados, em uma sala vazia e com fotografia em preto e branco, onde entrevistados falam abertamente sobre dificuldades  em viver como calouros das dificuldades da Liga, e aos poucos, fala sobre o cotidiano de Ray Burke (André Holland), um agente esportivo em dificuldades financeiras que vê zero possibilidade de sair dessa situação graças a briga entre donos de franquias da NBA, a Liga e jogadores, fato que ocasionou um locaute e uma greve de empresários.

    Enquanto o filme corre, há mais inserções desse jovens jogadores falando de sua experiência, enquanto Ray tenta organizar a carreira de um primo, Eric Scott (Melvin Gregg) seu que quer ser jogador, enquanto convive com a bela Samantha (Zazie Beetz), e enquanto tenta fazer novas pontes com outros empresários. O personagem tem dificuldade em se reinventar e o maior mote do filme é esse, a forma como ele lida com parente mimado, com a imprensa e com a possibilidade de arruinar não só sua carreira como a de Scott.

    Holland é um bom ator, e é cercado por um elenco talentoso, que fortalece seus dotes. Além dos já citados, Bill Duke faz Spence, um treinador experiente, que trabalha com crianças e acaba sendo o mentor do mesmo, e é impressionante que, mesmo em meio a crise capitalista e os meandros mesquinhos de empresários e engravatados do basquete, o esporte ainda inspira seus personagens, em especial André. Quando sua crise sentimental se agrava, ele apela para treinar lances livres, a fim de se acalmar.

    Sua terapia envolve o ofício dos meninos que ele agencia, e a forma como Holland se derrama em quadra, discutindo com o experiente treinador, e High Flying Bird, além de mostrar obviamente a historia do agente/empresário que tenta ganhar a vida ligada ao esporte, serve como um irmão espiritual de Os Bons Companheiros, prestando aos jovens aspirantes a voz que normalmente não tem, tal qual ocorria aos wiseguys e gangsters menores no filme de Martin Scorsese. Após O Poderoso Chefão, havia a mentalidade de que mafiosos eram pessoas glamourosas e sem preocupações triviais, e o roteiro de Martin Scorsese e Nicholas Pileggi desconstruiu isso, assim como o script que McCraney tem o mesmo espírito, de mostrar que ingressar na NBA é sim o sonho de muitos meninos, e que a maioria deles não tem estrutura emocional e física para lidar com isso, e quase não há para quem eles apelarem.

    O drama que Soderbergh propõe é universal, vale tanto para outros esportes como futebol, onde uma minoria ínfima ganha como Messi e Cristiano Ronaldo e outros tantos passam fome, como com outras profissões que são encaradas como sonho de consumo da maior parte da população. Apesar de parecer um pouco insosso em seu início, o filme trabalha bem a idéia de demonstrar o quão frágil é o American Way of Life e o conjunto de necessidades consumistas e metas inalcançáveis que vem a partir dessa mentalidade, causando em jovens uma ansiedade desnecessária e uma corrida do ouro desenfreada que faz capturar muitas mentes e corações para um sonho que deveria ser apaixonado e inspirador mas que soa mesquinho e materialista.

    https://www.youtube.com/watch?v=jMNQaEhfb1E

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  • Crítica | Logan Lucky: Roubo em Família

    Crítica | Logan Lucky: Roubo em Família

    A família Logan têm uma maldição (metafórica, no filme) de se ferrar em tudo o que fazem para melhorar de vida, alocados em um sistema frustrante chamado capitalismo e que usa de meritocracia para ser o mais deliberadamente exclusivista possível. A saber, esse quadro sociopolítico rende boas tramas desde muito tempo, como a família que abandona tudo em busca de algo melhor em As Vinhas da Ira; só que o ano era 1940, e o demônio chamado Grande Depressão ainda rondava todas as veias de uma gente desesperada, e as veredas de um país nada menos do que continental.

    Há sim um paralelo situacional a se fazer, aqui, uma vez que tal desespero atemporal ainda volta a nos assombrar na nossa tão sonhada estabilidade financeira a cada nova crise, a cada novo impacto a favor de poucos e ao custo de muitos, sendo que a frustração nessa parcela maior do povo combina de ser a mesma do que já foi, a quase cem anos atrás. O irônico mesmo no filme de Steven Soderbergh, um dos melhores diretores americanos em atividade, junto de James Gray e Quentin Tarantino, é que os Logan não são “exatamente” aquela gente de bem do filme de John Ford

    Quem pode dizer que os dois irmãos (Adam Driver e Channing Tatum) e alguns amigos não estavam curtindo ser os Robin Hood’s deles mesmos, roubando toda a grana que circula no subsolo de uma prestigiada corrida de carros para finalmente viverem bem e, no fundo, vingarem o sistema que os limita? Dramatizando e ironizando uma falta de opções simbolicamente destacada pela falta do braço esquerdo de um dos irmãos, veterano de guerra e que volta para os Estados Unidos numa pequena comunidade para ser pobre, amargurado e para trabalhar sendo deficiente físico num boteco cheio de problemas, Logan Lucky: Roubo em Família faz o que cada filmografia nacional pode fazer, representando de formas verídicas (ou não) a cultura e os trejeitos, os sotaques e os valores da sua população em determinada situação, ou período histórico.

    Tudo bem que Soderbergh não é um Sean Baker para retratar a realidade social do seu país da maneira mais hipnoticamente informal possível, mas desde antes do premiado Traffic: Ninguém Sai Limpo, o cara representa tão bem o povo americano ordinário nas telas que é impossível não se identificar, se divertir e tomar apreço pelos irmãos que, dada a astúcia e ousadia empregada nesse assalto mirabolante (um dos envolvidos escapa da prisão, comete o roubo e volta para a enfermaria da penitenciária em menos de 24 horas, sem que ninguém note sua falta), eles não devem em nada àquela turma de ladrões de Onze Homens e Um Segredo. Aliás, os Logan fazem mais, com menos.

    E, por mais que seja um filme de missão mesmo (não tão impossível assim) e estruturado no belo roteiro de Rebecca Blunt para resultar num clímax ou numa possível reviravolta para o sentido geral da história de relações familiares contraditórias, o que talvez dê ao filme a alcunha de ‘dramédia’, Logan Lucky: Roubo em Família é mesmo uma vitrine de boas atuações, algumas surpreendentes, como as do próprio Tatum, incorporando o cansaço, a amargura e parte da brutalidade do cara que só serve para ser pisado (literalmente) pelos outros, e de um Daniel Craig inspiradíssimo e sem glamour nenhum que Soderbergh botou pra atuar de verdade, assim como os Irmãos Coen, Martin Scorsese e outros mestres que retiram o melhor dos seus atores.

    Uma obra sobre o a relação entre o sistema e o cidadão comum, sempre desafiado e que se sente rebaixado pelo mesmo, e que nas piores condições decide enfrentá-lo como pode, dando o troco nos de cima da pirâmide. É claro que os Logan e seus comparsas vão se ferrar, mas ao final, o que vale é o que se faz (e como tudo se desenrola) nessa peripécia bem-humorada entre família e amigos. Desde já, um dos melhores do seu diretor, e segue sendo contemporâneo e sóbrio ao mesmo tempo, feito o ótimo A Qualquer Custo, de 2016. Filmes cujos cenários são praticamente o mesmo, dividindo uma mesma moralidade e um senso de realismo cinematográfico muito parecidos, inclusive.

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  • Top 20 | Diretores de Fotografia – Parte 2

    Top 20 | Diretores de Fotografia – Parte 2

    Dando continuidade a lista de Diretores de Fotografia, retomamos com outros dez nomes que representam hoje na indústria diferentes maneiras e estilos de fotografar e entreter o espectador.

    10 – Adam Arkapaw

    Trabalhos: True Detective, Macbeth, Animal Kingdom.

    Lembram do espetáculo visual que é a primeira temporada de True Detective? Então o responsável é Adam Arkapaw. Um fotografo australiano que dominou com excelência a escuridão, oferecendo um imagético tão digno de qualidade que transcende muito dos padrões, tornando a algo completamento bonito. Seu trabalho na televisão com True Detective e o etéreo Top of the Lake é impressionante, mas ele se mostra muito competente quando o assunto é adaptação exemplificando esse com seu trabalho oferecido ao estonteante Macbeth. Ele agora trabalha novamente com o diretor Justin Kurzel no filme Assassin’s Creed, a ao que tudo indica pelo trailer desse, Arkapaw mais uma vez acertou em cheio.

    9 – Mike Gioulakis

    Trabalhos: Corrente do Mal, John Morre no Final.

    Mike Gioulakis pode ser resumido em maior parte pelo seu trabalho em curtas, mas foi com Corrente do Mal que seu nome pode ser sondado a partir de agora. A fotografia é o elemento chave para permear o horror de Corrente do Mal como aquela ameaça sem forma e invisível precisa ser sentida na tela. Através de longos e angustiantes enquadramentos, Gioulakis mantêm a audiência na ponta dos pés, apenas aguardando seus tremendos resultados. Corrente do Mal está entre os melhores longas de 2014, e com um caminho primoroso a sua frente Gioulakis certamente merece sua atenção.

    https://www.youtube.com/watch?v=JxWSFfPcyTY

    8 – Robert Richardson

    Trabalhos: Kill Bill, JFK, O Aviador.

    É possível que dos presentes nessa lista, Robert Richardson é o que tenha trabalhado com a maior variedade de realizadores que qualquer outro fotógrafo (quem sabe competindo com Lubzeki) e mesmo assim ainda consegue manter o seu próprio ponto de vista quando trabalha com Quentin Tarantino, Martin ScorseseOliver Stone. Ele tem um talento especial pra projetar a pura visão de um realizador como Tarantino e Scorsese filtrando a mesma através de sua câmera, das lutas ridiculamente sangrentas de Kill Bill até as tomadas experimentais em O Aviador, que fizeram Richardson e Scorsese retratando passagens de tempo com o tipo de filme e o tipo de processo que eram disponíveis de acordo com aquela época. Richardson e Scorsese continuariam a sua parceria de experimentação quebrando os limites do 3D com Hugo Cabret, e então Richardson foi lá e ressuscitou a fotografia Ultra Panavision 70 com Os Oito Odiados. No mais, não parece a toa que Richardson parece apenas trabalhar com os melhores.

    7 – Greig Fraser

    Trabalhos: A Hora Mais Escura, Foxcatcher, Rogue One.

    Honestamente o trabalho de Greig Fraser em O Homem da Máfia já o faria merecedor de estar nessa lista, mas a escuridão crespa na estética de Fraser brilha em todos os seus trabalhos. Em A Hora Mais Escura, ele captura toda uma parte do longa fotografando com óculos de visão noturna para trazer os momentos de mais pura tensão; Em Foxcatcher a fria e calculada câmera apenas aumenta progressivamente a tensão entre os dois personagens na tela, e até em um filme como O Caçador e a Rainha de Gelo seu visual é muito fascinante. E agora ele foi responsável por retratar um universo de Star Wars com Rogue One, que também se mostra um acerto na carreira do fotógrafo.

    6 – Robert D. Yeoman

    Trabalhos: Moonrise Kingdom, Missão Madrinha de Casamento, Dogma.

    Na mesma escola que Robert Elswit, Robert D. Yeoman é um fotógrafo que forjou sua carreira através de um forte laço com o cinema autoral, que foi responsável por extrair o melhor do seu talento. Você não consegue confundir um filme de Wes Anderson exatamente pela estética artesanal que Yeoman vem desenvolvendo ao redor da obra do diretor. Da suntuosa estética de Louco Por Você ou até numa atmosfera mais controlada como Missão Madrinha de Casamento, Yeoman é constantemente surpreendente. Mas seu trabalho mais surpreendente fora de sua colaboração com Anderson é sem dúvida veio em 2015 com a cinebiografia de Brian WilsonBeach Boys: Uma História de Sucesso que coloca o espectador dentro da mente do gênio dos  Beach Boys, com uma narrativa dividida em dois períodos de tempo diferentes, e registrando o calculado caos de uma sessão de gravação dos Beach Boys ao mesmo tempo.

    5 – Robert Elswit

    Trabalhos: Sangue Negro, Boa Noite, Boa Sorte, Missão Impossível – Protocolo Fantasma.

    Talvez um dos mais versáteis fotógrafos trabalhando atualmente, o ganhador do Oscar Robert Elswit passeou por inúmeros gêneros, trabalhou com muitos diretores e os resultados são surpreendentes. O simples fato de que ele fotografou Vicio Inerente e O Abutre no mesmo ano, capturando duas Los Angeles completamente diferentes é no mínimo digno de registro, e seu trabalho em Protocolo FantasmaNação Secreta o fez pular de dois autorais para dois blockbuster com aparente facilidade. Sua carreira é muito alinhada com a do diretor Paul Thomas Anderson, tendo fotografado todos os seus filmes autorais, mas considere que depois de todos esses exemplos, esse mesmo profissional saiu de Sangue Negro e Duplicidade para Atração Perigosa só mostra mais uma vez seu talento.

    4 – Steven Soderbergh

    Trabalhos: Magic Mike, The Knick, Traffic.

    Pode parecer trapaça colocar Steven Soderbergh considerando que o mesmo é reconhecido por ser diretor primeiramente, mas o fato é: ele é um dos mais empolgantes fotógrafos trabalhando atualmente. Ele lapidou sua marcante estética através de sua carreira como diretor mas foi em The Knick que ele mostrou o seu potencial com uma câmera apoiada nos ombros. Sendo diretor, diretor de fotografia e operador da câmera, a mesma se torna um vital e importante personagem para a série da Cinemax vista em tela, não só isso mas transformou ela numa ousada produção onde não se via tamanho rigor estético há muito tempo na TV.

    3 – Brandon Trost

    Trabalhos: Vizinhos, É o Fim, Halloween II

    Normalmente, direção de fotografia não é um foco em comédias. Só põe bastante luz e deixa o atores trabalharem. Mas Brandon Trost tem revivido o interesse estético no gênero, com visuais únicos, adicionando uma intensidade que normalmente é reservada para Blockbusters muito bem conceituados, não para filme de fraternidade de faculdade. E mesmo assim, na cena de festa do filme Vizinhos, Trost mantêm um variedade de cores de uma rica paleta. Só pra vocês terem uma ideia, ele refinou sua habilidade durante um longo período de parceria com o diretor Rob Zombie em filmes como Senhoras de Salem e Halloween II, o que ja é incrível mas o que realmente marca no trabalho de Trost é o que ele trouxe para o gênero da comédia. Sexo, Drogas e Jingle Bells é realmente um tesouro pela enorme variedade visual que reflete o clima natalino da estória, assim como seu trabalho em É o Fim que possui uma escolha única de luzes para montar suas cenas.

    2 – Hoyte van Hoytema

    Trabalhos: O Espião Que Sabia Demais, Ela, Interstellar.

    Do sueco Deixa Ela Entrar, era claro que o fotografo suíço Hoyte van Hoytema tinha talento, e mesmo assim ele continuou a crescer em escopo e ambição nos últimos anos. Da rica textura do Espião Que Sabia Demais até a sutil paleta do não tão distante futuro de Ela. Quando Roger Deakins não estava disponível para fotografar 007 – Contra Spectre, Hoytema capturou varias sequências de ação e panorâmicas com vigor e entusiasmo, e quando Christopher Nolan embarcou no seu épico sci-fi Interstellar, o diretor chamou Hoyte. O homem está formalmente na alta roda agora, e sua marca parece cada vez mais pessoal.  A empolgação que fica agora é aguardar o que Hoytema irá fazer em seu próximo projeto.

    1 – Bruno Delbonnel

    Trabalhos: Inside Llewyn Davis, O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, Harry Potter e o Cálice de Fogo.

    Quando você pensa em na fotografia de Bruno Delbonel, a palavra “suntuoso” vem a minha mente. Existe uma beleza inegável a cada enquadramento do trabalho de Delbonnel e é exatamente por ele que o Cálice de Fogo é considerado o mais belo visualmente dentro da franquia Harry Potter. Mas enquanto a fotografia de Delbonnel é única, ela é igualmente proposital. Os enquadramentos de Delbonnel prendem a audiência, permitindo que o espectador quase que adentre o próprio filme. Algo como Sombras da Noite que, apesar de ser um filme ruim, você ainda mantêm essa relação com o imagético do longa. E você já pode se considerar alguém importante quando os Irmãos Coen te selecionam para filmar seu próximo filme devido a Roger Deakins estar ocupado, você está fazendo alguma coisa certa.

    Essa é a segunda parte do artigo traduzido do Collider, para conferir a primeira parte clique aqui.

    Texto de autoria de Halan Everson.

  • Review | The Knick – 1ª Temporada

    Review | The Knick – 1ª Temporada

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    Pense num circulo preto no centro de uma folha de papel branca. Considere uma folha de papel branca com um círculo preto no centro também e depois inverta a ordem da cores. A mudança desses fatores altera a percepção de como o todo funciona sob seu ponto de vista. Mas e se ao seu redor todos tivessem essas mesmas duas folhas, com as mesmas considerações sobre elas, só que chegando a percepções completamente diferentes? Esse é talvez o prisma de The Knick, dirigida por Steven Soderbergh, transparecendo ao longo de suas quase dez horas divididas em pequenos dez episódios que parecem maiores do que são, e que exibem mais do que aparentam e tornam essa história iniciada em 2014 uma das mais incríveis jóias das recentes produções de TV.

    Não é novidade na televisão trazer um profissional competente e renomado de uma área próxima como o cinema e com possibilidade de utilizar muitos recursos graças a seu nome e peso. Não admira, então, que toda a experiência e habilidade sejam um acréscimo para tornar a trama uma narrativa única. Sem abertura formal, apenas uma visão em blur de um objeto, de um par de botas brancas de um cirurgião num prostíbulo chinês e a data de 1900 em seu rosto, a série apresenta o Dr. John Thackery (Clive Owen), após uma operação de placenta prévia, levado ao cargo de cirurgião chefe do Knickerboxer em Nova Iorque, ao mesmo tempo que tem de receber na sua equipe o Dr. Algenor Edwards, um cirurgião negro.

    É estranho perceber que uma série de época passada no ano de 1900 tenha uma trilha composta exclusivamente de música eletrônica. Porém, a trilha é coerente tanto no ritmo frenético quanto ao ar futurístico que o seriado apresenta dentro das condições em que a medicina era praticada. Estranho, frenético e constantemente limpo.  Não é difícil perceber a quantidade de pequenos planos sequência em simples diálogos expositores. A câmera se contorce procurando um ângulo para tentar se encaixar naquela situação, ressaltando a teatralidade e liberdade que os próprios atores devem possuir durante as gravações. Não estamos falando de um House, M.D  do século XIX, ou um E.R – Plantão Médico rústico. Trata-se de um The Wire explorando a psique de uma sociedade, de um vício, de uma profissão muito perigosa e de todo um universo envolto em mudanças que não conseguimos acompanhar, recheado de procedimentos cirúrgicos que são incrivelmente difíceis de distinguir da realidade, principalmente pela montagem sempre funcional. Ainda que os episódios enfoquem muitas personagens, é possível observar diversos ciclos se fechando em pequenos gestos de loucura, genialidade e dor humana realizada de alguma forma.

    O esforço se amplia como um todo, a ponto de não existir um momento específico ao qual esperamos chegar no fim definitivo A série se sustenta construindo um mundo através da perspectiva referencial de cada um de seus personagens. O esmero visual de cada enquadramento proporciona para a narrativa uma miragem bem realizada que esconde a sujeira que circula entre o mundo cercando as personagens. O preto e o branco retornam novamente na fotografia do próprio Soderbergh (que também assina a direção). A sala de operação (além de ser um anfiteatro para exibir cirurgias), é certamente o exemplo mais gritante de todos por sua plasticidade. Porém, é possível ver que todos os protagonistas exibem as cores preta ou branca em algum momento específico de cada episódio e, em cada um deles, intensificando o contraste com objetos e outros atores. Além de cenários que, principalmente dentro do hospital, possuem um sépia sombrio lembrando o efeito da cor preto em luz amarela. Esses elementos tornam The Knick uma pintura em alta definição em constante movimento. Porém, deixa muitas vezes em segundo plano temas abordados pela própria série, uma lacuna proposital para o público. Assim como Thackery no início do primeiro episódio, basta ficar com as pernas estendidas e assistir ao circo funcionando.

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    Texto de autoria de Halan Everson.

  • 10 Filmes com Personagens Femininas Marcantes

    10 Filmes com Personagens Femininas Marcantes

    Em 1857, operárias nova-iorquinas levantaram uma grande greve em busca de melhores condições de trabalho, uma das razões que deram origem ao Dia Internacional da Mulher. As garotas do Vortex Cultural listaram 10 filmes cujas personagens femininas principais trouxeram alguma discussão sobre o gênero, além de mostrar as lutas pessoais das mulheres, como o preconceito e a violência física e psicológica que ainda sofrem, seja no ambiente profissional, seja em relações amorosas. A ficção, neste sentido, transporta para a mídia cinematográfica conceitos já vividos por muitas de nós, que só possuímos o direito de votar e trabalhar graças às demandas promovidas pelas operárias, militantes feministas e pensadoras dos séculos XIX e XX.

    (confira também nossa lista de Filmes com Temáticas Feministas (Pouco Lembrados))

    Volver (Pedro Almodóvar, 2006) — Por Cristine Tellier

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    Filmes de Almodóvar e filmes com personagens femininas fortes são praticamente sinônimos. Não há como pensar em um sem pensar no outro. Seus filmes focam quase exclusivamente o universo feminino e, o que é ainda mais interessante, sob um ponto de vista feminino. Voltando a ele após tê-lo deixado um pouco de lado em Fale com Ela e Má Educação, Volver centra sua história em um grupo de personagens femininas, cada uma forte à sua maneira, em que os homens são meros coadjuvantes. Admito que minha escolha não seguiu um critério muito racional. Foi o primeiro filme que me veio à mente e mesmo pensando em outros depois – Kika, A Flor do Meu Desejo, De Salto Alto – ainda assim me pareceu a melhor escolha. É, por vários motivos, um dos meus top 5 favoritos de Almodóvar. Seja pela referência à Hitchcock, pelo humor negro, pela leveza (beirando a comicidade) com que a morte é tratada, seja pela fotografia cuidadosa.

    O Silêncio dos Inocentes (Jonathan Demme, 1991) — Por Karina Audi

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    O Silêncio dos Inocentes é um dos thrillers policiais mais marcantes não só por ter um enredo bem construído, uma atmosfera sombria e ótimas atuações – de Jodie Foster, no papel de Clarice Starling, e de Anthony Hopkins como o dr. Hannibal Lecter, rendendo-lhes, respectivamente, um Oscar de Melhor Atriz e de Melhor Ator por esta obra –, mas também por ser um dos primeiros filmes a mostrar uma policial mulher como detetive principal designada para um importante caso, e que em sua própria jornada também salva outra mulher. Jodie Foster, em entrevista, disse que se interessou de imediato pelo papel principalmente porque acreditava que este argumento era quase inédito na história do cinema. Em meio a seu percurso heroico, Starling, ainda em formação pelo FBI, não é acreditada pelos colegas e por dr. Chilton, do instituto psiquiátrico onde Lecter está confinado – inclusive sofrendo assédio sexual do personagem, e humilhada por mais um paciente do local –, encontrando respeito e compreensão, paradoxalmente, na figura de Hannibal. Os dois personagens formam o par mais icônico, e cabe a Starling o título de personagem policial feminina mais importante do cinema.

    Kill Bill: Volume 1 e 2 (Quentin Tarantino, 2003 e 2004) — por Larissa Tinoco

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    Uma Thurman é uma noiva assassina em busca de vingança após ter sua família assassinada no dia de seu casamento. O enredo seria batido se fosse um homem nesse papel, mas o que vemos é um roteiro incomum e cheio de personagens fortes. Além da noiva, a lista de inimigas não deixa a desejar no quesito Girl Power. Temos Vernita Green, uma ex-assassina de aluguel e agora mãe de uma menina; Elle Driver, que perdeu um olho após desafiar seu mestre de kung fu; Oren Ishi, uma guerreira mafiosa que viu sua família ser massacrada quando era criança; e Gogo, uma adolescente que não deixa ser intimidada pela força da noiva atrás de vingança. Kill Bill foi um dos primeiros filmes do Tarantino a abordar o tema do empoderamento feminino, seguido de À Prova de Morte e Bastardos Inglórios.

    Ninfomaníaca (volumes 1 e 2) (Lars Von Trier, 2013) — Por Carolina Esperança

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    Espancada e jogada em um beco sujo e escuro, a personagem Joe (Charlotte Gainsbourg/Stacy Martin) demonstra fisicamente as condições de sua própria consciência, vitimada pela ausência de sentimentos e busca interminável pelo prazer. Após ser retirada desse cenário caótico, ela narra os acontecimentos pregressos ao seu compreensivo interlocutor, que não se abala, escandaliza e tampouco julga essa mulher. Para ele, sua compulsão pelo sexo é inata, o ponto de vista pelo qual seu mundo realmente faz sentido, em que ela escolhe o que, como e por quem sentir; simplesmente, não a vê como alguém que precise de uma cura, e sim de compreensão de seu modo de vida. Fora do padrão de boa moça, a personagem expõe uma realidade difícil de aceitar, por conta de conceitos ultrapassados ainda vigentes em tempos atuais, onde a sexualidade feminina causa desconforto. O segundo volume torna a discussão muito mais aprofundada, com Joe assumindo sua compulsão, enclausurando-se em uma vida aparentemente perfeita, onde finalmente pode ser aceita. Felizmente, agora, podemos debater a respeito da temática sexual.

    Livre (Jean-Marc Vallée, 2014) — Por Mariana Guarilha

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    Livre conta a história de Cheryl Strayed (Reese Witherspoon), uma americana que decidiu percorrer toda a costa oeste dos Estados Unidos, completando a chamada “Pacific Crest Trail” numa jornada para se livrar de vícios e expurgar memórias. Uma mulher atravessar um país caminhando sozinha é uma ideia que me encanta, talvez porque, desde os tempos de menina, todas nós temos ouvido que isso está fora de nosso alcance. Junta-se a isso uma personagem extremamente carismática, um cenário de tirar o fôlego e um formato simples: entre relatos de contratempos da caminhada, as bolhas no pé, animais peçonhentos, a falta de material adequado, são apresentados flashbacks que nos entregam que a protagonista já esteve em uma situação bem mais precária. Livre é um grande filme por não recorrer a fórmulas fáceis, mostrando-nos que não existem grandes heróis para salvar a protagonista dos perigos: ela é sua própria heroína.

    Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres (David Fincher, 2011) — Por Cristine Tellier

    Ok, o protagonista da história é Mikael Blomkvist (Daniel Craig). Todavia, é incontestável que a personagem mais marcante seja Lisbeth Sallander (Rooney Mara), uma hacker de inteligência acima da média. Não apenas por sua aparência – que confirma o gosto de David Fincher por personagens misóginos – mas também por sua atitude. Mara faz o tipo mignon, e é o contraste entre essa aparente fragilidade e a intensidade de sua atitude que torna a personagem tão sedutora e envolvente. E aqui, ser frágil está longe de significar ser indefesa. Há um contraponto extremamente sutil entre a “mensagem” passada por suas tatuagens, piercings, penteados, vestimentas e o que se pode apreender de sua postura, de ombros constantemente encolhidos, e de seu olhar fugidio que evita encarar seus interlocutores. Interessante notar que, ao interagir com Blomkvist de igual para igual, ao ver nele características que valoriza em si própria, vai deixando de lado aos poucos a ideia de que para sobreviver é necessário mimetizar as atitudes masculinas e tomar o lugar dos homens.

    Mulan (Tony Bancroft e Barry Cook, 1998) — Por Karina Audi

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    Lançada em 1999, Mulan foi uma das últimas animações da chamada “era do renascimento” dos estúdios Disney. Retomando um milenar conto chinês que tem Hua Mulan como heroína real, a protagonista, ao ver seu doente pai ser chamado para a guerra contra o exército dos Hunos, coloca-se em seu lugar vestindo-se como soldado, uma ideia que contraria os preceitos da época, em que as mulheres não podiam exercer a carreira militar. Opondo-se ao papel imposto às mulheres, o de se dedicar exclusivamente ao casamento e ao homem, a heroína, assim, rompe os paradigmas das princesas Disney, as quais geralmente necessitam de um fator externo para a mudança de suas vidas – o amor de um príncipe ou o mundo que desconhecem –, mas que em Mulan reside no amor que sente pela figura paterna, sentimento tido como o mais grandioso em razão do grande laço sentimental formado na relação entre pai e filha. Mulan é uma bonita peça que foge dos estereótipos de animações “princesa espera príncipe e os dois vivem felizes para sempre”, e mostra uma personagem feminina dona de seu próprio destino.

    Preciosa: Uma História de Esperança (Lee Daniels, 2009) — Por Larissa Tinoco

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    Vencedor de dois prêmios no Oscar, Preciosa – Uma História de Esperança nos mostra um fragmento social que infelizmente está longe de (como na maioria dos filmes) ter um final feliz. Claireece “Preciosa” Jones (Gabourey Sidibe) é uma adolescente de 16 anos com uma vida repleta de dificuldades infinitamente piores do que as de qualquer adolescente comum. Abusada por sua mãe, estuprada pelo seu pai, obesa, pobre e analfabeta, Preciosa não vê motivos (e com razão) para pensar que a vida é bela. O filme mostra de forma realista a vida de pessoas que sofrem violência dentro de seu próprio lar, e como o sistema de proteção (em geral, a pessoas do sexo feminino) é falho em perceber quando há algo de errado. É praticamente impossível acompanhar algumas cenas sem ter os olhos cheios de lágrimas. E é incrível a força que a protagonista tem em continuar lutando por um futuro melhor, mesmo que sua condição de vida seja tão precária. Um dos filmes mais marcantes sobre o assunto que eu já vi, e, sem dúvida, uma lição de vida.

    Erin Brockovich: Uma Mulher de Talento (Steven Soderbergh, 2000) — por Carolina Esperança

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    Responsável por um processo judicial desacreditado, a Erin Brockovich de Julia Roberts conta com seu carisma, e por que não dizer, também com seus atributos físicos, para torná-lo possível, como, por exemplo, persuadindo um empregado da companhia de águas a deixá-la vasculhar documentos, que comprovem a contaminação da água da cidade. Também vale ressaltar que sua eloquência e sentimentalismo a fazem entrar constantemente em conflito com seu chefe, Ed (Albert Finney), que por sua vez a relembra dos números, de perdas e ganhos, envolvidos nesses casos. Os fatos reais nos quais o filme se baseia reforçam que sua protagonista representa diferentes personas: a mãe solteira, a divorciada, a desempregada, alguém com pouca escolaridade; a mulher à procura do amor, mas que teme ser deixada outra vez; a que teme, em nome dele, deixar seus sonhos para trás. Erin tenta conciliar seu trabalho, filhos e um relacionamento com o novo vizinho, George (Aaron Eckhart), e todos estes núcleos a cobram maciçamente, e mesmo que as expectativas gerais não se concretizem, ela aparenta controle e discernimento sobre tudo o que acontece à sua volta. O processo, ao final, é ganho, e Erin tem seu esforço recompensado. Ela representa a mulher da vida real, que sofre as mesmas cobranças, sem possibilidade de errar ou de não realizar suas ações.

    Dirty Dancing: Ritmo Quente (Emile Ardolino, 1987) — Por Mariana Guarilha

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    O filme de 1987 conta a história de Frances “Baby” Houseman (Jennifer Grey), uma garota que, ao se hospedar com a família em um resort, vive uma paixão proibida pelo professor de dança. Porém, apesar do filme já se mostrar um tanto quanto progressista, e colocar uma mocinha não tão passiva assim, o que torna a obra digna de nota é a forma desprendida com que trata a questão do aborto. A parceira de dança de Johnny (Patrick Swayze) fica grávida e não pode continuar trabalhando se prosseguir com a gravidez. Sua melhor opção acaba sendo um aborto clandestino, que a teria matado se não fosse a ajuda da protagonista Baby. Além disso, as duas demonstram cumplicidade e não ficam se digladiando por causa do protagonista.

    (Bonus Track) A Mãe (Vsevolod Pudovkin, 1926) — Indicação de Flávio Vieira

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    O filme mudo de 1926 narra a história de uma mãe que vê o filho ser preso, e posteriormente morto em uma fuga, pelo exército da monarquia czarista. Revoltada com a situação, cuja imagem mais emblemática são seus olhos marejados em lágrimas, em razão da situação desesperadora de perder o filho para um governo que mantém a população miserável, a personagem conscientiza-se de sua condição, questionando o horror imposto pelo regime e empenhando-se nas causas políticas do filho. A Mãe foi baseado no romance homônimo de Máximo Górki, escritor russo que, assim como outros artistas da URSS, logo no início da instauração do poder socialista procurou retratar a população soviética e o Estado a partir de uma consciência revolucionária. A obra traz à luz um momento marcante da história e como uma mulher, sozinha, se fez ouvir.

  • 5 Filmes Essenciais Sobre Cassino

    O cinema sempre nos fez pressupor que cassinos são formados por luzes de halogênio, acesas o tempo todo, homens bem vestidos e mulheres sedutoras. Não que tais máximas não sejam verdadeiras. Porém, diante de tantas maneiras de apostar e conquistar o público com boas histórias, selecionamos cinco obras essenciais.

     

    Onze Homens e Um Segredo (Ocean´s Eleven, 2001)

    Baseada na produção de 1960, com Frank Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis Jr., Peter Lawford e Joey Bishop, Onze Homens e Um Segredo trouxe novamente o cassino às tramas hollywoodianas e foi o responsável pela realização de diversos filmes com temáticas parecidas, que faziam de um assalto excêntrico e ousado o elemento central da ação.

    Neste remake, dirigido por Steven Soderbergh e estrelado por George Clooney, Brad Pitt, Matt Damon, Julia Roberts e Andy Garcia, o equilíbrio entre estilo, bom humor e um plano de assalto mirabolante é composto com perfeição. Formado por estereótipos bem delineados – o galante, o braço direito, o engenhoso, o habilidoso, o esquivo, a mulher fatal, o vilão –, o enfoque da narrativa é produzir uma história para o grande público. Diante deste espetáculo, a trama não poderia ser mais óbvia: um homem apaixonado que faz de tudo para reconquistar a ex-mulher.

    A direção de Soderbergh, que já havia misturado humor e ação em Irresistível Paixão, adaptação do livro de Elmore Leonard, traz maior requinte à história. Um roubo que se aproxima de uma obra de arte.

    Cassino (Casino, 1995)

    Martin Scorsese retorna ao submundo – depois de Cabo do Medo e Época da Inocência – nesta produção épica que carrega tudo o que há de melhor em seu estilo. Uma produção longa, brutal, em que nenhuma saída dramática é fácil. A trama se baseia na história de Frank Rosenthal, um judeu que assumiu grandes cassinos para a máfia na década de 70.

    Com Robert De Niro e Joe Pesci, com quem já havia trabalhado em outra obra mafiosa do diretor – Os Bons CompanheirosScorsese está à vontade em seu habitat natural e, como novidade, apresenta uma Sharon Stone como mulher linda, loira e fatal. Além da violência excessiva, a narrativa feita em off e os espaços temporais entrecortados comprovam a genuína marca de Scorsese.

    Até hoje, o diretor nunca deixou que as imposições de estúdios impedissem a metragem de suas produções, propositadamente longas, narrando com detalhes as jornadas de seus personagens. Um dos grandes filmes do diretor, sem dúvida.

    Cassino Royale (Cassino Royale, 2006)

    A obra primordial de Ian Fleming, finalmente gravada em 2006 e com um novo James Bond (Daniel Craig), foi capaz de promover uma bem-sucedida trinca: consagrou o novo Bond em um tipo diferente dos vistos até então, trouxe a um novo público um clássico personagem e soube ser fiel à obra original sem perder seu estilo.

    Na versão, o bacará do original cede espaço ao poker, um dos jogos mais populares até mesmo no espaço virtual. Envolvendo o jogo de espionagem, o agente com licença para matar deve competir nas mesas contra Le Chifre (Mads Mikkelsen), um banqueiro com investimentos no submundo. A trama dirigida por Martin Campbell produz um dos jogos de poker mais aflitivos do cinema, em parte devido às boas interpretações de Craig e Mikkelsen.

    Além deste impasse, as cenas de ação apresentam um estilo diferenciado, fundamentando um conceito de realidade que a trilogia Bourne ajudou a criar: um estilo de luta menos coreografado e mais brutal, longe do balé da década de 90. Muitas grandes cenas da produção – como a perseguição de carros e a tortura sofrida por Bond – vieram diretamente da obra de Flemming. Um clássico que não envelheceu.

    Crupiê – A Vida em Jogo (Croupier, 1998)

    Após anos distante do cinema, Mike Hodges (Carter – O Vingador, Flash Gordon) retorna com este drama sobre um escritor falido, que retorna à sua antiga profissão de crupiê graças ao um pedido do pai. Conduzido com uma parcela de um thriller de mistério, foi graças a este papel de Clive Owen, no papel central de crupiê, que seu talento foi evidenciado com atenção suficiente para estrelar produções como Rei Arthur e Closer – Perto Demais.

    O rosto sisudo e o olhar penetrante do ator adequavam-se à vida desencantada de um homem incapaz de galgar sucesso na profissão desejada. Seu papel como crupiê é melancólico, uma mera subsistência banal. Um símbolo de uma vida paralisada, que parece não se importar com as ações – criminosas ou não – as quais pode cometer. É um drama cuja análise concentra-se na existência do próprio ser e suas motivações pessoais, sem nenhum arroubo de violência explícita ou glamour.

    Maverick (Maverick, 1994)

    Mel Gibson ainda era cool e Richard Donner, diretor de filmes significativos quando Maverick, adaptado da série homônima de 50, estreou nos cinemas. A trama apresentava dois elementos-fetiche que sempre encantaram uma grande parcela do público: o ambiente western e jogos de aposta. Uma história que parecia impossível dar errado.

    Sem perder o tom aventuresco, o roteiro de William Goldman (Todos Os Homens do Presidente, Uma Ponte Longe Demais, Louca Obsessão e Butch Cassidy) apoia-se no humor para apresentar a história do malandro Maverick, que junta o dinheiro necessário para um jogo de apostas em um barco do Mississipi e acredita ser capaz de sentir as energias das cartas antes de tirá-las – uma das cenas mais divertidas da produção.

    Se hoje o gênero Western é pontuado pelo lançamento anual de poucos filmes, ainda na década de 90 grandes obras foram relevantes, tanto as que se apoiaram no drama, caso de Os Imperdoáveis, quanto nesta comédia aventureira, bem realizada e que não envelheceu.

  • Crítica | Lado a Lado

    Crítica | Lado a Lado

    O cinema é, de todas as artes, aquela que mais depende da tecnologia para ser produzida. Segundo Walter Benjamin, essa condição torna o cinema uma obra de arte única, fruto do avanço tecnológico e industrial do século XX. Ainda mais singular que a fotografia, o cinema irá gerar debates imensos e comparações sobre o “valor” de sua arte (pode ser um pintor comparado a um operador de câmera?). Portanto, o documentário Lado a Lado, dirigido por Christopher Kenneally e protagonizado por Keanu Reeves, atualiza um pouco o debate nesse sentido, ao confrontar várias personalidades da indústria cinematográfica (como George Lucas, Martin Scorsese, James Cameron, Lars von Trier, Andy e Lana Wachowski, David Fincher, Joel Schumacher, Robert RodriguezSteven Soderbergh, David Lynch etc) com a questão da substituição da película pelo filme digital.

    Com uma proposta didática de ensinar ao espectador o básico da diferença entre os formatos, o documentário assume uma postura um pouco cansativa a quem não é muito interessado no aspecto técnico do cinema. Porém, ao público alvo, possui um formato muito interessante e de fácil compreensão. Dividido em várias partes com subtemas que vão e voltam (tanto na parte criativa, quanto técnica), e entrevistando um grande número de pessoas com frases curtas e cortes muito rápidos, às vezes um pouco da informação é perdida. Mas nada que afete a compreensão geral da obra.

    O filme começa com um debate sobre a facilidade do processo de filmagem digital atualmente, onde tudo pode ser visto enquanto é filmado, enquanto no uso da película é necessário, após o término da filmagem, levá-la a um laboratório onde será revelada e o diretor só poderá ver o que foi filmado no outro dia. São colocados argumentos muito bons dos dois lados do debate, tanto no lado criativo quanto técnico.

    Após essa breve explanação, somos levados a um histórico das câmeras digitais, desde o surgimento do primeiro chip de captação digital de imagem, criado pela Sony nos anos 60, até sua popularização nos anos 90 e seus primeiros usos como ferramenta na produção cinematográfica com o movimento Dogma 95, que depois influenciou outros cineastas, como o inglês Danny Boyle a usar o digital na filmagem do seu longa de zumbis Extermínio em 2003.

    Porém, ainda nessa época a qualidade de resolução do digital era muito pequena em relação à película, e chegava no máximo ao HD (1280 x 720), enquanto a película em 35mm poderia chegar a 4096 x 3072. Mas tudo isso mudou com a chegada de novas câmeras no mercado no final dos anos 2000, onde a resolução começou a dar saltos exponenciais e o argumento a favor da película começou a ficar mais fraco.

    Outra vantagem citada do digital era não precisar mais das pausas para trocar os rolos de filmes nas câmeras, que duravam aproximadamente 10 minutos, e eram muito caros. Então havia uma pressão para o ator enquanto ouvisse o barulho do filme rodando, enquanto no digital não há pausa e nem cortes. Depois tudo é editado digitalmente (o processo de edição também é brevemente citado). Após a filmagem, o filme ainda tinha de ser entregue ao laboratório, revelado, preparado, encaixotado e transportado para depois ser visto, e dependendo da quantidade de vezes que era exibido, poderia se deteriorar. Já no digital, nada disso acontece, e a equipe tem todo o fruto do trabalho nas mãos imediatamente.

    Portanto, o filme se foca muito na questão do custo de produção, que cai absurdamente com o digital, o que tem feito muitos estúdios optarem principalmente por este formato. Tudo isso também graças ao pioneirismo de George Lucas que, vendo o potencial do digital, forçou seu uso ao experimentar esse tipo de projeção com seu Episódio I em 1999 e ao filmar, pela primeira vez na história, um longa 100% em digital, com o Episódio II. Porém, Christopher Nolan assume a defesa incondicional da película pela sua qualidade em captar as nuances de cores e as profundidades (já que utilizou esse formato para filmar a trilogia nova do Batman), mas sem menosprezar o digital, que já dá sinais de ser um verdadeiro tsunami tecnológico dentro da indústria.

    Outro ponto interessante debatido em relação ao digital é a massificação não só da produção, como também do consumo, e como o digital afeta essa relação, pois gerações mais novas estão habituadas a assistirem filmes em celulares e laptops em suas casas, e não mais somente no cinema, o que pode ser considerado vantagem por alguns e desvantagem para outros, em um tópico bem interessante, que se relaciona também com a quantidade crescente de obras sendo produzidas. É melhor mais com menos qualidade ou menos com mais qualidade? Um afeta diretamente o outro? São proporcionais? Inversamente proporcionais? Hoje em dia praticamente qualquer pessoa pode fazer um filme em casa com um orçamento baixíssimo devido ao digital. Mas isso significa algo em termos de qualidade? É o debate proposto, cabendo ao espectador a resposta.

    No final, há a especulação de a película se tornar obsoleta ou morrer de vez enquanto formato (já que nenhuma fábrica de câmera está produzindo mais modelos novos para película). Mas, um dos dados mais interessantes apresentados pelo documentário é em relação justamente a preservação. A indústria do digital muda muito, e a cada década novos meios de reprodução e mídias de armazenamento são inventados, inutilizando seu predecessor, enquanto a película se mantém viva, sendo ao mesmo tempo a mídia de reprodução e de armazenamento com grande qualidade. Esse fato gera uma situação irônica, pois os grandes defensores do formato digital dizem ter várias cópias de filmes em mídias digitais, mas que não conseguem reproduzi-las simplesmente por não existirem mais os aparelhos que o façam.

    Sem tomar um lado ou propor uma solução, o documentário termina mostrando que, apesar da briga, o digital veio para ficar e é somente uma ferramenta a mais, que depende muito da forma como é usada. Portanto, é um filme indispensável a qualquer um que se interesse por cinema de forma mais profunda.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Crítica | Irresistível Paixão

    Crítica | Irresistível Paixão

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    Um multi-astro é aquele que, em determinado momento, resolve tentar outros movimentos para sua carreira e abrir novas oportunidades. Sempre que um cantor intenta estrelar um filme, a recepção é receosa, principalmente porque, boa parte dos críticos, torce para que o filme se torne um fracasso.

    A cantora Jennifer Lopez é uma daquelas que não desistiu e, ainda hoje, participa de algumas produções. Sua base são filmes românticos cheios de açúcar, mas já se arriscou no terror, dramas densos e protagonizou, ao lado de Ben Affleck, um dos maiores fracassos de bilheteria de todos os tempos. Diante dessa pequena carreira, que muitos poderiam denegrir como duvidosa, somente Steve Soderbergh seria capaz de reuni-la com um eterno galã para apresentar uma história marginal sobre o amor.

    Baseado na obra de Elmore Leonard – prolífico escritor policial, com filmes e séries adaptadas – a história promove o acaso e encontro entre um bandido em fuga e uma agente penitenciária que estava no local. A narrativa de Irresistível Paixão – realizada antes do hype em cima de Soderbergh – dialoga bem com um estilo alternativo de cinema sem perder a narrativa sem floreios de Leonard. George Clooney está perfeito como George Clooney, o sexy ladrão sem escrúpulos que não resiste à agente penitenciária Karen Sisco, em uma trama que, ao colocar personagens em lado opostos da lei, exemplifica que é possível encontrar o amor em qualquer lugar.

    A estranheza é um dos elementos centrais da história. O amor que surge de um lugar estranho e que, mesmo assim, produz encantamento por sua condução, pelo acaso bem inserido na história. Os diálogos merecem um destaque à parte, explicitando o estilo de produção que, além das imagens, pede pela atenção das palavras. São doses de ironia bem calculadas, declarações de amor em poucas palavras. Dando-nos uma breve dimensão de como o autor Leonard trabalha suas personagens e situações.

    Soderbergh utiliza-se do corte de cenas e dos espaçamentos temporais para dar maior agilidade a trama, que não tem medo de utilizar os datados efeitos de imagem congelada para destacar situações de limite. Caminhando do passado ao presente, explicando a motivação das personagens e aprofundando as relações.

    Desenvolvendo-se em um ambiente possivelmente hostil, entre diálogos ferinos e uma edição veloz, uma história de amor que beira a marginalidade pelas personagens nada elevadas mas que, como a maioria das histórias de amor, tem seu charme.

  • Crítica | Terapia de Risco

    Crítica | Terapia de Risco

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    Steven Soderbergh é diretor que trabalha com diferentes facetas em sua carreira. Há o diretor alternativo, que realiza produções de baixo orçamento como aquelas feitas em seus primórdios. Há o lado comercial e divertido que, ao lado do amigo George Clooney, produz histórias divertidas. E há uma terceira, que vem realizando panoramas temáticos em bons filmes como Traffic (sobre o tráfico de drogas) e Contágio (uma epidemia dissecada).

    Terapia de Risco parecia ser mais uma dessas produções que exploram um tema específico transformando-o em história, normalmente dividida em diversas frentes para produzir um panorama crítico. Dessa vez, porém, o diretor optou por concentrar-se em uma única história sobre a relação entre médico e paciente e o uso de remédios controlados.

    Na trama, devido a uma críse de ansiedade, Emily arremete o carro contra uma parede e é tratada pelo psiquiatra Jonanthan Banks, que, à procura de melhorar a condição da paciente, lhe receita um novo medicamento ainda em fase de testes.

    Tem-se a impressão de que vamos assistir a uma crítica pontual a respeito da relação entre a psiquiatria e o uso excessivo de remédios controlados. Há estatísticas que apontam que o número de usuários destes medicamentos aumentam a cada ano, nos fazendo refletir que ou a população está se tornando mais infeliz ou médicos têm receitado tratamentos em excesso, mesmo quando outros processos mais amenos, como uma terapia tradicional, fossem suficientes para resolvê-los.

    Médico e paciente estão em cena sem escolhermos um lado propriamente, até um grave acidente envolvendo a paciente que muda também a narrativa apresentada até aqui. O que poderia ser uma excelente trama sobre a potência industrial e comercial dos remédios controlados se torna uma trama de suspense em que médico tenta investigar o que de fato levou a paciente a provocar o acidente. Não bastando a mudança brusca, há uma reviravolta incômoda que parece improvisada.

    Até um momento inicial a narrativa permanece neutra, apontando fatos e deixando o julgamento para o público. Mas a imparcialidade muda, dando espaço para o tom policialesco e conspiracional que eclode em uma boba cena de revelação, com elementos tão melodramáticos que não possuem verossimilhança nenhuma.

    É como se o roteiro tivesse unido duas tramas distintas ou feitas por um roteirista que muda de personalidade no meio da escritura. Será essa a intenção de Soderbergh? Produzir um meta roteiro com um escritor bipolar para apontar como as doenças mentais estão presentes no mundo e que remédios podem ou não ajudar? Provavelmente não.

    Mas, compostas de uma maneira a causar um impacto ativo no público, a trama perdeu a potência de produzir mais um panorama crítico como aconteceu nos dois citados filmes anteriores, resultando em uma história de final tão rasteiro que a qualidade da direção de Soderbergh pode passar desapercebida por alguns.

  • Crítica | Magic Mike

    Crítica | Magic Mike

    Magic Mike

    Steven Soderbergh tem utilizado a crise econômica dos EUA para abordar algumas de suas histórias, e dessa vez não é diferente. Assim como abordado anteriormente em Confissões de uma Garota de Programa, Soderbergh utiliza o submundo de um dos ramos do entretenimento adulto para sua análise da recessão econômica. Magic Mike transita por esse universo de maneira débil e nada subversivo, como poderia ter sido.

    Assim como em 2009, onde Soderbergh traz Sasha Grey, famosa atriz de filmes pornôs para ambientar sua história, agora em 2012 o diretor utiliza a mesma ideia, já que o protagonista do longa-metragem é Channing Tatum, ator em evidência no momento, mas que já teve de trabalhar como um stripper. Ambos os filmes acabam sendo, de certa forma, experiências reais desses atores, seja Grey ou Tatum.

    Na trama, acompanhamos a vida de Mike (Tatum), um sujeito perto dos seus trinta anos, que ganha a vida consertando telhados durante o dia, e a noite é uma das atrações de uma casa de stripper dirigida por Dallas (Matthew McConaughey). Em um de seus dias de trabalho como consertador de telhados ele conhece Adam (Alex Pettyfer), um jovem sem perspectivas que abandonou a faculdade e vive de favores com sua irmã enfermeira, Brooke (Cody Horn). Adam acaba descobrindo o trabalho noturno de Mike e logo ganha um lugar no show.

    O roteiro de Reid Carolin acerta em alguns momentos e erra em muitos. O filme segue uma estrutura digna de comédia romântica, diálogos terríveis e uma trama que se move do ponto A ao B sem nenhuma reviravolta e com uma previsibilidade que não deveria ser o caso de um material como esse. No entanto, no meio de soluções previsíveis, bobas e mal elaborados, o longa por nenhum momento soa enfadonho.

    No meio de personagens estereotipados, Channing Tatum revela uma maturidade interpretativa, principalmente quando está distante do seu trabalho como stripper, mantendo o controle do seu personagem sem se tornar um clichê. McConaughey também merece destaque entre o elenco, entregando um personagem egocêntrico, desconfiado e extremamente intenso em sua interpretação, muito longe de seus papéis nas dezenas de comédias românticas que tem feito, sendo provavelmente o ponto alto do longa metragem. O restante do elenco é bastante inexpressivo, beirando atuações sofríveis.

    A direção de Soderbergh utiliza uma montagem preguiçosa, intercalando sequências de atores em shows, dignas de videoclipes sem nenhuma originalidade, para cenas que não vão a lugar algum. Se mantendo dessa forma até o seu aguardado fim.

    O tema ousado de Magic Mike é extremamente mal aproveitado, e fica mais difícil de defendê-lo depois de obras como Boogie Nights, de Paul Thomas Anderson, por exemplo. Se isso ainda não fosse o bastante, o discurso do diretor sobre a recessão fica cada vez mais moralista e conservador à medida que o filme avança, o que não deixa de ser frustrante para alguém como o Soderbergh.