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  • Crítica | Conversando Sobre O Irlandês

    Crítica | Conversando Sobre O Irlandês

    Lançado junto ao O Irlandês do cineasta ítalo-americano Martin Scorsese, o serviço de streaming Netflix resolveu lançar junto um especial, de pouco mais de vinte minutos envolvendo o próprio realizador e três membros do seu elenco: Robert DeNiro, Al Pacino e Joe Pesci. O resultado em Conversando Sobre o Irlandês é sui generis, uma conversa direta, franca e até meio intima, mesmo que se saiba que não há tanto improviso nesse que é um especial diante das câmeras.

    O papo é direto, começa com Pacino perguntando ao diretor e aos seu muso DeNiro como se conheceram e a resposta é de que moravam bem próximos, com o segundo visitando sempre o bairro do primeiro, pois era muito próximo. O ultimo trabalho dos dois coincidiu exatamente com a ultima vez que trabalharam com Pesci, em Cassino que foi há 22 anos

    Especialmente depois de ver o filme, que muda a configuração do rosto dos personagens, é curioso ver o grande bigode que Joe Pesci ostenta, branco, bem diferente do que geralmente usava em seus antigos personagens. Durante o especial ele vive relembrando o quão agradecido ele é a Martin e Robert por terem tirado ele da aposentadoria maisde uma vez.

    Além de falar sobre o livro I Heard You Paint Houses de Charles Brandt, que aliás, é muito elogiado por Pacino, eles também discorrem sobre a dificuldade em se fazer um filme sobre o mundo e sobre a America. pois além de remontar a época, seria preciso também falar para plateias mais atuais. É preciso ter atenção no que é discutido, em especial em determinado momento, onde  Scorsese fala sobre o tamanho de seu filme, que ultrapassa as três horas. O cineasta diz se preocupar com o tamanho, mas também afirma que  mesmo que o formato não seja tão atual, quem parar para assistir quieto e repousado, passará boas horas assistindo uma boa historia.

    A franqueza com que o realizador fala de sua própria obra impressiona, não se vê arrogância ou altivez, ao contrario, seu tom de voz é tranquilo, quase embala o sono não fosse obviamente o conteúdo de sua fala algo que realmente desperta interesse em quem assiste. De todas as pechas recentes atribuídas a Martin, a de que ele é um sujeito turrão e de difícil diálogo é a mais mentirosa, ainda que obviamente ele esteja ali com os seus paisanos.

    Uma das partes mais divertidas, sem dúvida, é quando se fala sobre o rejuvenescer digital do elenco. Ora, isso era algo comum em Star Wars ou filmes de herói, mas não era em obras como O Irlandês, e treinar um ator jovem seria difícil, pois ele teria de emular todo o gestual e até o modo de sentar de Pesci e DeNiro. A decisão pelo digital foi boa por isso, embora não seja perfeita sempre, e o modo como se driblou toda a pintura facial e os pontos digitais foi impressionante, há demonstrações das cenas como foram gravadas e como ocorreram após o tratamento é impressiona mesmo, além é claro de um misto entre CGI e maquiagem forte, sem fazer perder o contato visual que tanto ajuda esses monstros da dramaturgia.

    Conversando Sobre O Irlandês tem um clima descontraído, que dá detalhes da intimidade do set, e reforça ainda mais o desejo dos fãs do cinema de Scorsese para que ele e Pacino retomem a parceria antes que ambos ou que um deles já não possa mais trabalhar, dado o brilhantismo como a parceria ocorreu, e ainda entre algumas anedotas bem divertidas, como quando a equipe de produção sugeriu a Martin a Pacino não agia como um Jimmy Hoffa de 49 anos, ao passo que o diretor deu a essa mesma pessoa a autorização para repreender o interprete, demonstrando que o caráter irrepreensível é comum a Al, a O Irlandês e a exploração que mistura realidade e drama que o diretor ítalo-americano traz aos suas obras sobre gangsters.

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  • Crítica | O Irlandês

    Crítica | O Irlandês

    Após muitos anos prometendo adaptar o livro de Charles Brandt, finalmente Martin Scorsese consegue realizar seu O Irlandês, que acima até da pecha de “filme de máfia”, resulta em um grande épico, dos que lembram o cinema clássico de David Lean. O roteiro de Steve Zaillian (de O Gangster e O Homem Que Mudou o Jogo) adapta a historia do matador da máfia Frank Sheeran, o matador de origem irlandesa que auxiliava um grupo de mafiosos reais que ficou bem famoso por ter suas memorias publicadas.

    A historia resulta em um longo e belo filme, que só foi possível de ser adaptado por conta da forma como a parceira Netflix transmite suas obras, sem restrições de tempo para exibição, fato que no cinema, certamente seria um impeditivo (muito injusto, já que a obra de Scorsese não é gordurosa). O retorno do diretor ítalo americano ao filão que lhe fez consagrar obras como Os Bons Companheiros, Cassino e Caminhos Perigosos não poderia ser mais emblemático, violento e profundo, e seu início se dar em um asilo é além de emblemático, muito simbólico, e faz refletir não só sobre a velhice e a solidão e carência que normalmente vem com essa fase da vida, mas também há uma reflexão sobre a santificação que por vezes ocorre com pessoas que morrem ou que envelhecem.

    Tal qual as outras obras já citadas aqui de Scorsese, esse também se usa do artifício de quebrar a quarta parede, e de falar com o espectador, em uma mistura de estilos entre Taxi Driver, por conta do intimismo e de a maior parte dos contos ser feito pelo protagonista, e um pouco como O Lobo de Wall Street, por evocar muitos absurdos e infortúnios.

    A historia de Frank se confunde com o avanço da criminalidade  mafiosa oriunda da Itália e escrutina seu crescimento como caminhoneiro e negociante de carne com a associação que foi fazendo com os ditos homens feitos, inclusive colocando nessa origem uma pitada de teoria da conspiração. Aos poucos é mostrado como sindicalismo, política e fraudes andam lado a lado nesse cenário mafioso, isso tudo com uma música que faz lembrar demais os acordes de Nino Rota a frente de O Poderoso Chefão.

    Frank era um veterano da segunda guerra mundial, foi lá que ele matou pela primeira vez e naturalizou aquilo afinal, era uma guerra. Não demoram a aparecer as entidades criminosas, como Russell Bufalino, do recém tirado da aposentadoria Joe Pesci (que aliás, faz um papel bem diferente do que produziu nas parcerias com o diretor). A chegada dele aliás parece causada pelo acaso, como se o destino quisesse entrelaçar as duas linhas de vida, como se fosse inexorável aquela amizade e parceria.

    A intimidade de Russ e Frank é desenvolvida aos poucos, de maneira gradual e natural, de forma bem silenciosa e sorrateira, emulando de certa forma o método que Frank tinha em executar seus trabalhos. Por mais truculento que ele fosse ao reagir emocionalmente aos problemas pessoais – e ele passional, e muito – ao executar seus atos criminosos ele era cuidadoso, exceto claro no inicio de sua jornada. Com o tempo a banalização da vida e de assassinatos é tomada como regra de  comportamento, uma clara evolução do quadro de frieza quando o até então jovem executava inimigos de Guerra na Sicilia, Catânia e no interior da Itália. Matar os filhos do país da bota era algo impessoal desde o início de sua vida adulta, nada mais natural que prosseguisse assim, repetindo os feitos de guerra.

    Jimmy Hoffa, um dos personagens centrais dessa historia real só aparece com quarenta minutos de filme, e traz um Al Pacino de volta a velha forma. Curiosamente a maquiagem e o CGI de rejuvenescimento funciona melhor com esse personagem – com Robert DeNiro e Pesci não funciona tanto, principalmente nas cenas diurnas. Toda a mitologia criada em volta do presidente sindical é muito bem fortificada, ele é um sujeito sui generis de fato, causa espanto por conta de suas manias e de seu carisma. É impossível não se apaixonar ou não odiar sua figura dentro de tela e fora dela também, Hoffa é irresistível não só para quem o cerca mas também para quem assiste.

    Já se esperava isso, mas Scorsese faz de seu filme um show de participações especiais. Quase todo elenco de Família Soprano, Boardwalk Empire e filmes relacionados a Cosa Nostra, Omerta e outras facções e ligações mafiosas tem sua vez, e nenhuma é gratuita, ao contrario, há um cuidado para que cada papel seja executado de forma certeira e emocional, aumentando o aspecto de opera que o filme tem.

    Frank é sobretudo um homem falho. Seu relato é bem sincero, em especial nesse aspecto. Ele não tem boa relação com a filha Peggy – aspecto que norteia toda a emoção do filme, e que dá a Anna Paquin e a pequena Luccy  Gallina um ótimo papel, apesar de ambas estarem quase sempre caladas. A diferença cabal entre ele o Hoffa é o fato do segundo ser sempre bem quisto por todos, inclusive pelos de Frank, afinal, ele não pisoteia mãos de opositores, nem os espanca, não suja as mãos, seus crimes são escondidos pelo verniz elegante e social

    O duo de Pesci e DeNiro é ótimo, mas o que se executa entre Hoffa e Frank é ainda mais soberbo e recompensa todas  as péssimas uniões de DeNiro e Pacino até aqui, fazendo finalmente justiça a interação que sempre prometia ocorrer mas que decepcionava ou por ser muito curta, ou por ser em uma obra sofrível. Os rompantes temperamentais de Jimmy casam demais com o estilo discreto e conciliador do encarregado de executar os homens que a máfia mandava, e a relação dos dois vai muito além da simples cisma de que os opostos se atraem, eles parecem de fato amigos, parece mesmo que aquele era um pacto sanguíneo e eterno, e isso enriquece demais o drama e as consequências dali para frente na trama.

    As três linhas temporais servem bem ao serviço de recontar uma historia, que mesmo com todos os absurdos, retrata  uma realidade. O propósito parece não ser só o de biografar a vida de Sheeran, mas uma boa parte da historia criminal da America do Norte, incluindo ai um coração partido, e a sensação clara de que diante da Lei da Omerta, dos juramentos e do todo, só quem importam são os italianos e os membros da família, por mais glamour que seja atribuído aos “associados”.

    As intenções de silenciar os adversários e a não crença (arrogante diga-se) de que os criminosos poderosos estavam acima do bem e do mal levou o grupo de criminosos italianos para um fim bastante merecido e melancólico, com direito a um envelhecimento sem qualquer dignidade. Scorsese avança em sua desglamourização da mafia em seu esforço anti O Poderoso Chefão,  traduzindo bem as memorias de Frank especialmente no quesito melancolia. O matador arrependido tem o infortúnio de não ter morrido cedo, de envelhecer e ter que encarar seus pecados e toda a emoção que é empregada nesses últimos momentos tornam ele um sujeito muito humanizado, mas não livre das máculas que cometeu durante a vida, e só por isso O Irlandês já seria um filme soberbo, mas é mais que isso, é um belo retrato da vida cotidiana dos imigrantes e de seus filhos que tentaram uma melhor alternativa na America e só encontraram a marginalidade como alternativa.

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  • Crítica | Cassino

    Crítica | Cassino

    Foi como transferir as sensações de ‘Money’, a sexta faixa do The Dark Side of the Moon, do Pink Floyd, em forma de filme, uma vez que, assim como as melhores músicas dos Beatles, Bob Dylan e outros ícones, há muito a se extrair de poucos minutos carregados de vastas mensagens. Se na música a ganância, as contradições, a lógica do mundo capitalista em eterna translação em torno do seu principal valor, o dinheiro, é toda embalada pelo ritmo de guitarra, e sintetizadores, em Cassino as imagens expandem o escopo e tudo explode, do começo ao fim, na intensidade e no sangue que suja o dinheiro podre dos encardidos piratas, cujos ternos italianos e charutos cubanos parecem impecáveis sob a luz quente das suas basílicas de consumo.

    A expectativa em torno de Martin Scorsese na década de 1990 era gigante. Após Os Bons Companheiros e sua absurda recepção de público, e crítica, o cineasta foi eleito o novo às na manga dos filmes policiais de Hollywood, com uma produção menos glamourizada que a de Francis Ford Coppola, nos anos 70, e muito mais atualizada a um contexto social mais desmoralizado, já no pré-anos 2000. Seus dois filmes aqui citados são coqueluches de um Cinema ‘violento’ e frontal, e que ao se banhar na sua própria truculência, mostra a face mais asquerosa e verdadeira de um mundo cão e absurdamente antiético. Cassino é ultra real, retrato de uma época, e necessita de um mise em-scène um tanto surreal para não parecer um documentário com grandes atores em conflitos barbaramente encenados. Verdadeiros gladiadores, na tela.

    Já não existia mais a confiança cega na família, aquela que dava o tom nos três O Poderoso Chefão. Se o terceiro capítulo da saga dos Corleone falhou, miseravelmente, em 1990, os filmes de Scorsese brilharam porque os tempos já eram outros, mais cínicos, hipócritas, individualistas. Quando os indivíduos da sociedade do espetáculo não confiam mais uns nos outros, o próprio espetáculo precisa refletir isso da maneira mais divertida e apropriada possível, e Coppola, o saudosista, não entendeu isso. Resultado: naufragou. Scorsese já via as coisas dessa forma desde o catártico Táxi Driver, ou melhor, desde Caminhos Perigosos, seu primeiro e antigo grande filme, tendo nesse verdadeiro épico de 1995 sobre a ambição humana a consagração dessa visão um tanto pessimista, com todo o brilho, literalmente, que ela poderia vir a irradiar.

    Na trama, os magnatas Sam Rothstein e Nicky Santoro são amigos de longa data, sobrevivendo no topo da cadeia alimentar de Las Vegas enquanto administram seus cassinos, verdadeiros quartéis de jogatina sob seus punhos de ferro, entre crimes e esquemas terríveis para ambos se manterem no topo – ‘se chegar aqui foi difícil, continuar é mais ainda’, seria o lema de Cassino. Robert de Niro e Joe Pesci dão mais um show de atuação, reprisando com mais pompa a alma violenta e diabólica dos gângsteres de Os Bons Companheiros, sujando novamente suas mãos – se for preciso. A desfaçatez de Sam (De Niro) impressiona, mas é a vilania de Nicky (Pesci), quase que vulgar mesmo, que mais nos assusta. Os donos da selva onde ninguém vale o que deve, e que fazem o que for preciso para se manterem no trono conquistado.

    Nisso, ambos acabam se envolvendo com a perigosa femme fatale descontrolada Ginger (Sharon Stone), e veem tanto sua “amizade” como seus negócios virarem de pernas para o ar. Ginger é a desconstrução em forma de gente, sendo aqui o elemento que desestabiliza tudo por onde passa. É a peste, o furacão que tira os leões da toca, e os abate feito gatinhos. Pela primeira vez, Sam e Nicky não podem corromper seu problema, ou matá-lo e enterrá-lo no deserto de Vegas – Ginger e seu salto-alto chegaram para ficar, têm poder e são intocáveis até para os reis Midas que tocam, e comandam tudo. Não há dinheiro no mundo que controle um tornado, diz a sua presença. Stone rouba suas cenas de forma impressionante, e tanto seus embates com De Niro e Joe Pesci, quanto suas consequências, devastadoras, geram algumas das melhores e mais chocantes cenas da filmografia de Scorsese. Apenas.

    Cassino apresenta o diretor no auge de sua melhor fase como realizador, ainda com muita fome e sede de Cinema, e uma intensidade gigantesca mas que não deixa o filme pesado, ou excessivo. Uma obra bárbara, com elementos muito bem reciclados de outrora no contexto geral da trama, e com um inesquecível terceiro ato, simplesmente arrebatador. Sua força está nas mensagens e na sua encenação, na ótica vivida sobre um cosmos regido por agentes de um sistema desumano, e essencialmente competitivo, e nos embates entre jogadores que almejam a mesma coisa: sucesso, para si mesmo. Num ambiente de pura jogatina, há coisas que o dinheiro não compra, e na iminência disso ser verdade, eis então o maior pesadelo dos donos do mundo.

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  • Crítica | Os Bons Companheiros

    Crítica | Os Bons Companheiros

    Os Bons Companheiros é um filme americano de 1990. Qualquer um pode afirmar com a razão de Deus, e a calma de um monge, que poucos filmes nos últimos trinta anos atingiram a diversão frenética que Martin Scorsese nos proporcionou sem dó, entre mafiosos e assassinos dos mais inescrupulosos e metidos, mandando a gente esquecer a inquebrável moral familiar de um O Poderoso Chefão, ou a visão épica de Sergio Leone em Era Uma Vez na América. Tempos passados. Aqui, o lixo é revirado, pimenta é adicionada de todas as formas e o sangue jorra com o sadismo que envergonharia os mestres que vieram antes, entregando o tom dos grandes filmes policiais da história do Cinema e que, daqui pra frente, seria fatalmente renovado. A vivacidade, a força e a coragem modernas de Os Bons Companheiros (e Pulp Fiction) ganhou o mainstream de forma inesperada, deixando muita gente de perna bamba e renovando muitos conceitos que ainda não se tornaram banais na poluída e irrefreável cultura pop do século XXI.

    Scorsese ama ficar à beira do vulgar, do sádico, e é esse elemento em abundância que torna seu Goodfellas diferente de todos os seus outros clássicos, até hoje. Sempre no limiar da sua típica astúcia cruel com uma realidade torturante, a visão do artista para com homens e mulheres de espírito fraudulento e sociopata não cansa um segundo; simplesmente arrebatadora. Uma energia que já tínhamos sentido (e tentado seguir) antes em Depois de Horas, e Touro Indomável, mas que aqui alcança um nível de plenitude invejável. Filmando a história de um garoto branco de classe baixa, que cresce incorporando a lógica de uma vida mafiosa e orgulhoso por isso, mergulhado no poder e nos privilégios reinantes que esse caminho oferece (enquanto tudo está bem), Scorsese parece já ter revirado as intempéries e lados positivos dessa trama tantas vezes que apenas nos apresenta a melhor versão possível desse conto sobre o apogeu e a desconstrução de uma vida baseada em traições, e golpes. Essa é a sensação com Os Bons Companheiros: Um triunfo infilmável oriundo da Hollywood dos anos 90.

    E quem seriam esses companheiros a prova de bala? Representações de toda a filmografia de Scorsese, é óbvio, mas acima de tudo, esses caras que fazem executar seus velhos amigos e familiares pra se dar bem são os grandes ícones da violência que o diretor aqui cresceu com eles em Little Italy, famoso e violento bairro de Nova York, e que por algum motivo enveredou para os ramos do Cinema ao invés do tráfico de drogas – o que provavelmente já teria custado a sua vida. No jogo de agressividade e truculência interpessoal que Robert De Niro e Joe Pesci participam, não há quarto para a honestidade, não há espaço para as relações saudáveis que “pessoas normais” cultivam, muito menos para o arrependimento descansar. É a quebra de valores – total. Todos são um poço de culpa, e mergulhando a fundo nesse abismo ético e moral com graça e realismo impagáveis, Scorsese criou um cânone para sua própria carreira.

    É incrível ver grandes diretores mais contemporâneos como James Gray basear suas próprias produções na perspectiva do garoto nova-iorquino crescido que, em Os Bons Companheiros, expurgou seus demônios entregando uma fábula irresistível de violência e imoralidade basilar. O poder aqui é outro, já tinha sido descentralizado, e nasce de uma América profundamente sem vergonha, sem escrúpulos e cheia de lobos dos mais sorridentes – e sem um pingo de saudosismo. “Os valores mudaram!”, exclama o filme a todo momento. “Os valores mudaram!”, e tudo bem. Rindo dessa transformação, afinal, eis a fábula para maiores que melhor abraçou a realidade dos fatos ao gargalhar na cara do tradicionalismo da família Corleone. Engraçado como Francis Ford Coppola voltou, também nos anos 90, com a terceira parte de O Poderoso Chefão, fechando a saga e o glamour mitológico que retratou no mundo do crime. Mas os tempos já eram outros, e Coppola não entendeu. A palavra Respeito já havia saído do dicionário. Desgastou. Ninguém mais sabia o que era isso, e com Cassino e O Lobo de Wall Street vindo em seguida, sabe-se que ninguém mais queria saber.

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  • Crítica | Touro Indomável

    Crítica | Touro Indomável

    Era tudo, ou nada. Touro Indomável foi filmado com o tesão de um cineasta por uma arte e com a emergência que refletia o período difícil da vida pessoal dos envolvidos nesse filme. Todas as cenas no ringue, a cena da prisão quando Jake La Motta soca a parede do cárcere, tudo evidencia o quase desespero (ou talvez foi isso, mesmo) de Martin Scorsese e Robert De Niro naquele momento de problemas aparentemente insuperáveis. Disso sai um filme desses, por mais irônico que seja: Uma obra-chave que encapsula, ou melhor, resume toda a filmografia de um dos filhos mais prósperos e famosos (seria o mais popular caso a fama de O Poderoso Chefão não tivesse feito Francis Ford Coppola uma grande celebridade) da Nova Hollywood, dos anos 70 e 80.

    Enaltecer com a devida paixão e idolatria este diamante lapidado da própria condição da vida dos artistas que o esculpiram é chover no molhado, ainda mais nessa altura do campeonato. Via de regra, tudo gira em torno da realidade não apenas do boxe, suas entranhas e incongruências que podem custar tudo ao lutador, mas da vida de um cara com esposa e irmão na violentíssima Nova York pós-guerra. De acordo com relatos que saíram anos após as filmagens, o primeiro roteiro do filme mostrava coisas bem mais graves sobre esse ambiente e seus impactos em La Motta, sua relação com Joey La Motta (Joe Pesci, inesquecível) e muitas outras polêmicas que talvez iriam desequilibrar nossa relação com o filme, como por exemplo uma faceta mais tranquila do boxeador.

    Devido aos caos populacional, migratório e financeiro da época, a Big Apple era uma selva urbana sedutora aos ambiciosos onde a luta pela sobrevivência dos seus cidadãos era de fato tão grande que chega a explicar parte da gana inconsequente e até imatura de La Motta perante o seu caminho e diante de quem lhe apoia e/ou enfrenta (na grande atuação de De Niro). Um verdadeiro titã tão agressivo com os seus oponentes profissionais, e pessoais. Com extrema dificuldade de controlar seus demônios interiores, tal qual todos do seu turbulento círculo social, o lutador tem uma vida imprevisível onde não vê futuro para si longe daqueles inúmeros embates que realiza dentro, ou fora do ringue, numa guerra existencial de um homem segundamente contra tudo, e primeiramente contra o seu próprio Eu.

    Com uma trama intensa dessas, Scorsese sabia que teria de passar por cima dos seus limites como cineasta ainda em ascensão, e que qualquer regra ou fronteira teria de ser eliminada para que Touro Indomável pudesse virar o que acabou virando (apesar de críticas negativas na estreia devido ao forte teor violento) e em sua posteridade histórica, rumo ao seu aniversário de quarenta anos, já. O filme é simplesmente perturbador (“Did you fuck my wife?), deliciosamente trágico e narrativamente ultra genial e divertido, contando com o talento sem igual de Thelma Schoonmaker, a segunda montadora mais premiada de Hollywood por sua sagrada parceria lendária com Scorsese.

    Entre flashbacks e visões do tempo presente (remetendo a lógica narrativa de Rashomon do mestre Akira Kurosawa, uma influência essencial aqui), e um incrível trabalho de mixagem sonora nos fazendo vivenciar todo tipo de tensão progressiva, a história de La Motta e seus “amigos” nos é arquitetada de maneira perturbadora, ao mesmo tempo que sublime, entre ganhos e perdas, entre murros e beijos, fúria e romance, nuances de apogeu e derrota sempre no limiar da vida e da morte de um homem comum fazendo o máximo que podia, em toda a situação que não se encontrava, mas enfrentava. Aqui, tudo é uma luta onde o abismo também contempla.

    É praticamente impossível imaginar um remake de Touro Indomável que faça jus a sua inadvertida, pontual e genial magnitude. Um dos cem melhores filmes americanos de todos os tempos – facilmente, aliás, como já se percebe desde os fabulosos créditos iniciais. Se é o melhor de Scorsese, ai a discussão é eterna… “Eu coloquei tudo que eu sabia e sentia naquele filme, pensando que seria o fim da minha carreira.”, aponta o diretor. “Acabou sendo o que eu chamo de um jeito kamikaze de fazer filmes… Colocar tudo de si num projeto, esquecer tudo e ir procurar outra coisa pra fazer.”, atestou no ótimo livro Scorsese on Scorsese, da editora britânica Faber & Faber.

    Felizmente, nas décadas após o reconhecimento da obra e a sua injustiça no Oscar, o cara conseguiu ainda mais prestígios para inúmeros outros grandes filmes (e algumas derrapadas inevitáveis), mas parece ser de consenso mais popular que outro impacto cultural tão forte assim o diretor de Táxi Driver não se permitiu (ou não conseguiu) projetar, mais. Tampouco precisava, pensando bem, depois de um tour de force bestial com gosto e cheiro inebriantes de Cinema em estado de ebulição perfeccionista, nutrindo sangue, memória e expectativas cinéfilas como poucos outros títulos conseguem, desde então e antes deles. Melhor e melhor a cada revisão, para sempre.

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  • Crítica | Esqueceram de Mim 2: Perdido em Nova York

    Crítica | Esqueceram de Mim 2: Perdido em Nova York

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    Esqueceram de Mim 2 – Perdido em Nova York começa com os mesmos elementos que fizeram dar certo seu antecessor, Esqueceram de Mim, com roteiro e produção de John Hughes, direção de Chris Columbus e claro o retorno do astro mirim Macaulay Culkin como Kevin McAllister. Sua família se prepara para mais uma viagem de natal, dessa vez  os parentes estão ligeiramente mais atentos as crianças. Depois da cantata na igreja, e após uma briga com seu irmão, o menino novamente deseja passar a noite de natal sozinho, já que mais uma vez ele é tratado como o errado da situação, e para variar ele fica mais uma vez tendo seu desejo realizado.

    Há piadas resgatadas do primeiro filme, assim como também se demonstra que os vilões anteriores, Harry Lime (Joe Pesci) e Daniel Stern  (Marv Merchants) estão à solta novamente. O diferencial está apenas no fato que Kevin viaja em lugar de ficar preso em casa, pegando um voo para Nova York, após confundir um sujeito com seu pai enquanto o restante da família vai para Flórida.

    Mesmo sem fazer planos anteriormente, o garoto começa a fazer uso do cartão de crédito de seu pai, Peter (John Heard), aproveitando o gravador que teve de presente, pondo para rodar os áudios que tinha em suas pequenas fitas. No hotel onde se hospeda, o personagem de Tim Curry Hector, passa a desconfiar do jovem, pondo inclusive seu serviçal Cedric (Rob Schneider) para vigiá-lo. O menino mostra uma educação incrível, ao perguntar aos idosos que estão nas piscinas do hotel em que por hora reside, se pode dar um de seus mergulhos, preocupando-se em não ser um inconveniente para esses adultos.

    As gags cômica nesse episódio perderam muita força, principalmente por não ter mais o fator inédito ao seu lado, mas alguns pontos que antes eram defeitos são discutidos, como quando os McAllister interrogam os funcionários do hotel sobre como eles conseguiram ser ludibriados tão facilmente por uma criança, fato que ocorria sempre no filme original e nesse também.

    A continuação não acrescenta muito a ideia que o público tinha sobre Kevin e os McAllister, mas ainda assim é uma boa diversão natalina, contendo a mesma ingenuidade do episódio passado presente em Chicago, com praticamente o mesmo final relativo a família, trazendo até um tratado de paz do protagonista com seu irmão mais velho Buzz (Devin Ratray), e claro, a quebra de preconceito por parte do herói da jornada, que aprende enfim a não julgar as pessoas pela aparência, resultando em um filme bem mais inspirado que as terríveis continuações protagonizadas por Alex D. Linz e Mike Weinberg.

  • Crítica | Esqueceram de Mim

    Crítica | Esqueceram de Mim

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    Esqueceram de Mim é conhecido essencialmente como o clássico de natal capitaneado por Chris Columbus, ainda inciante na função de diretor após alguns sucessos como roteirista, e claro, lembrado pelo seu protagonista mirim Macauley Culkin. No entanto, a realidade estabelecida na casa dos McCallister foge um bocado do maniqueísmo comum à comédias infantis, em especial para o “herói” da jornada, o pequeno Kevin. A casa cheia, com quinze pessoas, pré-viagem natalina, demonstra que o garotinho não tem qualquer privacidade ou ideia do que é o conceito, tanto que seu desejo mais íntimo, é o de ficar sozinho em seu lar.

    Os preparativos para a viagem de fim de ano à Paris acirra os ânimos dos familiares suburbanos, ao ponto dos adultos estarem sem paciência, deixando os primos e irmãos de Kevin praticarem bullying  com o protagonista. Em um revide a uma dessas agressões leves, o garoto molha os passaportes de viagem, sendo posto de castigo por sua mãe, Kate (Catherine O’Hara),  que o isola no porão, em suma, a maior desculpa para ter sido deixado para trás.

    Há tramas paralelas a relação entre uma mãe preocupada e seu filho arteiro, como o ingressos dos dois assaltantes, Harry (Joe Pesci, que faz um esforço hercúleo para não pronunciar palavrões), que até se dá ao trabalho de se fantasiar de policial, e de Marv (Daniel Stern), que na intenção de assaltar a casa na ausência do clã, mas é nos agouros de uma criança, solitária e repleta de imaginação que moram os reais problemas que o roteiro de John Hughes alude. Kevin é deixado sozinho graças a correria que seus pais, tios e irmãos protagonizam, fator causado pelo claro cansaço que a rotina produz neles, gerando um desejo tão grande de fugir do cotidiano opressor da cidade de Chicago, que a falta de um dos membros da família simplesmente não é sentida ao partir.

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    A criatividade da criança faz ver apuros que não existem, seguidas de atitudes pouco condizentes com o comum a um menino de sua idade, preparando ardis para os arrombadores, através de sombras causadas por objetos que ele monta em sua sala. A inteligência que ele demonstra talvez seja a manifestação da hiperatividade que sua mente produz, sobrecarregada pela paranoia enérgica comum ao quotidiano do americano médio. Kevin é o filho do meio, tanto em seu seio familiar, como na representatividade do comum cidadão inerte, inapto e sedentário do centro-oeste americano.

    O esmero de Kevin em montar armadilhas em sua casa confunde o analista quanto a origem desta influência, variando entre o arquiteto com sede de sangue Paul Kersey de Desejo de Matar e o veterano do Vietnã John Rambo. Em comum com o rapaz, os dois heróis de ação têm a desolação por estarem isolados do estado normativo de psique e sentimentos, e claro, a característica de servir como entretenimento fugaz para o seu público alvo específico. A repetição de piadas e situações tem um alvo óbvio, que é alcançar o clichê de humor infantil que normalmente funciona, e que no longa, logra exito. A expectativa por instaurar a normalidade narrativa faz contraponto com a trajetória incomum do garoto, que mesmo solitário e abandonado, consegue ter mais sobriedade e sabedoria do que qualquer adulto, rivalizando essa personalidade brilhante intelectualmente com a clara nostalgia originada de um filme que é considerado exemplar na temática natalina.

    O desfecho adocicado combina com a temática pueril e é condizente com o comum as comédias desta época anual. O fator mais discutível nem é o retorno da família à Paris e a quantidade de gastos exorbitantes desperdiçados entre ida e volta ao menos da parcela familiar envolvendo os pais e  fraternos de Kevin, e sim a necessidade que o protagonista tem de aprovação de Buzz (Devin Ratray), seu irmão mais velho e agressivo. A camada superficial do roteiro de Hughes tem como alvo a criança que assiste o filme, e a mais contestatória é bastante inspirada, mostrando como o consumismo desenfreado e o stress diários podem afastar pessoas que têm um vínculo sentimental inexorável, fazendo inverter até as prioridades tradicionais, unindo a isto uma fita divertida  e burlesca.

    Compre: Esqueceram de Mim

  • Crítica | Meu Primo Vinny

    Crítica | Meu Primo Vinny

    Os filmes de tribunal sempre tiveram seu público. Em geral, são filmes dotados de grande carga dramática, tramas intrincadas e pautados nas relações e emoções humanas. Um grande exemplo do gênero é o clássico 12 Homens e Uma Sentença, magistralmente dirigido pelo mestre Sidney Lumet e estrelado por Henry Fonda, em uma de suas mais marcantes interpretações. São poucos os exemplos de comédias ambientadas em um tribunal, e Meu Primo Vinny é disparado a melhor fita de todas.

    Trabalho mais relevante da carreira do diretor Jonathan Lynn, com roteiro de Dale Launer, o filme conta a história de Bill Gambini e Stan Rothstein, dois jovens de Nova York que, ao viajar pela região rural do estado do Alabama, acabam sendo julgados por um assassinato que não cometeram. Por não ter muito dinheiro, Bill resolve recorrer ao seu primo Vinny Gambini, um advogado recém-formado, que não possui nenhuma experiência, para defendê-lo perante o grande júri.

    O diretor Jonathan Lynn conduz com competência o filme, e o roteiro de Dale Launer é muito divertido, uma vez que centra boa parte das piadas no grande contraste cultural entre os nova-iorquinos Vinny e sua namorada Mona Lisa, e os habitantes da ficcional Beechum County. Os diálogos e situações são excepcionais, e algumas situações um pouco mais absurdas, como a dificuldade de dormir que Vinny enfrenta, são muito engraçadas. A cidade também é muito bem filmada, e suas locações são mostradas em detalhes, ajudando a detalhar o “mundo estranho” ao qual o local pertence. Além do mais, o filme consegue fazer uma reprodução bastante fiel dos procedimentos que circundam um júri popular nos EUA.

    Joe Pesci dá um show como Vinny Gambini. Apesar de ser baixinho, seu jeito estranho histriônico e seu timing de comédia o agigantam na tela. Suas interações com o conservador juiz, interpretado por Fred Gwynne, e as cenas em que ele interroga as testemunhas são ótimas. Os jovens Bill e Stan são interpretados com competência pelo eterno Karate Kid, Ralph Macchio, e Mitchell Whitfield. Porém, o grande show é de Marisa Tomei. Esbanjando charme e comicidade, a atriz consegue uma atuação natural e extremamente engraçada, sendo responsável pelos melhores momentos do filme e pelo clímax surpreendente. Os boatos maldosos de que Jack Palance teria lido errado o envelope que premiou Marisa com o Oscar de melhor atriz coadjuvante não merecem eco. Sua performance foi sim merecedora do prêmio.

    Fãs de filmes de tribunal ou de comédia serão bem agradados por este Meu Primo Vinny, uma comédia esperta, de diálogos divertidos, situações engraçadas e que não apela pra escatologia em nenhum momento, fato esse que a torna praticamente obrigatória.

  • 5 Filmes Essenciais Sobre Cassino

    O cinema sempre nos fez pressupor que cassinos são formados por luzes de halogênio, acesas o tempo todo, homens bem vestidos e mulheres sedutoras. Não que tais máximas não sejam verdadeiras. Porém, diante de tantas maneiras de apostar e conquistar o público com boas histórias, selecionamos cinco obras essenciais.

     

    Onze Homens e Um Segredo (Ocean´s Eleven, 2001)

    Baseada na produção de 1960, com Frank Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis Jr., Peter Lawford e Joey Bishop, Onze Homens e Um Segredo trouxe novamente o cassino às tramas hollywoodianas e foi o responsável pela realização de diversos filmes com temáticas parecidas, que faziam de um assalto excêntrico e ousado o elemento central da ação.

    Neste remake, dirigido por Steven Soderbergh e estrelado por George Clooney, Brad Pitt, Matt Damon, Julia Roberts e Andy Garcia, o equilíbrio entre estilo, bom humor e um plano de assalto mirabolante é composto com perfeição. Formado por estereótipos bem delineados – o galante, o braço direito, o engenhoso, o habilidoso, o esquivo, a mulher fatal, o vilão –, o enfoque da narrativa é produzir uma história para o grande público. Diante deste espetáculo, a trama não poderia ser mais óbvia: um homem apaixonado que faz de tudo para reconquistar a ex-mulher.

    A direção de Soderbergh, que já havia misturado humor e ação em Irresistível Paixão, adaptação do livro de Elmore Leonard, traz maior requinte à história. Um roubo que se aproxima de uma obra de arte.

    Cassino (Casino, 1995)

    Martin Scorsese retorna ao submundo – depois de Cabo do Medo e Época da Inocência – nesta produção épica que carrega tudo o que há de melhor em seu estilo. Uma produção longa, brutal, em que nenhuma saída dramática é fácil. A trama se baseia na história de Frank Rosenthal, um judeu que assumiu grandes cassinos para a máfia na década de 70.

    Com Robert De Niro e Joe Pesci, com quem já havia trabalhado em outra obra mafiosa do diretor – Os Bons CompanheirosScorsese está à vontade em seu habitat natural e, como novidade, apresenta uma Sharon Stone como mulher linda, loira e fatal. Além da violência excessiva, a narrativa feita em off e os espaços temporais entrecortados comprovam a genuína marca de Scorsese.

    Até hoje, o diretor nunca deixou que as imposições de estúdios impedissem a metragem de suas produções, propositadamente longas, narrando com detalhes as jornadas de seus personagens. Um dos grandes filmes do diretor, sem dúvida.

    Cassino Royale (Cassino Royale, 2006)

    A obra primordial de Ian Fleming, finalmente gravada em 2006 e com um novo James Bond (Daniel Craig), foi capaz de promover uma bem-sucedida trinca: consagrou o novo Bond em um tipo diferente dos vistos até então, trouxe a um novo público um clássico personagem e soube ser fiel à obra original sem perder seu estilo.

    Na versão, o bacará do original cede espaço ao poker, um dos jogos mais populares até mesmo no espaço virtual. Envolvendo o jogo de espionagem, o agente com licença para matar deve competir nas mesas contra Le Chifre (Mads Mikkelsen), um banqueiro com investimentos no submundo. A trama dirigida por Martin Campbell produz um dos jogos de poker mais aflitivos do cinema, em parte devido às boas interpretações de Craig e Mikkelsen.

    Além deste impasse, as cenas de ação apresentam um estilo diferenciado, fundamentando um conceito de realidade que a trilogia Bourne ajudou a criar: um estilo de luta menos coreografado e mais brutal, longe do balé da década de 90. Muitas grandes cenas da produção – como a perseguição de carros e a tortura sofrida por Bond – vieram diretamente da obra de Flemming. Um clássico que não envelheceu.

    Crupiê – A Vida em Jogo (Croupier, 1998)

    Após anos distante do cinema, Mike Hodges (Carter – O Vingador, Flash Gordon) retorna com este drama sobre um escritor falido, que retorna à sua antiga profissão de crupiê graças ao um pedido do pai. Conduzido com uma parcela de um thriller de mistério, foi graças a este papel de Clive Owen, no papel central de crupiê, que seu talento foi evidenciado com atenção suficiente para estrelar produções como Rei Arthur e Closer – Perto Demais.

    O rosto sisudo e o olhar penetrante do ator adequavam-se à vida desencantada de um homem incapaz de galgar sucesso na profissão desejada. Seu papel como crupiê é melancólico, uma mera subsistência banal. Um símbolo de uma vida paralisada, que parece não se importar com as ações – criminosas ou não – as quais pode cometer. É um drama cuja análise concentra-se na existência do próprio ser e suas motivações pessoais, sem nenhum arroubo de violência explícita ou glamour.

    Maverick (Maverick, 1994)

    Mel Gibson ainda era cool e Richard Donner, diretor de filmes significativos quando Maverick, adaptado da série homônima de 50, estreou nos cinemas. A trama apresentava dois elementos-fetiche que sempre encantaram uma grande parcela do público: o ambiente western e jogos de aposta. Uma história que parecia impossível dar errado.

    Sem perder o tom aventuresco, o roteiro de William Goldman (Todos Os Homens do Presidente, Uma Ponte Longe Demais, Louca Obsessão e Butch Cassidy) apoia-se no humor para apresentar a história do malandro Maverick, que junta o dinheiro necessário para um jogo de apostas em um barco do Mississipi e acredita ser capaz de sentir as energias das cartas antes de tirá-las – uma das cenas mais divertidas da produção.

    Se hoje o gênero Western é pontuado pelo lançamento anual de poucos filmes, ainda na década de 90 grandes obras foram relevantes, tanto as que se apoiaram no drama, caso de Os Imperdoáveis, quanto nesta comédia aventureira, bem realizada e que não envelheceu.

  • Crítica | Era Uma Vez na América

    Crítica | Era Uma Vez na América

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    Sergio Leone teria recusado dirigir a versão cinematográfica do best-seller de Mario Puzo, entre outros motivos, para fazer o seu próprio filme de gangsters americanos. Era Uma Vez na América não poderia começar de forma melhor – violentíssimo, mostrando uma perseguição implacável a David Noodles, personagem de Robert De Niro. Os temas de Ennio Morricone casam perfeitamente com a ambientação – e é impossível não comparar seu trabalho com o de Nino Rota em O Poderoso Chefão, tão competente quanto – sua trilha concorreu ao Globo de Ouro de 1985 e ganhou o Bafta do mesmo ano. A música preenche os vazios de diálogo e eleva a aura do filme, tornando-o edificante e nostálgico em questão de segundos.

    A história segue uma linha do tempo pouco linear, e transita por três épocas: anos 20, na tenra infância da “gangue”, anos 30 com o auge de suas ações e anos 60 com a velhice e amargura de David, único sobrevivente da época marginal. A reconstituição de Nova Iorque beira a perfeição, com um trabalho primoroso da direção de arte – que também venceu o Bafta.

    Não é só a violência exposta em tela que trata de temas espinhosos, o texto também. Ainda adolescente, o personagem principal suborna um policial, acusando-o de forma justa, de cometer pedofilia. A marginalidade torna-se algo comum para ele e seus amigos, que logo sofrem um enorme baque ainda neste primeiro momento, fato que mudaria principalmente a vida de David – que viria a ser preso e só retornaria já adulto.

    O foco do filme são as relações, seja a amizade entre o protagonista e Max, um James Woods perfeito no papel, que passa por percalços e vai da rejeição no início, passa pela empatia e fraternidade e desemboca no remorso inevitável, após uma enorme divergência quanto as áreas de atuação, em especial no fim da Lei Seca.

    Outro vínculo explorado é o amor nunca concluído de Noodles com Deborah – a razão aparente para ambos não ficarem juntos é vida de “rufião” do protagonista, além claro da possessividade dele – “Você me trancaria e jogaria a chave fora!”, e ele responde positivamente, e ambos percebem o inevitável, mas antes que pudessem se despedir, um ato põe números finais a união que jamais existiu, deixando Deborah magoada e afastando de vez os dois apaixonados.

    O protagonista havia mudado de vida após um assalto que tomou a vida de seus três parceiros do crime, trocou sua identidade e se isolou, até receber um convite a uma festa. Remexer no seu passado o machuca e o faz viajar pelos bons e maus momentos que vivera, mas o que o manteve na cidade foi principalmente a curiosidade. Relembrou do plano megalomaníaco de Max, e descobre que tal artimanha era uma forma sofisticada de suicídio, pois seu amigo se via em um beco sem saída, mas não teria coragem o suficiente para fazer o que tinha que ser feito. Voltar a essas lembranças é torturante para ele, a culpa e o remorso o corroem.

    O motivo do convite se revela, o Senhor Bailey, político casado com o antigo amor de Noodles, o chama para que ele faça um último favor e possa assim enfim fazer justiça. Mesmo após perceber que grande parte da culpa que viveu foi em vão, o herói falido não cede aos seus instintos básicos e a chance da desforra, na verdade recusa o pedido de uma das pessoas que este sempre amou – os papéis se invertem, pois é Bailey que se ressente no final e tal rejeição é para ele um enorme golpe. “Meu amigo morreu num assalto, e eu o entreguei!”.

    O final é melancólico e até depressivo. O rancor de Noodles feriu sua amada, e o rancor de Deborah a impediu de ser feliz em sua velhice, aliando-se aos adversários de quem ela amava. A últimas cenas amarram as pontas soltas desde começo. O roteiro serve como uma crítica ao American Dream, principalmente quanto à gana por alcançá-lo, aliado a ganância e cobiça, suplantam as necessidades e sentimentos humanos. As cortinas se fecham, mostrando David Noodles jovem, ébrio, anestesiado, apático e a espera da tristeza que ocupará sua vida até a velhice.

  • Crítica | Máquina Mortífera 3

    Crítica | Máquina Mortífera 3

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    A série Máquina Mortífera é a primeira cagada caça-níquel trilogia estendida que eu consigo me lembrar. O primeiro e o segundo filmes apontavam para um final de trilogia bastante esperado, ou pelo menos é isso o que os números mostram. Enquanto o primeiro filme da série abriu com 6 milhões de receita nos cinemas americanos, Máquina Mortífera 3 arrecadou mais de 33 milhões de dólares na abertura (em 92, isso era muita grana!). Com um número de salas dobrado em relação ao primeiro da série, o terceiro (e que deveria ter sido o último) filme faturou 5,5 vezes mais, provando que todos os americanos, 5 anos após a primeira aventura de Riggs e Murtaugh, ainda tinham fôlego para mais.

    No terceiro filme, a dupla de policiais descobre um esquema de tráfico de armas roubadas do depósito da polícia e distribuídas nas ruas com munição perfurante. Sabendo que um ex-policial importante do distrito está envolvido no esquema, Martin Riggs e Roger Murtaugh trabalham com uma agente da corregedoria e precisam fechar o cerco ao ex-oficial, impedindo seu plano.

    O filme é bom e teria, como citei no primeiro parágrafo, fechado a série Lethal Weapon numa trilogia de qualidade. Houve, durante os 5 anos que separam o primeiro e o terceiro filme, um bom trabalho de amadurecimento dos personagens, ainda que o roteiro deste terceiro seja o mais fraco de todos, na minha opinião. Máquina Mortífera sempre foi mais sobre os personagens, e muito menos sobre o plot policial em si.

    A série sempre foi dedicada e explorar a relação entre os detetives Murtaugh e Riggs, e o terceiro filme não é diferente. Neste, vemos Roger Murtaugh (Danny Glover) já cinquentenário e a uma semana de sua aposentadoria do departamento de homicídios. Martin Riggs (Mel Gibson), apesar de não deixar isso bem claro durante a maior parte do filme, se ressente de perder o parceiro e teme por acabar também com a amizade entre eles. Leo Getz (Joe Pesci) volta para “auxiliar” a dupla mais uma vez e temos ainda a adição da detetive Lorna Cole (Rene Russo), uma detetive da corregedoria que trabalha em uma investigação sobre Murtaugh e se vê obrigada a ajudar na missão da dupla de detetives. Quase tão “mortífera” quanto Martin Riggs, Lorna compõe o quarteto que caça Jack Travis (Stuart Wilson, o vilão Rafael Montero de A Máscara do Zorro) e tenta impedi-lo de escapar impune da venda de armamento roubado do depósito da polícia de Los Angeles.

    Mel Gibson dá mais um show na pele do surtado Martin Riggs e Danny Glover tem uma de suas melhores atuações nesse terceiro filme da série, interpretando um Murtaugh ainda mais inseguro e amedrontado do que no primeiro filme, quando seu personagem conheceu o de Gibson. Joe Pesci repete o trabalho que havia feito no segundo filme sem nenhuma novidade, o que não chega a ser ruim. Rene Russo impressiona na pele da agente especial que é, a princípio, rival da “verdadeira” Máquina Mortífera da polícia, mas depois acaba se tornando seu interesse romântico. Em uma das cenas, Lorna enfrenta sozinha quatro ou cinco capangas do vilão principal, numa sequência bastante cômica e inesperada. O vilão de Stuart Wilson, apelidado carinhosamente por um integrante do Vortex como “Seu Bigode”, é totalmente inexpressivo e com certeza o pior vilão de toda a série Máquina Mortífera. É tão sem graça que sua morte pode passar até desapercebida, ao final do filme, se você não prestar atenção direito…

    A trilha sonora impecável e a direção de Richard Donner, outras duas marcas registradas da quadrilogia, se repetem neste filme. O roteiro e o plot principal, que nunca chegaram a ser protagonistas de nenhum filme da série, são deixados ainda mais de lado neste terceiro filme, dando espaço para os hilários diálogos entre os personagens e os bem dosados momentos de drama com boas atuações. Ao contrário dos outros filmes, este terceiro tem bem menos “massaveísses”, limitando um pouco as cenas de ação e dando um pouquinho mais de importância ao trabalho investigativo dos personagens. Na minha opinião (fortemente influenciada por meu gosto pessoal por roteiros bem trabalhados ou por ação desenfreada), Máquina Mortífera 3 pode ser considerado um trabalho bastante “ok”. O final do terceiro filme certamente não foi tão impactante quanto imaginei, mas com certeza teria sido um fechamento legal para a trilogia se Hollywood fosse sobre cinema, e não sobre dinheiro.

    Ouça nosso podcast sobre Máquina Mortífera.

  • Crítica | Máquina Mortífera 4

    Crítica | Máquina Mortífera 4

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    Em 1998, a popular trilogia se tornou uma quadrilogia. Seis anos após o terceiro capítulo, a “gangue” toda se reuniu para uma última rodada de aventura e muita confusão. Sempre sob o comando de Richard Donner, Mel Gibson, Danny Glover e companhia entregaram um digno fechamento da saga com Máquina Mortífera 4. Como não poderia deixar de ser, uma grande homenagem àquilo que marcou a franquia: uma comédia de ação onde, muito mais do que trama, o foco são os personagens, sua humanidade e o (mais martelado do que nunca) fator família.

    Acompanhando a evolução do cinema de ação, tanto tecnológica quanto conceitual, temos aqui as cenas mais grandiosas e exageradas da série. A começar pela sequência de abertura, onde Riggs e Murtaugh enfrentam um incendiário blindado. A solução? Atirar no tanque de napalm do cara, causando um efeito dominó que explode o bandido, um caminhão tanque e um posto de gasolina. Coisa de fazer Michael Bay aplaudir com lágrimas nos olhos. A consequência inacreditável do evento é a promoção dos dois sargentos para capitães da polícia de LA. A “explicação” é que eles precisam ser retirados das ruas, pois o seguro do departamento se recusa a cobrir as constantes destruições do patrimônio público que eles promovem.

    Tal promoção acaba não fazendo nenhuma diferença, pra variar. Eles vão trombar por acaso com a ameaça da vez, uma operação de tráfico de escravos vindos da China que se desenrola numa grande conspiração envolvendo a Tríade, famosa máfia chinesa, falsificação de dinheiro e corrupção do governo chinês. Um plot confuso, que visivelmente é apenas uma desculpa para movimentar a história e colocar os personagens pra resolver algum conflito. Nada muito diferente dos filmes anteriores, se pararmos pra pensar.

    Na vida pessoal dos dois parceiros, a novidade é que agora inclusive Riggs se pergunta se não está “velho demais para essa m…”. Prestes a ser pai, considerando casamento, em quase nada ele lembra o maluco suicida de outrora. Essa evolução pode ser creditada tanto ao seu relacionamento com Lorna (Rene Russo) quando a longa convivência com Murtaugh e sua família. Roger por sua vez, não fala mais sobre aposentadoria, mas vai se tornar avô – e não sabe disso. Sua filha mais velha casou-se em segredo com o detetive Butters (Chris Rock, deslocado por estar num papel não assumidamente cômico, mas não compromete). Completando a turma, o veterano Joe Pesci mais uma vez como o surtado Leo Getz.

    E, em seu primeiro papel em Hollywood, Jet Li nos brinda com o melhor vilão da franquia. Com pouquíssimas falas (todas em chinês) e uma agilidade impressionante, ele passa o filme arrebentando a cara de Riggs. Além de criar uma aura tão ameaçadora que rende um momento impagável na batalha final, quando a dupla de heróis se borra de medo do chinesinho que tem metade do tamanho deles.

    Apesar de exagerar em alguns momentos, como a prolongada batalha final e a sequência pastelão/final de novela na maternidade, o filme se manteve fiel à sua proposta. Uma aventura movimentada e muito divertida, com o merecido final feliz para nossos velhos conhecidos. E ainda bem que a franquia não teve uma revisita que poderia estragar tudo isso.

    Texto de autoria de Jackson Good.

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  • Crítica | Máquina Mortífera 2

    Crítica | Máquina Mortífera 2

    Máquina Mortífera 2

    Dois anos após o original, Richard Donner repetiria a dose com a continuação de Lethal Weapon, e neste episódio começa a mil, não perdendo tempo com rodeios – o espectador é jogado logo de início no meio de uma perseguição de carro alucinante.

    Os absurdos do filme anterior continuam: corridas a pé, carros atravessando lojas, discussões enérgicas e infindáveis entre Murtaugh e Riggs – em que nenhum dos dois vence… O problema das continuações em geral é que se perde o elemento surpresa e o investimento maior é na maximização de tudo que deu certo no original. Maquina Mortífera 2 não é diferente nesse quesito. O tom é bem mais leve que o primeiro, solidificando ainda mais o clima de “filme para toda a família”, as piadas são mais frequentes, as gags engraçadinhas também aumentaram assim como o humor de teor racial – plenamente justificável, principalmente pelo contraste com os opositores.

    Um momento que certamente fica na memória de quem vê é cena da bomba presa a privada, enquanto Murtaugh estava… se aliviando, praticamente paralisado por 18 horas. Quando ele se desvencilha da armadilha, há um momento tocante com seu parceiro, mas isso é deixado de lado imediatamente, pois quando o artefato explode a privada cai inteira em cima do carro do policial, sem espalhar sequer um tolete.

    Os vilões são encabeçados por um diplomata sul-africano extremamente racista, que abusa do direito a imunidade diplomática, os absurdos que o bando comete beiram o impossível. Por não poderem “tocar” nos bandidos, os policiais encabeçados pela dupla dinâmica fazem um cerco psicológico aos terroristas, apelando para um tom jocoso, mas sempre político.

    É curioso hoje ver o Mel Gibon com uma placa na mão com os dizeres:
    “ End Apartheid Now!”

    A trilha de Metais continua pontuando os momentos importantes do filme, principalmente os de emboscada. Maquina Mortífera 2 investe mais em ação que o primeiro, em detrimento dos conflitos, e suas cenas são mais bem elaboradas e tensas.

    Com o decorrer da trama, Riggs se vê diante de seus fantasmas novamente, é confrontado e obrigado a reviver o trauma da morte de sua esposa e tem a chance de vingança que tanto buscava. Mel Gibson está muito mais a vontade no papel, assim como Danny Glover. O personagem de Joe Pesci (Leo Getz) é insuportável, mas sua chatice é proposital e serve bem a trama. Por vezes há oportunidades de Murtaugh se corromper e por as mãos no dinheiro sujo, mas o seu código moral não permite que ele caia em tentação, e apesar desta menção a abordagem ao tema é bem superficial. Ponto alto mesmo do tira veterano é a solução para o imbróglio da imunidade diplomática, resolvido com uma atitude típica dos filmes de brucutus dos anos 80.

    A mensagem no final mostra Martin Riggs decidindo por parar de fumar, escolhendo assim a vida, mesmo após enfrentar os seus medos. Máquina Mortífera 2 não é superior ao primeiro filme, mas faz seus personagens e as situações evoluírem, e por isso vale muito a pena ser (re)visto.

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  • VortCast 25 | Máquina Mortífera

    VortCast 25 | Máquina Mortífera

    vortcast25

    Bem-vindos à bordo. Nesta edição Rafael Moreira (@_rmc), Jackson Good (@jacksgood), Nicholas Aoshi (@aoshi_senpai) e o Hell do Melhores do Mundo (@melhoresdomundo) se reúnem para comentar uma das mais importantes séries do cinema policial, a quadrilogia Máquina Mortífera.

    Duração: 97 min.
    Edição: Rafael Moreira
    Trilha Sonora: Rafael Moreira

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