Tag: marlon brando

  • Crítica | Apocalypse Now

    Crítica | Apocalypse Now

    O filme de guerra definitivo, ou quase isso. Quase porque existe Vá e Veja, mas Francis Ford Coppola chegou muito perto em 1979 de roubar o trono desse filme soviético – essa sim, a mais delirante história de conflitos militares já feita no cinema. Veja: a perspectiva histórica aqui não poderia ser evitada, já que estamos pisando num panteão de lendas e falando sobre monumentos titânicos de uma arte engrandecida por tais façanhas. Apocalypse Now, por exemplo, é fenômeno único, um tour de force que jamais será repetido ou reproduzido pelos efeitos especiais de um James Cameron. Poucas vezes Hollywood foi tão longe com as suas imagens, tão verdadeira ao enquadrar o caos e o horror que leva um país a atacar o outro, e dentro dele, se desesperar. O diretor de O Poderoso Chefão, na década do seu mais famoso diamante, ainda estava com uma fome incontrolável de cinema, fome de contar a história mais ousada que ninguém mais seria louco de contar. E depois disso, não teve como não saciá-la.

    Baseado nos livros Despachos no Front e No Coração das Trevas, no auge da fracassada guerra do Vietnã, um coronel americano louco por poder se deserta do exército, e passa a comandar uma tropa de nativos para resistir a outros brancos invasores. O coronel Kurt (Marlon Brando) não é maluco por enxergar o imperialismo do seu povo e não aceitar sua manipulação, mas por reproduzi-lo nos vietnamitas por conta própria. Assim, uma missão saindo de Saigon visa localizar e exterminar Kurt nas profundezas das selvas de um país-manicômio, lar de um inferno na Terra devido à forte invasão “democrática” dos EUA. Helicópteros avançam ao som de Wagner numa cortina de fogo enquanto o Vietnã explode mas revida, não só com armas improvisadas nas mãos de civis, e sim com a loucura que volta como um bumerangue e atinge como um míssil a mentalidade cada vez mais fragilizada do capitão Willard (Martin Sheen) e seus recrutas. Se quem não fala inglês merecia morrer, a intolerância e a petulância dos americanos nunca sofreu por isso um carma e um trauma tão fortes igual aqui. Ninguém vai voltar pra casa, e se voltarem, nenhuma psicóloga vai lhes ajudar com os gritos daquelas crianças.

    Bem antes do coronel/ ditador Kurt finalmente expor sua face, num magnífico plano negro e alaranjado dentro de um purgatório conquistado por sua soberba de imperador, Coppola critica de forma visceral a política de invasão dos Estados Unidos através de suas consequências com os envolvidos, homens antes comuns e que perdem a moral e a sanidade servindo a pátria. Com toda a certeza pode-se averiguar que o Oscar de 1980 foi negado a Apocalypse Now por este ser dois dedos na ferida americana, potente demais na força de sua mensagem nada subliminar. Para atingir a experiência de uma catarse cinematográfica naturalista, Francis Ford Coppola quase se suicidou com as dificuldades no Vietnã, liderando uma tropa de atores e técnicos sob total pressão do governo local, com grana do próprio bolso financiando as filmagens, e um Marlon Brando impossível de se trabalhar junto (muito acima do peso, alcoólatra e relutante até o último segundo de viver na mata fechada para interpretar Kurt), além dos prejuízos financeiros pessoais e ao estúdio – o martírio nunca chegava ao fim, e os jornais já acusavam a aventura de O fracasso. O universo queria Coppola no sanatório, mas ele já estava dirigindo o seu.

    Hoje, quarenta anos depois e com várias versões do diretor, é um exagero aceitável afirmar que Apocalypse Now e Agonia e Glória, de Samuel Fuller, foram os últimos épicos de guerra vindos de Hollywood, cinemão em todos os aspectos, sujos e que nunca apelam a extravagâncias, com suas vaidades técnicas poderosamente bem aplicadas numa duração a qual nunca desejamos o fim. Steven Spielberg tentou em 1999 um feito parecido com o seu grande O Resgate do Soldado Ryan, e anos antes Oliver Stone tirou seu Platoon da manga, filme-propaganda americana e repleto de apologias irritantes que Spielberg romantizou até o talo com seu sentimentalismo divertido mas hipócrita (a bandeira americana dançando no vento ao som de fim de novela). A ironia mora, talvez, no fato de Trovão Tropical, a paródia meio esquecida de tudo isso feita por Ben Stiller, em 2008, ser bem mais interessante que toda essa panfletagem do Tio Sam. Coppola, se a fez, fez para subvertê-la sem medo. O mundo é um teatro regido por doidos que dormem mal, e esse foi aonde ninguém foi, ganhou Cannes e dinheiro nenhum, e quase se matou no carnaval pagão de criar a sua própria Monalisa de celuloide.

  • Crítica | O Poderoso Chefão

    Crítica | O Poderoso Chefão

    Impressiona que a primeira fala dita no clássico de Francis Ford Coppolla, O Poderoso Chefão seja dada por um homem dito “comum”, um homem chamado Bonasera, que começa  seu monólogo dizendo que acredita na America. Aos poucos, a câmera se afasta do rosto de Salvatore Corsitto, para mostra-lo em um escritório, onde é recebido pelo dona da festa de casamento, o pai da noiva Don Vito Corleone, de Marlon Brando, e seu fiel escudeiro, o advogado alemão-irlandês Tom Hagen (Robert Duvall), seu filho adotivo e seu primogênito Santino  Sonny Corleone (James Caan), nesse que seria o núcleo das principais discussões e dos rumos que a família tinha, ainda mais com a saída de Genco do posto de Consigliere.

    Pela tradição italiana, um pai de família, poderoso e ligado as leis da Omertá não pode recusar um pedido de uma paisano, mesmo que ele despreze a pessoa que o pede – como ocorre aqui – mas a ideia é mostrar que há um código de honra sobre eles, mesmo sobre os que são ditos marginais. A máfia era a lei acima da lei, e ao menos nesse ponto, há zero romantismo no filme e no conto original de Mario Puzo.

    Esta adaptação do livro O Poderoso Chefão – que em outras traduções anteriores, era chamado só de O Chefão – é mais que um simples filme sobre bandidos e mafiosos estilosos, e é mais que uma historia sobre respeito ou protagonizada por anti heróis. A historia é rica e algo que colabora para isso é o fato de haver dois protagonistas, o veterano e já citado Brando, que , e claro seu filho, Michael, sendo que ambos foram bancados pelo desejo e insistência do realizador, por motivos diferentes, já que Brando era difícil de lidar e Al Pacino era um iniciante ator, conhecido somente no teatro. Essa dupla mostra dois  homens diferentes, ligados pelo laço de sangue, um sendo um sujeito já cansado e idoso, que está mais na ação direto mas ainda dirige os negócios da organização/família, e outra do veterano de guerra, que acompanhado de sua amada Kay Adams (Diane Keaton), diz que quer se distanciar de sua familia, mas que obviamente não consegue isto e vai aos poucos  se tornando um herói falido.

    O filme mistura momentos de explicações de como funcionam os meandros da Cosa Nostra, e outros mais sutis, como a total falta de tato de Luca Brasi , um homem feito por Lenny Montana, que mal consegue falar, mas que um pouco mais a frente está completamente a vontade ao preparar sua arma para um trabalho. Não é preciso muitos momentos para entender quem ele é, aliás o casamento é cheio destes momentos, no romance Puzo explica as indiscrições de Sonny, e aqui, se percebe as infidelidades  dele quando sua mulher pede para ele se comportar, ou quando a mesma faz um gesto com as mãos, mostrando um crescimento (no livro fala-se abertamente que ele tem um membro comparável com a de um cavalo, aqui há mais elegância e sutileza), o mais explicito dos personagens é exatamente a “ovelha desgarrada”, o correto Michael, que indignado com os rumos dos seus, conta as historias de Luca, de Johnny, discorre sobre a sucessão do Consiglieri, sobre ofertas irrecusáveis, sobre como esse mundo funciona.

    O casamento é um início perfeito, pois nele se percebe não só o modo de operar dos parentes, como a proteção  e os favores que os mafiosos prestam aos membros de sua comunidade, a influência que eles “exercem” sobre artes como a música e cinema, a postura que um homem tradicional italiano deve ter e até a recusa de Kay em participar dos  eventos familiares de seu amado, já que ela não quer sequer estar na foto do clã, e só o  faz por  insistência do rapaz. São  27 minutos que sutilmente passam praticamente toda a mensagem que o filme passará.

    Há um cuidado enorme da obra em retratar bem sua época, um esforço de Coppolla, que brigou muito com o estúdio para que fosse assim, independente do preço que custasse e a briga obviamente valeu a pena. As mansões, as vielas e até os estúdios de Woltz primam por uma atmosfera fiel e forte a época clássica do auge da criminalidade ítalo-americana, embaladas pela musica de Nino Rota e principalmente pelo tema principal, que está presente nas ações de Vito, nos crimes mais chocantes como o da cabeça do cavalo ou nos futuros atos de Michael.

    Mesmo as transições Fade In entre as ações malvadas e a intimidade da família soam boas. O artifício, que na maioria dos filmes não é bem traduzido aqui é usado de maneira sábia, talvez emulando o tradicional e cartesiano modo de pensar de Vito. É engraçado, como mesmo sem mostrar o passado do homem, se percebe que ele entende do riscado, entende como os negócios fluem. Seu modo veterano de ver as ações e o respeito que presta a qualquer sujeito que se aproxime dele com oportunidades de trabalho, mas isso não o faz parecer fraco ou frágil quando recusa trabalhar com o Turco Sollozzo (Al Lettieri), aliás, mostra-o a frente de seu tempo, ao não querer trabalhar com narco tráfico, uma vez que as penas para esse tipo de crime é enorme, e comprometeria a lei do silêncio. Claramente Corleone é mais esperto  e tem mais inteligência emocional (e opções, claro) que o cubano Tony Montana de Scarface, que se mete com entorpecentes assim que chega a Miami, e vê sua ruína assim.

    O Poderoso Chefão tem uma historia bem comum, de ascensão e derrocada de uma família e de sucessão hierárquica sanguínea, fosse um diretor menos preocupado com o legado dos italianos nos Estados Unidos certamente seria mais um filme genérico sobre criminalidade. Há momentos muito únicos no livro que são levados a tela de maneira muito singela, simples, mas carregada de emoções muito reais. A aposta tola que Sollozo faz na ganância de Sonny só dá certo porque Caan consegue emular bem o comportamento dos italianos que assistiu sua vida inteira, no bairro onde cresceu, e a facilidade que ele tem na transição do sujeito que quer dinheiro para o passional capaz de matar todos seus inimigos e capaz de espancar quem agride os seus impressiona, assim como também se nota uma ótima entrega de Lettieri, mesmo sem muito tempo de tela, só há sentido em ele acreditar que é o primogênito o elo mais fraco entre os Capos uma vez que o desempenho desses dois atores é tão intenso e repleto de uma entrega sincera aos seus papéis.

    Mas Sonny não estava de todo errado, e por mais mimado (e estragado, pela America tão louvada pelos velhos italianos) que ele fosse, ele estava correto, o jogo mudou, e mesmo com a honra entre as famílias, as drogas mudaram o jogo, e não haveria paz enquanto os Barzini, Tattaglia, Cuneo e Stracci estivessem vivos. Assim como o Crime Organizado mudou o paradigma da bandidagem do velho oeste, as drogas mudaram o modo de lidar com a máfia. Sergio Leone em seu Dossel dos Dolares já havia aludido isso, mas fez isso mais profunda e obviamente entre Era Uma Vez no Oeste e Era Uma Vez na America, e o filme de Coppolla certamente influiu na liberdade que o diretor de Westerns teve para conduzir essas duas obras. A nacionalidade de Francis Ford também o ajudou e muito, por todos os fatores já citados, ele sabia do que falava.

    O passeio que se faz pela Nova York de 1945 impressiona, realmente Little Italy clássica, Broklyn e a Cozinha do Inferno foram bem remontadas. Em ritmo de guerra, se mostram os exemplos aos traidores, sempre mortos e deixados a vista, em lugares ermos, mas não são escondidos. É preciso mostrar como funcionam as coisas, e também táticas de guerra, e intimidades entre os paisanos, pois Clemenza (Richard Castellano) cozinha, faz molho de tomate para uma macarronada que alimentará vinte homens. Esse comportamento típico do exercito italiano é surpresa para Michael, mesmo ele tendo chegado a pouco da guerra, como é dito sobre ele, por seu padrinho (o próprio Clemenza), naquele cenário, ele é civil, é o peixe fora o oceano e do mar revolto.

    É engraçado e curioso como se constrói a tensão na cena do hospital, em que Michael está cuidando de seu pai, e onde se percebe que haveria uma emboscada. Mesmo renegando seu legado de sangue, o filho desgarrado faz um plano de contingência e se aproveita da chegada do pobre Enzo, o padeiro, para fingir que há  uma ronda no hospital, mesmo quando não há. O pobre trabalhador treme muito, ao acender o cigarro, é o garoto que o consola e o mantém calmo, ele é seguro, tem nervos de aço, e a vaidade dos seus irmãos, pai e parente, tanto que é o soco que leva de McCluskey (Sterling Hayden ) o catalisador do seu futuro.

    A subsistência dos negócios depende de não ser passional, de não se levar as rotas por momentos pessoais. e mesmo que Santino demonstre que está errado, o mais racional dos filhos, Michael, também embarca igual. A discussão em torno de quem está certo (os irmãos de sangue ou o congliere adotado) se torna subalterna pelo simbolismo, na cena onde Michael está sentado, contando seu plano, dando ordens sobre os mafiosos experientes, e apesar do deboche  de Sonny, Tessio (Abe Vigoda) e até de seu padrinho, ele acaba sendo o soberano, naquele momento. As cenas fechadas, com closes no rosto dos que fazem parte dos Corleone são  ótimas, fazem a pressão aumentar e a tensão crescer.

    Toda a curva de violência passa necessariamente pelas ações do protagonista mais novo, alias, e é após sua fuga que começa a chacina entre os filhos da Itália, com o próprio indo para terra dos seus parentes.  O rapaz, que estava sendo preparado por seu pai para ser um homem fora dos negócios, para ser um político ou algo que o valha se torna assassino, enquanto seu irmão mais velho tem a cabeça quente e derrama toda sorte de sangue nas ruas. A hesitação de “Miguel” prossegue na Itália, e seu casamento é a prova disso, de que ele mesmo querendo voltar ao seu país, via também a possibilidade de não viver aquela vida, mas a tragédia o persegue, e não o deixa escapar. O infortúnio de seu irmão mais velho o fez perceber que a raiva não poderia ser o norte, e reforça a ideia de que enquanto houverem cinco famílias, uma delas sempre correrá perigo.

    A evolução do personagem é enorme, o reencontro dos antigos apaixonados ocorre só um ano após o herdeiro dos Corleone retornar, por conta de luto, planejamento e muita frieza. A legalização tão perseguida no terceiro filme é aludida já aqui, mas obviamente não ocorreu nos cinco anos que ele prometeu, e para isso era preciso mudar hierarquia familiar e o exercito como um todo. Enquanto Vito era agregador, e considerava sua família a prioridade, Michael é pragmático, não hesita em tirar Tom de seu posto, ou de contrariar Fredo, ele é tão frio que soa até insensível, e é nesse momento que Pacino mais brilha, pois ja tinha mostrado uma faceta idealista e agora, aposta em um sujeito resignado e que, apesar de fazer o necessário para subsistir, não tem a mesma sensibilidade do pai, que fugiu de Corleone para viver.

    As curvas finais do filme mostram uma natural e fluida transição de poder entre gerações.  A conversa no jardim além de mostrar que Vito é uma velha e esperta raposa, que prevê que Barzini tentará matar outro filho seu, ainda mostra o receio do velho pelo destino do seu herdeiro. Sua intranquilidade não é por achar que a família estará em mãos erradas, mas sim porque para ele, tudo aquilo era inconveniente. Ele queria que ele fosse um senador, governador ou algo assim. O desejo do pai sempre foi que os seus não sofressem, que não fossem parte da estirpe que machuca e sangra sua nova pátria, mas a falência de seu destino era exatamente essa. Seu fim é melancólico, uma dádiva divina que ele possa perecer com sua família, e não cravejado de balas em vielas, ou em uma auto estrada, ele cai de velhice, perto das laranjas que serviram de signo durante todo o passar do longa, vigiado pelos olhos inocentes de seu inocente e brincalhão neto que pouco antes, achava que ele era um monstro.

    A morte de Vito foi um evento, bem como seu  enterro. Com ele, certamente iriam toda a influência dos Corleone e era preciso requalificar as forças, remanejar e reequilibrar a balança. O batismo, o assumir o apadrinhamento que Michael faz beira o poético, lembra o teatro shakesperiano  mais clássico, o trágico, o violento, mostra quem eram os fracos e corrompidos, mas não deixa esquecer que toda a movimentação é de novo negócios, nada pessoal, embora o acerto de contas bata também em situações pessoais. As perdas envolveriam até sacrifícios para  Michael, pessoas que ele um dia “amou” cairiam, mas isso, de novo, era necessário. Há ainda um cuidado singelo, Tessio não aparece morrendo, só é mostrado ele sendo levado para o abate, há um respeito muito grande com sua figura, mesmo que seja um traidor, e ele não deveria estar no mesmo bolo dos adversários da família, que foram assassinados a sangue frio, e há de se lembrar que nem Fredo teve essa “sorte”.

    A justificativa do nome original, O Padrinho vem da transformação pela qual Michael passou, a mesmo que o jovem Vito de Robert DeNiro passaria em O Poderoso Chefão Parte 2. Ele evoluiu o conceito de seu pai, embora compartilhasse com ele boa parte do código ético. Pouco se lembra de figuras icônicas, como os assassinos Al Neri (Richard Bright) e Willi Cicci (Joe Spinell) pessoas silenciosas, que entram muito rapidamente na trama, para fazer seu papel, acompanhados claro de Clemenza, que mesmo contrariado em certa parte do filme, se manteve fiel, como bom padrinho do protagonista que é.

    As primeiras mortes ocorrem após Michael Francis Rizzi (o sobrinho e apadrinhado do agora Don) renunciar o diabo diante do padre e da pia batismal. A partir dali se desencadeia o ultimo ato desta parte da historia. Tudo o que  seguiria dali para frente seria o cumprimento do juramento silencioso que Michael faria a seu pai, a traição de sua própria pecha, de diferente, um retorno definitivo e irremediável a sua origem sanguínea, tanto em temperamento quanto em religião. Desde a cena da execução de seu cunhado, até o cinismo em consolar sua irmã recém viúva (que alias, seria um dos bons plots na Parte III) faz parte do teatro que precisaria exercer, para Kay e para si mesmo, fingindo não sentir prazer em exercer o poder e a vaidade que lhe são conferidas. A triste ópera de Michael e Vito é fechada com um certo apogeu, mas promessas de mais decadência, violência e tempestades.

    Facebook – Página e Grupo | TwitterInstagram | Spotify.<

  • Os Maiores Atores e Atrizes Indicados ao Oscar

    Os Maiores Atores e Atrizes Indicados ao Oscar

    Uma nova edição de entrega dos Academy Awards, ou simplesmente, Oscar, premiação promovida pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, será realizada em breve. E como de costume, comentamos sobre determinados cineastas, compositores, atrizes, entre outros, que são indicados ano a ano como candidatos ao recebimento de uma das mais importantes premiações do Cinema. Esse ano não seria diferente.

    Em razão disso, confira abaixo a lista de todos os atores e atrizes que mais vezes foram agraciados com indicações ao Oscar, observando o limite mínimo de 8 nomeações. Alguns deles, infelizmente, sem nunca ter recebido o prêmio. Azar do Oscar.

    13. Peter O’Toole (1932 – 2013)

    O irlandês que ganhou o mundo com o filme Lawrence da Arábia trabalhou incansavelmente por mais de cinquenta anos dedicados ao Cinema. O’Toole, infelizmente, é o ator que mais vezes foi indicado sem ter recebido um Oscar. Ainda assim, foi o ganhador de 4 Globos de Ouro, 1 Emmy e 1 BAFTA.  No entanto, em 2003 foi agraciado com um Oscar honorário pelo conjunto de sua obra e pela notabilidade e importância de suas personagens para a história do Cinema. Em 2007, teve sua última indicação por Vênus, vindo a falecer alguns anos depois.

    Indicações: 8
    Lawrence da Arábia (1962), Becket, o Favorito do Rei (1964), O Leão no Inverno (1968), Adeus, Mr. Chips (1969), A Classe Dominante (1972), O Substituto (1980), Um Cara Muito Baratinado (1982) e Vênus (2006).

    Premiações: 0

    12. Geraldine Page (1924 – 1987)

    Atriz advinda do Teatro e adepta do método de interpretação introduzida pelo Actor’s Studio, de Lee Strasberg, Page iniciou nos Cinemas oficialmente no western Caminhos Ásperos, de 1953, onde atuou ao lado de John Wayne e já garantiu sua primeira indicação. Dona de uma carreira brilhante, sua premiação somente ocorreu em sua última indicação, com O Regresso para Bountiful, de 1985. Page faleceu um ano depois da cerimônia de entrega das estatuetas.

    Indicações: 8
    Caminhos Ásperos (1953), O Anjo de Pedra (1961), Doce Pássaro da Juventude (1962), Agora Você é um Homem (1966), Reencontro do Amor (1972), Interiores (1978), Nos Calcanhares da Máfia (1984) e O Regresso para Bountiful (1985).

    Premiações: 1
    O Regresso para Bountiful (1985).

    11. Al Pacino (1940 – )

    Um dos maiores atores vivos, Al Pacino, teve sua estreia como ator protagonista em Os Viciados, de 1971, onde já mostra a que veio, interpretando um jovem decadente que trafica drogas no chamado “Parque das Agulhas”. Indicado diversas vezes por grandes papéis, foi apenas no menor deles que recebeu a merecida premiação, Perfume de Mulher, de 1993. Esquecido pela Academia desde então, apesar de grandes interpretações – devidamente reconhecidas pelo Globo de Ouro, Emmy, American Film Institute, entre outros. Pacino também é conhecido por ser um dos grandes atores do “método” dentro do Cinema.

    Indicações: 8
    O Poderoso Chefão (1972), Serpico (1973), O Poderoso Chefão – Parte 2 (1974), Um Dia de Cão (1975), Justiça para Todos (1979), Dick Tracy (1990), O Sucesso a Qualquer Preço (1992) e Perfume de Mulher (1992).

    Premiações: 1
    Perfume de Mulher (1992).

    10. Jack Lemmon (1925 – 2001)

    Nascido em uma família rica, Lemmon quando jovem não parecia ter qualquer inclinação para as artes cênicas, já que esquecia frequentemente suas falas em peças do colégio, gerando gargalhadas da platéia. Depois de servir na Segunda Guerra Mundial, dedicou-se incansavelmente aos estudos como ator – e ainda se formou com mérito em Ciência Política pela Harvard. Iniciou sua carreira no Cinema com o filme Demônio de Mulher, de 1954. Um ano depois seria indicado por Mister Roberts e ganharia. Avesso à badalação típica de Hollywood aos grandes astros, Lemmon nunca se considerou um astro, mas um operário da arte cinematográfica, que se esforçava para dizer algo. Sua determinação é um exemplo para àqueles que acreditam que o reconhecimento só se dá aos que possuem dons. Um pouco de sorte e dinheiro, talvez, mas muita dedicação, sem dúvida.

    Indicações: 8
    Mister Roberts (1955), Quanto Mais Quente Melhor (1959), Se Meu Apartamento Falasse (1960), Vício Maldito (1962), Sonhos do Passado (1973), A Síndrome da China (1979), Tributo (1980) e Desaparecido: Um Grande Mistério (1982).

    Premiações: 2
    Mister Roberts (1955) e Sonhos do Passado (1973).

    9. Denzel Washington (1954 – )

    O segundo ator negro a receber um Oscar – e isso apenas em 1989 (Sidney Poitier foi o primeiro por Uma Voz nas Sombras, de 1963) -, Denzel Washington tem demonstrado uma carreira prolífica e eclética dentro e fora de Hollywood. Nascido em Mount Vernon, Nova York, e filho de um pastor pentecostal, Washington, inicialmente, cursou jornalismo na Fordham University, mas depois descobriu interesse para a atuação, vindo a se formar em Drama e Jornalismo em 1977, apesar de todas as dificuldades financeiras.

    Em um de seus primeiros trabalhos no cinema em Um Grito de Liberdade (1987), de Richard Attenborough, e dois anos depois veio a ser o vencedor da categoria por Tempo de Glória (1989), de Edward ZwickWashington apareceu em vários filmes notáveis ​​durante a década de 1990, incluindo as colaborações com Spike Lee, como Mais e Melhores Blues (1990), Jogada Decisiva (1998), e claro, a cinebiografia Malcolm X (1992), pelo qual ele foi indicado a um Oscar. Outros projetos desta época merecem destaque como Dossiê Pelicano (1993), Filadélfia (1993), Muito Barulho por Nada (1993), Maré Vermelha (1995), O Diabo Veste Azul (1995), Coragem Sob Fogo (1996), Possuídos (1998) e Hurricane: O Furacão (1999), pelo qual recebeu outra nomeação ao Oscar. Em 2001, recebeu seu segundo Oscar (desta vez como protagonista) pelo thriller policial Dia de Treinamento, de Antoine Fuqua. No ano seguinte, dirigiu seu primeiro filme, o drama biográfico Voltando a Viver, repetindo o trabalho de diretor em mais dois grandes filmes: O Grande Debate (2006) e Um Limite Entre Nós (2016), sendo que o último lhe rendeu indicações ao Oscar em quatro categorias. Washington continuou a explorar uma variedade de papéis, sempre se reinventando, seja nos teatros ou cinemas, à frente ou por trás das câmeras.

    Indicações: 8
    Um Grito de Liberdade (1987), Tempo de Glória (1989), Malcolm X (1992), Hurricane: O Furacão (1999), Dia de Treinamento (2001), O Voo (2012), Um Limite Entre Nós (2016) e Roman J. Israel, Esq. (2017)

    Premiações: 2
    Tempo de Glória (1989) e Dia de Treinamento (2001).

    8. Marlon Brando (1924 – 2004)

    Segundo Martin Scorsese, Marlon Brando “é o marco do Cinema. Há o ‘antes de Brando’ e ‘depois de Brando’”. Considerado um dos maiores e mais influentes atores que o Cinema já teve, Brando era dono de uma personalidade difícil e controversa. De acordo com a revista Los Angeles Times, o ator era o “rock and roll antes que alguém soubesse o que o rock and roll era”. Também era um ferrenho defensor do movimento pelos direitos civis que buscavam a emancipação dos negros e índios norte-americanos. Ao receber o seu segundo Oscar por sua interpretação de Vito Corleone, em O Poderoso Chefão, este não só não foi à cerimônia, como enviou uma representante dos povos indígenas, descendente do povo Apache, Yaqui e Puebloans para rejeitar e protestar lendo seu discurso em prol da inclusão de índios americanos em papéis de destaque na TV e Cinema estadunidenses. O ator ainda é protagonista, ao lado do diretor Bernardo Bertolucci, do polêmico episódio envolvendo Maria Schneider na cena clássica de O Último Tango em Paris, de 1972.

    Indicações: 8
    Uma Rua Chamada Pecado (1951), Viva Zapata! (1952), Júlio César (1953), Sindicato de Ladrões (1954), Sayonara (1957), O Poderoso Chefão (1972), Último Tango em Paris (1972) e Assassinato Sob Custódia (1989).

    Premiações: 2
    Sindicato de Ladrões (1954) e O Poderoso Chefão (1972).

    7. Paul Newman (1925 – 2008)

    Após um início promissor na Broadway, Paul Newman assinou contrato com a Warner Bros.. Seu primeiro trabalho, Cálice Sagrado, de 1954, foi bastante questionável, rendendo o curioso episódio de Newman publicando um anúncio de página inteira num jornal de grande circulação pedindo desculpas pelo seu desempenho e pedindo que as pessoas não assistissem ao filme. Um ano depois se redime em uma performance impecável em Marcado pela Sarjeta, de 1956. No entanto, não lhe rendeu nenhuma indicação. A primeira indicação viria apenas poucos anos depois em Gata em Teto de Zinco Quente, de 1958 e a reconhecida premiação em A Cor do Dinheiro de 1986. Newman ainda veio receber um Oscar honorário em 1986, em reconhecimento as suas muitas e memoráveis interpretações, integridade pessoal e dedicação ao ofício. Em 1994, foi agraciado também com um Oscar humanitário, prêmio dedicado a memória do ator dinamarquês Jean Hersholt (1886 – 1956) que presidiu por muito anos uma organização de caridade que providenciava ajuda aos mais carentes da indústria do Cinema e televisão.

    Indicações: 9
    Gata em Teto de Zinco Quente (1958), Desafio à Corrupção (1961), O Indomado (1963), Rebeldia Indomável (1967), Rachel, Rachel (1968), Ausência de Malícia (1981), O Veredito (1982), A Cor do Dinheiro (1986), O Indomável: Assim é Minha Vida (1994) e Estrada para Perdição (2002).

    Premiações: 1
    A Cor do Dinheiro (1986).

    6. Spencer Tracy (1900 – 1967)

    Descoberto em 1930 pelo diretor John Ford após assistir uma peça na Broadway, Spencer Tracy foi convidado por Ford para estrelar seu próximo filme, Rio Acima. Tracy trabalhou com grandes cineastas, entre eles o já mencionado John Ford, e também Fred Zinnemann, Elia Kazan, Fritz Lang, George Stevens, Michael Curtiz, John Sturges, Vincente Minnelli, Frank Capra, mas certamente sua parceria ao lado de Stanley Kramer já no fim de sua carreira são um dos pontos altos da história da Era de Ouro de Hollywood, em filmes como O Vento Será Tua Herança (1960), Julgamento em Nuremberg (1961), Deu a Louca no Mundo (1963) e Adivinhe Quem Vem Para Jantar (1967). Tracy faleceu três semanas após a conclusão das filmagens de Adivinhe Quem Vem Para Jantar.

    Indicações: 9
    A Cidade do Pecado (1936), Marujo Intrépido (1937), Com os Braços Abertos (1938), O Papai da Noiva (1950), Conspiração do Silêncio (1955), O Velho e o Mar (1958), O Vento Será Tua Herança (1960), Julgamento em Nuremberg (1961) e Adivinhe Quem Vem Para Jantar (1967).

    Premiações: 2
    Marujo Intrépido (1937) e Com os Braços Abertos (1938).

    5. Laurence Olivier (1907 – 1989)

    Sir Laurence Olivier é considerado por muito como o maior ator de língua inglesa de todos os tempos. Sua interpretações das peças de William Shakespeare, seja no Cinema ou no Teatro, proporcionaram-lhe as grandes glórias de sua carreira. E foi em Shakespeare, na adaptação de Hamlet, de 1948, que Olivier foi agraciado com o Oscar de melhor ator. O ator Recebeu ainda o Oscar honorário em 1947, por sua notável atuação como ator, produtor e diretor ao adaptar Henrique V, de 1944, para o Cinema. Em 1979 foi novamente premiado com um Oscar honorário pela dedicação ao seu ofício, as realizações únicas de toda a sua carreira e sua vida de contribuição para a arte do Cinema.

    Indicações: 10
    O Morro dos Ventos Uivantes (1939), Rebecca, a Mulher Inesquecível (1940), Henrique V (1944), Hamlet (1948), Richard III (1955), Vida de Solteiro (1960), Othello (1965), Jogo Mortal (1972), Maratona da Morte (1976) e Meninos do Brasil (1978)

    Premiações: 1
    Hamlet (1948).

    4. Bette Davis (1908 – 1989)

    Bette Davis ficou conhecida pela série de personagens icônicos da Era de Ouro de Hollywood. Dona de um temperamento forte, Davis frequentemente opunha-se as decisões dos grandes estúdios e produtores da época. Aclamada pela crítica, a atriz era considerada por seus pares como a mais perfeccionista intérprete de sua época. Esse comportamento, conforme admitido pela atriz, se deu as custas de sua vida pessoal. Davis foi indicada mais de onze vezes ao Oscar e ganhou a estatueta em duas dessas onze ocasiões. Foi a primeira mulher presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, em 1941, mas renunciou dois meses depois alegando que não havia sido eleita para ser uma figura decorativa, já que a a ala conservadora da Academia não estava disposta a reestruturar a premiação da forma como ela havia planejado.

    Outro episódio importante envolvendo Davis e o Oscar se deu alguns anos antes, quando vários membros da Academia se revoltaram e ameaçaram não votar por conta da ausência do nome da atriz na lista de indicadas, por sua atuação em Escravos do Desejo, de 1934. Por conta disso, a Academia informou aos seus membros que, caso quisessem, poderiam votar em Davis. A história mostra que Davis não ganhou, mas demonstra muito de sua força ainda no início de carreira. A atriz detém o recorde com o maior número de indicações consecutivas, 5 ao todo. Bette Davis continuou atuando até pouco antes de sua morte por câncer de mama, em 1989.

    Indicações: 11
    Escravos do Desejo (1934), Perigosa (1935), Jezebel (1938), Vitória Amarga (1939), A Carta (1940), Pérfida (1941), A Estranha Passageira(1942), Vaidosa (1944), A Malvada (1950), Lágrimas Amargas (1951) e O Que Aconteceu com Baby Jane? (1962).

    Premiações: 2
    Perigosa (1935) e Jezebel (1938).

    3. Jack Nicholson (1937 – )

    Jack Nicholson é conhecido pelas personagens que interpreta. Dotados de complexidade física e psicológica, o ator sempre soube agarrar tais papéis com firmeza e entregá-los ao diretor e os espectadores uma interpretação sólida, sem cair em maneirismos de atuação ou repetições, destrinchando nuances de personalidades de forma como poucos conseguem. Sua carreira no Cinema se iniciou como ator, roteirista e produtor, trabalhando ao lado do lendário Roger Corman, fazendo pequenas pontas desde o final dos anos 1950, mas foi apenas em 1969, com Sem Destino, que Nicholson se tornou conhecido e recebeu sua primeira indicação ao Oscar. Coincidentemente, Sem Destino, é considerado o marco inicial da Nova Hollywood e a decadência da Era de Ouro, portanto, ninguém mais adequado que Nicholson para essa nova fase do Cinema norte-americano e seu viés mais crítico e incisivo sobre a sociedade, utilizando de temas da contracultura, antibelicismo, liberdade sexual, liberalização das drogas, direitos civis e outros temas políticos que orbitavam a época.

    Indicações: 12
    Sem Destino (1969), Cada um Vive como Quer (1970), A Última Missão (1973), Chinatown (1974), Um Estanho no Ninho (1975), Reds (1981), Laços de Ternura (1983), A Honra do Poderoso Prizzi (1985), Ironweed (1987), Questão de Honra (1992), Melhor é Impossível (1997) e As Confissões de Schmidt (2002).

    Premiações: 3
    Um Estanho no Ninho (1975), Laços de Ternura (1983) e Melhor é Impossível (1997).

    2. Katharine Hepburn (1907 – 2003)

    Ter um apelido como a “Primeira Dama do Cinema” é para poucos. Katharine Hepburn é até hoje a atriz mais premiada da história da Academia, ganhando quatro das doze indicações ao Oscar. Possuidora de uma carreira versátil, Hepburn trabalhou em diversos gêneros e se sobressaiu em todos eles. Após um início promissor na Broadway, a atriz assina um contrato com a RKO Pictures em 1932 e um ano depois recebe sua primeira indicação e premiação com o Oscar de melhor atriz por Manhã de Glória. Contudo, emenda uma série de fracassos comerciais, apesar de duas indicações e um Oscar, e o contrato com a RKO é encerrado, com a atriz sendo considerada “Veneno de Bilheteria” pelos produtores. Percebendo o declínio de sua carreira, Hepburn decide se reinventar, se afasta de Hollywood e se reaproxima dos palcos, tendo grande êxito de público e crítica. A MGM a procura para um novo recomeço em Hollywood e a a atriz passa a emplacar uma série de sucessos, doze indicações, quatro Oscar e com aproximadamente 60 anos dedicados ao Cinema e a TV, sendo seu último trabalho o filme televisivo O Poder do Natal, de 1994, adaptação de um conto de Truman Capote. Em 1999, ela foi nomeada pelo American Film Institute como a maior estrela feminina de todos os tempos.

    Indicações: 12
    Manhã de Glória (1933), A Mulher que Soube Amar (1935), Núpcias de Escândalo (1940), A Mulher do Dia (1942), Uma Aventura a África (1951), Quando o Coração Floresce (1955), Lágrimas do Céu (1956), De Repente, No Último Verão (1959), Longa Jornada Noite Adentro (1962), Adivinhe Quem Vem para Jantar (1967), O Leão no Inverno (1968) e Num Lago Dourado (1981).

    Premiações: 4
    Manhã de Glória (1933), Adivinhe Quem Vem para Jantar (1967), O Leão no Inverno (1968) e Num Lago Dourado (1981).

    1. Meryl Streep (1949 – )

    Reconhecida como uma das mais talentosas atrizes de todos os tempos, Meryl Streep iniciou sua carreira no Teatro, nos anos 1970, fazendo uma transição rápida para a televisão, em 1977, e finalmente chegando aos Cinemas em 1978 com o filme Julia, de Fred Zinnemann. Um ano depois é convidada por Michael Cimino para gravar um dos grandes clássicos da Nova Hollywood, O Franco Atirador, o que acaba lhe rendendo sua primeira das vintes indicações ao Oscar. Em 1979, trabalha nos clássicos Manhattan, de Woody Allen, e Kramer Vs. Kramer, de Robert Benton, este último lhe rende sua primeira estatueta. Três anos depois seria novamente premiada por A Escolha de Sofia, de  Alan J. Pakula. Meryl Streep, hoje aos 67 anos de idade, detém uma incrível marca de 20 indicações, e ao que tudo indica, tem tudo para dobrar a marca de indicações e se igualar ao número de premiações Katharine Hepburn. A atriz ainda demonstra apreço pela cena e está longe de se aposentar. 

    Indicações: 21
    O Franco Atirador (1978), Kramer Vs. Kramer (1979), A Mulher do Tenente Francês (1981), A Escolha de Sofia (1982), Silkwood: O Retrato de uma Coragem (1983), Entre Dois Amores (1985), Ironweed (1987), Um Grito no Escuro (1988), Lembranças de Hollywood (1990), As Pontes de Madison (1995), Um Amor Verdadeiro (1998), Música do Coração (1999), Adaptação (2002), O Diabo Veste Prada (2006), Dúvida (2008), Julie & Julia (2009), A Dama de Ferro (2011), Álbum de Família (2013), Caminhos da Floresta (2014), Florence: Quem é Essa Mulher? (2016) e The Post: A Guerra Secreta (2017).

    Premiações: 3
    Kramer Vs. Kramer (1979), A Escolha de Sofia (1982) e A Dama de Ferro (2011).

    Acompanhe-nos pelo Twitter e Instagram, curta a fanpage Vortex Cultural no Facebook, e participe das discussões no nosso grupo no Facebook.

  • Crítica | Queimada!

    Crítica | Queimada!

    QUEIMADA 1

    Clássico de Gillo Pontecorvo, o drama político Queimada! mostra uma história de manipulação e libertação. Sir William Walker, vivido pelo astro Marlon Brando, é enviado pela coroa britânica a fim de cumprir com os escusos desejos reais a respeito de uma ilha caribenha. Seu ideal é incitar a população a uma revolta popular, depondo assim o governo atual, para gerar instabilidade política, que favoreceria os negócios com a tal região.

    Walker é um sujeito sorrateiro que usa de sua influência para arquitetar um futuro bom para si e para seus empregadores. Apesar de ser uma aventura histórica, o roteiro de Franco Solinas e Giorgio Arlorio, baseado no livro de Norman Gant, não se preocupa a retratar os fatos e pessoas de modo literal, tangenciando sobre a realidade como em um conto realista. Com medo de ser censurado, Pontecorvo teria mudado o domínio que seria espanhol para português, graças ao regime militar que imperava na Espanha em 1969. A ilha de Queimada guarda muitas semelhanças com o Haiti, que teria tido seu nome trocado exatamente para driblar possíveis boicotes.

    Um dos papéis centrais é de José Dolores, vivido por Evaristo Márquez, um nativo que é tratado de modo rude por Walker e que aos poucos ganha sua afeição, bem como uma preparação para tornar-se um líder carismático de seu povo. Nota-se facilmente, no modo de operar do agente inglês, traços da filosofia maiêutica, em que o influenciador faz sugestões leves que de modo sofista vão alterando o ideal do tal líder em construção, no caso Dolores. As sugestões não são diretas, mas são construídas detalhadamente a ponto de gerar no escolhido a sensação de epifania autoinduzida, como se tais paradigmas estivessem em seu pensamento o tempo todo, ao invés de terem sido implantados.

    Pontecorvo não tem pudor em mostrar um personagem central canastrão e falacioso, que ganha nuances exatamente pela inspiração de Brando, que consegue expressar bem a canalhice do mentor fajuto. O viés ideológico comunista se vê na condução dos fatos, ao explorar os defeitos desse tipo de invasão e intervenção imperialista estrangeira, curiosamente ainda muito em voga atualmente, vide a situação de guerra ao terror dos Estados Unidos com os países árabes ricos em petróleo.

    Os pequenos detalhes no visual dos personagens dizem muito mais do que suas atitudes emulando o jogo de falsidade e cartas marcadas que ocorre durante o filme. Enquanto José se veste de trapos, exalando humildade, William é um homem de trajes bonitos, mas de modos e trajes elegantes para o local, fator que já o sobe de patamar naturalmente. No entanto, são seus pelos que dizem mais. Como se aquele trabalho fosse apenas mais um dentro da sua rotina, a barba por fazer determina um descompromisso com padrões, combinando com suas madeixas oleosas, não grandes o suficiente para atravessar os ombros, mas o bastante para ficarem descabeladas ao menor sinal de vento. Não há preocupação moral ou vergonha ética nos modos de condução executados pelo personagem vindo da Europa.

    A apologia feita por Pontecorvo ao proletariado ganha ares de importância ao demonstrar as condições insalubres que o povo de Queimada considera rotina. Os fatos corroboram a ideia de que os colonizadores eram cruéis ao extremo, ao contrário do que gostam de propagar os países europeus. Nem da parte dos portugueses/espanhóis e nem dos servos da Rainha há heroísmos.

    O embate entre criador e criatura é rápido, mas intenso o suficiente para uma troca de carinhos. Dolores retribui o treinamento que recebeu com um cuspe no rosto de seu professor, um revide agressivo e humilhante para quem o reduziu a um falso profeta, a um messias fajuto que viria para supostamente incitar seu povo e que, na realidade, domaria os pobres para que outros ricos o explorassem. Pontecorvo não faz concessões, tratando Walker como se trata um vilão, mostrando-o com um destino mal, tão ruim quanto suas atitudes manipuladoras. O artifício pode parecer maniqueísta, mas a escolha é sábia por se tratar de uma universalização do tema, resultando então em um paradigma vilanesco indiscutível, pondo o imperialista no lugar que lhe é devido diante da discussão ética do decorrer da história humana.

  • Estilos e Estilistas: construindo pontes entre a sétima arte e a vida

    Estilos e Estilistas: construindo pontes entre a sétima arte e a vida

    Estilos e Estilistas - suit & tie

    O Cinema sempre foi e sempre será um agente instigador de suas plateias, despertando reflexões, criando tendências e inspirando comportamentos!

    Você diria que o cinema dita a moda?

    Eu penso que os personagens expõem padrões de comportamento com os quais nos identificamos, porque realmente temos semelhanças, ou porque eles refletem nosso alter-ego, aquilo que gostaríamos de ser e passar para os outros através de uma imagem, a qual se constrói, entre outras coisas, na forma como nos vestimos.

    Não se trata de julgar pelas aparências… aliás, trata-se de partir da aparência para identificar signos que se constituem em linguagem visual, porque temos cinco sentidos e nossas referências se formam através do que estes captam. Então, nossos primeiros códigos são transmitidos e decifrados pelo primeiro sentido a entrar em ação, o da visão. Não analisamos exatamente a roupa, mas o que ela diz sobre quem a veste!

    Portanto, não vou falar de moda, mas de estilo! Como disse Yves Saint Laurent: “A moda passa, o estilo é eterno”!

    yves_saint_laurent

    A narrativa no cinema é construída por vários elementos, entre eles o figurino, pelo qual se expõem duas dimensões, do espaço (geográfico) e do tempo (época), e se estabelecem sugestões sobre a personalidade ou o estado emocional do personagem. O figurino cinematográfico pode ter um papel objetivo, na verossimilhança histórica, cênico, dando foco à harmonia de cenários e fotografia, ou simbólico, quando atua em parceria com a linguagem dramática.

    Quando penso em estilo masculino, as imagens se misturam, porque há uma profusão de homens elegantes, na telona, retratando várias épocas e comportamentos. Mas aquele que se sobrepõe, talvez porque ao longo de décadas mantém a mesma linha de postura, (ainda que seus trajes sofram variações de peças em destaque, modelagem e paleta de cores), é o famoso protagonista da série 007.

    Imediatamente penso em Tom Ford, o estilista que assina os ternos de James Bond (Daniel Graig), desde 2008 em Quantum of Solace. Em 007 – Operação Skyfall (2012), Bond exibe nada mais nada menos que um relógio Omega Seamaster Planet Oean, e sapatos Crockett & Jones Alex, além de abotoaduras e óculos escuros do estilista já citado. A paleta de cores resume-se ao preto, azul, cinza e branco, em composições totalmente clean.

    Daniel-Craig-James-Bond-Skyfall-Sunglasses-Tom-Ford-Marko

    Mas nem sempre esta modelagem mais ajustada ao corpo representou o estilo clássico e sedutor do agente, numa linha fashion. Na verdade, esse fashionismo começa a se desenvolver a partir de 007 – A Serviço Secreto de Sua Majestade (1969), com George Lazenby substituindo Sean Connery.

    ohmss8-main

    Com uma cromática mais diversificada e peças esportivas alternando-se aos ternos, o figurino começava a abandonar o terno acinturado e com dois botões que costumavam vestir Connery, desde sua primeira interpretação em 007 Contra o Satânico Dr. No (1962), num visual de padrão britânico.

    2584083-1722-rec

    Já quando representado por Roger Moore, entre 1973 e 1985, 007 usava menos o terno, dando preferência a blazers e jaquetas, e em seu look seguia uma paleta com predominância dos tons verdes e castanhos.

    roger-moore

    Após a aparência mais discreta com Timothy Dalton, voltando aos ternos (e blazers) mas dispensando frequentemente a gravata, para adotar o desabotoar dos dois primeiros botões a camisa, a figurinista Lindy Hemming adota para Pierce Brosnan, em 007 – Contra Golden Eye, o clássico corte italiano de Brioni.

    movies-60-years-of-bond-gallery-16

    E já que falamos em Tom Ford vestindo o agente dos mais recentes episódios da série, como não lembrar do figurino da década de 1960, sob a responsabilidade de Arianne Phillips (indicação ao BAFTA, nesta categoria), em Direito de Amar (2009), dirigido pelo próprio?

    Embora nos créditos apareça o nome de Phillips, e não haja como negar seu trabalho incrível, é impossível não reconhecer o “traço” de Ford nos impecáveis ternos do introspectivo personagem George (Colin Firth), de modelagem ajustada, com suas gravatas slim.

    a-single-man

    Ainda na onda de grifes famosas e seus estilistas, Giorgio Armani fez de George Clonney sua ferramenta de propaganda, com o personagem Danny Ocean, no filme Treze Homens e Um Segredo (2007), com Louise Frogley assinando os figurinos, o que repetiu com competência em Quantum of Solance, e Homem de Ferro 3 (2013) seguindo a mesma linha de ternos impecáveis para Dr. Aldricks Killian (Guy Pearce).

    19351774_2013110716274838.jpg-c_640_360_x-f_jpg-q_x-xxyxx

    Em 1983, na obra de Brian de PalmaOs Intocáveis, Armani já vestira Al Capone (Robert de Niro), e Marilyn Vance recebeu uma nomeação ao Oscar de Melhor Figurino.

    intocaveis2

    Três anos antes, em Gigolô Americano, Armani recorrera ao linho italiano para os ternos desestruturados, numa combinação de tons com grande diversidade, para vestir Julian Kaye (Richard Gere). Ainda que este corte marcasse mais de três décadas passadas, e se opusesse à ajustada modelagem dos conceitos contemporâneos (continuam a lapelas e gravata finas), permanece como opção de estilo para alguns homens, sem que se perca a elegância.

    gigolo-americano

    Se o foco é a elegância masculina no cinema, e a justa menção aos estilistas e figurinistas responsáveis por isso, torna-se impossível deixar de citar a premiada e nomeadíssima Sandy Powell, que arrebatou um dos Oscar vestindo os personagens de O Aviador (2004), ambientados entre as décadas de 1920 e 1940, onde a imagem e Howard Hughes (Leonardo DiCaprio) com ternos, smokings e jaquetas de primeira linha, desfila com extrema elegância.

    o-aviador

    Entre as nomeações de Powell está Sra. Henderson Apresenta (2005), no qual ela segue a mesma época, ainda que com menos glamour.

    Sua constante parceria com Martin Scorsese já a incumbira antes, de vestir Gangues de Nova York (2002) (mais uma nomeação), com trajes do século XIX.

    Uma das características das gangues, seja na arte cinematográfica ou na vida real, é a identificação simbólica através da forma de se vestir, funcionando como evidência de coesão do grupo e como legenda de suas “filosofias”.

    Em Amor, Sublime Amor (1961), filme riquíssimo por sua trilha sonora, fotografia e coreografia, Irene Sharaff assina o new look que veste os Jets e os Sharks, com um padrão harmônico e colorido.

    amor-sublime-amor

    O Oscar de Melhor Figurino (entre os 10 que o filme recebeu), não foi o primeiro de Sharaff, pois ela já havia conquistado outro em 1951, com Sinfonia de Paris. Além da excelente verossimilhança com a época retratada, a harmonização com os cenários é simplesmente incrível! O que se pode admirar com mais precisão na longa sequência final, protagonizada por Gene Kelly e Leslie Caron, e observar que Gene começa e termina com calças mais soltas , mas camiseta colada ao tronco, além da uniformidade do peto cortada pelo branco das meias. Décadas depois, Michael Jackson viria a repetir esta combinação.

    sinfonia-de-paris

    A propósito de gangues, quem não lembra dos excêntricos figurinos vestidos pelos Drugues em Laranja Mecânica (1971)? Claro que iria além da ousadia copiá-lo na íntegra e desfilar pelos espaços urbanos, mas elementos de referência, como a bengala, os suspensórios e o chapéu de coco, cabem perfeitamente ao estilo mais irreverente.

    laranja-mecanica

    Milena Canonero começa aqui sua colaboração com Stanley Kubrick, voltando a trabalhar com ele (em parceria com Ulla-Britt Soderlund) em 1975, no filme Barry Lyndon, quando ganha seu primeiro Oscar, seguindo-se O Iluminado (1980) e o brilhante trabalho em Maria Antonieta (2006). Entre estes dois, Carruagens de Fogo (1981) mostra-nos com autenticidade os uniformes usados pelos atletas, naquela época (Jogos Olímpicos de 1924, em Paris), mas tem também os blazers em tons escuros, as gravatas finas e os cardigãs bem ao estilo britânico. Vale ressaltar que Canonero em 2014 levo o Oscar por O Grande Hotel Budapeste.

    Quando se fala em parceria direção/figurino, estabelece-se quase obrigatório lembrar de um look com formas simples e cores neutras, numa linha minimalista, como aquele que Betsy Heimann nos apresenta em Cães de Aluguel (1992) e Pulp Fiction – Tempos de Violência (1994), do diretor Quentin Tarantino.

    pulp-fiction

    Recentemente você deve ter ouvido por aí a palavra “hipster”, e talvez tenha se perguntado que moda é essa. Então… hipster não é moda! Hipster é um estilo que foge da moda! É um resgate de alguma peças retrô, numa composição quase certinha mas não alinhada.

    Ela (Her, 2013) sob a direção de Spike Jonze nos traz um mundo de tecnologia futurista, através da qual se cria a existência de um OS (sistema operacional) com inteligência e personalidade, pelo qual (neste caso com a voz feminina de Scarlett Johansson, no papel e Samantha) Theodore (Joaquin Phoenix) se apaixona.

    Theodore é o típico hipster! Como pontos fundamentais deste estilo, ele apresenta o bigode não aparado, os óculos de armação grossa, as camisas xadrez… as calças de alfaiataria, de cintura alta lançam uma nova tendência e até Brioni já aderiu a esta modelagem… outros pontos marcantes são as gravatas borboleta, os sueters e os blazers.

    her

    Claro que há muitos outros filmes em que os figurinos exaltam a narrativa, de forma a tornarem-se objeto de desejo de sua plateia, mas espero ter acertado naqueles que selecionei, já que questões de espaço e tempo me obrigam a reduzir a lista!

    No entanto, para finalizar, não posso deixar de visitar a década de 1950, que lançou a moda de uma peça que é uma das mais consumidas no mundo. Estou falando do jeans!

    Por ser uma lona resistente e de baixo custo, seu uso (em calças) foi adotado para a lida nas minas e nas fazendas, como criação de Levi Strauss, ainda no século XIX. Esta peça desfilou pela primeira vez nas passarelas, por volta dos anos 1970, através do estilista Calvin Klein.

    calvin-klein-denim-jeans-fit-guide

    Eu disse 1970?

    Calma! Estou me referindo às passarelas!

    No cinema, o jeans já havia representado um símbolo de revolução no comportamento masculino, quando Marlon Brando James Dean levaram às telas a rebeldia de seus personagens, quebrando padrões que inspiravam os homens e provocavam suspiros ao universo feminino.

    Stanley Kowalski (Brando) em Uma Rua Chamada Pecado (1951), transpira sua sensualidade (ainda que sob um comportamento um tanto grosseiro) na camiseta justa acompanhada pela calça jeans.

    um-bonde-chamado-desejo

    Em Juventude Transviada (1955), dirigido por Nicholas Ray e com figurino de Moss Marby, Dean (Jim) encorpora um jovem descolado e lança, definitivamente a febre da t-shirt, o blue-jeans, e a jaqueta de couro, peças que, até hoje, são imprescindíveis em qualquer guarda-roupa!

    james-dean

    Texto de Autoria de Cristina Ribeiro.

  • Crítica | O Selvagem

    Crítica | O Selvagem

    Antes até do advento da Harley Davidson, nos primórdios do exploitation dos motorcycle movies, a fita da Stanley Kramer Production começa sensacional, com uma música que sobe seu tom dramaticamente, seguida de uma mensagem alarmista, de que a tragédia que seria mostrada poderia acontecer em qualquer lugar. O eco dos anos cinquenta ainda não permitia uma abordagem que não fosse calcada no extremo moralismo. A narração de Marlon Brando, ainda muito jovem, representava o alerta que o sujeito americano deveria tomar para si. É deste modo ultra conservador que começa o filme de Laslo Benedek, usando o conto anárquico para exemplificar o quão selvagens são os adeptos daquele estilo de vida em duas rodas.

    Baseado num conto de Frank Rooney, chamado The Cyclists’ Raid, o filme com roteiro de John Paxton e Ben Maddow – que não é creditado – é focado nas ações de bando de desordenados, que cortam a pequena cidade de Wrightsville trajados em suas jaquetas de couro, de postura arredia e regada a antítese do bom mocismo. Eles estão a margem da sociedade, e são liderados pela imponente e sexy figura de Johnny Strabler (Brando), responsável pela alcunha do grupo, Black Rebels Motorcycle Club.

    Analisar todo esse comportamento anacronicamente é um esforço de futilidade sem tamanho, uma vez que em tempos mais modernos a postura dos rapazes possa ser considerada como leve e até saudável. O modo como toda a população enxerga o moto-clube é de um pavor sem limites, sentem-se amedrontados por aquele pastiche de boêmia, caricatural em sua essência por ser planejada para uma plateia excessivamente burguesa.

    O dito popular de que o homem teme o desconhecido ganha um bom capítulo em seu registro cinematográfico com esse espécime, mesmo que a partir de uma análise bem observada a maior parte das ações de Johnny sejam completamente inofensivas. Na maioria dos casos é como um adulto se municiar de armas de fogo para combater a malcriação infantil, oprimindo-a ao ponto dela não querer mais se expressar por nenhum meio que não seja a vontade de seus parentes mais vividos.

    Mas o estado de suposta paz logo é interrompido, com a chegada de Chino (Lee Marvin), um antigo desafeto de Johnny, que o procurava em todos os cantos imundos possíveis. Não demora muito para os dois darem início a um embate, aos olhos dos cidadãos da pacata Wrightsville e da donzela por quem o protagonista se afeiçoou – uma vez que um coração valente necessita repousar em um lugar tranquilo – a bela Kathie Bleeker (Mary Murphy), que assiste a tudo atônita.

    As buzininhas estridentes dos adversários representam o chamado à aventura do anti-herói, um som agudo e incômodo, originado da audácia de um adversário sem honra, que não respeita nada nem ninguém e que tem o atrevimento de envolver seres inocentes, que nada têm a ver com a peleja entre motoqueiros. Apesar da capa de pretensa vilania que é sugerida a Johnny e seus asseclas, aos seus pares ainda é guardado um comportamento honroso, que a despeito até da abordagem simplista de seus reclames, é grafada de modo notório pela câmera de Benedek.

    A Triumph Thunderbird 6T pilotada pelo personagem principal simboliza uma biga romana, as mesmas que eram usadas nos embates de gladiadores, cuja memória popular remete ao clássico Ben Hur, com Charlton Heston. O estranho senso de honra de Johnny também tem muito a ver com o comportamento dos tais combatentes, que carregavam um escudo de virtude mesmo sendo páreas sociais. O paralelo do motociclista com os “duelistas” é maior se analisado pelo viés da escravidão, ainda que em Roma os grilhões fossem de metal e os vistos em The Wild One sejam as amarras morais e sociais de uma coletividade que os torna bandidos, baseados somente em sua aparência.

    A velha questão paradoxal da origem do mal é elevada, discutindo se os rebeldes são assim por serem tratados como uma mazela social ou se a comunidade os trata desta forma por suas arruaças, claro, com a película pendendo para a segunda opção, exceto pela conduta de Strabler, que a despeito do couro e da boina, é um perfeito cavalheiro, ao menos, até a metade do filme. Seu personagem é o único dimensional da fita – novamente é preciso apelar para a cronicidade do filme e de sua época, já que este é um retrato. A relação de Johnny e Kathie passa por estágios de aceitação e rejeição, muito presentes em qualquer romance clássico, mas claro, com situações de altos e baixos muito mais agressivos do que o normal, mas que em sua intensidade, remetem até ao conto shakesperiano de Romeu e Julieta, cujas partes também não podem conviver em paz graças ao entorno caótico.

    A realidade por trás da emblemática figura de bad boy que Johnny tomou para si não passa de uma carapaça, um despiste para uma alma que na verdade é aflita, cujo discurso contestatório é na verdade um pedido de socorro, para um sujeito carente e imaturo, que faz da atitude malcriada seu modo de expressar demasiado infantil perto do ideário de cavaleiro andante que ele tenta ser. Mas a horda de enfurecidos cidadãos, que decide deflagar ao “infante” a sua fúria vê o terrível acaso agir, jogando sobre seus ombros uma tragédia, que obviamente sofre a tentativa de culpar o elo mais fraco daquela corrente, mas que não logra êxito.

    Ao final, mesmo provada a inocência do líder do clube, a sensação de culpa parece ter acometido ele, mesmo que sua fala não vá de encontro com o ato de assumir para si a autoria do delito. Em seus ombros pesa o olhar condenatório da moça, que em meio as investigações, declara que não poderia sentir-se apaixonada por aquela figura, ainda que a questão guarde em si muita ambiguidade. A despedida solitária do condado exemplifica qual seria o futuro do jovem, solitário, possivelmente remetendo até aos dizeres no começo do filme de que “história chocante cujo desafio público é não deixar acontecer de novo”. É incrível como mesmo dentro do ultra-moralismo da obra ainda é possível arrancar uma dura crítica a hipocrisia da época e da sociedade. São filmes como este que merecem um revisionismo mais atento por parte da crítica e público.

  • Crítica | Superman II: The Richard Donner Cut

    Crítica | Superman II: The Richard Donner Cut

    Superman 2 Donner CUt

    Richard Donner – que dirigiu o primeiro filme da franquia – foi impedido de realizar a sequência de seu Superman. Os filmes foram rodados em paralelo, e seu sucessor – Richard Lester – teve de refilmar muitas sequências, rever partes inteiras do roteiro. Em 2006 foi lançada esta versão de Superman II, se valendo até mesmo de imagens de testes de cenas.

    A história começa revisitando o julgamento de Zod, Ursa e Non. Esta versão contém algumas cenas com Marlon Brando ainda – o que não ocorreu com a versão lançada nos cinemas em 1980. Os personagens parecem ter evoluído. O núcleo de Lex Luthor (Gene Hackman) continua sendo o alívio cômico. Lois Lane (Margot Kidder) consegue em minutos de cena algo que demorou décadas de quadrinhos para descobrir: deduzir que Clark Kent esconde alguma coisa, e para isso bastou somente olhá-lo.

    Há algumas incongruências, como a falta de explicação de como Lex encontrou a Fortaleza da Solidão. O herói é tão onipotente que mesmo nas Cataratas do Niagara seu cabelo permanece intacto e engomado. Algumas das sequências mostram os atores com visuais completamente diferentes – o que não chega a ser um erro de continuísmo, visto as condições de algumas tomadas resgatadas. O ataque do General Zod a Casa Branca começa muito mal, mas aos poucos vai melhorando, demonstrando que resistir ao trio de bandidos é inútil. Uma ótima fala é de um sujeito espantado com os feitos dos alienígenas que diz “Oh, God”, e o general prontamente responde “ZOD”.

    A histriônica atuação de Terence Stamp é muito icônica. Seu vilão afetado, arrogante e soberbo é muito bem realizado, ainda que seja bastante caricato. Um dos problemas que Zod parece enfrentar é o tédio. A total falta de desafios em sua vida abre brecha para a atuação de Luthor, que aparece magicamente na residência presidencial. Até então o tirano sequer sabia da existência do filho de Jor-El.

    Há uma explicação bem mais plausível para o retorno do herói a sua forma poderosa, após renunciar aos seus poderes. O fato ocorre após um discurso emocionado de Jor-El, pontuado com uma boa demonstração dramatúrgica de Marlon Brando e Christopher Reeve. No final Superman destruiria a Fortaleza da Solidão, e o desfecho do casal é melancólico, e outra vez o recurso de viagem no tempo seria utilizado, o que é uma pena.

    Esta versão é mais como uma colcha de retalhos, está longe de ser algo comparável a Blade Runner: Versão do Diretor, por exemplo. Ao menos dá um vislumbre de como seria Superman 2: A Aventura Continua pelas mãos de seu idealizador primário.

  • Crítica | Superman: O Filme

    Crítica | Superman: O Filme

    superman-the-movie

    O primeiro nome nos créditos iniciais é o de Marlon Brando e  logo após vem o de Gene Hackman, acompanhado é claro pela magistral música de John Williams. A abertura é longa: entre o Prólogo e o anuncia da direção ocorrem mais de cinco minutos, milimetricamente planejados para gerar expectativa no público.

    A história é de Mario Puzo – de Poderoso Chefão – e começa com o julgamento dos três super-criminosos kriptonianos, encabeçado por Jor-El. Neste momento já é possível perceber a prepotência, arrogância e imponência de Zod , que dispara bravatas contra o “juiz”.

    Os efeitos especiais de Roy Field eram magníficos para a época, e não fazem feio hoje, claro fazendo-se algumas concessões. Grande parte da magia em Superman é fazer o espectador acreditar que O Homem poderia voar. O roteiro de Puzo se vale das origem contada por Siegel/Shuster, a criança recém-chegada a Terra tem um força descomunal e a demonstração de suas habilidades é muito parecida com a abordagem das primeiras histórias de Action Comics dos anos 30. A criação discreta dos Kent, a forma de esconder os poderes evitando-se exibições e seu uso para benefícios próprios, tornam Clark no herói sempre preocupado com o bem estar dos menos favorecidos.  Outro fator que colaborou para isso foi à instrução de Jor-El, por meio do sistema de inteligência artificial kriptoniano, ele diz que a humanidade é boa, só precisa de alguém para guiá-los.

    Apesar da lentidão, as passagens de tempo são muito bem executadas, desde o prólogo em Krypton, passando pela infância e adolescência de Kal-El em Pequenópolis. O Herói só veste seu uniforme depois de passados 48 minutos de exibição. A atuação de Christopher Reeve vivendo um pacato repórter capial é muito boa, e o deixa como o completo avesso do imponente escoteiro. Mesmo com Margot Kidder fazendo uma Lois Lane cheia de caras e bocas e voz insuportável, há de se acreditar no casal, graças à química e ao enorme carisma de Reeve. Os outros personagens também possuem uma caracterização bastante peculiar, Lex Luthor em sua primeira aparição assassina um detetive que o perseguia, se auto-intitula a maior mente criminosa do universo – sua personificação varia entre o cientista louco com gênio criminoso extremamente maniqueísta, soberbo e mal por essência. Os capangas também exageram no tom humorístico, mas não é nada que atrapalhe o bom andamento do filme.

    Interessante como o Super deixa um barco de algumas toneladas sobre uma avenida bem em frente a uma delegacia – de quem seria a responsabilidade de rebocar o encouraçado? Impressionante também é como o dono da prisão leva numa boa a invasão ao seu “estabelecimento”, onde o herói deixa dois criminosos no interior das dependências do cárcere.

    A maneira como o Super-Homem cai na armadilha de Luthor é estúpida, imprudente, óbvia e inaceitável. Nesses momentos os elementos da história parecem inspirados nas versões mais pueris do Super-Homem, como as mostradas no desenho Superamigos. Em contrapartida as façanhas e sacrifícios que ele faz pela população, mesmo com os exageros tornam o caráter cinematográfico ainda mais épico. Suas promessas são cumpridas, o dever com os inocentes é maior que as suas necessidades pessoais. Um ponto fraco no roteiro é o artifício utilizado no final – a viagem no tempo – em que liga-se uma variação de Deus Ex-Machina completamente desnecessária, sem falar no fato disso ser uma desobediência direta a ordem de seu pai de “não interferência na história humana”. Isso mostra que o kriptoniano é suscetível a tentações.

    Super-Homem o Filme é um clássico incontestável, mesmo que não seja perfeito. Certamente é o melhor filme de super-herói realizado até o presente momento, além é claro de ter servido de inspiração para as outras adaptações que viriam depois. Uma grande realização de Richard Donner – talvez a mais notável de toda a sua carreira.