Tag: Ridley Scott

  • Crítica | Casa Gucci

    Crítica | Casa Gucci

    Crítica Casa Gucci

    Casa Gucci é o filme que traz Ridley Scott de volta as cinebiografias. A obra se baseia no livro Casa Gucci: Uma história de glamour, ganância, loucura e morte de Sara Gay Forden e traz a controversa história do casal formado por Patrizia Reggiani e Maurizio Gucci. A trama se passa ao longo das décadas, e tem por base três períodos distintos, exibindo uma história de amor, ressentimento e ganância.

    O Último Duelo, filme anterior de Scott bastante elogiado, portanto, havia uma grande expectativa em relação à produção de seu novo longa, seja por conta dos bastidores de um império da moda, como pelo elenco, desde o casal de protagonistas composto por Lady Gaga, que vinha de uma atuação elogiadíssima em Nasce Uma Estrela, e o sempre elogiado Adam Driver, como pelos coadjuvantes que incluía Al Pacino, Jeremy Irons, Jared Leto (em outra participação hilária e melancólica), Salma Hayek e Jack Huston.

    Na primeira hora do filme acompanhamos o relacionamento do casal, totalmente baseado no amor, que aparenta ser verdadeiro e completamente puro. Chega a ser estranho, pois até a parcela da família Gucci que compreende Maurizio parece de fato ter uma relação próxima. Em paralelo a isso o mercado da moda é mostrado como algo bastante semelhante à máfia. Com o desenrolar dos anos, acompanhamos uma série de reviravoltas e traições.

    Até se aproximar da metade, o filme é acertado, ainda que existam conveniências de roteiro. Os personagens são erráticos, repletos de tridimensionalidade e carisma. Infelizmente a metade final é bastante irregular. Nos anos finais o que mantém o espectador atento é a curiosidade de como a história se encerrará. Em alguns pontos, o filme parece uma minissérie biográfica com orçamento vultuoso.

    Os momentos finais comprometem bastante os bons momentos do filme. O cineasta repete boa parte dos erros de Todo o Dinheiro do Mundo, embora Casa Gucci tenha um roteiro mais interessante. No final das contas, o longa servirá para tentar angariar uma ou outra indicação ao Oscar e, possivelmente, uma estatueta ou outra para categorias técnicas como maquiagem, figurino e melhor atriz.

  • Agenda Cultural 64 | Pantera Negra, Filmes do Oscar e Meu Amigo Dahmer

    Agenda Cultural 64 | Pantera Negra, Filmes do Oscar e Meu Amigo Dahmer

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira (@filipepereiral) e o convidado Matheus Fiore (@matheuusfiore) retornam para mais um episódio da Agenda Cultural, e comentam sobre os principais lançamentos de cinema no mês de fevereiro — com diversas indicações de filmes do Oscar —, o programa de entrevistas de Jerry Seinfeld e o quadrinho Meu Amigo Dahmer, publicação da DarkSide Books.

    Duração: 94 min.
    Edição: Julio Assano Junior
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner: 
    Bruno Gaspar

    Feed do Podcast

    Podcast na iTunes
    Feed Completo

    Contato

    Elogios, Críticas ou Sugestões: [email protected].
    Facebook – Página e GrupoTwitter Instagram

    Acessem

    Brainstorm 9
    Cinemático
    Plano Aberto
    Cineplot
    Brisa de Cultura

    Comentados na Edição

    Cinema

    Crítica Todo o Dinheiro do Mundo
    Crítica A Forma da Água
    Crítica Eu, Tonya
    Crítica Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississipi
    Crítica Pantera Negra
    Crítica Lady Bird: Hora de Voar
    Crítica Três Anúncios Para Um Crime
    Crítica A Grande Jogada
    Crítica Trama Fantasma

    Quadrinhos

    Meu Amigo Dahmer – Compre aqui

    Séries

    Comedians in Cars Getting Coffee

    Podcasts indicados sobre o caso Marielle

    Lado B do Rio
    Viracasacas
    Chutando a Escada
    Petit Journal

    Avalie-nos na iTunes Store.

  • VortCast 54 | Piores Filmes de 2017

    VortCast 54 | Piores Filmes de 2017

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira (@filipepereiral), Bernardo Mazzei, Bruno GasparCaio Amorim Rafael Moreira (@_rmc) se reúnem para comentar sobre a lista publicada no site sobre os piores filmes lançados em 2017 no Brasil.

    Duração: 110 min.
    Edição: Caio Amorim
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner: 
    Bruno Gaspar

    Feed do Podcast

    Podcast na iTunes
    Feed Completo

    Contato

    Elogios, Críticas ou Sugestões: [email protected].
    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram.

    Acessem

    Brisa de Cultura

    Piores Filmes de 2017

    Lista Completa dos Piores Filmes de 2017
    Crítica Rei Arthur: A Lenda da Espada
    Crítica Boneco de Neve
    Crítica Internet: O Filme
    Crítica Death Note
    Crítica Transformers: O Último Cavaleiro
    Crítica A Torre Negra
    Crítica Emoji: O Filme
    Crítica Alien: Covenant
    Crítica Assassin’s Creed
    Crítica A Múmia

    Menções Honrosas

    Crítica Liga da Justiça
    Crítica Mulher-Maravilha
    Crítica Bright
    Crítica Homem-Aranha: De Volta ao Lar
    Crítica A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell
    Crítica O Jardim das Aflições
    Crítica Policia Federal: A Lei é Para Todos
    Crítica O Círculo

    Comentados na Edição

    VortCast 49 | Liga da Justiça
    VortCast 48 | O Que Estamos Lendo?
    VortCast 47 | Homem-Aranha e o Cinema
    VortCast 46 | Melhores Filmes de 2016
    VortCast 44 | Piores Filmes de 2016
    VortCast 30 | Steve McQueen, Diretor
    VortCast 19 | Ghost In The Shell
    Estrelas não garantem mais a venda de ingressos de filmes de Hollywood

    Avalie-nos na iTunes Store.

  • Crítica | Todo o Dinheiro do Mundo

    Crítica | Todo o Dinheiro do Mundo

    Mais do que qualquer polêmica a respeito da vida de Jean Paul Getty, Ridley Scott se viu no olho de um furacão completamente inesperado: as graves denúncias de assédio sexual e comportamento inadequados envolvendo figurões de Hollywood como Harvey Weinstein e o ator Kevin Spacey, que iria viver o excêntrico bilionário, tendo inclusive suas cenas já filmadas. O diretor e a equipe correram contra o tempo e gastaram enormes quantias de dinheiro para refilmar as cenas com o ator, substituindo pelo excelente e veterano Christopher Plummer (o que depois abriu espaço para outra polêmica, onde Mark Wahlberg havia recebido U$ 1,5 milhões para refazer interpretando o funcionário faz tudo de Getty, Fletcher Chase, enquanto sua colega Michelle Williams, sem saber disso, recebeu apenas US$ 80 por dia apenas para cobrir despesas).

    Correndo contra o tempo e com a data do filme já estabelecida, Scott precisava demonstrar em uma situação ainda mais difícil que ainda é um grande cineasta, pois vem de uma sucessão de filmes com mais fracassos do que sucessos. Dentro deste contexto, Todo o Dinheiro do Mundo se situa bem no meio de ambos. Se não é algo inovador e cheio de energia como Alien: O Oitavo Passageiro, tampouco é um fracasso retumbante como Êxodo: Deuses e Reis, Prometeus ou Alien: Covenant.

    O longa conta a história do sequestro do neto de Getty (Plummer), bilionário do ramo do petróleo e conhecido por sua fama de sovina e também pela exímia arte de escapar do imposto de renda das mais variadas formas, usando inclusive o hábito de comprar várias e raras peças de arte para realizar tal feito. Seu neto, John Paul Getty III (Charlie Plummer) andava tranquilamente pelas ruas da Itália quando é jogado em uma Kombi e vai parar em um cativeiro de sequestradores italianos rústicos do interior do país, sem saberem muito o que estava fazendo. A distância familiar entre o filho do magnata, John Paul Getty II (Andrew Buchan) e seu pai era enorme, causando em si várias sequelas psicológicas. Ambos se aproximam, mediados por sua esposa Abigail Harris (Michelle Williams) apenas por uma imensa necessidade financeira.

    O filme não se importa em momento algum em vilanizar Getty como o velho rico sovina e excêntrico (onde o filme ganha e muito com a participação de Plummer), assim como os outros personagens também são praticamente unidimensionais e seguem um fluxo muito previsível de acontecimentos e decisões, característica comum nas produções recentes de Scott. Getty se recusa a pagar o pedido inicial dos sequestradores, de U$ 17 milhões, o que deixa os bandidos nervosos, enquanto as atrapalhadas investigações de Chase e da polícia italiana apontam para uma brincadeira do próprio Getty Jr. em conluio com as brigadas vermelhas, o que também se mostra falso.

    Logo entramos em uma longa e cansativa jornada pelo crime organizado da Itália, que vende o jovem herdeiro na tentativa de angariar mais dinheiro, em um jogo de gato e rato que não levanta muitas emoções e não faz o espectador imaginar nada além do que está vendo na tela, mesmo a produção do longa sendo visualmente impecável, com a fotografia, cenários e figurinos muito mais convincentes que a história em si.

    Ao tratar de um caso já conhecido de crime envolvendo celebridades, Scott poderia ter adotado outras fórmulas menos óbvias, mas ao que parece, sua criatividade realmente está em crise, e cada vez menos podemos esperar algo inovador do cineasta, pois o que sobra após assistir ao filme é justamente continuar pensando mais sobre a polêmica da troca de atores e a diferença de pagamento entre eles do que a história que acabamos de ver.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

    Acompanhe-nos pelo Twitter e Instagram, curta a fanpage Vortex Cultural no Facebook, e participe das discussões no nosso grupo no Facebook.

  • Horror no Espaço | Os Bastidores da Saga Alien

    Horror no Espaço | Os Bastidores da Saga Alien

    As ideias iniciais de Ronald Shusset e Dan O’Bannon em relação a Alien: O Oitavo Passageiro eram ligadas a pretensões teatrais, por parte do primeiro, e a de assustar por meio da ficção científica com o segundo, já que Danny não conseguiu fazer rir em Dark Star, de John Carpenter. Após quase passar o projeto inicial a Roger Corman (diretor e produtor de filmes B), tudo mudou, graças a alguns elementos pensados por Alejando Jodorowsky em seu Duna que jamais saiu do papel. Com o tempo, o roteiro passaria por Walter Hill – que o modificaria, a contragosto de O’Bannon, coisa que certamente pesou para que o criador não tenha sido o diretor do produto final, e caberia também a David Giler e Gordon Carroll a função de produtores. Seriam eles que decidiriam por convidar Ridley Scott, que acabava de entregar o sucesso Os Duelistas.

    O paradigma hitchcockiano de não mostrar tudo é a parte do suspense que funciona na direção de Ridley Scott. A ideia do britânico de emular aspectos de Star Wars, retirando o claro caráter fabulesco. Seu filme mira em um O Massacre da Serra Elétrica no espaço. As referências ao pioneiro filme slasher estão todas lá: canibalismo – ainda que seja tecnicamente entre espécies, se considerar que o Alien saiu de um peito humano… – símbolos fálicos, que representam a promiscuidade que predominaria em Halloween e Sexta-Feira 13, e claro, a sobrevivência da mulher virginal.

    Analisando atualmente a carreira de Scott, dá-se muito mérito a ele pela concepção de Alien. De fato, sua contribuição é muitíssimo importante, visto que foi ele que orquestrou todos os elementos juntos, mas há de se destacar que todo o visual deslumbrante não teve qualquer ingerência sua. As artes conceituais de H.R. Giger, reaproveitadas em parte do nunca filmado Duna e a mão firme de Hill, Giler e Carroll ajudaram não só a construir um filme muito potente, como também solidificaram uma saga que, apesar de muitas diferenças entre seus capítulos, teve sempre um enorme mérito em cada um de seus produtos. Portanto, relegar a Scott os méritos de dono da obra é uma falácia tremenda, já que muitos elementos juntos tornaram este um filme único.

    Assim, em 1979 enfim estreava o filme, com um caráter dúbio, críticas as grandes corporações e com um visual sujo, escuro e sombrio. O passo seguinte seria transformar Alien em uma franquia e coube ao diretor de Exterminador do Futuro, James Cameron, com Aliens: O Resgate.

    O novo encarregado mudaria o paradigma, exibindo um espaço azul, belo, menos nebuloso que o “futuro original”. O visual escolhido era de um futuro mais hermético, semelhante ao que seria visto em Segredo do Abismo e Avatar, com o gênero igualmente modificado, como Cameron faria na franquia Terminator, transitando do terror para ação.

    A mudança de caráter foi muito comemorada por Hill e Giler, já que partiu deles o desejo por uma mudança de clima, incluindo aí o cunho mais sensacionalista, no que toca os sonhos dos personagens – fato que ecoaria na parte três da franquia – assim como as mudanças dramáticas no passado de Ripley, como a inserção de sua filha perdida após o salto no tempo de 57 anos. Aos poucos, os produtores se tornaram os reais donos da história, se distanciando mais e mais do planejado por Shusset, O’Bannon e até Ridley Scott.

    No entanto, as mudanças tiveram um bom desenrolar, especialmente na dura crítica ao capitalismo. As garras mortais dos comerciantes das Weyland é intimamente ligada ao sumiço de Ripley, dos tripulantes e do maquinário da Nostromo. Já o  planeta LV- 426 visitado no episódio um, acaba por se tornar uma colônia terrestre, com um total de 70 famílias. Essas pessoas são completamente desconhecidas entre elas fora, obviamente, dos núcleos familiares, o que torna ainda mais curioso a habitação nesse lugar condenado. Convenientemente, nenhum evento estranho ocorreu naquele mundo, até o apogeu da tenente, fazendo dela a especialista, que lideraria um esquadrão de fuzileiros, mesmo ela não tendo qualquer treinamento militar prévio.

    O elemento surpresa na parte 3, do ponto de vista dramático, seria a maternidade latente, de Ripley e da Alien Rainha introduzida no filme de Cameron. A terceira viagem ao universo da saga é dirigida por uma inexperiente David Fincher, que exibe um planeta colônia, que serve de presídio, habitado somente por homens. Mais uma vez Ripley está sozinha, é a única sobrevivente. A tragédia a acomete, percebendo estar isolada, num ambiente hostil, prisional, até religiosamente punitivo.

    A primeira opção para o filme seria o diretor Renny Harlin, de Duro de Matar 2 e A Ilha da Garganta Cortada. A indefinição quanto ao tema principal do filme, desde a chegada de Hicks (Michael Biehn), Newt (Carrie Henn) e Ripley a Terra, como uma família, até a possibilidade de explorar o planeta natal dos Aliens, algo muito caro para a época (e que teria um pouco de seu projeto resgatado em Prometheus, graças ao desejo de David Giler de ter Scott de novo na franquia). Harlin saiu do projeto ao perceber que as coisas andavam para uma continuação em espírito de Aliens, e o que ele queria era não fazer uma cópia nem do primeiro e nem do segundo filme. O roteiro parou na mão de Vincent Ward, que acabara de realizar Navigator: Uma Odisséia no Tempo. Ward percebeu um script cru, com quase nada pronto, mas ainda assim fez alterações no texto, não aceitando a direção por perceber que dentro da equipe haviam “espiões”, que passavam informações aos chefões do estúdio por suas costas. A decisão natural de sair fez de Fincher a nova opção, e partir daí se decidiu que a história se passaria em Fury 161, planeta prisional que antes foi pensado como o lar de uma religião de monges.

    A aridez do local, habitado por piolhos impede a proliferação até de cabelo e faz cada encarcerado parecer um monge como pensado antes, fazendo desses arautos de um apocalipse que não acometeu a Terra, mas que já atacou a humanidade outras duas vezes. O alvorecer da criatura, que usou um bovino como hospedeiro é ainda mais grotesco, com detalhes filmados, em partes específicas da cantina onde o animal seria fatiado. O tosco CGI, pouco utilizado no cinema dos anos 1990 acaba amortizando o impacto de sua aparição, mas não ameniza o terror que dali viria, o terror que habitava o ventre de Ripley.

    Aos poucos, a protagonista se libera, pondo para fora seus pensamentos, explanando sua masculinidade incutida que prevalece mesmo em meio a massa carcerária. Sua paranoia se torna real, o clã de monges em meio a uma terra devastada não consegue demovê-la, nem contê-la, já que sobre si há uma terrível profecia, de proliferação da praga.

    O problema de Alien 3 é que ele não se encontrar nem como filme de terror, nem como filme de ação. É esquizofrênico quanto ao gênero, o que o faz denegrir demais. A confusão de abordagem também acomete Ripley, ao finalmente descobrir ser hospedeira da coisa, na versão rainha do xenomorpho.

    A produção foi muito conturbada, quase todas as ideias que Fincher queria para o filme foram cortadas, até por ele começar a rodar sem um roteiro definido, aprovado por ele. Ele era desacreditado por gente interna, do estúdio e até por pessoas que trabalhavam diretamente consigo, incluindo Walter Hill e David Giler. A demora em concluir o filme só piorava a relação entre as partes. O prejuízo era quase sempre ligado a falta de um roteiro concreto. A tolerância entre diretor e mandatários da Fox chegou perto do zero, com cortes arbitrários de cenas gravadas externamente, que se refletiram claramente no processo criativo do filme, e no fracasso em realizar algo realmente bom.

    Walter e David Giler não queriam uma continuação, mas a revelia até deles o estúdio começou a planejar Alien: A Ressurreição, chamando Joss Whedon – a mente por trás do futuro crossover da Marvel Vingadores (e sua continuação Vingadores a Era De Ultron) – para conduzir um novo texto que seria entregue a Jean Pierre Jeunet, diretor de Ladrão de Sonhos e do futuro O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. Decidem então trazer Ripley de volta a vida, através de experimentos de clonagem, trazendo também a Alien Rainha e mais algumas criaturas malvadas, entre elas, uma fusão entre Alien e Humana, sendo esse o real herdeiro da protagonista.

    A ideia inicial do “filho” era que ele tivesse o rosto de Sigourney, e obviamente isso foi descartado, para ter um hibrido terrivelmente mais feio e desnecessário, que é em suma o resumo dos equívocos dessa continuação. O fato é que o distanciamento dos antigos produtores se viu em inúmeras sequências pensadas por Jeunet, sendo este certamente o mais poluído visual e musicalmente falando, com sequência que tencionam o pavor e entregam momentos quase cômicos.

    A tônica de Jean Pierre Jeunet não combinava em nada com o estabelecido pelos outros cineastas, embora cada um tivesse seu estilo, e certamente a falta de liberdade que deram para Fincher ocasionou na produção nova uma reação de aceitação de praticamente qualquer elemento novo, deixando as rédeas frouxas para qualquer invencionice banal ser levada a tela. A preocupação da produção parecia mais a de validar alguns avanços em computação gráfica e uso de arquivos digitais do que em realmente estabelecer uma boa história.

    Segundo o próprio diretor, que optou por não ler as críticas em inglês, o numero de resenhas negativas e positivas foi quase o mesmo, já na França, a recepção foi mais calorosa por parte dos analistas. Por mais que grande parte dos fãs da franquia não tenham gostado do resultado final de Alien 4, é fato que esse é um dos mais referenciais em relação a H.R. Giger, em especial pelas atitudes pseudo sexuais de Ripley, que parece estar mais a vontade com o xenomorpho do que com os humanos.

    Durante muito tempo, a saga ficou adormecida. Entre 1997, ano em foi lançado o quarto capítulo e o próximo filme que tocava a franquia de alguma forma – leia-se Alien vs Predador, de Paul W. S. Anderson – passaram-se sete anos. A criatura hibrida de H.R. Giger continuava aterrorizando seus fãs. Mesmo o confronto contra o Predador já havia ocorrido muito tempo antes, em 1989, em quadrinhos da Dark Horse e até nos videos games, com um jogo para Super Nintendo em 1993. De fato os símbolos criados por O’Bannon e Shusset já estavam marcados no gosto popular, e um pouco depois, Ridley Scott retornaria para tentar lançar uma luz sobre a origem da criatura – de certa forma podendo até negar o ocorrido com os filmes que ele não dirigiu, ja que não há o conceito da Rainha nos novos produtos – com Prometheus, além é claro do recente Alien Convenant, mas sem o mesmo brilho dos produtos anteriores, evidenciando por sua vez a total falta de criatividade de Hollywood, bem como a dificuldade dos mesmos em criar novos ícones. Apesar desses acertos e erros, Alien continua como um dos mais importantes produtos da cultura pop, mesmo que seus maiores inimigos sejam seus próprios realizadores.

    Acompanhe-nos pelo Twitter e Instagram, curta a fanpage Vortex Cultural no Facebook, e participe das discussões no nosso grupo no Facebook.

  • Crítica | Alien Covenant

    Crítica | Alien Covenant

    Na época em que foi lançado, Prometheus sofreu de um mal de identidade. Para muitos, era a prequel de Alien: O Oitavo Passageiro, já para seu diretor Ridley Scott e seu roteirista principal Damon Lindelof, seria um filme isolado, que poderia ter a ver com a franquia Alien, com promessas de se discutir um cunho religioso e filosófico que mirava 2001: Uma Odisseia no Espaço e entregava um terrível texto, semelhante a folhetins mal escritos. Após muitas críticas, sua continuação Alien Covenant aceitou a alcunha de sub-produto da saga, usando o prenome famoso, finalmente.

    A história conta a rotina da nave Covenant, que visa colonizar planetas e que tem a bordo dela o androide Walter (Michael Fassbender), que seria uma evolução do David inserido no filme anterior. Um acidente estranho faz perder grande parte da tripulação, como visto em outros tomos da cinessérie, e o comando recai sobre duas pessoas resignadas, Oram (Billy Kodrup) e a esposa do falecido ex-capitão, a imediata Daniels (Katherine Waterston). Novamente Scott apela para sobrenomes, para tirar a pessoalidade dos personagens, fazendo deles meras engrenagens para as grandes corporações.

    A questão primordial é a mudança de caráter da discussão, uma vez que se perdeu  por completo a ideia de se discutir a comercialização da guerra, como era típico no primeiro Alien e em Prometheus e o enfoque é na questão da criação, usando como avatar dessa discussão o antigo membro da tripulação focada no capítulo anterior, com David retornando ao seu papel de ente fora dos padrões comuns a humanidade. A discussão mais adulta presente no roteiro de John Logan e Dante Harper – por sua vez, com argumento de Jack Paglen e Michael Green – é relativa ao papel da divindade e a responsabilidade de quem cria vida, se aproveitando de um diálogo do próprio David com o personagem de Charlie Holloway em Prometheus, que começa ali um acirrado debate sobre devoção entre criador e criatura.

    Scott consegue resgatar a sensação de suspense que se perdeu em Aliens, Alien 3 e Alien: A Ressurreição, mas o roteiro pega por ser demasiado expositivo, como se fosse esse um contra-argumento às escolhas que o próprio cineasta e Lindelof fizeram no outro prequel. Os acontecimentos são tão previsíveis em especial na parte final que parecem até telegrafados em alguns pontos, em especial no combate entre os androides irmãos.

    No entanto a construção do suspense funciona bem, muito graças as relações dos personagens, que tem laços emocionais entre si e claro, pela obrigação profissional de cuidar dos colonos que estão repousando interior das capsulas de sobrevivência. A análise sobre a capacidade de criar vida e a possibilidade levantada ao final para a origem da criatura extraterrestre no título é condizente com o já citado no cânone da saga, driblando inclusive as invencionices de Prometheus, ainda que tenha sim suas licenças poéticas. O resgate do horror tem novas encarnações, e por mais que sejam diferentes, não são ofensivas ao fandom de Alien.

    Acompanhe-nos pelo Twitter e Instagram , curta a fanpage Vortex Cultural no Facebook, e participe das discussões no nosso grupo no Facebook.

  • Resenha | Perdido em Marte – Andy Weir

    Resenha | Perdido em Marte – Andy Weir

    Perdido em Marte - Andy Weir - capa

    “Estou ferrado.
    Essa é a minha opinião abalizada.
    Ferrado.
    Seis dias após o início daqueles que deveriam ser os dois meses mais importantes da minha vida, tudo se tornou um pesadelo.
    Nem sei quem vai ler isto. Acho que alguém vai acabar encontrando. Talvez daqui a cem anos.”

    E é assim que conhecemos o protagonista, Mark Watney, um astronauta que, assim como seus companheiros na missão, tinha duas especialidades. No seu caso, ele era botânico e engenheiro mecânico. Como ele próprio se define, “um faz-tudo que brinca com plantas”. O leitor é apresentado a ele em meio a uma crise. Há seis dias, Watney foi abandonado em Marte durante uma tempestade de areia. Após ser arrastado – e perfurado – por uma antena, foi dado como morto por seus colegas, já que o traje espacial avariado parara de enviar seus sinais vitais.

    A partir daí o leitor acompanha a clássica jornada de um homem sozinho em ambiente hostil, lutando por sua sobrevivência. Só que não. De clássica, a jornada tem apenas sua estrutura, pois, de resto, o autor faz uso de uma originalidade, de recursos estilísticos e de linguagem que tornam a história bastante incomum. Para os fãs de sci-fi, lembra demais O Guia do Mochileiro das Galáxias, de Douglas Adams, pela capacidade de “entupir” o texto de cientificismos sem, entretanto, deixá-lo maçante ou ininteligível. Ambos usam o humor e o sarcasmo como ótimo contraponto ao teor científico da narrativa. Só que enquanto Adams pende mais para o humor, Weir carrega a tinta no sarcasmo. E é divertido demais de ler.

    “Mudando de assunto, hoje é o Dia de Ação de Graças. Minha família deve estar reunida em Chicago para o jantar de sempre na casa dos meus pais. Imagino que não esteja sendo muito divertido, já que morri há dez dias. Caramba, não faz muito tempo que eles saíram do meu funeral.
    Fico pensando se algum dia vão descobrir o que realmente aconteceu. Tenho estado tão ocupado tentando me manter vivo que nunca pensei no que meus pais devem estar passando. Neste momento, estão sentindo a pior dor que alguém pode suportar. Eu daria tudo para avisá-los que ainda estou vivo.
    Vou precisar sobreviver para me redimir.”

    A história basicamente é contada em primeira pessoa, pelo próprio Watney, ao atualizar o diário de bordo da missão com vídeos quase diários. Já seria interessante o bastante se fosse apenas isso, já que a formação científica do personagem torna-o bastante detalhado e didático em suas explicações.

    E seu humor bastante ácido é o complemento perfeito. Mas é lógico que qualquer leitor, assim como o personagem, se pergunta: “Mas e a Nasa? E seus companheiros de missão? será que alguém sabe que Watney não morreu?”. Nesses trechos – que são poucos e breves, felizmente – o narrador em terceira pessoa dá aquele gostinho ao leitor, de saber algo que o protagonista (ainda) não sabe.

    Como em toda boa jornada, a história de Watney é uma sucessão de conflitos/problemas a serem resolvidos com alguns momentos esparsos de calmaria. A probabilidade de as coisas darem errado é aumentada exponencialmente, tanto pelo ambiente inóspito em que ele se encontra quanto pela escassez de recursos, sejam eles para sobrevivência sejam para colocar em prática as ideias criativamente malucas que o personagem tem – por exemplo, acender um fogo dentro do veículo espacial. Por outro lado, acompanhamos a equipe em terra queimando neurônios para encontrar soluções viáveis para resgatá-lo antes que ele morra por inanição.

    Há comentários de leitores reclamando de que diário de bordo do protagonista é nerd de mais e dramático de menos. Ora bolas! O personagem “é” um nerd – significando alguém aficionado por um assunto a ponto de estudá-lo extensiva e ostensivamente. Um astronauta não é uma pessoa comum, no sentido de ser mediano, com conhecimentos, motivações e reações medianos. Obrigatoriamente, o astronauta tem de ser alguém “fora da curva”. E esse fora da curva implica em ser mais pragmático que dramático em situações limítrofes. Watney até tem seus cinco minutos de drama, que estão bem descritos logo no início do livro. Mas a sua natureza nerd logo prevalece e o faz tomar as rédeas da situação.

    “Supondo que eu não faça nenhuma merda com a hidrazina, ainda resta a questão da queima do hidrogênio. Vou acender uma fogueira. Dentro do Hab. De propósito.
    Se você perguntasse a qualquer engenheiro da Nasa qual seria a pior hipótese para o Hab, eles responderiam: ‘Incêndio”. Se você perguntasse qual seria o resultado, eles responderiam: ‘Morte por carbonização’.
    Mas se der tudo certo, vou estar produzindo água de modo contínuo, sem a necessidade de armazenar hidrogênio nem oxigênio. Ela será liberada na atmosfera como unidade, mas o reaproveitador de água irá coletá-la.”

    Para quem apenas assistiu ao filme, dirigido por Ridley Scott, tem-se a impressão de que é só uma versão de O Náufrago no espaço. Mas o livro é muito, muito mais que isso. Como adaptação, o filme consegue até ser fiel ao livro, na medida do possível. Afinal, é impraticável espremer em duas horas toda a saga do personagem. A essência dele não se perde, mas sua verve sarcástica e desbocada fica amenizada (e muito!). Perde-se toda a parte “científica” das atividades de Watney, suas reflexões, suas constantes críticas ao gosto musical e televisivo duvidoso de seus colegas de missão, seus debates solitários sobre o que fazer e como resolver cada um dos problemas que vão surgindo. E é justamente isso que deixa a narrativa envolvente. O autor consegue juntar humor, drama e suspense na medida certa de forma que é quase impossível largar a leitura antes do final.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Crítica | Perdido em Marte

    Crítica | Perdido em Marte

    Perdido Em Marte 1

    Tentativa de seu diretor em retornar aos bons tempos – ou ao menos à seara de filmes passáveis – Perdido em Marte é um esforço conjunto de Ridley Scott e o roteiro do pródigo Drew Goddard, cuja experiência na televisão – especialmente no recente sucesso de Demolidor – o credenciava a criar uma história carismática e interessada, êxito alcançado no argumento que se baseia no livro de Andy Weir.

    Apesar do trabalho recente de produções hediondas, como Êxodo e Conselheiro do Crime, Scott consegue trabalhar bem com os elementos que lhe são postos à frente, se valendo especialmente de dois fatores fundamentais: o carisma de Matt Damon, que funciona de modo perfeito – ao contrário de Terra Prometida de Gus Van Sant – exatamente pela simplicidade de sua forma; e claro, uma trilha sonora incidental maravilhosa, que ajuda a preencher o vazio da solidão de um planeta inóspito.

    Mark Watney (Damon) está junto de seus companheiros, viajando pelo espaço, em um esquema que reúne uma gama de personagens padronizados, que não fogem em nada do que o grande público consideraria palatável. A missão dá errado, e Watney fica para trás, dando vazão à velha história de superação e de resgate do homem abandonado.

    Perdido Em Marte 3

    Apesar de se valer de tecnobables na solução final, o argumento é crível, mesmo quando apela demasiado para a suspensão de descrença, exatamente por, mesmo com pouco tempo de tela, a persona de Watney resultar em algo interessante, otimista e chamativo, sem discrepâncias em relação ao seu passado, fugindo inclusive de velhos bordões, como família desesperada atrás do desaparecido ou cônjuge, à espera da volta.

    Claramente, há no texto do filme um bocado de referências a objetos blockbusters do passado, como um pouco do espírito de Top Gun: Ases Indomáveis, no sentido de retratar a alma de equipe e as grandes mentiras dos “especialistas” – fatos que provavelmente irritam qualquer botânico que vê Watney realizar um sem número de proezas. Outra alegoria é ao óbvio mote de O Resgate do Soldado Ryan, ainda que este seja muito menos cafona e apelativo que o filme de Spielberg.

    Apesar de não possuir cenas tão bem orquestradas do ponto de vista criativo, todo o suspense e claustrofobia funcionam em Perdido Em Marte, reprisando os ótimos momentos de Gravidade, inclusive o plot de desespero em torno da sobrevivência. Embora a carga positiva do filme de Scott seja enorme, este é um dos pontos diferenciais da fita, fato que inclusive insere a obra em um patamar superior ao recente Interestelar, por não encarar seu espectador necessariamente como um neófito.

  • Crítica | Crimes Ocultos

    Crítica | Crimes Ocultos

    Crimes Ocultos 2

    Película sob a direção de Daniel Espinosa – o mesmo de Protegendo o Inimigo – e produzido por Ridley Scott, Crimes Ocultos foi proibido na Rússia por ser considerado uma distorção da história, segundo o governo atual. O roteiro começa tratando do conhecido Holodomor, usado como arma (fascista) do governo stalinista impetrando fome aos ucranianos, fato que vai de encontro à questão atual da Rússia X Ucrânia, e “valida” – entre muitas aspas – o reclame censor do governo de Putin, conhecido por ser uma das viúvas da antiga URSS.

    Fato é que, desde o princípio, a bandeira soviética é achincalhada durante a exibição do filme, enquanto a maioria dos oficiais do exército, ao menos os de compleição semelhante a paladinos, é mostrada com expressões resignadas, movidas possivelmente pela culpa. Todas as expressões de amor ou outros sentimentos tipicamente humanos são apresentados de modo raso e clichê, sem qualquer meio-tom ou ancenúbio.

    Leo Demidov (Tom Hardy) é um dos poucos personagens complexos. Sua atuação enquanto militar é semelhante a de um Hans Landa socialista e sem carisma, sem piadas que evocam verborragia. A dura expressão esconde um caráter que não o impede de se importar com os seus companheiros, e que o faz não desistir de montar uma tropa de homens honrados, seja lá o que significar isto em sua distorcida noção de realidade. Logo de início, nota-se o seu fraco por infantes, considerados por ele como seres indefesos, independente dos pecados de seus pais.

    O ethos de Leo é desafiado com a designação de dar cabo a um irmão de farda. Contrariando a fala de que “assassinato é uma prece capitalista”, o personagem central beira a condenação daquilo que Stalin desaprovava. De modo tórrido, mostra-se que o importante era manter a versão oficial, não discutindo o regime. Uma ação típica das ditaduras, claro, mas duramente criticada neste roteiro. A atuação de Hardy salva o filme de ser um desprazer completo, já que consegue mostrar emoções conflitantes mesmo diante da rigidez tipicamente militar que lhe é imposta.

    Os relatos de um traidor formam o real chamado à aventura da trama, que põe frente a frente marido e mulher. Raisa (Noomi Rapace), antes mostrada como uma mulher indócil e frígida com seu cônjuge, tem sua fidelidade à pátria – e ao próprio esposo – discutida, passando a exibir a partir daí uma crueldade demasiada com os próprios soldados do Regime, e sua tortura é agravada devido a uma gravidez.

    É curiosíssimo como a escalada das patentes é mal construída, casando convenientemente com as necessidades da trama, ignorando sempre os plots anteriores em detrimento da proteção de uma figura controversa como a de Vasili, feito por um Joel Kinnaman mais uma vez equivocado em seu papel, algo que tem sido comum nos últimos tempos.

    O castigo pela fidelidade dupla, ao país e ao matrimônio, é o exílio. A comando do General Mikhail Nesterov (Gary Oldman), Leo tem de conviver com casos estranhos de tortura de crianças, um tormento agravado por sua possível e futura condição de pai. O atrapalhado script joga a verdade ao espectador de forma óbvia, produzindo mais um sem número de situações limite. De aspecto positivo há somente a realidade de ter uma relação calcada no medo, mostrada em detalhes sórdidos, pincelados de maneira ideológica para crucificar e demonizar o ideal dos personagens.

    O Jogo da Imitação mostra os pecados da Grã Bretanha no pós Segunda Guerra ao tornar a homossexualidade um crime grave. Crimes Ocultos faz o mesmo com a ditadura do leste, ainda que trate de maneira ainda mais sensacionalista, como se fosse exclusividade dos comunistas tal defeito. Nenhuma morte e preconceito deve ser banalizada ou relativizada, mas há de não se ignorar a história. Usá-la para condenar somente um segmento ou partido é um artifício covarde, sendo esta a base de toda a história de Child 44 versão cinema.

    O que deveria – ou poderia – ser um conto a la Dennis Lehane nos anos 50 torna-se uma estúpida propaganda anticomunista, sendo a ideologia vazia o principal mote da discussão do roteiro, evocando até a autotortura em nome de Stalin, absolutamente desnecessária. O argumento é raso e condizente com os fãs da direita ferina. Todos os assuntos se dobram diante da distorção do discurso político, o amor não correspondido, pedofilia, raptos, ataques de um assassino serial, praticamente tudo é subalterno em virtude da desconstrução da fala socialista. Até a possibilidade pragmática de fazer a justiça com as próprias mãos é validada somente para denunciar o quão falho é o sistema, como se toda forma de governo contrária fosse maravilhosa. A alternativa de culpar o nazismo e Hitler – mais um refutável lugar comum – é tardio, já que todas as conclusões a respeito da história podem já ser tiradas com menos de metade da duração.

    O mini golpe dentro da revolução, mostrado em tela, assemelha-se ao comportamento de  ratos  que tentam contra-atacar as ações de homens armados. O cúmulo se dá ao notar que os mesmos rebeldes que condenavam os opositores por táticas de assassinato, são também exímios em armas brancas e assassinatos. O pecado maior é mostrar até os últimos momentos o exacerbo caricatural dos poderosos, como se fossem czares, e não socialistas, trabalhando sempre em favor do retrocesso, forçando a maré contra a verdade.

    A  luta final travada em meio à natureza é emblemática por revelar grande parte dos defeitos do filme e de seu texto, igualando o lodo e a sujeira da briga com o asqueroso pressuposto. A escolha de partido é equivocada e passa longe de retratar a realidade mundial da época, usando o russos como vilões, apelando para o sensacionalismo mesmo quanto deveriam mostrar lados positivos daquelas figuras. Se os papéis do roteiro estivessem encharcados da lama da batalha final, este ainda assim seria menos tendencioso e sujo do que o resultado final de Crimes Ocultos, que mais se preocupa em ser uma contrapropaganda anacrônica situada em uma Guerra Fria já inexistente, do que em um retrato da época, banalizando até a boa direção, fotografia e direção de arte de Espinosa e sua equipe.

  • Crítica | Gladiador

    Crítica | Gladiador

    O aclamado filme de Ridley Scott inicia-se introduzindo o espectador no contexto tirânico do Império Romano, com o avanço tático a Germânia sendo impetrado. As mãos do personagem principal, passando sobre a mata alta de sua plantação, remetem ao real desejo de seu coração de habitar as próprias terras em paz; distante do estado caótico que a guerra se impõe, onde a ocupação do estrangeiro ultrapassa os limites do aceitável, passando a ser uma obrigação erguida pelos superiores e passada ao exército por convenção, sem muita discussão dos porquês.

    O discurso inflamado – O que fazemos em vida ecoa pela eternidade – não consegue esconder um descontentamento de Maximus (Russell Crowe), ainda sem o modus operandi do imperialismo, mas já portando um inexorável enfado em seu semblante. Analisando a jornada do herói de Joseph Campbell, o chefe do exército não seria o herói clássico, tampouco anti-herói, mas o arquétipo do herói falido, depressivo, que, apesar da adversidade e das belas cenas de combate introdutórias, guarda um ressentimento e azedume pelas ações que é levado a concluir. Quando ele hesita em matar um adversário, nota-se de maneira concreta sua insatisfação, depois proferida para que não haja dúvidas. Sua posição não é a de discutir métodos ou estratégias: ele é apenas um humilde servo, prostrado ante a vontade de Marcus Aurelius (Richard Harris), que está no final da vida, arrependido de tanto derramamento de sangue e especialmente preocupado com o seu legado, e se seria visto como um tirano de acordo com os olhos da História.

    Qualquer fidelidade e compromisso com a cronologia histórica são varridos para bem longe, assim como foram em Coração Valente. De certa forma, há uma amálgama entre muitos períodos do Estado Romano após a ascensão de Júlio Cesar, ainda que tal influência não tenha sido jamais assumida pelos produtores do filme. Tal característica seria impensável para o nível de acesso a informação atual, passados 14 anos da exibição de Gladiador – ainda que o clima de redenção dos poderosos seja bastante atual nas grandes produções hollywoodianas -, e em se tratando de uma obra de caráter revisionista, de discussão do modo violento e arbitrário que os conquistadores tinham com o território descampado mundial.

    Religião, crenças, sedução e ganância se misturam, tentando atravessar o caminho de Maximus. Focado, o soldado não deseja nada além de sua família, suas terras e sua vida simples no campo. A demora do filme em levá-lo ao lugar desejado é demasiado, fazendo do general mais uma vítima da burocracia e de um legado que não pediu para si.

    A decisão de tornar Maximus o regente da República, retomando o panorama político anterior, é bastante fantasiosa, levando a trama para um lado semelhante ao visto em contos mitológicos, mas exibindo as piores facetas do espírito humano, como o amargor de alma do antigo herdeiro, Commodus (Joaquin Phoenix), que, ao perceber que perderia a sucessão do trono, cometeu o maior dos pecados – o que estava ao seu alcance -, ultrapassando qualquer limite ético e moral.

    Ao se recusar a servir ao nefasto novo senhor, Maximus é condenado à morte. Seguindo finalmente seu senso de justiça, ele tem o revide proporcional à sua boa ação, pondo sua família em risco. Após escapar da pena imposta ao personagem, ele consegue a duras penas retornar ao seu lar para assistir, em meio a lágrimas e salivas, ao extermínio dos seus, na maior mostra de degradação em que ele poderia estar até então. De olhos fechados, carregado à força, o sujeito sofre a morte de sua antiga identidade, renascendo com outra alcunha, outro espírito e função social, ainda mais desimportante do que planejava.

    Como em uma peça teatral, a divisão clara por atos permeia o filme, com uma virada no segundo tomo mostrando o herói falido como escravo, digladiando por sua vida e ganhando um sentido novo para a própria existência, ainda que a glória seja cantada ao nome que lhe deram. O Espanhol logo torna-se o mais carismático e amado guerreiro, exibindo uma tenacidade não antes vista nas arenas romanas, tão corajosa que visa, inclusive, desobedecer uma ordem imperial.

    Diante de seu inimigo mortal, Maximus pensa em dar um fim breve ao opositor, mas se demove da ideia ao vê-lo com a criança que se afeiçoou. Após revelar sua real identidade, consegue ganhar uma pequena fama, a ponto de ter soldados novamente dispostos a levantar sua bandeira, além de ter uma ajuda real por meio da apaixonada Lucila (Connie Nielsen), cujo amor incestuoso de Commodus não é correspondido. As coincidências do roteiro são coladas por uma liga demasiada fraca, conveniente demais aos desejos e desígnios do protagonista.

    Como se esperava, o megalomaníaco plano do gladiador em aplicar um golpe de estado no soberano tem seu destino selado. A grandiosidade e magnificência dos cenários da história e do Ethos de Maximus são elevados a patamares quase infinitos, mas perdem seu peso pela disputa final, disfarçada de embate físico desigual. A justiça dificilmente teria seu lugar no combate entre as contrapartes, entre os dois “filhos” de Marcus Aurelius. O problema é o quão apelativo é o confronto épico, banalizado pela teatralidade excessiva da batalha. O dramalhão enfraquece o plot de Maximus e o retorno da liberdade do povo romano. O sonho torna-se algo de cunho barato, feito para um público idiotizado, acostumado a mensagens felizes, não condiz com a época em que se passava o drama do general/gladiador. O merecido descanso do herói é enfraquecido por mais uma mensagem politicamente correta, mudando rumos históricos e traindo qualquer possibilidade de dignidade. Gladiador é considerado por muitos como um clássico, e até caracteriza-se por um expoente interessante na combalida filmografia de Ridley Scott, mas só garante bons momentos em meio às cenas de batalha, uma vez que seu roteiro só serve para tentar justificar porcamente todos os entraves.

  • Crítica | Êxodo: Deuses e Reis

    Crítica | Êxodo: Deuses e Reis

    Êxodo - Deuses E Reis 1

    A frieza dos números proferidos antes da ação começar é quase como um alerta, um aviso aos desavisados sobre a morosidade que estava prestes a ocorrer. Passados 1300 anos antes da “era comum”, somados a 400 anos de escravidão do povo hebreu, Ridley Scott foca a parte burocrática da Bíblia para introduzir o público no épico que retrata o segundo livro das escrituras cristãs sagradas, no qual se destaca um povo devoto, apesar das adversidades que ocorrem em seu cotidiano escravagista.

    O Moisés de Christian Bale seria um resistente. Mesmo nas cenas em que é mostrado agindo a favor do país que o acolheu, percebe-se um bocado de hesitação, fruto de uma desconfiança ainda não justificada, visto que o filme começa com o protagonista já adulto. Coincidentemente, a trajetória do Libertador começa semelhante a de outro herói ao qual Bale deu vida, pois Batman e Moisés começam suas jornadas na meia-idade – ainda que em Batman Begins haja variados flashbacks da traumática infância do destemido protagonista, e o segundo já comece mostrando Moisés ornado com vestes douradas, remetendo à condição real do hebreu criado no palácio.

    Um dos pontos facilmente notáveis é a estrutura narrativa “clonada” de Gladiador, talvez o último sucesso indiscutível do diretor. A posição do herói, antes ao lado do tirano império para depois voltar-se contra ele, é a mesma, assim como a estranha coincidência entre Maximus e Moisés, ambos muito admirados por seus mentores, em detrimento da figura que sucederia o trono da instituição monárquica. Reside o primeiro dos muitos problemas de Êxodo na completa ausência de interpretação do estrelado elenco. Quase todas as performances são realizadas no piloto automático, exceção, talvez, de John Turturro, que faz um iluminado Seth – faraó do começo do filme. Sigourney Weaver, Ben Kingsley, Bale e até Joel Edgerton atuam de forma mecânica, com muitas dificuldades de demonstrar qualquer sentimento em tela, o que prejudica demais a rivalidade que deveria haver entre o futuro faraó Ramses (Edgerton) e seu primo/irmão Moisés.

    Apesar do caráter épico da obra e das cenas em CGI serem deslumbrantes, o mesmo não se pode dizer da postura do protagonista. O Libertador de Israel deveria mostrar-se um sujeito em franca evolução, um incrédulo que passa a acreditar no Deus de seus pais e que, com o tempo, retorna a confiança que tinha desde os tempos em que reinava sobre todos. Quanto à primeira parte, não há crítica alguma. Bale consegue interpretar bem o herói falido, mas não consegue ser nada parecido com o colossal personagem bíblico. Não parece a figura imponente que deveria subjugar o inimigo comum do Povo de Deus, representado por Babilônia e Roma em tempos posteriores e neste, mostrado como o Egito. A frase dita pelo príncipe egípcio de que “a verdade não é uma boa história” se encaixa perfeitamente no arquétipo do personagem, ainda que essa “verdade” seja bastante discutível.

    A primeira recusa ao chamado transforma Moisés em um homicida, em uma versão diferente da bíblica, mas fiel em essência e ideia. Esse é o catalisador da mudança que o leva a ser pastor e pai de família. No entanto, a transição é problemática, pois seu retorno à terra dos escravos como um eremita faz Moisés parecer insano, um louco que cedeu à pressão dos muitos anos no deserto, movido por vozes de Um Invisível. O estigma de louco piora ao revelar o comportamento de seu futuro discípulo, Josué, vivido por um Aaron Paul ainda mais entorpecido do que em Breaking Bad.

    Moisés logo abandona o arquétipo de resignado profeta para se tornar um guerrilheiro visionário, liderando os seus como o general que inspira a resistência aos tiranos. Os métodos que começa a usar são pouco ortodoxos, extremamente belicistas, errados aos olhos do Criador. A ideia de mostrar os hebreus insatisfeitos é bela – e válida –, mas soa forçada e inverossímil.

    Há uma tentativa de compensação das falhas de conteúdo com o realismo auto infligido às pragas egípcias. O visual é belo, mas não consegue esconder as terríveis falhas de motivação dos personagens centrais, especialmente o estupefato comportamento do líder israelita, que não tem qualquer segurança em seus mandos e desmandos.

    Nota-se uma leve elevação da qualidade dos filmes de Ridley Scott, mas que é somente notada pela extrema decepção que foram O Conselheiro do Crime, Robin Hood e Prometheus. Moisés é um libertário sem nuances, um líder irresoluto durante a fita inteira, incapaz de evoluir, distante demais do arquétipo de Libertador, como é conhecido na Bíblia Sagrada, não inspirando qualquer confiança ou avidez por mudança. Êxodo: Deuses e Reis tenta ter pompa e procura ser magnânimo, mas sofre os defeitos de concepção, injustificáveis sequer pelo fato de ser um blockbuster.

  • Crítica | O Conselheiro Do Crime

    Crítica | O Conselheiro Do Crime

    o conselheiro do crime - poster brasileiro

    O britânico Ridley Scott está no panteão de grandes diretores vivos. Porém, as melhores produções de sua carreira estão situadas em décadas passadas: sua estréia, Os Duelistas, adaptação de uma história de Joseph Conrad, ganhou o prêmio de Melhor Primeira Obra em Cannes. E suas duas seguintes produções, Alien – O Oitavo Passageiro e Blade Runner – O Caçador de Andróides são obras máximas da ficção científica. Três filmes que sustentam com muita solidez o sucesso do diretor.

    Scott ainda vive pela potência do passado, projetando na própria carreira a sombra de seu início. Até mesmo quando intentou um retorno às suas origens com outra ficção científica, Prometheus, teve uma recepção dividida entre público e crítica.

    Diante desta filmografia oscilante, o grande atrativo de O Conselheiro do Crime era o roteiro assinado por Corman McCarthy, considerado um dos maiores escritores americanos contemporâneos, e o elenco talentoso formado por Michael Fassbender, Javier Bardem, Brad Pitt e Penélope Cruz.

    A história entregue pelo escritor situa-se longe de sua prosa premiada. Mesmo que uma narrativa e um roteiro cinematográfico se aproximem em certas instâncias, há diferenças estruturais entre eles. Tem-se a ilusão de que um bom escritor é capaz de dominar todas as vertentes narrativas, mas poucos foram capazes de se destacar em todos os gêneros. No Brasil, Rubem Fonseca, em entrevistas, autodeclara-se um cineasta frustrado e seu roteiro de O Homem do Ano, baseado na obra de Patrícia Melo (diretamente influenciada pela obra de Fonseca), não se compara com o talento de prosador que possui. Exemplos que demonstram a disparidade entre estilos de texto distintos.

    O suspense é focado no conselheiro do título que investe no tráfico de drogas à procura de dinheiro fácil. Dentro deste ambiente hostil e desconhecido, o conselheiro se torna alvo fácil quando o comboio com narcóticos não chega ao local estabelecido.

    Sem evidenciar as intenções dos personagens, como se tentasse abordá-los com nuances elípticas, a história é disfuncional. Conduz o público de vazio a vazio, sem intriga, drama, suspense, sem elementos que se destaquem. A história reproduz eventuais componentes vistos em histórias do gênero: a droga produzida em ambientes pobres, o contraste luxuoso dos poderosos que retêm o dinheiro, e as iscas fáceis que decidem adentrar no perigoso negócio. Personagens tipificados e interpretados sem muita exigência pelo elenco.

    A falta de clareza narrativa produz uma frieza não-intencional. Ampliando a sensação de que nem mesmo o roteirista e, por consequência, os atores sabem das motivações dos personagens. E o que parecia ser uma história de erros se anula pela condução mal realizada.

  • Crítica | A Vida em Um Dia

    Crítica | A Vida em Um Dia

    A Vida em Um Dia

    Você consegue imaginar um filme feito com cerca de 80.000 clipes de vídeo e mais de 4.500 horas de material fornecido por milhares de pessoas do mundo inteiro? Acredito que é um pouco difícil para qualquer um imaginar e conceber isso, mas A vida em um dia (Life In A Day) está aí em toda sua grandiosidade para mostrar que a ideia não só é possível como também é preciosa.

    Produzido da parceria entre a Scott Free UK (do aclamado diretor Ridley Scott) e o YouTube, o filme conta o que estava se passando ao redor do mundo no dia 24 de julho de 2010 através dos olhos de pessoas ordinárias. Adentramos o íntimo da vida pessoal de pessoas que talvez jamais venhamos a conhecer, mas que nem por isso deixamos de ter um sentimento de empatia por elas.

    O filme é belo e inspirador. As mais diversas cenas são apresentadas, desde a hora em que todos estão se levantando para mais um novo dia até o momento que a noite cai e as pessoas se despedem dele. Diversas culturas e costumes são reunidos mostrando as mais diversas formas de existir enquanto ser humano neste planeta. Somos todos pessoas diferentes e com pensamentos diferentes, porém unidos pela humanidade.

    O diretor brinca em diversos momentos do filme fazendo perguntas como “O que você ama?” ou “Do que você tem medo?” e o mundo responde em mais sequências de cenas simples, porém intensas. Intensidade essa provocada pela sensação de que existe um mundo gigantesco lá fora muito maior do que aquilo que conhecemos. Um dos personagens mais marcantes do filme é um ciclista coreano, o qual já inicia dizendo que não importa saber se é do norte ou do sul, que está viajando o mundo descobrindo novas culturas e engrandecendo a si mesmo enquanto pessoa.

    A vida em um dia é uma epifania de que ninguém nesse mundo está sozinho e nenhuma vida que nele está presente é dispensável. Através dos fatos mais comuns e simples do dia a dia de várias pessoas do mundo atingiu-se a grandiosidade. Muitas vezes nada de especial precisa acontecer para fazer com que um determinado dia valha a pena. Viver é enxergar a beleza nas pequenas coisas e nos pequenos momentos. É basicamente isso o que A vida em um dia nos mostra: a vida em sua plenitude.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Crítica | Prometheus

    Crítica | Prometheus

    Prometheus

    Tudo começou quando Ridley Scott e James Cameron, no início dos anos 2000, resolveram fazer uma quinta produção da franquia Alien. A ideia até então seria um prequel para a famosa franquia que teve seu primeiro filme lançado em 1979 (Alien – O Oitavo Passageiro). Quando do desenvolvimento de Alien Vs. Predador, em 2003, o projeto havia sido colocado na geladeira e apenas retomado em 2009, quando o diretor resolveu dar continuidade a ele. Finalmente em 2012 temos contato com Prometheus, um filme que foi bastante esperado pelos fãs do gênero ficção científica.

    Em 2089, os arqueólogos Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) e Charlie Holloway (Logan Marshall-Green) descobrem um mapa estelar através de vestígios de antigas civilizações desconexas umas das outras. Eles acreditam que o mapa estelar os levaria para o planeta em que residem os chamados “Engenheiros”, seres responsáveis pela criação da raça humana. Com o apoio de Peter Weyland (Guy Pearce), o CEO da Weyland Corporation, a expedição científica é patrocinada e enviada em direção à lua LV-223.

    A fome insaciável do ser humano por conhecimento e os questionamentos sobre nossa existência é o ponto de partida que o filme nos traz. Prometeu, na mitologia grega, foi um Titã que defendeu a humanidade, roubando o fogo dos deuses e entregando-os aos mortais. Em sanção a esse feito, Zeus o acorrentou a uma pedra, onde teria seu fígado comido por uma águia todos os dias por toda a eternidade. Temos aqui a figura do ser humano colocando as mãos em um conhecimento divino, que não deveria ter chegado nem perto (segundo a vontade dos referidos deuses). No filme, temos a presença de uma expedição que quer se encontrar com seus criadores para que eles nos respondam sobre as questões mais elementares da nossa existência.

    O filme de Ridley Scott é claramente inspirada nas obras Eram os Deuses Astronautas (Erich von Däniken) e Nas Montanhas da Loucura (H.P. Lovecraft). Enquanto no primeiro, o autor teoriza sobre a possibilidade de que seres do espaço visitavam a Terra na época das antigas civilizações e eram considerados deuses por estas, no segundo temos uma a influência do terror que provém do desconhecido.  Ambas as influências misturadas formam uma ideia que gera muitas possibilidades, porém no roteiro de Prometheus, infelizmente, acabam se perdendo a partir de pouco antes da metade do filme. Tentou-se criar um clima de tensão o qual foi sendo desconstruído por uma série de situações não convincentes e que, algumas vezes, beiravam o cômico.

    Criador e criatura. A necessidade de se perguntar do por quê de sua existência e tentar enfrentar o “pai”, que o abandonou. Em um momento do filme é facilmente visível o rosto de um Engenheiro que evidencia seu desconforto, sem precisar expressar em palavras, ao perceber que humanos haviam chegado até ali e isso não era certo. O mesmo Engenheiro menospreza o andróide, percebendo que sua criação também queria ser criadora de uma forma de vida. Tal como Zeus, os Engenheiros também queriam penalizar os humanos por suas transgressões.

    Existencialismo, espiritualismo e criacionismo são apenas alguns dos muitos temas que são levantados pelo filme ao longo de toda sua extensão. Porém, essas discussões que poderiam ter sido exploradas de uma maneira mais profunda, dando um peso excepcional para a narrativa, acabam apenas sendo arranhadas sob a ponta de um iceberg. Por outro lado, tal fato também é responsável pela abertura de dezenas de discussões entre os espectadores. John Spaihts e Damon Lindelof, roteiristas do filme, nos entregam apenas um ponto de partida para um universo sombrio onde algo de errado aconteceu e nossos criadores mudaram de ideia quanto a seus “filhos”.

    O ponto em que Prometheus mais peca acaba sendo no desenvolvimento dos seus personagens. Ao contrário do que foi feito em “Alien – O Oitavo Passageiro” – e é o único ponto em que é justo comparar com a franquia, pois ambos os filmes são completamente desconexos um do outro e possuem propostas completamente diferentes, apesar de fazerem parte do mesmo universo – em que os personagens da tripulação da Nostromo eram carismáticos e conseguiam fazer com que o espectador simpatizasse com eles, em Prometheus tal relação resta mal sucedida. Toda a tripulação da nave, com a exceção do capitão Janek (Idris Elba, que infelizmente possui poucos momentos na trama) e o androide David, (interpretado por Michael Fassbender) não conseguem criar empatia com o espectador. Infelizmente o excelente elenco, contando com a forte presença de Charlize Theron por exemplo, é sub-aproveitado por um roteiro raso e com personagens mal explorados.

    David é de longe o maior destaque do filme, evidenciando cada vez mais a excelência na atuação de Fassbender, que tem feito uma excelente carreira nos cinemas. Nesse filme, nos proporciona uma atuação a níveis robóticos. Seu destaque se dá também ao inserir em diversos momentos do filme a discussão sobre a consciência robótica. Assim como temos os seres humanos contrapondo às figuras dos “Engenheiros”, temos os androides contrapondo aos seres humanos, pois foram criados por estes. Em cenas diversas, o espectador se questiona até que ponto o robô estava obedecendo às ordens de seus chefes e até que ponto ele conseguia manipular as pessoas a sua volta com o intuito de atingir suas próprias vontades.

    A qualidade gráfica de “Prometheus” é excepcional. A filmagem inteiramente em 3D mesclada com os efeitos especiais bem desenvolvidos deram como resultado imagens que impressionam, resultado este atingido anteriormente em filmes como Avatar (de James Cameron) e A Invenção de Hugo Cabret (de Martin Scorsese). Com certeza um dos grandes pontos altos por apresentar as capacidades impressionantes da tecnologia 3D, ao contrário dos péssimos exemplos que encontramos nos cinemas, os quais infelizmente ainda são maioria do catálogo.

    Enfim, por mais que tenha tido uma série de problemas de narrativa que acabaram incomodando muitas pessoas uma certeza que temos é que o filme conseguiu criar questionamentos e teorizações frente a uma comunidade de fãs de ficção científica e, principalmente, para os fãs da franquia Alien. Várias e várias especulações são feitas diariamente em fóruns e artigos sobre as relações com o universo de Alien e, inclusive, sobre toda a simbologia que o filme carrega. No fim das contas, Ridley Scott conseguiu o sucesso e isso é um mérito para o filme.

    “Prometheus” deve ser assistido sem a pretensão de ser uma revolução nos filmes de ficção cietífica. Para as pessoas que gostam de “nitpicking” (ou ficar “procurando pêlo em ovo”, em outras palavras),  é perfeito.  Com certeza vão se divertir muito olhando as mil referências aos antigos concept arts de H.R. Giger, ao propósito de criação do clássico Alien que conhecemos, de quem são os misteriosos Space Jockeys, citações bíblicas (O nome da Lua do filme é LV-223, depois deem uma olhada em Levítico 22:3 para entenderem do que estou falando) e, inclusive, referências a Jesus Cristo que possivelmente foi um “Engenheiro”. Enfim, Prometheus é o suficiente para valer a pena o ingresso do cinema e uma diversão despretensiosa.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

    – Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Crítica | Blade Runner

    Crítica | Blade Runner

    No dia 25 de junho Blade Runner fez 30 anos: relativo fracasso de público na época do lançamento, o filme também dividiu os críticos, mas acabou se tornando cult e então clássico e colocou Ridley Scott na lista dos grandes diretores contemporâneos.

    Blade Runner é uma das ficções científicas mais populares mesmo entre aqueles que não  gostam do gênero e junto com 2001: Uma Odisséia no Espaço provavelmente a mais estudada, analisada e louvada pelos críticos e teóricos do cinema. Talvez porque aqui Scott fale menos de espaço e futuro e mais do que nos faz humanos.

    Em 2019 a Tyrell Corporations alcançou tal tecnologia na construção de andróides (ou replicantes) que se tornou necessária a aplicação de testes sutis para diferenciar entre eles e os humanos. Além disso: uma nova linha em desenvolvimento passaria a possuir memória, ou seja, um senso de família, passado e identidade. A pergunta que paira no ar então é: por que continuamos a trata-los como coisa?

    A trama segue Deckard ( Harrison Ford) um caçador de andróides contratado para desativar (ou “aposentar”) 4 replicantes que fugiram das colônias espaciais onde habitam e vieram para a Terra, onde são proibidos devido aos riscos da rebelião. Ao ser informado da missão Deckard se pergunta “mas por que eles voltariam a terra?”

    Eles vieram em busca de respostas. Mais que isso, conscientes de que sua vida útil é propositadamente muito curta (apenas 4 anos) vieram descobrir como extendê-la. Replicantes temem a morte, não querem abandonar a existência e sentem que seu tempo no mundo é muito curto. Exatamente como humanos. Mas enquanto nossa morte é inevitável e nosso tempo de vida aleatório, o deles é arbitrário: os andróides sabem quem os criou e sabem que vivem apenas 4 anos por opção desses criadores, eles poderiam ser eternos, ou ao menos viver por centenas de anos, mas não são, e sendo assim vêm a Terra também por vingança.

    Ridley Scott parece ter uma posição a respeito da humanidade dos andróides, ele acredita em sua subjetividade e os atores enchem seus personagens de nuances, sensibilidade e expressões que são tudo, menos mecânicas. Em uma memorável sequência Roy ( Rutger Hauer ) pergunta a Deckard se ele sabe o que é viver com medo e afirma seu temor de que tudo que viu, sentiu e experienciou se perderia no mundo, como lágrimas na chuva. Não se pode ser muito mais humano que isso.

    A personagem de Rachel ( Sean Young ) vem reforçar essa ideia, ela é vulnerável, quase frágil e seu desejo e amor por Deckard são bastante genuínos. Seu figurino cheio de peles dá a impressão de textura, calor e acessibilidade e a fotografia, quase sempre escura e artificial, banha a atriz em luz dourada, em Blade Runner só vemos o sol com Rachel em cena. Certo, suas memórias são falsas, mas é necessariamente falsa a identidade que ela construiu em cima dessas memórias? Rachel tem as memórias da sobrinha do Dr. Tyrell, mas elas são a mesma pessoa?

    A direção de arte e fotografia, aliás, colaboram de maneira excelente com o roteiro e as questões levantadas, dando ao filme uma unidade estética rara. Nunca é dia nessa Los Angeles fictícia, a luz é sempre cinzenta ou colorida de neon, é um mundo artificial mesmo para os humanos “de verdade”. Também existem poucas formas arredondadas, orgânicas, os ambientes são vazios, ascéticos, desprovidos de tudo que aproxima, identifica, de tudo que torna pessoal.

    O diálogo entre Roy e Tyrell (Joe Turkel)  é cheio de ambiguidade e retrata bem a delicada relação entre criador e criatura: o misto de agradecimento e fascínio com ódio por ter sido feito mortal. Scott retoma essas questões 30 anos mais tarde em Prometheus e se pergunta de novo qual o limite da criatura e a recusa de qualquer um em abandonar a vida.

    Assim, Blade Runner é um ótimo filme de ação, mas sua essência e talvez sua permanência, estejam nessas perguntas e no incômodo que até hoje sentimos frente a possibilidade de recriar tão perfeitamente a humanidade a ponto de nos perguntarmos o que é mesmo que faz um humano?

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • Crítica | Alien: O Oitavo Passageiro

    Crítica | Alien: O Oitavo Passageiro

    Alien

    “No espaço, ninguém pode ouvir você gritar.” Eis o slogan de um dos principais marcos da história do cinema. Lançado em 1979 e sob a direção de Ridley Scott, Alien – O Oitavo Passageiro criou um novo conceito para os filmes de terror com monstros, o qual se mescla, ao mesmo tempo, com elementos de ficção científica.

    Somos apresentados à nave cargueiro Nostromo e sua tripulação. No meio da viagem de volta para a Terra, os sete tripulantes a bordo da nave são acordados ao receberem um sinal advindo de um asteróide. Ao investigarem o local, um dos tripulantes é infectado por um alienígena, cujo embrião se aloja dentro de seu corpo. O pesadelo para os tripulantes começa quando o estranho monstro começa a caçar cada um dos tripulantes dentro da nave.

    O primeiro dos muitos méritos que o primeiro filme da franquia Alien possui é o fato de que dispunha, à época, de pouquíssimos recursos visuais e mesmo assim conseguiu produzir um resultado fantástico. A ausência de efeitos especiais surpreendentes como os que vemos hoje são recompensados totalmente com um roteiro completo e que desnorteia o espectador por toda a extensão do filme. Assim como em Tubarão (Steven Spielberg) que não vemos a ameaça na maior parte do tempo, em “Alien” acontece a mesma coisa. São pouquíssimos os momentos em que realmente enxergamos a monstruosidade em toda sua ferocidade, porém isso não muda a atmosfera de tensão criada pelo roteiro. Somos levados a um local isolado e à medida que os membros da tripulação vão morrendo vamos sendo empurrados cada vez mais a um sentimento de desolação extremo, o qual somente se potencializa com a trilha sonora de Jerry Goldsmith.

    Um filme que se passa no espaço com certeza proporciona uma excelente visualização da personalidade dos poucos personagens que apresenta. O elenco faz um excelente trabalho, destacando-se principalmente a atriz Sigourney Weaver como a heroína Ripley. No começo do longa metragem, mal conseguimos visualizar que ela é nossa protagonista, porém conforme o filme vai evoluindo, a personagem também se envolve cada vez mais à trama e a atriz consegue passar de maneira fluida e natural esse envolvimento.

    Não há  mais nada para falar da trilha sonora de Jerry Goldsmith e nem do design dos alienígenas feitas por H.R. Giger além de que são fantásticos e somente ajudaram o filme ainda mais a se tornar o clássico que é hoje.

    Com certeza um filme que vale a pena ser revisto por vários e vários anos. Nos apresenta o melhor do que o cinema tem a oferecer aos espectadores, proporcionando experiências únicas, graças a uma excelente produção. Não há como falar em filmes de monstros, de terror ou de ficção científica sem falar de Alien. Um verdadeiro clássico que merece a atenção de todos.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Agenda Cultural 05 | Os Perdedores de Sherwood

    Agenda Cultural 05 | Os Perdedores de Sherwood

    Nesta edição, Flávio Vieira (@flaviopvieira), Amilton Brandão (@amiltonsena)e Mario Abbade (@fanaticc) se reúnem para comentar tudo o que está rolando no circuito cultural dessa semana, com as principais dicas em cinema, teatro, seriados, quadrinhos e cenário musical.  Não perca tempo e ouça agora o seu guia da semana.

    Duração: 51 min.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

    Feed do Podcast

    Podcast na iTunes
    Feed Completo

    Contato

    Elogios, Críticas ou Sugestões: [email protected]
    Entre em nossa comunidade do facebook e Siga-nos no Twitter: @vortexcultural

    Comentados na edição

    Quadrinhos

    Resenha Os Perdedores

    Música

    Roger Hodgson
    ZZ Top
    Johnny Winter
    Mudhoney
    Living Colour
    Napalm Death
    L.A. Guns
    Virada Cultural em São Paulo
    Darkthrone – Circle The Wagons
    Judas Priest – British Steel: 30th Aniversary Edition

    Séries

    Modern Family

    Cinema

    Antes Que O Mundo Acabe
    Crítica Sempre Bela
    O Preço da Traição
    Crítica Os Homens Que Não Amavam as Mulheres
    Crítica Mademoiselle Chanbom
    Maré de Azar
    Crítica Pecados do Meu Pai
    Robin Hood

    Dica da Semana

    Bundesliga