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  • Crítica | Memory – As Origens de Alien: O Oitavo Passageiro

    Crítica | Memory – As Origens de Alien: O Oitavo Passageiro

    O documentário conduzido por Alexandre O. Phillipe começa no templo de Apollo, na Grécia em 1979, entre momentos de contemplação vendo insetos e outros predadores da natureza terráquea e um momento encenado, mostrando os monstros mitológicos gregos, as fúrias, que seriam inspirações para o roteiros Dan O’Bannon e para o restante da produção de Alien: O Oitavo Passageiro.

    Alien estreou em uma época em que alienígenas bonzinhos brilhavam, como os de Guerra nas Estrelas e Contatos Imediatos em Terceiro Grau, e boa parte do estudo que Memory – As Origens de Alien O Oitavo Passageiro passam por isso, por mostrar como a tradição de se retratar extra-terrestres como antagonistas voltaria a moda, e como seria pavimentado o caminho para Enigma de Outro Mundo, Sinais e Independence Day. Memory foi o nome do primeiro rascunho que O’Bannon fez para o filme, tinha apenas 30 páginas, e naquele planeta onde os astronautas pousariam haveria um “saque” a memória deles, deixando-os desmemoriados, como se sofressem de amnésia. O processo para que virasse esse um filme de monstro é mostrado aos poucos, e tem muito a ver com os trabalhos de John Carpenter e Alejandro Jodorowsky.

    Tempos atrás, uma versão da quadrilogia Alien foi lançada em Blu-Ray, com uma edição de luxo, incluindo featurettes diversos e o documentário Beast Within: The Making of ‘Alien’, que inclusive, é a fonte para boa parte das entrevistas com pessoas que já faleceram a altura do obra de Phillipe. No entanto, Memory acerta por não ser literalmente um making off, e sim um filme que reflete a respeito de questões filosóficas chave, como a evolução da idéia de monstros, que até os anos cinqüenta e sessenta, se restringiam a animais agigantados tocados pelo horror atômico. O medo agora viria do espaço,de algo externo, uma vez que as guerras deixaram o publico inerte e imunes a medos mundanos.

    Além de Memory, o rascunho do roteiro já foi chamado de They Bite, e Star Beast, e o estudo não explora só as influências de O’Bannon, como os quadrinhos pulp ou a ficção cientifica/fantástica de H.P.Lovecraft, mas também desenvolve bem os laços afetivos e agressivos com Carpenter, em Dark Star (que foi um proto-Alien só que voltado pro humor) aqui com muitos dissabores, e toda a frustração pelo fato de Duna de Jorowsky não ter dado certo, ao menos desse, muitos frutos vieram, para além até do fato dele conhecer H.G. Giger, mas também serviu para que ele tomasse coragem para revisitar seus textos antigos, já que pouco lhe restou.

    O longa é quase  uma biografia documentada de Dan, explicita que Roger Corman se ofereceu para financiar “Star Beast”, mas só se O’Bannon não conseguisse uma boa verba para faze-lo, pois achava o script bom, mas claramente não era um filme B, também se detalha que Walter Hill quase deixou a oportunidade passar, de dar luz ao filme, uma vez que as primeiras páginas causavam enfado, só ficava realmente interessante um tempo a frente.

    O ponto alto do filme é quando descrevem a criatura nascendo do peito de John Hurt, fato que fez Veronica Cartwright escorregar, com o susto e com a quantidade de sangue falso espalhado pelo chão após as tentativas frustradas. Esse trecho é um bom resumo de todo o esforço de Memory, que não é perfeito, tampouco muito original, mas é tão íntimo como o recente Friedkin Uncut, sendo que dessa vez, o principal alvo de investigação não estava mais vivo, fato que não permitiu que o filme fosse desinteressante.

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  • Horror no Espaço | Os Bastidores da Saga Alien

    Horror no Espaço | Os Bastidores da Saga Alien

    As ideias iniciais de Ronald Shusset e Dan O’Bannon em relação a Alien: O Oitavo Passageiro eram ligadas a pretensões teatrais, por parte do primeiro, e a de assustar por meio da ficção científica com o segundo, já que Danny não conseguiu fazer rir em Dark Star, de John Carpenter. Após quase passar o projeto inicial a Roger Corman (diretor e produtor de filmes B), tudo mudou, graças a alguns elementos pensados por Alejando Jodorowsky em seu Duna que jamais saiu do papel. Com o tempo, o roteiro passaria por Walter Hill – que o modificaria, a contragosto de O’Bannon, coisa que certamente pesou para que o criador não tenha sido o diretor do produto final, e caberia também a David Giler e Gordon Carroll a função de produtores. Seriam eles que decidiriam por convidar Ridley Scott, que acabava de entregar o sucesso Os Duelistas.

    O paradigma hitchcockiano de não mostrar tudo é a parte do suspense que funciona na direção de Ridley Scott. A ideia do britânico de emular aspectos de Star Wars, retirando o claro caráter fabulesco. Seu filme mira em um O Massacre da Serra Elétrica no espaço. As referências ao pioneiro filme slasher estão todas lá: canibalismo – ainda que seja tecnicamente entre espécies, se considerar que o Alien saiu de um peito humano… – símbolos fálicos, que representam a promiscuidade que predominaria em Halloween e Sexta-Feira 13, e claro, a sobrevivência da mulher virginal.

    Analisando atualmente a carreira de Scott, dá-se muito mérito a ele pela concepção de Alien. De fato, sua contribuição é muitíssimo importante, visto que foi ele que orquestrou todos os elementos juntos, mas há de se destacar que todo o visual deslumbrante não teve qualquer ingerência sua. As artes conceituais de H.R. Giger, reaproveitadas em parte do nunca filmado Duna e a mão firme de Hill, Giler e Carroll ajudaram não só a construir um filme muito potente, como também solidificaram uma saga que, apesar de muitas diferenças entre seus capítulos, teve sempre um enorme mérito em cada um de seus produtos. Portanto, relegar a Scott os méritos de dono da obra é uma falácia tremenda, já que muitos elementos juntos tornaram este um filme único.

    Assim, em 1979 enfim estreava o filme, com um caráter dúbio, críticas as grandes corporações e com um visual sujo, escuro e sombrio. O passo seguinte seria transformar Alien em uma franquia e coube ao diretor de Exterminador do Futuro, James Cameron, com Aliens: O Resgate.

    O novo encarregado mudaria o paradigma, exibindo um espaço azul, belo, menos nebuloso que o “futuro original”. O visual escolhido era de um futuro mais hermético, semelhante ao que seria visto em Segredo do Abismo e Avatar, com o gênero igualmente modificado, como Cameron faria na franquia Terminator, transitando do terror para ação.

    A mudança de caráter foi muito comemorada por Hill e Giler, já que partiu deles o desejo por uma mudança de clima, incluindo aí o cunho mais sensacionalista, no que toca os sonhos dos personagens – fato que ecoaria na parte três da franquia – assim como as mudanças dramáticas no passado de Ripley, como a inserção de sua filha perdida após o salto no tempo de 57 anos. Aos poucos, os produtores se tornaram os reais donos da história, se distanciando mais e mais do planejado por Shusset, O’Bannon e até Ridley Scott.

    No entanto, as mudanças tiveram um bom desenrolar, especialmente na dura crítica ao capitalismo. As garras mortais dos comerciantes das Weyland é intimamente ligada ao sumiço de Ripley, dos tripulantes e do maquinário da Nostromo. Já o  planeta LV- 426 visitado no episódio um, acaba por se tornar uma colônia terrestre, com um total de 70 famílias. Essas pessoas são completamente desconhecidas entre elas fora, obviamente, dos núcleos familiares, o que torna ainda mais curioso a habitação nesse lugar condenado. Convenientemente, nenhum evento estranho ocorreu naquele mundo, até o apogeu da tenente, fazendo dela a especialista, que lideraria um esquadrão de fuzileiros, mesmo ela não tendo qualquer treinamento militar prévio.

    O elemento surpresa na parte 3, do ponto de vista dramático, seria a maternidade latente, de Ripley e da Alien Rainha introduzida no filme de Cameron. A terceira viagem ao universo da saga é dirigida por uma inexperiente David Fincher, que exibe um planeta colônia, que serve de presídio, habitado somente por homens. Mais uma vez Ripley está sozinha, é a única sobrevivente. A tragédia a acomete, percebendo estar isolada, num ambiente hostil, prisional, até religiosamente punitivo.

    A primeira opção para o filme seria o diretor Renny Harlin, de Duro de Matar 2 e A Ilha da Garganta Cortada. A indefinição quanto ao tema principal do filme, desde a chegada de Hicks (Michael Biehn), Newt (Carrie Henn) e Ripley a Terra, como uma família, até a possibilidade de explorar o planeta natal dos Aliens, algo muito caro para a época (e que teria um pouco de seu projeto resgatado em Prometheus, graças ao desejo de David Giler de ter Scott de novo na franquia). Harlin saiu do projeto ao perceber que as coisas andavam para uma continuação em espírito de Aliens, e o que ele queria era não fazer uma cópia nem do primeiro e nem do segundo filme. O roteiro parou na mão de Vincent Ward, que acabara de realizar Navigator: Uma Odisséia no Tempo. Ward percebeu um script cru, com quase nada pronto, mas ainda assim fez alterações no texto, não aceitando a direção por perceber que dentro da equipe haviam “espiões”, que passavam informações aos chefões do estúdio por suas costas. A decisão natural de sair fez de Fincher a nova opção, e partir daí se decidiu que a história se passaria em Fury 161, planeta prisional que antes foi pensado como o lar de uma religião de monges.

    A aridez do local, habitado por piolhos impede a proliferação até de cabelo e faz cada encarcerado parecer um monge como pensado antes, fazendo desses arautos de um apocalipse que não acometeu a Terra, mas que já atacou a humanidade outras duas vezes. O alvorecer da criatura, que usou um bovino como hospedeiro é ainda mais grotesco, com detalhes filmados, em partes específicas da cantina onde o animal seria fatiado. O tosco CGI, pouco utilizado no cinema dos anos 1990 acaba amortizando o impacto de sua aparição, mas não ameniza o terror que dali viria, o terror que habitava o ventre de Ripley.

    Aos poucos, a protagonista se libera, pondo para fora seus pensamentos, explanando sua masculinidade incutida que prevalece mesmo em meio a massa carcerária. Sua paranoia se torna real, o clã de monges em meio a uma terra devastada não consegue demovê-la, nem contê-la, já que sobre si há uma terrível profecia, de proliferação da praga.

    O problema de Alien 3 é que ele não se encontrar nem como filme de terror, nem como filme de ação. É esquizofrênico quanto ao gênero, o que o faz denegrir demais. A confusão de abordagem também acomete Ripley, ao finalmente descobrir ser hospedeira da coisa, na versão rainha do xenomorpho.

    A produção foi muito conturbada, quase todas as ideias que Fincher queria para o filme foram cortadas, até por ele começar a rodar sem um roteiro definido, aprovado por ele. Ele era desacreditado por gente interna, do estúdio e até por pessoas que trabalhavam diretamente consigo, incluindo Walter Hill e David Giler. A demora em concluir o filme só piorava a relação entre as partes. O prejuízo era quase sempre ligado a falta de um roteiro concreto. A tolerância entre diretor e mandatários da Fox chegou perto do zero, com cortes arbitrários de cenas gravadas externamente, que se refletiram claramente no processo criativo do filme, e no fracasso em realizar algo realmente bom.

    Walter e David Giler não queriam uma continuação, mas a revelia até deles o estúdio começou a planejar Alien: A Ressurreição, chamando Joss Whedon – a mente por trás do futuro crossover da Marvel Vingadores (e sua continuação Vingadores a Era De Ultron) – para conduzir um novo texto que seria entregue a Jean Pierre Jeunet, diretor de Ladrão de Sonhos e do futuro O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. Decidem então trazer Ripley de volta a vida, através de experimentos de clonagem, trazendo também a Alien Rainha e mais algumas criaturas malvadas, entre elas, uma fusão entre Alien e Humana, sendo esse o real herdeiro da protagonista.

    A ideia inicial do “filho” era que ele tivesse o rosto de Sigourney, e obviamente isso foi descartado, para ter um hibrido terrivelmente mais feio e desnecessário, que é em suma o resumo dos equívocos dessa continuação. O fato é que o distanciamento dos antigos produtores se viu em inúmeras sequências pensadas por Jeunet, sendo este certamente o mais poluído visual e musicalmente falando, com sequência que tencionam o pavor e entregam momentos quase cômicos.

    A tônica de Jean Pierre Jeunet não combinava em nada com o estabelecido pelos outros cineastas, embora cada um tivesse seu estilo, e certamente a falta de liberdade que deram para Fincher ocasionou na produção nova uma reação de aceitação de praticamente qualquer elemento novo, deixando as rédeas frouxas para qualquer invencionice banal ser levada a tela. A preocupação da produção parecia mais a de validar alguns avanços em computação gráfica e uso de arquivos digitais do que em realmente estabelecer uma boa história.

    Segundo o próprio diretor, que optou por não ler as críticas em inglês, o numero de resenhas negativas e positivas foi quase o mesmo, já na França, a recepção foi mais calorosa por parte dos analistas. Por mais que grande parte dos fãs da franquia não tenham gostado do resultado final de Alien 4, é fato que esse é um dos mais referenciais em relação a H.R. Giger, em especial pelas atitudes pseudo sexuais de Ripley, que parece estar mais a vontade com o xenomorpho do que com os humanos.

    Durante muito tempo, a saga ficou adormecida. Entre 1997, ano em foi lançado o quarto capítulo e o próximo filme que tocava a franquia de alguma forma – leia-se Alien vs Predador, de Paul W. S. Anderson – passaram-se sete anos. A criatura hibrida de H.R. Giger continuava aterrorizando seus fãs. Mesmo o confronto contra o Predador já havia ocorrido muito tempo antes, em 1989, em quadrinhos da Dark Horse e até nos videos games, com um jogo para Super Nintendo em 1993. De fato os símbolos criados por O’Bannon e Shusset já estavam marcados no gosto popular, e um pouco depois, Ridley Scott retornaria para tentar lançar uma luz sobre a origem da criatura – de certa forma podendo até negar o ocorrido com os filmes que ele não dirigiu, ja que não há o conceito da Rainha nos novos produtos – com Prometheus, além é claro do recente Alien Convenant, mas sem o mesmo brilho dos produtos anteriores, evidenciando por sua vez a total falta de criatividade de Hollywood, bem como a dificuldade dos mesmos em criar novos ícones. Apesar desses acertos e erros, Alien continua como um dos mais importantes produtos da cultura pop, mesmo que seus maiores inimigos sejam seus próprios realizadores.

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  • Crítica | Dark Star

    Crítica | Dark Star

    Dark Star 1
    Fruto do início da trajetória cinematográfica de duas personalidades históricas, Dark Star traz a estreia na direção de John Carpenter, já evocando a claustrofobia através de cenários curtos, que seria a tônica de seus futuros trabalhos, aliado ao roteiro de Dan O’Bannon, que aludiria ao receio e paranoia espacial de encontrar figuras atemorizantes durante a corrida espacial setentista, que resultaria na inspiração – junto a Duna de Jodorowsky – no arquétipo de Alien o Oitavo Passageiro, inclusive no visual.
    A aparência dos astronautas como homens barbudos e de fala simples alude ao grupo de sete tripulantes da Nostromo, ainda que falte entre eles qualquer figura que meramente lembre uma beleza feminina aliviante, ao contrário, como dito no início, não há muito espaço para esperanças dentro do minúsculo compartimento de viagem, que já teve sua primeira baixa antes mesmo de a história começar a rodar.
    A música composta por Carpenter além de servir de recurso narrativo, faz lembrar o quão pessoal é a fita, que conta com a trilha original de seu diretor e com a atuação e supervisão de efeitos especiais de seu roteirista e co criador. O tom de humor reúne elementos tanto de comicidade escrachada quanto de acidez, transitando na linha tênue entre não levar-se a sério e ainda tentar provocar em seu público uma sensação de incômodo. O maior avatar desse aspecto dúbio é a figura do alienígena que Pimback (O’Bannon) trouxe a bordo para ser a mascote da expedição. A composição da criatura não passa de uma bola de gás, pintade de laranja e repleta de manchas arredondadas, com dois pés bem toscos nas extremidades, mas tal figura põe o astronauta em questão em apuros muito sérios.
    A temática mais discutida dentro do roteiro é a loucura provinda do isolamento e do confinamento, tecendo uma crítca séria ao sucateamento das condições humanas de trabalho, claro, com muito mais humor do que no episódio Nostromo, mas ainda assim em uma proposta bastante ousada para o ínfimo preço de toda a produção. Dark Star serve tanto como uma extensão de alguns temas discutidos em 2001, especialmente dos mais superficiais, como o receio de ser tragado pela máquina e medo do inevitável, bem como funciona como uma paródia do clássico de Clarke, já que segue na mesma esteira visual que Kubrick pensou, influindo bastante no conceito imagético escolhido por George Lucas para sua trilogia famosa.
    Apesar das condições precárias, Carpenter e O’Bannon conseguem reverenciar o cinema de ficção científica que os precedeu, prestando louvor mas sem se desapegar da modernidade, ajudando a pavimentar o caminho que as futuras space óperas teriam. A proposta simples aos poucos ganhou ares de grandiloquência, ainda que seja comumente subestimada em sua importância.

  • Crítica | Alien 3

    Crítica | Alien 3

    Alien 3 versão estendida

    Após o enorme sucesso de público e crítica depois do lançamento de Aliens: O Resgate, uma enorme expectativa sobre uma nova parte da saga dos xenomorfos foi criada. Ao longo de alguns anos, várias versões de roteiro foram escritas e reescritas. A missão de produzir o novo capítulo de uma série de filmes que foi um marco para a ficção científica provou-se pesadíssima. Porém, no ano de 1992, Alien 3 chegou aos cinemas.

    A trama do filme passa-se algum tempo depois dos eventos narrados na segunda parte da quadrilogia. A Sulaco – nave onde se encontravam em animação suspensa a Tenente Ellen Ripley, a criança Newt, o androide Bishop e o Cabo Hicks – cai em um planeta-prisão chamado Fiorina 161. Após o resgate da nave, fica comprovado que somente Ripley sobreviveu à queda. Pouco tempo depois disso, um boi (na versão original do cinema, um cachorro) é infectado por um facehugger escondido dentro do módulo que caiu, dando origem a um xenomorfo que passa a eliminar os prisioneiros um a um.

    Alien 3 retorna ao clima claustrofóbico e urgente do primeiro filme, pois não existem armas na prisão. Os corredores do cárcere em muito se assemelham aos da nave Nostromo, e o diretor David Fincher acaba emulando o estilo criado por Ridley Scott em Alien: O 8º Passageiro. Isso provavelmente aconteceu por pressão do estúdio. A produção do filme foi conturbada desde o início devido às várias versões de roteiro ao longo dos anos e a intensa interferência dos engravatados no trabalho do diretor, fazendo com que o filme não tivesse o mesmo nível de seus predecessores. Fincher renegou a obra algum tempo depois devido ao inferno que viveu na época.

    A versão de cinema para Alien 3 possui grande furos de roteiro, já que um grande número de cenas foi cortado. Isso fez com que o filme se tornasse muito apressado – ainda que sua metragem seja de 115 minutos – e com algumas resoluções bem absurdas para certas situações apresentadas na trama. Já a versão estendida acrescenta por volta de 30 minutos de cenas à obra, tornando a película mais coerente e se aproximando mais da visão de Fincher. Cabe dizer que o diretor não teve participação nessa nova montagem. É interessante ver que mesmo remasterizadas em alta definição, algumas cenas sofrem de problemas técnicos, talvez em razão da degradação dos negativos ao longo dos anos.

    O roteiro final, assinado por David Giler, Walter Hill e Larry Ferguson, a partir de uma história de Vincent Ward, possui alguns pontos bem interessantes que são melhores apresentados nesta versão do filme. O principal ponto é a questão religiosa dos presos de Fiorina 161. Devido a isso, eles traçam uma analogia de que o alien seria a criatura do juízo final. Alguns, em um momento inicial, não se importam se são mortos por ela. Interessante ainda é o fato de que a batalha de Ripley com a raça alienígena ganha um aspecto pessoal, afinal, graças ao alien, a tenente perdeu toda a convivência com a sua filha (é mencionada a morte dela no segundo filme), perdeu aquele que poderia ser um novo amor (o Cabo Hicks) e quem poderia colocá-la no papel de mãe novamente (a menina Newt). Há ainda um espaço para a retomada do plot do segundo filme, onde a corporação Weyland-Yutani desejava transportar os aliens para a Terra a fim de estudá-los e criar uma nova arma biológica. Tal situação ocorre bem próxima ao final da película e gera um interessante embate entre Ripley e um funcionário da companhia interpretado por Lance Henriksen.

    Quanto às atuações, Sigourney Weaver mantém o nível dos filmes anteriores, porém imprime bastante amargura à protagonista. Talvez sua melhor cena seja a da autópsia no corpo de Newt. Charles S. Dutton dá um verdadeiro show como o líder religioso dos internos na prisão, e as cenas que ele antagoniza contra a tenente Ripley são sensacionais. Charles Dance, como o médico que desperta o interesse da personagem principal, também está muito bem em cena.

    Ainda que não seja tão espetacular como os primeiros, Alien 3 é um grande filme, e esta Versão Estendida o torna bem mais interessante, produzindo um desfecho mais apropriado para o arco de histórias da Tenente Ellen Ripley contra o xenomorfo assassino.

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  • Crítica | Aliens: O Resgate

    Crítica | Aliens: O Resgate

    Em 1979, fomos apresentados a uma das mais incríveis e aterrorizantes histórias de ficção científica da história do cinema. O diretor Ridley Scott e o roteirista Dan O’Bannon criaram Alien: O 8º Passageiro, uma obra-prima de atmosfera sufocante, aterrorizante e que possui uma incrível sensação de urgência, além de possuir ótimas analogias e mensagens embutidas. Não à toa, este Aliens: O Resgate demorou bastante tempo para ser produzido.

    O filme passa-se 57 anos depois do evento do original, com a Tenente Ellen Ripley (Sigourney Weaver) sendo resgatada e trazida de volta ao planeta Terra após passar todo esse tempo em animação suspensa. Após passar por intenso escrutínio, a protagonista é completamente ignorada pelos executivos da corporação Weyland-Yutani, que alegam não existirem provas conclusivas da existência do alien. Ela é informada ainda que o asteroide LV-426 está sendo colonizado. Logo após esses eventos, uma família encontra a espaçonave que a tripulação da Nostromo encontrou no primeiro filme, e o patriarca acaba infectado. Posteriormente, a comunicação com a colônia é cortada e uma missão militar é designada para descobrir o que ocorreu no local. Ripley então se junta a eles agindo como consultora.

    Há uma clara mudança de tom em relação ao primeiro. Ainda que a obra possua uma grande carga de suspense, o diretor James Cameron focaliza muito mais a ação, mesmo que boa parte do filme se passe dentro dos corredores da estação espacial que fora montada no asteroide. O diretor, um dos grandes nomes do cinema de ação e ficção científica dos últimos tempos, constrói toda uma atmosfera de tensão, para depois emendar uma série de sequências eletrizantes, especialmente no terço final, nas cenas que a tenente parte para resgatar a pequena Newt, e no seu embate final com a alien-rainha. Ao contrário das atuais películas de ação da atualidade, em que o desenvolvimento dos personagens é tacanho e apenas um pretexto para sequências de ação serem jogadas a todo momento na tela, em Aliens há sempre um momento para as relações interpessoais dos personagens. Nada muito aprofundado, mas suficientemente crível para que todas as motivações sejam bem expostas na tela e bem compreendidas pelo espectador.

    O roteiro idealizado por James Cameron, David Giler e Walter Hill é bem amarrado e faz melhor sentido nessa edição especial. Somos apresentados a uma cena deletada que trata sobre a filha da personagem de Weaver e que morreu idosa sem reencontrar a mãe, a qual estava perdida no espaço. Essa cena nos faz ter uma compreensão e aceitação melhor do sentimento materno que a militar rapidamente desenvolve por Newt ao encontrá-la na colônia espacial. A questão maternidade também acaba sendo bem exposta no roteiro, pois após Ripley destruir todos os ovos que continham os facehuggers (aquela espécie que abraça o rosto das pessoas e as “engravida” com o xenomorfo), a alien-rainha inicia uma espécie de vingança contra Newt, pois, em grande parte da batalha final, a criatura volta suas forças para matar a criança. Fica uma impressão de que ela deseja destruir a “cria de Ripley” visto que todas as suas foram dizimadas pela tenente.

    As atuações do filme são espetaculares. Weaver retorna muito bem ao papel que a lançou ao estrelato e domina todas as atenções para si. A atriz aqui se consagra como uma das personagens femininas mais fortes da história do cinema, e a indicação da intérprete ao Oscar de melhor atriz foi totalmente justificada. Lance Henriksen, o androide Bishop, também se destaca em tela, sem cair em nenhum momento na caricatura e sem repetir nenhum trejeito de Ian Holm, intérprete do robô do primeiro filme. Michael Biehn também está bem competente em cena. O restante dos atores, apesar dos personagens serem um pouco estereotipados, não compromete a obra e acaba se saindo bem nas cenas mais tensas.

    Toda a cenografia e o design de objetos foram inspirados por Syd Mead, designer de Blade Runner, e merecem ser elogiados. Mesmo que em 1986 ainda existisse uma predominância dos efeitos especiais práticos, tudo é meticulosamente construído e contribui para a imersão do espectador no ambiente muito bem explorado pelo ótimo trabalho de fotografia idealizado por Adrian Biddle. A trilha sonora composta por James Horner é eletrizante e até hoje é utilizada em trailers de outros filmes.

    Enfim, resumindo em um clichê, Aliens: O Resgate é uma montanha-russa. Uma experiência completamente diferente daquela proposta pelo seu antecessor, mas espetacular no mesmo nível. Uma obra-prima da ficção científica que merece estar sempre sendo revista e apreciada.

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  • Crítica | Alien: O 8º Passageiro

    Crítica | Alien: O 8º Passageiro

    Pensado a partir da anárquica cabeça de Dan O’Bannon, junto a Ronald Shusett, o filme do novato Ridley Scott exibe um futuro sujo, com o espaço atuando como campo ideal para caminhoneiros maltrapilhos ganharem suas vidas. O veículo Nostromo leva 20 milhões de toneladas de minério, e seus tripulantes são pessoas absolutamente descartáveis, parte integrante de uma sociedade que mal olhava seus convivas, especialmente os das camadas mais populares, como os sete tripulantes.

    A versão de 115 minutos começa com a câmera sobrevoando a parte baixa da nave, como uma versão torpe de Guerra nas Estrelas, cujas tomadas são parecidas, mas com espírito diferenciado. A série de homenagens prossegue com os tripulantes levantando da hibernação, semelhante ao que é visto em Planeta dos Macacos de 1968. A arquitetura da Nostromo lembra o design das naves de 2001 – Uma Odisseia no Espaço, assim como os painéis de controle têm a mesma tecnologia retrô.

    A nave é danificada e obriga os viajantes a ficar mais tempo na locação. Na estranha superfície, encontram um “recipiente” estranho. Dentro da nave, os exploradores veem uma criatura grande, alta, fossilizada, com os ossos para fora, num prenúncio do mal que acometeria a equipe de sete passageiros. A viscosidade das ovas, concebidas pelo artista plástico suíço (e louco) H. R. Giger, lembra elementos sexuais, como quase tudo envolvendo a “criatura”, associando a figura nefasta, anunciadora da morte, ao pecado moral do coito, resgatando mais um dos elementos comuns nos filmes de terror.

    Ridley Scott resgata a prerrogativa que Roman Polanski utilizou em Bebê de Rosemary, unicamente para pervertê-la em outros aspectos, apresentando a junção entre criaturas completamente diferentes, entre o homem e seu predador, com quase todas as consequências vistas no suspense em que o filho do Anticristo nascia. Entre as duas obras, há o foco na catástrofe e na inexorabilidade da existência do mal, além das enormes chances de que este vença com uma carga um pouco mais positiva do que a do filme de 1979.

    Uma das cenas adicionais mostra Ripley encontrando a base da criatura, com Dallas agonizando, envolto em uma substância gosmenta, à espera de que uma das ovas se choque, antecipando o que seria mostrado na continuação de James Cameron, o que desagradou a vontade do diretor. Esta cena extra simboliza a transição entre a figura sexualizada da mulher para um guerreiro em preparação, como um cavaleiro andante rumo ao combate contra um dragão bravo, ainda que não tenha certeza do êxito de sua empreitada. A mudança de gênero é feita de modo genuíno e orgânico. Porém, o terror não acaba nem ao subirem os créditos, nem mesmo com o tranquilo sono de hibernação da heroína de ação.

    A pontualidade da trilha de Jerry Goldsmith lembra o esmero utilizado em Nosferatu, com a mesma sinfonia de horror do clássico de F. W. Murnau, acrescida de um suspense atroz, proveniente das partes do filme que não possuem música. O silêncio é muito bem utilizado, fortalecendo a sensação de claustrofobia e extrema solidão tanto de Ripley quanto dos outros caçados.

    O último diário de bordo anuncia que Ripley foi a única que sobreviveu, emulando a característica dramática dos clássicos teatrais shakesperianos. A obra, após uma odisseia emocional, entrega um desfecho trágico, cuja sensação de alívio é dada somente a um dos personagens retratados, quando muito. Constatando a produção do filme e comparando-a às suas obras atuais, percebe-se que algo do talento de Ridley Scott foi sepultado também, tendo reprisado momentos tão bons somente em Blade Runner – O Caçador de Androides. Seus ângulos de câmera favorecem a avidez pela sobrevivência, que não atenua ou abranda qualquer sensação ruim para o seu público. Os closes em Weaver, após esta perceber não estar sozinha no módulo de escape, são um resumo de toda a ópera do medo que o diretor resolveu imprimir em sua fita, sucesso este fruto da bestialidade do roteiro unida às figuras grotescas de Giger. O impacto é maximizado em termos de espanto pela câmera inquieta do realizador, sua especialidade em redigir momentos em que o senso de urgência é o mote da história.

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