Tag: H.R. Giger

  • Horror no Espaço | Os Bastidores da Saga Alien

    Horror no Espaço | Os Bastidores da Saga Alien

    As ideias iniciais de Ronald Shusset e Dan O’Bannon em relação a Alien: O Oitavo Passageiro eram ligadas a pretensões teatrais, por parte do primeiro, e a de assustar por meio da ficção científica com o segundo, já que Danny não conseguiu fazer rir em Dark Star, de John Carpenter. Após quase passar o projeto inicial a Roger Corman (diretor e produtor de filmes B), tudo mudou, graças a alguns elementos pensados por Alejando Jodorowsky em seu Duna que jamais saiu do papel. Com o tempo, o roteiro passaria por Walter Hill – que o modificaria, a contragosto de O’Bannon, coisa que certamente pesou para que o criador não tenha sido o diretor do produto final, e caberia também a David Giler e Gordon Carroll a função de produtores. Seriam eles que decidiriam por convidar Ridley Scott, que acabava de entregar o sucesso Os Duelistas.

    O paradigma hitchcockiano de não mostrar tudo é a parte do suspense que funciona na direção de Ridley Scott. A ideia do britânico de emular aspectos de Star Wars, retirando o claro caráter fabulesco. Seu filme mira em um O Massacre da Serra Elétrica no espaço. As referências ao pioneiro filme slasher estão todas lá: canibalismo – ainda que seja tecnicamente entre espécies, se considerar que o Alien saiu de um peito humano… – símbolos fálicos, que representam a promiscuidade que predominaria em Halloween e Sexta-Feira 13, e claro, a sobrevivência da mulher virginal.

    Analisando atualmente a carreira de Scott, dá-se muito mérito a ele pela concepção de Alien. De fato, sua contribuição é muitíssimo importante, visto que foi ele que orquestrou todos os elementos juntos, mas há de se destacar que todo o visual deslumbrante não teve qualquer ingerência sua. As artes conceituais de H.R. Giger, reaproveitadas em parte do nunca filmado Duna e a mão firme de Hill, Giler e Carroll ajudaram não só a construir um filme muito potente, como também solidificaram uma saga que, apesar de muitas diferenças entre seus capítulos, teve sempre um enorme mérito em cada um de seus produtos. Portanto, relegar a Scott os méritos de dono da obra é uma falácia tremenda, já que muitos elementos juntos tornaram este um filme único.

    Assim, em 1979 enfim estreava o filme, com um caráter dúbio, críticas as grandes corporações e com um visual sujo, escuro e sombrio. O passo seguinte seria transformar Alien em uma franquia e coube ao diretor de Exterminador do Futuro, James Cameron, com Aliens: O Resgate.

    O novo encarregado mudaria o paradigma, exibindo um espaço azul, belo, menos nebuloso que o “futuro original”. O visual escolhido era de um futuro mais hermético, semelhante ao que seria visto em Segredo do Abismo e Avatar, com o gênero igualmente modificado, como Cameron faria na franquia Terminator, transitando do terror para ação.

    A mudança de caráter foi muito comemorada por Hill e Giler, já que partiu deles o desejo por uma mudança de clima, incluindo aí o cunho mais sensacionalista, no que toca os sonhos dos personagens – fato que ecoaria na parte três da franquia – assim como as mudanças dramáticas no passado de Ripley, como a inserção de sua filha perdida após o salto no tempo de 57 anos. Aos poucos, os produtores se tornaram os reais donos da história, se distanciando mais e mais do planejado por Shusset, O’Bannon e até Ridley Scott.

    No entanto, as mudanças tiveram um bom desenrolar, especialmente na dura crítica ao capitalismo. As garras mortais dos comerciantes das Weyland é intimamente ligada ao sumiço de Ripley, dos tripulantes e do maquinário da Nostromo. Já o  planeta LV- 426 visitado no episódio um, acaba por se tornar uma colônia terrestre, com um total de 70 famílias. Essas pessoas são completamente desconhecidas entre elas fora, obviamente, dos núcleos familiares, o que torna ainda mais curioso a habitação nesse lugar condenado. Convenientemente, nenhum evento estranho ocorreu naquele mundo, até o apogeu da tenente, fazendo dela a especialista, que lideraria um esquadrão de fuzileiros, mesmo ela não tendo qualquer treinamento militar prévio.

    O elemento surpresa na parte 3, do ponto de vista dramático, seria a maternidade latente, de Ripley e da Alien Rainha introduzida no filme de Cameron. A terceira viagem ao universo da saga é dirigida por uma inexperiente David Fincher, que exibe um planeta colônia, que serve de presídio, habitado somente por homens. Mais uma vez Ripley está sozinha, é a única sobrevivente. A tragédia a acomete, percebendo estar isolada, num ambiente hostil, prisional, até religiosamente punitivo.

    A primeira opção para o filme seria o diretor Renny Harlin, de Duro de Matar 2 e A Ilha da Garganta Cortada. A indefinição quanto ao tema principal do filme, desde a chegada de Hicks (Michael Biehn), Newt (Carrie Henn) e Ripley a Terra, como uma família, até a possibilidade de explorar o planeta natal dos Aliens, algo muito caro para a época (e que teria um pouco de seu projeto resgatado em Prometheus, graças ao desejo de David Giler de ter Scott de novo na franquia). Harlin saiu do projeto ao perceber que as coisas andavam para uma continuação em espírito de Aliens, e o que ele queria era não fazer uma cópia nem do primeiro e nem do segundo filme. O roteiro parou na mão de Vincent Ward, que acabara de realizar Navigator: Uma Odisséia no Tempo. Ward percebeu um script cru, com quase nada pronto, mas ainda assim fez alterações no texto, não aceitando a direção por perceber que dentro da equipe haviam “espiões”, que passavam informações aos chefões do estúdio por suas costas. A decisão natural de sair fez de Fincher a nova opção, e partir daí se decidiu que a história se passaria em Fury 161, planeta prisional que antes foi pensado como o lar de uma religião de monges.

    A aridez do local, habitado por piolhos impede a proliferação até de cabelo e faz cada encarcerado parecer um monge como pensado antes, fazendo desses arautos de um apocalipse que não acometeu a Terra, mas que já atacou a humanidade outras duas vezes. O alvorecer da criatura, que usou um bovino como hospedeiro é ainda mais grotesco, com detalhes filmados, em partes específicas da cantina onde o animal seria fatiado. O tosco CGI, pouco utilizado no cinema dos anos 1990 acaba amortizando o impacto de sua aparição, mas não ameniza o terror que dali viria, o terror que habitava o ventre de Ripley.

    Aos poucos, a protagonista se libera, pondo para fora seus pensamentos, explanando sua masculinidade incutida que prevalece mesmo em meio a massa carcerária. Sua paranoia se torna real, o clã de monges em meio a uma terra devastada não consegue demovê-la, nem contê-la, já que sobre si há uma terrível profecia, de proliferação da praga.

    O problema de Alien 3 é que ele não se encontrar nem como filme de terror, nem como filme de ação. É esquizofrênico quanto ao gênero, o que o faz denegrir demais. A confusão de abordagem também acomete Ripley, ao finalmente descobrir ser hospedeira da coisa, na versão rainha do xenomorpho.

    A produção foi muito conturbada, quase todas as ideias que Fincher queria para o filme foram cortadas, até por ele começar a rodar sem um roteiro definido, aprovado por ele. Ele era desacreditado por gente interna, do estúdio e até por pessoas que trabalhavam diretamente consigo, incluindo Walter Hill e David Giler. A demora em concluir o filme só piorava a relação entre as partes. O prejuízo era quase sempre ligado a falta de um roteiro concreto. A tolerância entre diretor e mandatários da Fox chegou perto do zero, com cortes arbitrários de cenas gravadas externamente, que se refletiram claramente no processo criativo do filme, e no fracasso em realizar algo realmente bom.

    Walter e David Giler não queriam uma continuação, mas a revelia até deles o estúdio começou a planejar Alien: A Ressurreição, chamando Joss Whedon – a mente por trás do futuro crossover da Marvel Vingadores (e sua continuação Vingadores a Era De Ultron) – para conduzir um novo texto que seria entregue a Jean Pierre Jeunet, diretor de Ladrão de Sonhos e do futuro O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. Decidem então trazer Ripley de volta a vida, através de experimentos de clonagem, trazendo também a Alien Rainha e mais algumas criaturas malvadas, entre elas, uma fusão entre Alien e Humana, sendo esse o real herdeiro da protagonista.

    A ideia inicial do “filho” era que ele tivesse o rosto de Sigourney, e obviamente isso foi descartado, para ter um hibrido terrivelmente mais feio e desnecessário, que é em suma o resumo dos equívocos dessa continuação. O fato é que o distanciamento dos antigos produtores se viu em inúmeras sequências pensadas por Jeunet, sendo este certamente o mais poluído visual e musicalmente falando, com sequência que tencionam o pavor e entregam momentos quase cômicos.

    A tônica de Jean Pierre Jeunet não combinava em nada com o estabelecido pelos outros cineastas, embora cada um tivesse seu estilo, e certamente a falta de liberdade que deram para Fincher ocasionou na produção nova uma reação de aceitação de praticamente qualquer elemento novo, deixando as rédeas frouxas para qualquer invencionice banal ser levada a tela. A preocupação da produção parecia mais a de validar alguns avanços em computação gráfica e uso de arquivos digitais do que em realmente estabelecer uma boa história.

    Segundo o próprio diretor, que optou por não ler as críticas em inglês, o numero de resenhas negativas e positivas foi quase o mesmo, já na França, a recepção foi mais calorosa por parte dos analistas. Por mais que grande parte dos fãs da franquia não tenham gostado do resultado final de Alien 4, é fato que esse é um dos mais referenciais em relação a H.R. Giger, em especial pelas atitudes pseudo sexuais de Ripley, que parece estar mais a vontade com o xenomorpho do que com os humanos.

    Durante muito tempo, a saga ficou adormecida. Entre 1997, ano em foi lançado o quarto capítulo e o próximo filme que tocava a franquia de alguma forma – leia-se Alien vs Predador, de Paul W. S. Anderson – passaram-se sete anos. A criatura hibrida de H.R. Giger continuava aterrorizando seus fãs. Mesmo o confronto contra o Predador já havia ocorrido muito tempo antes, em 1989, em quadrinhos da Dark Horse e até nos videos games, com um jogo para Super Nintendo em 1993. De fato os símbolos criados por O’Bannon e Shusset já estavam marcados no gosto popular, e um pouco depois, Ridley Scott retornaria para tentar lançar uma luz sobre a origem da criatura – de certa forma podendo até negar o ocorrido com os filmes que ele não dirigiu, ja que não há o conceito da Rainha nos novos produtos – com Prometheus, além é claro do recente Alien Convenant, mas sem o mesmo brilho dos produtos anteriores, evidenciando por sua vez a total falta de criatividade de Hollywood, bem como a dificuldade dos mesmos em criar novos ícones. Apesar desses acertos e erros, Alien continua como um dos mais importantes produtos da cultura pop, mesmo que seus maiores inimigos sejam seus próprios realizadores.

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  • Crítica | Duna de Jodorowsky

    Crítica | Duna de Jodorowsky

    Duna de Jodorowsky 1

    Focado em uma das figuras que tencionavam deixar claro que o cinema é muito mais arte do que indústria, o documentário de Frank Pavich retrata as inspiradas falas de Alejandro Jodorowsky, a respeito do que seria a sua versão do clássico de Frank Herbert. Duna de Jodorowsky tenta em um esforço hercúleo retratar como teria sido o tal filme, que apesar de jamais ter visto a luz do dia e não ter chegado a grande tela, influenciou praticamente todo o cenário cinematográfico de sci-fi dos anos sessenta e posteriores.

    Reverenciando o artista, o documentário passa rapidamente pelo fenômeno que ocorreu nos cinemas pelas madrugadas’ com o western El Topo, além de louvar também Montanha Mágica, que por si só é bastante psicodélico. A trajetória inclui também o conhecimento do realizador junto ao quadrinista Moebius, que passou a sonhar com ele a feitoria do que seria o seu “pessoal” Duna, exibindo uma face ainda mais ácida do que a vista na versão de Lynch. A remontagem das artes conceituais em movimento revelam uma adoração a Moebius e Jodorowsky, além de contemplar belamente o que deveria ter sido, tangendo o que podia ter sido algo mágico.

    A personalidade de Alejandro era única, e seu domínio deveria ser pleno, o que impediu até o aporte do especialista em efeitos especiais Doug Trumbull, que havia trabalhado com Kubrick em 2001. Os detalhes vão desde esta recusa até a aproximação de Dan O’Bannon, que acabava de estrelar e escrever Dark Star. O processo de formação do filme começava a tomar forma, juntando-se ao time a estrela em ascensão David Carradine, que tinha em seu Kung Fu uma porção de influências de El Topo. O conjunto de texto e visual do filme tinha um caráter messiânico, transparecendo desde a construção dos desenhos que seria um divisor de águas, mesmo antes do advento dos blockbusters.

    Jodorowsky tinha poesia até em suas explicações, falando de maneira apaixonada sobre as semelhanças entre os clássicos de ficção científica espaciais e o teatro, tornando o conceito de space opera em algo ainda mais literal. O design de roupas e máquinas, as cores saturadas que predominariam até sobre o ambiente desértico, compunham um quadro de qualidade abordagem ímpar.

    As influências de Dali, vistas em porções inteiras da arte conceitual tomou forma carnal no desejo de Alejandro em incluí-lo no elenco, mesmo sabendo que seria difícil fazer ele aceitar. A mistura de elementos envolveu também H R Giger, muito antes de sua concepção mais famosa, em Alien, o Oitavo Passageiro, dali sairia o início do tom gótico dos Hakkonen, os vilões daquele universo. O conjunto de personalidades de campos completamente diversos incluiria a banda gótica Magma, Mick Jagger no auge da carreira e Orson Welles, quando já era mal visto por Hollywood, enquanto só fazia beber e comer, mas ainda considerado um gênio por Alejandro.

    A raiva passada nas palavras do realizador, revela o cansaço não só pela não execução de seu filme, mas também pelo desastre decadente em que o formato de arte se inseria, uma vez que foi o fator monetário que o manietou e o impediu de seguir em frente em sua proposta surrealista, o que resultou na “retirada”, através de um parente de Dino de Laurentis que entregou a David Lynch, que por sua vez também teve seu filme retalhado pelos produtores.

    A direção e escolha de ângulos e cenários feitos por Pavich é belíssima, e emula em grande parte a genialidade de Jodorowsky em conceber seu projeto, que apesar de não ter ganho as telas, influenciou dezenas de filmes, desde bombas como Mestres do Universo, Flash Gordon de 1980 e Prometheus até clássicos comerciais e cults, como Star Wars, Caçadores da Arca Perdida, O Exterminador do Futuro, Contato, entre outros, herdeiros morais daquele Duna, alguns filhos que provocam orgulho e outros que fazem rir e sentir vergonha, mostrando neste “clã” um paralelo com qualquer família comum e ordinária.

    Duna de Jodorowsky serviu especialmente para reunir novamente o cineasta autor de seu comparsa de longa data Michel Seydoux, que jamais haviam se encontrado até então, depois da não realização do filme, o que gerou uma série de conversas e a parceria em A Dança da Realidade, exibido em Cannes em 2013, treze anos depois de O Ladrão do Arco-Íris, último filme de Alejandro. Não bastasse o reencontro cósmico, o documentário possui um classicismo mágico, capaz de fazer sua plateia viajar sonhar com o que poderia ser este Duna, além de louvar o legado e a obra posterior dos envolvidos.

  • Crítica | Alien: O 8º Passageiro

    Crítica | Alien: O 8º Passageiro

    Pensado a partir da anárquica cabeça de Dan O’Bannon, junto a Ronald Shusett, o filme do novato Ridley Scott exibe um futuro sujo, com o espaço atuando como campo ideal para caminhoneiros maltrapilhos ganharem suas vidas. O veículo Nostromo leva 20 milhões de toneladas de minério, e seus tripulantes são pessoas absolutamente descartáveis, parte integrante de uma sociedade que mal olhava seus convivas, especialmente os das camadas mais populares, como os sete tripulantes.

    A versão de 115 minutos começa com a câmera sobrevoando a parte baixa da nave, como uma versão torpe de Guerra nas Estrelas, cujas tomadas são parecidas, mas com espírito diferenciado. A série de homenagens prossegue com os tripulantes levantando da hibernação, semelhante ao que é visto em Planeta dos Macacos de 1968. A arquitetura da Nostromo lembra o design das naves de 2001 – Uma Odisseia no Espaço, assim como os painéis de controle têm a mesma tecnologia retrô.

    A nave é danificada e obriga os viajantes a ficar mais tempo na locação. Na estranha superfície, encontram um “recipiente” estranho. Dentro da nave, os exploradores veem uma criatura grande, alta, fossilizada, com os ossos para fora, num prenúncio do mal que acometeria a equipe de sete passageiros. A viscosidade das ovas, concebidas pelo artista plástico suíço (e louco) H. R. Giger, lembra elementos sexuais, como quase tudo envolvendo a “criatura”, associando a figura nefasta, anunciadora da morte, ao pecado moral do coito, resgatando mais um dos elementos comuns nos filmes de terror.

    Ridley Scott resgata a prerrogativa que Roman Polanski utilizou em Bebê de Rosemary, unicamente para pervertê-la em outros aspectos, apresentando a junção entre criaturas completamente diferentes, entre o homem e seu predador, com quase todas as consequências vistas no suspense em que o filho do Anticristo nascia. Entre as duas obras, há o foco na catástrofe e na inexorabilidade da existência do mal, além das enormes chances de que este vença com uma carga um pouco mais positiva do que a do filme de 1979.

    Uma das cenas adicionais mostra Ripley encontrando a base da criatura, com Dallas agonizando, envolto em uma substância gosmenta, à espera de que uma das ovas se choque, antecipando o que seria mostrado na continuação de James Cameron, o que desagradou a vontade do diretor. Esta cena extra simboliza a transição entre a figura sexualizada da mulher para um guerreiro em preparação, como um cavaleiro andante rumo ao combate contra um dragão bravo, ainda que não tenha certeza do êxito de sua empreitada. A mudança de gênero é feita de modo genuíno e orgânico. Porém, o terror não acaba nem ao subirem os créditos, nem mesmo com o tranquilo sono de hibernação da heroína de ação.

    A pontualidade da trilha de Jerry Goldsmith lembra o esmero utilizado em Nosferatu, com a mesma sinfonia de horror do clássico de F. W. Murnau, acrescida de um suspense atroz, proveniente das partes do filme que não possuem música. O silêncio é muito bem utilizado, fortalecendo a sensação de claustrofobia e extrema solidão tanto de Ripley quanto dos outros caçados.

    O último diário de bordo anuncia que Ripley foi a única que sobreviveu, emulando a característica dramática dos clássicos teatrais shakesperianos. A obra, após uma odisseia emocional, entrega um desfecho trágico, cuja sensação de alívio é dada somente a um dos personagens retratados, quando muito. Constatando a produção do filme e comparando-a às suas obras atuais, percebe-se que algo do talento de Ridley Scott foi sepultado também, tendo reprisado momentos tão bons somente em Blade Runner – O Caçador de Androides. Seus ângulos de câmera favorecem a avidez pela sobrevivência, que não atenua ou abranda qualquer sensação ruim para o seu público. Os closes em Weaver, após esta perceber não estar sozinha no módulo de escape, são um resumo de toda a ópera do medo que o diretor resolveu imprimir em sua fita, sucesso este fruto da bestialidade do roteiro unida às figuras grotescas de Giger. O impacto é maximizado em termos de espanto pela câmera inquieta do realizador, sua especialidade em redigir momentos em que o senso de urgência é o mote da história.

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  • Crítica | Prometheus

    Crítica | Prometheus

    Prometheus

    Tudo começou quando Ridley Scott e James Cameron, no início dos anos 2000, resolveram fazer uma quinta produção da franquia Alien. A ideia até então seria um prequel para a famosa franquia que teve seu primeiro filme lançado em 1979 (Alien – O Oitavo Passageiro). Quando do desenvolvimento de Alien Vs. Predador, em 2003, o projeto havia sido colocado na geladeira e apenas retomado em 2009, quando o diretor resolveu dar continuidade a ele. Finalmente em 2012 temos contato com Prometheus, um filme que foi bastante esperado pelos fãs do gênero ficção científica.

    Em 2089, os arqueólogos Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) e Charlie Holloway (Logan Marshall-Green) descobrem um mapa estelar através de vestígios de antigas civilizações desconexas umas das outras. Eles acreditam que o mapa estelar os levaria para o planeta em que residem os chamados “Engenheiros”, seres responsáveis pela criação da raça humana. Com o apoio de Peter Weyland (Guy Pearce), o CEO da Weyland Corporation, a expedição científica é patrocinada e enviada em direção à lua LV-223.

    A fome insaciável do ser humano por conhecimento e os questionamentos sobre nossa existência é o ponto de partida que o filme nos traz. Prometeu, na mitologia grega, foi um Titã que defendeu a humanidade, roubando o fogo dos deuses e entregando-os aos mortais. Em sanção a esse feito, Zeus o acorrentou a uma pedra, onde teria seu fígado comido por uma águia todos os dias por toda a eternidade. Temos aqui a figura do ser humano colocando as mãos em um conhecimento divino, que não deveria ter chegado nem perto (segundo a vontade dos referidos deuses). No filme, temos a presença de uma expedição que quer se encontrar com seus criadores para que eles nos respondam sobre as questões mais elementares da nossa existência.

    O filme de Ridley Scott é claramente inspirada nas obras Eram os Deuses Astronautas (Erich von Däniken) e Nas Montanhas da Loucura (H.P. Lovecraft). Enquanto no primeiro, o autor teoriza sobre a possibilidade de que seres do espaço visitavam a Terra na época das antigas civilizações e eram considerados deuses por estas, no segundo temos uma a influência do terror que provém do desconhecido.  Ambas as influências misturadas formam uma ideia que gera muitas possibilidades, porém no roteiro de Prometheus, infelizmente, acabam se perdendo a partir de pouco antes da metade do filme. Tentou-se criar um clima de tensão o qual foi sendo desconstruído por uma série de situações não convincentes e que, algumas vezes, beiravam o cômico.

    Criador e criatura. A necessidade de se perguntar do por quê de sua existência e tentar enfrentar o “pai”, que o abandonou. Em um momento do filme é facilmente visível o rosto de um Engenheiro que evidencia seu desconforto, sem precisar expressar em palavras, ao perceber que humanos haviam chegado até ali e isso não era certo. O mesmo Engenheiro menospreza o andróide, percebendo que sua criação também queria ser criadora de uma forma de vida. Tal como Zeus, os Engenheiros também queriam penalizar os humanos por suas transgressões.

    Existencialismo, espiritualismo e criacionismo são apenas alguns dos muitos temas que são levantados pelo filme ao longo de toda sua extensão. Porém, essas discussões que poderiam ter sido exploradas de uma maneira mais profunda, dando um peso excepcional para a narrativa, acabam apenas sendo arranhadas sob a ponta de um iceberg. Por outro lado, tal fato também é responsável pela abertura de dezenas de discussões entre os espectadores. John Spaihts e Damon Lindelof, roteiristas do filme, nos entregam apenas um ponto de partida para um universo sombrio onde algo de errado aconteceu e nossos criadores mudaram de ideia quanto a seus “filhos”.

    O ponto em que Prometheus mais peca acaba sendo no desenvolvimento dos seus personagens. Ao contrário do que foi feito em “Alien – O Oitavo Passageiro” – e é o único ponto em que é justo comparar com a franquia, pois ambos os filmes são completamente desconexos um do outro e possuem propostas completamente diferentes, apesar de fazerem parte do mesmo universo – em que os personagens da tripulação da Nostromo eram carismáticos e conseguiam fazer com que o espectador simpatizasse com eles, em Prometheus tal relação resta mal sucedida. Toda a tripulação da nave, com a exceção do capitão Janek (Idris Elba, que infelizmente possui poucos momentos na trama) e o androide David, (interpretado por Michael Fassbender) não conseguem criar empatia com o espectador. Infelizmente o excelente elenco, contando com a forte presença de Charlize Theron por exemplo, é sub-aproveitado por um roteiro raso e com personagens mal explorados.

    David é de longe o maior destaque do filme, evidenciando cada vez mais a excelência na atuação de Fassbender, que tem feito uma excelente carreira nos cinemas. Nesse filme, nos proporciona uma atuação a níveis robóticos. Seu destaque se dá também ao inserir em diversos momentos do filme a discussão sobre a consciência robótica. Assim como temos os seres humanos contrapondo às figuras dos “Engenheiros”, temos os androides contrapondo aos seres humanos, pois foram criados por estes. Em cenas diversas, o espectador se questiona até que ponto o robô estava obedecendo às ordens de seus chefes e até que ponto ele conseguia manipular as pessoas a sua volta com o intuito de atingir suas próprias vontades.

    A qualidade gráfica de “Prometheus” é excepcional. A filmagem inteiramente em 3D mesclada com os efeitos especiais bem desenvolvidos deram como resultado imagens que impressionam, resultado este atingido anteriormente em filmes como Avatar (de James Cameron) e A Invenção de Hugo Cabret (de Martin Scorsese). Com certeza um dos grandes pontos altos por apresentar as capacidades impressionantes da tecnologia 3D, ao contrário dos péssimos exemplos que encontramos nos cinemas, os quais infelizmente ainda são maioria do catálogo.

    Enfim, por mais que tenha tido uma série de problemas de narrativa que acabaram incomodando muitas pessoas uma certeza que temos é que o filme conseguiu criar questionamentos e teorizações frente a uma comunidade de fãs de ficção científica e, principalmente, para os fãs da franquia Alien. Várias e várias especulações são feitas diariamente em fóruns e artigos sobre as relações com o universo de Alien e, inclusive, sobre toda a simbologia que o filme carrega. No fim das contas, Ridley Scott conseguiu o sucesso e isso é um mérito para o filme.

    “Prometheus” deve ser assistido sem a pretensão de ser uma revolução nos filmes de ficção cietífica. Para as pessoas que gostam de “nitpicking” (ou ficar “procurando pêlo em ovo”, em outras palavras),  é perfeito.  Com certeza vão se divertir muito olhando as mil referências aos antigos concept arts de H.R. Giger, ao propósito de criação do clássico Alien que conhecemos, de quem são os misteriosos Space Jockeys, citações bíblicas (O nome da Lua do filme é LV-223, depois deem uma olhada em Levítico 22:3 para entenderem do que estou falando) e, inclusive, referências a Jesus Cristo que possivelmente foi um “Engenheiro”. Enfim, Prometheus é o suficiente para valer a pena o ingresso do cinema e uma diversão despretensiosa.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

    – Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Crítica | Alien: O Oitavo Passageiro

    Crítica | Alien: O Oitavo Passageiro

    Alien

    “No espaço, ninguém pode ouvir você gritar.” Eis o slogan de um dos principais marcos da história do cinema. Lançado em 1979 e sob a direção de Ridley Scott, Alien – O Oitavo Passageiro criou um novo conceito para os filmes de terror com monstros, o qual se mescla, ao mesmo tempo, com elementos de ficção científica.

    Somos apresentados à nave cargueiro Nostromo e sua tripulação. No meio da viagem de volta para a Terra, os sete tripulantes a bordo da nave são acordados ao receberem um sinal advindo de um asteróide. Ao investigarem o local, um dos tripulantes é infectado por um alienígena, cujo embrião se aloja dentro de seu corpo. O pesadelo para os tripulantes começa quando o estranho monstro começa a caçar cada um dos tripulantes dentro da nave.

    O primeiro dos muitos méritos que o primeiro filme da franquia Alien possui é o fato de que dispunha, à época, de pouquíssimos recursos visuais e mesmo assim conseguiu produzir um resultado fantástico. A ausência de efeitos especiais surpreendentes como os que vemos hoje são recompensados totalmente com um roteiro completo e que desnorteia o espectador por toda a extensão do filme. Assim como em Tubarão (Steven Spielberg) que não vemos a ameaça na maior parte do tempo, em “Alien” acontece a mesma coisa. São pouquíssimos os momentos em que realmente enxergamos a monstruosidade em toda sua ferocidade, porém isso não muda a atmosfera de tensão criada pelo roteiro. Somos levados a um local isolado e à medida que os membros da tripulação vão morrendo vamos sendo empurrados cada vez mais a um sentimento de desolação extremo, o qual somente se potencializa com a trilha sonora de Jerry Goldsmith.

    Um filme que se passa no espaço com certeza proporciona uma excelente visualização da personalidade dos poucos personagens que apresenta. O elenco faz um excelente trabalho, destacando-se principalmente a atriz Sigourney Weaver como a heroína Ripley. No começo do longa metragem, mal conseguimos visualizar que ela é nossa protagonista, porém conforme o filme vai evoluindo, a personagem também se envolve cada vez mais à trama e a atriz consegue passar de maneira fluida e natural esse envolvimento.

    Não há  mais nada para falar da trilha sonora de Jerry Goldsmith e nem do design dos alienígenas feitas por H.R. Giger além de que são fantásticos e somente ajudaram o filme ainda mais a se tornar o clássico que é hoje.

    Com certeza um filme que vale a pena ser revisto por vários e vários anos. Nos apresenta o melhor do que o cinema tem a oferecer aos espectadores, proporcionando experiências únicas, graças a uma excelente produção. Não há como falar em filmes de monstros, de terror ou de ficção científica sem falar de Alien. Um verdadeiro clássico que merece a atenção de todos.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.