Fuga de Los Angeles é uma continuação que despreza quase tudo que funcionou em seu primeiro filme, Fuga de Nova York. A crítica social e política, o cuidado com o visual e a cretinice meticulosamente pensada dá lugar a um longa de ação super divertido que traz de volta o personagem Snake Plissken (Kurt Russell), mas sem o mesmo charme e compromisso com subtextos mais inteligentes.
O filme chegou aos cinemas em 1996, um ano antes do futuro distópico que era o ponto de partida do filme anterior. A trama se passa em 2013, e retrata outra catástrofe ambiental, dessa vez ocorrida em 1998. O protagonista, bem mais velho, reaparece para reviver boa parte dos plots anteriores, no entanto, Nova York é substituída por Los Angeles.
O filme de 1981 era debochado, mas era fácil perceber que ele tinha compromisso de seriedade, aqui não existe esse apego. Ao mesmo passo, os efeitos práticos que ajudaram a deixar o filme original charmoso dá lugar a computação gráfica ainda nada aprimorada, artificial e com figuras em 3D que claramente não parecem ter sido finalizadas. O roteiro dessa vez é assinado por Carpenter, Russell e pela produtora Debrah Hill. Quase todos os encontros e desencontros são mal encaixados, lembrando uma brincadeira de bonecos comandada por uma criança pouco criativa.
Sobram frases de efeito, trilha de rock genérica e a busca por uma imagem transgressora. Ao menos, o elenco de apoio se esforça para deixar as bizarrices da história menos constrangedores. Participam Bruce Campbell, Michelle Forbes, Steve Buscemi, Pam Grier e Peter Fonda. Esses coadjuvantes não são bem explorados e cada um tenta se provar mais esperto e astuto que o outro, basicamente para mostrar Snake como alguém inepto e irascível, ou seja, pouco apto para o trabalho. Além disso, o papel de Grier envelhece mal, visto que é alvo de piadas transfóbicas, questões essas que em 1996 não eram tão aludidas ou combatidas quanto atualmente.
O preço para ver Snake de volta é alto, Fuga de Los Angeles tem uma trama política complicada, se no original há crítica severa ao imperialismo dos Estados Unidos, aqui se desdenha de movimentos revolucionários de países latinos, e de maneira pouco inteligente, rasa e às vezes sem sentido. Ao menos ele dá fim as possibilidades de continuações, com uma escolha inteligente para findar a aventura e esse universo todo, preservando assim público e os fãs da franquia de mais obras que não valorizam o original.
Fuga de Nova York é mais um filme dirigido por John Carpenter que se um clássico instantâneo mesmo que sua premissa não desse conta dessa previsão. Sua história é bastante estranha, envolve um atentado ao presidente dos Estados Unidos, um ex-combatente militar mal-encarado e a tentativa fracassada dos Estados Unidos em tornar o país em um lugar menos violento contando com medidas drásticas e que não fazem nenhum sentido.
A história se inicia em 1997, um futuro já velho. Desde 1988 uma onda de violência extrema obrigou as autoridades a tomarem medidas extremas, construindo um muro ao redor da costa do Brooklyn e Nova Jersey, fazendo da ilha de Manhattan uma prisão gigante, algo tão esdrúxulo e sem sentido quanto a política desse universo colapsado e pós apocalíptico, que infelizmente tem algumas semelhanças com o “novo normal” do século XXI da nossa realidade. Para resgatar o político emérito, as autoridades escolhem Snake Plissken, um mercenário e veterano de ações do governo, feito por Kurt Russell, silencioso e estiloso com seu tapa olho, uma síntese do que era a ação dos cinemas dos anos 80.
Há um prazo curto, o comandante em chefe da nação precisa dar uma declaração em uma convenção, e o mercenário é apressado, sofrendo com a injeção de uma toxina, para deixar ele “motivado”, pois se não fizer a missão no prazo, perecerá. Apesar do senso de urgência no máximo, ainda assim a trama não se leva a sério. O roteiro de Carpenter e Nick Castle mostra um grupo terrorista/ revolucionário tentando fazer justiça sequestrando o homem da Casa Branca, no entanto, a queda não planejada do avião, além de conveniente para história, serve de pretexto para apresentar uma cidade abandonada e distante demais dos antigos tempos de glória, da época áurea da Broadway, ou de qualquer outro glamour que a cidade já teve.
Sobram a escuridão, sombras, sujeira, esgoto e ratos, além de alguns agentes da lei, entre eles Bob Hauk (Lee Van Cleef) e Rehme (Tom Atkins), que não demoram a chamar o mercenário em troca de privilégios. A história é tão mirabolante e cretinamente pensada que é difícil não simpatizar com os personagens, portanto, perverter a suspensão de descrença não é nada complicado.
O filme possui muitos efeitos práticos, tomadas aéreas e uso largo de maquetes, fato que lhe garante uma aura fidedigna e realista, principalmente se considerar que essa era uma produção de baixo custo. Além disso, o caráter artesanal se vê também em sua trilha, repleta de músicas do próprio diretor (ao lado de Alan Howarth), que já havia feito isso em outros sucessos como Halloween: A Noite do Terror. O filme ainda conta com um bom número de atores carismáticos e já saudosos, como Harry Dean Stanton, Ernest Borgnine, Donald Pleasence, todos eles bastante a vontade em seus papéis, cada um com uma importância considerável, apesar da falta de compromisso do roteiro com qualquer seriedade.
Fuga de Nova York é quase uma versão futurista e diatópica de Selvagens da Noite, NY é toda dividida em castas e gangues, não há respeito por figuras de autoridade, o desprezo pela ordem impera, tanto que eles não temem em momento nenhum fazer um político eleito de refém, além disso, o próprio político tem seus sinais de psicopatia, retribui sem receio a violência que sofreu, não há espaço para heroísmo dentro desse conto de fadas cínico e violento, e ainda bem que é assim.
Halloween Kills: O Terror Continua segue os eventos imediatamente posteriores ao desfecho do Halloween. O ponto de partida é o exato momento após do confronto entre a família de Laurie Strode de Jamie Lee Curtis contra o assassino poderoso e quase imortal Michael Myers, com todos os resultados dramáticos do que seria a encarniçada briga de uma mulher traumatizada contra o causador desse trauma.
Esse segundo filme segue com a direção de David Gordon Green, e remonta a momentos clássicos de Halloween: A Noite do Terror, incluindo um prólogo que reconstrói bem a atmosfera da obra de John Carpenter, emulando perfeitamente o clima de terror do clássico, usando e abusando da trilha sonora original, inserindo junto mais camadas do passado do xerife Frank Hawkins (Will Patton), um dos poucos amigos de Laurie na obra anterior.
Green anunciou desde antes da estreia de Halloween que seu planejamento era fazer três filmes, então esta obra analisada seria o filme do meio de uma trilogia. Era até previsível que isso poderia resultar em problemas no roteiro, e de fato isso ocorreu. A fragilidade maior do roteiro reside na tentativa de criar uma milícia civil entre os habitantes de Haddonfield, fato um pouco forçado e que de certa forma contradiz boa parte dos eventos na versão de 3 anos atrás, pois não houve comoção em volta de Laurie, tampouco solidariedade por parte de outros sobreviventes dos ataques de Myers.
Se havia um grupo de apoio, que se reuni todo ano no Dia das Bruxas para comemorar a própria sobrevivência, Laurie simplesmente não deveria sentir um pária na cidade, nem deveria ser encarada como a única louca da cidade pequena. O eco de um passado trágico deveria ser um fardo dividido por todos esses que não perecerem, mas esses novos personagens parecem estar aqui apenas para desviar o foco do espectador enquanto Lee Curtis e sua personagem se recuperam dos ferimentos.
As críticas de que as vítimas que perecem pelas mãos de Myers e de que são personagens genéricos não estão erradas, no entanto, há um certo exagero e até rabugice nesse comentário, afinal se a intenção de diretor é homenagear o subgênero de cinema slasher, é natural que haja uma apelação a esses clichês, sem falar que as mortes são normalmente bem filmadas, criativas e bastante gráficas.
Michael é aterrorizante, causa temor e é imprevisível. Sua sede por sangue não inclui somente os adolescentes sexualmente ativos, mas todos que ousarem cruzar seu caminho. Ele não utiliza de um falso moralismo sexista, é apenas a encarnação do Bugman, o Bicho Papão mesmo, uma força da natureza que só busca destruição, um psicopata que evoluiu no cárcere ao ponto de transformar suas cenas de crime em arenas de exibição artística, dignas de observação do espectador e até de uma plateia imaginária. Nem monstros recentes conseguem capturar essa sensação como Michael consegue e só por isso esse resgate de Gordon Green já vale o esforço, fora evidentemente o gore, que se intensifica após uma hora de exibição.
O filme funciona quando não se leve a sério. Ao tentar tecer algumas críticas ao linchamento público, evento comum em território estadunidense, e a paranoia generalizante que parece tomar conta das mentes do povo, acaba esbarrando em pieguices. Falta sutileza ao argumento pensado por Green, Scott Teems e Danny McBride, chegando ao cúmulo de pôr em pé de igualdade o desejo ignorante do povo por justiça com as ações de um assassino serial. São eventos nada equivalentes, e se Myers não parece movido por uma moralidade conservadora, o filme em si é refém um pouco dessa condição.
O final de Halloween Kills: O Terror Continua é carente de força e entusiasmo. Mesmo a morte de personagens importantes não choca, soa bobo, pois fica a sensação dos verdadeiros combates envolvendo O Mal e Laurie ocorrerão no vindouro Halloween Ends. Gordon Green traz boas sequências de violência, mas traz também uma obra com fragilidades consideráveis, mas que nem de longe justifica toda a negatividade das análises em geral.
Cinco anos atrás, resenhei o primeiro filme da cinessérie Halloween: A Noite do Terror, de John Carpenter, quando essa fez 25 anos. A obra é um marco simbólico para o cinema e talvez nem mesmo Carpenter soubesse o que viria pela frente, ao inaugurar um novo sub-gênero de terror, e ainda dar vazão a uma mitologia controversa em uma franquia repleta de desdobramentos estranhos.
O Halloween original é ao lado de A Noite dos Mortos Vivos e O Massacre da Serra Elétrica um dos marcos centrais do terror pós-Nova Hollywood. Quanto a Myers, o diretor o teria criado o personagem ao visitar crianças doentes mentais em um hospital no Kentucky. Reza a lenda que ele viu um garotinho com olhar perturbador que sofria de esquizofrenia e isso o marcou de tal forma que fez imaginar um vilão que seria a encarnação de todo o mal. Além disso, ao compor o roteiro junto a Debra Hill, sua corroteirista, acrescentou uma máscara de baixo orçamento, possivelmente inspirada no rosto de William Shattner em Jornada nas Estrelas: A Série Clássica, boato jamais confirmado.
Para compor esse quadro, era preciso de um adversário à altura para o vilão. O papel de Van Helsing atualizado coube a Donald Pleasance, um ator veterano, vindo de obras como O Diário de Anne Frank, THX 1138, Fugindo do Inferno. Os créditos iniciais com a pequena abóbora são singelos perto do terror que viria, aquela lanterna não faria jus ao suspense que o roteiro de Carpenter e Hill trariam, mesmo que esse horror fosse econômico e certeiro, tocando em temas pesados envolvendo insinuações incestuosas e fratricídio.
A jornada do sanatório Smiths Groove até a cidade fictícia de Haddonfield, em Illinois, no dia das bruxas soa como um retorno de um homem para sua terra, embora seu clã tenha sido varrido dali, sem paredeiro definido ao menos nesse ano de 1978. O diretor faz questão de não mostrar a face de seu personagem principal, chamada nos créditos como The Shape. Ele aparece na frente de Laurie apenas aos 23 minutos de exibição, e aqui cabe a descrição de outra parte desse fenômeno: a inserção de Jamie Lee Curtis como Scream Queen fundamental do cinema, aproveitando-se evidentemente do pedigree de ter sido herdeira de Janet Leigh. Não à toa, Psicose é um pré-slasher que antecipa parte dos elementos consagrados do estilo.
Halloween é bem tímido quanto as mortes. A maior parte delas é mostrada de maneira lenta e gradual. Myers parece sofrer de psicopatia que sob definição psiquiátrica é considerada uma constelação de traços disruptivos de personalidade e comportamentos antissociais. Até mesmo por isso, ele não é uma máquina de chacinar nesse início. Existem elementos teatrais demais nesse primeiro momento, como a distribuição dos assassinados pelos armários da casa, a fim de assustar Laurie, espalhando os amigos mortos de maneira quase fantasiosa. Hoje isso soa até risível, mas na época era impactante e causava alvoroço exatamente pelo exagero dramático. A evolução do menino que matou Judith com máscara de palhaço para o adulto deformado e quase sobre-humano faz sentido dentro da lógica criada dentro do próprio filme.
O sucesso do filme colocou um dilema na mão dos produtores: o filme de custos irrisórios deu muito dinheiro e evidentemente que clamava por uma continuação. Aqui é importante salientar que a mitologia de Michael Myers se divide, e chamaremos elas por Mito para tentar diferencia-la, ainda que Halloween 2: O Pesadelo Continua, de 1981, esteja na maioria das gêneses dessas mitologias diferenciadas.
Mito 1
H2 começa imediatamente após o primeiro. Rick Rosenthal conduz o filme, escrito pela mesma dupla anterior. Reza a lenda que a sequência não era o desejo de Carpenter e nem de Debra Hill. O diretor iniciante claramente não tem o mesmo cuidado para transmitir a história em comparação ao primeiro. A aura fantástica evita qualquer sutileza e escancara intenções. A fala de Loomis de que Michael não era mais humano faz sentido, pois ele se tornou um super-homem. Aqui o gore ainda é moderado e nos apresenta cenas sem coerência, como quando o assassino joga a cabeça da vítima em água fervendo mas não machuca as mãos.
Rosenthal abandona por completo a ideia de thriller psicológico e parte para um banho de sangue. O desfecho é simbólico, mostrando Myers chorando sangue ao ser atingido por sua irmã, Laurie – aqui, foi revelado que Strode era na verdade uma Myers, escondida de todos, pondo uma camada de sensacionalismo barato na trama.
O fogo que consome o paciente doente e o doutor resume a falta de sutileza de roteiro e direção. Porém, o desfecho continha um sentimento definido por parte dos criadores de não querer continuar a história, tanto que em Halloween 3: A Noite das Bruxas, de 1982, o filme sequer toca na mitologia de Myers. A ideia seria usar o nome forte da marca para mostrar outras histórias, o que não ocorreu. O fracasso fez com que Carpenter e Hill abandonassem a produção da franquia.
O mito 1 continua com Halloween 4: O Retorno de Michael Myers, lançados seis anos depois. Moustapha Akkad decide retomar os elementos que fizeram as partes 1 e 2 serem exitosas, trazendo Myers de volta, exatos dez anos depois dos acontecimentos do filme original, tanto em tela quanto fora dela. Incrivelmente, nem Michael nem o doutor Loomis morreram no incêndio do hospital em 1978, pois até mesmo Pleasance retorna. Só quem fica de fora é Curtis, que se poupa tanto do roteiro quanto de um possível fracasso, já que se tornou uma estrela de cinema.
O assassino desperta na ambulância que o transferiria para um novo hospício ao ouvir que tem uma sobrinha pequena, de nome Jamie, interpretada por Danielle Harris. O diretor Dwight H. Little tinha dirigido pouca coisa na época (anos depois faria Rajada de Fogo, com Brandon Lee), e na realidade é incapaz de traduzir em tela nada próximo a tensão e senso de urgência do clássico. Ao menos, o final abre a possibilidade para um legado de terror familiar que… não se cumpre.
Halloween 5: A Vingança de Michael Myers é feito no ano seguinte em um covarde retorno ao status quo. Havia um roteiro que prosseguia com os elementos levantados no filme anterior em que Shem Bitterman mostra Jamie como assassina. Mas no lugar disso, se tenta fazer uma tola aproximação de Loomis e Michael, basicamente para aproveitar uma última participação de Pleasance no papel.
Michael retorna após cavar pela terra em sua cova, feita próxima de um rio. Para se salvar, entra em uma velha cabana de um pescador e desmaia sem causar mal ao homem. O assassino e o homem então convivem bem por um ano de maneira inverossímil, como se Myers tivesse “liberação” para matar somente no mês de outubro. No roteiro de Shem o pescador seria um homem místico de alcunha Dr. Morte, que faria um processo de ressurreição com influência de runas e rituais druidas, mas tudo foi descartado para esse novo roteiro capenga, levemente alterado na parte 6. O final mistura sentimentalismos com nostalgia em um desfecho fraco, mais uma vez postergando o real fim de Myers.
Halloween 6; A Última Vingança, de 1995 começa com um rito, envolvendo feitiçaria e crianças. Jamie é sequestrada e depois ocorre um salto temporal de seis anos. A menina cresce e está grávida e o roteiro de Daniel Farrands tenta explicar que um mal ancestral é base para a crueldade presente no sangue dos Myers. Segundo a seita, o serial killer está envolvido com a maldição de Thor, um antigo druida que, na noite de Samhaim, deveria usar sua família como sacrifício para o culto e assim a tribo tivesse vida. O objetivo dessa seita é continuar trazendo o mal à luz, e por isso trabalham com genética, para o surgimento de novos bebês que iriam se tornar assassinos e Michael passa a ter uma obsessão por seu sobrinho-neto.
Para piorar há uma subtrama, envolvendo Tommy, que no filme original era a criança cuidada por Laurie e que aqui é vivida por Paul Rudd. Ele se tornou um freaky, obcecado pelos assassinatos envolvendo os Myers e os Strodes. Loomis por sua vez é mostrado como um eremita aposentado. Ao menos, essa parte se assume como um filme gore mesmo. A qualidade visual parece ser bem melhor que a dos dois últimos capítulos. Há duas versões dessa parte, a do diretor Ted Chapelle, que foi para o cinema, e a de Moustapha Akkad, que leva em conta mais eventos envolvendo o Doutor Loomis. Essa outra versão explica, por exemplo, que o doutor fez uma cirurgia para consertar as marcas em seu rosto, provindas dos filmes anteriores, mas ainda assim segue bem medíocre, e se o leitor quiser saber mais dessas versões, pode acessar aqui.
Toda ideia dos filmes slasher é discutir a moralidade americana, focando nos adolescentes e no pensamento conservador do cidadão, exagerada ao ponto de ser encarada como força assassina e essa última parte da mitologia abre mão disso, para focar suas justificativas em um tema espiritual.
Mito 2
Antes de o conceito de reboot ser tão alardeado, Akkad já fez uma espécie de reset em sua franquia. Para comemorar os vinte anos do clássico, foi chamado Steve Miner, de A Casa do Espanto, Sexta-Feira 13 – Parte 2 ,Sexta-Feira 13 – Parte 3, Warlock, entre outros, para dar à luz a Halloween H20, lançado em 1998. Sem Pleasance, a série recrutou novamente sua scream queen, Jamie Lee Curtis, que agora assume o nome Keri Tate, tentando a todo custo esconder-se do irmão.
Apesar de prestar reverencia e homenagem a Pleasance, o roteiro de Robert Zappia e Matt Greenberg ignora tudo exceto o primeiro e segundo filme. Não há menção a Jamie ou a outros retornos de Michael que não em O Pesadelo Continua e, para sobreviver a tantas outras franquias de terror, o filme tece um estilo mais moderno, claramente tomando emprestado elementos visuais e dramáticos de Pânico, franquia que ao lado de Eu Sei O que Vocês Fizeram no Verão Passado e Lenda Urbana revitalizaram o interesse dos adolescentes por terror, além de inspirar novas continuações de Brinquedo Assassino e uma refilmagem de Psicose.
Produzem o filme Akkad e os irmãos Bob e Harvey Weinstein. O mito de Michael pouco evolui, uma vez que o roteiro é esvaziado e repleto de clichês. Segura-se o ímpeto de violência para dar lugar a mais suspense e sustos, além da condução mais acurada. Miner faz boas cenas, com planos inteligentes e menos genéricos que as parcas continuações. A realidade é que o resto é de fato fraco, mas se o espectador for menos exigente com qualidade textual, certamente H20 soará ao menos divertido, além de apresentar uma nova tentativa de Laurie seguir sua vida, tendo filho, uma nova ocupação como diretora de escola e ainda assim sendo atormentada pelo passado.
A oitava e até então última parte da saga de Myers começa 3 anos após o fim de H20. Halloween: A Ressurreição tem a gênese em um sanatório. Enfermeiras conversam sobre Laurie Strode, mais uma vez feita por Curtis que, aparentemente, decapitou outro homem que não Michael no final da sétima parte. A heroína segue viva e paranoica, não toma os remédios tarja preta que são prescritos e vê a figura de Michael em todos os lugares possíveis. Não se sabe por alucinação ou realmente pela presença do slasher. A ideia de mostrar receio e paranoia se misturando é maravilhosa, mas tudo que se segue após isso é de um equívoco tremendo. A franquia tenta soar cool ao pegar emprestado elementos de reality shows e uma estética parecida com a dos filmes da série Premonição, resultando em um tiro no pé que não agrada nem fãs antigos e nem novos.
Curiosamente, a ideia de mostrar pessoas filmando em primeira pessoa os assassinatos foi utilizado em Panico 4, ainda que para Wes Craven essa ideia de filmar em found footage seja uma besteira completa. O filme foi produzido por Malek Akkad, filho de Moustapha Akkad, e que seguiu também como produtor das refilmagens. No entanto, quase não há acertos nesse desfecho. Há boatos de que houveram 3 finais alternativos, mas nenhum salva a mediocridade desse que tenta ser metalinguístico. A desculpa para introduzir Curtis nessa nova trama é quase inexistente e sua participação acontece, a despeito da trama principal, e termina em um quarto de hora aproximadamente. Nem a direção de Rick Rosenthal que também assinou H20 ajuda.
Mito 3
O Mito 3 começa em Halloween: O Início, de 2007. Um reboot. Ainda que essa parte do mito de Michael Myers não seja tão positiva, é melhor que a maioria dos filmes que foram rebootados na época. Os dois filmes dirigidos por Rob Zombie, assim como a versão de 2018 tem produção de Malek Akkad.
A grande questão é que a lenda envolvendo o boogye man ou o bicho papão de Haddonfield parece ser muito maior que a vontade dos Akkad em tentar fazer dinheiro com o combalido sociopata de Illinois, ainda que até isso tenha sido freado, vide o crossover com Pinhead de Hellraiser que jamais ocorreu, uma falha positiva, visto a falta de qualidade de Freddy Vs. Jason e Alien Vs. Predador.
As marcas registradas do personagem, como o uso de armas brancas entre facas, cutelos e machados foram utilizadas a exaustão, além de um sem número de modos de matar bem bobos.
Recentemente, abriu-se um Mito 4, lançando outra linha temporal em que somente o filme seminal de Carpenter faz parte. Dirigido por David Gordon Green que também assinou o roteiro ao lado de Danny McBride e Jeff Bradley, o suspense é refeito de forma semelhante ao original com uma linguagem atualizada e ligada a paranoia. Ao menos algum cineasta parece ter entendido o que Myers significa e o ícone segue vive, mesmo tendo sido tão maltratado pelos roteiros, esfaqueado, alvejado, queimado e sobrevivendo sempre de maneira surpreendente de acordo com as conveniências dos roteiros.
Contudo, mesmo nos momentos ruins pelos quais os roteiristas, produtores e diretores fizeram-no passar, Myers seguia forte com sua caracterização muda, incapaz de pronunciar qualquer palavra ou expressão, com o rosto sempre coberto por sua máscara – que aliás, se confundia com a sua própria pele, dada a intimidade do homem com o objeto – e também como o menino que se tornou ainda mais perturbado após matar sua irmã mais velha.
O passado sempre fascinou a raça humana, e boa parte da arte que o homem faz remete a esse tempo que jaz inalcançável, e parte dessa obsessão explica um dos temas mais comuns no cinema de aventura, ação, e até horror, que normalmente lota salas de cinema ao redor do mundo. Desde muito antes de Steven Spielberg trabalhar em Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros e O Mundo Perdido: Jurassic Park, já haviam outras tantas obras que tratavam do tema, algumas com mais conhecimento, outras com menos.
Obviamente, deixarei de lado a franquia japonesa Gojira/Godzilla, pois ela merece uma análise própria, e trata mais de atomic horror do que o fascínio pelas criaturas que um dia tomaram o topo da cadeia alimentar pelo planeta. O primeiro filme digno de nota é em preto e branco, mudo e de curta duração, em torno de 12 minutos, chamado Gertie: O Dinossauro. Winsor McCay dá luz a obra, misturando um estilo que já lhe era comum, que é a animação em cenas com atores reais, onde um grupo de homens discutem em um museu, e em determinado ponto, aparece a animação que mostra Gertie, uma animal que faz lembrar o dinossauro hoje conhecido como Brontossauro vivendo seus dias, com participações de outros seres de períodos mais antigos, ainda que não haja preocupação com pesquisa histórica, até porque este é um filme lúdico e escapista somente, uma comédia leve que visava mostrar a capacidade de McCay em animar.
Gertie: O Dinossauro, de Winsor McCay (1914)
Há outras obras da época do cinema mudo, em especial onde Willis H. O’Brien está envolvido como The Dinosaur and the Missing Link: A Prehistoric Tragedy que foi lançado pelos estúdio de Thomas Edison em 1917. Ele mostra um homem das cavernas tentando agradar uma fêmea, e no meio dessa tentativa, se depara com um dinossauro, que o atrapalha. É bem curto, tem um tom de comédia ainda mais acentuado que Gertie, mas a passagem pelo animal antigo é bem rápida. Ainda em 1917, Prehistoric Poultry brinca com as semelhanças entra galinhas e dinossauros, é bem curtinho e mostra uma figura muito semelhante à ave que serve de alimento ao homem agindo na época antiga, conceito esse reutilizado mais seriamente em filmes nos anos noventa. Nesse mesmo ano, também foi exibido R.F.D., 10000 B.C. mostrando um carteiro que lida com um dinossauro como meio de transporte. Em 1919 o mesmo diretor faria The Ghost of Slumber Mountain, mostra um sujeito que através de um conto descrito aos seus sobrinhos, se volta ao tempo dos dinossauros. Esse é mais extenso, ao menos a cópia disponível para visualização, mas ainda não tão primorosa. Houve um projeto chamado Creation, que seria lançado em 1931, mas foi cancelado, sobrando apenas esboços do que deveria ter sido o longa-metragem definitivo de O’Brien, mas que jamais viu a luz do dia.
Em 1925 chegava aos cinemas um dos maiores filmes sobre o tema, O Mundo Perdido, baseado na obra de Arthur Conan Doyle, conhecido criador do detetive Sherlock Holmes. Esta obra deu origem a outras adaptações, até fora do cinema, e mais para frente nos debruçaremos sobre algumas delas. A obra original se perdeu com o tempo e depois de um intenso trabalho de resgate de oito gravações diferentes, se chegou a versão mais comumente encontrada no mercado, de 93 minutos. A visão que Doyle e o diretor Harry O. Hoyt tem da Amazônia é completamente estereotipada, e comum a sua época, visto que o mundo era um lugar pouco explorado e conhecido como se tornou nesse quase um século que separa a atualidade e o filme em questão. O livro foi lançado em 1912, e nessa versão o único lugar onde teriam essas criaturas fantásticas era um platô da bacia amazônica. Em meio ao desbravar da ilha, os pesquisadores vêem uma luta que seria (ou a menos tentaria, dadas as limitações da época) épica, entre dois animais pré históricos gigantes, sendo ao menos um deles um Alossauro, um dino que lembra bastante o Tiranossauro Rex, e que mata o seu adversário facilmente, quebrando seu pescoço e deixando ele caído, ou seja, sua predação é pura e simplesmente porque ele pode matar as outras criaturas, e não por fome. Logo depois ele ataca um triceratopes.
O grupo que viaja para a Amazônia consegue retornar, e ainda leva um brontossauro para Londres, desfecho esse bem semelhante ao visto em King Kong, de 1933, inclusive com a fuga da criatura monstruosa, embora nesta versão não seja mostrado isso, e sim contado através de texto. No entanto, a demonstração do dinossauro nas ruas inglesas é feita de maneira expositiva, com a criatura andando pelas ruas e atacando as pessoas hostis. O modo como ela escapa é curioso, e seria catastrófico, uma vez que a ponte de Londres cai e ele é empurrado pela correnteza em uma direção desconhecida. O longa não dá um destino definido para a criatura, ao contrário, prefere se dedicar a mostrar o destino romântico dos personagens humanos, em detrimento de mostrar a recepção de Londres ao seu novo “habitante”.
Além do já citado King Kong, Fantasia, clássico de animação que mistura música orquestrada com curtas animados de Walt Disney também traz referências aos monstros pré-históricos, ainda em 1940. Seu segmento The Rite of Spring, baseado em uma composição de Igor Stravinsky, mostra o planeta em meio a uma galáxia imensa, tendo a formação de seus rochedos, oceanos e primeiras formas de vida, desde as microscópicas até as marinhas. As cores lembram aquarelas pintadas e esse sem dúvida é um dos momentos mais bonitos de todo o longa-metragem, inclusive quando são mostrados os dinossauros.
Fantasia, cena do segmento “Rite of Spring”, de Bill Roberts e Paul Satterfield (1940)
Ainda em 1940, O Despertar do Mundo era lançado, contando a história de um grupo de aventureiros entrando em uma caverna, onde um paleontólogo começa a contar uma história que supostamente aconteceu entre homens primitivos que disputavam territórios. O longa erroneamente coloca na mesma linha temporal o homem pré-histórico junto dos dinossauros. Essa versão de Hal Roach e Hal Roach Jr. seria revisitada anos depois, pela produtora inglesa Hammer.
Demora a aparecer um dos répteis gigantes, e quando surge, é bastante anti-climático, já que ele se disfarça atrás de plantas que dificultam sua visualização. Mais à frente, usam-se animais para emular os bichos pré-históricos, com iguanas fazendo às vezes de animais carnívoros, bem como tatus com chifres artificiais, fingindo ser triceratopes, e ainda, jacarés fantasiados.
Em 1951, Sam Newfield conduziu o filme Continente Perdido, sobre um grupo de cientistas que realizam provas com foguetes na Nova Guiné, e um desses foguetes acabam sumindo durante um desses testes. Já que o item é caro, o governo envia um piloto experiente para liderar uma expedição em busca do veículo. O filme é em preto e branco e em determinado ponto passa a ter coloração verde. Os efeitos das feras antigas são feitos em stop motion e dentro de sua limitações, funcionam bem, mas ainda assim a participação dos dinossauros é pequena, se tornando meros coadjuvantes para as subtramas bobas dos humanos.
Em 1953, baseado em um texto do escritor Ray Bradbury, The Fog Horn, foi lançado O Monstro do Mar (The Beast from 20,000 Fathoms) tem efeitos técnicos assinados por Ray Harryhausen e conta em seu elenco com Lee Van Cleef, que ficaria famosos anos depois por trabalhar em filmes como Por Uns Dólares a Mais, Três Homens em Conflito e O Homem que Matou o Facínora. O visual gélido do longa lembrar outro clássico, O Monstro do Ártico, que originou o remake de John Carpenter, O Enigma do Outro Mundo. A história mostra os clichês dos filmes de atomic horror, onde um dinossauro carnívoro gigante desperta no Ártico após testes nucleares. Percebe-se uma tendência para os filmes envolvendo os predadores antigos e gigantescos, já que novamente o destino da criatura é semelhante ao do brontossauro em O Mundo Perdido, de 1925, quanto o de King Kong, em 1933, uma vez que a criatura é levada para Manhattan para atender a demanda dos gananciosos que a encontraram, que mais se importam em ganhar dinheiro do que preservar o milagre que é um animal como esse estar vivo. Aliás, esse clichê também foi utilizado na parte dois da franquia de Spielberg, Mundo Perdido: Jurassic Park.
O Monstro do Mar, de Eugène Lourié (1953)
O modo encontrado para deter a fera é bastante criativo, e a cena em questão se dá em um parque de diversões, próximo de uma montanha russa, um cenário completamente inesperado para esse tipo de sequência. O final é melancólico para a criatura, e faz perguntar afinal quem seriam os verdadeiros monstros da história, e nesse ponto o filme de Eugène Lourié acerta em cheio, pois propõe discussões e questionamentos importantes. O diretor ainda voltaria ao tema com outros dois filmes: O Monstro Submarino e Gorgo.
Pouco tempo depois, chegava as telas O Rei Dinossauro, um filme sobre exploração espacial, onde um grupo de aventureiros vão até o planeta Nova, um novo corpo celeste que chega na Via Láctea. Neste planeta, a vida é basicamente formada por animais gigantes como os dinossauros terrestres, além de algumas criaturas pré-históricas. O filme dirigido por Bert I. Gordon, que era especialista em produtos de atomic horror (A Maldição da Aranha, A Maldição do Monstro, O Incrível Homem Atômico), ainda há um suposto T-Rex que aparece, “interpretado” por uma iguana. Ainda assim, o tom é sério, mas a questão de não se definir se a iguana que está no filme é realmente uma iguana gigante ou é um T-Rex, torna tudo muito tosco, piorado quanto um monstro maior se aproxima – um crocodilo – em um embate mortal, mas que já se sabe qual será o destino ao final. O crocodilo e a iguana, quando se deparam tem o mesmo tamanho, e isso é demonstrado com dois bonecos se enrolando pelo chão arenoso, de uma maneira terrivelmente filmada.
A Besta da Montanha é o primeiro filme em cores dessa lista, lançado em 1956, começa como um drama de faroeste, com vaqueiros americanos e mexicanos convivendo com os perigos naturais do solo do país latino. Filmado em cinemascope, o longa de Edward Nassour e Ismael Rodriguez tem lindas imagens e cores muito vivas. Contudo, o filme se vale demais de estereótipos, em especial quando se desenvolve os personagens mexicanos. O texto do filme é baseado na ideia de Willis H. O’Brien, especialista em efeitos especiais que havia trabalhado no primeiro O Mundo Perdido. O Alossauro que ataca o vale e come alguns dos animais é uma referência clara ao filme de O’Brien e ao romance de Doyle. O modo como ele aparece varia, no começo é mostrada uma fantasia, com os pés do monstro e depois surge em stop motions, em cores cinzas e detalhes que até então não se viam em criaturas assim. Uma pena que o roteiro não colabore com as ótimas ideias visuais do filme.
Em No Mundo dos Monstros Pré-Históricos (Land Unknown) o diretor Virgil W. Vogel faz muito uso de gravuras e pinturas como cenário, fato que já não era regra nos idos de 1957. Suas cenas com fundo falso soam artificiais demais em comparação com produções da época. Há outro momento complicado, com um pterodáctilo voando – terrivelmente mal filmada – além de batalhas de iguanas, ainda que melhor desenvolvidas. O T-Rex aparece de repente, logo depois da batalha de lagartos e é uma pessoa em um roupa andando em meio a miniaturas, como nos tokusatsus e filmes de Godzilla. Chega a ser cômico o uso da hélice do helicóptero para afastar a criatura e se vê muitos problemas com perspectiva, com o T-Rex variando de tamanho de acordo com as cenas. O longa termina de modo emocionante, mostrando os humanos que estavam na terra isolada fugindo.
Viagem à Pré-História (Cesta do Praveku), de 1955, traz crianças viajando a uma terra perdida. O longa de Karel Zeman tem um tom bastante lúdico, mostrando criaturas pré-históricas sem um compromisso com a realidade, mas ainda assim bem retratadas no aspecto técnico. Zeman é conhecido por ter feito belas animações, não à toa ficou conhecido como o Georges Mélièstcheco De fato, a melhor coisa do seu filme são os efeitos especiais, pois a trama em si deixa muito a desejar.
Viagem à Pré-História, de Karel Zeman (1955)
Dirigido pela lenda do Cinema B, Roger Corman, Teenage Cave Man tenta resgatar elementos de O Despertar do Mundo, ainda que seja mais explícito em sua proposta. Os homens da tribo já tem uma linguagem sofisticada, a mistura de elementos que claramente não tem congruência histórica é exibido bastante cedo, com os dinossauros aparecendo com menos de cinco minutos de exibição, variando entre stop motion e animais reptilianos disfarçados. Para variar, essa é mais uma produção onde acontecem as famosas lutas entre crocodilos e iguanas rolando pela areia, que se tornou clássica e reaproveitada entre os filmes desse subgênero. De curioso, há o protagonismo de Robert Vaughn, astro de filmes trash, entre eles, O Despertar dos Mortos, do pai dos filmes de zumbi George A. Romero.
Um dos romances mais famosos de ficção cientifica moderna, é Viagem ao Centro da Terra, não à toa tiveram dezenas de adaptações do livro de Jules Verne. A primeira dela é um curta antigo, de 1910, bastante difícil de achar por conta das raras cópias que existem dele. A mais notória adaptação aconteceu em 1959, uma produção grande, filmada em cinemascope e em cores, dirigida por Henry Levin. Os efeitos e cenários são um pouco caricatos se vistos hoje, mas cumpriam bem o papel de tentar alinhar a obra de Verne à época em que passavam, sem falar que os jogos de luzes do diretor de fotografia disfarçam as limitações técnicas da época em boa parte do filme. Já os dinossauros, em sua primeira aparição são lagartos disfarçados, com efeitos ligeiramente superiores ao das produções anteriores, mas claramente as figuras deles eram coadjuvantes diante da trama que tentava traduzir o livro de Verne para as telas.
Em 1959, foi a vez também de exibir O Monstro Submarino, traz Behemoth, figura essa existente nos livros da Bíblia, mais especificamente em Jó. No livro, Behemoth é uma figura monstruosa, que para muitos estudiosos é mais aproximada de um bovino com três chifres, para outros um hipopótamo e há quem o compare com um dinossauro. No filme de Lourié, mais uma vez o antagonismo é por conta de uma criatura que sofreu interferência da ação humana, através da energia nuclear. Esse é o terceiro filme do diretor que traz “dinossauros”, e talvez seja o que temor apelo, ainda assim a forma como a criatura é desenvolvida é muito inventiva, apesar de não ser tão bem feita.
Levantando em conta o assunto que tem tomado boa parte das preocupações dos brasileiros, com a dificuldade de abastecimento de elementos básicos em virtude da greve dos caminhoneiros, separamos uma inusitada lista de filmes com essa temática, tanto sobre motoristas que comandam máquinas enormes, bem como filmes sobre essas máquinas mesmo. Brincadeiras à parte, a greve é justa e digna de respeito por cada um de nós!
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Agarra-me Se Puderes (Hal Needham, 1977) – Filipe Pereira
Filme indispensável para quem curte a Trucksxploitation, mostra a história de Bandit, vivido por Burt Reynolds, um sujeito turrão, engraçado e destemido. A personagem, basicamente, aceita o desafio de um sujeito que é seu desafeto e se mete em uma confusão que envolve-o até uma carga de mercadoria ilegal. O filme é só uma desculpa para colocar o carismático e canastrão Reynolds em ação. O par romântico do anti herói é Sally Field, de quem era noivo na época, e é co-estrelado por um carro esportivo, Pontiac Trans Am. O longa fez tanto sucesso, que deu origem a uma trilogia engraçadíssima, que obviamente vai perdendo forças com o passar de suas continuações.
Comboio (Sam Peckinpah, 1978) – Bernardo Mazzei
Estrelado por Kris Kristofferson, Ally MacGraw e Ernest Borgnine, e dirigido por Sam Peckinpah (do clássico Meu Ódio Será Sua Herança), Comboio narra a história de Rubber Duck (Kristofferson), um honesto caminhoneiro que resolve se rebelar contra a corrupção policial comandada pelo xerife Lyle (Borgnine), um antigo desafeto. Após ser roubado, agredido e humilhado pelo corrupto agente da lei, Duck convoca um enorme protesto da classe. Com sua namorada na boléia, Duck lidera os caminhoneiros em uma grande jornada das estradas do Arizona rumo ao México. Ainda que longe das grandes obras do diretor Peckinpah, Comboio é um corajoso filme que se propõe a discutir questões sociais que permanecem pertinentes até hoje, tais como a luta de classes, preconceito racial e de gênero. Entretanto, o grande mérito aqui são as boas cenas de ação e perseguição orquestrada pelo diretor e a boa atuação do elenco principal.
Aventureiros do Bairro Proibido (John Carpenter, 1986) – por Filipe Pereira
Clássico máximo da Sessão da Tarde, e um dos bons filmes leves de John Carpenter, Aventureiros do Bairro Proibido parte de um protagonista que emula características de brucutu, vivido por Kurt Russell. Jack Burton é um caminhoneiro de carga pesada, que tem sua namorada raptada por um motivo esdrúxulo, Para salvá-la, deve enfrentar uma turminha do barulho, em Little China, para deixar a mocinha a salvo. O filme é engraçadíssimo e mostra como a cultura pop trata as figuras que comandam os grandes veículos de transporte. Mistura elementos de faroeste com um pouco da temática dos filmes de artes marciais de Hong Kong, além de também ter personagens bastante carismáticos.
Comboio do Medo (William Friedkin, 1986) – por Bernardo Mazzei
Dirigido por William Friedkin e protagonizado por Roy Scheider, O Comboio do Medo é um filme que teve dois azares: o primeiro foi ter estreado quase que simultaneamente ao primeiro Star Wars. O segundo foi não ter sido compreendido na época de seu lançamento. Na trama, quatro homens expatriados que vivem nos confins da América do Sul são contratados por uma empresa petrolífera americana para transportar uma carga de nitroglicerina. Caso cheguem vivos ao destino, terão sua situação regularizada e receberão 10 mil dólares. Película um tanto quanto experimental, o longa possui altas cargas de suspense. O roteiro também é bem interessante, pois fornece background para todos os protagonistas, o que facilita a empatia do espectador. Ainda que episódica, a narrativa é bem fluída e prende o espectador na cadeira, principalmente quando o filme vai chegando ao seu final. Uma ótima obra do diretor de O Exorcista que merece ser assistida com bons olhos.
Sylvester Stallone gozava de uma popularidade monstruosa em meio aos anos 80. O sucesso de Rambo e Rocky permitiu que pudesse viver outros papéis icônicos, como esse do caminhoneiro com problemas familiares. Lincoln Hawk e seu filho protagonizam um Road movie, descobrindo uma afinidade meio perdida graças a ausência do pai. O filme de Menahem Golan consegue ser bem especial, no sentido de mostrar um problema grave em quem trabalha na estrada, que é o fato de nem sempre poder estar em casa, um drama é presente na vida dos homens que passam seus dias atrás do volante gigante e das máquinas que cortam as estradas do Brasil e do mundo. Tudo isso evidentemente envolto em uma historia heroica, cheia de clichês, mas que compensa tudo isso com o charme e carisma do personagem de Sly, que sempre que vira seu boné parece ganhar mais força, com mais uma demonstração de um placebo legal de Hollywood.
Comboio do Terror (Stephen King, 1986) – por Bernardo Mazzei
Escrito e dirigido pelo mestre Stephen King, Comboio do Terror é trash. Muito trash mesmo. Muito se discute sobre as adaptações das obras do autor, mas ele é responsável por aquela que talvez seja a pior adaptação de uma obra escrita por ele mesmo. Porém, isso tem uma justificativa: o próprio King admitiu que estava drogado durante todo o tempo em que a produção foi filmada. O ponto de partida do filme ocorre quando um cometa passa pelo nosso planeta fazendo com que as máquinas ganhem vida e se voltem contra os humanos. É nesse momento, que o nosso herói Emilio Estevez cria um grupo de resistência quando estes são cercados por caminhões assassinos em um restaurante de beira de estrada. O filme é uma bagunça narrativa. Não há a menor coesão no que se vê na tela e tudo é feito de uma forma tão escrachada, que os risos acabam saindo involuntariamente. Os pontos altos são a presença dos caminhões assassinos, especialmente o “Duende Verde”, e a atuação de Estevez. Entre caras, bocas e poses de herói galã, o ator aqui entrega algo muito mais engraçado do que o visto em Máquina Quase Mortífera. Parece que ele desencanou e resolveu embarcar na galhofa. Ah! A trilha sonora é inteiramente da banda AC/DC, pelo único motivo de ser a banda preferida de King.
Encurralado (Steven Spielberg, 1971) – por Filipe Pereira
Dirigido por Steven Spielberg, o personagem que se destaca no thriller é um caminhão. Por mais que a premissa pareça engraçada em um resumo, trata-se de uma obra série e muito bem produzida, apesar das condições paupérrimas. Encurralado é na verdade um telefilme, foi rodado em poucos dias e, apesar da qualidade, possui alguns momentos de humor involuntário. O Peterbilt clássico que persegue o personagem de David Mann (Dennis Weaver) é simplesmente gigantesco, parece um kraken deslizando sobre o asfalto e a motivação por trás desse terror parece ser nenhuma além de causar terror, nesse ponto, parecido com o clássico Tubarão do mesmo diretor que ensaia neste filme a mesma câmera subjetiva do filme do monstro.
Bônus Track
Carga Pesada (1ª Fase: Daniel Filho, Ferreira Gullar, Gianfrancesco Guarnieri e Walter G. Durst, 1979-1981 |2ª fase: Ecila Pedroso, Mara Carvalho, Walther Negrão e Walcyr Carrasco, 2003-2007) – por Filipe Pereira
Para não dizer que não falamos de produções brasileiras, há o seriado protagonizado por Antonio Fagundes e Stênio Garcia, que viviem Pedro e Bino, dois caminhoneiros que cruzam o Brasil e vivem aventuras que variavam entre denúncias sociais e um culto ao folclore brasileiro. A primeira versão foi criada por Daniel Filho, Ferreira Gullar, Gianfrancesco Guarnieri e Walter G. Durst, tinha duração de mais ou menos quarenta minutos por episódio e ficou no ar entre 1979 e 1981, já a versão mais recentetinha histórias de Ecila Pedroso, Mara Carvalho, Walther Negrão e Walcyr Carrasco, e foi ao ar entre 2003 e 2007. Infelizmente na segunda versão, conhecida pelos jovens como Carga Pesada Shíppuden, o programa passava num horário muito tarde, fato que dificultava sua visualização, mas ainda assim era uma série muito marcante e divertida em alguns pontos, especialmente quanto a dupla passava por apuros, ou pelas ciladas que aconteciam com os dois inseparáveis Pedro e Bino. Hoje se mantém no imaginário popular, principalmente por conta de piadas virtuais, demonstrando a força e o carinho do público pela série.
Fruto do início da trajetória cinematográfica de duas personalidades históricas, Dark Star traz a estreia na direção de John Carpenter, já evocando a claustrofobia através de cenários curtos, que seria a tônica de seus futuros trabalhos, aliado ao roteiro de Dan O’Bannon, que aludiria ao receio e paranoia espacial de encontrar figuras atemorizantes durante a corrida espacial setentista, que resultaria na inspiração – junto a Duna de Jodorowsky – no arquétipo de Alien o Oitavo Passageiro, inclusive no visual.
A aparência dos astronautas como homens barbudos e de fala simples alude ao grupo de sete tripulantes da Nostromo, ainda que falte entre eles qualquer figura que meramente lembre uma beleza feminina aliviante, ao contrário, como dito no início, não há muito espaço para esperanças dentro do minúsculo compartimento de viagem, que já teve sua primeira baixa antes mesmo de a história começar a rodar.
A música composta por Carpenter além de servir de recurso narrativo, faz lembrar o quão pessoal é a fita, que conta com a trilha original de seu diretor e com a atuação e supervisão de efeitos especiais de seu roteirista e co criador. O tom de humor reúne elementos tanto de comicidade escrachada quanto de acidez, transitando na linha tênue entre não levar-se a sério e ainda tentar provocar em seu público uma sensação de incômodo. O maior avatar desse aspecto dúbio é a figura do alienígena que Pimback (O’Bannon) trouxe a bordo para ser a mascote da expedição. A composição da criatura não passa de uma bola de gás, pintade de laranja e repleta de manchas arredondadas, com dois pés bem toscos nas extremidades, mas tal figura põe o astronauta em questão em apuros muito sérios.
A temática mais discutida dentro do roteiro é a loucura provinda do isolamento e do confinamento, tecendo uma crítca séria ao sucateamento das condições humanas de trabalho, claro, com muito mais humor do que no episódio Nostromo, mas ainda assim em uma proposta bastante ousada para o ínfimo preço de toda a produção. Dark Star serve tanto como uma extensão de alguns temas discutidos em 2001, especialmente dos mais superficiais, como o receio de ser tragado pela máquina e medo do inevitável, bem como funciona como uma paródia do clássico de Clarke, já que segue na mesma esteira visual que Kubrick pensou, influindo bastante no conceito imagético escolhido por George Lucas para sua trilogia famosa.
Apesar das condições precárias, Carpenter e O’Bannon conseguem reverenciar o cinema de ficção científica que os precedeu, prestando louvor mas sem se desapegar da modernidade, ajudando a pavimentar o caminho que as futuras space óperas teriam. A proposta simples aos poucos ganhou ares de grandiloquência, ainda que seja comumente subestimada em sua importância.
O clássico de John Carpenter começa com a câmera emulando os olhos do monstro, como em Jaws de Spielberg, mostrando a criatura carrasca punindo os lascivos. Mesmo com o assassinato sendo retratado, a lente é recatada e não acusa o golpe fatal no prólogo, para só depois revelar o assassino, o inocente Michael Myers, ainda infante.
Jamie Lee Curtis, ainda com 20 anos, viria a inaugurar o estereótipo de scream queen, além de tornar a sua personagem, Laurie, a mais famosa personagem do tipo na história do cinema. A filha de Janeth Leigh ainda não estava no auge da beleza – especialmente ao que é visto em True Lies – mas compunha a vítima perfeita, escandalosa, veloz na corrida e claro, engenhosa na feitura de armas improvisadas e planos de fuga esdrúxulos. A fita tem um ar de artesanal, a começar pela trilha sonora e música, compostas pelo próprio realizador. A edição de som é primorosa e eleva a aura de suspense às alturas.
Donald Pleasence seria figura carimbada na franquia. O seu detetive Loomis é apresentado como um sujeito paranoico. Pérolas como essas: “O Mal se foi!”; “Isso não é um homem”; “O mal chegou à sua cidadezinha” e “Olhos negros, olhos de puro mal”, saem a todo momento da boca do personagem e transformam a figura do doutor em motivo de chacota dado o pavor que o doente causa nele, além de tornar o médico numa figura tão ou mais depravado e desequilibrado quanto Myers. Loomis observou o crescimento do rapaz em um homem, por 15 anos acompanhou o seu caso e nada pôde fazer, pois nesse período o insano somente olhava para a parede até o famigerado dia da fuga. Mas o show de absurdos prossegue, a “máquina assassina” ao tentar atacar Laurie Stroode, capa o seu braço mesmo empunhando uma machete. O assassino é atrapalhado, característica pouco comum em slasher movies, e mais tarde abandonada nos filmes da franquia, mas homenageado por Wes Craven e Kevin Williamson no personagem Ghostface, vilão da quadrilogia Pânico.
A semi-nudez parece ser um gatilho para a fúria assassina do infante assassino preso num gigantesco corpo de dois metros de altura. Myers funciona como um arauto da moral, se utilizando de sua máscara não nominada para manter o sigilo de sua identidade, como a justiça sem rosto distinguível, simbolizando os ecos do conservadorismo perdido em virtude do sexo livre, um paladino tão extremo e descompensado que confunde a proteção a estes valores com a punição para quem não os cumpre a risca, trazendo a morte àqueles que deturpam o conceito da moral e exterminando os sexualmente ativos.
São mostrados apenas meia dezena de mortes no filme. As cenas de ação não causam muito impacto, até por ser bastante cruas, mas compensam em visceralidade e verossimilhança o que falta em grafismo nos assassinatos. O subgênero de terror slasher era algo ainda embrionário e as coincidências e furos de roteiro tornariam-se repetidas a exaustão nos filhotes bastardos de Halloween, não somente neste sub-tópico mas em inúmeros outros tipos de horror movies, especialmente as temáticas do assassino “imortal”, fuga do vilão e a permissividade da sobrevivência do monstro, jamais morto, mesmo quando se há oportunidade, claro que estes pontos foram distorcidos e apresentados de mil formas diferentes. Halloween de John Carpenter é um arrombo de suspense e tornou-se uma franquia muito lucrativa a despeito do interesse de seu realizador.
Fuga Para Nova York é um dos melhores filmes de John Carpenter e sempre lembrado na lista de grandes produções da década de oitenta. Misturando ação com ficção científica, a trama situa-se em 1998, em um futuro em que a ilha de Manhattan tornou-se uma gigantesca prisão que o governo monitora pelo exterior. Devido a um atentado contra o avião do presidente dos Estados Unidos, o veículo faz pouso forçado dentro da prisão e precisa ser resgatado a todo custo. Snake Plisken, um famoso bandido local, é obrigado a realizar o salvamento.
Kurt Russell já havia trabalhado com Carpenter anteriormente e realizam mais uma parceria bem sucedida. A criação do anti herói de poucas palavras tornou-se icônica pela cara mal encarada e o tapa olho característico. Mesmo silencioso a maior parte do tempo, é um personagem com presença cênica e carrega em si a simbologia de um nome feito nas ruas, a partir da tatuagem de cobra que tem na barriga, garantido seu perfil brucutu. O típico anti-herói que não se transforma durante a jornada. Mesmo tendo estrelado apenas dois filmes, foi marcante o suficiente para sempre estar na memória de cinéfilos e de listas sobre heróis de ação.
Ao assistir está produção antiga, nota-se as sequências de ação bem diferentes das vistas hoje. Ainda não havia apreço por cenas de lutas coreografadas como balé, nem utilização de cortes rápidos. A produção tem somente um conciso polo de ação – o resgate do presidente – e nesta situação que se desenvolve pequenos conflitos e embates que surgem no caminho desta missão.
A ambientação de Nova York suja e desolada, como uma prisão-esgoto para os bandidos, é bem retratada e demonstra o talento que John Carpenter possui para produzir boas histórias no universo da ficção científica (recuso-me a utilizar a expressão futuro distópico, tão em voga no momento). Embora ainda vivo, parece aposentado. Seu último filme, Fantasmas de Marte, foi lançado em 2001 e foi um fracasso retumbante de público. Fazendo jus a um filme bobo que aproveitou o hype da exploração de nosso planeta vizinho para uma história de antiga civilização que assombra a população terrestre do local.