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  • Os Dinossauros e o Cinema – Parte 2

    Os Dinossauros e o Cinema – Parte 2

    No início da década de sessenta, a Universal trouxe A Volta ao Mundo Pré-Histórico, baseado na ideia de Jack H. Harris, o filme mostra uma história de uma expedição marítima em que engenheiros encontram um Tiranossauro, um Brontossauro e um homem das cavernas congelados no fundo do mar. Os três são levados para a superfície e são descongelados com a ação do tempo. Um raio cai na praia e magicamente faz os três ressuscitarem, em uma época em que era muito comum raios despertarem vida – na verdade, até antes dos clássicos do Monstro de Frankenstein. O filme mostra uma união de forças entre os humanos habitantes da ilha, o brontossauro e o homem primitivo contra o tiranossauro, mas apesar da proposta ambiciosa, o filme pouco ousa, em especial no seu final, com todos os personagens gargalhando em frente a uma bela paisagem.

    Ainda em 1960, houve outra versão de O Mundo Perdido, dessa vez em cores, comandado por Irwin Allen, que também dirigiu O Milagre da Vida (Animal World), um documentário sobre o mundo na época dos dinossauros, além de ser o criador do clássico Perdidos no EspaçoTerra de Gigantes Viagem ao Fundo do Mar. Essa versão tem como foco a exploração no amor impossível do repórter Ed Malone, vivido por David Hedison. Allen era bastante acostumado a conduzir filmes onde o fantástico era a tônica. Aqui ele também faz uso das famigeradas iguanas como dinossauros, mas usa stop motion nas cenas em que não há close nas criaturas, o que soa claramente mais honesto. Há também criaturas insetoides gigantes, com efeitos em neon, em atenção as figuras que existem no livro de Arthur Conan Doyle. Infelizmente essa versão começa bem, mas termina de maneira genérica, com todos felizes em meio a um ambiente desolado, sem perspectivas de saída mas ainda assim, alegres por estarem juntos.

    Gorgo, de Eugéne Lourié é um filme de 1961, que se passa na costa da Irlanda, onde ocorreu uma erupção vulcânica, e propiciou a vinda de um réptil anfíbio de 20 metros de altura, que recebe o nome do filme. Lourié evolui o quadro que já tinha estabelecido em O Monstro do Mar, inclusive colocando cenas de ação em pleno oceano, muito bem produzidas, agravando o perigo ao trazer a criatura para o mundo civilizado, colocando-a como uma mera atração expositiva, deixando claro o quão mesquinha e monstruosa pode ser a atitude humana.

    Gorgo, de Eugène Lourié (1961)

    Reptilicus tem uma história curiosa por trás, pois foi filmado por dois diretores diferentes e lançado de forma semelhante em dois países. A versão da Dinamarca teve condução de Poul Bang, e chegou em fevereiro de 1961, já nos Estados Unidos foi feita por Sidney W. Pink, e praticamente o mesmo elenco estava em ambas as versões, foi lançada em 1962. A historia é bastante simples e consiste na descoberta de um pedaço de carne, por mineradores dinamarqueses,  e ao ser analisado por especialistas, descobre-se se tratar de uma cauda de um animal pré-histórico.

    Um descuido acontece na sala de refrigeração onde o rabo está e aos poucos a parte do corpo começa a se regenerar. A grande questão é que o retorno da criatura não possui qualquer maior atenção a esse aspecto do texto, Reptilicus simplesmente volta assim, sem mais nem menos. Os estragos feitos pelo monstro vão de fragatas a navios derrubados, mas que acabam não sendo mostrados, já que a câmera chega depois do acontecido. Quase nada funciona, nem as miniaturas, telas verdes – sofríveis ao extremo – ou os efeitos, como a gosma verde lançada pelo bicho.

    Filme britânico lançado em 1966, Mil Séculos Antes de Cristo é uma produção da Hammer Films, a mesma que fazia os filmes de horror do Drácula com Christopher Lee e Peter Cushing, por sua vez, o diretor Don Chaffrey refilma o já citado O Despertar do Mundo, dessa vez em cores, misturando cenas com animais fingindo serem dinossauros com os efeitos especiais de Ray Harryhausen. Há uma narração no início, mas o restante do filme é quase sem falas, já que os homens ainda não tem capacidade de comunicação oral neste momento.

    Mil Séculos Antes de Cristo, filme da Hammer dirigido por Don Chaffey (1966)

    Tal qual outros filmes da Hammer, esse também não faz cerimônia em exibir suas belas atrizes diante da câmera, chega a ser engraçado o quanto a câmera faz questão de explorar a beleza de Raquel Welch. No entanto, o clímax fica por conta da luta entre feras, com uma animação em stop motion fenomenal de Harryhausen.  Talvez o único senão seja o tamanho dos humanos em relação aos dinossauros, que parecem ser ligeiramente maiores que os homens, além do mesmo problema do original, em colocar ambas criaturas na mesma faixa temporal.

    Houve um produto de qualidade duvidosa e pano de fundo curioso ainda nos anos sessenta, chama-se Viagem ao Planeta das Mulheres Pré-Históricas, lançado em 1968, por Derek Thomas, que na verdade era Peter Bogdanovich com um pseudônimo. A história lembra muito um episódio de Star Trek ou Twilight Zone, mas com qualidade de roteiro quase zerada. A trama basicamente consiste em um grupo de astronautas que descem em Vênus e encontram um planeta ocupado por mulheres e por pterodátilos. Mamie Van Doren é o principal nome no elenco feminino, ela tem poderes psíquicos e tenta matar os invasores, que conseguem escapar. O filme foi produzido por Roger Corman, e tem um orçamento diminuto, péssimos efeitos especiais e muito momentos engraçados. Ele é livremente baseado em uma ficção cientifica soviética chamada Planeta Bur, de Pavel Klushantsev.

    O Vale Proibido (The Valley of Gwangi) foi um filme de Jim O’Connolly que reúne elementos de western, fantasia e ficção cientifica. A trama se passa na virada do século XIX para o XX, com um grupo de homens dos Estados Unidos encontrando um lugar próximo do México onde aparentemente vivem criaturas da pré-história. Gwangi (do título original) é uma palavra nativa americana que significa “lagarto”, e visa falar sobre obviamente as figuras pré-históricas. Mais uma vez o mote da exploração dos dinossauros é a ganância dos homens, que querem lucrar a absolutamente a qualquer custo, utilizando os animais para isso.

    Houve em 1970 um filme sobre um elo perdido, chamado Trog, o Monstro da Caverna, de Freddie Francis, e que contava com a participação de Joan Crawford no elenco. Tecnicamente não aparecem dinossauros em sua trama, somente em uma lembrança do personagem resgatado, que ao ter seus sonhos revisados pelos cientistas, vê dinossauros se movendo e lutando, como em um rememorar da história, e lá são usadas as figuras tradicionais de stop motion. No mesmo ano, foi lançado pela Warner em parceria com a Hammer Films, Quando os Dinossauros Dominavam a Terra (When Dinosaurs Ruled the Earth), mais uma obra da produtora que visava colocar mulheres como protagonistas sexuais da pré-historia, como já haviam sido em outros filmes seus. A trama mostra uma tribo de primitivos que sacrificam três mulheres loiras, com uma delas caindo de um penhasco na água, milagrosamente sobrevivendo e tendo a partir dali uma nova existência, bem diferente da que teria onde sempre viveu.

    Quando os Dinossauros Dominavam a Terra, outro filme produzido pela Hammer (1970)

    Nesta versão o maior dos méritos certamente vai para os efeitos visuais, tanto que o trabalho de  Jim Danforth e seus assistentes David W. Allen e Roger Dickens, premiados com uma indicação ao Oscar. A variedade de animais pré-históricos é bastante grande, sem falar que há uma cena em que uma das criaturas eclode do ovo de uma maneira tão bela que não surpreenderia ter saído daí a inspiração visual de Steven Spielberg quando nasce um raptor em Jurassic Park. É bem engraçado ver os selvagens correndo de seus inimigos, exibindo marcas de biquínis e sungas.

    Em 1974, não foi no cinema, mas sim na televisão que foi explorada uma das histórias mais populares sobre dinossauros que se tornou bem popular, trazida pelos irmãos Sid e Marty Krofft, exibida até 76 na TV NBC, O Elo Perdido teve 43 episódios em sua primeira versão. A história conta o dia-a-dia da família Marshall, formada  pelo pai Rick Marshall, e pelos irmãos Will e Holly. Durante uma exploração quando desciam o rio de barco foram apanhados por um terremoto e jogados num portal de tempo, parando em um mundo completamente diferente, numa terra estranha habitada por dinossauros, homens da caverna e criatura humanoides agressivas chamadas de Sleestak, com aparências de lagartos.

    No Brasil, foi exibida na Rede Globo entre 1975 e 1977 e no SBT na década de 1980 e início da década de 1990. A série tinha efeitos especiais muito pobres, com stop motion nos dinossauros, muito fundo falso (completamente desproporcional) e maquiagens artificiais, especialmente com o pequeno Cha-ka e com os Sleestak. O programa teria outros spinoffs, e uma versão para o cinema, no final dos anos 2000, com Will Ferrell.

    A Terra que o Tempo Esqueceu, de Kevin Connor (1974)

    A Terra Que o Tempo Esqueceu (The Land That Time Forgot), de Kevin Connor, de 1975, adaptava o romance de Edgar Rices Burroughs, criador de Tarzan e John Carter. Na trama, um submarino alemão afunda um navio inglês de suprimentos inglês, no meio da primeira guerra mundial, levando os sobreviventes do mesmo à bordo. A embarcação se perde e para em um uma ilha misteriosa, habitada por animais pré-históricos. Os dinossauros são feitos em stop motion, mas não tem tanto destaque dentro da trama.

    Baseado em outro romance de Burroughs, No Coração da Terra (At the Earth’s Core), também de Connor, foi lançado em 1976 e tem uma trama semelhante a de Viagem ao Centro da Terra, onde um grupo de ingleses usa uma máquina que perfura o subsolo, e encontram uma civilização da idade antiga. Connor traz um filme que é bem mais inspirado e divertido que a adaptação anterior. Muito colorido e trazendo Peter Cushing como protagonista, em uma versão muito canastrona do Dr. Abner Perry. Os dinossauros são feitos por atores usando roupas, parecida com aquelas utilizadas por monstros de seriados japoneses.

    Em Planeta dos Dinossauros, de James K. Shease vê uma ficção cientifica de baixíssimo investimento e visual retrô, onde um grupo de astronautas pousa em um planeta que se assemelha a Terra. A tripulação faz isso forçada, e logo percebem que o lugar é habitado por dinossauros e outros animais gigantes. Tanto os figurinos quanto os efeitos especiais envolvendo as criaturas são terríveis, mesmo se tratando de uma produção de 1977, e no final da contas ela causa uma impressão de graça em quem assiste, já que boa parte dos seus momentos é de pura comédia involuntária.

    Em O Último Dinossauro, também de 1977, dirigido por Alex Grasshoff e Tom Kotani, cientistas descobrem uma terra perdida dentro de uma caverna onde havia um vulcão adormecido sob uma calota de gelo polar (sim, é uma tremenda mistura de elementos). Um bilionário decide recrutar uma equipe para descobrir do que se trata esse novo mundo, que é habitado por dinossauros – em stop motion mal feito – e por humanos primitivos. A história é muito parecida com as imitações de O Mundo Perdido, e quase não acrescenta em nada ao que já foi visto nos filmes anteriores.

    O Último Dinossauro, de Alex Grasshoff e Tom Kotani (1977)

    Continuação do filme A Terra Que o Mundo Esqueceu, ainda adaptando uma história de Burroughs, que fala sobre uma ilha pré-histórica, Criaturas Que o Tempo Esqueceu é também conduzido por Kevin Connor, e foi lançado em 1977. O grande diferencial desse para o outro filme, é a personagem Ajor, vivida pela bela Dana Gillespie que está lá basicamente para ser um colírio para o público masculino. A história é boba, e de certa forma até zomba da literatura de Burroughs. Do ponto de vista estético pouco de positivo há que se acrescentar, pois nem as cenas em miniaturas condizem com o resto, quando aparecem inúmeras vezes diferenças de tonalidade e cor entre maquete e cenas em tamanho real, variando inclusive a cor de um helicóptero, em alguns pontos parecendo marrom e outros amarelo. Mistura mil elementos, como samurais, mulheres das cavernas que falam inglês, tribos indígenas e dinossauros em stop motion cujo efeitos são defasados em no mínimo 20 anos.

    O Homem das Cavernas, dirigido por Carl Gottleb , traz Ringo Starr e Dennis Quaid em divertida comédia, onde homens e mulheres primitivos tentam estabelecer comunicação, em uma trama engraçada que mistura efeitos de stop motion nos dinossauros e atores fantasiados. É um filme divertido, que não tem ambição de ser mais do que uma comédia boba com algumas boas sacadas.

    Em 1985, Bill Norton dirigiu Baby, o Segredo da Lenda Perdida (Baby, Secret of the Lost Legend), um filme infantil, cuja história se baseia em rumores de que criaturas parecidas com dinossauros viviam em algum lugar esmo no mundo. Os animais eram chamados de Mokele-mbembe e habitavam a África, e quando aparecem deixam a desejar. O filme possui uns animatrônicos que são mais convincentes quando parados, pois quando andam, parecem tratores disfarçados de dinossauros.

    Por fim, em 1988 começava uma saga em desenho animado que acabou se tornando uma franquia, Em Busca do Vale Encantado mostra um grupo de dinossauros herbívoros, que migravam para uma terra que tivesse boas condições de vida. Os animais só param para chocar os ovos que continham suas crias, então nasce Littlefoot, um “pescoçudo”, da raça brontossauro. Basicamente os filhotes das manadas se juntam para viver uma aventura que busca uma epicidade mas que não foge nada do usual, repetindo clichês dramáticos. A saga teve algumas continuações em vídeo, sendo essas ainda menos carismáticas que essa animação sentimentaloide.

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  • Os Dinossauros e o Cinema – Parte 1

    Os Dinossauros e o Cinema – Parte 1

    O passado sempre fascinou a raça humana, e boa parte da arte que o homem faz remete a esse tempo que jaz inalcançável, e parte dessa obsessão explica um dos temas mais comuns no cinema de aventura, ação, e até horror, que normalmente lota salas de cinema ao redor do mundo. Desde muito antes de Steven Spielberg trabalhar em Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros e O Mundo Perdido: Jurassic Park, já haviam outras tantas obras que tratavam do tema, algumas com mais conhecimento, outras com menos.

    Obviamente, deixarei de lado a franquia japonesa Gojira/Godzilla, pois ela merece uma análise própria, e trata mais de atomic horror do que o fascínio pelas criaturas que um dia tomaram o topo da cadeia alimentar pelo planeta. O primeiro filme digno de nota é em preto e branco, mudo e de curta duração, em torno de 12 minutos, chamado Gertie: O DinossauroWinsor McCay dá luz a obra, misturando um estilo que já lhe era comum, que é a animação em cenas com atores reais, onde um grupo de homens discutem em um museu, e em determinado ponto, aparece a animação que mostra Gertie, uma animal que faz lembrar o dinossauro hoje conhecido como Brontossauro vivendo seus dias, com participações de outros seres de períodos mais antigos, ainda que não haja preocupação com pesquisa histórica, até porque este é um filme lúdico e escapista somente, uma comédia leve que visava mostrar a capacidade de McCay em animar.

    Gertie: O Dinossauro, de Winsor McCay (1914)

    Há outras obras da época do cinema mudo, em especial onde Willis H. O’Brien está envolvido como The Dinosaur and the Missing Link: A Prehistoric Tragedy que foi lançado pelos estúdio de Thomas Edison em 1917. Ele mostra um homem das cavernas tentando agradar uma fêmea, e no meio dessa tentativa, se depara com um dinossauro, que o atrapalha. É bem curto, tem um tom de comédia ainda mais acentuado que Gertie, mas a passagem pelo animal antigo é bem rápida. Ainda em 1917, Prehistoric Poultry brinca com as semelhanças entra galinhas e dinossauros, é bem curtinho e mostra uma figura muito semelhante à ave que serve de alimento ao homem agindo na época antiga, conceito esse reutilizado mais seriamente em filmes nos anos noventa. Nesse mesmo ano, também foi exibido R.F.D., 10000 B.C. mostrando um carteiro que lida com um dinossauro como meio de transporte. Em 1919 o mesmo diretor faria The Ghost of Slumber Mountain, mostra um sujeito que através de um conto descrito aos seus sobrinhos, se volta ao tempo dos dinossauros. Esse é mais extenso, ao menos a cópia disponível para visualização, mas ainda não tão primorosa. Houve um projeto chamado Creation, que seria lançado em 1931, mas foi cancelado, sobrando apenas esboços do que deveria ter sido o longa-metragem definitivo de O’Brien, mas que jamais viu a luz do dia.

    Em 1925 chegava aos cinemas um dos maiores filmes sobre o tema, O Mundo Perdido, baseado na obra de Arthur Conan Doyle, conhecido criador do detetive Sherlock Holmes. Esta obra deu origem a outras adaptações, até fora do cinema, e mais para frente nos debruçaremos sobre algumas delas. A obra original se perdeu com o tempo e depois de um intenso trabalho de resgate de oito gravações diferentes, se chegou a versão mais comumente encontrada no mercado, de 93 minutos. A visão que Doyle e o diretor Harry O. Hoyt tem da Amazônia é completamente estereotipada, e comum a sua época, visto que o mundo era um lugar pouco explorado e conhecido como se tornou nesse quase um século que separa a atualidade e o filme em questão. O livro foi lançado em 1912, e nessa versão o único lugar onde teriam essas criaturas fantásticas era um platô da bacia amazônica. Em meio ao desbravar da ilha, os pesquisadores vêem uma luta que seria (ou a menos tentaria, dadas as limitações da época) épica, entre dois animais pré históricos gigantes, sendo ao menos um deles um Alossauro, um dino que lembra bastante o Tiranossauro Rex, e que mata o seu adversário facilmente, quebrando seu pescoço e deixando ele caído, ou seja, sua predação é pura e simplesmente porque ele pode matar as outras criaturas, e não por fome. Logo depois ele ataca um triceratopes.

    O grupo que viaja para a Amazônia consegue retornar, e ainda leva um brontossauro para Londres, desfecho esse bem semelhante ao visto em King Kong, de 1933, inclusive com a fuga da criatura monstruosa, embora nesta versão não seja mostrado isso, e sim contado através de texto. No entanto, a demonstração do dinossauro nas ruas inglesas é feita de maneira expositiva, com a criatura andando pelas ruas e atacando as pessoas hostis. O modo como ela escapa é curioso, e seria catastrófico, uma vez que a ponte de Londres cai e ele é empurrado pela correnteza em uma direção desconhecida. O longa não dá um destino definido para a criatura, ao contrário, prefere se dedicar a mostrar o destino romântico dos personagens humanos, em detrimento de mostrar a recepção de Londres ao seu novo “habitante”.

    Além do já citado King KongFantasia, clássico de animação que mistura música orquestrada com curtas animados de Walt Disney também traz referências aos monstros pré-históricos, ainda em 1940. Seu segmento The Rite of Spring, baseado em uma composição de Igor Stravinsky, mostra o planeta em meio a uma galáxia imensa, tendo a formação de seus rochedos, oceanos e primeiras formas de vida, desde as microscópicas até as marinhas. As cores lembram aquarelas pintadas e esse sem dúvida é um dos momentos mais bonitos de todo o longa-metragem, inclusive quando são mostrados os dinossauros.

    Fantasia, cena do segmento “Rite of Spring”, de Bill Roberts e Paul Satterfield (1940)

    Ainda em 1940, O Despertar do Mundo era lançado, contando a história de um grupo de aventureiros entrando em uma caverna, onde um paleontólogo começa a contar uma história que supostamente aconteceu entre homens primitivos que disputavam territórios. O longa erroneamente coloca na mesma linha temporal o homem pré-histórico junto dos dinossauros. Essa versão de Hal RoachHal Roach Jr. seria revisitada anos depois, pela produtora inglesa Hammer.

    Demora a aparecer um dos répteis gigantes, e quando surge, é bastante anti-climático, já que ele se disfarça atrás de plantas que dificultam sua visualização. Mais à frente, usam-se animais para emular os bichos pré-históricos, com iguanas fazendo às vezes de animais carnívoros, bem como tatus com  chifres artificiais, fingindo ser triceratopes, e ainda, jacarés fantasiados.

    Em 1951, Sam Newfield conduziu o filme Continente Perdido, sobre um grupo de cientistas que realizam provas com foguetes na Nova Guiné, e um desses foguetes acabam sumindo durante um desses testes. Já que o item é caro, o governo envia um piloto experiente para liderar uma expedição em busca do veículo. O filme é em preto e branco e em determinado ponto passa a ter coloração verde. Os efeitos das feras antigas são feitos em stop motion e dentro de sua limitações, funcionam bem, mas ainda assim a participação dos dinossauros é pequena, se tornando meros coadjuvantes para as subtramas bobas dos humanos.

    Em 1953, baseado em um texto do escritor Ray Bradbury, The Fog Horn, foi lançado O Monstro do Mar (The Beast from 20,000 Fathoms) tem efeitos técnicos assinados por Ray Harryhausen e conta em seu elenco com Lee Van Cleef, que ficaria famosos anos depois por trabalhar em filmes como Por Uns Dólares a Mais, Três Homens em Conflito e O Homem que Matou o Facínora. O visual gélido do longa lembrar outro clássico, O Monstro do Ártico, que originou o remake de John Carpenter, O Enigma do Outro Mundo. A história mostra os clichês dos filmes de atomic horror, onde um dinossauro carnívoro gigante desperta no Ártico após testes nucleares. Percebe-se uma tendência para os filmes envolvendo os predadores antigos e gigantescos, já que novamente o destino da criatura é semelhante ao do brontossauro em O Mundo Perdido, de 1925, quanto o de King Kong, em 1933, uma vez que a criatura é levada para Manhattan para atender a demanda dos gananciosos que a encontraram, que mais se importam em ganhar dinheiro do que preservar o milagre que é um animal como esse estar vivo. Aliás, esse clichê também foi utilizado na parte dois da franquia de Spielberg, Mundo Perdido: Jurassic Park.

    O Monstro do Mar, de Eugène Lourié (1953)

    O modo encontrado para deter a fera é bastante criativo, e a cena em questão se dá em um parque de diversões, próximo de uma montanha russa, um cenário completamente inesperado para esse tipo de sequência. O final é melancólico para a criatura, e faz perguntar afinal quem seriam os verdadeiros monstros da história, e nesse ponto o filme de Eugène Lourié acerta em cheio, pois propõe discussões e questionamentos importantes. O diretor ainda voltaria ao tema com outros dois filmes: O Monstro Submarino e Gorgo.

    Pouco tempo depois, chegava as telas O Rei Dinossauro, um filme sobre exploração espacial, onde um grupo de aventureiros vão até o planeta Nova, um novo corpo celeste que chega na Via Láctea. Neste planeta, a vida é basicamente formada por animais gigantes como os dinossauros terrestres, além de algumas criaturas pré-históricas. O filme dirigido por Bert I. Gordon, que era especialista em produtos de atomic horror (A Maldição da Aranha, A Maldição do Monstro, O Incrível Homem Atômico), ainda há um suposto T-Rex que aparece, “interpretado” por uma iguana. Ainda assim, o tom é sério, mas a questão de não se definir se a iguana que está no filme é realmente uma iguana gigante ou é um T-Rex, torna tudo muito tosco, piorado quanto um monstro maior se aproxima – um crocodilo – em um embate mortal, mas que já se sabe qual será o destino ao final. O crocodilo e a iguana, quando se deparam tem o mesmo tamanho, e isso é demonstrado com dois bonecos se enrolando pelo chão arenoso, de uma maneira terrivelmente filmada.

    A Besta da Montanha é o primeiro filme em cores dessa lista, lançado em 1956, começa como um drama de faroeste, com vaqueiros americanos e mexicanos convivendo com os perigos naturais do solo do país latino. Filmado em cinemascope, o longa de Edward NassourIsmael Rodriguez tem lindas imagens e cores muito vivas. Contudo, o filme se vale demais de estereótipos, em especial quando se desenvolve os personagens mexicanos. O texto do filme é baseado na ideia de Willis H. O’Brien, especialista em efeitos especiais que havia trabalhado no primeiro O Mundo Perdido. O Alossauro que ataca o vale e come alguns dos animais é uma referência clara ao filme de O’Brien e ao romance de Doyle. O modo como ele aparece varia, no começo é mostrada uma fantasia, com os pés do monstro e depois surge em stop motions, em cores cinzas e detalhes que até então não se viam em criaturas assim. Uma pena que o roteiro não colabore com as ótimas ideias visuais do filme.

    Em No Mundo dos Monstros Pré-Históricos (Land Unknown) o diretor Virgil W. Vogel faz muito uso de gravuras e pinturas como cenário, fato que já não era regra nos idos de 1957. Suas cenas com fundo falso soam artificiais demais em comparação com produções da época. Há outro momento complicado, com um pterodáctilo voando – terrivelmente mal filmada – além de batalhas de iguanas, ainda que melhor desenvolvidas. O T-Rex aparece de repente, logo depois da batalha de lagartos e é uma pessoa em um roupa andando em meio a miniaturas, como nos tokusatsus e filmes de Godzilla. Chega a ser cômico o uso da hélice do helicóptero para afastar a criatura e se vê muitos problemas com perspectiva, com o T-Rex variando de tamanho de acordo com as cenas. O longa termina de modo emocionante, mostrando os humanos que estavam na terra isolada fugindo.

    Viagem à Pré-História (Cesta do Praveku), de 1955, traz crianças viajando a uma terra perdida. O longa de Karel Zeman tem um tom bastante lúdico, mostrando criaturas pré-históricas sem um compromisso com a realidade, mas ainda assim bem retratadas no aspecto técnico. Zeman é conhecido por ter feito belas animações, não à toa ficou conhecido como o Georges Méliès tcheco De fato, a melhor coisa do seu filme são os efeitos especiais, pois a trama em si deixa muito a desejar.

    Viagem à Pré-História, de Karel Zeman (1955)

    Dirigido  pela lenda do Cinema B, Roger Corman, Teenage Cave Man tenta resgatar elementos de O Despertar do Mundo, ainda que seja mais explícito em sua proposta. Os homens da tribo já tem uma linguagem sofisticada, a mistura de elementos que claramente não tem congruência histórica é exibido bastante cedo, com os dinossauros aparecendo com menos de cinco minutos de exibição, variando entre stop motion e animais reptilianos disfarçados. Para variar, essa é mais uma produção onde acontecem as famosas lutas entre crocodilos e iguanas rolando pela areia, que se tornou clássica e reaproveitada entre os filmes desse subgênero. De curioso, há o protagonismo de Robert Vaughn, astro de filmes trash, entre eles, O Despertar dos Mortos, do pai dos filmes de zumbi George A. Romero.

    Um dos romances mais famosos de ficção cientifica moderna, é Viagem ao Centro da Terra, não à toa tiveram dezenas de adaptações do livro de Jules Verne. A primeira dela é um curta antigo, de 1910, bastante difícil de achar por conta das raras cópias que existem dele. A mais notória adaptação aconteceu em 1959, uma produção grande, filmada em cinemascope e em cores, dirigida por Henry Levin. Os efeitos e cenários são um pouco caricatos se vistos hoje, mas cumpriam bem o papel de tentar alinhar a obra de Verne à época em que passavam, sem falar que os jogos de luzes do diretor de fotografia disfarçam as limitações técnicas da época em boa parte do filme. Já os dinossauros, em sua primeira aparição são lagartos disfarçados, com efeitos ligeiramente superiores ao das produções anteriores, mas claramente as figuras deles eram coadjuvantes diante da trama que tentava traduzir o livro de Verne para as telas.

    Em 1959, foi a vez também de exibir O Monstro Submarino, traz Behemoth, figura essa existente nos livros da Bíblia, mais especificamente em Jó. No livro, Behemoth é uma figura monstruosa, que para muitos estudiosos é mais aproximada de um bovino com três chifres, para outros um hipopótamo e há quem o compare com um dinossauro. No filme de Lourié, mais uma vez o antagonismo é por conta de uma criatura que sofreu interferência da ação humana, através da energia nuclear. Esse é o terceiro filme do diretor que traz “dinossauros”, e talvez seja o que temor apelo, ainda assim a forma como a criatura é desenvolvida é muito inventiva, apesar de não ser tão bem feita.

    Leia: Parte 2 | Parte 3.

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  • Crítica | O Cão dos Baskervilles (1959)

    Crítica | O Cão dos Baskervilles (1959)

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    Como nos filmes anteriores da Hammer, O Cão dos Baskerville copia as películas de monstros da Universal. Primeiro produto protagonizado pelo detetive de Baker Street no cinema em cores, a fita também referencia o visual da versão da Twenth Century Fox (O Cão dos Baskerville, de 1939),  exibida em 1939, ainda que com um tom muito mais puxado para o barroco. Quanto a história, começa menos chapa-branca e mais fiel ao romance original, com cenas de sequestro, insinuações de estupro e outros temas bastante espinhosos para os pudicos anos 1930 da primeira versão.

    As imagens são registradas com uma câmera na mão assim que a ação começa. Na primeira cena, onde Sherlock Holmes (um Peter Cushing muito à vontade) mostra os seus talentos dedutivos, o plano escolhido por Terence Fisher é panorâmico, englobando todo o ambiente da sala, como se o espectador fosse a plateia de um espetáculo de teatro diante de um artista sem igual.

    Há na produção um caráter de baixo orçamento típico da Hammer Films, mas que nesse episódio torna-se uma característica até charmosa. A arquitetura e figurinos barrocos contrastam com carruagens de cores gritantes e aspecto paupérrimo, evidenciando a pouca perícia do departamento de arte em deixar tais coisas tão escancaradas em um filme de cor. O breu da noite é largamente usado e facilita a ambientação de filme de horror necessária para o conto semi-sobrenatural, no entanto não há cenas de corpos dilacerados, gore excessivo ou momentos explicitamente escatológicos, o que jamais incomodaria um apreciador das histórias holmesianas, mas certamente incomodariam um espectador acostumado com os filmes da produtora inglesa.

    Peter Cushing claramente imita o modo de falar imortalizado por Basil Rathbone, mas de modo algum faz isso de forma depreciativa ou oportunista, pois Sherlock era prolixo e um pouco afetado nos escritos originais, assim como os dois atores faziam. A bela Marla Landi interpreta Cecile, uma Liz Taylor genérica que é reticente em tornar-se o amor proibido do herdeiro Henry Baskerville (Christopher Lee).

    A saída de roteiro para a descoberta do vilão se assemelha à versão dos anos 30, com um atributo físico um pouco mais peculiar, uma marca de nascença passada de forma hereditária. Mas o flagrante físico tão evidente não casa com o estilo sutil de escrito original: se a solução para o mistério fosse tão banal, o Sherlock de Doyle solucionaria o caso em um piscar de olhos.

    A obrigatoriedade de um romance belo e formidável, presente na maioria dos episódios anteriores a este, é pervertida. Celina tem muito mais de figura malfeitora do que o seu pai, Mister Stapleton, principalmente quando ela tenta recriar a cena do vil homicídio amputado por Hugo Baskerville, usando a sua própria história base da encenação de sua desforra por ter crescido em uma vida miserável mesmo com seu sangue azul “bastardo”. Cecile é como a herdeira da mulher assassinada, simbolizando o fruto direto do estupro, os laços sanguíneos da moça com os Baskerville são o que explica o fato do seu pai a querer longe da mansão e de seus residentes. O Cão era um animal normal, mas maquiado, enquanto a vilã, após ter o ardil descoberto, sucumbe ao pântano, encerrando ali a maldição do clã. O Cão dos Baskervilles traz todo o mistério presente na história de Conan Doyle de uma forma bastante competente, apesar das agruras reveladas. O papel que reprisaria na série Sherlock Holmes de 1964, em 132 episódios, foi executado com maestria por Peter Cushing, sendo até hoje um bom intérprete para o detetive britânico.