Tag: Bruce Campbell

  • Crítica | Homem-Aranha 3

    Crítica | Homem-Aranha 3

    Homem-Aranha 3 fecha a trilogia de Sam Raimi sobre o herói tangível e cheio de defeitos criado por Steve Ditko e Stan Lee, mas não sem trazer consigo uma infinidade de reclamações sobre os rumos que a franquia tomou. Na trama, Peter Parker (Tobey Maguire) tem de enfrentar uma crise na relação com Mary Jane (Kirsten Dunst), além de três vilões diferentes.

    No início do filme há uma clara diferença desse para Homem-Aranha 2, o recapitular das aventuras anteriores se dá com arte de Alex Ross e aqui estão apenas as cenas conduzidas por Raimi, sem qualquer tratamento de imagem, como um resumo de capítulos anteriores de uma série barata, o cuidado com a cinessérie mudou e, além disso, se nota uma diferença no tema orquestrado, com tons e acordes diferentes, já que Danny Elfman dá lugar a  Christopher Young na trilha sonora. Esse tom obscuro deveria passar para a abordagem da personalidade de Peter, mas isso não ocorre, necessariamente.

     

    Homem-Aranha 3 é muitas vezes injustamente  criticado, no entanto, uma reclamação justa é o comportamento que o personagem de Maguire tem no início do filme, antes mesmo de ter contato com o “alienígena” que daria origem a Venom. Ele é impulsivo, se deslumbra com a aceitação que o povo lhe confere finalmente, após dois filmes com histórias conturbadas, e age de maneira brutalmente insensível, em especial com MJ. A vida pessoal de Peter finalmente se ajeita, ele está feliz, tanto como Aranha quanto Peter Parker, mas como se trata de um personagem trágico (aos menos aos olhos do diretor), não há como seguir assim por tanto tempo.

    Raimi é um cineasta muito fiel às suas raízes, mesmo quando faz obras mais voltadas para o público mainstream. Desse modo, é natural que existam cenas que remetam ao cinema de horror. E aqui a manifestação se dá no entorno do Homem Areia, tanto na transformação que Flint Marko (Thomas Haden Church) sofre, quanto nos momentos finais. Além de ter um visual arrebatador em ambos momentos, há significados que remetem aos monstros clássicos, em especial na sua gênese. Marko tem características da criatura de Frankenstein de Boris Karloff, e certamente essa referência seria melhor encaixada caso o roteiro fosse mais sólido, pois o evento que transforma o personagem é completamente avulso à trama, sem repercussão antes ou depois do ocorrido.

    As tramas secundárias também variam de qualidade. James Franco está bastante canastrão, não consegue dar camadas ao seu personagem, sua motivação não faz sentido por não ter tempo de tela, sem falar que expõe um dos defeitos do filme, os efeitos visuais primários. Dunst está muito bem, consegue trabalhar bem com o que é lhe dado, mesmo sendo pouco. Já a introdução dos personagens novos, como Gwen (Bryce Dallas Howard), Eddie Brock (Topher Grace) e o Capitão Stacy (James Cromwell) é gratuita ao extremo. Não há desenvolvimento mínimo de nenhum deles, e até os coadjuvantes do Clarim Diário parecem mais sólidos e profundos que o trio, fato que gera até incongruências, já que o J.J. Jameson de J.K. Simmons não sabe quem é Brock, mesmo com uma citação a ele em Homem-Aranha. O personagem é tão irrelevante para Raimi que a direção deliberadamente não o leva a sério.

    Entre as reclamações mais comuns ao filme está a personalidade de Peter modificada pelo simbionte, que muitos atribuíam ao comportamento dos fãs de emocore. Ora, na época, os meninos comuns que usavam esse visual diferia de Peter. Eram introspectivos, gostavam de parecer sombrios, já Parker é o oposto disso, espalhafatoso, inconsequente e age até como um bully em alguns momentos, com uma personalidade tão baixa quanto a do seu nêmese escolar Flash Thompson. Ele claramente não era Emo, só pegou emprestado desse estilo o cabelo e a maquiagem um pouco mais forte, comparar o Andrew Garfield em O Espetacular Homem-Aranha com o estereótipo do hipster até faz algum sentido, mas o Peter de Tobey de emo tinha apenas o visual.

    Parker parece governado unicamente pelo id (parte da mente que quer gratificação imediata de todos os seus desejos e necessidades, segundo o conceito freudiano), e dito assim, esses momentos não parecem tão erráticos, especialmente a cena “musical”, já que é o símbolo maior da breguice que Raimi sempre impôs a sua versão do Cabeça de Teia.

    A reunião dos antagonistas não tem nenhuma força, é um pretexto pobre que está lá para justificar uma ação entre amigos com Harry e Peter juntando as forças, que só não é mais vergonhosa do que o momento de retorno do uniforme clássico, ao lado de uma bandeira dos EUA tremulando, que faz automaticamente o povo esquecer dos maus atos do Aranha. Além dessas questões, boa parte da imaturidade de Peter também não cabe, já que ele aprendeu ou deveria ter aprendido com seus erros do passado, e justificar esses atos pelo simbionte também não faz sentido, visto que sua personalidade já havia se transformado antes mesmo dele utiliza-lo.

    Raimi saiu reclamando de interferência dos estúdios, seu desejo seria explorar personagens como o Abutre e a Gata Negra, mas por influência de Avi Arad, teve que fazer o filme com Venom. Desse modo,  Homem-Aranha 4 previsto para 2011 foi abortado, assim como uma segunda trilogia. Ainda assim Homem-Aranha 3 parece mais com o ideal de Ditko e Lee, por ser senhor de sua própria história e seguir dando camadas trágicas, mas humanas ao personagem. Peter segue falho, tolo, mas capaz de se sacrificar e tentar evoluir, mesmo que a mão invisível do roteiro o faça agir como alguém que não digeriu bem seus problemas.

  • Crítica | Fuga de Los Angeles

    Crítica | Fuga de Los Angeles

    Fuga de Los Angeles é uma continuação que despreza quase tudo que funcionou em seu primeiro filme, Fuga de Nova York. A crítica social e política, o cuidado com o visual e a cretinice meticulosamente pensada dá lugar a um longa de ação super divertido que traz de volta o personagem Snake Plissken (Kurt Russell), mas sem o mesmo charme e compromisso com subtextos mais inteligentes.

    O filme chegou aos cinemas em 1996, um ano antes do futuro distópico que era o ponto de partida do filme anterior. A trama se passa em 2013, e retrata outra catástrofe ambiental, dessa vez ocorrida em 1998. O protagonista, bem mais velho, reaparece para reviver boa parte dos plots anteriores, no entanto, Nova York é substituída por Los Angeles.

    O filme de 1981 era debochado, mas era fácil perceber que ele tinha compromisso de seriedade, aqui não existe esse apego. Ao mesmo passo, os efeitos práticos que ajudaram a deixar o filme original charmoso dá lugar a computação gráfica ainda nada aprimorada, artificial e com figuras em 3D que claramente não parecem ter sido finalizadas. O roteiro dessa vez é assinado por Carpenter, Russell e pela produtora Debrah Hill. Quase todos os encontros e desencontros são mal encaixados, lembrando uma brincadeira de bonecos comandada por uma criança pouco criativa.

    Sobram frases de efeito, trilha de rock genérica e a busca por uma imagem transgressora. Ao menos, o elenco de apoio se esforça para deixar as bizarrices da história menos constrangedores. Participam Bruce Campbell, Michelle Forbes, Steve Buscemi, Pam Grier e Peter Fonda. Esses coadjuvantes não são bem explorados e  cada um tenta se provar mais esperto e astuto que o outro, basicamente para mostrar Snake como alguém inepto e irascível, ou seja, pouco apto para o trabalho. Além disso, o papel de Grier envelhece mal, visto que é alvo de piadas transfóbicas, questões essas que em 1996 não eram tão aludidas ou combatidas quanto atualmente.

    O preço para ver Snake de volta é alto, Fuga de Los Angeles tem uma trama política complicada, se no original há crítica severa ao imperialismo dos Estados Unidos, aqui se desdenha de movimentos revolucionários de países latinos, e de maneira pouco inteligente, rasa e às vezes sem sentido. Ao menos ele dá fim as possibilidades de continuações, com uma escolha inteligente para findar a aventura e esse universo todo, preservando assim público e os fãs da franquia de mais obras que não valorizam o original.

  • Review | Lois & Clark: As Novas Aventuras do Superman

    Review | Lois & Clark: As Novas Aventuras do Superman

    Lois e Clark: As Novas Aventuras do Superman foi uma serie exibida a partir de Setembro de 1993, criada por Deborah Joy LeVine. Sua trama era bastante focada no dia a dia do Planeta Diário e na construção do romance dos personagens de Teri Hatcher e Dean Cain, tendo como pano de fundo obviamente as aparições do herói, sendo esse realmente um aspecto subalterno ao romance.

    O tom da série é leve, escapista, com tramas bem desimportantes, tudo para dar vazão a uma abordagem que atraísse mais o público feminino, já que quadrinhos e filmes do Super Homem sempre miraram mais homens e meninos. Ainda no piloto, se estabelece a sensação de que a redação do jornal é como uma família, comanda pelo divertido e pilhado editor chefe Perry White (Lane Smith) que está sempre nervoso, só conseguindo relaxar quando escuta os discos antigos de Elvis Presley. A colunista de costumes Catherine Grant de Tracy Scoggins serve de contraponto idealista de Lois, como uma mulher fogosa, estereotipada, que imita os clichês das artistas pop como Madonna, em contraponto a mulher mais recatada e sonhadora da protagonista. Fora eles, faz parte também do elenco fixo o jovem estagiário, Jimmy Olsen, feito primeiro por Michael Landes e depois por Justin Whalin. Essa mudança incomoda um bocado, já que o tom do personagem muda, e aos poucos, personagens clássicos são deixados de lado, como Grant, que só dura uma temporada, assim como o vilão que John Shea faz, como um Lex Luthor magnata e de moral dúbia. A realidade é que a primeira temporada mirava um potencial de explorar as idas e vindas do casal correndo junto aos primeiros anos de ação do herói em Metrópolis e nela, há muito sucesso, o problema é quando a série se estica.

    Há alguns momentos marcantes em suas quatro temporadas, como CK criando com sua mãe Martha (K.Callan) o seu traje, ou as ligações que ele fazia para o Kansas, onde Jonathan (Eddie Jones) e ela atendiam juntos o filho. A maioria das atuações são marcantes, tendo certamente em Hatcher a Lois Lane definitiva e e em Smith o Perry White mais marcante até as adaptações atuais. Mesmo os pais do herói tem participações bem carismáticas e divertidas, quase tão boas quanto as contra partes de Smallville: As Novas Aventuras do Superboy.

    Os anos noventa eram tempos mais simples no quesito adaptação de quadrinhos.  As cenas de voo colocam Cain em chroma key de qualidade duvidosa, que são aplacadas pelo tom bobo dos vilões. O kriptoniano até tem algumas aventuras mais elaboradas e um vilão a altura em Luthor, mas fora isso, quando não há vilões com poderes, como a Intergangue de Jack Kirby,  a presença dos vilões são genéricos. Os poucos acertos com antagonistas se situam nas tentativas de emular Metallo, o Homem dos Brinquedos ou o Homem Nuclear, o obscuro antagonista de Superman IV – Em Busca da Paz. Até há algumas participações legais como de Bruce Campbell como Bill Church, o chefe da Intergangue, mas nem essa participação dura muito.

    Após o sucesso da primeira temporada, Levine tentou utilizar a figura de Lex Luthor como uma sombra sobre os protagonistas, mas em todas essas tentativas o que se viu foram tramas cansativas, seja nas pretensas ressurreições ou no uso do clichê de parente perdido que busca vingança. O programa poderia ser mais fiel, ou ao menos lançar mão de mais vilões que pudessem ser páreos para o Azulão ou que ao menos dessem algum trabalho para ele. Os roteiros são presos demais a formula de garota em apuros nas primeiras temporadas, restando depois as dificuldades que os dois passam a ter em se casar. A insistência nisso gera enfado, como se a ideia da série tivesse trama para pouco mais de uma temporada e fosse esticada para quatro. Os plots das últimas temporadas são infantis, Clark carece de personalidade e pulso, embora não seja tão capacho quanto a versão de Christopher Reeve em Superman – O Filme. Em alguns pontos até assusta como Lois se apaixona por ele, e não dá seguimento ao romance com o vilão Lex Luthor, visto no primeiro ano.

    Uma coisa é certa sobre o roteiro, por mais que ele possa parecer bobo e infantil, sua exposição acaba sendo acertada na maior parte das vezes. Kal El descobre suas origens com o publico, mesmo seu passado alienígena. O modo como se é mostrado é bem legal, mistura elementos de Superman: As Quatro Estações e lembra até revistas  posteriores como Superman: Legado das Estrelas.

    As  grandes mudanças do seriado miram o visual dos personagens. Hatcher, que troca de penteado algumas vezes, em uma tola tentativa de mostrar visualmente que ela evoluiu. A composição da personagem é estranha, pois mesmo sendo inteligente, apaixonante e independente posa de boa moça, deixando a entender que se guardou sexualmente para o casamento. Esse tabu celibatário era uma preocupação de roteiristas em alertar sobre doenças venéreas, mas o exagero no recato não faz sentido com todo o comportamento da repórter intrépida.

    Smallville tem durante seus dez anos de exibição a pretensão de explorar os mitos kriptonianos. Aqui também se explora um pouco isso, mas de maneira tão apressada que mal é digna de nota. Nesta época, na mini saga que envolve Sarah e Ching há um plot envolvendo outros pretensos sobreviventes do planeta explodido, mas a importância dada a isso é quase nula. De marcante há só o uso de um uniforme preto pelo Superman, bem mais fiel aliás que o visto no material de divulgação da Liga da Justiça – Snydercut.

    Entre questões moralistas, como o Super pensando em abrir mão de sua identidade secreta para não ser encarado como corno (um chantagista fotografou Lois beijando o herói), ou como em outro momento em que Lois torce para que um vilão consiga tirar sua habilidade de envelhecer lentamente, a quarta e última temporada enfatiza uma face egoísta da mulher e outra completamente abnegada do homem.  Tentando deixar os personagens em pé de igualdade, Levine acaba maltratando Lois, fazendo o sub texto soar machista.

    Lois e Clark marcou época, teve um sucesso considerável no Brasil e por muito tempo foi uma grande versão do Superman no áudio visual, tanto que influenciou até os quadrinhos, apressando o casamento dos dois nos gibis. Mesmo com essa recepção positiva do publico o programa foi abreviado, terminando com um gancho envolvendo a chegada de um bebê possivelmente kriptoniano. Os motivos para esse fim abrupto não são conhecidos, por mais que a audiência tenha caído e o dia de exibição tenha mudado no último ano, ainda assim, o fim era tão inesperado que sequer os produtores puderam remendar os últimos episódios. Ainda assim, o seriado conseguiu trazer o mito do Superman para um publico diferente, causando curiosidade em um novo público, mesmo com os roteiros tão fracos como são, ainda possui atuações marcantes dos personagens humanos, além de mostrar que havia sim uma curiosidade sobre historias em quadrinhos adaptadas para a televisão.

  • Review | Ash Vs Evil Dead – 3ª Temporada

    Review | Ash Vs Evil Dead – 3ª Temporada

    Terceira e aparentemente última temporada de Ash Vs Evil Dead começa mostrando Ash (Bruce Campbell) e Pablo (Ray Santiago) trabalhando em uma loja de quinquilharias do primeiro personagem, que alem de comandar o comercio, ainda protagoniza estranhos comerciais da mesma. A série volta quase dois anos após a segunda temporada, terminada em dezembro de 2016, e continua muito bem toda a galhofa que mistura terror, comédia e drama que já eram comuns a A Morte do Demônio, EUma Noite Alucinante 2 e Uma Noite Alucinante 3.

    Antes até de anunciar os créditos iniciais, uma das versões de Ruby (Lucy Lawless) aparece socando o rosto de um sujeito comum, a fim de pegar o livro Necronomicon de suas mãos, esfarelando o rosto do sujeito e encharcando a tela com o sangue que dali sai. Infelizmente a personagem que normalmente fazia muita diferença na primeira e segunda temporada, aqui está um pouco apagada, tendo poucos momentos realmente épicos. Essa temporada começa após os personagens voltarem no tempo, até a cabana onde ocorreram os fatos do primeiro filme. A partir dali mostra-se Ash virando um herói  adorado por todos, ao invés da figura de ódio que ele sempre foi.

    Há cenas memoráveis, como a revolta de uma mulher que é “homenageada” por Ash, em um revista pornográfica quando o mesmo tentar doar esperma. O mal se manifesta a fim de impedir essa doação, uma vez que caso tivesse filhos, seria inconveniente para a criatura maligna, e faz a mão da moça que posou sair da revista enquanto o protagonista está se aliviando. A cena seguinte é uma briga em meio ao laboratório, com direito a efeitos de congelamento de materiais anti incêndio.

    A cidade de Elk Grove é bem diferente do que se via antes, não só em relação ao heroísmo de Ash, mas também a incidência de ataques do Mal. Quando voltam a acontecer esses rompantes, normalmente é Kelly (Dana DeLorenzo ) quem segura a barra, ainda que sua presença também seja discutível quanto a sua filiação, uma vez que não se define completamente se ela está do lado dos mocinhos ou da coisa maligna.

    O seriado continua com cenas asquerosas — no melhor sentido do termo —, e a diversão também extrapola os limites do “politicamente correto”. A quantidade de lutas que envolvem dilacerações, amputamento de membros e decapitações é praticamente incontável, há pelo menos uma por episódio e o desrespeito com as regras físicas e espirituais é enorme, tudo em nome do nonsense. Toda essa extrapolação só funciona obviamente graças a presença canastrona e carismática de Campbell,

    Para variar o ano termina com mais uma versão do apocalipse, dessa vez apelando para um visual que lembra demais o que está na literatura de H. G. Wells, em especial Guerra dos Mundos, com monstros gigantes que parecem vindos de outro mundo. Ash deixa seus amigos distantes, junto com sua filha Brandy Barr (Arielle Carver-O’Neill), para tentar enfrentar essa nova versão do mal sozinho.

    Ash Vs Evil continua divertida como sempre, e repleta de fan service para quem gosta de cinema trash e também de uma diversão descompromissada com sub textos. O fato de Ash ser o escolhido para lidar com o maior mal que o planeta já viu é no mínimo intrigante, visto as falhas enormes de caráter que o mesmo tem, além é claro de sua infantilidade tradicional. Alem disso, o protagonista é um sujeito falho e extremamente humano, fato que conversa demais com o público alvo, em especial com os de meia idade, que como Ash, tendem a aceitar melhor seus próprios defeitos sem receio de serem tachados de estagnados ou resignados, tendo então empatia natural por  aqueles que abraçam seu destino, independente do quão trágicos e tortuosos possam ser esses caminhos, e claro, o vislumbre do que viria numa quarta temporada, em um futuro pós apocalíptico e arenoso como em Mad Max cria obviamente uma expectativa enorme em cima do que poderia vir antes do cancelamento precoce, restando apenas a esperança de que algum outro serviço (de streaming ou outro canal) salvem a série de um destino sem desfecho.

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  • Review | Ash vs Evil Dead – 2ª Temporada

    Review | Ash vs Evil Dead – 2ª Temporada

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    Após um season finale curioso na Ash vs Evil Dead – 1ª Temporada, a série retoma em duas frentes, sendo a primeira com Ruby (Lucy Lawless) combatendo o mal que havia libertado na cabana de Uma Noite Alucinante – A Morte do Demônio, e claro, a personagem de Bruce Campbell curtindo férias em Jacksonville, em meio a eventos como os spring breaks. Ao lado deles estão os já introduzidos Pablo (Ray Santiago) e  Kelly (Dana DeLorenzo), que compartilham dos mesmos infortúnios que o anti-herói carismático.

    O estado de paz é obviamente cortado pela ação das criaturas malignas liberadas no desfecho do último episódio. Após deliberar, o trio resolve ir até a cidade natal do anti-herói, em Elk Grove, e já no caminho o personagem latino dá mostras de que algo estranho lhe aconteceu. Ao retornar, ele é recepcionado por personagens do seu passado, como seu pai Brock Williams, interpretado por Lee Majors (famoso por ter estrelado O Homem de 6 Bilhões de Dólares), sua antiga namorada Linda Bates (Michelle Hurd) e um antigo colega de escola, Xerife Thomas Emery (Stephen Lovatt) sendo este vítima de bullying da personagem título quando eram mais jovens.

    Em Elk Grove, Ashley é chamado de Ash Slashy, por ter desmembrado seus amigos nos eventos da trilogia Evil Dead. No decorrer das investigações a fim de achar o Necronomicon, Ash se mete em um necrotério, onde o gore passa a ser mais escatológico e pornográfico do que sanguinário em si.

    O segundo ano é bem mais divertido que o primeiro, e contém uma exploração ainda maior das personagens. Kelly desenvolve uma personalidade muito além da garota refém ou menina durona, Ruby ganha muito mais força ao estar do lado dos bonzinhos, Pablo se torna importante graças ao livro – fato esse que acrescenta um senso de urgência muito grande a trama principal – e claro, o vilão Baal (Joe Tobeck), ameaçador, carismático e ainda provoca nos heróis uma paranoia imensa, abrindo espaço para que a série produzida de Craig di Gregorio, Ivan Raimi e Sam Raimi possa fazer referências ótimas aos mestres do horror, como Dario Argento, David Cronenberg, e em especial John Carpenter, que possui citações em quase todos os dez episódios, além de elementos visuais retirados da literatura de Clive Barker.

    Apesar dos roteiros não terem grandes discussões filosóficas profundas, o texto é prodigioso soando divertido o tempo inteiro. A execução das cenas de terror também são bem construídas, com truncagens de câmera que não deixam nada a desejar a outros filmes de Raimi. Também é curioso o fato de o programa trabalhar bastante com a morte de familiares que acabaram de ser apresentados, além de subverter a condição de Ash como protagonista/antagonista, sem apelar para o artifício do Evil Ash visto em Uma Noite Alucinante 3 – Army of Darkness.

    Ashley é uma personagem que apesar da mente vazia e jeitão simples, um sujeito rico e capaz de gerar grandes discussões éticas. A fotografia e cenários em que o predomínio de cor é o preto e o cinza, demonstrando representações gráficas da dicotomia espiritual da série. O destino do Necronomicon serve ao propósito de mostrar que Ash vs Evil Dead não se prenderá tanto aos filmes anteriores para mostrar sua história. A mitologia do programa já é independente por si mesma.

    A figura de Baal é misteriosa, pouco se sabe dela na série, exceto pela óbvia anedota bíblica que associava a divindade cananeia/fenícia a uma figura demoníaca. Sua aparência de homem caucasiano de cabelos longos e com visual gótico faz parecer que esse é o inverso do Deus que Alanis Morisette fez em Dogma, e nem é pelo visual que a comparação faz sentido já que o astral pop em volta das suas atitudes o faz guardar semelhanças também com a cantora. Ao mesmo tempo em que o mal se apresenta, os laços entre Kelly e Ash se estreitam, tornando ambos em quase uma família, fato que faz com que os infortúnios a Pablo sejam ainda mais sentidos por todos, com uma notícia visceral e agressiva logo após uma vitória parcial dos justiceiros.

    O retorno no tempo e a cabana onde o demônio kandariano atacou repete um pouco dos momentos finais da primeira temporada, ainda que o sentido dessa vez seja muito diferente, com a participação da possessa Henrietta, que aliás, é representada em forma monstruosa por um animatrônico dos mais bem construídos de toda a franquia, manipulado em um dos seus estágios por Ted Raimi. Ash está bem afiado quanto as piadas, mesmo em situações chave, onde vê seus amigos perecendo. A bordo do Delta, Ash e seus dois sidekicks brincam com a dobra temporal. Driblando alguns tropeços narrativos, essa segunda temporada consegue dar um encerramento de arco divertido para a maioria dos personagens, ainda que deixa rastro para mais uma virada, que será explorada em um eventual terceiro ano, a ocorrer no ano de 2017, e visto a independência com que correu o argumento de Ash vs Evil Dead, há de se esperar algo tão escapista, divertido e transgressor quanto o que se viu até agora.

  • Crítica | Uma Noite Alucinante III

    Crítica | Uma Noite Alucinante III

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    Em 1992, após muita insistência dos produtores – em especial Dino DeLaurentisSam Raimi retornaria a franquia Evil Dead, em Uma Noite Alucinante 3, iniciando seu longa de modo diferenciado, primeiro com uma narração ainda mais elucidativa do que a executada e Uma Noite Alucinante 2, o que já ajuda a montar o quadro de um produto mais palatável ao grande público, fazendo deste capítulo o mais familiar dos filmes da saga.

    Ash (Bruce Campbell) volta no tempo, caindo do céu em meio a época dos templários, sendo mal compreendido pelos cavaleiros de armadura que o acham e o levam como cativo. A inteligência superior e conhecimento que tem do presente – na tela, futuro – o faz subir degraus facilmente, se elevando a um patamar de nobre, após vencer criaturas monstruosas, passando pelas circunstâncias contrarias que lhe são impostas, revelando um comportamento dúbio de sua parte, longe da honradez mostrada nos episódios anteriores.

    A transformação em anti herói se dá automaticamente, aludindo a mudança de caráter graças a situação limite e desesperança pela qual passa Ashley. Não preocupação de sua parte sequer em economizar cartuchos de bala para sua escopeta. A preparação para o campo de batalha emula o filme dois, na construção de armas para seu manuseio do (agora desde o início do filme) protagonista maneta.

    O ideal do personagem está bem diferente, passado o luto pela perda de Linda, finalmente ele segue em frente, encontrando sossego nos braços de Sheila (Embeth Davidtz). A jornada rumo a versão do Necromicon da época o faz ter um embate novamente com a estranha criatura que segue perseguindo-o na floresta. No entanto, nem esta aparição faz retornar o tom mais sério, já que Uma Noite Alucinante III é de fato o episódio mais jocoso e parodial da cinessérie.

    Raimi dá espaço para seu astro brilhar, em cenas de embate terrivelmente construídas com cenas em CGI vagabundas ao extremo, fazendo lembrar o orçamento irrisório dos seriados mexicanos do Chapolin Colorado. O combate com suas contra partes diminutas sequer tem encaixe físico, e constituem mas uma das loucas encarnações pensadas pela dupla de amigos Campbell e Raimi para representar a dupla personalidade do personagem, fator que piora a evolução da dualidade de caráter do personagem, já citada no segundo filme aqui evoluída a questão de Evil Ash.

    A transição de filme de horror para aventura escapista de capa e espada talvez faça estranhar quem somente assistiu a Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio, especialmente nas drásticas mudanças de personalidade e reações de Ashley. Claramente seu personagem deixou de ser um mocinho genérico dos filmes de horror B para se tornar algo muito maior, uma figura de desdém ao herói clássico, que deturpa o arquétipo do paladino, fazendo dele uma piada enorme.

    Noite Alucinante 3 reverencia filmes clássicos e recentes nos anos noventa, desde As Viagens de Gulliver até Highlander, tanto no visual quanto nas situações mostradas em tela. De certa forma, a preguiça que acometeu Sam e Ivan Raimi em seu roteiro serviu para aludir a paralelos mais recentes, renovando sua temática. A batalha final com a contra parte maligna é digna de risos em praticamente todas as consequências, desde o embate em si, envolvendo dezenas de figurantes e cenários, até a luta corpo a corpo do personagem principal e sua versão putrefata, que se decompõe cada vez mais durante o certame. A maquiagem de Greg Nicotero faz jus aos seus momentos áureos, e consegue elevar a galhofa ao nível máximo, amarrada muito bem ao desfecho da história, que mostra um futuro apocalíptico terrível na versão estendida e o retorno do protagonista aos dias atuais, fator que daria lastro para o seriado vindouro Ash vs Evil Dead, além claro de marcar época como umas das mais criativas tentativas de misturar humor e horror no cinema moderno.

  • Crítica | Uma Noite Alucinante II

    Crítica | Uma Noite Alucinante II

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    Lançado quatro anos após Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio, a continuação também conduzida por Sam Raimi tem um aviso para a plateia de que as cenas mostradas a seguir talvez sejam ofensivas para alguns. Os primeiros minutos fazem uma introdução do que seria o Necromicon, chamado também de O Livro do Mortos, em uma tradução aproximada. O caráter deste Uma Noite Alucinante 2 já se mostra diferente na maneira de filmar uma vez que a fotografia, figurino e ambientação parecem muito mais clean do que a rusticidade do filme original, o que faz perguntar qual seria a real intenção de seu realizador.

    Há muitas coincidências fatuais entre a história deste e do outro filme, a começar pelo protagonismo de Ash (Bruce Campbell), pela viagem que faz com sua amada Linda (dessa vez interpretada por Denise Bixler), até a ida a mesma cabana do outro capítulo, agora chamada de Knowby. Não há menção a desventura anterior, mas não fica exatamente claro se ocorreram ou não os fatos, uma vez que o primeiro contato de Ashley com as criatura maligna se dá em uma cena que parece misturar realidade com fantasia.

    Há um cuidado em explicitar o que antes era um mistério. A tal gravação que acompanhava o livro agora ganha um narrador de nome de Raymond Knowby (John Peaks), que teria encontrado o tal Morturum Demonton em uma ruína antiga, chamada de Castelo de Candar. A trama se bifurca, entre os momentos da origem desse artefato e os da interação do casal na cabana. Tudo que envolve a reaparição de Linda após ser decapitada tem um uma abordagem assumidamente trash e jocosa, sendo esta a maior mudança na postura da abordagem de Raimi. Toda essa ideia serve muito bem ao desígnio de mostrar a confusão mental pela qual passa o herói, em um momento de extrema crise, existencial.

    A divisão das intenções de Ashley se dão através de cenas hilárias, em que ele começa a lutar consigo mesmo, tentando resistir a dominação que foi imposta aos outros personagens e que finalmente chegou a si. A mão putrefata que lhe inflige dor e agonia faz com que se desperte toda a genial canastrice de Campbell, uma vez que seu personagem precisa demonstrar uma duplicidade espiritual clara.

    O show de horrores ocorrido através do banho de sangue e sujeira com Ash é interrompido pela chegada de Annie (Sarah Berry) a herdeira da casa e filha do doutor, Jake (Dan Hicks), Bobby Joe (Kassie Wesley) e Ed (Richard Domeier), que iriam ao encontro do falecido e desalmado arqueólogo. Os eventos clássicos passam a se repetir, incluindo a cena de violência sexual. O personagem principal é tomado pela coisa, o que prova que nem mesmo ele está imune aos poderes do opositor, sensação maximizada pela entrada e saída dos transes que tem.

    Toda a seriedade que habitava os primeiros momentos do filme é deixada de lado passada uma hora, durante a preparação para enfrentar as bestas incorporadas. Como em Evil Dead, este número dois também serve de inspiração para outros tantos produtos do sub gênero terror, que imitam tanto o uso de criaturas animatrônicas, quanto o uso indiscriminado de armas improvisadas como suplemento corporal, com serras elétricas dando lugar a membros efetivos, fato que seria mencionado no filme Planeta Terror de Robert Rodriguez décadas depois.

    A condução do filme é interessante, por conseguir reunir toda a bagunça que é mistura de elementos nos instantes finais reunindo o pós apocalíptico ao estilo Mad Max com viagem no tempo a era do medievo, desafiando os limites narrativos que um filme de terror pode se permitir. Uma Noite Alucinante 2 perde um pouco em qualidade ao seu original, e é claramente um arremedo de ideias inspiradas no primeiro volume, mas é ainda é caro graças a entrega total de Cambell, que conquista o publico mesmo em suas limitações dramatúrgicas, fazendo de seu carisma a liga que mantém unidos todos os elementos dissonantes do confuso e jocoso argumento.

  • Crítica | Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio

    Crítica | Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio

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    A história de terror presente em Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio (ou Evil Dead: A Morte do Demônio) é bem comum, sem muitos floreios ou invencionices. O roteiro de Sam Raimi é um aspecto secundário, que dá vazão para a inventividade visual de seu realizador, que teria na construção de tensão, clima no manejo da câmera um diferencial não só em relação ao gênero de horror como para todo o cinema contemporâneo.

    Evil Dead não é o primeiro longa-metragem de Sam Raimi, antes dele veio It’s Murder, também com colaboração de seu astro e amigo Bruce Campbell, e onde o cineasta já pôde experimentar alguns dos maneirismos empregados no clássico de 1981. A história mostra um quinteto de moços e moças, que vão até uma cabana na floresta. Como é esperado, os hormônios afloram e o tempo inteiro eles deixam suas imaginações fluírem em torno da sexualidade que lhes era reprimida na cidade grande, além de desfrutar de uma imensa curiosidade pelo desconhecido, que se manifesta através de um livro que se encontra no porão da casa, chamado Necromicon.

    Mesmo antes de liberar qualquer mal, o filme já usa de closes rápidos típicos dos clássicos de Mario Bava e Lucio Fulci para estabelecer a relação entre Ash (Campbell) e sua amada Linda (Betsy Baker), ao focar nos olhos dele e dela ao tentar descobrir o que está dentro da pequena caixinha de joias que o protagonista carrega. O filme ainda guarda em seu início, passados pouco mais de um terço de filme, uma cena violenta e aterrorizadora para o espectador feminino, usando Cheryl (Ellen Sandweiss) como espécime básico do clichê ‘mulher solteira procura’, sendo ela perseguida pelo monstro que habita a câmera, nos moldes de uma escola de terror tipicamente americana, vista em Tubarão e Halloween: A Noite do Terror, e usada dessa vez para denunciar os maus tratos a mulher, normalmente ignorados por uma grande parcela do público.

    O infortúnio de Ash e dos seus se manifesta a partir de eventos inesperados, começando pela localidade da cabana, envolvendo depois as gravações do arqueólogo que era o antigo dono do casebre em que habitam. Apesar do caráter barato da produção, as cenas mais violentas são bem executadas, e os temas discutidos fazem paralelos fortes com a proibição e punição a quem desfruta das formas de prazer inerentes ao desabrochar da líbido, tomando prioritariamente os pares dos meninos, tornando o belo sexo no motivo de tormento dos homens, aludindo a misoginia que se vê em muitos dos contos bíblicos.

    A possessão dá vazão a elementos gore diversos, desde a putrefação instantânea da bela pele dos jovens personagens, até o canibalismo como forma de sobrevivência dos contaminados. Uma vez tomados, as vítimas passam a atacar os que não foram tomados pelo mal, obrigando mesmo esses a cometerem o pecado do homicídio, ainda que a culpa destes atos seja plenamente discutível, vista principalmente no receio de Ash em executar Shelly (Theresa Tilly), e na certeza de Scott (Richard Demanincor) na hora de mutilar seu antigo par, percebendo que se não fizesse isso, seria ele a perecer.

    Ashley é o típico menino covarde, que se auto engana através da aparência rude que ostenta, unida ao amor que tem por sua namorada e por sua irmã Cherryl, sendo torturado e aterrorizado pelas criaturas espirituais que as dominam. Analisando friamente todo a problemática envolvendo os cinco, fica a dúvida se os dominados pelo demônio não teriam forças suficientes para se libertar das amarras que improvisadas que lhe eram impostas e portanto estavam tentando convencer o herói a se reunir com eles ou se eles realmente tem seu poderes limitados pela humanidade não deturpada.

    A ambiguidade habita o longa e o torna ainda mais assustador. A versão estendida do filme possui apenas 85 minutos, mas exibida em condições cinematográficas, aparenta ter uma duração muito maior, dado o desespero causado no espectador. A técnica em stop motion serve muito bem ao filme, exceto em uma das cenas finais onde o mal finalmente sucumbe e se deteriora. O artifício acaba servindo, não intencionalmente, para relembrar ao público que a história se trata de um ficção e que os agouros ali não são reais.

    A tranquilidade aparente que acompanha a manhã é falsa e faz enganar o pobre Ash, que termina a tal Noite Alucinante sozinho, desamparado e aliviado por muito pouco tempo, sentimento este que não dura sequer até o início dos créditos. A rusticidade e criatividade de Raimi a frente desse filme serviria como marco para um cinema independente de horror, possibilitando a uma nova geração de filmmakers seguirem os passos de Wes Craven, Tobe Hooper, John Carpenter e afins, unindo elementos do mainstream com o cinema B tradicionalmente rústico, ajudando este filão a sair do gueto e se popularizar entre outras plateias cinéfilas.

  • Review | Ash vs Evil Dead – 1ª Temporada

    Review | Ash vs Evil Dead – 1ª Temporada

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    De volta ao papel mais conhecido de sua carreira, Bruce Campbell exibe uma bela forma física se espremendo em uma cinta de correção postural nas primeiras cenas de Ash vs The Evil Dead, ainda mais se levarmos em conta os eventos de Uma Noite Alucinante 3. Ainda que a produção tenha tido dois desfechos, um no cinema e outro diferente em home vídeo, a série leva em conta a versão de cinema e, depois de trinta anos, Ash vive sua pacata vida tendo uma rotina boemia, abordando mulheres de meia idade em bares sujos, transando nos banheiros desses estabelecimentos, mas sempre assombrado pelas lembranças demoníacas do passado, sem conseguir se livrar do inimigo que o persegue desde a juventude.

    Aos poucos descobrimos que o personagem ainda guarda consigo o Necronomicon, livro dos mortos, artefato usado para dar em cima de outras mulheres, e que acidentalmente foi aberto fazendo as possessões se manifestarem novamente. Transitando entre o real e o imaginário, as aparições demoníacas não são claras para a compreensão mental de Ash. No entanto no núcleo centrado na policial Amanda Fisher (Jill Marie Jones), a realidade é tangível e entrega boas cenas gore, em doses semelhantes ao remake A Morte do Demônio, evento mais recente da franquia.

    Ashley prossegue na mesma loja de departamentos e lá conhece Pablo Simon Bolivar (Ray Santiago), um latino que assiste a manifestação do mal em uma pequena boneca assassina que tenta dar cabo do protagonista, além de bela Kelly Maxwell (Dana DeLorenzo), alguém que também tem um contato com o maligno em seu seio familiar. O primeiro episódio, único dirigido por Sam Raimi, faz autorreferência a Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio, ainda que seu intuito mais trash como ocorre a partir de Uma Noite Alucinante 2.  Até mesmo na na música, o tom do seriado produzido pela Starz, emula alguns dos acordes de Joseph LoDuca em Uma Noite Alucinante 3.

    Há uma preocupação genuína dos roteiros em explicar a pseudo-ciência por trás dos possuídos, com Ash filosofando sobre a tomada de consciência que ocorre com as vítimas, ainda que não haja qualquer estudo profundo de sua parte, exceto a vivencia do passado. Afinal o único materia que aproxima as criaturas de suas origens obscuras e estão contidas em livro cuja linguagem está morta, sem falantes nativos. Também voltada para a caça do Mal está a bela e misteriosa Ruby Kowby (Lucy Lawless), herdeira dos Knowby vistos no segundo filme, também a procura do destino que o livro dos mortos revelaria.

    A galhofa de Ash vs The Evil Dead remete a um passado onde o audiovisual mambembe e paupérrimo era também inventivo, não descartável e bobo como os filmes da franquia Sharknado que, apesar de divertidos, não acrescentam em nada do ponto de vista técnico. Os 10 episódios não chegam próximo do primor que Raimi conduziu em seus três filmes. O gore é muito bem empregado dando aos roteiros de Sam e Ivan Raimi (unidos a Tom Spezialy) uma boa versão do que vinham fazendo Quentin Tarantino e Robert Rodriguez a partir do projeto Grindhouse, a lembrança mais próximo da intenção dos produtores da série, ainda que o projeto seja menos ambicioso em comparação a Planeta Terror e À Prova de Morte. De qualquer maneira, o roteiro é exagerado, e em meio a uma qualidade narrativa bastante irregular, apela para os velho clichês de gênero terror, mesmo que utilizando-os da maneira mais debochada e escrachada.

    Os últimos momentos deste primeiro ano reservam memórias para Ash, tanto no sentido de estabelecer um romance com uma personagem – um ponto de aproximação com o primeiro filme de 1981 – além de fazer um retorno a cabana onde tudo começou. Apesar de alguns tropeços e de uma visível queda na qualidade do roteiro, principalmente na solução vista no desfecho, com um falso cliffhanger, Ash vs The Evil Dead consegue se estabelecer como um programa nostálgico e emocionante para quem se interessa pela jornada do herói da trilogia Uma Noite Alucinante, preenchendo finalmente um vazio no imaginário desse mesmo público, com direito a novas desventuras.

  • Resenha | Evil Dead:  A Morte do Demônio – Bill Warren

    Resenha | Evil Dead: A Morte do Demônio – Bill Warren

    Em 1981, chegava aos cinemas o cultuado A Morte do Demônio (The Evil Dead), dirigido pelo novato Sam Raimi, com a colaboração de Rob Tapert, produtor, e, claro, de Bruce Campbell, astro da série e co-produtor. Todos os amigos do trio se revezavam entre tarefas nos bastidores, elenco e pós-produção e contribuíram para a realização do longa-metragem, que, após todas as limitações, tornou-se um cult do gênero, conquistando seguidores ao redor do mundo.

    Décadas depois, mal sabiam os criadores da série que Evil Dead renderia duas sequências, um musical na Broadway, games, um remake, diversos sites dedicados a destrinchar todos os seus detalhes, e como não poderia deixar de ser, este livro. Escrito pelo crítico de cinema Bill Warren, conta com uma riqueza de documentos, detalhes de bastidores, entrevistas, fotografias e muito mais.

    O livro reúne em suas páginas detalhes de toda a trilogia original, contando ainda com dois capítulos extras dedicados especificamente ao musical da Broadway e ao remake de 2013, dirigido por Fede Alvarez (leia nossa crítica aqui). Contudo, o foco do livro é dedicado principalmente ao primeiro filme e a cada detalhe, da concepção do roteiro até a recepção do público e da crítica.

    Os capítulos iniciais são dedicados a figuras centrais na criação da série, Sam Raimi, Robert Tapert e Bruce Campbell, estabelecendo assim o elo de amizade, que existe até hoje, entre eles. Ademais, conhecemos um pouco do passado dos realizadores, suas experiências com cinema, como filmagens de aniversários, trabalhos de escola, pequenos curtas, e, por fim, o amadurecimento profissional de cada um.

    O longa-metragem Evil Dead é marcado por ser um grande filme cult do gênero e que revelou um grande diretor para o mundo. Mais que isso: conta a história de um grupo de jovens cheios de imaginação e talento, além, é claro, de insistência para o projeto ser concretizado. Essa perseverança já é marcada nos primeiros curtas, principalmente em Within the Woods, um filme de pouco mais de 30 minutos, com Bruce Campbell como protagonista se tornando um zumbi que passa a perseguir sua namorada. O curta de poucos recursos rendeu ótimas críticas a Raimi e sua trupe e preparou terreno para o que viria a se tornar Evil Dead.

    Outro ponto interessante da leitura são as influências que permearam a carreira de Raimi: muito longe de ser um aficionado pelo terror, o diretor sempre foi muito mais influenciado pela comédia (principalmente Os Três Patetas, que ele e Campbell adoravam) do que necessariamente por outros gêneros. Essa influência fica bem clara em Evil Dead. Contudo, após muitas conversas com Rob Tapert e o fracasso do curta It’s Murder, entendeu que o terror seria a melhor maneira de lhe abrir uma porta inicialmente, haja vista o baixo custo de produções como O Massacre da Serra Elétrica, de Tope HopperA Noite dos Mortos Vivos, de George Romero; O Aniversário Macabro, de Wes Craven; Halloween – A Noite do Terror, de John Carpenter, todos bem recebidos pelo público e de diretores em início de carreira.

    Dessa forma, Raimi passou a estudar o gênero e esses estudos encontram-se na sua série e em toda a sua filmografia. Um trabalho competentíssimo de resgate não só de filmes clássicos, como também de filmes b, trash’s e cult’s, denotando o compromisso e a paixão de Raimi pelo cinema. Outro ponto importante em toda a obra é a forma como ele encara sua técnica como cineasta, sempre buscando novas formas de filmar por meio de diferentes ângulos, equipamentos e outras tecnologias.

    O processo de criação de toda a série é minuciosamente detalhado pelo autor, desde a dificuldade em levantar o dinheiro da produção; as filmagens; a problemática montagem do filme, já que Raimi e seu perfeccionismo deixou Evil Dead com dezenas de horas de filmagem (Joel Coen e Edna Paul foram os responsáveis pela montagem do primeiro filme); todos os problemas de censura que o filme passou; como também a sua distribuição.

    O livro conta ainda com dezenas de imagens de bastidores, entrevistas, além de três capítulos finais com os comentários de Bruce Campbell sobre cada obra da série, uma espécie de versão comentada. Por isso, aconselho o leitor a rever os filmes acompanhado do livro, já que Campbell revela vários detalhes e segredos de como as cenas foram concebidas.

    Evil Dead – A Morte do Demônio, da editora Darkside Books, é um livro surpreendente não apenas para fãs da série e de filmes de terror trash, mas também para os fãs do cinema, e fundamental para entender um pouco a cabeça de um grande diretor. Admirável.

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