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  • Review | Ash vs Evil Dead – 2ª Temporada

    Review | Ash vs Evil Dead – 2ª Temporada

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    Após um season finale curioso na Ash vs Evil Dead – 1ª Temporada, a série retoma em duas frentes, sendo a primeira com Ruby (Lucy Lawless) combatendo o mal que havia libertado na cabana de Uma Noite Alucinante – A Morte do Demônio, e claro, a personagem de Bruce Campbell curtindo férias em Jacksonville, em meio a eventos como os spring breaks. Ao lado deles estão os já introduzidos Pablo (Ray Santiago) e  Kelly (Dana DeLorenzo), que compartilham dos mesmos infortúnios que o anti-herói carismático.

    O estado de paz é obviamente cortado pela ação das criaturas malignas liberadas no desfecho do último episódio. Após deliberar, o trio resolve ir até a cidade natal do anti-herói, em Elk Grove, e já no caminho o personagem latino dá mostras de que algo estranho lhe aconteceu. Ao retornar, ele é recepcionado por personagens do seu passado, como seu pai Brock Williams, interpretado por Lee Majors (famoso por ter estrelado O Homem de 6 Bilhões de Dólares), sua antiga namorada Linda Bates (Michelle Hurd) e um antigo colega de escola, Xerife Thomas Emery (Stephen Lovatt) sendo este vítima de bullying da personagem título quando eram mais jovens.

    Em Elk Grove, Ashley é chamado de Ash Slashy, por ter desmembrado seus amigos nos eventos da trilogia Evil Dead. No decorrer das investigações a fim de achar o Necronomicon, Ash se mete em um necrotério, onde o gore passa a ser mais escatológico e pornográfico do que sanguinário em si.

    O segundo ano é bem mais divertido que o primeiro, e contém uma exploração ainda maior das personagens. Kelly desenvolve uma personalidade muito além da garota refém ou menina durona, Ruby ganha muito mais força ao estar do lado dos bonzinhos, Pablo se torna importante graças ao livro – fato esse que acrescenta um senso de urgência muito grande a trama principal – e claro, o vilão Baal (Joe Tobeck), ameaçador, carismático e ainda provoca nos heróis uma paranoia imensa, abrindo espaço para que a série produzida de Craig di Gregorio, Ivan Raimi e Sam Raimi possa fazer referências ótimas aos mestres do horror, como Dario Argento, David Cronenberg, e em especial John Carpenter, que possui citações em quase todos os dez episódios, além de elementos visuais retirados da literatura de Clive Barker.

    Apesar dos roteiros não terem grandes discussões filosóficas profundas, o texto é prodigioso soando divertido o tempo inteiro. A execução das cenas de terror também são bem construídas, com truncagens de câmera que não deixam nada a desejar a outros filmes de Raimi. Também é curioso o fato de o programa trabalhar bastante com a morte de familiares que acabaram de ser apresentados, além de subverter a condição de Ash como protagonista/antagonista, sem apelar para o artifício do Evil Ash visto em Uma Noite Alucinante 3 – Army of Darkness.

    Ashley é uma personagem que apesar da mente vazia e jeitão simples, um sujeito rico e capaz de gerar grandes discussões éticas. A fotografia e cenários em que o predomínio de cor é o preto e o cinza, demonstrando representações gráficas da dicotomia espiritual da série. O destino do Necronomicon serve ao propósito de mostrar que Ash vs Evil Dead não se prenderá tanto aos filmes anteriores para mostrar sua história. A mitologia do programa já é independente por si mesma.

    A figura de Baal é misteriosa, pouco se sabe dela na série, exceto pela óbvia anedota bíblica que associava a divindade cananeia/fenícia a uma figura demoníaca. Sua aparência de homem caucasiano de cabelos longos e com visual gótico faz parecer que esse é o inverso do Deus que Alanis Morisette fez em Dogma, e nem é pelo visual que a comparação faz sentido já que o astral pop em volta das suas atitudes o faz guardar semelhanças também com a cantora. Ao mesmo tempo em que o mal se apresenta, os laços entre Kelly e Ash se estreitam, tornando ambos em quase uma família, fato que faz com que os infortúnios a Pablo sejam ainda mais sentidos por todos, com uma notícia visceral e agressiva logo após uma vitória parcial dos justiceiros.

    O retorno no tempo e a cabana onde o demônio kandariano atacou repete um pouco dos momentos finais da primeira temporada, ainda que o sentido dessa vez seja muito diferente, com a participação da possessa Henrietta, que aliás, é representada em forma monstruosa por um animatrônico dos mais bem construídos de toda a franquia, manipulado em um dos seus estágios por Ted Raimi. Ash está bem afiado quanto as piadas, mesmo em situações chave, onde vê seus amigos perecendo. A bordo do Delta, Ash e seus dois sidekicks brincam com a dobra temporal. Driblando alguns tropeços narrativos, essa segunda temporada consegue dar um encerramento de arco divertido para a maioria dos personagens, ainda que deixa rastro para mais uma virada, que será explorada em um eventual terceiro ano, a ocorrer no ano de 2017, e visto a independência com que correu o argumento de Ash vs Evil Dead, há de se esperar algo tão escapista, divertido e transgressor quanto o que se viu até agora.

  • Review | Ash vs Evil Dead – 1ª Temporada

    Review | Ash vs Evil Dead – 1ª Temporada

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    De volta ao papel mais conhecido de sua carreira, Bruce Campbell exibe uma bela forma física se espremendo em uma cinta de correção postural nas primeiras cenas de Ash vs The Evil Dead, ainda mais se levarmos em conta os eventos de Uma Noite Alucinante 3. Ainda que a produção tenha tido dois desfechos, um no cinema e outro diferente em home vídeo, a série leva em conta a versão de cinema e, depois de trinta anos, Ash vive sua pacata vida tendo uma rotina boemia, abordando mulheres de meia idade em bares sujos, transando nos banheiros desses estabelecimentos, mas sempre assombrado pelas lembranças demoníacas do passado, sem conseguir se livrar do inimigo que o persegue desde a juventude.

    Aos poucos descobrimos que o personagem ainda guarda consigo o Necronomicon, livro dos mortos, artefato usado para dar em cima de outras mulheres, e que acidentalmente foi aberto fazendo as possessões se manifestarem novamente. Transitando entre o real e o imaginário, as aparições demoníacas não são claras para a compreensão mental de Ash. No entanto no núcleo centrado na policial Amanda Fisher (Jill Marie Jones), a realidade é tangível e entrega boas cenas gore, em doses semelhantes ao remake A Morte do Demônio, evento mais recente da franquia.

    Ashley prossegue na mesma loja de departamentos e lá conhece Pablo Simon Bolivar (Ray Santiago), um latino que assiste a manifestação do mal em uma pequena boneca assassina que tenta dar cabo do protagonista, além de bela Kelly Maxwell (Dana DeLorenzo), alguém que também tem um contato com o maligno em seu seio familiar. O primeiro episódio, único dirigido por Sam Raimi, faz autorreferência a Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio, ainda que seu intuito mais trash como ocorre a partir de Uma Noite Alucinante 2.  Até mesmo na na música, o tom do seriado produzido pela Starz, emula alguns dos acordes de Joseph LoDuca em Uma Noite Alucinante 3.

    Há uma preocupação genuína dos roteiros em explicar a pseudo-ciência por trás dos possuídos, com Ash filosofando sobre a tomada de consciência que ocorre com as vítimas, ainda que não haja qualquer estudo profundo de sua parte, exceto a vivencia do passado. Afinal o único materia que aproxima as criaturas de suas origens obscuras e estão contidas em livro cuja linguagem está morta, sem falantes nativos. Também voltada para a caça do Mal está a bela e misteriosa Ruby Kowby (Lucy Lawless), herdeira dos Knowby vistos no segundo filme, também a procura do destino que o livro dos mortos revelaria.

    A galhofa de Ash vs The Evil Dead remete a um passado onde o audiovisual mambembe e paupérrimo era também inventivo, não descartável e bobo como os filmes da franquia Sharknado que, apesar de divertidos, não acrescentam em nada do ponto de vista técnico. Os 10 episódios não chegam próximo do primor que Raimi conduziu em seus três filmes. O gore é muito bem empregado dando aos roteiros de Sam e Ivan Raimi (unidos a Tom Spezialy) uma boa versão do que vinham fazendo Quentin Tarantino e Robert Rodriguez a partir do projeto Grindhouse, a lembrança mais próximo da intenção dos produtores da série, ainda que o projeto seja menos ambicioso em comparação a Planeta Terror e À Prova de Morte. De qualquer maneira, o roteiro é exagerado, e em meio a uma qualidade narrativa bastante irregular, apela para os velho clichês de gênero terror, mesmo que utilizando-os da maneira mais debochada e escrachada.

    Os últimos momentos deste primeiro ano reservam memórias para Ash, tanto no sentido de estabelecer um romance com uma personagem – um ponto de aproximação com o primeiro filme de 1981 – além de fazer um retorno a cabana onde tudo começou. Apesar de alguns tropeços e de uma visível queda na qualidade do roteiro, principalmente na solução vista no desfecho, com um falso cliffhanger, Ash vs The Evil Dead consegue se estabelecer como um programa nostálgico e emocionante para quem se interessa pela jornada do herói da trilogia Uma Noite Alucinante, preenchendo finalmente um vazio no imaginário desse mesmo público, com direito a novas desventuras.