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  • Crítica | A Última Premonição

    Crítica | A Última Premonição

    A Ultima Premonição - poster

    O Terror permanece como gênero popular no país. Tanto no cinema, quanto em home vídeo, novas produções, mesmo sem atores consagrados, são lançados, provando o prazer do público brasileiro pelo medo. No cinema, a Playarte Pictures faz do estilo uma das bases para suas estreias: em fevereiro, o austríaco Boa Noite, Mamãe entrou em circuito. Em Março, Adrian Brody estrelava Visões do Passado. Por mais que o interesse se mantenha em alta, o público cativo sabe normalmente o que esperar de uma produção do estilo. Há pouca novidade narrativa no gênero, dando vazão a uma repetição temática explícita que abusa de conceitos visuais de filmes anteriores, com um uso limitado para compor os mesmos tipos de susto.

    Dirigido por Kevin Greutert (Jogos Mortais 6 e Jogos Mortais – O Final), A Última Premonição com Isla Fisher não foge desta regra de pouca novidade, reciclando conceitos antigos em um roteiro simples e semelhante a outras histórias. Na trama, Fisher é uma jovem mulher que sofre um grave acidente. Enquanto se recupera, começa a ter estranhos pesadelos descritos pelos médicos como um trauma devido ao acontecimento. À procura de novos ares, a moça e seu marido se mudam para uma antiga vinícola e, sentindo a culpa pelo acidente, as visões voltam a aparecer deixando-a em risco.

    Em local naturalmente diferente da cidade em que viveram, inicialmente, a história suscita suspeitas e possíveis ganchos amedrontadores vindo deste ambiente desconhecido. O roteiro se mantém no limite entre uma possível loucura da personagem central e a referida premonição do título, recurso explorado em excesso em diversas produções mas normalmente mal realizado. Aqui a suspeita permanece no trauma da esposa e em uma possível alteração sensível devido à gravidez, fator cuja intenção é ampliar a fragilidade da moça.

    O argumento central, envolvendo as visões, é fraco, sem nenhuma nuance para causar sustos. Em uma história diminuta, a trama se esforça ao máximo, esticando seus ganchos até, inevitavelmente, inserir uma reviravolta após falhar em promover qualquer sensação de suspense. Novamente, a reviravolta se revela como um outro recurso repetido ao extremo atualmente, e necessário em certos filmes de terror como um apelo desesperado para causar alguma comoção no público. Nele se revela uma contradição no argumento, demonstrando que não haveria nenhuma necessidade de inserir uma premonição. A reviravolta, embora exagerada, tem maior força narrativa, embora inserida somente para causar certo suspense depois de uma trama fraca. Talvez se esta história fosse desenvolvida desde o início, o filme seria uma obra melhor.

    A Última Premonição demonstra o desgaste dos clichês do Terror e a necessidade de uma trama mais afiada para que o propósito inicial da trama, o medo, seja funcional. O enredo não é tão desequilibrado como outras obras recentes, mas não apresenta nenhum elemento que a destaque. Um destes filmes de fácil absorção e esquecimento breve.

  • Review | Love – 1ª Temporada

    Review | Love – 1ª Temporada

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    Produção realizada partir de uma ideia antiga de Judd Apatow, que já tem uma vasta experiência em capitanear comédias cinematográficas sem necessariamente dirigi-las, Love é um retorno às origens para o autor, um resgate ao formato deixado anos atrás, a exemplo das comédias dramáticas Freaks and Geeks e Undeclared. O foco desta vez é o sentimento universal, aprofundado em vivências bastante distintas nas personagens de Mickey (Gillian Jacobs) e Gus (Paul Rust), que se encontram em hemisférios completamente diferentes no campo amoroso,  inclusive com pares completamente diferentes do que consideram ideais.

    O chamado à aventura acontece quando ambos conseguem sair do relacionamento fracassado em que estão, com variações de tempo cada vez mais extensas entre um ponto e outro, o que dá à rotina de ambos o caráter de resumo da melancolia e da angústia proveniente da vida adulta, entre uma decepção sentimental e outra, capaz de atordoar até o bom senso: a moça mergulha em um estado sentimental depressivo e o nerd em uma recusa de sexo grátis.

    O encontro entre as partes ocorre graças ao acaso e aos problemas de socialização da moça. Mickey lembra bastante seu personagem em CommunityBritta, em especial por sua personalidade explosiva. A diferença básica é que nesta encarnação ela não tem um fracasso profissional como base de seu drama diário, apesar de ter sua vida igualmente bagunçada. Somando estes defeitos a sua beleza, produz-se um charme grande na personagem, além de uma empatia sui generis.

    A parte jocosa do programa não é escrachada, ao contrário, é sutil e de situações, como em Tá Rindo do Que?, se valendo de questões pontuais de roteiro ao parodiar o cotidiano de um modo sensível, apesar do humor. O foco do seriado não é o comentário metalinguístico ligado à comicidade, e sim ao ambiente normalmente cor-de-rosa das comédias românticas, apresentando uma versão bem menos colorida das situações em contraponto com uma fotografia repleta de tons vívidos e claros, artigo que garante muita dubiedade ao texto final. As influências para o roteiro de Apatow passam por Nora Ephron, ainda que o tom seja muito mais agressivo do que os filmes conduzidas pela escritora.

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    A profissão na produção audiovisual de Gus faz uma abordagem metalinguística, bem como a profissão de Mickey em um programa romântico de rádio. Cada um em sua trajetória é absolutamente trôpego na condução de sua psiquê sentimental, tentando em vão transmitir suas defluências tóxicas e isolando seu possível par da realidade que os cerca: primeiro através de associações fálicas, depois pela fuga literal da responsabilidade de se cortejar um ao outro. Love trata basicamente de personagens reais, exagerados em suas ações, mas de carências plenamente cabíveis e verossímeis dentro da suspensão de descrença mínima pedida.

    A direção dos dez episódios é realizada por condutores com experiência anteriores na televisão, sempre executada por artistas mais conhecidos por seus papéis como atores do que em outras faixas de produção. Dean Holland, John Slattery, Maggie Carey, Joe Swanberg, Michael Showalter e Steve Buscemi dão continuidade a roteiros que premiam o elenco, inclusive apelando para comentários parodiais, utilizando a personagem Susan Cheryl (Tracie Thoms) e seu ofício de diretora para tocar nos detalhes comuns à produção áudio visual.

    As fases de ascensão e decadência de um namoro são mostradas de modo explícito e acelerado, como se a junção emocional e sexual dos protagonistas fosse um resumo, um pastiche de como funciona a montanha russa emocional de uma carreira amorosa, resultando também no colapso da vida pessoal de ambos, alertando sobre a crise existencial do homem como um aspecto comum na vida de quem tem dificuldades em se relacionar com outrem, além de aludir ao comum erro de associar a felicidade à sorte amorosa.

    A trama se mostra confusa na maior parte dos episódios, basicamente por estabelecer um paralelo com a mentalidade de um dos personagens principais, fazendo valer todos os conflitos ocorridos nas pouco mais de cinco horas de duração da temporada. A série, através dos absurdos do jogo romântico e de personagens humanos, falhos e neuróticos, não cai na armadilha de associar o sentimento de carência somente ao estereótipo do nerd, mostrando que os problemas de comportamento ocorrem muito além de semblantes que se enquadram ou não nos padrões de beleza, sendo universais e quase inevitáveis na maioria dos casos.

  • Um Último Estudo Sobre Community

    Um Último Estudo Sobre Community

    communitySituada em Greendale, em uma faculdade comunitária fictícia em um lugar fantasioso, o seriado de Dan Harmon buscava explorar os meandros e intimidade dos arquétipos que costumam habitar o campus desse tipo de instituição de ensino estadunidense. Uma das dificuldades com o público brasileiro seria traçar um paralelo com alguma instituição semelhante no país, e é para causar no público uma sensação mínima de pertencimento aquele mundo, é que é apresentado o personagem Jeff Winger (Joel McHale), um homem cuja carreira fracassada de advogado o deixou com poucas opções de sustento, em virtude da recusa de seu diploma, Jeff então retorna a universidade, e usa sua lábia para formar um grupo de estudos, tornando-se uma espécie de tutor dos estranhos alunos que se reúnem em volta de si.

    Com o andar dos fatos, o personagem, de caráter dúbio encontra a bela Britta Perry (Gillian Jacobs), e a partir daí finge ser um especialista na língua espanhola, unicamente para ter a chance de se aproximar dela. Com um comportamento que aparente boas intenções, ele já tem sua retribuição ainda no piloto, quando é encarregado de cuidar de um grupo completamente heterogêneo, que aos poucos se apresentam a ele como um bando de fracassados sem o mínimo respeito próprio.

    Greendale é na verdade um subúrbio fictício de Denver, um lugar tão fajuto quanto seu conjunto de personagens. Os que orbitam Jeff são Pierce Hawthorne (Chevy Chase), um senhor já idoso, cuja sabedoria irrelevante o faz um mentor politicamente incorreto para Jeff, o cinéfilo muçulmano Abed Nadir (Danny Pudi), a mãe divorciada Shirley Bennett (Yvette Nicole Brown), o ex-esportista  Troy Barnes (Donald Glover) e sua antiga colega de classe da  escola Annie Edison (Alison Brie). A convivência com pessoas tão diversas, que tem em comum uma auto-estima baixíssima faz Winger se mostrar ainda mais ácido em seu humor, sem preocupações maiores com a moral alheia ou com qualquer coisa que não envolva seu narcisismo latente.

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    O conjunto de personagens aumenta, ao verificar o corpo docente, formato por Señor Ben Chang (Ken Jeong), um asiático que vive papel semelhante ao que apresentaria na trilogia Se Beber Não Case, além do professor de psicologia Ian Duncan (John Oliver) e o afetado Reitor Pelton (Jim Rash). O primeiro ano serve basicamente para estabelecer a rotina e carisma entre os personagens, com tramas enlouquecidas onde a futilidade escolar predomina sobre tudo, criando universos dentro de universos, que emulam situações  que referenciam a cultura pop, especialmente nas falas de Abed e nos episódios onde a Máfia de Bons Companheiros é “refilmada”, através do tráfico de influência causado pelo ilegal comércio de frangos fritos, espalhados pelo campus. As brincadeiras alegóricas se tornariam um paradigma no seriado.

    A tradição mais comum ao seriado seria os episódios de paintball, onde o reitor permite que um campeonato ocorra, com direito a exclusão de qualquer aula ou atividade, onde todos são postos em um campo de guerra, com mais menções a filmes e seriados famosos, desde os clássicos de zumbi de George A. Romero, Warriors : Selvagens da Noite e Duro de Matar. No vigésimo terceiro episódio, inaugura-se a tradição, além de ser este o momento em que finalmente a tensão sexual entre os protagonistas é finalmente cooptada, para, claro, não resolvida em apenas uma relação.

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    As semelhanças entre Community e Arrested Development são muitas, desde a mania de se auto-referenciar, a necessidade de saber-se minimente o idioma estadunidense, graças aos muitos trocadilhos locais, até a régia feita por muitos diretores em comum, entre eles os irmãos Russo, responsáveis por realizar Capitão América 2, fato que fez abarcar alguns membros do elenco do seriado de Hurwitz. A diferença fundamental é que em Arrested, a empatia ao drama de Michael Bluth torna-se automática, pelo fato dos expectadores necessariamente terem famílias, talvez não tão psicóticas quanto os Bluth, mas com semelhanças atrozes, certamente. Já Community brinca com um nicho, de um cenário mundano, mas que é preciso ter abarcado em uma instituição de ensino ao menos semelhante ao limitado campo hipotético das universidades de baixo respeito. A verossimilhança na exploração dos estereótipos é perfeita, o que faz com que qualquer seja automática.

    A segunda temporada começa amarrando as relações malfadadas do ano anterior, claro, sem levar nenhuma delas a sério, já que todas são descartadas assim que se é permitido. A sacação de terminar cada meio de temporada com um período letivo fez com que as dois primeiros anos tivessem uma maior coesão, ainda permitindo alguns bons episódios temáticos, como a imitação de infecção zumbi vista no Halloween, que garante uma interação curiosa entre Chang e Shirley.

    Um dos factoides que mais gerou eventos foi o gradativo afastamento de Pierce do grupo, Primeiro, entregando o segredo bastardo de Shirley, agravado após estragar uma peça anti-drogas, ao fazer crianças agirem em apologia ao uso de maconha, culminando no extremo bullying com um personagem acessório, em um jogo de RPG. Se a primeira temporada serviu para mostrar o grupo se descobrindo como comunidade, apoiando-se mutuamente, a segunda serviu para discutir isto o tempo todo, usando o mais errático e politicamente execrável para exibir o quão frágil é a unidade dos estudantes, assim como é fraca a mente do ancião, que sofre graves problemas de auto-rejeição, o que influi diretamente na sensação de ser sempre rejeitado por todos, mesmo quando não o é.

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    A falta de docilidade do espírito humano, além da propensão ao auto ódio e a tragédia fazem de Community uma série única, e a mostra mais chamativa disto é exibido no terceiro ano, com um paralelo feito com o Reitor Pelton, que ao ter de realizar um novo comercial para a universidade, começa a ter sonhos de grandeza, exibindo todos os seus sonhos orgulhosos, embaralhados com toda a sua dificuldade de lidar consigo e com outros humanos. Dean Pelton faz ás vezes de Kubrick, preso 12 horas em uma mesma cena, além de usar de modo óbvio as cores e fantasias de Apocalipse Now, além de fazer do documentário afora da propagando se assemelhar a Heart of Darkness.

    O caráter de inclusão dentro da faculdade Greendale é tão grande que garante versões diferenciadas de discurso, pondo um crossdresser em um lugar de prestígio e autoridade, na cadeira de reitor, ao mesmo tempo que exibe um personagem grosseiro e preconceituoso, garantindo voz a ambos, mostrando que o mundo particular, encerrado nos corredores do campus é semelhante ao mundo externo, ainda que neste, o casos instaurado seja puramente metafórico em Community, além de não excluir estereótipos.

    A terceira temporada acaba bem, contando episódios memoráveis, especialmente os que envolvem o Dreamatory e as passagens do ofício de psicologia de Britta. A quantidade exorbitante de mudanças, como a ascensão de Señor Chang ao vilão principal da série, o aumento de comentários metalinguísticos e a possibilidade de finalmente alguém do elenco fixo sair, através do anúncio da ida de Troy para a faculdade de trabalhadores do ar-condicionado. A atenção do público estava tão bem postada nas palavras de Dan Harmon que quase não se notou que o especial de paintball não ocorreu, talvez tenha sido um protesto do showrunner, que acabava de saber que seria dispensado de sua função. O roteirista tratou de fechar a maioria das pontas soltas, arrumando um final para o programa, mesmo com a renovação para mais uma temporada.

    O quarto ano começava sem o criador da série, parodiando a questão que agitava os bastidores de Community, apresentando a Abed TV, onde uma sitcom com claquetes de risos era executada, ao modo e estilo do cinéfilo árabe, mostrando até um Pierce Hawthorne alternativo, já que Chevy Chase se envolveu em brigas com os produtores, especialmente Harmon, tornando através do twitter a questão pública. No entanto, o que se percebe e é um grave problema com os roteiros, sem a supervisão do autor primordial. O medo das mudanças foi inserido como plot, ainda que de uma forma bastante confusa e trabalhada de forma porca.

    O receio de cancelamento aumentou, sendo esta a primeira temporada com apenas 13 episódios finalizados. Apesar de conter alguns momentos, como a exploração do passado entrelaçado dos sete estudantes, o quarto ano é quase todo dispensável, sem inspiração e fraco em essência, com momentos bobos como a Changnésia, que fazia Ben Chang fingir que tinha perdido a memória, unicamente para unir ele com seus algozes, em uma brega confraternização. Jeffrey concluiria seu curso, e em meio das festividades, seria dado um “novo fim” a série, que teria mais uma chance dentro da NBC.

    Dan Harmon voltaria a assinar a produção executiva, retirando o personagem de Pierce, já que Chevy Chase havia tido uma briga pública com ele. O começo do quinto e possivelmente – novamente – último ano começaria  melancólico, com fotografia soturna e iluminação bastante nula. Jeff fracassou ao tentar trabalhar como advogado. Ávido por reencontrar seus amigos, ele retorna ao campus, para perceber que seus ex-colegas também tem problemas enormes para seguir suas vidas. O azar que acometeu os alunos, flagrou também a escola, que faliu, mesmo com os esforços do reitor. Os remanescentes do elenco principal tentam resgatar a dignidade da universidade, fazendo uma analogia com o esforço dos fãs em manter Community no ar, e os estereótipos se invertem, com Jeff tornando-se professor de direito.

    O retorno de Harmon trouxe de volta também a multiplicidade de episódios temáticos, que parodiam programas de tv e filmes, com destaque para o pujante momento em que faz-se alegoria para os filmes de crime de David Fincher, investigando-se um temível vilão que lança moedas sobre os cofrinhos alheios e que jamais teve sua identidade revelada, como em Zodíaco. Plots esquecido no terceiro ano, como o retorno a vida de Costeleta, além da saída em definitivo de Troy, que parte em viagem após o anúncio da morte de Pierce, que sepulta de uma vez a participação de Chevy Chase no show televisivo. O retorno de Duncan também é um ponto indicado pelo showrunner, que ainda introduziu o veterano professor Hickey (Jonathan Banks), um idoso ranzinza que serve como substituto para a vaga de Hawthorne, ainda que seus disparates tenham mais a ver com o fato de ser incompreendido enquanto artista do que puramente politicamente incorreto. Estes, junto a Chang – que passa a dar aulas de matemática, assumindo seu papel de estereotipo racial – formam o comitê que visa salvar Greendale do fechamento.

    Após mais um episódio alucinatório, em que Jeff tem ilusões com um desenho do GIJOE, em uma clara fuga para a infância, a universidade corre o risco de fechar, o que gera a abertura de velhas feridas. O fato de o Subway – novamente patrocinador – comprar o espaço da faculdade faz com que o grupo de salvação se divida. Com medo, Jeff retornar ao seu romance malfadado com Britta, relembrando seu primeiro objetivo e pedindo finalmente sua mão em casamento, para que algum vínculo daqueles cinco anos perdure.

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    A Yahoo salvou – outra vez – a série do cancelamento, municiando Dan Harmon de condições de mais uma vez usar a metalinguagem para abrilhantar seu roteiro, agora com a saída de Yvette Nicole Brown e sua Shirley, que foi cuidar de seu pai doente, e que tem uma ótima despedida. Para o seu lugar, foi encarregada uma nova responsável pelo grupo de resgate a Greendale, Francesca “Frankie” Dart (Paget Brewster), que a no princípio entra em conflitos imbecis com os protagonistas, mas aos poucos consegue conciliar sua rotina apolínea à loucura dos remanescentes.

    É curioso como mesmo a saída dos personagens centrais é bem encaixada na trama, já que é um aspecto comum a vida de universitário, onde amizades intimas são construídas e descontinuadas em virtude das rotinas completamente diferentes. Os sub-plots e tramas prosseguem finitos em si, com pouca influência pragmática com o andamento do seriado, exceto talvez pela ação que envolve o “assumir” da homossexualidade do Reitor, que torna material um fato que antes era oficialmente especulado, mas que era evidente mesmo para o menos atento observador, ainda que o viés seja de uma perversão atroz, já que segundo o próprio personagem, o termo gay mal começa a defini-lo, unido ainda pelo paralelo da libertação de um pássaro de seu cativeiro, tendo de abrir mão de algo importante para poder voar – no caso do pássaro, seus filhotes que viviam em uma caixa de controle elétrico, e no caso do Reitor, a “saída” do Armário.

    As tramas episódicas seguem a linha de questionar a metalinguagem dos seriados americanos, se preocupando em aprofundar pouco a relação entre as personagens, fugindo talvez de qualquer mensagem nostálgica pelo fim iminente.  Até o retorno ao paradigma do paintball é feito sob uma nova ótica, com Jeff tentando ser proibitivo ao ato já que neste momento é um professor e quer impressionar Frankie, promovendo uma limpeza étnica, a base de um serviço secreto de guerra, cujo desfecho é bastante trágico, ainda que repleto de referências a estupidez clássica do grupo de aventureiros.

    Após treze episódios neste novo formato, o semestre e o seriado como era conhecido era finito, como era previsto desde os primórdios dos roteiros de Dan Harmon. O serie finale também abusa de metalinguagem, imaginando como seria uma sétima temporada da série, com alguns dos participantes da mesa do comitê contando sua versão de como seria a vida a partir dali. Todo o estratagema é basicamente uma desculpa para reafirmar que a tv não se baseia em senso comum ou inteligência, mas sim em lucros e projeções de audiência, e Community nunca se enquadrou em nenhum desses arquétipos. O episódio fake, pré créditos finais alude ao narcisismo de produtores bem remunerados da tv estadunidense, e fecha  de maneira legítima a comédia, fechando Community como esta começou, como uma potente paródia do que ocorre na televisão dos EUA, com o mesmo fim de sua prima gêmea 30 Rock, ainda que sua sobrevida tenha sido ligeiramente maior. O aguardo para as últimas desventuras dos loucos ex-alunos está a cargo de seu criador.

    O apagar das luzes da sala de estudos não poderia ser mais melancólico, mesmo diante do aceno com a possível feitoria do tão sonhado filme, não garantido pelo showrunner, apesar da hashtag #anadamovie ao final do episódio.

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  • Crítica | A Minha Casa Caiu

    Crítica | A Minha Casa Caiu

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    O ofício do jornalista televisivo, especialmente daquele que entra ao ar em tempo real, envolve uma série de contratempos possíveis, como ações inesperadas da natureza, atitudes de populares e confusão com palavras ou sentenças capciosas. O início do filme de Steven Brill, Walk of Shame mostra exatamente isto com uma sequência de trapalhadas de comunicólogos, âncoras, repórteres e comentaristas, como a protagonista Meghan Milles (Elizabeth Banks), cuja ambição inclui apresentar o KZLA, principal informativo do canal 6, onde trabalha.

    Em meio à subida na carreira que tanto tenciona, a protagonista é abandonada pelo namorado, algo que até então não foi mostrado ou construído, mas que abala muito o bem estar da moça. Paralelo a isso, há a sua recusa para a vaga de apresentadora. Motivada por suas amigas mais próxima, vai para uma balada e lá se enfia numa ode ao álcool e à boêmia. Sua jornada é estranha, até encontrar Gordon (Jamers Marsden), um galante bartender e escritor que a leva para a casa dele, uma vez que ela está ébria demais para dirigir.

    A altura dos dezenove minutos de fita, uma reviravolta ocorre, e a moça eleita para o jornal é afastada por motivos de polêmica sexual, uma vez que fotos íntimas da moça vazaram. Isso faz com que Megan seja a escolha regular para o trabalho, já que não se meteu em sarilhos semelhantes. Para atender à ordem de seu empresário, decide ir embora, e a partir daí começa uma longa cruzada pela cidade que envolve uma série de confusões, quase sempre estabelecendo uma indefinição entre o seu emprego e serviços de prostituição – talvez a sacada mais engraçada do roteiro.

    Depois de se enfiar em situações das mais loucas com traficantes do “gueto”, ela tem de recorrer ao seu temido ex-noivo para tentar sair daquela situação, mas como já era esperado, ele não a ajuda. Ela vivencia muitas das coisas comuns à vida dos que vivem à margem da sociedade, assim como aprende um pouco o modo de operar das gangues comerciantes de crack. O desfile que ela faz vestindo um Marc Jacobs de cor amarela – um refinado vestido, segundo um dos personagens – só grafa ainda mais a maluquice que é a sua odisseia.

    A experiência de Steven Brill com comédias (A Herança de Mister Deeds e Meu Nome é Taylor) não o resguardou de erros primários, como o de estabelecer as possibilidades humorísticas em avatares não confiáveis, a começar pela atriz principal. Elizabeth Banks é bonita, mas nunca foi capaz de segurar sozinha a jocosidade de seus filmes. Quando acompanhada de profissionais mais experientes como Seth Rogen, Paul Rudd ou Steve Carell, funcionava, sendo na maioria das vezes escada para os comediantes. Outro fator fraco é o excesso de piadas baseadas em sotaques de estrangeiros e de grupos minoritários.

    A comicidade das situações dificilmente alcança o espectador, especialmente aquele (mal) acostumado aos longas de Judd Apatow e Kevin Smith nos quais Banks brilhou antes. A tentativa de transformar o comunicador da notícia na notícia em si – uma vez que a “moça de vestido amarelo” vira um evento – poderia ser um artifício interessante, mas a premissa não se concretiza como algo realmente válido. Pouco antes do final, a moça que não conseguia um dólar e meio para o ticket de ônibus tira um coelho da cartola, arrumando um helicóptero em meio à hora do rush, numa manobra deus Ex Machina. Ela chega ao ponto em que opera o milagre do quarto poder estadunidense unicamente para contestar a principal história e passar à audiência uma mensagem edificante, que acaba gerando a possibilidade de mergulhar no jornalismo investigativo, em um reality show. Mas tudo isso é posto de lado em nome do novo casal que surge ao horizonte, mas que não convence em momento algum, visto que não há qualquer química entre o casal. A Minha Casa Caiu entrega uma comédia de erros previsível: não ofende o público, porém causa pouquíssimo alento.