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  • Crítica | Como Eu Era Antes de Você

    Crítica | Como Eu Era Antes de Você

    Como Eu Era Antes de Você - poster

    “Desmaiar-se, atrever-se, estar furioso, áspero, terno, liberal, esquivo, alentado, mortal, defunto, vivo, isto é amor; quem o provou bem sabe.”  Foi através desses diversos adjetivos que o poeta espanhol Lope de Vega tentou definir, em um poema, o que seria o amor; assim como em nossos cotidianos estamos sempre nos questionando as verdadeiras raízes desse sentimento. Portanto, nada mais natural imaginar que tais idealizações estão implícitas ou explicitamente presentes no mais novo trabalho de Thea Sharrock, Como Eu Era Antes de Você, baseado no romance de Jojo Moyes (a qual também assina o roteiro).

    Na obra, acompanhamos a jovem Lou Clark (Emilia Clarke), uma sonhadora que na busca de um emprego se apaixona pelo encantador Will Traynor (Sam Claflin) – que ficou tetraplégico após um acidente. O que Sam ou Lou não sabem é que, em um átimo, essa paixão mudará para sempre seus caminhos.

    Tendo o interior da Inglaterra como pano de fundo, o filme utiliza bem tudo aquilo que lhe favorece: belas paisagens, figurinos que por vezes assumem um signo incandescente dentro da narrativa, uma trilha extremamente competente e radiante, ótimas locações captadas por uma fotografia abrasada. Elementos que, somados, dão à película um tom lírico, emulando com isso uma atmosfera de “contos de fadas”.

    A obra como um todo é competente justamente por não se esconder, não almejar ser o que não é, e justamente por essa coragem consegue expor tudo aquilo que o próprio expectador almejou encontrar, quando decidiu comprar seu ingresso e tirar um tempo livre para embarcar junto nessa história.

    Guiado por uma série de protocolos do gênero, o filme consegue nos lançar sutilmente nos dilemas das personagens principais – seja através da personalidade sonhadora e desbravadora de Lou, seja perante o evidente conflito de Will que, por sua vez, busca o instante do presente, mas não consegue desvencilhar-se de seu passado. Ambos magneticamente se completam justamente por suas personalidades distintas. Lou, otimista e cativante, floresce e se transforma em um farol para Will em seus momentos mais evanescentes.

    Entre um final amargo ou uma amargura sem fim, a trama consegue ser bem equilibrada, sendo leve e ao mesmo tempo precisa e incisiva quando necessária. Demostrando o quanto amores são surpreendentes e imprevisíveis, a história contrabalanceia o mágico e o racional do dia a dia. Por fim, fica bastante marcada a força do título e sua universalidade, afinal quantos de nós em algum momento, diante de um relacionamento (real ou platônico), já não nos perguntamos como éramos antes de conhecer a pessoa amada?

    Como eu Era Antes de Você, apesar de não negar sua essência, foge de muitos clichês do gênero e prioriza uma realidade mágica tão inerentemente humana, assumindo com isso que a vida não deve, e nem pode, ser regida unicamente pela razão.

    Texto de autoria de Tiago Lopes.

  • Crítica | Simplesmente Acontece

    Crítica | Simplesmente Acontece

    Simplesmente Acontece 1

    Relacionamentos amorosos comumente nascem de amizades profundas, especialmente entre conhecidos desde a infância. A história de Rosie Dunne (Lily Collins) passa por esse estigma. O modo como Christian Ditter filma essa situação é prodigiosa. Antes mesmo de dar nome aos seus personagens, o realizador trata de inserir o espectador dentro do micro mundo dos dois inseparáveis confidentes, exibindo Alex (Sam Caflin) se aproximando perigosamente dos lábios da heroína da fita.

    Os belos aspectos visuais, típicos da juventude, são registrados primeiro ao modo das comédias descerebradas, de estilo semelhante ao de Porkys, da franquia American Pie e do recente Finalmente 18, quando as barreiras morais e sexuais de Rosie caem em nome da dita maioridade e a obrigatoriedade do alvorecer sexual e do enfrentamento de seus medos, entre eles o receio de ver seu grande amigo como possível cara-metade. O começo da possível atração entre o casal começa na tensão que envolvia os ciúmes mútuos, negados pela garota e levados adiante por ele.

    A guerra dos sexos segue padrões estereotipados, mas de modo fluido, uma vez que a fase da adolescência é normalmente vivida a partir de reproduções de arquétipos normativos, onde a margem de erro é pequena.

    A recusa resultante da teimosia do par perfeito ocasiona uma situação cômica com a pobre menina. Patética, apesar de completamente entrópica, cujas consequências poderiam ser sérias, fazendo separar os apaixonados inconfessos eternamente. Logo, outros fatores somam-se à louca equação que envolve a rotina de Rosie, como a possibilidade de estudar na América, longe de sua tradicional família britânica. Ao chegar a sua admissão na Universidade de Boston, logo é anunciado que seus planos de fuga se aproximavam de um êxito.

    Logo a malfadada transa da protagonista ganha os contornos da dura realidade que vive, prendendo-a em seu destino de origem, enquanto observa seu amado se afastar, formando enfim a sinopse do livro de Cecelia Ahern. A inevitabilidade do romance e o carisma dos personagens fazem lembrar a literatura de Nicholas Sparks, ainda que esta obra seja bem menos açucarada, e os dramas clichês, tratados com maior maturidade. O mote altera-se e o roteiro acompanha bem a trama, apresentando uma nova gama de possibilidades e de amores a explorar.

    Aos poucos, os amigos crescem, vivem suas vidas intercontinentais completamente diversas, com parceiros sexuais e afetivos diferentes, assistindo ao amadurecimento da pequena Katie, sendo a pequenina amada até por seu “padrinho” à distância, a despeito do casamento da mãe com um colega de faculdade.

    A ignorância de Alex o fez se afastar geograficamente e emocionalmente através da dificuldade em dar vazão aos próprios sentimentos e ao amor mútuo entre os enamorados frustrados. O papel de vitimado insiste em passar pelo seu comportamento, mas o modus operandi não se sustenta, já que, em cada ação que faz, o personagem transparece culpa e remorso, mas sem se arrepender o suficiente para resultar em uma confissão de amor.

    Os meandros por onde o roteiro passeia são lotados de reviravoltas, que escondem a obviedade latente de um romance que sempre se anunciou que não daria certo, apesar de todas pinturas cor de rosas e intermináveis tentativas de fazer dar certo.

    A convenção dos livros de amor juvenis praticamente obriga que um final feliz seja ensaiado pelo autor. A fuga para o paradigma, contrariando a essência do romance anterior de Ahern, P. S. Eu Te Amo, não consegue ser plena em Simplesmente Acontece, apelando para um fim que reforça não só os bordões típicos do gênero, como também reforça o discurso machista de que a felicidade da mulher deve prioritariamente passar pela presença de um sujeito do sexo oposto. Apesar da mensagem um pouco simpática e do bom começo da abordagem, falta liga e maior apuro com o texto final para que a película seja redonda.

  • Crítica | Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1

    Crítica | Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1

    A já estabelecida franquia de Hollywood (e com uma legião de fãs) Jogos Vorazes retorna em 2014 aos cinemas do mundo com a primeira parte da adaptação do terceiro livro da série, usando uma tática atualmente cada vez mais comum da indústria, que é a de aproveitar-se de filões lucrativos por mais tempo em detrimento dos elementos criativos da história.

    Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1 mantém os protagonistas de Jogos Vorazes e Jogos Vorazes: Em Chamas e dá continuidade a suas histórias. Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) luta consigo mesma para conseguir superar os problemas emocionais decorrentes de tamanha pressão pelas escolhas da personagem, e também incumbidas a ela após ter sido salva pelos rebeldes. O amigo de seu distrito natal, Gale Hawthorne (Liam Hemsworth), volta a ter participação ativa ao se juntar à rebelião do Distrito 13. Peeta Mellark (Josh Hutcherson) está nas mãos da Capital. Plutarch Heavensbee (Philip Seymour Hoffman) e Haymitch Abernathy (Woody Harrelson), junto com Effie Trinket (Elizabeth Banks), agora abandonaram completamente a vida na Capital e se dedicam exclusivamente à rebelião do Distrito 13, comandada pela Presidente Alma Coin (Julianne Moore).

    O filme se inicia logo após os eventos finais do anterior, quando Katniss é resgatada da arena dos Jogos, onde estava pela segunda vez. Após atirar a flecha em claro desafio contra a Capital, várias insurreições em diversos Distritos começam a surgir, sendo severamente reprimidos pelo presidente Snow (Donald Sutherland). A rebelião quer usar Katniss como símbolo para aumentar a adesão de pessoas ao exército rebelde e fortalecer a luta enquanto ela ainda existe. Enquanto isso, a Capital luta para apagar os focos de revoltas e manter seu poder intocado.

    A dinâmica entre os distritos e a Capital então sofre uma alteração significativa, pois não são meramente espectadores passando a ter algum grau de protagonismo em suas vidas, seja para decidir aderir à luta ou ignorá-la. Porém, o que falta dentro dessa dinâmica é justamente caracterizar melhor quem são estes distritos e as pessoas que os compõem e por que elas haveriam de largar suas vidas para aderir a uma rebelião, ou mesmo como essa rebelião se configurou em cada distrito e com cada líder local. Já que houve a opção pela divisão em dois filmes, havia espaço para problematizar ao menos um pouco desta história. Ao focar somente os protagonistas, a “revolução” parece não ter corpo o suficiente, sendo movida apenas por meio de escritórios.

    As referências a eventos ocorridos na história da humanidade, em especial às revoluções de esquerda, são também muito claras. Desde trabalhadores braçais pobres com roupas sujas andando em fila e forçados a trabalhar, mas que se revoltam contra o “sistema”, até os dirigentes revolucionários frios e calculistas, que fazem tudo pelo bem do povo sem consultá-lo. O uso dessas imagens torna a compreensão do espectador clara de que se trata de uma luta do bem contra o mal, dos explorados contra exploradores, uma reprodução essencialmente fiel do conceito de “luta de classes” de Karl Marx, mas, assim como os filmes anteriores, sem a profundidade mínima para entender de onde vêm aquela revolta e os recursos humanos e materiais para mantê-la contra uma Capital tão poderosa.

    É clara também a referência aos pobres daqueles distritos, onde alguns são mostrados parecendo-se com escravos negros do sul dos EUA, enquanto outros, em um hospital visitado por Katniss, assemelham-se a pessoas inseridas em contextos de países da África enfrentando crises humanitárias. É literalmente jogado na cara do espectador médio o imaginário clássico da pobreza, sem muita problematização.

    Um dos eventos chave do filme, a explosão de uma usina hidrelétrica que abastece a Capital, sofre justamente essa falta de embasamento. Como os rebeldes chegaram ali? Uma usina estaria tão insegura? Como conseguiram os explosivos? Quem os montou? Quem treinou esses trabalhadores pobres e super explorados em táticas de guerrilha? Não sabemos. E fica por isso mesmo.

    Porém, o principal defeito do filme é o excesso de espaço que a fragilidade emocional de Katniss toma em tela. A cada momento, nos deparamos com algum evento em que ela muda de ideia sobre participar da revolução, e essa repetição se torna cansativa. Essa constante alternância entre a personagem forte, líder de uma revolução, e uma jovem confusa teria seu propósito caso fosse direcionada a algo específico, e não acontecendo a cada hora.

    Com tantos problemas, Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1 talvez não conseguiria empolgar, porém acerta em muitos pontos. Ele consegue lidar bem com as cenas de ação e as transições entre as histórias, que em momento algum ficam confusas. A tensão das cenas finais é bem construída, assim como as surpresas de roteiro ali encaixadas. A constante utilização dos meios de comunicação como propaganda em um contexto de guerra é muito bem explorada, no sentido de mostrar como as ideias das pessoas podem ser manipuladas de acordo com o conjunto correto de sons e imagens, levando-as a acreditar em A ou B.

    A semelhança com os reality shows dos primeiros filmes dessa vez é afastada, dando lugar a um estilo utilizado em coberturas jornalísticas de frontes de guerra, que se iniciaram no Vietnã, mas que se tornaram, hoje em dia, muito comuns. Assim, cotidianamente o mundo “desenvolvido”, enquanto está jantando e vendo televisão, assiste a pessoas se matando nos locais mais remotos do planeta, sem o menor problema.

    O principal defeito do filme reside justamente na escolha de dividi-lo em duas partes, em que ao mesmo tempo que se esticam cenas desnecessárias, encerram-se, no final do filme, situações de forma abrupta, contando com a promessa de que espectador vá ver a última parte daqui a um ano. Nos resta esperar que o desfecho da história seja um pouco mais honesto consigo mesmo em relação às expectativas criadas, mas – principalmente – com o espectador.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Crítica | A Marca do Medo

    Crítica | A Marca do Medo

    a marca do medo

    Assim como os clichês usados em exagero no gênero, tem sido desgastante a repetição da crítica sobre a mudança conceitual narrativa do terror desde A Bruxa de Blair. Há quinze anos, uma falsa concepção documental promoveu uma inovação no gênero e, desde então, as histórias têm se repetido com base neste estilo, obrigando críticos a, quase sempre, retomarem a questão como parâmetro de análise.

    Nestes quinze anos citados, procurou-se falsamente um enfoque para a história com um mesmo estilo. Ao usar o recurso amador como um elemento a mais para promover o medo, a parcialidade intensifica o objetivo primordial, fazendo com que as histórias se apropriem de um conceito real e utilizem-se, diversas vezes, da falsa verossimilhança do “baseado em fatos reais” para tornar a produção mais assustadora.

    A Marca do Medo é equivocado até mesmo com o título brasileiro, que insere como obrigatório o substantivo medo, nada relacionando-se a The Quiet Ones – do original -, preenchendo os requisitos básicos da repetição cinematográfica vista à exaustão. A afirmação de que a história vem de um fato verídico está presente, ainda que não importe se ela existiu de fato. O importante é projetar no público uma percepção de que, se real, o susto é mais intenso.

    A novidade dentro do estilo é inserir a história na década de 70, época anterior ao barateamento de câmeras digitais que proporcionaram a base do estilo. Na trama, um jovem cineasta (Sam Claflin) procura emprego e é contratado por um médico para documentar o caso da jovem Jane Harper (Olivia Cooke). Apoiado pela universidade em que leciona, o professor Coupland (Jared Harris) estuda a garota tentando desmistificar seus problemas, considerados sobrenaturais ou relacionados a possessões demoníacas. Órfã, testemunha da morte dos pais, a garota é mantida presa e estudada em um quarto observado pelo professor e seu grupo, que desejam demonstrar a força do consciente psicológico por detrás de tais manifestações.

    Dividida entre a filmagem tradicional e o estilo documental oriundo das filmagens do cineasta, a trama se adapta com perfeição aos pré-requisitos de um filme do gênero. A princípio, elementos sobrenaturais são descartados e as personagens levadas à descrença; até mesmo um ataque significativo põe em xeque as dúvidas e se torna evidente em uma cena climática na qual normalmente a entidade assume o corpo da vítima. Os sustos são divididos entre a descrença do grupo que participa do experimento e as cenas parciais filmadas como registro do cotidiano da garota.

    Dentro de sua própria narrativa, a trama também demonstra fragilidade ao utilizar como virada narrativa um detalhe que envolve o passado da moça estudada. Levando em consideração uma experiência conduzida inicialmente com o apoio da universidade, parece disfuncional que o professor doutor não tenha estudado o histórico e a origem de sua paciente. Uma falha que exibe – tanto na estrutura externa, como obra, quanto na interna, como roteiro – a construção desequilibrada da história como um todo.

    Se muitos cineastas provam que grandes clichês do cinema podem ser utilizados em demasia se bem realizados, compreendemos que o recurso parcial da câmera não está desgastado por si, mas sim pela mesma maneira de ser representado por diversas produções anualmente. Mesmo que se leve em conta de que há uma parcela do público sedenta por histórias de terror – elemento que justificaria uma repetição excessiva –, a semelhança desta obra em relação a outras lançadas no mesmo ano produz um sistema de reciclagem narrativa que não funciona nem como um marco no estilo, nem se torna uma lembrança ativa de uma boa história assustadora. Fazendo-nos questionar sobre a vantagem – e a validade – de se produzir uma obra repetida que, após consumida imediatamente, se tornará esquecida entre tantas outras na prateleira do gênero.