Tag: Stanley Tucci

  • Crítica | Conspiração

    Crítica | Conspiração

    Lançado para a televisão, dirigido por Frank Pierson, Conspiração foi um filme lançado em 2001, que começa com a arrumação de uma casa em Hansee, no subúrbio de Berlim, onde ocorre a preparação para a chegada de alguém importante. Serviçais e empregadas abrem lençóis, servem mesas, varrem o assoalho e preparam comida suficiente para um banquete. Quem está organizando esse evento, é Adolf Eichmann, personagem de Stanley Tucci que aliás, está muito bem fazendo um anfitrião que aparenta calma e apatia mas que esconde uma enorme tensão e expectativa pelo encontro que ocorrerá. Eles esperam a chegada de Reinhard Heydrich (Kenneth Branagh) um general da SS que liderará uma reunião sobre o futuro da guerra, ao menos no que tange o Reich.

    O filme é muito baseado em seus atores. Tucci está muito a vontade, mostrando que sua ansiedade não é só com o rumo de sua vida futura, mas obviamente também dos rumos da guerra, que  serão de certa forma decididos naquela refeição/reunião. Se nota o senso de urgência no semblante do ator ítalo-americano, assim como se percebe uma altivez na versão que Branagh entrega do chefe do exercito alemão.

    Há uma certa  demora na chegada dos integrantes da reunia, e uma enorme liturgia na recepção dos mesmos. O modo como cada um deles é apresentado mostra não só a importância do ajuntamento, mas também que segredos muito grandes estão para ser discutidos. Outro aspecto que deixa isso muito claro é a câmera, que fica bem próxima dos convidados, e vez por outra varia rapidamente entre os ombros de uma pessoa para logo depois passear pelo rosto e corpo da pessoa que está no hemisfério oposto.

    Um dos personagens que logo de cara parece importante, é o Dr. Wilhelm Stuckart (Colin Firth), mas só se nota realmente qual é sua importância quando as conversas começam a ficar mais séria. Conspiração é claramente um filme de diálogo, com  boa parte dele se passando em conversas durante o jantar e pelas estratégias, mas se seu título fosse Consenso, não seria estranho, uma vez que a maioria dos assuntos “debatidos”, são simplesmente impostos se não houvesse vozes dissonantes ali, embora haja um ou outro incômodo por parte dos mais escrupulosos.

    O começo das conversações é sobre coisas e eventos triviais, não há nada muito fora do ordinário. Tendo ciência dos rumos da guerra, da humilhação imposta aos judeus, as mortes que foram causadas. Ver discussões sobre gastos, sobre organização ou sobre o que será ou não consumidos nos territórios e nas estalagens militares é bizarro, especialmente por que os personagens, com a pompa de serem homens importantes falando como se fosse normal o fuzilamento de judeus ou de meio-judeus é no mínimo estarrecedor. Tentar amenizar isso beira o irreal, no entanto é fato que aconteceu e é fato que a historia se repete nesse sentido, de se normalizar certos tipos de comportamentos extremos, como se não houvesse qualquer incomodo ou erro nesse tipo de comportamento quando a segregação deveria só ser combatida por qualquer tipo de liderança de esquerda ou progressista, ou conservadora e direita como é com os alemães.

    Se demora mais de um terço do filme para haver a primeira discussão mais incisiva, quando um dos generais diz que não vê necessidade em exterminar os judeus nos campos ou cidades, quando “só” expulsá-los seria o suficiente. Também se tenta passar como lei a regra de esterilização dos judeus, como método para controlar o estado de saúde na Polônia e outras nações  que  fazem parte do território sob as ordens de Hitler.

    Mesmo com toada a frieza nas discussões e na leitura dos relatórios de quantos morreram nas câmaras de gás, há de se lembrar que se tratam de homens, de pessoas de carne e osso, que tem alma, que fazem suas necessidades como quaisquer outras e que não tem (em sua maioria pelo menos), qualquer receio de parecer ou não monstruosos. Conspiração termina sem muitas viradas narrativas, é um filme de diálogo e que precisa muito do desempenho de seu elenco, que aliás, está afiadíssimo. Antes dos créditos finais, é dito o destino de cada um dos que lá estavam, e se nota impressionantemente o quão pequenas foram as penas de todos, e talvez essa historia jamais tivesse chegado ao conhecimento geral caso houvesse esforço de procura de registros e investigação para muito além do Tribunal de Nuremberg.

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  • Crítica | Um Ato de Esperança

    Crítica | Um Ato de Esperança

    Fiona Maye e seu parceiro Jack estão claramente em crise conjugal, vivem um relacionamento onde um ignora o outro em nome de suas profissões – ela juíza, muito bem classificada e ele um professor – e já no início do filme de Richard Eyre isso é utilizado como base na historia contada pelo roteiro de Ian McEwan, e que é baseado no livro do mesmo. A personagem de Emma Thompson está envolta em um caso familiar, tema que é a especialidade de sua vara, e sua decisão  em um caso de separação de gêmeos siameses mexe com a opinião pública. Não bastasse seu trabalho estafante, seu par, interpretado por Stanley Tucci declara com todas as palavras que não está satisfeito com o pé que a relação dos dois está.

    O chamado a aventura de Um Ato Esperança demora a acontecer, e enquanto a trama real presente na sinopse não ocorre, se assiste a deterioração do casamento da eminente juíza, em uma brincadeira narrativa que desdenha da mesma por ter como trabalho resolver imbróglios familiares mas sem conseguir resolver os seus próprios.

    O filme não é explicito, mas discorre sobre um drama bem comum a vida da mulher moderna, que não aceita ser dependente do marido ou de qualquer outro tipo de homem, e que tem como desafio conduzir sua vida pessoal em paralelo com seu trabalho, e mostra uma personagem bastante humana e passível de erros. O caso posterior a que se debruça envolve uma criança com leucemia, que tem chance de ter uma transfusão de medula, mas que é impedida por seus familiares Testemunhas de Jeová de o fazer, e isso gera nela um conflito mental severo.

    Tecnicamente a obra de Eyre é bastante correta. Fotografia, montagem, trilha são corretas, não atrapalham o andamento da trama, e o roteiro se desenrola sabiamente de modo gradual, permitindo assim que o principal aspecto positivo do filme se destaque, no caso, Thompson, que entrega uma atuação muito emocional, embora  seja contida e sem nenhum overacting. Aos poucos, se desenrola o caso, e a juíza passa a visitar Adam (Fionn Whitehead), o rapaz  que precisa da transfusão, e os dois se envolvem emocionalmente, ao ponto dela começar a opinar sobre o que seria melhor para o rapaz.

    O desenrolar deste relacionamento suscita discussões sérias, como qual é o limite das autoridades judiciais e como elas devem interferir nos casos julgados, além de estabelecer uma discussão moral (mas não moralista) de como se deve ou não respeitar os preceitos religiosos e a liberdade de crença, e o caso ético posto diante da mulher faz até seu grande problema pessoal deixar de ser tão urgente, embora obviamente ainda a atinja a questão de seu casamento estar falindo. O final é um pouco atrapalhado, e contradiz boa parte da construção mais madura e menos emocional, a melancolia faz o filme perder um pouco de sua força, mas a atuação de Thompson prossegue ótima mesmo com isso, assim como a escada que Tucci faz para a heroína da trama, e mesmo que não seja o melhor dos finais, ele soa lógico, e levanta elementos de discussão importante, a respeito dos limites religiosa e sobre a falência da instituição casamento.

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  • Crítica | Transformers: O Último Cavaleiro

    Crítica | Transformers: O Último Cavaleiro

    Existem franquias que conseguem o feito de dividir quase que perfeitamente a opinião do público. Velozes e Furiosos, por exemplo, é odiada por muitos que criticam a falta de originalidade do enredo, que reflete em personagens mal construídos e arcos dramáticos muito frágeis. Ao mesmo tempo, os números estrondosos de bilheteria não deixam dúvidas de que os filmes de Vin Diesel e companhia respiram muito bem obrigado e não têm previsão (e pretensão) alguma de chegar a um final definitivo.

    A mesma coisa acontece com Transformers. A série de filmes chega ao seu quinto episódio ainda deficiente em seus pontos mais criticados. A ausência de uma história a ser contada é tão notória que, em determinado momento já no segundo ato do longa, nos perguntamos o que de fato está acontecendo com os personagens. Na trama, Optimus Prime é dominado por uma força mística oriunda de Cybertron, seu planeta natal. O robô esquece então de sua lealdade aos humanos e dá início a uma empreitada em busca do cajado de Merlin (sim, Merlin!), que seria a chave para fazer com que a humanidade pereça e Cybertron ressurja no lugar do planeta Terra.

    Se não bastasse uma sinopse extremamente fraca, já habitual dos filmes da franquia, desta vez os roteiristas decidiram enterrar o pouco de credibilidade que ainda restava a história dos robôs trazendo para ela um contexto mágico medieval que simplesmente não dialoga de maneira alguma com tudo o que já foi mostrado até hoje para os espectadores de Transformers. Nomes como Merlin, Rei Arthur, e a famosa távola redonda, são repetidos diversas vezes ao longo do filme e o estranhamento com a falta de conexão entre os temas é garantido. Péssima ideia da equipe de roteiristas.

    Mark Wahlberg retorna ao papel do “inventor” Cade. Longe da filha desde os últimos acontecimentos de “A Era da Extinção”, ele se esconde em um ferro-velho junto com os robôs aliados e também os dinobots (que aliás, pouquíssimo aparecem em cena). São apresentados ao público dois novos personagens bastante carismáticos. Jimmy, interpretado por Jarrod Carmichael e Izabella, vivida por Isabela Moner. A última, lembra imediatamente a personagem Laura (X-23), de Logan. A menina é de longe a melhor personagem em cena e renderia excelentes momentos, caso o roteiro soubesse o que fazer com ela. Subaproveitada, em diversos momentos esquecemos da existência da personagem e fica aquela vontade de conhecer mais sobre ela.

    Por outro lado, se existe uma coisa que a saga sabe fazer bem é o trabalho técnico. Dificilmente este filme saíra com as mãos abanando da próxima temporada de premiações. É de cair o queixo a qualidade de som, mixagem, efeitos especiais e design de produção. Em determinados momentos, é preciso extrema atenção para depreender todos os itens que compõem as cenas. Aliás, aí está algo que funciona na direção de Michael Bay. Muitas soluções são meramente visuais e passam ilesas no roteiro. Seu cinema construído sobre múltiplos cortes pode gerar incômodo em boa parte da crítica e público, mas está longe de ser sofrível. É uma pena que o texto não acompanhe o ritmo da edição.

    A trilha sonora de Steve Jablonsky não empolga. O maestro faz uso excessivo do já clássico “baum”, aquele som de suspense que ficou famoso em A Origem e depois foi repetido inúmeras vezes no cinema de ação. Por mais que o sim dialogue com a trama, é praticamente impossível ouvir este som e não relembrar ao menos uma dúzia de filmes que fazem uso do mesmo recurso. Transformes: O Último Cavaleiro conta ainda com a participação de Anthony Hopkins, no papel do excêntrico Edmund Burton.

    Texto de autoria Marlon Eduardo Faria.

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  • Crítica | A Bela e a Fera

    Crítica | A Bela e a Fera

    A Bela e a Fera surgiu pela primeira vez na França em 1740 com o conto de mesmo nome escrito por Gabrielle Suzenne Barbot, a Dama de Villeneuve. O conto ganhou força 16 anos depois com sua primeira adaptação escrita por Jeanne-Marie LePrince de Beaumont, que reduziu a história, além de fazer algumas alterações. Ao longo desses quase 300 anos, A Bela e a Fera teve diversas adaptações para o cinema e televisão, ganhando uma versão “realista” em 2011, chamada A Fera e sua mais recente adaptação, havia sido uma versão francesa estrelada por Vincent Cassel e Léa Seydoux. A versão mais bem sucedida da história, sem dúvida, foi a animação feita pela Disney, em 1991, rendendo uma indicação ao Oscar (até então inédita), além de cravar seu lugar no hall da fama dos clássicos de animação.

    Contudo, com tantas adaptações, algumas delas horríveis e outras muito boas, seria realmente necessário trazer A Bela e a Fera de volta às telonas? É inegável que a Disney está com o projeto de trazer à vida suas principais animações, ela só ainda não assumiu isso, mas sua justificativa é simples e além do que, simplesmente, contar a história com personagens e locações reais. Nesse caso em específico, atualizar Bela, dando um pouco mais de força à personagem, buscando equipara-la às mulheres de nossa época.

    Dirigido por Bill Condon (responsável pelo premiado Dreamgirls: Em Busca de Um Sonho) e escrito por Stephen Chbosky e pelo especialista em animações, que deve ter revisado o roteiro, Evan Spiliotopoulos, A Bela e a Fera faz uma narração como nos tradicionais contos, fazendo a introdução da história que culminou com a maldição do príncipe (Dan Stevens) transformado numa fera amarga e seu castelo que perdeu toda sua vida e cor. Do outro lado da cidade, vive Bela (Emma Watson), uma jovem considerada diferente e estranha naquele lugar apenas por gostar de ler. Bela está cansada da rotineira vida banal que tem naquela região e tem sonhos, mas nenhuma oportunidade de sair do local. A jovem vive dos seus afazeres domésticos e ainda cuida de seu pai, Maurice (Kevin Kline) que aparenta esconder um pouco sobre o passado de Bela e sua mãe. Tão logo somos apresentados à dupla Gaston e LeFou vividos pela boa química dos atores Luke Evans e Josh Gadd. Gaston é um homem forte, bonito e bastante egocêntrico. Embora tenha todas as mulheres da vila a seus pés, o homem tem somente um objetivo: se casar com Bela.

    Aliás, a química entre os atores é a mistura que deu certo para o filme manter a alma da animação, o que foi difícil por contar com diversos personagens e um elenco de peso que não atrapalham em nada o andamento do filme. Talvez o motivo para que isso tenha acontecido é que mais da metade desse elenco é composta por objetos vivos presentes no castelo, que, na verdade, eram as pessoas que estavam no local e que foram afetadas pela maldição atribuída ao príncipe. Então, assim como no desenho, temos os divertidos Lumière (Ewan McGregor) e Cogsworth (Sir Ian McKellen), que são um castiçal e um relógio, a esposa de Lumière, Plumette (Gugu Mbatha-Raw), o bule Mrs. Potts (Emma Thompson) e seu filho, a xícara Chip (Nathan Mack). Completam o elenco Stanley Tucci, como o cravo Maestro Cadenza e sua esposa, Madame Garderobe (Audra McDonald), que foi transformada num armário. São esses objetos que roubam a cena com seus diálogos divertidos.

    O filme é bem fiel à animação, inclusive homenageando alguns takes como se a produção de 1991 servisse de storyboard. Mas isso está longe de ser ruim, uma vez que aliado aos personagens, outros destaques da película ficaram o design de produção, figurino e maquiagem. A vila em que Bela mora é tratada com muito cuidado, cheia de detalhes e sets práticos que chegam a lembrar bastante a Vila dos Hobbits de O Senhor dos Anéis por ser muito bem feita. O castelo onde a Fera vive merece uma atenção especial. A cena da biblioteca é algo extraordinário e boa parte dos segmentos onde há inúmeras pessoas em cena é tratada de forma cantada, como em um musical, sendo que os atores gravaram suas partes de canto em estúdio. Vale destacar que os figurantes dessas cenas estão todos bem coreografados e muito bem vestidos.

    Se pudermos traçar um paralelo com diversas outras animações que ganharam suas versões com atores reais, A Bela e a Fera é exatamente aquilo que os fãs de Dragon Ball queriam que o fracassado filme fosse. Mas, também, estamos falando de uma produção Disney, que quase nunca erra e entrega ao espectador um filme leve, colorido, alegre e divertido. Que venha O Rei Leão!

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | Spotlight: Segredos Revelados

    Crítica | Spotlight: Segredos Revelados

    Spotlight 2

    A preocupação de Tom McCarthy em emular Alan J. Pakula em Todos Os Homens do Presidente é tamanho que todo o visual da redação do Boston Globe faz lembrar os clássicos momentos em que os repórteres setentistas desvelaram o Watergate. Nada à toa, mas os esforços de Spotlight Segredos Revelados são bem maiores do que uma simples cópia, apesar da clara aproximação dramática entre a fita de 1976 e esta.

    O plot se inicia com a aposentadoria anunciada de Walter Robby Robinson (Michael Keaton), e segue a partir dos seus últimos esforços enquanto chefe de um pequeno grupo de jornalistas, tendo como base uma acusação de corrupção envolvendo uma das instituições mais tradicionais no país, tocando em pecados graves e tradicionalmente associados ao catolicismo romano moderno. A manutenção do tabu é exatamente o inverso do ideário dos homens e mulheres que formam a equipe de Robby, e um extensivo trabalho conjunto se inicia já nos primeiros minutos de fita.

    O grupo de jornalistas, não necessariamente subordinados ou diretamente ligados a Robinson, formado por Ben Bradlee Jr. (John Slattery), Marty Baron (Liev Schreiber), Michael Rezendes (Mark Ruffalo), Matt Carroll (Brian d’Arcy James) e Sacha Pfeiffer (Rachel McAdams) é muito bem desenvolvido, com momentos únicos de brilho para cada personagem e intérprete. É no desenrolar dos depoimentos das vítimas que mora a maior emoção do roteiro baseado em fatos de McCarthy e John Singer (Quinto Poder), já que nas declarações dos antigos infantes abusados mora não só o trauma pelo temível abuso, bem como a morte de sua fé em uma crença maior, tirada de seu imaginário sem qualquer possibilidade de escolha ou refuto.

    Há um cuidado em registrar nuances e diferenciações básicas no comportamento dos entrevistados, mostrando como tais violências podem afetar homens e mulheres adultos, marcados tão fortemente em uma fase em que o ethos e a sexualidade não foram desenvolvidos. Desde sujeitos absolutamente inseguros e retraídos, até homens broncos, passivos, ativos, agressivos e mais dóceis, todos são marcados na alma. Os detalhes incluem até jogos de falsidade em níveis de aceitação e falácias por parte dos abusadores que visavam aproveitar-se da carência de meninos, incluindo os comumente excluídos por identificarem cedo a homossexualidade latente, e que viam nos sacerdotes o primeiro sinal positivo para sua orientação sexual, claro, pautados no engano mesquinho.

    A gravidade da situação faz unir dois comunicólogos de perfis diferentes, uma vez que Rezendes procura Mitchell Garabedian (Stanley Tucci) para ajudar a popularizar a causa através dos meios de comunicação por rádio. O impressionante dentro do proceder dos atores, em especial de Schreiber e Tucci, é a discrição e silêncio que produzem, gerando gama de emoções de modo comedido e nada histriônico. A contenção da indignação é algo comum também às personagens de McAdams e Ruffalo especialmente, já que a distância para o estourar da repulsa com a ética da apuração dos fatos é um aspecto em que a passionalidade deve, ao menos em tese, não fazer parte do conjunto de fatores que compõem a denúncia.

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    Alguns dos investigados demonstram uma atitude estranha, por vezes assumindo a responsabilidade por seus atos, mas sem conseguir expressar culpa, já que a rede de agressão é antiga, passando de geração a geração e  causando um impacto de normalização assustador, aspecto tão amedrontador quanto a letargia paralisação anestésica apresentada por alguns ex-padres, que em sua senilidade não conseguiam enxergar a extensão de suas graves transgressões, que atingiam tanto a Deus quanto aos homens criados à imagem e semelhança do primeiro.

    Há um mérito enorme na direção econômica de McCarthy, já que o realizador sabe dosar um roteiro que se desembrulha de modo gradativo e pontual, além de equilibrar como poucos um elenco tão multi talentoso e de perfis tão diferenciados. Conduzir um Michael Keaton pós Birdman e em um papel completamente diferente, mas igualmente exigente, não deve ter sido uma tarefa das mas fáceis, e o ator só brilha graças a toda a base que a fita lhe dedica, bem como Ruffalo só consegue exercer seu repórter inquieto graças à urgência de um assunto bem conduzido.

    A duração do filme faz o texto e abordagem amadurecerem ainda mais, fazendo um eco narrativo com as atitudes de seu protagonista, que nos primeiros dois terços permite aos seus subalternos fascinarem o público, com a procura e as descobertas dos sujos segredos sagrados. O arremate é inteiro de Walter, que se torna cada vez mais agressivo em sua abordagem, servindo como o canto de um cisne, a despedida silenciosa de toda uma carreira bem combatida. A composição da comparação metalinguística é tão cabível que se torna um crime achar que tais fatores casam por coincidência e não planejamento, já que Robinson e Keaton se misturam em uma intimidade muito maior do que a simplicidade de personagem e intérprete.

    A condução é elegante e correta, faz deslanchar uma história repleta de terríveis acontecimentos trazidos à luz em um momento de crise externa no país. Spotlight mostra parafilias terríveis de pessoas ditas normais, e que são comumente protegidas por um verniz social terrível. A cena final na redação da Boston Globe encerra o ciclo de trabalho e negligência de modo redentório, emocional e denunciativo, sob equilíbrio distante demais do comum a obras laureadas.

  • Crítica | Um Pouco de Caos

    Crítica | Um Pouco de Caos

    um pouco de caos

    Sobre a harmonia da natureza interferindo na confusão das relações humanas. Definição tão bela quanto sua estética, infundada pelo tratamento prematuro de sua simbologia. Na história, um jardim precisa ser construído, e um filme também, de preferência em torno desse tal “jardim do éden” pré-planejado na área mais verde, do palácio mais suntuoso de uma era tão nobre, bela, de visual à margem do que há de mais impecável, visual e comportamental. Tudo vibra em sintonia com as cores, a naturalidade dos movimentos, do cenário. Nota-se que Um Pouco de Caos tem uma vontade, uma intenção, é nítido até ao espectador mais ingênuo. Mas querer não é poder, todavia. Através da luta pessoal, como são quase todos os conflitos do cinema atual, e do seu enorme desejo de provar seu talento que, da jardineira Sabine de Barra, encarnada por Kate Winslet, surge um arquipélago de intentos e aspectos tão nobres quanto a época retratada, nos arredores do Palácio de Versalhes, em pleno reinado de Luís XIV, cuja capa e peruca quem usa é o próprio Alan Rickman, o ambíguo professor Snape da série Harry Potter. Como cineasta, sua insegurança é envernizada por uma sensibilidade duvidável, sendo que, quando a história consegue respirar sem a mão pesada de Rickman, também nota-se que um pouco mais de caos na direção não seria nada mal.

    A cinestesia é o sentido de percepção de movimento, do peso, da resistência e da posição de um corpo no espaço; é tudo percepção. Quando a persistente mulher chega em Versalhes e, por impulso criativo, retira um vaso no jardim do palácio e o recoloca em outro lugar para, com mãos de fada, entornar a simetria do jardim, o filme mostra ter uma força de representação forte, ainda que insegura, por nunca mostrar aquele universo por completo. É como se tudo fosse resumido e condensado em um jardim de proporções quase bíblicas, incapaz de alcançar a floresta de emoções e infinitos aspectos que Kubrick alcançou, por exemplo, em Barry Lyndon. Diferente deste, o filme de Alan Rickman é uma leveza e sutileza que impedem o filme de ganhar ritmos, ganhar clímax ou de nos surpreender, de qualquer forma que possa vir dos altos e baixos da vida da burguesia.

    Em 1963, o mestre Visconti fez equalizar visões políticas em outro clássico, O Leopardo, ao narrar a decadência de uma “nobreza” com uma perspectiva tão parcial enquanto humana, sendo assim uma espiral de ambiguidades que jamais merecia ter seu exímio trabalho de câmera em preto e branco. Pode se dizer o mesmo de Um Pouco de Caos? Se tons de prata fossem substituídos pelos de verde, a graça do filme ainda seria intocada? Será que os vestidos, com cores cada vez mais quentes, teriam o mesmo impacto para realçar o alpinismo social que o filme, habilmente, também mostra?

    Fato é que as flores de Versalhes jamais refletem a beleza de Caos, e sim o filme que tenta, a todo custo, refletir a naturalidade dessa beleza, em contraponto a bagunça de como é viver junto a aristocracia, aos desejos dos monarcas. Aos poucos percebemos que Simone de Barra precisa muito mais que endireitar vasos, e sim impedir que a inveja dos outros chegue até ela. Além disso, Rickman se apoia na naturalidade das coisas para nos privar de emoções mais graves, mais agudas e dignas de ser expressadas numa tela de Cinema. O filme evita seu caos, essas digressões que tudo apresenta, até mesmo a natureza, tal Malick e outros cineastas não deixam de apontar suas alterações em filmes como A Árvore da Vida ou o recente Vidas ao Vento, de Miyazaki. Hoje está frio, amanhã calor (especialmente se você está em São Paulo), mas na natureza das emoções é onde surfamos, e os filmes também, ou pelo menos os melhores.

    Se fosse música seria Spiegel im Spiegel, sinfonia de 1978 escrita por Arvo Part, ouvida em filmes como Gravidade e Hoje eu Quero voltar Sozinho. Na primavera vive Um Pouco de Caos, uma despretensiosa e elegante metáfora, intuindo-se nessa estação a vivência que Rickman planta na história de superação, após 18 anos sem dirigir um filme. Na ânsia de realizar um novo Desejos Proibidos, obra-prima de 1953, o fôlego linear e a tal da elegância (exagerada) ao contar a história não conseguem acompanhar o brilhantismo dos figurinos, lindos, o luxo das locações, a fotografia que tenta englobar o visual… é como assistir a uma rainha tentando sambar. Com medo do vexame, optou-se pelo mais seguro. Num filme onde o visual rege o conto, e não o contrário, essa extrema prudência e cerimônia de Caos se justificam, mas deixando um gosto de “quero mais” nos lábios de quem se lembra o que é a tal da cinestesia. Um pouco frustante, na real.

    E o que faz um jardineiro, afinal? Do que foge quem decora e harmoniza um microcosmo, o que procura? Um flash de como seria a harmonia da vida se tudo fosse tão simples de cuidar, cultivar e combinar, talvez? Uma questão de simetria, algo que um limpador de quintal não pensa, mas pode sentir no feitio do ofício. Caos traz à tona, afinal, o desejo de mudança habitante em todos nós, mas com uma precisão quase fria e matemática, compatível com a aridez do assexuado O Discurso do Rei.

    Kate Winslet ilustra nos olhos e no vestido sujo de pétalas e terra seca o penar em criar um pedaço do paraíso sendo honesta o suficiente para atrair a inveja dos outros. Talvez nisso, no lado intertextual do filme, resida o caos que, como um lírio escondido no mato, quase não salta aos olhos de quem vê, senão a superfície linda e agradável. A perturbação que a natureza não traz a Um Pouco de Caos por ser tão sistemático, e a desordem que ela traz às relações por ainda sermos tão humanos: é no equilíbrio entre essas duas forças, a racional e a natural, que o filme pende mais à primeira.

  • Review | Bojack Horseman – 1ª Temporada

    Review | Bojack Horseman – 1ª Temporada

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    Em meio a tantas sitcom, a TV americana é brindada, no ano de 1987, com a série Horsin’ Around, protagonizada por Bojack Horseman. O trocadilho infame entre o título da série e o ator principal, aliado à fórmula das comédias da época, garantiu um estrondoso sucesso a Horsin’ Around. E, como é de praxe, após o término do seriado, Bojack caiu no ostracismo.

    Na tentativa de reerguer sua falida carreira, o ex-astro irá publicar uma autobiografia. Para isso, contrata uma “escritora-fantasma”, que irá redigir o livro e dará os créditos de autoria ao próprio Bojack. Esta é a base para a história aparentemente simples desta nova série da Netflix.

    Bojack é um completo idiota. Uma pessoa/cavalo ruim. Odioso. Só faz merda. Vive em escândalos. Trata mal as pessoas. Tem uma vida desvairada regada a sexo e drogas. E o incrível disso tudo: ele tem carisma suficiente para que o espectador goste dele.

    As temáticas adultas se mesclam à estética aparentemente infantil de animais antropomorfizados, criando um paradoxo interessante. Diversos elementos da cultura pop foram parodiados em referência a animais, muitas vezes de forma sutil. Isso prova que a série não quer simplesmente vomitar referências para cativar espectadores.

    O dia a dia de Bojack, acompanhado de sua escritora-fantasma Diane, mostra o quão lixo este astro decadente é. Sua empresária e ex-namorada, Princess Carolyn (sim, este é o nome desta personagem mulher-gato-rosa), faz o possível para tentar reerguer a fama de Bojack, mas não abandona seu lado mercenário. O amigo (?) Todd Chavez, com sua ingenuidade, é um bom contraste para a personalidade arrogante de Bojack. E todos os personagens são muito bem trabalhados e com características particulares.

    Will Arnett (Arrested Development) e Aaron Paul (Breaking Bad), além de produtores da série, dão as vozes a Bojack e Todd. Dentre o elenco de dublagem, temos diversas figuras já conhecidas, como Alisson Brie (Community) e Stanley Tucci (O Terminal). A dublagem brasileira também possui muita qualidade, sendo uma boa opção para quem não quer encarar as legendas.

    Bojack Horseman foi uma grata surpresa. Apesar de alguns clichês, o roteiro é muito bom e tenta fugir do óbvio, inclusive com situações pouco puritanas. Bojack é um ótimo anti-herói e, apesar dos pesares, causa empatia suficiente para que o espectador torça por seu sucesso. Esta primeira temporada criou um belo pano de fundo para desenvolver ainda mais a história. Uma animação para adultos altamente recomendada.

  • Crítica | Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1

    Crítica | Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1

    A já estabelecida franquia de Hollywood (e com uma legião de fãs) Jogos Vorazes retorna em 2014 aos cinemas do mundo com a primeira parte da adaptação do terceiro livro da série, usando uma tática atualmente cada vez mais comum da indústria, que é a de aproveitar-se de filões lucrativos por mais tempo em detrimento dos elementos criativos da história.

    Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1 mantém os protagonistas de Jogos Vorazes e Jogos Vorazes: Em Chamas e dá continuidade a suas histórias. Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) luta consigo mesma para conseguir superar os problemas emocionais decorrentes de tamanha pressão pelas escolhas da personagem, e também incumbidas a ela após ter sido salva pelos rebeldes. O amigo de seu distrito natal, Gale Hawthorne (Liam Hemsworth), volta a ter participação ativa ao se juntar à rebelião do Distrito 13. Peeta Mellark (Josh Hutcherson) está nas mãos da Capital. Plutarch Heavensbee (Philip Seymour Hoffman) e Haymitch Abernathy (Woody Harrelson), junto com Effie Trinket (Elizabeth Banks), agora abandonaram completamente a vida na Capital e se dedicam exclusivamente à rebelião do Distrito 13, comandada pela Presidente Alma Coin (Julianne Moore).

    O filme se inicia logo após os eventos finais do anterior, quando Katniss é resgatada da arena dos Jogos, onde estava pela segunda vez. Após atirar a flecha em claro desafio contra a Capital, várias insurreições em diversos Distritos começam a surgir, sendo severamente reprimidos pelo presidente Snow (Donald Sutherland). A rebelião quer usar Katniss como símbolo para aumentar a adesão de pessoas ao exército rebelde e fortalecer a luta enquanto ela ainda existe. Enquanto isso, a Capital luta para apagar os focos de revoltas e manter seu poder intocado.

    A dinâmica entre os distritos e a Capital então sofre uma alteração significativa, pois não são meramente espectadores passando a ter algum grau de protagonismo em suas vidas, seja para decidir aderir à luta ou ignorá-la. Porém, o que falta dentro dessa dinâmica é justamente caracterizar melhor quem são estes distritos e as pessoas que os compõem e por que elas haveriam de largar suas vidas para aderir a uma rebelião, ou mesmo como essa rebelião se configurou em cada distrito e com cada líder local. Já que houve a opção pela divisão em dois filmes, havia espaço para problematizar ao menos um pouco desta história. Ao focar somente os protagonistas, a “revolução” parece não ter corpo o suficiente, sendo movida apenas por meio de escritórios.

    As referências a eventos ocorridos na história da humanidade, em especial às revoluções de esquerda, são também muito claras. Desde trabalhadores braçais pobres com roupas sujas andando em fila e forçados a trabalhar, mas que se revoltam contra o “sistema”, até os dirigentes revolucionários frios e calculistas, que fazem tudo pelo bem do povo sem consultá-lo. O uso dessas imagens torna a compreensão do espectador clara de que se trata de uma luta do bem contra o mal, dos explorados contra exploradores, uma reprodução essencialmente fiel do conceito de “luta de classes” de Karl Marx, mas, assim como os filmes anteriores, sem a profundidade mínima para entender de onde vêm aquela revolta e os recursos humanos e materiais para mantê-la contra uma Capital tão poderosa.

    É clara também a referência aos pobres daqueles distritos, onde alguns são mostrados parecendo-se com escravos negros do sul dos EUA, enquanto outros, em um hospital visitado por Katniss, assemelham-se a pessoas inseridas em contextos de países da África enfrentando crises humanitárias. É literalmente jogado na cara do espectador médio o imaginário clássico da pobreza, sem muita problematização.

    Um dos eventos chave do filme, a explosão de uma usina hidrelétrica que abastece a Capital, sofre justamente essa falta de embasamento. Como os rebeldes chegaram ali? Uma usina estaria tão insegura? Como conseguiram os explosivos? Quem os montou? Quem treinou esses trabalhadores pobres e super explorados em táticas de guerrilha? Não sabemos. E fica por isso mesmo.

    Porém, o principal defeito do filme é o excesso de espaço que a fragilidade emocional de Katniss toma em tela. A cada momento, nos deparamos com algum evento em que ela muda de ideia sobre participar da revolução, e essa repetição se torna cansativa. Essa constante alternância entre a personagem forte, líder de uma revolução, e uma jovem confusa teria seu propósito caso fosse direcionada a algo específico, e não acontecendo a cada hora.

    Com tantos problemas, Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1 talvez não conseguiria empolgar, porém acerta em muitos pontos. Ele consegue lidar bem com as cenas de ação e as transições entre as histórias, que em momento algum ficam confusas. A tensão das cenas finais é bem construída, assim como as surpresas de roteiro ali encaixadas. A constante utilização dos meios de comunicação como propaganda em um contexto de guerra é muito bem explorada, no sentido de mostrar como as ideias das pessoas podem ser manipuladas de acordo com o conjunto correto de sons e imagens, levando-as a acreditar em A ou B.

    A semelhança com os reality shows dos primeiros filmes dessa vez é afastada, dando lugar a um estilo utilizado em coberturas jornalísticas de frontes de guerra, que se iniciaram no Vietnã, mas que se tornaram, hoje em dia, muito comuns. Assim, cotidianamente o mundo “desenvolvido”, enquanto está jantando e vendo televisão, assiste a pessoas se matando nos locais mais remotos do planeta, sem o menor problema.

    O principal defeito do filme reside justamente na escolha de dividi-lo em duas partes, em que ao mesmo tempo que se esticam cenas desnecessárias, encerram-se, no final do filme, situações de forma abrupta, contando com a promessa de que espectador vá ver a última parte daqui a um ano. Nos resta esperar que o desfecho da história seja um pouco mais honesto consigo mesmo em relação às expectativas criadas, mas – principalmente – com o espectador.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Crítica | Muppets 2: Procurados e Amados

    Crítica | Muppets 2: Procurados e Amados

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    Quando um filme hollywoodiano faz sucesso, é natural que ele se torne uma franquia, com repetições do que deu certo no primeiro episódio, com mais exagero, convites a celebridades e roteiros sofríveis de repertório pobre e sem ineditismo. A introdução musical de Muppets 2, de James Bobin – o mesmo diretor do filme de 2011 -, brinca com essa questão, usando o artifício como recurso metalinguístico. Na verdade, isso é um pretexto para, como diriam os textos de Monty Python, ir para algo totalmente diferente. Os fantoches que estão de volta à ativa resolvem, aconselhados por Dominic Badguy (Ricky Gervais), partir em turnê mundial para aproveitar a fama recém-adquirida, mesmo sob os protestos de Walter, único remanescente dos protagonistas criados em 2011.

    Logo de início, percebe-se que as intenções de Badguy não são boazinhas e que algo ruim se aproxima da trupe de animais e criaturas de feltro cantantes. Aos poucos, Dominic assume o papel de liderança que sempre foi de Caco, O Sapo (ou Kermit para os americanos). Sua confiança é abalada, e a voz de comando vai decaindo com o tempo. Até o seu bom senso é avariado, assim como a autoestima do personagem. Em Berlim ele cai em uma cilada, onde é confundido com um bandido chamado Constantine, que toma o seu lugar sem levantar maiores suspeitas – a não ser em Animal e Walter – e que demonstra ter uma egocentrismo desnecessário, fazendo sempre questão de demonstrar estar acima de Dominic, a quem chama de Número 2.

    O espetáculo feito no teatro de Berlim serve de fachada para acobertar o roubo das peças de arte de um dos museus. A partir daí, a Interpol e a Cia se envolvem nas investigações lideradas por Jean Pierre Napoleon (Ty Burrell), pelo lado europeu, e por Sam, a Águia, ocasionalmente medindo forças e tamanhos distintos, unicamente para achincalhar a xenofobia dos estadunidenses e reforçar as diferenças de lidar com crimes entre ambas as culturas. A competição é sempre estimulada no roteiro de Nicholas Stoller e Bobin.

    A trama acaba se dividindo em núcleos, mas eles não se rivalizam em importância, uma vez que continuam interessantes por toda a extensão da fita, especialmente quando servem de reflexão ao mostrar mundos ideais, como quando as duas partes do Sapo têm de fingir ser quem não são. Constantine se torna o par ideal para Miss Pig, respondendo positivamente, pela primeira vez, à possibilidade de casamento – ainda que não a engane totalmente -, enquanto Caco tem de se se virar em uma prisão na Sibéria, onde tem contato com Nadya (Tina Fey), que, aos poucos, faz o Sapo ter sua confiança de volta para realizar um número musical – as partes cantadas continuam impressionantes do ponto de vista técnico.

    Walter finalmente descobre o ardil dos malfeitores e comunica o problema a Fozie, o Urso, mas é tarde, pois logo é descoberto por Dominic e Constantine e jogado no frio da Sibéria para morrer à míngua. Antes do grande roubo, o falso Sapo decide pedir Miss Piggy em casamento, em pleno show, para ter o álibi perfeito. É brilhante o modo como os ladrões conseguem elogios da crítica, usando anedoticamente a prática de suborno a profissionais de comunicação para conseguir páginas positivas. O humor é uma boa maneira de fazer críticas, mas sem ser necessariamente ácido.

    O último ato guarda surpresas tremendas, com elementos de filmes de assalto, de superespião e, claro, muito romance. Mesmo uma questão conflitante, como o casamento arruinado entre o Sapo e sua amada, é tratada como um momento edificante dentro da jornada de Caco pela sua restauração enquanto figura artística. Alguns twists são ensaiados próximos ao final, mas nenhum deles se conclui.

    Se a mensagem do filme anterior, estrelado por Jason Segel, era de ressurreição de mitos, este de 2014 fala basicamente do quão valorosa é a união entre os iguais e o quão indispensável é uma amizade verdadeira. Comparando os dois roteiros, este é bem menos incisivo e crítico do que o primeiro, o que reafirma as sentenças ditas logo no início. Apesar de possuir um pouco mais de alma do que as continuações caça-níquéis comuns, Muppets 2 – Procurados e Amados sofre muito sem o carisma de Segel. Sua falta é muitíssimo sentida e faz deste um espécime ordinário na filmografia dos famosos e infames fantoches.

  • Crítica | Transformers: A Era da Extinção

    Crítica | Transformers: A Era da Extinção

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    Quando foi anunciado, em meados de 2005, que o desenho Transformers ganharia uma adaptação para o cinema, ninguém sabia o que esperar. Porém, as expectativas eram as melhores possíveis. Quando o filme chegou às telas, em 2007, até os mais invejosos deixaram de criticar o tuning feito no disfarce de caminhão de Optimus Prime, todo pintado de chamas no melhor estilo hot rod, e passaram a apreciar uma ótima adaptação repleta de ação, humor, com uma trilha sonora certeira, tanto musical quanto orquestrada, além de ter uma história simples porém cativante sobre um jovem apaixonado pela garota mais popular do colégio e que precisa tirar notas boas para comprar seu primeiro carro.

    Infelizmente, mesmo a franquia se sustentando pelos sucessos de bilheterias das continuações Transformers: A Vingança dos Derrotados e Transformers: O Lado Oculto da Lua, os filmes foram um fracasso. Além de dois roteiros fraquíssimos, a relação entre o diretor Michael Bay e o elenco principal parecia ter se esgotado, uma vez que trabalhar com Bay não é uma das tarefas mais fáceis. Tal esgotamento resultou na demissão da atriz Megan Fox que havia, inclusive, iniciado as filmagens do terceiro filme.

    Logo após a estreia de O Lado Oculto da Lua, um reboot foi anunciado. Os robôs, obviamente, permaneceriam, mas todo o elenco seria trocado, o que permitiu que Transformers: A Era da Extinção fosse tratado como uma continuação dos três anteriores. E a mudança fez bem, mas não tão bem assim. Com uma história convincente, porém quase copiada da relação familiar mostrada em Armageddon (também de Bay), do pai-ciumento-que-faz-tudo-pela-filha-mas-que-descobre-que-ela-namora-e-nem-é-tão-santa-assim, o filme tem um péssimo terceiro ato que quase estraga toda a empolgação.

    Cade Yeager (Mark Wahlberg) é um mecânico, inventor e caçador de relíquias falido que tem o sonho de ser reconhecido pelo seu trabalho para poder pagar os estudos de sua filha Tessa (Nicola Peltz). Além de consertar aparelhos eletrônicos dos vizinhos, o que lhe rende pouquíssimo dinheiro, Cade vive comprando coisas velhas que as pessoas não usam mais com o objetivo de inventar alguma coisa, cuja patente lhe deixaria milionário. Sua vida muda quando, ao visitar um cinema abandonado no Texas, se interessa por um caminhão velho e destruído e o compra por 150 dólares. Durante o conserto do caminhão em seu celeiro (muito bacana, por sinal), Cade percebe que o sistema mecânico daquele caminhão é completamente diferente e que, portanto, poderia se tratar de um transformer. Após algumas noites em claro, consegue consertar e ativar Optimus Prime (novamente na voz de Peter Cullen), que agora passa a ter uma dívida com Cade. Optimus envia uma mensagem ao restante dos Autobots sobreviventes e consegue se reunir ao sempre carismático Bumblebee e aos novos Autobots: Autobot Hound (na voz do grande John Goodman); Autobot Drift (na voz do ótimo Ken Watanabe), um Autobot samurai (sim, um samurai); e Autobot Crosshairs (voz de John DiMaggio).

    Paralelo a estes acontecimentos, somos apresentados a um grupo secreto do governo muito semelhante à equipe Nest liderada pelo personagem de Josh Duhamel na primeira trilogia. Porém, esta equipe trabalha ao lado do transformer Lockdown (voz de Mark Ryan), caçando e matando Autobots ao redor da Terra. Com os adventos negativos da batalha em Chicago de Transformers: O Lado Oculto da Lua, o governo decidiu não contar mais com a ajuda dos Autobots, obrigando os robôs a se refugiarem e a se disfarçarem, o que explica a mudança de visual de Optimus e Bumblebee.

    Também somos apresentados ao cientista Joshua Joyce (Stanley Tucci) e seu sócio de negócios Harold Attinger (Kelsey Grammer). Joyce é uma espécie de Steve Jobs da indústria armamentista e que vem conseguindo criar seus próprios transformers baseados no “DNA” dos robôs capturados por Lockdown. Tem como objetivo criar transformers em larga escala e vendê-los para outros países. Já Attinger tem uma mente maligna e trabalha ao lado de Lockdown, liderando à distância a equipe de caça em busca de Optimus Prime, que detém a Semente, uma espécie de matéria-prima que, se detonada, se torna uma fonte inesgotável para a construção dos robôs de Joyce.

    Com esses três núcleos de personagens, o roteirista Ehren Kruger, que retorna à franquia desta vez assinando o filme sozinho, consegue amarrar uma história convincente, convergindo estes núcleos de forma inteligente e bastante justificável. Não há nada de errado no fato da família de Cade estar envolvida numa trama em que um robô mercenário – que tem como esporte aprisionar líderes dos planetas em que passa – fecha um “contrato” com humanos que concordam em entregar o líder dos Autobots em troca da Semente.

    As cenas de ação são muito boas e o destaque fica para a perseguição aos Autobots, onde os transformers dos humanos são ativados pela primeira vez e liderados por Galvatron, que foi criado tendo Megatron como base, o que demonstra timidamente o que poderá vir numa eventual continuação. Com isso, a parte de humor também é boa e sobra até para Optimus uma piada. A cena em que Bumblebee, que não gosta nem um pouco de ser chamado de lata velha, encontra o transformer que foi criado a partir de sua base é espetacular. É sempre bom poder rir com um robô amarelo e temperamental (entenderam?).

    Infelizmente, o terceiro ato é ruim e repete os mesmos erros dos dois filmes anteriores, pecando pelo excesso. Chega a ser chata essa mania de Bay em querer que o filme seja maior e mais épico possível, algo que não contribui em nada para o desenrolar da trama. É tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo que Bumblebee simplesmente desaparece numa determinada parte. O sentimento é de enganação, o que também pode levantar a suspeita de que o filme sofreu problemas em sua produção, já que se nota claramente que os dois primeiros atos fazem parte de um ótimo e promissor filme, sendo o terceiro ato parte de um péssimo filme. A diferença chega a ser tão gritante que Joshua Joyce, antes tido como um gênio da indústria moderna, um personagem carismático que não se sabe em que lado está, seja reduzido a um personagem engraçadinho e insuportável, dez vezes pior que o agente Simmons, vivido por John Turturro na trilogia original. Até a presença dos Dinobots no filme poderia ter sido descartada se os Autobots, de fato, não estivessem precisando de ajuda. O curioso é a maneira como se responde à questão da existência de robôs-dinossauros no filme, sendo a resposta a mais simples e óbvia possível.

    Quanto à direção de Bay, mais do mesmo. Estão lá as competentes cenas de ação, as cenas feitas em contraste com o pôr-do-sol, assim como as cenas em câmera lenta. Embora seja muito criticado por sempre repetir a mesma fórmula, inclusive por copiar aquilo que deu certo (e o que deu errado, também) e por ser exagerado, Bay ainda é um dos poucos diretores em Hollywood que, obviamente com exceção dos robôs, ainda trabalha com cenários reais e efeitos práticos, além de colocar seus atores dentro de explosões e situações de perigo reais, sem o uso de dublês. o 3D é competente e a experiência, de fato, vale o ingresso, o que é muito raro.

    Apesar do terceiro ato e dos longos 165 minutos de fita, Transformers: A Era da Extinção tem um saldo positivo, mas por pouco. O novo elenco e os novos personagens injetaram um pouco de ânimo à franquia. A jovem atriz Nicola Peltz e Jack Raynor, que faz o namorado de Tessa, Shane, são apáticos, mas Mark Wahlberg, com seu personagem carismático, e Stanley Tucci conseguem carregar o filme nas costas. Seria bastante interessante se, em algum momento, acontecesse um encontro entre Sam Witwicky, da trilogia antiga, e Cade Yeager.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | Um Golpe Perfeito

    Crítica | Um Golpe Perfeito

    Golpe Perfeito

    Um Golpe Perfeito (Gambit), começa com uma introdução animada, do que a princípio, seria uma comédia de erros. Com direção de Michael Hoffman, o roteiro de Ethan e Joel Coen apresenta uma proposta ousada, com um mirabolante esquema de falsificação e fraude com pitadas de humor, mas que com o decorrer da história, o espectador é desiludido.

    A princípio, Um Golpe Perfeito é despretensioso, explora uma sucessão de atos falhos no plano de Harry Deane (Colin Firth), que contrata a cowgirl PJ Puznowski (Cameron Diaz) a fim de ludibriar seu chefe, o colecionador de arte Lorde Shabandar (Alan Rickman). O filme é cortado por uma narração, que se torna enfadonha, e que não é nada mais que um incômodo na maioria das vezes em que é usada – pior, o personagem que a faz só consegue falas significativamente interessantes quando dita as emoções e agruras dos personagens.

    O tom da comédia é nonsense, mas está longe de ser escandalosamente hilário, em alguns pontos chega a ser entediante. Lembra bastante O Amor Custa Caro, uma comédia romântica dos próprios Coen, e repete também os seus acertos – o elenco é formidável. Firth e Rickman elevam o nível da película, e conseguem com suas atuações, elevar considerávelmente a qualidade de Um Golpe Perfeito, seus personagens são interessantes, de peculiaridades e personalidades curiosas. Stanley Tucci também não compromete nas poucas cenas em que aparece.

    Deane torna-se muito mais engraçado à medida que se embebeda. As cenas dentro do Hotel Savoy são disparadas as melhores coisas da obra, mas a solução de mostrá-lo enciumado com a relação entre seu chefe e PJ não funciona, primeiro por não haver química nenhuma entre Firth e Diaz, segundo, por não ter sido construída ou mencionada qualquer intenção amorosa/sexual antes, esta foi uma saída muito fácil e se mostrou uma péssima escolha, o que evidencia que o roteiro está longe de ser um dos melhores da carreira dos irmãos.

    É lastimável que o plot enverede pelos erros comuns das comédias românticas, seu resultado final é uma história de amor fraca, com elementos de filmes de assalto, que esconde um caráter sentimental e açucarado, que não cumpre nem mesmo a intenção básica de “filme cor de rosa”. Michael Hoffman não consegue fazer jus a filmografia dos roteiristas, nem mesmo nos seus piores momentos.

    Um dos pontos altos no desfecho é o alarme anti-furtos – tão ridiculamente inverossímil que se torna cômico, mas tal esquete não salva o todo, ainda mais com a reviravolta que ocorre com Harry Duane nos minutos finais, que é muito previsível e poderia ser melhor construída.

  • Crítica | Sem Proteção

    Crítica | Sem Proteção

    sem proteção - cartaz

    O estopim da trama é nebuloso. Não fica muito claro qual a motivação de Sharon (Susan Sarandon) para escolher se entregar naquele momento, depois de tantos anos. Além de não ficar claro como o FBI chegou até Sharon exatamente no dia em que ela resolve se entregar. Sua conversa com o repórter, na prisão, dá algumas razões, mas nenhuma delas convence, nem é forte o suficiente para justificar o abandono de sua família – seu marido e seus filhos. Apesar de carregada de um idealismo meio caduco, a visão de Mimi Lurie (Julie Christie) – de continuar levando sua própria vida – é mais convincente e bem mais realista.

    Não bastasse isso, alguns esclarecimentos sobre o passado dos personagens não chegam a causar suspresa. O espectador atento consegue, sem muito esforço, entender o que houve antes mesmo que Ben Shepard, o repórter vivido por Shia LaBeouf, explique suas conclusões ao editor do jornal em que trabalha. Aliás, no que diz respeito às pesquisas conduzidas por Shepard, há outro problema no roteiro. As respostas surgem tão facilmente, que fica pairando a dúvida: “Como o FBI não tinha conseguido qualquer pista sobre o paradeiro de Grant antes?”.

    Apesar da estória interessante, que lembra um pouco O Fugitivo (com Harrison Ford), o filme perde intensidade na segunda metade, que basicamente se resume à fuga de Grant (Robert Redford), seu encontro com antigos companheiros de grupo e sua perseguição pelo FBI. Além da estrutura encontra parceiro/obtém informação/foge antes do FBI chegar se tornar repetitiva, os eventos se sucedem muito lentamente. Em vários momentos, o espectador tem a impressão de que Grant não tem urgência alguma em chegar seja-lá-onde-for. E isso enfraquece bastante o envolvimento com a trama e o interesse pelo destino do protagonista.

    E o sucesso do filme acaba se calcando quase exclusivamente na qualidade do elenco peso-pesado, repleto de figuras tarimbadas, além de Redford e os já citados, temos ainda Nick Nolte, Chris Cooper, Stanley Tucci. Até LaBeouf está bem como o repórter que corre atrás da notícia seguindo seus palpites e pesquisando no Google. Conseguindo aos poucos se livrar da figura de Transformer Boy, desempenha com competência a função de ser o olhar do espectador dentro da trama.

    É uma pena que uma boa premissa tenha se perdido assim. E o que poderia ser um excelente thriller acaba sendo apenas um filme morno e um pouco cansativo.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Crítica | Jack: O Caçador de Gigantes

    Crítica | Jack: O Caçador de Gigantes

    jack cacador de gigantes - cartaz

    Mais um filme que revisita uma estória infantil, o conto de fadas inglês “João e o pé de feijão”. E ainda na onda do politicamente correto, desta vez, João (ou Jack) deixa de ser um ladrãozinho – que surrupia primeiro moedas de ouro, depois a galinha dos ovos de ouro e por último a harpa de ouro – para se tornar um jovem destemido que luta para defender seu mundo dos gigantes “malvados”. Porém, o cerne da estória – o garoto ludibriado numa troca que volta para casa com um saquinho de feijões ao invés de moedas – foi mantido, com alguns adendos na tentativa de enriquecer a trama.

    A aventura infanto-juvenil lembra bastante os filmes de fantasia dos anos 80 – Krull, A lenda, História sem fim – com valentes cavaleiros, donzelas em perigo, lutas de capa e espada, apenas com efeitos especiais mais elaborados, com menos maquiagem, maquetes e fantasias e mais computação gráfica. Contada de modo convencional e pouco inventiva, a trama não chega a entusiasmar, mas também não entedia o espectador. Com algumas pitadas de feminismo e tiradas de humor – bem ao estilo de Piratas do Caribe – entretém, mas está longe de causar empolgação. Tem-se a impressão de que o investimento foi grande na concepção dos efeitos especiais e pequeno na concepção do roteiro. Esperava-se bem mais de Christopher McQuarrie, o roteirista responsável pelo excelente Os Suspeitos.

    O elenco está bem, apesar dos personagens terem pouca ou quase nenhuma complexidade. São todos estereotipados: Jack (Nicholas Hoult) é o rapaz honrado, Isabelle é a moça (quase) rebelde, Elmont é o cavaleiro valente, Roderick (Stanley Tucci) é o conselheiro ardiloso. Aliás, enquanto o Elmont de Ewan McGregor vai ficando mais carismático à medida que o filme avança, a princesa Isabelle (Eleanor Tomlinson) parece cada vez mais apenas um elemento decorativo.

    Ao contrário do que aparentavam tanto nos trailers quanto nos anúncios, os efeitos de computação gráfica em combinação com a filmagem 3D deram um bom resultado final, exceto por uma ou outra falha pouco perceptível. Apesar de o 3D não acrescentar muito ao filme, também não chega a atrapalhar como ocorre em alguns casos, principalmente quando o filme é convertido de 2D para 3D. Vale destacar o pé de feijão que simplesmente enche a tela (e os olhos) com sua grandiosidade e riqueza de detalhes. E não se pode reclamar da aparência dos gigantes, já que eles são tão verossímeis quanto um personagem de conto de fadas pode ser. Sobre os gigantes, atenção especial para o “chefe” de duas cabeças, General Fallon, dublado pelo inconfundível Bill Nighy.

    Contudo, nem só de efeitos especiais sobrevive um filme. No máximo, este talvez seja lembrado como “aquele em que Ewan McGregor quase virou petisco de gigante”.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Crítica | Jogos Vorazes

    Crítica | Jogos Vorazes

    “Quem não tem criatividade para criar tem que ter coragem para copiar”. Muitas obras seguem à risca esse pensamento e podemos notar isso muito bem nos últimos anos, já que a maioria dos grandes sucessos na literatura e no cinema não passam de re-contextualizações de temas e histórias clássicas. Jogos Vorazes, adaptação de uma série de livros de mesmo nome, está aí como mais novo representante desse fenômeno e o faz muito mal.

    Em um mundo pós-apocalíptico, o governo da Capital realiza anualmente um doentio reality show em que 24 jovens devem se enfrentar até sobrar apenas um vivo. A história se foca em Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence), uma garota do Distrito 12, que se voluntaria a participar do programa substituindo sua irmã mais nova, que havia sido escolhida no sorteio.

    Battle Royale (2000), filme do diretor Kinji Fukasaku baseado na obra homônima de Koushun Takami, não sai da minha cabeça em nenhum momento do filme. Muitos podem achar tendenciosa essa análise, mas todos os elementos principais daquela história estão presentes no filme de Gary Ross: governo obrigando jovens a matarem uns aos outros simplesmente para reafirmarem sua soberania frente à população, basicamente. Porém o problema não é a re-utilização da ideia, mas a falha em sua execução.

    Imagino que em um cenário em que cidadãos ordinários são colocados para matarem uns aos outros em um reality show (considerando que eles não tem escolha se querem ou não fazer aquilo), o que mais deveria ser explorado seriam os conflitos internos e os pensamentos obscuros que circunscreveriam os “participantes”. Aquelas pessoas não são homicidas. Apenas foram obrigadas a estarem ali. Em Jogos Vorazes essas dúvidas e hesitações não existem e, por isso, podemos ver jovens entre 12  e 18 anos matando umas as outras como se tivessem sido criadas para isso. O fato de ser uma ficção científica não exime dessa responsabilidade, já que notamos que a população no geral está descontente com esses jogos. Vale dizer inclusive que o filme sequer poderia ser considerado uma “ficção científica”, pois as aparentes tecnologias futuras não fazem diferença alguma na trama (no máximo aparece uma nave voando, que também não faz nada).

    Os personagens são vazios e não evoluem conforme os fatos vão se desenvolvendo. A protagonista interpretada por Lawrence – a qual é uma atriz muito boa, porém seu papel no filme não valoriza sua atuação – sequer consegue convencer de que as mudanças abruptas que estão ocorrendo em sua vida a estão realmente afetando. Os personagens são completamente desprovidos de sentimentos e tirando por dois momentos de “emoção forçada”, o filme não convence. Inclusive temos uma tentativa de um romance,  contracenado com o ator Josh Hutcherson (que interpreta Peeta Mellark), o qual simplesmente se demonstra ambíguo, fazendo com que não conseguimos saber até que ponto existe sinceridade na personalidade de ambos personagens. As atuações de Lenny Kravitz (sim, pra mim foi uma surpresa vê-lo no filme também), Stanley Tucci e Elizabeth Banks apenas se resumem aos seus visuais “futurísticos” que se aproximam do bizarro, muito provavelmente inspirados pela cantora Lady Gaga.

    Outro fato que incomoda muito é a ausência de violência em um filme cujo pressuposto inicial são “pessoas se matando em um reality show”. O diretor Gary Ross optou por escolher todas as opções erradas, inclusive na hora das cenas de ação, as quais ao invés de serem minimamente interessantes acabam se tornando confusas e sem nexo, pois a única coisa que vemos são borrões de movimentos causados por uma câmera bagunçada, que não tem coragem de mostrar a violência que o filme, em tese, se propõe.

    Tal como Crepúsculo se aproveitou das lendas dos vampiros e lobisomens para fazer uma contextualização mais “atual”e voltada para um público mais jovem, Jogos Vorazes faz a mesma coisa com Battle Royale (entre outras referencias) e perpetua um filme ruim, que não se sustenta e não cumpre sua proposta.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

    Você também pode conferir a minha análise do filme, com um ar um pouco mais descontraído (e ainda sob fase de melhorias), em formato de vlog no primeiro episódio de FASTBURGER. Confiram logo abaixo:

    – Texto de autoria de Pedro Lobato.