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  • Crítica | Boneco de Neve

    Crítica | Boneco de Neve

    Adaptação do livro homônimo de Jo Nesbø, o novo produto de Tomas Alfredson é um thriller sobre um assassino serial, que começa de uma maneira onírica para depois dar vazão a uma narrativa pouco parecida com o que o diretor vinha fazendo. Boneco de Neve tem problemas sérios quanto ao caráter de sua história e a abordagem de suas pretensões ambiciosas.

    O elenco do filme é majoritariamente americano e inglês, contando com Michael Fassbender, Val Kilmer, J.K. Simmons, Toby Jones e Charlotte Gainsbourg. Após um epílogo mostrando um trauma na vida de um rapaz que assiste atônito sua mãe morrendo entendemos que toda a sequência inicial tinha por objetivo o choque, no entanto, o que se assiste é um momento extremamente constrangedor e sensacionalista.

    Não demora até chegar no presente da história, mostrando o policial e detetive Harry Hole (Fassbender) lidando com suas inseguranças e com a sua família em ruínas. Harry se afasta de seu filho adotivo, Oleg (Michael Yates) e de sua ex-companheira Rakel (Gainsbourg), restando a ele basicamente seus dias na delegacia, junto com sua parceira Katrine Bratt (Rebecca Ferguson) além de suas noites depressivas e solitárias. O personagem é tão anestesiado que até a visita de um simples dedetizador se torna um evento, tendo nessa interação um dos muitos problemas do filme, uma vez que o sujeito chega a atirar na direção do exterminador de pragas e o mesmo leva numa boa o ocorrido, sem nem reclamar por possivelmente ter corrido risco de morte.

    Os métodos utilizados pelo assassino em série são revelados de maneira bem rápida, tornando até o mistério em volta de identidade do mesmo em algo banal e óbvio. Não demora-se muito a intuir quem seria o sujeito por trás dos crimes misóginos, e a pergunta que fica é porque esse não foi um filme que se muniu das mesmas sutilezas de O Espião Que Sabia Demais e Deixa Ela Entrar. Para muito além de toda a boataria a respeito das falas de Alfredson após as críticas negativas que o filme recebeu, esse é claramente um produto de estúdio, se afastando demais do estigma de cinema autoral e isso se reflete até mesmo no uso bobo da computação gráfica, utilizado em cenas de assassinato dos homens que o assassino executou, normalmente com quadro absolutamente artificiais.

    Apesar dos recorrentes tropeços dramáticos, o filme possui alguns bons momentos. As paisagens brancas da Noruega como um todo são ótimas, as participações de Fassbender e Ferguson são bastante satisfatórias. Apesar dos problemas de roteiro, a direção de atores de Alfredson é excelente, mesmo que a maior parte do elenco estrelado esteja lá mais para engrossar o cachê do que dar vida aos personagens de Nesbø. O problema é que o filme parece mal pensado, os trechos de thriller soam bobos e argumento faz lembrar de episódios absolutamente nefastos do subgênero filme de serial killer, se assemelhando muito ao longa A Cela e Rios Sangrentos. Tentando fugir de qualquer trocadilho, Boneco de Neve parece uma colcha de retalhos, tentando unificar elementos que claramente não se misturam, para formar um monstro de Frankenstein equivocado na maioria de suas propostas.

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  • Review | Sherlock S04 E02 – The Lying Detective

    Review | Sherlock S04 E02 – The Lying Detective

    Como em Study in a Pink, John (Martin Freeman) também começa o capitulo em uma sessão de terapia, motivadas pelos traumas das ocorrências ao final de The Six Thatchers com a morte de Mary (Amanda Abbington). A dupla de heróis é afetada fortemente pela perda recente, com o doutor caindo em depressão e o detetive se culpando pela situação ocorrida, apesar de sua postura não ser a assumidamente de culpa ou responsabilidade pela morte que malfadou o grupo na abertura da temporada.

    John tem conversas frequentes com um fantasma, fato que permite não só o retorno da atuação de Abbington, como o acréscimo da nova terapeuta, vivida por Sian Brooke, que seria mais um olhar feminino sobre a psique do recém viúvo. Esse talvez seja o único momento de incontestável boa construção de dramaturgia desse quarto ano, especialmente se comparado a conclusão final que recai sobre esta que pode ter sido a última temporada das aventuras do Detetive.

    O acréscimo do personagem Culverton Smith (Toby Jones) começa de modo misterioso, com ele apresentando uma trama que mescla showbusiness com teoria da conspiração, em sequências de ação que fazem lembrar demais as distopias clássicas, em especial 1984 de George Orwell, com alguns elementos de produtos mais recentes, entre eles o quadrinho de Alan Moore V de Vingança e o filme Réquiem Para um Sonho, no sentido de brincar com os sentimentos dos personagens, no caso, Sherlock (Benedict Cumberbatch), que após tomar consciência de seu novo adversário, passa a agir como um sujeito ensandecido, com a mente em frangalhos, como visto no livro não canônico Solução a Sete Porcento, de Nicholas Meyer onde Holmes tem uma crise de abstinência de cocaína, e se consulta com Sigmund Freud. Os paralelos com o livro são registradas por meio de alegorias inteligentes e sagazes.

    A sensação vista no primeiro episódio da temporada se repete aqui, já que ele em alguns momentos parece ser um preambulo para acontecimentos maiores no season finale. O paradigma de ser um objeto do meio denigre um pouco a qualidade do capítulo em si, mas não o joga na mesma vala de Six Thatchers, basicamente por todo o plot vilanesco soar natural e condizente com tudo o que foi visto anteriormente dentro do programa.

    O diretor Nick Hurran consegue junto a Toby Jones contar uma historia sobre conspiração, paranoia e hipocrisia, através de um antagonista que tem carisma, além de uma capacidade de causar mal praticamente infinita. Os momentos delírio de Sherlock fazem relembrar o quão frágil é a saúde mental do herói, além de resgatar a interdependência entre Watson e Holmes, estabelecendo um novo começo para ambos, além de aludir a uma ilusão compartilhada dos dois, quando se trata do fantasma de Mary. Esse conserto faz pôr novamente nos trilhos a trama de Sherlock, mas ainda havia de se explorar mais um momento, em The Final Problem.

  • Crítica | A Garota

    Crítica | A Garota

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    De proposta bem diferente de seu primo de época Hitchcock, o filme de Julian Jarrold retrata a relação de Tippi Hedren (Sienna Miller) e o diretor britânico Alfred Hitchcock (Toby Jones), durante a feitura de Os Pássaros. A produção A Garota é baseado no livro Fascinado pela Beleza, de Donald Spoto, e já em seu início mostra uma persona de Hitch bastante controversa e invasiva, sem tomar o cuidado de criar no espectador a fascinação direta que o filme de Sacha Gervisi fez questão de fazer.

    Os relatos da própria Tippi Hedren traçam uma figura bastante abusiva do diretor de Festim Diabólico e Intriga Internacional, diferente do personagem adocicado e atormentado que Anthony Hopkins interpretou no mesmo ano. Esta versão da HBO Films é um pouco mais explícita nessa questão, mostrando o cineasta abusando da paciência, da moral e dos sentimentos da estrela, pondo-a em situações limites a fim de tirar dela a melhor atuação.

    A contestação por parte da equipe de produção é tímida, e comedida, de certa forma emula o medo que há por grande parte dos admiradores de Alfred em tocar em assuntos pessoais espinhosos, uma vez que ele é visto pela maioria como um mito, como um objeto completamente inalcançável. Nesse ponto, a atuação de completo pavor que Siena Miller faz em relação a figura de medo é excelente, não resta dúvida tanto sobre as responsabilidades do diretor nos traumas da interprete, quanto também a parte biográfica do longa, se dedicando mais a Hedren o que a Hitchcock, residindo aí o maior protesto em relação a outra biografia.

    A gravidade dos fatos se exacerba quando se mostra as cenas de feitoria de Marnie – Confissões de Uma Ladra, onde a nudez de Tippi é usada como elemento de denúncia e de exposição dos tantos abusos que o homem fez a mulher. Todo montante de humilhações e provações antes mostradas encontram seu ápice aí, quando os olhos lascivos do já ancião realizador encontram o corpo desnudo da jovem e agora desesperançosa atriz.

    A Garota toca em pontos nevrálgicos da tempestuosa e polêmica carreira de Alfred Hitchcock, e dá voz finalmente ao relato de Hedren, ainda que suavize grande parte dos abusos que ela fez em sua versão já famosa. O modo que Jarrold conduz sua câmera condiz mais com a linguagem cinematográfica do que televisiva, abusando de tomadas aéreas e planos profundos, que reiteram a grandiosidade da filmografia analisada, mas ajudando também a grafar os dramas complicados, com super closes que mostram o terror que o cineasta causava em seus atores, os mesmos que o próprio considerava apenas como gado.

  • Crítica | O Conto dos Contos

    Crítica | O Conto dos Contos

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    É sempre peculiar assistir como o mitológico, o lendário, é reciclado e moldado nas possibilidades pictóricas dos estilos de Cinema que resgatam reinações, hábitos e exercícios em prol de uma experiência cada vez mais refinada, na melhor das hipóteses, numa arte secular, palco de larga miríade de contos, crônicas e tantos outros compêndios narrativos.

    O Conto dos Contos não carrega o estigma de clássico imediato, isso só o tempo para afirmar. Tampouco carrega uma exasperante mise-en scène ou outros atributos de milhões de dólares, e muito menos o hype europeu e o preciosismo visual de outra fábula recente, A Assassina, o mais sublime dos catetos de Hsiao-Hsien Hou. Mas talvez seja esse “menos” que permita que o filme seja tão bom quanto poderia ser. Quando um rei e uma rainha desejam cegamente um filho, no seu reino de bobos-da-corte, um gatilho emocional e tão ligado às necessidades de uma família real, o diretor Matteo Garrone (Reality: A Grande IlusãoGomorra) convoca seus exageros e vaidades, e então a história começa a perder fôlego, fazendo o filme ostentar constante e humildemente uma vitalidade, mitologia e identidade próprias, e certamente, do começo ao fim das histórias interligadas, acima do lugar-comum.

    Um repertório de esmeros e elegantes encenações, elevando a perspectiva cármica dos tediosos contos de Cinema que apenas galgam a superfície de suas dimensões, seus potenciais às vezes desperdiçados, como por exemplo a decepcionante trilogia das Mil e uma Noites de Miguel Gomes, em sua versão autônoma e desalmada dos clássicos ramo-sírios contados por Xerazade. O Conto dos Contos comporta, senão luxo em sua produção, o respeito mais nobre e satisfatório pela tradição de se contar uma história, simples assim, e nos apresentar, economicamente, pouco mais do que precisa para ser um ótimo filme, de grandes inspirações e atores (Salma Hayek, destruidora).

    Um filme-primavera, desses que nascem para trazer respiro a um subgênero mais interessado em mostrar, do que saber contar. Garrone sabe onde pisa, e não se explica através do que filma, mas filma para poder explicar, no caso a confiança que possui e alimenta enquanto cineasta, melhor a cada obra. Um filme com um frescor criativo que Terry Gilliam e outros veem como ode e desculpa para traduzir suas bizarrices e besteiras de carnaval. O infortúnio em O Conto dos Contos (filme que de pretensioso tem só o título), no âmbito do uso de sua mitologia criada para o filme não existe, e, se o há, há senão no gosto de cada um de nós, críticos por natureza. Garrone apenas abre um leque tangencial para o deleite dos públicos mais diversos, e exigentes, num conto de situações e condições das mais empáticas possíveis – em especial, se comparado com outras produções de hoje em dia.

  • Crítica | Muppets 2: Procurados e Amados

    Crítica | Muppets 2: Procurados e Amados

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    Quando um filme hollywoodiano faz sucesso, é natural que ele se torne uma franquia, com repetições do que deu certo no primeiro episódio, com mais exagero, convites a celebridades e roteiros sofríveis de repertório pobre e sem ineditismo. A introdução musical de Muppets 2, de James Bobin – o mesmo diretor do filme de 2011 -, brinca com essa questão, usando o artifício como recurso metalinguístico. Na verdade, isso é um pretexto para, como diriam os textos de Monty Python, ir para algo totalmente diferente. Os fantoches que estão de volta à ativa resolvem, aconselhados por Dominic Badguy (Ricky Gervais), partir em turnê mundial para aproveitar a fama recém-adquirida, mesmo sob os protestos de Walter, único remanescente dos protagonistas criados em 2011.

    Logo de início, percebe-se que as intenções de Badguy não são boazinhas e que algo ruim se aproxima da trupe de animais e criaturas de feltro cantantes. Aos poucos, Dominic assume o papel de liderança que sempre foi de Caco, O Sapo (ou Kermit para os americanos). Sua confiança é abalada, e a voz de comando vai decaindo com o tempo. Até o seu bom senso é avariado, assim como a autoestima do personagem. Em Berlim ele cai em uma cilada, onde é confundido com um bandido chamado Constantine, que toma o seu lugar sem levantar maiores suspeitas – a não ser em Animal e Walter – e que demonstra ter uma egocentrismo desnecessário, fazendo sempre questão de demonstrar estar acima de Dominic, a quem chama de Número 2.

    O espetáculo feito no teatro de Berlim serve de fachada para acobertar o roubo das peças de arte de um dos museus. A partir daí, a Interpol e a Cia se envolvem nas investigações lideradas por Jean Pierre Napoleon (Ty Burrell), pelo lado europeu, e por Sam, a Águia, ocasionalmente medindo forças e tamanhos distintos, unicamente para achincalhar a xenofobia dos estadunidenses e reforçar as diferenças de lidar com crimes entre ambas as culturas. A competição é sempre estimulada no roteiro de Nicholas Stoller e Bobin.

    A trama acaba se dividindo em núcleos, mas eles não se rivalizam em importância, uma vez que continuam interessantes por toda a extensão da fita, especialmente quando servem de reflexão ao mostrar mundos ideais, como quando as duas partes do Sapo têm de fingir ser quem não são. Constantine se torna o par ideal para Miss Pig, respondendo positivamente, pela primeira vez, à possibilidade de casamento – ainda que não a engane totalmente -, enquanto Caco tem de se se virar em uma prisão na Sibéria, onde tem contato com Nadya (Tina Fey), que, aos poucos, faz o Sapo ter sua confiança de volta para realizar um número musical – as partes cantadas continuam impressionantes do ponto de vista técnico.

    Walter finalmente descobre o ardil dos malfeitores e comunica o problema a Fozie, o Urso, mas é tarde, pois logo é descoberto por Dominic e Constantine e jogado no frio da Sibéria para morrer à míngua. Antes do grande roubo, o falso Sapo decide pedir Miss Piggy em casamento, em pleno show, para ter o álibi perfeito. É brilhante o modo como os ladrões conseguem elogios da crítica, usando anedoticamente a prática de suborno a profissionais de comunicação para conseguir páginas positivas. O humor é uma boa maneira de fazer críticas, mas sem ser necessariamente ácido.

    O último ato guarda surpresas tremendas, com elementos de filmes de assalto, de superespião e, claro, muito romance. Mesmo uma questão conflitante, como o casamento arruinado entre o Sapo e sua amada, é tratada como um momento edificante dentro da jornada de Caco pela sua restauração enquanto figura artística. Alguns twists são ensaiados próximos ao final, mas nenhum deles se conclui.

    Se a mensagem do filme anterior, estrelado por Jason Segel, era de ressurreição de mitos, este de 2014 fala basicamente do quão valorosa é a união entre os iguais e o quão indispensável é uma amizade verdadeira. Comparando os dois roteiros, este é bem menos incisivo e crítico do que o primeiro, o que reafirma as sentenças ditas logo no início. Apesar de possuir um pouco mais de alma do que as continuações caça-níquéis comuns, Muppets 2 – Procurados e Amados sofre muito sem o carisma de Segel. Sua falta é muitíssimo sentida e faz deste um espécime ordinário na filmografia dos famosos e infames fantoches.