Tag: Dan Stevens

  • Critica | Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars

    Critica | Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars

    A trama de Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars começa em Husavik, na Islândia, no ano de 1974, onde uma família celebra alegremente uma reunião familiar, enquanto o pequeno Lars se sente sozinho, por conta da ausência de sua mãe. Aos poucos é mostrado que ele é um sujeito menosprezado pelos seus, exceção feita a jovem Sigrit. Aqui, se percebem rusgas com Erick Ericksson (Pierce Brosnan), seu pai, além do desejo de ser levado a sério e vencer a competição Eurovision Song Contest.

    O longa de David Dobkin é mais uma produção onde Will Ferrell vive seu personagem clássico, o homem ingênuo e subestimado que tenta ganhar notoriedade. Com menos de dez minutos se estabelecem os sonhos de grandeza e glamour do protagonista, além de uma parceria (e amor platônico) junto a bela e talentosa Sigrit, de Rachel McAdams, e como de costume, somos apresentados ao fracasso que ele é.

    O choque geracional é muito presente, Lars e Erick seguem tendo atritos quando adultos, muito por conta da natureza turrona da figura paterna, um homem simples, pescador, que tira seu sustento do trabalho duro, enquanto seu filho é mole e tenta seguir o sonho artístico juvenil que jamais foi rentável. A chance que a banda de Lars tem seria vencer o festival para que seu país fosse sede no ano seguinte.

    Dobkin junta sua experiência em conduzir comédias como Bater ou Correr Em Londres e Penetras Bons de Bico, além da tradição que tem como realizador de videoclipes para empregar um humor pastelão, preocupado em dar voz às minorias unido a elementos típico dos musicais.

    Toda a trajetória da dupla de protagonistas passa por percalços, desde o receio em ser encarados como piada, até a escolha de Lars pelo celibato por conta da dedicação à música. Mesmo que o filme não se leve a sério existe um número considerável de mensagens de aceitação e tolerância que não soam deslocadas do resto da obra.

    Há no filme um caráter semelhante a Zoolander, em especial no que toca a sexualidade de alguns personagens, como o Alexander Lemtov (Dan Stevens), o cantor russo que atravessa o caminho do quase casal Lars e Sigrit. Toda a cor, o glamour e as luzes denotam o quanto a dupla estava certa em insistir no sonho que nutriam ao longo da vida, apesar de todas as circunstâncias e bom gosto bradarem contra isso. Ferrell normalmente faz filmes bobos e toscos, e esse é mais um deles, mas ainda assim possui um diferencial, algo mais lúdico e mágico. O roteiro de Ferrell e Andrew Steele consegue variar bem entre a comédia rasgada e os momentos de celebração e aceitação soando como uma celebração dos frágeis e excluídos.

    https://www.youtube.com/watch?v=Dq30kOAJzzI

  • Review | Legion – 2ª Temporada

    Review | Legion – 2ª Temporada

    As primeiras imagens da nova temporada de Legion começam como um dia comum, com sol, piscina e alguns dos personagens se divertindo. Os personagens são Lenny Busker (Aubrey Plaza) e Oliver Bird (Jemaine Clement), e esse ponto faz confundir momentos reais com manifestações de estado de espírito do seu protagonista, ou mesmo devaneios, já que em dado momento da 1ª Temporada de Legion, ambos estavam dentro da mente do personagem ou cercando o seu espírito, como predadores e devoradores mentais.

    A série de Noah Hawley começa esse ano brincando até com o conceito de produto hermético, abrindo possibilidades de compreensão múltiplas, tantas quanto o número de personalidades de David Haller (Dan Stevens). Interessante notar que o funcionamento lúdico de seu aparelho psíquico ocorre durante a maior parte da duração dos primeiros episódios, visando explicar o rapto que o personagem sofreu no último episódio da temporada anterior.

    Hawley faz de novo uso de cenas onde o lúdico prevalece, mostrando as viradas de humor e desordem mental do protagonista – e também de outros, uma vez que aqui o estudo passa a ser sobre a mente humana como um todo – através de situações cotidianas, mostrando desde pessoas dançando em boates até cheerleaders sofrendo surtos psicóticos repentinos. Alguns momentos remetem aos filmes mais inspirados de Terry Gilliam, embora se note também uma influência forte de Alejandro Jodorowsky, ainda mais nas cenas com planos que contemplam paisagens enormes, com pessoas agindo de maneira louca.

    A maior  parte dos onze episódios mostram a tentativa de David em sair do transe que lhe parece imposto, tentando enfim entender onde está e o que aconteceu consigo, e principalmente, tentando compreender qual é a sua ligação, seja sentimental ou psíquica, com Shadowking (ou Rei das Sombras, como é chamado nas HQs). A versão que Lenny faz é bastante explorada, fato que permite que Plaza mais uma vez seja muito explorada e possa mostrar seu talento, que aliás, não é pouco.

    A performance de Plaza ajuda a deixar ainda mais difuso e nebuloso o lugar exato onde o Mestre das Sombras está, já que na primeira temporada, ele parecia estar alojado em David, e nessa não se sabe se ele está vivo, se esta no plano astral ou com algum hospedeiro físico. Lenny não sabe exatamente qual é seu papel dentro dessa equação, e sua busca por entender o que fazer faz ela dividir com Heller o protagonismo em boa parte da trama, já que seu destino também parece trágico.

    Outra expectativa em relação a série e a essa segunda temporada, é a de verificar a paternidade do protagonista, sem explicitar que ele pode ser filho do professor Xavier, no entanto o real mote de segundo tomo é a demonstração de quem Dave realmente é, não tanto sua origem ou sua árvore genealógica e sim seu modus operandi e a forma como lida com seus fardos e suas múltiplas personalidades. Um estudo sobre o ser.

    A criação de Chris Claremont e Bill Sienkiewicz nos quadrinhos é mais encarada como vilã do que como uma pessoa perturbada mentalmente, e a realidade que Hawley tenta imprimir aqui é que essas duas facetas não se auto-anulam. A carência pela qual Dave passa não o exime dos pecados que cometeu, tanto nos quadrinhos quanto no seriado e o modo como a série desenvolve essas questões são interessantes por conseguir mostrar toda a potência que existe na mente do personagem, como na multiplicidade de seu caráter.

    O final beira o apoteótico e abre possibilidades quase infinitas de interpretações, seja de onde se passou todo esse ano seja do futuro dali para frente, já que a série foi renovada, provavelmente para uma última temporada, dado a baixa audiência. Os últimos momentos do décimo primeiro episódio dessa temporada abrem margens para discussões ainda mais graves, mostrando o personagem sob um olhar que ao menos na TV ainda era inédito, e por conseguir construir um código ético tão complexo sem deixar de lado a apelação ao abstrato, Legion acerta demais, sendo algo genuinamente único.

    https://www.youtube.com/watch?v=QKa-eCvVjTM

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  • Review | Legion – 1ª Temporada

    Review | Legion – 1ª Temporada

    O seriado do FX que explora o ideal do personagem David Haller, mutante conhecido como Legião, começa com o clássico do The Who, Happy Jack, que serve como uma boa introdução para o passado de Haller, mostrando-o já adulto, interpretado por Dan Stevens, lidando com as questões mentais que atormentam o personagem desde cedo. O primeiro episódio de Legion não se preocupa em explicar muito, nem sobre a natureza dos poderes mutantes de Haller, nem sobre seu passado.

    O nome legião é uma referência bíblica a uma pessoa possessa que foi liberta por Cristo. Os demônios que habitavam o corpo do possuído usavam esse nome para aludir a multiplicidade de identidades demoníacas ali presente. David é um sujeito com múltiplas personalidades e nos quadrinhos, estas surgem quando uma nova mutação ocorre em sua psique. Ele é um mutante nível Ômega, categoria essa que abarca somente os portadores de Gene X mais poderosos, como Fênix, Apocalipse, Feiticeira Escarlate e alguns poucos outros.

    O modo escolhido por Noah Hawley (Fargo) e demais produtores para demonstrar o conflito do protagonista ao ter de lidar com uma mente poderosíssima e ainda assim doente é através de cenas no interior de um hospital psiquiátrico, onde o sujeito dá vazão a algumas de suas múltiplas versões de personalidade e pensamento, variando entre momentos onde o mesmo é interrogado e onde ele convive com as versões de sua mente, cada uma com corpo e características únicas.

    Essas representação do Ego se confundem com pessoas reais, variando tanto com o seu medo, materializado em Lenny Busker (Aubrey Plaza), que faz referência a um vilão de Charles Xavier (seu pai nos quadrinhos), até o seu par, Syd Barrett (Rachel Keller), uma linda moça que o faz se apaixonar a primeira vista e que se confunde com uma das tantas versões esquizofrênicas de sua mente. Aos poucos, Syd demonstra que também tem peculiaridades semelhantes as de Dave, fato que a faz um par quase perfeito ao protagonista.

    As manifestações começam caricatas e vão ganhando importância e seriedade em meio aos oito episódios, sendo a principal delas a já citada Lenny, que começa como um estágio primário da mente e evolui para uma face negativa. Há referências claras ao cinema do britânico Ken Russell, em especial nos mergulhos psicodélicos a mente do personagem título, que demonstra insegurança e instabilidade mental frente ao seu adversário em momento que variam das homenagens ao cinema mudo até claras homenagens as musicas de abertura dos filmes de James Bond.

    O temido vilão tem um caráter tão dúbio quanto o ideal da série, variando entre o belo e o grotesco, sendo esse último uma versão bastante assustadora e ameaçadora, parecida com os monstros dos filmes de horror populares nos anos noventa. A trama envolvendo a família e origem de Dave ajudam a acrescer na empatia do público junto ao herói e conseguem finalizar bem o drama proposto por Hawley, alimentando tanto o espectador mais ávido por uma história misteriosa e profunda, mas sem deixar os fãs de quadrinhos que buscam uma aventura mais escapista com algum alento.

    Legion termina com destinos diferenciados para seus coadjuvantes e um gancho misterioso envolvendo David e suas origens parentais, levantando a possibilidade até de se explorar isso em futuros lançamentos. A junção de texto mirabolante e direção de arte bem encaixada ajudam a tornar o programa de conteúdo profundo, relevante e bem urdido no sentido de falar das agruras sentimentais e distúrbios mentais, sem tratar seus personagens como seres coitados.

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  • Crítica | A Bela e a Fera

    Crítica | A Bela e a Fera

    A Bela e a Fera surgiu pela primeira vez na França em 1740 com o conto de mesmo nome escrito por Gabrielle Suzenne Barbot, a Dama de Villeneuve. O conto ganhou força 16 anos depois com sua primeira adaptação escrita por Jeanne-Marie LePrince de Beaumont, que reduziu a história, além de fazer algumas alterações. Ao longo desses quase 300 anos, A Bela e a Fera teve diversas adaptações para o cinema e televisão, ganhando uma versão “realista” em 2011, chamada A Fera e sua mais recente adaptação, havia sido uma versão francesa estrelada por Vincent Cassel e Léa Seydoux. A versão mais bem sucedida da história, sem dúvida, foi a animação feita pela Disney, em 1991, rendendo uma indicação ao Oscar (até então inédita), além de cravar seu lugar no hall da fama dos clássicos de animação.

    Contudo, com tantas adaptações, algumas delas horríveis e outras muito boas, seria realmente necessário trazer A Bela e a Fera de volta às telonas? É inegável que a Disney está com o projeto de trazer à vida suas principais animações, ela só ainda não assumiu isso, mas sua justificativa é simples e além do que, simplesmente, contar a história com personagens e locações reais. Nesse caso em específico, atualizar Bela, dando um pouco mais de força à personagem, buscando equipara-la às mulheres de nossa época.

    Dirigido por Bill Condon (responsável pelo premiado Dreamgirls: Em Busca de Um Sonho) e escrito por Stephen Chbosky e pelo especialista em animações, que deve ter revisado o roteiro, Evan Spiliotopoulos, A Bela e a Fera faz uma narração como nos tradicionais contos, fazendo a introdução da história que culminou com a maldição do príncipe (Dan Stevens) transformado numa fera amarga e seu castelo que perdeu toda sua vida e cor. Do outro lado da cidade, vive Bela (Emma Watson), uma jovem considerada diferente e estranha naquele lugar apenas por gostar de ler. Bela está cansada da rotineira vida banal que tem naquela região e tem sonhos, mas nenhuma oportunidade de sair do local. A jovem vive dos seus afazeres domésticos e ainda cuida de seu pai, Maurice (Kevin Kline) que aparenta esconder um pouco sobre o passado de Bela e sua mãe. Tão logo somos apresentados à dupla Gaston e LeFou vividos pela boa química dos atores Luke Evans e Josh Gadd. Gaston é um homem forte, bonito e bastante egocêntrico. Embora tenha todas as mulheres da vila a seus pés, o homem tem somente um objetivo: se casar com Bela.

    Aliás, a química entre os atores é a mistura que deu certo para o filme manter a alma da animação, o que foi difícil por contar com diversos personagens e um elenco de peso que não atrapalham em nada o andamento do filme. Talvez o motivo para que isso tenha acontecido é que mais da metade desse elenco é composta por objetos vivos presentes no castelo, que, na verdade, eram as pessoas que estavam no local e que foram afetadas pela maldição atribuída ao príncipe. Então, assim como no desenho, temos os divertidos Lumière (Ewan McGregor) e Cogsworth (Sir Ian McKellen), que são um castiçal e um relógio, a esposa de Lumière, Plumette (Gugu Mbatha-Raw), o bule Mrs. Potts (Emma Thompson) e seu filho, a xícara Chip (Nathan Mack). Completam o elenco Stanley Tucci, como o cravo Maestro Cadenza e sua esposa, Madame Garderobe (Audra McDonald), que foi transformada num armário. São esses objetos que roubam a cena com seus diálogos divertidos.

    O filme é bem fiel à animação, inclusive homenageando alguns takes como se a produção de 1991 servisse de storyboard. Mas isso está longe de ser ruim, uma vez que aliado aos personagens, outros destaques da película ficaram o design de produção, figurino e maquiagem. A vila em que Bela mora é tratada com muito cuidado, cheia de detalhes e sets práticos que chegam a lembrar bastante a Vila dos Hobbits de O Senhor dos Anéis por ser muito bem feita. O castelo onde a Fera vive merece uma atenção especial. A cena da biblioteca é algo extraordinário e boa parte dos segmentos onde há inúmeras pessoas em cena é tratada de forma cantada, como em um musical, sendo que os atores gravaram suas partes de canto em estúdio. Vale destacar que os figurantes dessas cenas estão todos bem coreografados e muito bem vestidos.

    Se pudermos traçar um paralelo com diversas outras animações que ganharam suas versões com atores reais, A Bela e a Fera é exatamente aquilo que os fãs de Dragon Ball queriam que o fracassado filme fosse. Mas, também, estamos falando de uma produção Disney, que quase nunca erra e entrega ao espectador um filme leve, colorido, alegre e divertido. Que venha O Rei Leão!

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | Trocando os Pés

    Crítica | Trocando os Pés

    trocando os pés - poster

    Um dos atores menos rentáveis de acordo com a lista da Forbes, Adam Sandler é reconhecido pelas comédias divididas entre uma categoria mais escrachada, sem pudor para piadas, e um caminho suave que envolve histórias de amor em comédias românticas.

    Um dos cartazes de Trocando os Pés (imagem escolhida para o pôster brasileiro) comete um equívoco interpretativo que fará o público imaginar que esta produção é mais uma estrelada e produzida pelo ator com o humor peculiar. Porém, o filme dirigido e roteirizado por Tom McCarthy (UP: Altas Aventuras) apresenta outra dinâmica que recoloca Sandler em uma história levemente dramática – único gênero em que o ator se destacou interpretativamente – e com elementos fantasiosos. Talvez o título original, O Sapateiro, fosse simples demais para o mercado brasileiro. Mas evitaria o tom cômico que, aliado ao cartaz, nos faz imaginar mais um dos produtos típicos do comediante.

    Na trama, o ator é Max Simkin, um sapateiro judeu que se sente desanimado em relação a vida. Não sabe se seguir a profissão do pai é sua verdadeira escolha e, dia a dia, vive a rotina sem muita animação. Em um dia consertando costumeiramente um sapato, seu maquinário quebra e o profissional recorre a uma velha máquina herdada do pai. Ao experimentar o calçado recém arrumado, descobre que qualquer peça consertada pelo aparelho lhe permite ter a aparência de seu dono original.

    Se há alguma semelhança desta história com suas comédias anteriores está o uso de um argumento fantástico como gatilho para a trama. Como em Click e Um Faz de Conta Que Acontece, a realidade é modificada diante de um objeto ou situação mágica. O fantástico produz uma dimensão mais infantil para a trama pela maneira lúdica – e improvável – com que se apresenta, transformando esta trama em um filme familiar. A própria personagem central sente um encantamento puro ao descobrir a magia trazida pelos sapatos, inferindo ao público uma sensação de história fabular com um personagem bondoso, portador de um artefato mágico que, à procura de se encontrar, realiza peripécias contra inimigos qualificados como ruins e a favor de uma possível mocinha.

    O diretor, McCarthy, que ainda está em início de carreira como diretor, é conhecido por suas obras alternativas com destaque para O Agente da Estação, com o pequeno notável Peter Dinklage. Trocando os Pés é seu filme de maior apelo até então, e a figura de Sandler – mesmo não rentável – um atrativo ao público. O roteiro escrito pelo diretor em parceria com Paul Sado destoa na composição entre fantástico e realidade. Um recurso que acrescente uma nova camada à realidade pode ser eficaz para produzir estranheza se o roteiro como um todo for coerente. Filmes como Mais Estranho Que A Ficção e Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças demonstraram eficácia nesta afirmação com uma história voltada para adultos.

    A maneira como inicialmente a transmutação pelos sapatos é apresentada não retira a impressão de um filme mais familiar, ainda que seu roteiro pareça voltar-se para um público mais velho do que para jovens e crianças. Pela falsa impressão de ser mais um produto bobo de Sandler, o filme pode afastar público específicos. Porém, mesmo com partes dissonantes, a sensibilidade da história vem à tona e sustenta o filme com leveza e ainda apresenta um Dustin Hoffman, como sempre, com excelência e credibilidade em seu papel.

  • Crítica | Uma Noite no Museu 3: O Segredo da Tumba

    Crítica | Uma Noite no Museu 3: O Segredo da Tumba

    Uma Noite no Museu 3 - O Segredo da Tumba

    Poucas trilogias mantêm a qualidade e sucesso nas três partes de suas histórias. Mesmo grandes produções, como O Poderoso Chefão e De Volta Para o Futuro, apresentaram oscilações. Normalmente, ao nos referirmos a trilogias, o último ato sempre é o mais difícil de ser bem executado. À exceção, talvez, de O Retorno do Rei, na trilogia O Senhor dos Anéis, o melhor dos três e grande desfecho da saga. Realizar três histórias diferentes com a mesma qualidade é um processo difícil, ainda mais quando as três produções são desenvolvidas de maneira separada, sem nenhum plano inicial de conduzir continuações, mas que, devido ao sucesso de público, ganham mais uma história nas telas.

    Nestes casos, observamos um padrão entre cada parte de uma trilogia. Normalmente, o segundo filme reconta a história do primeiro de maneira levemente diferenciada e maior, muitas vezes cometendo excessos para entregar algo a mais ao público. Por consequência, se a continuação recebeu críticas negativas, sua terceira parte tenta equilibrar-se nos acertos anteriores, evitar erros e tornar competente o desfecho.

    Esta proposição pode ser vista na trilogia Uma Noite no Museu, a franquia mais familiar do comediante Ben Stiller. Após o primeiro filme, que trabalhava com simplicidade uma história lúdica e mágica, sua sequência apresentou excesso de novos personagens e cenários que desequilibraram a narrativa, resultando em um filme inferior. Eis que Uma Noite no Museu 3: O Segredo da Tumba evita o excesso de novas personagens, mantendo os conhecidos e cativantes integrantes do Museu em uma nova aventura que decidirá o destino de cada um deles.

    Shawn Levy assume novamente a direção nesta produção que enfoca o trabalho do vigia noturno Larry Dayle em um museu de história natural. Um local onde, durante a noite, as personagens históricas ganham vida graças à magia da Pedra de Ahkmenrah. Devido a uma corrosão que surge na peça, Larry viaja até Londres para pedir ajuda ao Faraó Merenkahre, o criador do artefato.

    A produção começa com um pequeno prólogo em uma escavação do Egito, quando um garoto acidentalmente encontra a tumba onde está a pedra. Durante muito tempo, este mesmo garoto seria o guardião noturno do museu, um dos antigos vigias que retorna à história quando Larry procura-o para pedir informações sobre o artefato. Enquanto lida com este problema do museu, Dayle tem problemas com o filho, decidido em não seguir nenhuma carreira acadêmica. Um conflito paternal explorado além da aventura.

    Como na história anterior, as personagens necessitam explorar um novo museu e se deparam com novos objetos que ganham vida devido à Pedra de Ahkmenrah. Ao contrário do excesso de personalidades de Uma Noite no Museu 2, somente um novo personagem acompanha a jornada dos heróis: o famoso cavaleiro Lancelot. A adesão da figura nobre à trama promove humor e ajuda a intensificar as cenas de aventura e ação. O museu britânico é limitado a poucas áreas, o que se evita o surgimento de outros personagens, mas ainda apresentando novos monumentos em cenas pontuais, principalmente porque há salas específicas para diversos países e regiões. Sem deixar de lado o acervo grandioso do museu, a história destaca a litografia Relativity, de M. C. Escher, e ainda inova uma cena de batalha encenada dentro do quadro com suas diversas visões de perspectiva e tridimensionalidade (um dos pôsteres de divulgação utilizou o quadro em cena).

    A trama dosa a aventura e o lado familiar, afinal trata-se de um filme feito para um público amplo, de crianças a adultos. As cenas de humor são simples, com um tipo de riso que é provocado sem agressividade. Um estilo de produção que não busca nenhuma invenção, mas segue uma cartilha própria, consagrada nas histórias anteriores e com personagens queridos do público.

    A produção marcou a despedida de Robin Williams, sendo esse o último filme estrelado pelo comediante. Alguns críticos apontaram que sua morte modificou levemente a estrutura desta obra, que adquire um tom mais maduro e sensível em seu ato final. As últimas falas do Presidente Teddy Roosevelt dialogam sobre o fim e o início de novos caminhos, a sensação de desconhecimento sobre o futuro que seria benéfica devido às suas muitas possibilidades. Uma realidade que gera outra carga a essas palavras. O público anula momentaneamente a diferença entre personagem e ator para, com emoção, se despedir do próprio Williams na figura do presidente. O adeus a um ator que sai de cena da mesma maneira que entrou nos palcos: em um papel cômico, demonstrando que conduziu sua vida até o fim na esperança de trazer o riso aos outros.

    Neste misto de comédia, história familiar e leve drama dentro e fora das telas, Uma Noite no Museu 3 realiza um desfecho com qualidade a uma história simples, sem muitas pretensões, mas que cativou o público principalmente pelo jogo cênico de personagens históricas, dialogando entre si, e o humor acessível de Ben Stiller.

  • Crítica | O Hóspede

    Crítica | O Hóspede

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    Recentemente, estava assistindo a uns trailers no YouTube e no canto da tela estava o link para a prévia deste The Guest. Fiquei curioso com o nome. Cheguei a pensar que se tratava de mais um filme de serial-killer, como os vários que povoam as prateleiras das locadoras e têm os adolescentes como seu público cativo. Porém, o trailer é um tanto quanto enigmático, e o fato de a produção ter recebido críticas favoráveis nos festivais de Sundance e Toronto me deixou instigado. Assisti a um segundo trailer que me deixou mais a fim de ver a obra. O tom era diferente. Finalmente, pensei: “Isso deve ser bom”. Mas, para minha surpresa, o filme não é bom, é muito bom!

    The Guest conta a história de David, um soldado que volta do Iraque e vai até a casa da família Peterson. Os Peterson perderam o filho mais velho no combate, e David explica a eles que era colega do rapaz e que havia prometido a ele que cuidaria dos familiares. Prontamente acolhido por todos, David rapidamente conquista a simpatia geral. Porém, uma série de mortes e acontecimentos estranhos passam a acontecer e o soldado começa a aparentar que não é exatamente a figura amável que antes demonstrava.

    Dirigido por Adam Wingard e roteirizado por Adam Barrett, dupla responsável pelo ótimo suspense Você é o Próximo, The Guest é um filme que toma rumos inesperados no desenrolar da trama. O diretor e o roteirista criam uma boa atmosfera de suspense e tensão ao retratar o comportamento do protagonista David e a maneira como ele vai conquistando as pessoas. Posteriormente, quando se inicia a investigação sobre o passado do soldado, sua origem é completamente diferente do que seria usualmente apresentada em filmes com enredos parecidos. Discorrer mais sobre o assunto seria entregar um enorme spoiler. Importante também ressaltar que a fotografia do filme, idealizada por Robby Baumgartner, ajuda muita em toda essa construção. Nada revolucionário, mas tudo executado com extrema competência principalmente nas sequências de ação. A violência apresentada na película é bem gráfica, mas em nenhum momento é gratuita. Tudo tem um contexto e um objetivo, não sendo violento simplesmente por que tem que ser.

    A trilha sonora da produção merece um grande destaque, pois ajuda demais na composição do filme. Logo quando começamos a assistir à obra, percebemos um clima oitentista, em que o diretor reverencia grandes filmes de suspense da época. Tudo fica mais evidente quando prestamos atenção na trilha: músicas repletas de sintetizadores que compõem a homenagem que a dupla Wingard/Barrett faz durante todo o tempo e que fica extremamente evidente na sequência do clímax da narrativa.

    Dan Stevens, o intérprete do protagonista, é conhecido por seu trabalho em Downton Abbey e por sua participação em Caçada Mortal, estrelado pelo astro Liam Neeson. Dan constrói um tipo simpático e assustador com sua fala contida, seus gestos controlados e seu sorriso sempre presente. Maika Monroe e Brendan Meyer, intérpretes dos irmãos Anna e Luke Peterson, defendem com competência seus papéis, especialmente Brendan, uma vez que seu personagem acabando nutrindo um carinho fraternal por David, e o ator poderia cair na caricatura facilmente. Em vez disso, o garoto se contém e mantém tudo de forma plausível. Lance Reddick (Fringe) e Leland Orser (de uma pancada de filmes como Se7en – Os Sete Crimes Capitais, O Colecionador de Ossos, e a saga Busca Implacável) mantém o bom nível de atuações, e somente Sheila Kelley, intérprete da matriarca da família Peterson, destoa um pouco do restante do elenco com uma atuação um pouco abaixo da de seus colegas.

    Ainda que perca um pouco de força na sequência final, que se rende a um grande corre-corre, The Guest é um ótimo filme que presta uma sincera homenagem aos filmes dos anos 80 e em nada lembra as produções de trama previsível que entopem os cinemas e as locadoras todos os anos. Vale muito a conferida.

  • Crítica | Caçada Mortal

    Crítica | Caçada Mortal

    Caçada Mortal - Poster

    Aos 60 anos de idade, Liam Neeson vive um novo momento da carreira. Após diversas grandes interpretações em papéis dramáticos – incluindo o que lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator, em A Lista de Schindler –, transformou-se em um ator de ação em razão da sempre competente performance, do carisma e do porte de 1,93 metros.

    Desde 2005, o irlandês escolheu projetos de filmes de ação, como Busca Implacável, Desconhecido e Sem Escalas, nos quais usa o mesmo estilo de personagem com eficiência suficiente para agradar aos fãs do gênero. Nesta nova produção, a ação fica em segundo plano, dando lugar a uma narrativa policial baseada em um dos personagens criados por Lawrence Block.

    Detetive particular não licenciado, o ex-policial Mathew Scrudder é a criação mais famosa do autor, sendo estrela de 17 livros até agora e, nos cinemas, também foi interpretada por Jeff Bridges em 1986. Caçada Mortal, de Scott Frank, adapta a décima obra com a personagem, um alcoólatra em recuperação que, após uma crise de consciência, abandona a corporação. A trama roteirizada e dirigida por Scott Frank (escritor de grandes obras como Irresistível Paixão e O Nome do Jogo, e tragédias como Wolverine: Imortal) é bem adaptada no estilo narrativo de Block. A prosa seca, sem muitos floreios, mantém a eficácia de sua personagem e, no filme, este recurso é apresentado ao longo de uma trama que não exagera em reviravoltas e ganchos, como diversas investigações cinematográficas atuais.

    A primeira cena, que se passa em 1991, apresenta o passado de Scrudder, aproveitando cada segundo exibido em tela. Simples e rápido, o momento serve para que o público compreenda o passado turbulento do ex-policial. A composição do detetive não reinventa nenhum padrão, mas segue o estereótipo tradicional do homem com um passado negro vivendo um presente difícil entre a negação e certa ironia contida. Uma figura niilista que, mesmo sendo um bom moço, parece não se importar com ninguém. O detetive é contatado por um traficante de drogas para investigar os responsáveis que sequestraram e mataram sua esposa. Uma morte que se revela parte de uma série maior de assassinatos.

    O assassinato e a investigação são os fios condutores da trama. Os elementos típicos de um policial herói, centrados em Scrudder e em sua mudança pós-álcool, fazem parte da concepção do gênero. O suspense carrega boas inferências de crueldade e mantém-se bem durante a trama. Trata-se de um enredo tradicional, portanto nada mais natural que o crime em si seja apresentado de maneira que choque o público inicialmente, para aliviá-lo na resolução final em que, na medida do possível, pune criminosos.

    O bom suspense não se consagra por completo devido à presença de um personagem juvenil que descaracteriza a intenção da história. Por pouco, o jovem não cai na armadilha de ser um gancho para a inevitável cena em que ele tenta algo heroico e se torna um fardo que deve ser salvo pelo personagem central. O recurso que tenta humanizar a figura fria do detetive quase é responsável por destruir a história e o suspense desenvolvidos em cena. Há muitos policiais da ficção que trabalham com parceiros esporádicos e uma equipe informal, porém, dentro da trama, parece inverossímil que o ex-policial queira envolver um adolescente em uma trama delicada.

    A repetição de personagens semelhantes em produções próximas – o personagem de Sem Escalas também era um ex-policial alcoólatra, por exemplo – retira parte da identificação literária de Mathew Scrudder. Em compensação, Neeson demonstra, além da competência, se divertir nesta nova fase da carreira, e poderia representar a personagem em outras futuras adaptações. Afinal, aos 76 anos, Lawrence Block não para de escrever. Como um bêbado sorvendo sua bebida.

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