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  • Crítica | Vítimas de Uma Paixão

    Crítica | Vítimas de Uma Paixão

    302b50cd3f6d125aa6d9594f8890f445O ano era 1989 e Al Pacino estava em um hiato de 4 anos após o retumbante fracasso de Revolução. O ator chegou até a ser indicado ao Framboesa de Ouro de pior ator, mas “perdeu” para Sylvester Stallone e sua terceira performance como Rambo. Porém, em Vítimas de Uma Paixão, Pacino mostrou que estava de volta e entregou uma ótima atuação nesse bom exemplar do gênero policial.

    No longa, Pacino interpreta o policial Frank Keller, detetive da polícia de Nova York que passa por uma crise pessoal: além de estar a um passo do alcoolismo, não consegue lidar com o seu aniversário de 20 anos na força policial e o fato de sua mulher ter se divorciado dele e engatado um relacionamento com um colega de departamento. No meio desse turbilhão, Keller é convocado para investigar o estranho assassinato de um homem. Durante uma conversa informal em um evento para policiais, Frank acaba fazendo amizade com o Sherman Touhey (John Goodman), detetive de outra delegacia que investiga um crime idêntico. Os dois se unem e acabam descobrindo que as vítimas tinham anúncios na sessão de “classificados sentimentais” de um jornal da cidade. A dupla chega à conclusão de que para capturar o assassino, terão que fazer o mesmo. Entretanto, após conhecer várias mulheres, Frank acaba se apaixonando pela principal suspeita (Ellen Barkin) e ao passo que ele mais se aproxima dela, mais surgem indícios incriminadores sobre a moça.

    Vítimas de Uma Paixão é um clássico whodunit, filme em que o espectador é apresentado à todas as pistas e tem que tentar adivinhar quem é o assassino. Harold Becker e o roteirista Richard Price fazem isso com competência durante toda a película, jogando o tempo todo com quem está assistindo. Entretanto, quando chega o momento da resolução, tudo parece rápido demais, diluindo a surpresa da revelação e pior, chegando a causar a sensação de previsibilidade, fazendo com que o final não seja tão impactante como deveria ser. O diretor Becker, porém, consegue arrancar boas atuações de todo o elenco, principalmente de Al Pacino. O ator, que apesar de ser baixinho parece um gigante quando está em seus melhores momentos, é ainda mais engrandecido pela forma como é conduzido e filmado. A sequência da loja de sapatos talvez seja o melhor exemplo em toda a película. Ademais, o diretor capta os momentos mais tenros e os mais eróticos sem parecer piegas.

    Ainda sobre a trama e seu desenvolvimento, desde cedo fica estabelecido que o protagonista é um bom policial que acabou perdendo seu norte por uma conjunção de fatores, sendo o principal deles o seu divórcio. Sua inteligência passa a ser mais notada a partir do momento que ele se junta com o personagem de Goodman, pois esse passa a funcionar como seu conselheiro. A ideia que os dois tem juntos para capturar o assassino é tão absurda quanto genial. Porém algumas coisas poderiam ser mais bem exploradas, como uma mulher que Pacino conhece durante a investigação e que por um momento fica a impressão de que ela poderia gerar algum risco para ele ou Goodman, mas a circunstância é somente utilizada para gerar um pequeno conflito moral no protagonista. Um outro ponto interessante é que, a partir do momento em que o detetive Keller conhece a personagem vivida por Ellen Barkin, ele fica completamente encantado por ela e, ao mesmo tempo que ela funciona como uma tábua de salvação para ele, acaba servindo com uma distração, pois o detetive acaba colocando a moça e o seu relacionamento à frente de seus deveres profissionais. Essas questões são trabalhadas de forma muito críveis pelo script e pela direção.

    Al Pacino está sensacional em cena, fazendo a composição perfeita de um personagem em crise. Sempre um ator expansivo, Pacino dosa corretamente a sua atuação, principalmente nos momentos em que o detetive se embriaga para fugir da sua realidade e “afogar as mágoas”. Sua dinâmica com Ellen Barkin é ótima e a tensão erótica que se estabelece entre os dois é intensa e natural. Barkin, também merece destaque não só pelo seu charme e beleza, mas por sua atuação como uma mulher que tem a sua cota de traumas na vida, principalmente amorosos. John Goodman mantém a nota alta do elenco e apesar de seu personagem ser um bonachão, sua atuação não se resume só a isso: ele completa muito bem Al Pacino e o seu detetive Sherman serve como uma âncora de serenidade para o parceiro.

    Bom exemplar de filme policial, Vítimas de Uma Paixão é da época que Al Pacino ainda sabia escolher bem seus projetos e vale a pena ser visto por quem só conhece o ator por seus papéis emblemáticos ou por seus pálidos projetos recentes.

  • Crítica | Trocando os Pés

    Crítica | Trocando os Pés

    trocando os pés - poster

    Um dos atores menos rentáveis de acordo com a lista da Forbes, Adam Sandler é reconhecido pelas comédias divididas entre uma categoria mais escrachada, sem pudor para piadas, e um caminho suave que envolve histórias de amor em comédias românticas.

    Um dos cartazes de Trocando os Pés (imagem escolhida para o pôster brasileiro) comete um equívoco interpretativo que fará o público imaginar que esta produção é mais uma estrelada e produzida pelo ator com o humor peculiar. Porém, o filme dirigido e roteirizado por Tom McCarthy (UP: Altas Aventuras) apresenta outra dinâmica que recoloca Sandler em uma história levemente dramática – único gênero em que o ator se destacou interpretativamente – e com elementos fantasiosos. Talvez o título original, O Sapateiro, fosse simples demais para o mercado brasileiro. Mas evitaria o tom cômico que, aliado ao cartaz, nos faz imaginar mais um dos produtos típicos do comediante.

    Na trama, o ator é Max Simkin, um sapateiro judeu que se sente desanimado em relação a vida. Não sabe se seguir a profissão do pai é sua verdadeira escolha e, dia a dia, vive a rotina sem muita animação. Em um dia consertando costumeiramente um sapato, seu maquinário quebra e o profissional recorre a uma velha máquina herdada do pai. Ao experimentar o calçado recém arrumado, descobre que qualquer peça consertada pelo aparelho lhe permite ter a aparência de seu dono original.

    Se há alguma semelhança desta história com suas comédias anteriores está o uso de um argumento fantástico como gatilho para a trama. Como em Click e Um Faz de Conta Que Acontece, a realidade é modificada diante de um objeto ou situação mágica. O fantástico produz uma dimensão mais infantil para a trama pela maneira lúdica – e improvável – com que se apresenta, transformando esta trama em um filme familiar. A própria personagem central sente um encantamento puro ao descobrir a magia trazida pelos sapatos, inferindo ao público uma sensação de história fabular com um personagem bondoso, portador de um artefato mágico que, à procura de se encontrar, realiza peripécias contra inimigos qualificados como ruins e a favor de uma possível mocinha.

    O diretor, McCarthy, que ainda está em início de carreira como diretor, é conhecido por suas obras alternativas com destaque para O Agente da Estação, com o pequeno notável Peter Dinklage. Trocando os Pés é seu filme de maior apelo até então, e a figura de Sandler – mesmo não rentável – um atrativo ao público. O roteiro escrito pelo diretor em parceria com Paul Sado destoa na composição entre fantástico e realidade. Um recurso que acrescente uma nova camada à realidade pode ser eficaz para produzir estranheza se o roteiro como um todo for coerente. Filmes como Mais Estranho Que A Ficção e Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças demonstraram eficácia nesta afirmação com uma história voltada para adultos.

    A maneira como inicialmente a transmutação pelos sapatos é apresentada não retira a impressão de um filme mais familiar, ainda que seu roteiro pareça voltar-se para um público mais velho do que para jovens e crianças. Pela falsa impressão de ser mais um produto bobo de Sandler, o filme pode afastar público específicos. Porém, mesmo com partes dissonantes, a sensibilidade da história vem à tona e sustenta o filme com leveza e ainda apresenta um Dustin Hoffman, como sempre, com excelência e credibilidade em seu papel.