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  • Crítica | A Bela e a Fera

    Crítica | A Bela e a Fera

    A Bela e a Fera surgiu pela primeira vez na França em 1740 com o conto de mesmo nome escrito por Gabrielle Suzenne Barbot, a Dama de Villeneuve. O conto ganhou força 16 anos depois com sua primeira adaptação escrita por Jeanne-Marie LePrince de Beaumont, que reduziu a história, além de fazer algumas alterações. Ao longo desses quase 300 anos, A Bela e a Fera teve diversas adaptações para o cinema e televisão, ganhando uma versão “realista” em 2011, chamada A Fera e sua mais recente adaptação, havia sido uma versão francesa estrelada por Vincent Cassel e Léa Seydoux. A versão mais bem sucedida da história, sem dúvida, foi a animação feita pela Disney, em 1991, rendendo uma indicação ao Oscar (até então inédita), além de cravar seu lugar no hall da fama dos clássicos de animação.

    Contudo, com tantas adaptações, algumas delas horríveis e outras muito boas, seria realmente necessário trazer A Bela e a Fera de volta às telonas? É inegável que a Disney está com o projeto de trazer à vida suas principais animações, ela só ainda não assumiu isso, mas sua justificativa é simples e além do que, simplesmente, contar a história com personagens e locações reais. Nesse caso em específico, atualizar Bela, dando um pouco mais de força à personagem, buscando equipara-la às mulheres de nossa época.

    Dirigido por Bill Condon (responsável pelo premiado Dreamgirls: Em Busca de Um Sonho) e escrito por Stephen Chbosky e pelo especialista em animações, que deve ter revisado o roteiro, Evan Spiliotopoulos, A Bela e a Fera faz uma narração como nos tradicionais contos, fazendo a introdução da história que culminou com a maldição do príncipe (Dan Stevens) transformado numa fera amarga e seu castelo que perdeu toda sua vida e cor. Do outro lado da cidade, vive Bela (Emma Watson), uma jovem considerada diferente e estranha naquele lugar apenas por gostar de ler. Bela está cansada da rotineira vida banal que tem naquela região e tem sonhos, mas nenhuma oportunidade de sair do local. A jovem vive dos seus afazeres domésticos e ainda cuida de seu pai, Maurice (Kevin Kline) que aparenta esconder um pouco sobre o passado de Bela e sua mãe. Tão logo somos apresentados à dupla Gaston e LeFou vividos pela boa química dos atores Luke Evans e Josh Gadd. Gaston é um homem forte, bonito e bastante egocêntrico. Embora tenha todas as mulheres da vila a seus pés, o homem tem somente um objetivo: se casar com Bela.

    Aliás, a química entre os atores é a mistura que deu certo para o filme manter a alma da animação, o que foi difícil por contar com diversos personagens e um elenco de peso que não atrapalham em nada o andamento do filme. Talvez o motivo para que isso tenha acontecido é que mais da metade desse elenco é composta por objetos vivos presentes no castelo, que, na verdade, eram as pessoas que estavam no local e que foram afetadas pela maldição atribuída ao príncipe. Então, assim como no desenho, temos os divertidos Lumière (Ewan McGregor) e Cogsworth (Sir Ian McKellen), que são um castiçal e um relógio, a esposa de Lumière, Plumette (Gugu Mbatha-Raw), o bule Mrs. Potts (Emma Thompson) e seu filho, a xícara Chip (Nathan Mack). Completam o elenco Stanley Tucci, como o cravo Maestro Cadenza e sua esposa, Madame Garderobe (Audra McDonald), que foi transformada num armário. São esses objetos que roubam a cena com seus diálogos divertidos.

    O filme é bem fiel à animação, inclusive homenageando alguns takes como se a produção de 1991 servisse de storyboard. Mas isso está longe de ser ruim, uma vez que aliado aos personagens, outros destaques da película ficaram o design de produção, figurino e maquiagem. A vila em que Bela mora é tratada com muito cuidado, cheia de detalhes e sets práticos que chegam a lembrar bastante a Vila dos Hobbits de O Senhor dos Anéis por ser muito bem feita. O castelo onde a Fera vive merece uma atenção especial. A cena da biblioteca é algo extraordinário e boa parte dos segmentos onde há inúmeras pessoas em cena é tratada de forma cantada, como em um musical, sendo que os atores gravaram suas partes de canto em estúdio. Vale destacar que os figurantes dessas cenas estão todos bem coreografados e muito bem vestidos.

    Se pudermos traçar um paralelo com diversas outras animações que ganharam suas versões com atores reais, A Bela e a Fera é exatamente aquilo que os fãs de Dragon Ball queriam que o fracassado filme fosse. Mas, também, estamos falando de uma produção Disney, que quase nunca erra e entrega ao espectador um filme leve, colorido, alegre e divertido. Que venha O Rei Leão!

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | Mr. Holmes

    Crítica | Mr. Holmes

    Sr. Holmes 1

    Baseado na velhice e extrema misantropia do personagem-título, Mr. Holmes é uma aventura capitaneada por Bill Condon, que usa o talento de Sir Ian McKellen para dar substância a um roteiro confuso, atrapalhado e bastante genérico. A história se situa 35 anos após a “real” aposentadoria do Detetive, excluindo, claro, as mortes que forjou, com um Holmes que do alto de seus 93 anos tenta reescrever o seu último caso.

    O agravo que o roteiro propõe é que Sherlock já não tem todas as qualidades necessárias para relembrar seus próprios atos, graças à senilidade que se aproxima e aplaca sua inteligência e memória conhecidamente irretocáveis. A problemática não está nisso, e sim no drama genérico, que se encaixaria com qualquer personagem, não somente com o investigador de Baker Street.

    As licenças poéticas são muitas e não chegam a comprometer a qualidade do filme, mesmo que soem incongruentes, como o fato de ignorar-se que ao menos um dos 56 contos canônicos ter sido “escrito” pelo próprio agente, a despeito do médico/escritor que o acompanhava. A atribuição de elementos básicos, como uso de boné e cachimbo à imaginação de Watson, varia dentro do texto fílmico entre uma charmosa negação do herói e exageros do escritor original, que fantasiava demasiadamente, fatos reclamados já nos primeiros contos depois de Um Estudo em Vermelho.

    O enfoque no enferrujamento do detetive poderia ser mais interessante, mas é diluído por todo o entorno familiar, o que torna o drama cafona, banalizando até seu exílio com a pasteurização conservadora de humanizar o personagem, aspecto aliás completamente desnecessário. A mensagem interessante fica por conta da solidão dele, que não tem mais seus amigos, parentes e antigos colegas policiais, uma vez que somente os mitos sobrevivem eternamente – inclusive sobre mal engendradas produções cinematográficas.