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  • Crítica | Brinquedo Assassino (2019)

    Crítica | Brinquedo Assassino (2019)

    Na versão clássica de Brinquedo Assassino, Andy Barclay é um menino que aparentemente é perturbado, um ilho único e de mãe solteira, que recebe de presente um boneco Good Guy amaldiçoado, com a alma de um assassino serial. Nesta versão dirigida por Lars Klevberg, sai a empresa Play Pals Toys Company, e  entra a Kaslan,uma multinacional de eletrônicos, que comercializa toda sorte de novas tecnologias. A empresa lança Buddi, um boneco que se conecta a basicamente a todos os equipamentos via nuvem, e ajuda a controlar esses aparelhos e acessorios sendo não só um boneco, mas um controle universal de aparelhos conectados.

    Já em seu início, o script de Tyler Burton Smith comenta sobre hiper vigilância, apego a tecnologia e dependência da mesma, preocupação essa bem diversa do Don Mancini (criador da saga original, e diretor de 3 dos 7 filmes lançados até 2017) apresentou em praticamente todos os antigos filmes da franquia, e por mais estranho que soe, a mudança é bem positiva, pois não parece mera copia do que foi feito, ao contrário do que normalmente ocorre com remakes de filmes de terror. O cenário não demora a mudar, mostrando uma fábrica do Vietnã, onde ocorre o motivo da nova origem do boneco “amaldiçoado”, em um evento que impessoaliza um pouco o caráter vil do brinque, ao mesmo tempo que dá sinais de que haverá uma forte crítica ao capitalismo, mas o roteiro vai em outra direção, que não anula essa visão negativa sobre a necessidade de acumular bens e a precarização de trabalho decorrente do sistema capitalista, e vai mais na direção do Complexo de Frankenstein, embora não seja tão maniqueísta quanto parece na citação simples dessa premissa.

    O Andy de Gabriel Bateman tem um problema de surdez, fato que dá novas camadas a sua dificuldade de convivência com outros garotos e garotas. Ele é anti social, mal sai de casa, tem fobia de convivência, e isso é uma bela diferença pro original, uma vez que a Karen Barclay de 88 era super protetora por ser mãe solteira, já a personagem feita por Aubrey Plaza não, ela até se permite namorar, mesmo que isso incomode seu filho. Ela vive sua vida, mas não tem receio em se entregar na função de mãe e parceira de seu filho. A quebra de expectativa é positiva e dá um fôlego bom pro filme, uma vez que é uma família sem todos os integrantes comuns a um clã, imperfeita e que não se vê como anormal por isso, afinal, se está em 2019, e não mais em 1988, quando divorcio e viuvez ainda era um forte tabu.

    O filme é hilário, tem otim as passagens até mesmo antes do gore se fazer presente. O personagem do detetive Mike Norris (Brian Tyree Henry) e sua relação com a sua mãe (vizinha dos Barclays) prima por esse tipo de abordagem, e incrivelmente casa bem com as intenções de Mancini com os ultimos que a franquia de Chucky tomou. Há referências mil a filmes de terror,  como as óbvias de Massacre da Serra Eletrica 2 (que inclusive aparece literalmente no filme, além de Re-Animator, e passagens até de Brinquedo Assassino 2 – no sentido da paranoia de Andy – e até O Filho de Chucky, ainda que desse último haja menos menções.

    O Chucky de Mark Hammil é carismático demais, um boneco que apresenta avarias não só de programação mas de recursos básicos. Ele erra o próprio nome, e apresenta características que fazem lembrar o sub gênero literário recente denominado New Weird, principalmente por brincar com os conceitos do Vale da Estranheza. Essa característica do boneco que Buddi é causa evidentemente incomodo, o Good Guy era bonitinho, esse não – a situação piora com Buddi 2, que pode ser loiro, ou até um ursinho furry – e obviamente por incomodar boa parte do público tende a estranhar toda essa abordagem. Caso o espectador não tenha muitas frescuras com filmes de horror, isso certamente não é um incômodo, até porque o comportamento de Chucky é muito bem explorado, ele tem dificuldade de entendimento de nuances, é passivo agressivo e muito carente, e para cumprir sua obediência, é capaz até  de ferir seres vivos, podendo matar caso perca a noção de sua própria força. Isso faz sentido, afinal, um brinquedo não tem o mesmo pensamento que um ser humanos formado, ainda que este seja bastante passional.

    O mais bizarro e positivo de toda essa historia, é que o brinquedo só passa realmente a matar quando tem o  aval de seu dono. Mesmo quando ele se descontrola, há uma boa explicação desse motivo. Suas travas morais e éticas só são expandidas pós rejeição de seu “grande amigo”, e seu comportamento passivo agressivo é uma resposta a negativa que recebe. Isso tudo humaniza o serial killer / slasher, e sua evolução é muito bem explorada nos 90 minutos de fita, mostrando ele evoluindo de um assassino principiante com indícios de sociopatia e psicopatia que machuca animais, para um ceifador de vidas frio e calculista na hora de cometer homicídio, mas extremamente sentimental e temperamental.

    O fato de ser muito humano é um artificio bom do roteiro, no entanto perde um pouco da força no final, quando ocorre uma espécie de revolta das máquinas. Ora, se Chucky é capaz de aprender, e tem uma motivação pessoal para cometer seus pecados, não faz muito sentido ele se tornar um líder revolucionário, que declara guerra a toda uma classe, no caso, os humanos, ainda que sua caracterização faça lembrar algumas lideranças políticas antigas, das mais ressentidas e que em um montante de motivos (entre esses, rejeição de suas expressões mais profundas, entre elas a arte), resolveram atacar a um grupo amplo de pessoas, deixando algo que seria um ataque individual, em algo macro. Essa é uma leitura possível, mas ainda assim, apelativa e pretensiosa demais para uma simples refilmagem de filme de terror oitentista.

    Os momentos finais fazem lembrar It: A Coisa e Stranger Things 3, ao mostrar as crianças revidando a violência que lhe é imposta. Infelizmente toda a sequência de ação no Zed Mart é bem fraca perto do potencial de discussão que o longa traz antes, e a redução da psique de Chucky/Buddi para uma espécie Grande Irmão (do livro 1984, de George Orwell) em uma versão mais modernosa soa repetitiva e um bocado furada, mesmo que amarre as referências a Robocop e O Culto de Chucky de maneira orgânica.

    Mesmo com todas as ressalvas, O Brinquedo Assassino é uma refilmagem bem honesta, que se vale de muitos aspectos do original, pega emprestados alguns dos (poucos) conceitos que funcionaram nas (péssimas) continuações modernas, sem ofender o trabalho anterior de Don Mancini e de Brad Dourif, ainda que tenha abertura para possíveis novas continuações, fato que sempre preocupa a quem gosta e acha cara uma  franquia de filmes de horror.

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  • Review | Legion – 2ª Temporada

    Review | Legion – 2ª Temporada

    As primeiras imagens da nova temporada de Legion começam como um dia comum, com sol, piscina e alguns dos personagens se divertindo. Os personagens são Lenny Busker (Aubrey Plaza) e Oliver Bird (Jemaine Clement), e esse ponto faz confundir momentos reais com manifestações de estado de espírito do seu protagonista, ou mesmo devaneios, já que em dado momento da 1ª Temporada de Legion, ambos estavam dentro da mente do personagem ou cercando o seu espírito, como predadores e devoradores mentais.

    A série de Noah Hawley começa esse ano brincando até com o conceito de produto hermético, abrindo possibilidades de compreensão múltiplas, tantas quanto o número de personalidades de David Haller (Dan Stevens). Interessante notar que o funcionamento lúdico de seu aparelho psíquico ocorre durante a maior parte da duração dos primeiros episódios, visando explicar o rapto que o personagem sofreu no último episódio da temporada anterior.

    Hawley faz de novo uso de cenas onde o lúdico prevalece, mostrando as viradas de humor e desordem mental do protagonista – e também de outros, uma vez que aqui o estudo passa a ser sobre a mente humana como um todo – através de situações cotidianas, mostrando desde pessoas dançando em boates até cheerleaders sofrendo surtos psicóticos repentinos. Alguns momentos remetem aos filmes mais inspirados de Terry Gilliam, embora se note também uma influência forte de Alejandro Jodorowsky, ainda mais nas cenas com planos que contemplam paisagens enormes, com pessoas agindo de maneira louca.

    A maior  parte dos onze episódios mostram a tentativa de David em sair do transe que lhe parece imposto, tentando enfim entender onde está e o que aconteceu consigo, e principalmente, tentando compreender qual é a sua ligação, seja sentimental ou psíquica, com Shadowking (ou Rei das Sombras, como é chamado nas HQs). A versão que Lenny faz é bastante explorada, fato que permite que Plaza mais uma vez seja muito explorada e possa mostrar seu talento, que aliás, não é pouco.

    A performance de Plaza ajuda a deixar ainda mais difuso e nebuloso o lugar exato onde o Mestre das Sombras está, já que na primeira temporada, ele parecia estar alojado em David, e nessa não se sabe se ele está vivo, se esta no plano astral ou com algum hospedeiro físico. Lenny não sabe exatamente qual é seu papel dentro dessa equação, e sua busca por entender o que fazer faz ela dividir com Heller o protagonismo em boa parte da trama, já que seu destino também parece trágico.

    Outra expectativa em relação a série e a essa segunda temporada, é a de verificar a paternidade do protagonista, sem explicitar que ele pode ser filho do professor Xavier, no entanto o real mote de segundo tomo é a demonstração de quem Dave realmente é, não tanto sua origem ou sua árvore genealógica e sim seu modus operandi e a forma como lida com seus fardos e suas múltiplas personalidades. Um estudo sobre o ser.

    A criação de Chris Claremont e Bill Sienkiewicz nos quadrinhos é mais encarada como vilã do que como uma pessoa perturbada mentalmente, e a realidade que Hawley tenta imprimir aqui é que essas duas facetas não se auto-anulam. A carência pela qual Dave passa não o exime dos pecados que cometeu, tanto nos quadrinhos quanto no seriado e o modo como a série desenvolve essas questões são interessantes por conseguir mostrar toda a potência que existe na mente do personagem, como na multiplicidade de seu caráter.

    O final beira o apoteótico e abre possibilidades quase infinitas de interpretações, seja de onde se passou todo esse ano seja do futuro dali para frente, já que a série foi renovada, provavelmente para uma última temporada, dado a baixa audiência. Os últimos momentos do décimo primeiro episódio dessa temporada abrem margens para discussões ainda mais graves, mostrando o personagem sob um olhar que ao menos na TV ainda era inédito, e por conseguir construir um código ético tão complexo sem deixar de lado a apelação ao abstrato, Legion acerta demais, sendo algo genuinamente único.

    https://www.youtube.com/watch?v=QKa-eCvVjTM

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  • Review | Legion – 1ª Temporada

    Review | Legion – 1ª Temporada

    O seriado do FX que explora o ideal do personagem David Haller, mutante conhecido como Legião, começa com o clássico do The Who, Happy Jack, que serve como uma boa introdução para o passado de Haller, mostrando-o já adulto, interpretado por Dan Stevens, lidando com as questões mentais que atormentam o personagem desde cedo. O primeiro episódio de Legion não se preocupa em explicar muito, nem sobre a natureza dos poderes mutantes de Haller, nem sobre seu passado.

    O nome legião é uma referência bíblica a uma pessoa possessa que foi liberta por Cristo. Os demônios que habitavam o corpo do possuído usavam esse nome para aludir a multiplicidade de identidades demoníacas ali presente. David é um sujeito com múltiplas personalidades e nos quadrinhos, estas surgem quando uma nova mutação ocorre em sua psique. Ele é um mutante nível Ômega, categoria essa que abarca somente os portadores de Gene X mais poderosos, como Fênix, Apocalipse, Feiticeira Escarlate e alguns poucos outros.

    O modo escolhido por Noah Hawley (Fargo) e demais produtores para demonstrar o conflito do protagonista ao ter de lidar com uma mente poderosíssima e ainda assim doente é através de cenas no interior de um hospital psiquiátrico, onde o sujeito dá vazão a algumas de suas múltiplas versões de personalidade e pensamento, variando entre momentos onde o mesmo é interrogado e onde ele convive com as versões de sua mente, cada uma com corpo e características únicas.

    Essas representação do Ego se confundem com pessoas reais, variando tanto com o seu medo, materializado em Lenny Busker (Aubrey Plaza), que faz referência a um vilão de Charles Xavier (seu pai nos quadrinhos), até o seu par, Syd Barrett (Rachel Keller), uma linda moça que o faz se apaixonar a primeira vista e que se confunde com uma das tantas versões esquizofrênicas de sua mente. Aos poucos, Syd demonstra que também tem peculiaridades semelhantes as de Dave, fato que a faz um par quase perfeito ao protagonista.

    As manifestações começam caricatas e vão ganhando importância e seriedade em meio aos oito episódios, sendo a principal delas a já citada Lenny, que começa como um estágio primário da mente e evolui para uma face negativa. Há referências claras ao cinema do britânico Ken Russell, em especial nos mergulhos psicodélicos a mente do personagem título, que demonstra insegurança e instabilidade mental frente ao seu adversário em momento que variam das homenagens ao cinema mudo até claras homenagens as musicas de abertura dos filmes de James Bond.

    O temido vilão tem um caráter tão dúbio quanto o ideal da série, variando entre o belo e o grotesco, sendo esse último uma versão bastante assustadora e ameaçadora, parecida com os monstros dos filmes de horror populares nos anos noventa. A trama envolvendo a família e origem de Dave ajudam a acrescer na empatia do público junto ao herói e conseguem finalizar bem o drama proposto por Hawley, alimentando tanto o espectador mais ávido por uma história misteriosa e profunda, mas sem deixar os fãs de quadrinhos que buscam uma aventura mais escapista com algum alento.

    Legion termina com destinos diferenciados para seus coadjuvantes e um gancho misterioso envolvendo David e suas origens parentais, levantando a possibilidade até de se explorar isso em futuros lançamentos. A junção de texto mirabolante e direção de arte bem encaixada ajudam a tornar o programa de conteúdo profundo, relevante e bem urdido no sentido de falar das agruras sentimentais e distúrbios mentais, sem tratar seus personagens como seres coitados.

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  • Crítica | Os Caça-Noivas

    Crítica | Os Caça-Noivas

    Após o fim de High School Musical, o ator Zac Efron tem se esforçado para tirar de si a impressão de somente fazer papéis de bons moços. Sua filmografia recente inclui filmes densos como Obsessão e comédias adultas como Vizinhos e Tirando o Atraso. Os Caça-Noivas se encaixa na segunda categoria, sendo uma comédia rasgada dirigida por Jake Szymanski que conta a historia de dois irmãos Strengle, Dave (Efron) e Mike (Adam DeVine) que são obrigados a arrumarem acompanhantes para o casamento de uma parente, a fim de que não estraguem festa de cerimônia, como normalmente fazem.

    O mote do roteiro faz lembrar uma versão repaginada de Penetras Bons de Bico, ainda que haja uma preocupação maior da parte dos protagonistas masculinos em se adequar a uma realidade mais normativa e menos baladeira. A busca por parceiras de casamento vai mal, ao ponto dos dois irem a televisão fazer um apelo, que é atendido por Tatiana (Aubrey Plaza) e Alice (Anna Kendrick), duas meninas tão tresloucadas quanto a dupla masculina.

    A viagem rumo ao enlace no Hawaii produz algumas surpresas no público, como a inversão de expectativa relativa ao humor. A comédia parecia pender para um lado mais machista e de exposição de corpos femininos subverte isso. As acompanhantes não são presas fáceis para os homens e a exploração de sexualidade são todas pró mulheres, seja através da personagem prima de ambos Terry (Alice Wetterlund), que flerta com uma das moças, ou nas piadas com o orgasmo feminino. De certa forma, o filme acerta onde Missão Madrinha de Casamento falhou, em ser um escracho repleto de estrogênio que soa tão oportunista quanto o filme de Paul Feig, que bebia da fonte de Se Beber Não Case.

    O terço final é ligeiramente mais reflexivo e nele, os futuros noivos Jeanie (Sugar Lyn Beard) e Eric (Sam Richardson) tem um choque de realidade, que os faz reavaliar todo os sentimentos que tem um pelo outro, e reconsiderar os votos de casamento. O choque de culturas tão diferentes produz um desfecho de história adocicado e clichê, que é salvo da completa mediocridade graças ao carisma das personagens femininas, tendo atenção especial as atuações de Kendrick e Plaza, que possuem uma química interessante e apresentar nuances mesmo em personagens estereotipados.