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  • Crítica | A Dama e o Vagabundo (2019)

    Crítica | A Dama e o Vagabundo (2019)

    A Disney lançou seu serviço de streaming nos Estados Unidos, e como atrações da assinatura inicial haviam a série The Mandalorian e claro, o live action de A Dama e o Vagabundo, inclusive gravado com cachorros de verdade que eram obviamente  dublados por grandes atores. A adaptação de Charlie Bean (diretor especialista em animações, sendo a mais famosa Lego: Ninjago) mostra uma cidade em uma pintura em preto e branco, que lentamente transita para as cores e contornos reais, num efeito bem bonito e carregado de sentimentalismo, tal qual a animação original de 1955.

    A trama mostra a época de festas, com o natal chegando e a Lady/Dama chegando a casa da família de Jim e Darling. Não demora até passar um tempo, ela se tornar adulta, passando então a ser dublada por Tessa Thompson, e em meio a encontros com outros cachorros da vizinhança, ela vê sua vida por dois fatores externos, sendo o primeiro a chegada de um bebê, e outro a “invasão” e Tramp/Vagabundo, um cachorro vira-lata que passa a ensinar a ela que a vida não é só diversão e curtição. O cão é dublado  por Justin Theroux.

    Há uma semelhança grande do protagonista canino com o Aladdin da animação de 1992, ele é um larápio, de bom coração e que amolece diante de filhotes famintos. Essa construção, apesar de muito baseada em clichês e arquétipos serve bem no intuito de atalhar alguns passos da jornada. Rapidamente se percebe o espírito de cada um dos personagens, incrivelmente respondendo a questão relativa a animais domésticos terem alma ou não, pois nessa realidade, não há dúvida de que tem.

    O elenco é recheado de figuras famosas, que aparecem com suas vozes de maneira bem discreta. Sam Elliot, Ashley Jensen, Janelle Monáe, Benedict Wong e Clancy Brown tem seu momento de brilho, mas a trama passa a ser realmente divertida e chamativa quando entra os felinos siameses e que infelizmente tem uma passagem bem curta.

    Os números musicais são poucos porém tem uma excelência ímpar, é realmente uma pena que não hajam mas músicas, pois o desempenho aqui rivaliza com os melhores momentos de Aladdin de Guy Ritchie e faz a comparação com O Rei Leão de Jon Favreau ser vergonhosa para este último, porque apesar  de ser um filme para cinema, esse feito com menos recursos e expectativas é muito mais repleto de vida e personalidade.

    As aventuras dos dois caninos soa divertida, não tão mágica quanto na animação original, mas ainda tem um pouco de originalidade em sua abordagem. Há boa tradução aqui, ainda que comedida e discreta na maior parte de suas manifestações. Há como se importar com os personagens, ao contrário das traduções inócuas recentes nos live actions da Disney para o cinema.

    No Tony’s, o restaurante de massas da cena clássica, há um pouco de forçação de barra, em como se monta o momento da janta da macarrão espaguete com almôndegas. Dois homens combinando com um cachorro de ajudar o mesmo a conquistar a fêmea é de um nonsense tremendo, que só é perdoado porque a cena em si é muito charmosa, ainda que piegas, e a cereja do bolo certamente é a cantoria, afinal, o musical abre precedente para esse tipo de abordagem mais irreal. Mesmo sem pompa, A Dama e o Vagabundo resulta em um longa divertido, mágico e com um sentimentalismo comedido, é um bom passatempo despretensioso e não denigre em nada a obra original.

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  • Crítica | Nasce Uma Estrela

    Crítica | Nasce Uma Estrela

    Nasce uma Estrela é o longa metragem de estreia de Bradley Cooper na função de diretor, focado na relação sentimental entre o cantor e rockstar depressivo Jackson Maine, vivido pelo próprio realizador, e Ally, uma jovem cantora que se apresenta em bares LGBTs e possui um emprego maçante que ocupa o seu tempo, e de certa forma, esmaga seus anseios e sonhos. Ela é belamente interpretada por Lady Gaga, em um papel bastante desafiador para a popstar.

    O trabalho simultâneo como ator e diretor faz Cooper entrar em um hall diferenciado, que contém Charles Chaplin, Clint Eastwood, Orson Welles e tantos outros. No entanto, não era essa a maior dúvida que pairava sobre o seu filme e sim como seria o desempenho de Gaga em um papel pesado como protagonista. A personagem Ally parecia realmente ter sido feito para si, sua trajetória por mais fantasiosa que aparente se torna crível graças não só ao seu desempenho, mas também a química estabelecida entre ela e Cooper.

    Ainda assim, o roteiro tem uma carga melodramática forte demais, que funcionava bem nos anos 30, 50 e 70, décadas essas das outras versões dessa história, mas em 2018 soa bastante piegas. Nasce Uma Estrela não é um musical, mas guarda bastante semelhanças com o formato, além de mostrar a jornada do casal que começa com um flerte tímido, evolui para um apaixonar gradativo e o compartilhamento da mesma paixão à arte musical. A ordem dos fatos soa um pouco apressada em alguns momentos, mas também contém um tom poético que ainda que pareça forçado, ainda carrega um lirismo que aproxima a obra do espectador.

    O modo como o texto trata de questões espinhosas como vaidade, depressão e inveja é bastante maduro, mesmo que o melodrama impere em alguns  pontos ao longo das mais de duas horas de duração do filme. Não é só a relação com sua amada que é destrutiva, mas também com o personagem de Sam Elliot, seu irmão mais velho e fonte de inspiração para a carreira de Maine como intérprete musical e compositor.

    O modo como Cooper atua é um bocado caricato, ainda mais se colocado em perspectiva ao que Gaga apresenta. A voz grossa que faz lembra o mesmo tom grave de Jeff Bridges, bem como sua aparência, com cabelos e barbas grandes como o visto em Coração Louco, mas além dessa superficialidade, a entrega dele ao fazer um personagem autodestrutivo faz muito sentido, e ganha força quando ele aparece ao lado de sua protagonista. Tal qual Evita se utilizou de Madonna para ganhar notoriedade, Nasce Uma Estrela não seria algo além do comum se não fosse por Gaga e sua entrega completa ao papel que parecia ser destinado para si, além é claro de mostrar uma história que consegue demonstrar de forma equilibrada como uma reação de personagens muito parecidos ocorre, tanto na ânsia pelo mesmo sonho, como na relação amorosa e na fogueira de vaidades.

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  • Crítica | A Grande Escolha

    Crítica | A Grande Escolha

    Que o Super Bowl é um espetáculo, todo mundo sabe. A grande final do futebol americano é um evento de proporções gigantescas, que move uma enorme quantidade de dinheiro, para os Estados Unidos e mexe com as emoções dos ianques. O que poucas pessoas fora de lá sabem é que antes do início do campeonato existe um evento chamado “Draft Day”, no qual os 32 times que compõem a NFL escolhem novos jogadores egressos do futebol universitário. É nesse ambiente que se desenvolve A Grande Escolha. Em vez de fazer mais um drama esportivo focando uma equipe disputando um campeonato, os roteiristas Scott Rothman e Rajiv Joseph e o diretor Ivan Reitman preferiram ambientar o filme na disputa que ocorre nos bastidores do esporte.

    A trama do filme retrata a jornada do gerente-geral do Cleveland Browns, vivido por Kevin Costner, em sua jornada de negociações durante o “Draft Day”. Além de ter que administrar a parte esportiva do time, o personagem ainda que lidar com vários aspectos de sua vida pessoal, com a relação delicada dele com o novo técnico do time e também com a expectativa de toda uma cidade que sonha em ver seu time de coração de volta à elite.

    Tudo isso pode parecer monótono e formulaico, mas o diretor Ivan Reitman consegue transformar o filme em um grande show sobre os bastidores do esporte. A direção ágil do diretor, que faz um excelente uso de telas divididas, não deixa a peteca cair em nenhum momento. Momentos melancólicos e cômicos são filmados com perícia e não sucumbem ao sentimentalismo gratuito. Existe ainda uma fuga do didatismo que costuma ocorrer nesse tipo de filme. Tudo é exibido de forma que mesmo os espectadores que não são familiarizados com o esporte possam entender. Os diálogos do filme também são muito bons, principalmente nos momentos de negociação.

    Kevin Costner tem uma ótima performance no filme, e seu rosto de homem comum transmite bastante credibilidade ao papel. Seu Sonny Weaver Jr. é um personagem muito inteligente e que tem uma lábia fora do comum. O ator se equilibra bem nos momentos mais tensos e também nos melancólicos, além de fazer uma ótima dobradinha com Ellen Burstyn, que interpreta sua mãe. Jennifer Garner, responsável por interpretar o interesse romântico de Costner, se sai muito bem e foge do estereótipo de mocinha deslocada em um mundo totalmente masculino. Sua personagem transita muito bem no ambiente sem parecer forçada. Denis Leary e Frank Langella, respectivamente o técnico e o dono do time, estão competentes como sempre. Cabe ressaltar também que os amantes do esporte vão se deliciar com as participações especiais de grandes ídolos (Sim! Terry Crews já foi jogador de futebol americano e aqui está fazendo um papel sério!).

    Dinâmico e bem conduzido, A Grande Escolha é um filme que remete aos bons momentos cinematográficos de Ivan Reitman e Kevin Costner, além de mostrar para as pessoas que os bastidores de um esporte podem ser tão tensos e interessantes como uma final de campeonato.

  • Crítica | Sem Proteção

    Crítica | Sem Proteção

    sem proteção - cartaz

    O estopim da trama é nebuloso. Não fica muito claro qual a motivação de Sharon (Susan Sarandon) para escolher se entregar naquele momento, depois de tantos anos. Além de não ficar claro como o FBI chegou até Sharon exatamente no dia em que ela resolve se entregar. Sua conversa com o repórter, na prisão, dá algumas razões, mas nenhuma delas convence, nem é forte o suficiente para justificar o abandono de sua família – seu marido e seus filhos. Apesar de carregada de um idealismo meio caduco, a visão de Mimi Lurie (Julie Christie) – de continuar levando sua própria vida – é mais convincente e bem mais realista.

    Não bastasse isso, alguns esclarecimentos sobre o passado dos personagens não chegam a causar suspresa. O espectador atento consegue, sem muito esforço, entender o que houve antes mesmo que Ben Shepard, o repórter vivido por Shia LaBeouf, explique suas conclusões ao editor do jornal em que trabalha. Aliás, no que diz respeito às pesquisas conduzidas por Shepard, há outro problema no roteiro. As respostas surgem tão facilmente, que fica pairando a dúvida: “Como o FBI não tinha conseguido qualquer pista sobre o paradeiro de Grant antes?”.

    Apesar da estória interessante, que lembra um pouco O Fugitivo (com Harrison Ford), o filme perde intensidade na segunda metade, que basicamente se resume à fuga de Grant (Robert Redford), seu encontro com antigos companheiros de grupo e sua perseguição pelo FBI. Além da estrutura encontra parceiro/obtém informação/foge antes do FBI chegar se tornar repetitiva, os eventos se sucedem muito lentamente. Em vários momentos, o espectador tem a impressão de que Grant não tem urgência alguma em chegar seja-lá-onde-for. E isso enfraquece bastante o envolvimento com a trama e o interesse pelo destino do protagonista.

    E o sucesso do filme acaba se calcando quase exclusivamente na qualidade do elenco peso-pesado, repleto de figuras tarimbadas, além de Redford e os já citados, temos ainda Nick Nolte, Chris Cooper, Stanley Tucci. Até LaBeouf está bem como o repórter que corre atrás da notícia seguindo seus palpites e pesquisando no Google. Conseguindo aos poucos se livrar da figura de Transformer Boy, desempenha com competência a função de ser o olhar do espectador dentro da trama.

    É uma pena que uma boa premissa tenha se perdido assim. E o que poderia ser um excelente thriller acaba sendo apenas um filme morno e um pouco cansativo.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.