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  • Crítica | Crime Verdadeiro

    Crítica | Crime Verdadeiro

    Crime Verdadeiro - poster

    Dois anos após dirigir duas produções e exercer dupla função em uma delas, Clint Eastwood retorna a sua bem-sucedida jornada dupla em mais uma trama baseada em uma narrativa policial. Ao contrário da estranheza de Meia Noite no Jardim do Bem e do Mal e do plot conspiracional de Poder Absoluto, a narrativa de Crime Verdadeiro é uma trama tradicional apoiada na tradição dos suspenses investigativos, desenvolvendo um personagem detetivesco que retoma a trilha de um caso antigo à procura de pistas não encontradas pela polícia, tentando ajudar um homem prestes a ser executado.

    Culpado por um assalto à mão armada que vitimou uma mulher e seu filho há seis anos, Frank Louis Beechum (Isaiah Washigton) aguarda sua execução enquanto observa a agonia familiar. Mesmo que a intenção da trama seja explorar a investigação do jornalista, é notável uma inferência sobre o sistema judiciário americano, lento e mal executado, principalmente quando questões raciais estão no cerne da questão. No papel do jornalista Steve Everett, Eastwood mantém um estilo comum a muitos de seus personagens: a evidente presença da velhice como parte da composição do papel, representando uma velha guarda jornalística, a qual investigava e verificava fontes além da mera publicação das notícias,

    O ator parece explicitar seu gosto de imprimir um aspecto diferencial na idade, assim este aspecto se sobressai na análise de sua obra geral gerando uma possível teoria sobre suas personagens. Porém, suas caracterizações sempre são equilibradas entre tensões positivas e negativas. Everett é um jornalista de senso apurado que mantém uma vida amorosa indiscreta. Um pai e um marido ausente que sobrepõe o trabalho e seu instinto por notícias acima dos laços familiares, denotando certa imaturidade mesmo em idade mais avançada, um contraponto que não corrompe o carisma natural.

    Se por um lado o conflito inicial é bem desenvolvido, com o jornalista colhendo pistas para descobrir uma nova linha investigativa, a conclusão não é funcional. A trama corre contra o tempo e se passa em um dia, aproximadamente. Diante deste espaço temporal limitado, as ações da personagens se tornam inverossímeis devido ao acúmulo de situações que se apresentam e a uma rápida dedução de um caso. Mesmo que a rápida conclusão demonstre a habilidade e o faro do jornalista, a intensificação do suspense dilui parte do impacto narrativo.

    Crime Verdadeiro é funcional como um thriller e coerente com a vertente mais comercial do diretor que, na época, ainda dividia-se entre projetos mais comerciais e mais autorais, um aspecto que, com o amadurecimento e uma carreira consolidada, foi modificado a favor de grandes obras.

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  • Crítica | A Grande Escolha

    Crítica | A Grande Escolha

    Que o Super Bowl é um espetáculo, todo mundo sabe. A grande final do futebol americano é um evento de proporções gigantescas, que move uma enorme quantidade de dinheiro, para os Estados Unidos e mexe com as emoções dos ianques. O que poucas pessoas fora de lá sabem é que antes do início do campeonato existe um evento chamado “Draft Day”, no qual os 32 times que compõem a NFL escolhem novos jogadores egressos do futebol universitário. É nesse ambiente que se desenvolve A Grande Escolha. Em vez de fazer mais um drama esportivo focando uma equipe disputando um campeonato, os roteiristas Scott Rothman e Rajiv Joseph e o diretor Ivan Reitman preferiram ambientar o filme na disputa que ocorre nos bastidores do esporte.

    A trama do filme retrata a jornada do gerente-geral do Cleveland Browns, vivido por Kevin Costner, em sua jornada de negociações durante o “Draft Day”. Além de ter que administrar a parte esportiva do time, o personagem ainda que lidar com vários aspectos de sua vida pessoal, com a relação delicada dele com o novo técnico do time e também com a expectativa de toda uma cidade que sonha em ver seu time de coração de volta à elite.

    Tudo isso pode parecer monótono e formulaico, mas o diretor Ivan Reitman consegue transformar o filme em um grande show sobre os bastidores do esporte. A direção ágil do diretor, que faz um excelente uso de telas divididas, não deixa a peteca cair em nenhum momento. Momentos melancólicos e cômicos são filmados com perícia e não sucumbem ao sentimentalismo gratuito. Existe ainda uma fuga do didatismo que costuma ocorrer nesse tipo de filme. Tudo é exibido de forma que mesmo os espectadores que não são familiarizados com o esporte possam entender. Os diálogos do filme também são muito bons, principalmente nos momentos de negociação.

    Kevin Costner tem uma ótima performance no filme, e seu rosto de homem comum transmite bastante credibilidade ao papel. Seu Sonny Weaver Jr. é um personagem muito inteligente e que tem uma lábia fora do comum. O ator se equilibra bem nos momentos mais tensos e também nos melancólicos, além de fazer uma ótima dobradinha com Ellen Burstyn, que interpreta sua mãe. Jennifer Garner, responsável por interpretar o interesse romântico de Costner, se sai muito bem e foge do estereótipo de mocinha deslocada em um mundo totalmente masculino. Sua personagem transita muito bem no ambiente sem parecer forçada. Denis Leary e Frank Langella, respectivamente o técnico e o dono do time, estão competentes como sempre. Cabe ressaltar também que os amantes do esporte vão se deliciar com as participações especiais de grandes ídolos (Sim! Terry Crews já foi jogador de futebol americano e aqui está fazendo um papel sério!).

    Dinâmico e bem conduzido, A Grande Escolha é um filme que remete aos bons momentos cinematográficos de Ivan Reitman e Kevin Costner, além de mostrar para as pessoas que os bastidores de um esporte podem ser tão tensos e interessantes como uma final de campeonato.