Tag: Emma Thompson

  • Crítica | Cruella

    Crítica | Cruella

    Navegando na onda de live actions da Disney que adapta seus clássicos para novas versões, Cruella de Craig Gillespie mira remontar a história da Cruella De Vil, vilã do clássico 101 Dálmatas, como uma espécie de anti-heroína mal compreendida, tal qual ocorreu com Malévola anos antes. O filme protagonizado por Emma Stone é estiloso, tem uma edição semelhante aos populares videoclipes da MTV típicos dos anos 90, e se vale de uma trilha cheia de sucessos do rock e do pop para exibir a história de Estella, uma garota que ainda na infância, em 1964, perde sua mãe em um momento de confusão com a Baronesa (Emma Thompson).

    Narrado em primeira pessoa pela protagonista, o filme da um salto de dez anos e apresenta a personagem se dedicando ao sonho de ser estilista tal como a Baronesa, alguém que a antagoniza. Além disso, Estela passa o restante do tempo em trambiques com dois ladrões que conhece ainda criança, após se tornar órfã.

    O roteiro é simples. Apresenta-a negando a própria identidade, pintando seu cabelo bicolor de preto e branco, como era no desenho original de 1961, como um disfarce, fingindo-se de normal. Mostra o trauma sofrido ao lado da mãe e, lógico, trata de uma história de vingança de personagens bem parecidos. Porém, em nenhum momento ela é pintada como uma mulher má, maquiavélica ou algo que o valha, por mais que hajam algumas sugestões disso durante a história.

    Os aspectos negativos englobam a narração extremamente expositiva e irritante que Stone protagoniza. Além do excesso de efeitos digitais ao mostrar os animais. O intuito de não colocar pets em risco faz com que o filme soe artificial. Os cães se encaixam mal em cena, não tem consistência, parecem bonecos. Sob esse aspecto, o filme não fica bom nem quando é comparado ao recente A Dama e o Vagabundo, feito direto para o streaming no Disney +, com um orçamento mais enxuto.

    Além da questão visual, há outros elementos que comprometem a suspensão de descrença dentro da trama. No intuito de vingar sua mãe que morreu sendo acusada de roubar, Estella resolve roubar para sobreviver, trazendo a estranha mensagem de que a natureza de sua família é a contravenção. Outro grave pecado é fazer o publico simpatizar pela personagem e depois nos levar a acreditar que ela maltratou e assassinou os cães, para somente depois mostrar que isso era um despiste. Tudo é bastante inverossímil e barato e piora em perspectiva quando se percebe o amontoado de clichês que rodeiam os personagens periféricos.

    Apesar da beleza dos figurinos, cenários e fotografia do filme (afinal, se o foco narrativo é na moda, é preciso sim cuidar de aspectos de imagem do longa), e do desempenho carismático de Stone,  o texto não acompanha isso. Nada faz crer que a personagem da Baronesa, com os olhos meticulosos de uma estilista, não perceberia o ardil de Estella-Cruella. O passado da personagem central apela para a melancolia, e ainda se acovarda em unir o seu drama com a velha condição de filiação maldita, que piora ao ser comparada com a fracassada tentativa de Cruella em soar dicotômica.

    Thompson ao menos entrega uma boa vilã, mas o resto do elenco é sub aproveitado, incluindo ai Mark Strong que parece mais um substituto a Stanley Tucci no começo da carreira, como o bom mordomo inglês, outro jargão do cinema moderno. Cruella erra muito na pretensão. Seu texto é simples mas apegado demais a formulas. Tenta embalar sua história com músicas e narrações como as obras de Martin Scorsese e como foi com o recente Coringa, mas não tem peso ou consistência para sustentar essas comparações. Ao contrário, parece um pastiche de uma personagem icônica.

  • Crítica | Um Ato de Esperança

    Crítica | Um Ato de Esperança

    Fiona Maye e seu parceiro Jack estão claramente em crise conjugal, vivem um relacionamento onde um ignora o outro em nome de suas profissões – ela juíza, muito bem classificada e ele um professor – e já no início do filme de Richard Eyre isso é utilizado como base na historia contada pelo roteiro de Ian McEwan, e que é baseado no livro do mesmo. A personagem de Emma Thompson está envolta em um caso familiar, tema que é a especialidade de sua vara, e sua decisão  em um caso de separação de gêmeos siameses mexe com a opinião pública. Não bastasse seu trabalho estafante, seu par, interpretado por Stanley Tucci declara com todas as palavras que não está satisfeito com o pé que a relação dos dois está.

    O chamado a aventura de Um Ato Esperança demora a acontecer, e enquanto a trama real presente na sinopse não ocorre, se assiste a deterioração do casamento da eminente juíza, em uma brincadeira narrativa que desdenha da mesma por ter como trabalho resolver imbróglios familiares mas sem conseguir resolver os seus próprios.

    O filme não é explicito, mas discorre sobre um drama bem comum a vida da mulher moderna, que não aceita ser dependente do marido ou de qualquer outro tipo de homem, e que tem como desafio conduzir sua vida pessoal em paralelo com seu trabalho, e mostra uma personagem bastante humana e passível de erros. O caso posterior a que se debruça envolve uma criança com leucemia, que tem chance de ter uma transfusão de medula, mas que é impedida por seus familiares Testemunhas de Jeová de o fazer, e isso gera nela um conflito mental severo.

    Tecnicamente a obra de Eyre é bastante correta. Fotografia, montagem, trilha são corretas, não atrapalham o andamento da trama, e o roteiro se desenrola sabiamente de modo gradual, permitindo assim que o principal aspecto positivo do filme se destaque, no caso, Thompson, que entrega uma atuação muito emocional, embora  seja contida e sem nenhum overacting. Aos poucos, se desenrola o caso, e a juíza passa a visitar Adam (Fionn Whitehead), o rapaz  que precisa da transfusão, e os dois se envolvem emocionalmente, ao ponto dela começar a opinar sobre o que seria melhor para o rapaz.

    O desenrolar deste relacionamento suscita discussões sérias, como qual é o limite das autoridades judiciais e como elas devem interferir nos casos julgados, além de estabelecer uma discussão moral (mas não moralista) de como se deve ou não respeitar os preceitos religiosos e a liberdade de crença, e o caso ético posto diante da mulher faz até seu grande problema pessoal deixar de ser tão urgente, embora obviamente ainda a atinja a questão de seu casamento estar falindo. O final é um pouco atrapalhado, e contradiz boa parte da construção mais madura e menos emocional, a melancolia faz o filme perder um pouco de sua força, mas a atuação de Thompson prossegue ótima mesmo com isso, assim como a escada que Tucci faz para a heroína da trama, e mesmo que não seja o melhor dos finais, ele soa lógico, e levanta elementos de discussão importante, a respeito dos limites religiosa e sobre a falência da instituição casamento.

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  • Crítica | Johnny English 3.0

    Crítica | Johnny English 3.0

    Johnny English 3.0 mostra um novo retorno do personagem satírico de Rowan Atkinson, em um exercício engraçado e despretensioso nesse terceiro capítulo. Mais uma vez a nação britânica está em perigo e novamente o espião é chamado à ativa, por conta da ação de um hacker que revela a identidade de todos os agentes secretos da ativa. Por conta disso, o serviço secreto fictício do MI 7 chama seus homens de confiança aposentados, e English curiosamente é o mais novo e mais estabanado dentre os veteranos.

    Há claramente uma evolução no quadro do personagem, Johnny se torna professor primário e ensina às crianças técnicas de super espiões ao invés de aulas comuns. Elas desarmam bombas, brincam com disfarces, fogem da sala por meio de cordas, ou seja, o roteiro de William Davies deixa claro que a ideia é deixar um legado para as novas gerações, estabelecendo como preferencial o comportamento Old School, fortalecido por todo o aparato que ronda English, já que por se tratar de um vilão que rouba dados via internet, toda a ação do filme precisa ser analógica e não tecnológica, dando assim uma bela desculpa para as piadas físicas.

    David Kerr está mais acostumado a fazer televisão e por incrível que pareça isso é um ponto a favor do longa, pois a maior parte dos elementos cômicos se equilibram como nos shows de comédia sitcom, sem deixar de lado uma trama um pouco mais séria. O comportamento meio tonto de Atkinson é só um dos elementos engraçados, não é o único e essa é outra força da obra. Isso facilita simpatizar pelo filme, é fato que as cenas sem o protagonista não são tão legais quanto as que ele está, mas a exploração humorística não é tão forçada.

    A volta à ação varia em tons de glória e discrição, e aqui os personagens periféricos parecem mais realistas, levando em conta obviamente toda a parte fantástica que envolve a mitologia do personagem de paródia. Olga Kurylenko e Emma Thompson embarcam no humor rasgado e funcionam como escada para alguns momentos memoráveis de Atkinson. A dinâmica que ele estabelece com o elenco é ainda melhor construída que o visto em O Retorno de Johnny English, quando tinha Rosamund Pike e Gillian Anderson, ou seja, o que já era legal cresce aqui.

    Johnny English 3.0 é mais elaborado que o primeiro e se leva menos a sério q o segundo, sendo o mais equilibrado da trilogia, quase maduro apesar de conter os números de comédia típicos da carreira e filmografia de Atkinson. Tudo isso resulta numa comédia bem feita e que brinca com os clichês de Missão: Impossível – Efeito Fallout, Agente da U.n.c.l.e. e com o Bond de Craig, sobretudo Skyfall e Spectre, embora seu tom fuja de qualquer crítica social mais sisuda.

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  • Crítica | Pegando Fogo

    Crítica | Pegando Fogo

    Pegando Fogo - poster

    No final da década de 90, o mundo foi infestado de reality shows de tudo quanto é espécie, mas foi ao final da primeira década dos anos 2000 e posteriormente em seus anos seguintes que um determinado tipo de reality ganhou bastante notoriedade: os de culinária. Pode-se dizer, com certeza, que programas como Hell’s Kitchen, Kitchen Nightmares (ambos estrelados pelo difícil Chef escocês Gordon Ramsey) e ultimamente Masterchef (com edições em centenas de países), foram, sem dúvida, inspirações para Pegando Fogo, que, com o perdão do trocadilho, é um prato cheio para quem gosta desse tipo de programa. Embora não haja informações a respeito, nota-se claramente a influência desses programas por toda a concepção da fita, e é justamente esse o maior demérito de Pegando Fogo. Tudo que você já viu, pelo menos uma vez, está lá, e pior, como se fosse um compêndio dos realities, porém com uma história de fundo, porque, vamos lá, se trata de um filme, certo?

    Bradley Cooper vive o renomado, mas esquecido, Chef Adam Jones. Jones fez muito sucesso sendo chef em Paris, o que lhe rendeu duas estrelas Michelin, o ponto mais alto da carreira de um chef. Acontece que as drogas, a bebida e uma vida desregrada acabaram por jogar Jones na sarjeta, fazendo com que ele retornasse à América com o intuito de começar de novo. Para tanto, aplicou uma penitência em si mesmo: trabalhar num restaurante onde ele pudesse abrir um milhão de ostras, para, depois, retornar à Europa, buscando sua terceira estrela.

    O primeiro ato é marcado por cenas interessantes e que rendem bons momentos, já que chegando à Europa, Jones percebe que angariou muitos desafetos e até as pessoas mais próximas o odeia, o que lhe força a fazer um tour por ambientes gastronômicos nem um pouco renomados e sem nenhuma pompa em busca de pessoas talentosas com a finalidade de montar uma equipe que lhe ajude a voltar a ser o que era. Mas primeiro, o protagonista precisa convencer o filho de seu antigo mentor, Tony, (Daniel Brühl) a lhe dar um restaurante. E mais, provar a todo custo que está livre da bebida e das drogas. A partir daqui, o filme se perde muito em sua qualidade e enredo.

    Pegando Fogo retrata de forma precisa situações vividas em reality shows de culinária. Desde o chef procurando falhas nos pratos de outros restaurantes, assim como em Kitchen Nightmares, passando pela maneira grosseira de tratar seus subordinados, as incontáveis explosões de raiva de Hell’s Kitchen, até a maneira didática de Masterchef. E isso cansa, uma vez que o público já está acostumado com esse tipo de coisa. Até as tomadas de câmera são idênticas, exceto por um único momento, onde a cozinha trabalha em um belo, mas rápido, plano sequência.

    O diretor do longa, John Wells, é produtor por ofício e trabalhou em diversas séries conhecidas do público, como E.R., West Wing e, mais recentemente, Shameless, mas na cadeira da direção atuou somente em alguns episódios das duas primeiras. Sua pouca experiência dirigindo programas voltados para a televisão não foi suficiente para se aventurar no cinema, e justo em um filme que aborda o tema mais comum e famoso no meio televisivo, o que é extremamente irônico. Ainda que a direção tente criar um ambiente confortável ao espectador, o roteiro de Steven Knight traz uma reviravolta no início do terceiro ato que ajuda a superar em parte tudo que o filme teve de ruim até então, uma vez que passa a prender a atenção do espectador. Porém, infelizmente, tal recurso apresenta um anticlímax e apenas tem o intuito de amenizar toda a situação ali vivida por Jones e trazer um final feliz para a história, o que é uma pena.

    E não podemos esquecer as atuações de Bradley Cooper, sempre competente, ainda que em filmes fracos, e de Daniel Brühl, que, infelizmente teve seu talento desperdiçado. E o filme ainda conta com Sienna Miller e com participações especiais de Alicia Vikander e Uma Thurman.

    De qualquer forma, Pegando Fogo claramente é um filme que não busca inovar um assunto tão bem retratado na televisão. É como se fosse aquela banda que sempre toca as músicas que os fãs querem ouvir. Olhando sob esse prisma, você não irá se revoltar. Vai até apreciar. Mas para o cinema, é apenas mais um filme. E só.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | Homens, Mulheres e Filhos

    Crítica | Homens, Mulheres e Filhos

    Homens-Mulheres-Filhos

    O acesso à internet utilizando computadores pessoais, tablets e celulares demonstra o alcance da informação nos dias de hoje. Boa parte das interações humanas é atualmente mediada pela rede – provavelmente por uma conexão sem fio – e por algum sistema eletrônico. Uma rede mundial conhecida pela população, e utilizada em demasia para busca de necessárias informações sobre como viver melhor, e pelo vício inerente a qualquer atividade humana.

    Homens, Mulheres e Filhos, sexto longa-metragem de Ivan Reitman, é adaptado do romance de Chad Kultgen, conhecido pelos romances retratando as relações – principalmente, sexuais – dos Estados Unidos. A obra traça um panorama de personagens inseridos neste moderno mundo contemporâneo onde a comunicação virtual é uma realidade paralela ao nosso cotidiano.

    A primeira cena do longa-metragem apresenta o espaço e a sonda Voyager, parte de um projeto da NASA criado em 1977 para estudar outros planetas. Em 2013, a sonda foi o primeiro objeto a sair do sistema solar. O famoso cientista Carl Sagan foi responsável pela seleção de diversas informações terrestres com o intuito de comunicar com outros seres. Estas informações são apresentadas em uma narrativa em off como base comparativa entre a vastidão do Universo e a importância da Terra, uma casca insignificante perante o infinito.

    Uma teia de personagens é apresentada diante desta era virtual. São homens, mulheres e adolescentes que mal se comunicam e utilizam o meio virtual como projeção de suas frustrações, sejam elas sexuais, como ocorre com o primeiro personagem a surgir em cena, Don Truby, um pai que acessa sites de pornografia online no computador do filho; familiares, quando Patricia Beltmeyer monitora ativamente os passos da filha, Brandy; ou utilizando-se de um meio para conquistar lucro e fama, como faz a mãe de Hannah Clint ao criar um site para a publicação de ensaios semi nus de sua filha; entre outros personagens que, em maior ou menor escala, utilizam a internet para dar vazão a seus vícios ou desvios emocionais e sexuais.

    O roteiro transforma tais elementos de maneira redutiva, fazendo cada personagem uma representação de um vício, com situações que beiram a fatalidade iminente. Relações que são alteradas pelo curso de outras vidas, demonstrando que nem pais, nem filhos têm a orientação adequada para adaptar-se a estes novos tempos. Trata-se de uma maneira extremamente dramática que enfatiza o lado negativo da relação virtual. Seria ela a base ou parte da justificativa para os duros tempos atuais.

    Sendo uma ferramenta utilizada diariamente pela grande parcela da população mundial, torna-se evidente, através de observação direta, que o mundo virtual apresenta elementos positivos e negativos. O roteiro parece calculado para ser excessivamente dramático e, dada a ênfase no lado negativo das relações e destes mundos paralelos, um tanto panfletário.

    Para fundamentar as histórias apresentadas, o bonito texto de Carl Sagan, Pálido Ponto Azul, é citado em cena e está presente no começo e no fim da trama. Um recurso para demonstrar de maneira explícita um enredo que o público já compreendeu, a saber: devemos ter consciência de como estamos lidando com as relações humanas tanto no interior familiar como no cotidiano externo.

    Em obras anteriores de Reitman, mesmo apresentando histórias contemporâneas ásperas, como a do vendedor de cigarros sem moral; da escritora de young adult que ainda vive como adolescente; do amor como uma fuga da realidade; e da gravidez na adolescência, o diretor e seus parceiros roteiristas sempre trabalharam enredos que variam tensões positivas e negativas, compondo um estilo agridoce e bem equilibrado.

    É inegável que as tramas apresentadas possuem uma base real, mas a concentração de tantos personagens exibindo seus vícios, parecendo desconhecer informações, análises, estudos e diversos elementos sobre a mudança de estruturas que a rede virtual trouxe, transforma o roteiro em um exagero calculado para provocar uma espécie de choque e de ruptura.

  • Crítica | Walt nos Bastidores de Mary Poppins

    Crítica | Walt nos Bastidores de Mary Poppins

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    Durante 20 anos, Walt Disney (Tom Hanks) tentou adquirir os direitos de Mary Poppins, da escritora australiana P.L. Travers (Emma Thompson), que sempre se recusou a vendê-los receando que Disney fizesse “um de seus desenhos bobos”. Entretanto, a crise financeira faz com que ela tenha que negociar. Desta forma, Travers viaja até os Estados Unidos e passa a trabalhar juntamente com a equipe escolhida por Walt Disney para que Mary Poppins chegue às telas. Minuciosa e com muita má vontade, ela começa a encontrar problemas de todo o tipo. Como o contrato lhe dá o direito de cancelar a cessão dos direitos caso não concorde com a adaptação, Disney e sua equipe precisam aceitar seus caprichos para que a produção saia do papel.

    O título nacional não poderia ser mais impreciso. Provavelmente no intuito de facilitar a vida da maioria dos espectadores que não faz ideia de quem seja Mr. Banks — personagem de Mary Poppins —, conseguiram errar duplamente ao rebatizar o filme. Primeiro porque Walt Disney não é o protagonista, como o título faz pensar; segundo porque não se passa nos bastidores de Mary Poppins, mas sim antes do início de sua produção, mais especificamente durante a escrita do roteiro adaptado. No entanto, esse é o menor dos problemas do filme.

    O excesso de licença poética é, sem dúvida, o maior problema. Ao contrário do que é mostrado, Disney e Travers nunca tiveram um relacionamento amigável. Na realidade se odiavam publicamente, não só antes, mas principalmente após o lançamento do filme — não, Travers não aprovou o resultado final, diferentemente do que o desfecho lacrimoso do filme quer fazer acreditar. Ela odiou o filme e se arrependeu pelo resto da vida por ter cedido os direitos a Disney.

    Tom Hanks encarna o papel de um senhor simpático porém muito diferente da realidade, já que Disney sempre foi conhecido por seu temperamento competitivo, quase hostil. Travers, reconhecidamente uma senhora de temperamento difícil, é retratada como uma solteirona ranzinza e “do contra”, bem menos amarga e intragável do que como definiam seus próprios familiares, e mais humanizada pela interpretação de Emma Thomson. Percebe-se aí o “efeito Disney” dos personagens, minimizando tanto os aspectos negativos de suas personalidades quanto o conflito entre dois temperamentos difíceis.

    As conversas entre Travers, o roteirista Don DaGradi (Bradley Whitford) e os músicos Richard e Robert Sherman (Jason Schwartzman e B.J. Novak) certamente não tiveram o mesmo tom divertido e quase gracioso mostrado no filme. Além disso, o roteiro quer induzir o espectador a acreditar que a intransigência de Travers quanto à cessão dos direitos não se devia às suas reservas quanto à padronização da indústria cinematográfica — a autora não queria que Mary Poppins fosse apenas mais um filme padrão Disney. Com uma quantidade excessiva — e irritante — de flashbacks, o roteiro insiste que sua intransigência tinha algo a ver com um trauma do passado. Os trechos da infância de Travers, que se alternam com sua estadia em Los Angeles, são por vezes confusos e comprometem a fluidez da narrativa, e parecem nitidamente escritos com a intenção de emocionar o público a cada dez minutos.

    Enfim, o filme serve mais como um lembrete de que Mary Poppins está prestes a comemorar 50 anos do que como uma obra comemorativa dessa data, já que essa nova produção não é nem marcante nem memorável.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Crítica | Dezesseis Luas

    Crítica | Dezesseis Luas

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    Grandes produções hollywoodianas sempre geram outras produções similares, normalmente inferiores ao seu produto original. Quando Harry Potter fez sua estreia nas telas, outras adaptações vindas de uma narrativa de um cenário mágico surgiram. Os Seis Signos da Luz, Eragon e Eu Sou o Número Quatro são apenas alguns exemplos: são obras que podem ter alguma qualidade em seu texto original, mas que foram formatadas para ter semelhança com a narrativa do bruxo.

    O sucesso da saga Crepúsculo também trilhou um caminho para o gênero com produções similares; ainda que, desde seu primeiro filme, tenha dividido o público entre os que mal recereberam a história, que tornou-se certo motivo de riso, e outra grande parcela de público que lhe trouxe sucesso mundial.

    Dezesseis Luas, criado por Kami Garcia e Margaret Stohl, seria a nova história de amor e magia da vez, tentando aproveitar-se de um espaço deixado pelo fim da saga dos vampiros após cinco filmes.

    Mesmo que sua trama tenha semelhanças com aquela do casal Bella Swan e Edward Cullen, a produção é mais voltada para uma narrativa adolescente que insere tais elementos mágicos como um elemento a mais para não desenvolver somente uma história amorosa. Em vez do patético apresentado por Stephenie Meyer, com personagens românticas em excesso e vampiros brilhantes, a dupla de escritores desta saga optou por seguir uma linha mais tradicionalista. Lena Duchannes, a personagem central, é deslocada, esconde os segredos habituais, mas carrega uma ironia carismática que faz dela e de seu par romântico, Ethan Wate, um ponto de ligação com o público. Ao contrário do casal da outra saga, composto por um vampiro apático e uma mocinha sem sal.

    Mesmo que não haja intenção nenhuma em ser uma história espetacular, observar duas personagens centrais divertidas e agradáveis é um bom caminho para uma história que não tem nenhuma intenção de ser mais do que uma aventura formada para um público juvenil.

    Dentro de seus parâmetros de história juvenil com um ambiente apoiado pela magia e história de amor que envolve maldições e bruxaria, a trama é funcional e deve atingir em cheio o gosto do público. Mesmo que o tradicional não apresente nada novo, a base tem mais sustentação que diversas outras histórias maiores.

    Some a isso atores consagrados sendo coadjuvantes bem à vontade com suas personagens, como se se divertissem ao fazer uma trama mais leve que não exigisse muito de seu talento, ao mesmo tempo que os deixa mais visíveis na mídia.

    Ao optar pelo caminho seguro de uma trama óbvia, seu resultado se fez bem equilibrado e agradável, entregando uma aventura juvenil com tudo que o público deseja ver.