Tag: Gillian Anderson

  • Crítica | O Retorno de Johnny English

    Crítica | O Retorno de Johnny English

    Lançado em 2011, oito anos após o primeiro Johnny English, o longa de Oliver Park (O Retrato de Dorian Gray) começa mostrando o Sir antes do nome do protagonista cortado, em um papel de registro que tem ali a ficha do agente secreto britânico. O Retorno de Johnny English tem um um péssimo nome traduzido, ainda mais em comparação com o original (Johnny English Reborn, ou seja, Renascido), e começa mostrando o caracter de Rowan Atkinson já caído em desgraça, após um escandaloso caso em Moçambique, quando ainda era membro do MI7.

    Retirado no Tibete, ele tenta ser mais sereno, mais forte e preparado para tudo, mas claramente isso não ocorre.  A abertura revela um caráter diferente, de utilizar o aporte financeiro de uma forma que faça o longa parecer caro, mesmo que a diferença entre os orçamentos de ambos os filmes não ser tão grande – aproximadamente cinco milhões a mais para esse segundo.

    Tal qual foi com M em 007, o mandatário do agente é uma mulher. Pegasus tem o nome Pamela Head e é feita por Gillian Anderson, a mesma que protagonizava Arquivo X. A personagem já deixa claro no inicio de sua participação que os tempos são outros, que machismo, carros e armas high tech estão no passado e isso soa até engraçado em alguns poucos pontos do filme, apesar de claramente a parte cômica se dedicar mais a explorar o trauma de English com o seu passado.

    Esse segundo filme tenta repaginar as piadas de humor físico, conseguindo soar um pouco mais acertado nesse ponto que o primeiro. Os opositores do herói, a organização secreta de nome Vortex emula bem os vilões de 007 e mostram uma conexão com o passado do protagonista, inclusive fazendo uma conexão estranha como Nunca Mais Outra Vez, filme de James Bond fora da cronologia, com Sean Connery, que Atkinson participou. Os easter eggs como a roupa em comum entre os dois personagens de Atkinson funcionam muito bem para quem é fanático por James Bond.

    Os momentos finais contem algumas reviravoltas, superando a perda do fôlego que o filme teve pela parte do meio. Ao menos, O Retorno de Johnny English tem uma capanga icônica,  a senhora chinesa interpretada por Pik Sen Lim, que tem em si a mesma piada que se repete ao longo do filme e faz lembrar o tipo de comédia abobalhada que Atkinson costuma fazer, conseguindo se superar na continuação da franquia.

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  • Crítica | Johnny English 3.0

    Crítica | Johnny English 3.0

    Johnny English 3.0 mostra um novo retorno do personagem satírico de Rowan Atkinson, em um exercício engraçado e despretensioso nesse terceiro capítulo. Mais uma vez a nação britânica está em perigo e novamente o espião é chamado à ativa, por conta da ação de um hacker que revela a identidade de todos os agentes secretos da ativa. Por conta disso, o serviço secreto fictício do MI 7 chama seus homens de confiança aposentados, e English curiosamente é o mais novo e mais estabanado dentre os veteranos.

    Há claramente uma evolução no quadro do personagem, Johnny se torna professor primário e ensina às crianças técnicas de super espiões ao invés de aulas comuns. Elas desarmam bombas, brincam com disfarces, fogem da sala por meio de cordas, ou seja, o roteiro de William Davies deixa claro que a ideia é deixar um legado para as novas gerações, estabelecendo como preferencial o comportamento Old School, fortalecido por todo o aparato que ronda English, já que por se tratar de um vilão que rouba dados via internet, toda a ação do filme precisa ser analógica e não tecnológica, dando assim uma bela desculpa para as piadas físicas.

    David Kerr está mais acostumado a fazer televisão e por incrível que pareça isso é um ponto a favor do longa, pois a maior parte dos elementos cômicos se equilibram como nos shows de comédia sitcom, sem deixar de lado uma trama um pouco mais séria. O comportamento meio tonto de Atkinson é só um dos elementos engraçados, não é o único e essa é outra força da obra. Isso facilita simpatizar pelo filme, é fato que as cenas sem o protagonista não são tão legais quanto as que ele está, mas a exploração humorística não é tão forçada.

    A volta à ação varia em tons de glória e discrição, e aqui os personagens periféricos parecem mais realistas, levando em conta obviamente toda a parte fantástica que envolve a mitologia do personagem de paródia. Olga Kurylenko e Emma Thompson embarcam no humor rasgado e funcionam como escada para alguns momentos memoráveis de Atkinson. A dinâmica que ele estabelece com o elenco é ainda melhor construída que o visto em O Retorno de Johnny English, quando tinha Rosamund Pike e Gillian Anderson, ou seja, o que já era legal cresce aqui.

    Johnny English 3.0 é mais elaborado que o primeiro e se leva menos a sério q o segundo, sendo o mais equilibrado da trilogia, quase maduro apesar de conter os números de comédia típicos da carreira e filmografia de Atkinson. Tudo isso resulta numa comédia bem feita e que brinca com os clichês de Missão: Impossível – Efeito Fallout, Agente da U.n.c.l.e. e com o Bond de Craig, sobretudo Skyfall e Spectre, embora seu tom fuja de qualquer crítica social mais sisuda.

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  • Review | American Gods – 1ª Temporada

    Review | American Gods – 1ª Temporada

    Em parceria com o canal Starz, Bryan Fuller e Michael Green começaram a adaptar a obra de Neil Gaiman, Deuses Americanos, nesta primeira temporada de American Gods, os showrunners dão vazão a uma introdução desse mundo fantástico onde deuses mitológicos antigos tem de lidar com novas divindades e entes de adoração do homem moderno. Este é apenas o tomo um da história, e esse aspecto introdutório pode desagradar o público não acostumado a literatura e narrativa de Gaiman, e a princípio terá em torno de três temporadas para adaptar o livro em si – uma continuação está sendo terminada neste momento, pelas mão do próprio autor.

    O começo mostra a emigração da Europa para o Novo Mundo, primeiro no passado e depois na atualidade, tendo ambas encarnações uma proximidade grande com o barbarismo, tanto nos invasores piratas quando nas figuras de Wednesday (Ian McShane) e Shadow Moon (Ricky Wittle). Após ser liberto da prisão, Shadow se vê obrigado a fazer uma viagem de avião, mesmo se sentindo desconfortável e decide fazer o restante de trajeto de carro, movido pelo receio de voar depois de um pouso forçado por mal tempo. Em seu caminho rumo ao enterro de sua falecida esposa, Laura (Emily Browning) ele é novamente abordado por Wednesday, que lhe oferece um trabalho estranho, e o mesmo só aceita depois de um embate com Mad Sweeney (Pablo Schreiber), um sujeito estranho, que representa os leprechauns da cultura irlandesa.

    A dicotomia dos primeiros momentos está entre na recém adquirida liberdade de Shadow e a invasão que ocorre em solo americano. Apesar de as atmosferas serem completamente diferentes, o rumo das duas trajetórias tem em comum alguns pontos, seja na primeira, mais mundana com a perda de entes queridos do protagonista- ou a quase conclusão dessa perda, uma vez que se trata também da condição de mortos vivos-  ou a conclusão mais universal com o conflito entre os divinos. Apesar de ter um norte diferente para ambas situações cada uma dessas serve como o início para uma outra jornada, que por sua vez, ajuda a igualar gradativamente mortais e divindades no mesmo jogo, tendo até um resgate dessas questões mais pessoais, que obviamente são elevadas ao patamar de importância do que é levantado por Wednesday.

    O primeiro contato de Shadow e Mad Sweeney é visceral e imaturo com provocações e brigas irracionais e baseadas em clichês bobos, que redundam em questões básicas de orgulho e soberba, questões essas muito comuns no cotidiano do homem adulto comum, expondo ali a diferença básica entre o sujeito ordinário e o divino, ainda que um tenha sido baseado no outro e criado a imagem e semelhança desses. Essa mistura enriquece demais a trama, ajudando até em outro aspecto do programa, como a questão de vida e morte, tratadas também como entes semelhantes, seja pelas divindades de Anubis (Chris Obi), deus egípcio do pós-morte ou pela nova trajetória da undead Laura Moon. O entrave entre os dois é um dos pontos altos de Git Gone, quarto episódio desse ano inicial.

    A postura de Shadow é blasé, como um elemento fora daquele novo mundo, agindo como um personagem orelha mas que dá de ombros para todo aquele novo mundo que se apresenta, resignado pelo conjunto de sensações que começou a sentir ainda em cárcere. Isso evidencia um dos pontos altos da série, a despeito até dos vários problemas de roteiro, as atuações do elenco em geral vão muito boas, não só de Whittle, mas também Browning, que desenvolve um papel adulto e nada maniqueísta, utilizando a dramaticidade da atriz para muito além de sua zona de conforto, enquanto seu esposo consegue reunir em si tanto as características de um neófito recém chegado a um novo cenário e um guerreiro predestinado e astucioso, que ainda não tem total consciência disso.

    O texto que Fuller comanda faz lembrar muito os defeitos de outro produto seu, Hannibal, no sentido de postergar o confronto, deixando as partes dramáticas interessantes da literatura original sempre para depois, ainda que essa situação seja menos gritante neste American Gods. De positivo, há o acréscimo da figura mitológica e repaginada de Hefesto/Vulcano, deus greco-romano responsável pelas armas olímpicas, mas que tem um final estranho em comparação com o lema do programa – deuses são reais se acredita neles – mas que ainda assim é apresentado sob uma égide madura e sucinta. Os episódios posteriores já se dedicam mais a trabalhar o background de algumas pessoas, ainda que soem repetitivos às vezes. O interesse do público geral é retomado perto do final, quando se discute um banquete a Odin.

    Os 59 minutos de Come to Jesus, deveria amarrar algumas pontas soltas, além de referenciar diretamente ao tal plot da temporada, que envolve não só Wednesday e seres antigos, mas também os novatos, em especial a figura da mídia, executada brilhantemente por Gillian Anderson – que faz papéis como os de I Love Lucy, Ziggy Stardust, Marilyn Monroe e Judy Garland – da tecnologia, executado por Bruce Langley, além do misterioso Mr. World (Crispin Glover) que aparece pouco, ainda que seu papel seja enorme na trama principal.

    Nesse ínterim, algumas encarnações de divindades aparecem, entre elas, múltiplas de Jesus Cristo, ser este já referenciado anteriormente em uma sequência com os mexicanos atravessando a fronteira com o país de Donald Trump, em busca de uma vida melhor, recebidos é claro por calorosos assassinos que chacinam os latinos. Esse cuidado em retratar várias facetas da mesma figura de adulação serve de comentário irônico a tantas denominações cristãs e pseudo cristãs, que reclamam para si uma versão própria das escrituras canônicas da Bíblia Sagrada, pervertendo a letra fria ao seu bel prazer, para basicamente adequá-las aos seus preconceitos e ideias tacanhas, assim como também referencia aos crentes mais tolerantes e preocupados com o bem estar do próximo.

    A identidade de Wednesday é secundária, ainda que haja alguma pompa ao se revelar isso – mesmo com todos os indícios anteriores, como o uso de corvos para sempre se referir a ele e a referência obvia do dia da semana que o batiza – e mais na união entre a Mídia, Tecnologia e Mr. World, além é claro de Bilquis (Yetide Badaki), personagem apresentada anteriormente, mas esquecida desde o segundo episódio. Essa união é curiosa, pois reúne veteranos e novatos no panteão em torno do mesmo adversário, que é Wednesday.

    Há uma cena, no começo do season finale que resume bem o caráter desta temporada. A dupla de protagonista e mentor ficam a espera do discurso de Anansi (Orlando Jones) explicar a origem de alguns dos seres mágicos (em especial Quilbis) e a posição deles é confortável, sentados de roupão em cadeiras suntuosas, envoltos em uma atmosfera de luxo, desfrutando de uma história cheia de requintes, tanto em detalhes quanto em curvas dramáticas, mas sem um fim programado, sem um desfecho pensado. O espectador se sente exatamente neste ponto, apreciando um produto que lança mão de uma linguagem tipicamente cinematográfica, com uma fotografia e direção de arte belíssimas (mesmo com alguns efeitos defasados pelo claro orçamento típico da TV) com o rompimento de inúmeros paradigmas conservadores, mas ainda assim com uma trama que não resulta em conflitos maiores, deixando sempre o clima para um momento posterior. Hannibal não teve um fim programado, e terminou sem conclusões para a grande maioria de seus arcos, e a sensação de déjà vu se aproxima perigosamente do lançado em American Gods, que parece ser esticada exatamente para capturar a atenção dos maníacos por séries fantásticas, que tem muito a apreciar ainda, mas que certamente não tem um total agrado em sua experiência como público por faltar o fechamento desses enredos.

    https://www.youtube.com/watch?v=tLZrqTxmdv0

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  • Crítica | Minha Irmã

    Crítica | Minha Irmã

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    Dirigido por Ursula Meier, a produção Minha Irmã optou por um caminho não convencional para narrar uma história única. Na trama, Simon, de 12 anos, passa o dia numa estação de ski na Suiçam roubando bens de turistas e usando o dinheiro para poder levar comida para a casa da irmã mais velha onde vive.

    Escrito pela diretora em parceria com três colaboradores, o roteiro enfrenta um problema grave de unidade durante a narrativa, a história incomum precisaria trabalhar melhor o protagonista. Faltam cenas que complementem as ações da subtração dos pertences que Simon nunca irá ter, fazendo alusão a sua infância perdida e ao seu caráter em formação. Focar somente nas cenas em que ele rouba por roubar não contribui muito a obra. Ele e sua irmã são grandes personagens que acabaram sendo desperdiçados por uma narrativa boba.

    Apesar de se manter fiel a esta proposta uma boa parte do filme, nas vezes onde escorrega, a história perde a força que poderia ter. Por mais que opte por menos dramaticidade, as ações pontuais não fazem muito sentido depois da repetição extrema e a falta de ligação entre elas. O roteiro só se salva depois da reviravolta do meio pro final da história, onde a qualidade aumenta bastante e deixa-o muito mais interessante, pena que somente na parte final.

    A direção de Ursula Meier conseguiu se manter coesa dentro da narrativa, porém o filme perde a força que poderia ter tido. Não faz sentido a utilização em excesso dos tempos mortos, eles soam jogados, sem um propósito maior eles não enriquecem, pelo contrário, dá uma noção de que a sua direção tenta emular um realismo que não coube para a história, para tentar uma originalidade que ela não possui. A direção ganha força nas partes do filme onde o protagonista interage com a irmã.

    Kacey Mottet Klein não comprometeu o filme, porém o jovem só contribuiu com alguma qualidade nas cenas com outros atores. Nas poucas vezes em que aparece, Léa Seydoux mantém a boa atuação. Destaque ainda para a curta participação especial de Gillian Anderson.

    A edição é de longe a pior coisa do filme. Nelly Quettier deixou uma narrativa lenta, sem ritmo, enfadonha que pode deixar o espectador sem interesse. Ela só se destaca nas cenas entre Simon e a irmã. A fotografia de Agnés Godard contribui pouco. Mesmo estando em um local paradisíaco como uma estação de ski durante o inverno, os enquadramentos não são bonitos, por mais que tentem metaforizar a vida pobre do protagonista, eles seriam muito mais interessantes se mostrassem o contraste de uma estadia feliz em um local bonito com a sua vida vazia e marginal.

    Minha Irmã só vale a pena para quem quiser assistir um filme diferente que se passa em uma ambiente não usual. No mais, é esquecível.

    Texto de autoria de Pablo Grilo.

  • Review | Arquivo X – 10ª Temporada

    Review | Arquivo X – 10ª Temporada

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    Arquixo X foi um dos fenômenos televisivos da década de 90. A série criada por Chris Carter, em 1993, ainda é referência para muitos seriados da TV americana que encontram material suficiente para se inspirar. Durante mais de 200 episódios, a série fez de tudo. Abordou a maioria das lendas urbanas existentes no planeta, trouxe à tela serial killers, desde os que iam somente atrás de mulheres até aqueles que raptavam crianças. Revisou o místico e o fantástico, seitas, viajou pelo tempo, além de apresentar ao espectador diversos episódios especiais, seja em preto e branco, noir, recheados de humor, fazendo sátiras ou episódios escritos e dirigidos pelo elenco principal. Mas, além de tais episódios, a série trazia um conceito interessante, qual seja, uma história principal conhecida entre os fãs como mitologia e que fez a série se sustentar por 9 temporadas graças às ótimas histórias, às performances de David Duchovny e Gillian Anderson e do ótimo time de coadjuvantes que completava o time.

    Fazendo um breve resumo da trama, o agente do FBI, Fox Mulder (Duchovny), quando criança, presenciou sua irmã sendo abduzida por alienígenas. Com a ideia de que um dia a encontraria, chegou ao bureau para trabalhar no Arquivos X, uma pequena e desacreditada divisão que investigava casos inexplicáveis. O trabalho de Mulder começou a chamar atenção e seus superiores recrutaram a novata agente e cientista Dana Scully (Anderson) para contestar o trabalho de Mulder, com a finalidade de por fim à divisão. Nesses quase 10 anos em que trabalharam juntos, a dupla se viu dentro de uma conspiração muito maior do que poderiam imaginar, envolvendo alienígenas, o próprio governo e uma possível colonização que consistia na alteração genética dos seres humanos. Mulder foi julgado militarmente por seus supostos crimes e terminou a série, em 2002, foragido ao lado de Scully.

    Com a onda de reboots e remakes que o cinema vem enfrentando, não demoraria muito para que a referida onda chegasse à televisão, reabrindo, assim, os Arquivos X. Apostando num formato bastante diferente ao qual estava acostumada, a série retornou com apenas 6 episódios, dividindo opiniões. Hoje, sem dúvida, parece que sim, foi pouco. De qualquer forma, o formato em poucos episódios foi adequado de acordo com Duchovny e Anderson, que são bem conhecidos por Californication e The Fall, respectivamente.

    Nessa temporada, a premissa da mitologia, além de envolver um Mulder enclausurado em sua casa e uma Scully que retornou ao seu ofício na medicina, apresenta Tad O’Malley (Joel McHale), um apresentador de TV que adora expor ao seu público as mais diversas conspirações. Aparentemente, O’Malley, descobriu aquela que seria a maior e mais letal das conspirações e que está em contato direto com a verdade que Mulder sempre buscou e que demonstra, na realidade, as reais intenções do governo ou de quem estaria por trás dela. Infelizmente, como dito, 6 episódios não foram suficientes para contar o que aconteceu, uma vez que essa premissa foi tratada em apenas 2 episódios, o primeiro, My Struggle, apresentando o ponto de vista de Mulder, e My Struggle II, o último episódio, mostrando o ponto de vista de Scully, que se encerra sem um ponto final (marca registrada dos finais de temporada da série), demonstrando que, de fato, a série poderá continuar.

    THE X-FILES: L-R: Mitch Pileggi, David Duchovny, Gillian Anderson and William B. Davis. The next mind-bending chapter of THE X-FILES debuts with a special two-night event beginning Sunday, Jan. 24 (10:00-11:00 PM ET/7:00-8:00 PM PT), following the NFC CHAMPIONSHIP GAME, and continuing with its time period premiere on Monday, Jan. 25 (8:00-9:00 PM ET/PT). ©2015 Fox Broadcasting Co. Cr: Frank Ockenfels/FOX

    Talvez essa 10ª temporada tenha se preocupado mais em mostrar aos fãs que a chama e o espírito da série ainda se mantêm, o que foi amplamente abordado nos outros quatro episódios. Por conta dos adventos do primeiro capítulo, não demorou para que o Diretor Assistente Skinner (novamente vivido por Mitch Pileggi) reabrisse os Arquivos X, colocando Mulder e Scully de volta à ativa. E o que vemos a partir disso é Arquivo X na sua pura essência. Embora os anos tenham se passado, Mulder tenha ganhado um pouco de peso (além de reconhecer que é um homem de meia-idade) e Scully, algumas rugas, a série parece que nunca deixou a televisão. A clássica abertura está presente, sem nenhuma alteração; os monstros da semana; as frases clássicas; as lanternas; os episódios confusos cujos desfechos não ficam muito claros; e a trilha sonora característica de Mark Snow. Tudo está lá. E, com isso, a urgência de Chris Carter em querer demonstrar nove temporadas em apenas seis episódios, tenha prejudicado um pouco o andamento dessa temporada, que aparentou ficar um pouco fora do compasso.

    Contudo, o saldo foi muito promissor, uma vez que podemos adicionar dois episódios para o hall de episódios clássicos da série, sendo um deles o terceiro episódio, Mulder & Scully Meet the Were-Monster, que remete ao lado lúdico e descarado (com uma homenagem ao falecido diretor Kim Manners) e o quarto episódio, Home Again, que mostra Scully lidando de forma emocionante com uma dura situação em sua vida pessoal. A temporada destaca mais Dana do que Mulder, uma vez que, em praticamente em todos os episódios, a agente precisa lidar com a falta de seu filho William. O arco de William, embora suspenso, esteve presente, inclusive no primeiro e segundo episódio da nova temporada, respondendo de forma sutil a uma dúvida que, por muito tempo, foi chave para as abduções e experiências genéticas envolvendo mulheres e seus bebês na série.

    Um outro ponto destacável é que a dupla não é mais um casal, fato que dividiu opiniões, deixando parte dos fãs felizes, uma vez que a base da série sempre foi os dois atuando como parceiros, demonstrando por diversas vezes um carinho e uma preocupação intensa um pelo outro, algo sabiamente mantido nessa temporada. Possivelmente, é o porquê dos dois estarem separados: assim, a carga de dramaticidade foi ligeiramente maior, acusando de forma clara que aquele sentimento que sempre tiveram um pelo outro, muito antes de ficarem juntos, ainda existe.

    Arquivo X parece que voltou para ficar por mais algum tempo na TV e os fãs só têm a ganhar. A audiência tem dado essa chance à série, uma vez que os números nos EUA foram muito expressivos, sendo que, no Reino Unido, essa nova temporada foi a que mais deu audiência ao Channel 5 desde Celebrity Big Brother que foi ao ar em 2011. O primeiro passo foi dado, resta agora a série apresentar uma futura evolução.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Review | Hannibal – 3ª Temporada

    Review | Hannibal – 3ª Temporada

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    Em junho deste ano, os fãs de Hannibal foram pegos de surpresa com o cancelamento repentino do programa, três semanas após a estreia da terceira temporada. Mesmo com uma extensa campanha virtual dos fãs para salvá-la, através da hashtag #SaveHannibal, a NBC não voltou atrás, e seu criador, Bryan Fuller, não conseguiu outros canais que pudessem abrigá-la. O gosto amargo da descontinuação desta vez seria o principal tempero na cozinha macabra do canibal.

    Após o massacre que marcou o final da segunda temporada da série, baseada na obra de Thomas Harris, Hannibal (Madds Mikkelsen) é desmascarado e enfim torna-se um fugitivo da polícia, escondendo-se em Florença, na Itália, ao lado de sua cúmplice Bedelia Du Maurier (Gillian Anderson). Como Dr. Fell, seu disfarce em terras carcamanas, Lecter conquista admiração de todos do Studiolo como curador e tradutor da obra de Dante Allighieri. Ao realizar a arguição necessária para atuar na instituição, o ex-psiquiatra, em um belo recurso de fotografia, surge em um púlpito explicando sua tese enquanto uma ilustração do próprio demônio é projetada sobre sua figura, transformando-os em um só. Como estudo, nada mais irônico que tenha sido escolhida a primeira parte da Divina Comédia de Dante, Inferno, como perícia teológica e o propósito de sua estadia no país de origem do poeta.

    HANNIBAL -- "Dolce" Episode 306 -- Pictured: (l-r) Mads Mikkelsen as Hannibal Lecter, Gillian Anderson as Bedelia Du Maurier -- (Photo by: Ian Watson/NBC)

    A terceira temporada destaca-se das anteriores por não só mostrar um período tão aguardado pelos espectadores, a captura do protagonista, dando andamento à cronologia original, como também por ser o extrato mais fiel dos romances de Harris. À exceção de O Silêncio dos Inocentes, todos os restantes tiveram parte de seu universo explorado: Dragão Vermelho, Hannibal e Hannibal – A Origem do Mal. Fomos apresentados à origem de Lecter na Lituânia; a sua fuga para a Itália; à busca de Mason Verger (Joe Anderson, precedido por Michael Pitt) por seu maior inimigo; à estrutura familiar de Will Graham (Hugh Dancy); ao casamento de Margot Verger (Katharine Isabelle), como sempre desconstruído pela produção, e muitos outros. Cada momento específico é rearranjado pela produção em diferentes espaços temporais, desconstruindo a narrativa original de forma não-linear e dando pistas sobre o real e o imaginário. Uma estrutura enfatizada pelo Palácio das Memórias conceituado por Hannibal para armazenar as lembranças mais vívidas que se tornam indistinguíveis.

    Dividido em três atos, como em uma tragédia clássica, o terceiro ano comprova por que são necessários tempo e equilíbrio para a construção de um argumento. O primeiro ato, que mantém a tradição de cada episódio intitulado com um prato da gastronomia – italiana, já que se passa neste país – mostra-se extremamente demorado, com sete episódios para alcançar um desfecho: a prisão de Lecter. Já o segundo, após um salto cronológico de três anos, é apressado e turbulento, embora com doses cavalares de expectativa, já que estamos falando de um novo momento na série, a composição do primeiro denso antagonista: Francis Dolarhyde, ou o Grande Dragão Vermelho.

    HANNIBAL -- "The Wrath of the Lamb" Episode 313 -- Pictured: Mads Mikkelsen as Hannibal Lecter -- (Photo by: Brooke Palmer/NBC)

    Richard Armitage, cujo maior papel até então fora Thorin na franquia O Hobbit, captou excelentemente o espírito do Dragão e produziu o melhor personagem de toda a franquia. É assustador como o Fada do Dente, como também foi conhecido pela operação de sua captura, se vê como indivíduo para alcançar sua provação. O processo de tornar-se o Dragão Vermelho é o mesmo modus operandi de Lecter como canibal: ambos veem na carne uma transmutação e matam para tornar-se alguém. Tal é a identificação do primeiro pelo segundo que o serial killer procura seu mentor, intentando reconhecimento. Como João Batista batizando o Messias e identificando seu mestre com base em uma paixão mútua: o gosto pela modificação através da morte.

    A proximidade, no entanto, não se expande, mas é definitiva para causar estragos. A cena da invasão à residência de Will, afetado pelo caso e pelo retorno ao convívio da amizade destrutiva de Hannibal, possui a mesma carga dramática envolvendo familiares inocentes que a da adaptação anterior, Dragão Vermelho. A aparência de Dolarhyde também impressiona: o lábio leporino, a dentadura e a grande tatuagem da pintura O Grande Dragão Vermelho e a Mulher Vestida no Sol, de William Blake destacam-se na caracterização do personagem e formam sua base destrutiva, como um figurino que veste para conquistar a força do Dragão – o design ideal, como diria Graham. Pontuada não só pela aversão à sua própria aparência, mas também pela intimidação devido ao trauma da figura feminina, a esquizofrenia arcaica do vilão, como tipificação e estudo complexo da psicologia da personagem, demonstra por que Thomas Harris é um romancista de grandes virtudes.

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    Já o terceiro ato encerra o ciclo entre Will e Hannibal, que enfim retomam os laços negados pelo detetive em um abraço, símbolo maior de cumplicidade, afetuosidade e – por que não? – de amor. Amamos nossos inimigos com a mesma potência que amamos nossas pessoas queridas. O reconhecimento no outro além das nossas diferenças é um ato de amor. Se analisarmos a obra como uma desconstrução do universo apresentado nos livros, o final pretendido produz sentido.

    Com tantos núcleos, tramas e subtramas, é uma tarefa difícil avaliar a temporada como um todo, com altos e baixos disputando espaço em 13 episódios que deveriam ser enxutos. Hannibal encerrou-se de forma abrupta para quem esperava, até com um resquício de esperança, uma nova adaptação com Clarice Starling, que ao lado de Hannibal tornou-se icônica. Logo após o cancelamento, houve a vontade explícita de Fuller em produzir um filme com um final para o seriado, mesmo que a ideia contrarie o desfecho e o de seus personagens. Uma pena, já que o final, melodramático e lacrimoso, põe fim a qualquer motivo de espera por novos pratos da alta gastronomia que por ventura pudessem saciar a fome de seus espectadores.

    Texto de autoria de Karina Audi.

  • Crítica | O Último Amor de Mr. Morgan

    Crítica | O Último Amor de Mr. Morgan

    O Último Amor de Mr. Morgan

    Um filme é produzido por duas razões: Hoje em dia, pra fazer dinheiro em especial, mas também para contar uma história que precisa ser contada. A trama precisa ser especial o suficiente a um monte de elementos, uma montanha deles na verdade, e contudo, para um filme sobreviver e se destacar, às vezes a sorte ajuda o que não consegue reunir nem em um montinho de terra os seus valores. Aqui, a sorte ou um ótimo elenco, caso de O Último Amor de Mr. Morgan, com Michael Caine, um raro drama americano que encontra na leveza e nos explícitos subtextos culturais da cidade de Paris a essência do filme, muitas vezes traduzida pelos próprios cenários da produção de frescor virginal. Virginal porque celebra o último amor de um homem, como qualquer outro filme celebraria o primeiro, e esse é o único trunfo desta contradição em forma de filme. A intenção, infelizmente, não faz o projeto.

    Que tal juntar as duas pontas da vida?, pensou a arte. As duas gerações? Sim, dois universos, duas línguas diferentes. Na dificuldade de uma falar a outra, o filme encontra então uma metáfora no desafio de um homem ancião ter alguma chance junto a um coração juvenil – mais do que vice-versa. A ótica da história tende a ter impacto social, mas desiste e se limita a consequências unilaterais, brotadas do entrelaçamento inevitavelmente temporário, e mais uma vez nos romances fadados à morte, de forma depressiva e à base de memórias que jamais enriquecem a película. Seria exagero afirmar que Up, da Pixar, foi o mais feliz representante moderno desses “milagres termodinâmicos” que unem alvorada e rugas, apenas por ser divertido e sábio do mesmo jeito, ao mesmo tempo? Tempo de refletir, isso sim.

    Só que encontrar um sentido para a enorme despretensão de O Último Amor de Mr. Morgan é como achar algum para a vida, seja um significado definitivo ou não. O filme inteiro parece uma introdução a ele mesmo, isso explica o porquê dele ser uma contradição. O filme tem o fôlego de um homem de 90 anos e comete o pecado de não se aprofundar no sensível (!) personagem homônimo de Caine, afetado pelo recente óbito de sua esposa e por questões relacionadas, seja o respeito total que tem por sua inusitada parceira, na pele de Clémence Poésy, seja a difícil relação do homem com seus filhos. Relações inconsistentes demais, e resoluções ainda mais cruas para um filme que tenta ser tão emocional.

    O que era pra ser um duplo estudo de dois seres humanos diferentes, mas análogos no modo como encaram a vida, vira um mosaico de relações verborrágicas e quebradiças e que não encontra tempo nem espaço para refinar a nobre proposta interpretada por uma boa atriz, Poésy, e um ator no auge de sua sabedoria cênica. Em certo momento, nem mesmo Paris consegue mais mascarar um contexto tão desidratado, pois toda história seca quando, antes do final, já não merece mais ser contada. Aparentemente, a cineasta Sandra Nettelbeck ainda é incapaz de fazer seus filmes falarem por ela.

    Vladimir Nabokov com seu Lolita sabe a dor de cabeça e o preço que o laço entre gerações produz. Mas nos últimos filmes de Bergman e Ozu, os vovôs pegaram as duas pontas da velhice humana e fizeram essa união, selando seus presentes realizados por mais de quarenta anos a nós, fiéis revisores da verdadeira imortalidade artística. De fato, a breve história do Sr. Morgan deixa um grande gosto de quero mais na boca, afora suas boas atuações, e acaba sendo senão tão efêmero e esquecível quanto é a maioria das almas na reta final da estrada, onde não existe mais semáforos: às sombras, o caminho é livre sob a luz.

  • Review | Hannibal – 2ª Temporada

    Review | Hannibal – 2ª Temporada

    hannibal-season-2A morte é um dos elementos primordiais nos trabalhos de Bryan Fuller. Suas séries, se não tiveram sequências e o êxito esperados, ao menos exploraram argumentos interessantes e característicos. Misturando drama e humor negro, Dead Like Me, exibida de 2003 a 2004, tem como plot o cotidiano de Georgia “George” Lass (Ellen Muth), uma garota sem amigos, com problemas com a família, e que, depois da própria morte, tem uma segunda chance de fazer as ações deixadas em aberto. Em 2004, após o cancelamento da série, Fuller criou Wonderfalls, comédia que foca a vida de Jaye Tyler (Caroline Dhavernas), atendente de loja que conversa com os objetos vendidos no estabelecimento. A trama só durou uma temporada. Pushing Daisies – Um Toque de Vida, exibida de 2007 a 2009, é o seu trabalho de maior fôlego, mas foi cancelado após duas temporadas em razão da baixa audiência na época. Lembrando um conto de fadas moderno – novamente utilizando-se de uma referência ao mundo fantástico –, a história tem como foco um confeiteiro (Lee Pace) com o dom de trazer os mortos de volta à vida.

    Sua mais recente produção, a adaptação para a televisão da aclamada franquia literária Hannibal, utiliza-se da morte. Porém, ao contrário dos trabalhos anteriores de Fuller, o tema é abordado de forma grotesca, retratando o famoso psiquiatra canibal, criado por Thomas Harris em sua série de romances, como um bestial caçador de carne humana, muito mais visceral do que o personagem evocado nas adaptações cinematográficas. Longe das grades e da desconfiança pública, Hannibal Lecter – excelentemente interpretado por Mads Mikkelsen – percorre os corredores do escritório policial do FBI e realiza reuniões gastronômicas em sua mansão sem oferecer o menor sinal de suspeita, o que confirma seus poderes de fingimento e influência.

    Exibida de fevereiro até o fim do último mês, a segunda temporada dá sequência aos eventos do gancho apresentado no ano anterior, com Will Graham (Hugh Dancy) preso, acusado de ser o Estripador de Chesapeake, mostrando a luta para provar sua inocência. Longe de Hannibal, Will começa a recordar-se do fatídico episódio em que foi hipnotizado ante a morte de Abigail Hobbs (Kacey Rohl). Pouco a pouco, a imagem do alce negro, que simboliza o torpor de seu estado psicológico, antropomorfiza-se, remetendo à figura de seu maior inimigo.

    Ao longo dos treze episódios – nomeados por pratos culinários japoneses, seguindo a mesma tendência da temporada anterior, que homenageou a gastronomia francesa – Lecter, ainda que tenha escapado da apuração de provas físicas em sua residência, continua sendo o alvo de Will, cuja única aliada, Beverly Katz (Hettienne Park), é a primeira a perder no bizarro jogo de destruição causado pelo monstro. Em seguida, o doutor Frederick Chilton (Raúl Esparza) também é envolvido, tornando-se a nova vítima, não necessariamente fatal. Todos os personagens que se colocam contra o psiquiatra são prejudicados, demonstrando que ele não sente pena ou remorso e age com violência até mesmo quando no tédio.

    Diferentemente da temporada anterior, que trabalhou a disfunção mental de Will promovida pelo assassinato de Garret Jacob Hobbs (Vladimir Jon Cubrt) e aprofundada pelo poder de persuasão de Lecter, esta é centrada na relação de Graham com seu psiquiatra. Os dois personagens entram em um embate psicológico onde um joga contra o outro em busca de proveito próprio, embora não haja sinais claros em tela que comprovem a trapaça envolvida.

    Focando em demasia os dois personagens centrais, não houve espaço para trabalhar os outros núcleos. Não há na história menção à influência de Lecter sobre a doutora Alana Bloom – Caroline Dhavernas, presente, quase dez anos depois, em outro trabalho de Fuller –, evidenciando que o relacionamento dos dois teve mais função de um possível triângulo amoroso em companhia de Will do que caracterizado por um resistente trabalho de manipulação usado pelo psiquiatra. Além disso, Jack Crawford (Laurence Fishburne) revela em seu semblante uma espécie de conformismo que não combina com um chefe de seção do FBI voltada à investigação de serial-killers. Esse fator pode ser explicado pela doença de sua mulher, Bella (Gina Torres), o que pode ter afetado o seu trabalho investigativo, mas não justifica a falta de poder perante todos os movimentos narrativos que o envolvem.

    A temporada transcorre bastante irregular ao dar mais destaque aos ganchos e revelações, além do choque pelo choque, do que à coerência do roteiro em si. Reapresentando personagens tidos como mortos, a série peca em não aprofundá-los como deveria, prejudicando recursos que poderiam ser mais bem explorados, caso da volta da trainee Miriam Lass (Anna Chlumsky), quase esquecida pouco tempo depois de ser salva, e o retorno de Abigail no season finale, injustificável por si só. Além disso, a reaberta investigação do real assassino de Chesapeake – ainda não encontrado – e a consequente libertação de Will foram desenvolvidas em sete episódios, uma demora que não se explica senão pela justificativa de criar mais suspense em algo desnecessário.

    A inclusão dos irmãos Margot (Katharine Isabelle) e Mason Verger – interpretado de forma magnânima por Michael Pitt (Os Sonhadores) –, trouxe, porém, maior energia à trama. Mason futuramente será um dos maiores inimigos de Lecter, e a sua participação na série foi muito fiel à cronologia de Hannibal, quarto livro de Harris no qual aparece. Mason é um autêntico psicopata que bebe lágrimas de pessoas que massacra, e não demonstra nenhum tipo de piedade, nem com a irmã, subjugada por ele. Até mesmo a aterradora frase “você deveria ter aceitado o chocolate”, proferida pelo personagem em uma dúbia mas mórbida cena que o envolve junto a Margot, é lembrada, comprovando a mesma força aterrorizante que o personagem manifesta no romance.

    Enquanto falha no roteiro, a série continua primorosa em relação ao caráter técnico. Os tons lavados da fotografia em planos abertos salientam a artificialidade do lugar, distanciando o público daquele universo. Enfatizando as cores em cenas de crime como uma paleta – semelhante a do serial-killer que aparece no início da temporada –, mostra-se a beleza no horrendo. A morte como linguagem da arte.

    Há a impressão de que os roteiristas não querem que a história alcance os eventos de captura do canibal para, assim, focar com mais intensidade a vida do doutor longe das grades. Talvez para mascarar uma história executada de maneira disforme, apelam para toda a sorte de situações, chegando ao incabível. Um plot twist e o aparecimento, no final, da doutora Bedelia Du Maurier (Gillian “Agente Scully” Anderson) como personagem importante à trama não são o bastante para dar credibilidade necessária a um roteiro que carece de maior apuro. Se confirmados os boatos de que a próxima temporada da série contará com a participação de Francis Dollarhyde, o antagonista de Dragão Vermelho, livro que sucede os eventos de prisão do psiquiatra canibal, será preciso haver mais desenvoltura para que a história não pereça em qualidade como sofreu anteriormente.

    Com o risco de ser fechada ao final da primeira temporada e quase agoniando outro possível cancelamento ao final desta, a série de Bryan Fuller ultrapassou a meta de alcançar a realização de um terceiro ano da produção, algo que o produtor nunca teve em mãos. Que a morte, tão presente em suas obras, se mantenha apenas como temática e não se transpareça em seu campo de ideias e argumentos.

    Texto de autoria de Karina Audi.

  • Review | Arquivo X – 1ª Temporada

    Review | Arquivo X – 1ª Temporada

    X-Files-Season-1

    Lançada em setembro de 1993, Arquivo X foi testemunha ocular de uma década em que muitas séries televisivas foram consumidas pelo tempo enquanto poucas se tornaram fundamentais para uma nova era na década seguinte.

    Até mesmo os fãs mais agressivos da série são capazes de admitir a queda da qualidade nas últimas temporadas e o desfecho mediano. Porém, é inegável a competência do início do seriado que, em pleno horário nobre, apresentou uma estrutura ousada cuja temática envolvia uma trama central de conspiração entre governo americano e extraterrestres. Além de explorar tudo o que parecia inexplicável, apoiava-se no estranho e no bizarro através de roteiros bem conduzidos.

    Criado por Chris Carter – que nunca repetiu o mesmo sucesso – os arquivos do título são uma divisão do FBI alimentada pela crença de um único agente federal, Fox Mulder que, na infância, presenciou a abdução de sua irmã mais nova. Fato que modificou sua maneira de agir, transformando-o em um homem obsessivo em descobrir a verdade por trás de fenômenos inexplicáveis.

    Arquivo X surgiu em época analógica e, mesmo assim, produziu uma gama de fãs que consumiam revistas especializadas, escreviam suas próprias histórias dos agentes federais e participavam de fóruns virtuais sobre a série. No Brasil, a revista Sci-Fi News foi uma de suas  maiores fontes, ainda que o país sempre tenha assistido à série com atraso em relação aos Estados Unidos, com episódios dublados na Fox ou na Record. De qualquer maneira, não havia quem ficasse impassível diante dos casos semanais.

    A trama tem início quando a agente Dana Scully é convocada para acompanhar Mulder nas investigações do Arquivo X. Uma tentativa dos superiores de reprimir os impulsos do agente, tentando introduzir uma agente federal que possuísse fundamentos científicos e que fosse além das teorias pouco ortodoxas do parceiro. A discrepância entre a dupla produziu um dos grandes casais icônicos da televisão, com uma impressionante química entre uma personagem irreparavelmente crente no impossível e outra cuja base é a ciência.

    A primeira temporada introduz os elementos que consagraram a série. Os 24 episódios desta temporada equilibram-se na trama mitológica – que transforma o governo americano em uma máquina de produzir mentiras – e em investigações que, supostamente, não possuem solução. Episódios conduzidos com boas doses de mistério e investigação policial.

    Vinte anos após seu lançamento, alguns argumentos, demasiadamente apoiados em temas da década de 90, perderam a força e sentido aparente. Tais situações não caem no completo ridículo devido à química do casal e aos bons diálogos. Por outro lado, tramas ainda funcionais no presente e roteiros bem fundamentados resultam em episódios primorosos que ainda hoje mantêm um frescor assustador.

    A série se tornou tão grandiosa que, ainda hoje, mantém-se no ar com reprises em diversos canais pelo mundo. Tal é a sua importância que, das mãos de J. J. Abrams, originou-se Fringe, uma herdeira que bebe da fonte destas investigações e, a partir da segunda temporada, escancara suas homenagens ao original.

    No país, a Fox foi responsável pelo lançamento das nove temporadas da série. Na época, a chegada de uma temporada completa era novidade para o mercado brasileiro. Infelizmente, algumas legendas eram recheadas de erros – concordância, digitação –, além de traduções que se modificavam no decorrer dos episódios e omissões nos textos que não situavam o local em que ocorriam as ações. Problema que impossibilita a compreensão total do público que não é fluente em inglês.

    Apesar de tais erros, a primeira versão do box, que ilustra este texto, se tornou um belo lançamento de uma época em que não havia contenção de gastos, o que facilitava que boas edições especiais surgissem no país. O digipack com luva metálica cobrindo a embalagem não se compara com a edição atual, econômica, sem o disco de extras. Um incômodo para aqueles que, além do material, prezam também pelo conteúdo gráfico.

    Boatos dizem que a série está nos futuros planos do estúdio para um lançamento em alta definição. Um merecido box para uma série cultuada.