Tag: cinema suiço

  • Crítica | Mulheres Divinas

    Crítica | Mulheres Divinas

    O ponto de partida do longa de Petra Biondina Volpe se dá em Woodstock e todo o conteúdo contestatório que veio do movimento ali instaurado. Logo depois se mostra o contraponto da rotina bucólica que aflige a dona de casa Nora (Marie Leuenberger), vivendo com sua família em uma cidade afastada, distante de toda a movimentação de uma metrópole. Seu status quo muda com a necessidade franca de lutar pelos direitos de voto das mulheres e é aí que o mote de Mulheres Divinas começa.

    O motivo da discórdia é ligado a uma mudança de postura com a dita delinquência juvenil, e enfim chega para as mulheres interioranas as discussões do movimento feminista à época, que já ocorriam nas vias urbanas. Há nesse filme um caráter semelhante ao de Sufragistas, filme de 2015, ainda que aqui a evolução do quadro seja melhor conduzido, reunindo sutilezas e nuances que o longa de Sarah Gavron não conseguiu reproduzir.

    A história se passa pela ótica de Nora, mas reúne também momentos específicos de outras questões comuns à mulher que vivia nos anos sessenta/setenta na Suíça, com direitos escassos ou quase inexistentes, sem falar na condição de silêncio imposta a todo o gênero, relegando as mulheres a função apenas de cordeiros obedientes e prontas para serem abatidas quando a benevolência dos seus maridos acabasse. Mesmo que isso seja discutível, a resignação da personagem principal tem um bom motivo para acontecer, para todos os efeitos a mensagem foi dada de maneira clara.

    Falta um pouco de pungência e gravidade a Mulheres Divinas. Os dramas ocorridos são pesados, mas as recepções das personagens analisadas são austeras demais, muito por conta da identidade suíça é claro, mas esse parecia ser um filme que precisaria ser mais quente e urgente do que foi conduzido. Ainda assim, sua temática e as repercussões nas vidas das mulheres são bem flagrantes, passando até pela intimidade sexual delas, com tabus que caíram graças ao combate ao conservadorismo infantil por parte da maioria dos homens. Obviamente que a luta mostrada no longa não se resume a isso, mas é curioso assistir como até em pequenas coisas a discussão e contestação conseguiu mudar.

    Acompanhe-nos pelo Twitter e Instagram, curta a fanpage Vortex Cultural no Facebook, e participe das discussões no nosso grupo no Facebook.

  • Crítica | Minha Vida de Abobrinha

    Crítica | Minha Vida de Abobrinha

    Ícaro é um garoto de 9 anos que responde pelo atípico apelido “Abobrinha”. Logo nos minutos iniciais acompanharemos sua vida sendo totalmente transformada pela súbita morte de sua mãe, fazendo assim com que o garoto seja transferido para um lar adotivo. Já dentro do orfanato, “Abobrinha” irá se deparar com diversas outras crianças marcadas cada qual por situações estruturais familiares complexas. Nota-se pela personalidade dos jovens em questão o quão afetados eles são, por suas respectivas condições e seus traumas traumas inerentes. Enquanto a mãe de Abobrinha padecia com o alcoolismo, o pai de seu amigo de internato, Simon, sofria de dependência química e assim por conseguinte vamos descobrindo aos poucos novos e dramáticos conflitos das outras tantas crianças residentes dali e suas particularidades.

    A animação tem um pouco mais de 60 minutos de duração, não é longa, porém, é incisiva em sua proposta. O esmero da produção é notoriamente incrível, principalmente pela sutileza com que temas tão delicados são abordados e transpostos para a tela. Os conflitos de cada personagem vão se revelando para o espectador aos poucos, de história em história, entre situações e diálogos sem que pra isso seja necessário um super didatismo narrativo. Ainda que se trate de uma obra que têm como carro de frente crianças como protagonistas, o enredo é bastante global e dono de uma linguagem singular, capaz de tocar, emocionar e conscientizar qualquer um — independente de idade ou afins.

    Outro grande atrativo da animação, foi a excelente decisão do diretor Claude Barras de  filmar tal história em Stop-Motion, solução hoje em dia raramente abordada. Stop-Motion (“movimento parado”) consiste-se em uma técnica de fotográfica que em sequência fotografa um mesmo objeto inanimado sob diversos pontos diferentes, criando assim uma ilusão de movimento.

    Minha Vida de Abobrinha concorreu esse ano ao Oscar de melhor animação, prêmio  que acabou sendo ganho por Zootopia: Essa Cidade é o Bicho. Este com certeza é um filme que merece bastante atenção e certamente merece ser visto, seja por seu tema, sua execução ou por  sua intenção. Uma animação que transcende diversos aspectos do gênero e nos brinda  com uma cálida e singular obra de arte.

    Texto de autoria de Tiago Lopes.

    Acompanhe-nos pelo Twitter e Instagram, curta a fanpage Vortex Cultural no Facebook, e participe das discussões no nosso grupo no Facebook.

  • Crítica | Minha Irmã

    Crítica | Minha Irmã

    SISTER-poster1

    Dirigido por Ursula Meier, a produção Minha Irmã optou por um caminho não convencional para narrar uma história única. Na trama, Simon, de 12 anos, passa o dia numa estação de ski na Suiçam roubando bens de turistas e usando o dinheiro para poder levar comida para a casa da irmã mais velha onde vive.

    Escrito pela diretora em parceria com três colaboradores, o roteiro enfrenta um problema grave de unidade durante a narrativa, a história incomum precisaria trabalhar melhor o protagonista. Faltam cenas que complementem as ações da subtração dos pertences que Simon nunca irá ter, fazendo alusão a sua infância perdida e ao seu caráter em formação. Focar somente nas cenas em que ele rouba por roubar não contribui muito a obra. Ele e sua irmã são grandes personagens que acabaram sendo desperdiçados por uma narrativa boba.

    Apesar de se manter fiel a esta proposta uma boa parte do filme, nas vezes onde escorrega, a história perde a força que poderia ter. Por mais que opte por menos dramaticidade, as ações pontuais não fazem muito sentido depois da repetição extrema e a falta de ligação entre elas. O roteiro só se salva depois da reviravolta do meio pro final da história, onde a qualidade aumenta bastante e deixa-o muito mais interessante, pena que somente na parte final.

    A direção de Ursula Meier conseguiu se manter coesa dentro da narrativa, porém o filme perde a força que poderia ter tido. Não faz sentido a utilização em excesso dos tempos mortos, eles soam jogados, sem um propósito maior eles não enriquecem, pelo contrário, dá uma noção de que a sua direção tenta emular um realismo que não coube para a história, para tentar uma originalidade que ela não possui. A direção ganha força nas partes do filme onde o protagonista interage com a irmã.

    Kacey Mottet Klein não comprometeu o filme, porém o jovem só contribuiu com alguma qualidade nas cenas com outros atores. Nas poucas vezes em que aparece, Léa Seydoux mantém a boa atuação. Destaque ainda para a curta participação especial de Gillian Anderson.

    A edição é de longe a pior coisa do filme. Nelly Quettier deixou uma narrativa lenta, sem ritmo, enfadonha que pode deixar o espectador sem interesse. Ela só se destaca nas cenas entre Simon e a irmã. A fotografia de Agnés Godard contribui pouco. Mesmo estando em um local paradisíaco como uma estação de ski durante o inverno, os enquadramentos não são bonitos, por mais que tentem metaforizar a vida pobre do protagonista, eles seriam muito mais interessantes se mostrassem o contraste de uma estadia feliz em um local bonito com a sua vida vazia e marginal.

    Minha Irmã só vale a pena para quem quiser assistir um filme diferente que se passa em uma ambiente não usual. No mais, é esquecível.

    Texto de autoria de Pablo Grilo.