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  • Review | Aquarius – 1ª temporada

    Review | Aquarius – 1ª temporada

    aquarius-posterUm ano após encerrar a jornada do escritor Hank Moody em Californication, David Duchovny estrela uma nova série, dessa vez pelo canal NBC. Criada por John McNamara, sua primeira produção, Aquarius, explora simultaneamente o final da década de 1960 nos Estados Unidos e enfoca o conhecido assassino serial Charles Manson.

    A produção se baseia livremente em acontecimentos reais e desenvolve personagens fictícios para ampliar sua trama ao acompanhar o detetive da polícia de Los Angeles Sam Hodiak, responsável pela investigação do desaparecimento de uma adolescente. Em companhia de um agente da Narcóticos que se torna seu parceiro em diversos casos, o paradeiro da garota leva diretamente a Charles Manson e sua conhecida família, o nome pelo qual era chamado o grupo de hippies que acompanhava Manson.

    A série explora tanto casos de investigação corriqueiros como o desenvolvimento de Manson e sua seita, a trama principal da série. Interpretado por Gethin Anthony (Games of Thrones), seu personagem não causa espanto nem mesmo empatia. Considerando que Manson se tornou famoso por sua transgressão das leis, falta maior empenho no roteiro em explorar esta faceta. Se imaginarmos que parte do público irá conhecer o assassino mais a fundo devido à série, sua caracterização se define como um louco que não apresenta um objetivo concreto a não ser se tornar um músico e viver em uma sociedade diferente daquela regida pela época. A mítica em torno de sua fama parece invadir o roteiro como se o público devesse saber de antemão tudo sobre a personagem.

    Do lado da lei, o Hodiak de Duchovny também é desequilibrado. Em alguns momentos, o ator entrega um personagem diferente do habitual, mais maduro e centrado, dando-nos a impressão de que o policial é dedicado ao trabalho e hoje sente cansaço pela burocracia. Em outros, parece reciclar o humor de Fox Mulder e Hank Moody com piadas encaixadas na hora certa que trazem à tona uma lembrança dissonante para o público, como se o ator não soubesse delimitar bem seu estilo próprio e as diferenças de cada uma de suas personagens.

    A série se torna mais funcional quando apresenta casos diversos investigados por Hodiak, representando uma tradicional série de investigação passada em uma época antiga. Quando Manson se torna o tema central, a trama nunca transparece urgência suficiente, parecendo mais um pano de fundo do que a estrela que deveria ser. Um conflito que torna a execução da série mediana. Mesmo que a ambientação seja bem composta e a trilha sonora utilize grandes clássicos da música, falta uma sustentação forte para a trama.

    O plano inicial do autor é desenvolver uma narrativa em seis temporadas que devem abarcar todo o fanatismo de Manson e sua trajetória. Porém, sem executar com qualidade sua trama principal, nem a boa ambientação da década de 1960 será suficiente para manter a série no ar. A temporada que começou com mais de cinco milhões de expectadores, terminou seu décimo terceiro episódio com pouco mais de 1 milhão. Uma queda significativa, ainda que tais números sejam parciais, não considerando quem assistiu à série no canal oficial da NBC.

    Com um inicio mediano, Aquarius não emplaca em seu primeiro ano, ainda que tenha uma história forte em potencial. Com o lançamento próximo de uma nova temporada de Arquivo X, é provável que a segunda temporada da série consiga manter-se no ar em parte graças à outra ou ser inteiramente eclipsada com a volta da personagem mais conhecida de Duchovny.

  • Review | Hannibal – 3ª Temporada

    Review | Hannibal – 3ª Temporada

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    Em junho deste ano, os fãs de Hannibal foram pegos de surpresa com o cancelamento repentino do programa, três semanas após a estreia da terceira temporada. Mesmo com uma extensa campanha virtual dos fãs para salvá-la, através da hashtag #SaveHannibal, a NBC não voltou atrás, e seu criador, Bryan Fuller, não conseguiu outros canais que pudessem abrigá-la. O gosto amargo da descontinuação desta vez seria o principal tempero na cozinha macabra do canibal.

    Após o massacre que marcou o final da segunda temporada da série, baseada na obra de Thomas Harris, Hannibal (Madds Mikkelsen) é desmascarado e enfim torna-se um fugitivo da polícia, escondendo-se em Florença, na Itália, ao lado de sua cúmplice Bedelia Du Maurier (Gillian Anderson). Como Dr. Fell, seu disfarce em terras carcamanas, Lecter conquista admiração de todos do Studiolo como curador e tradutor da obra de Dante Allighieri. Ao realizar a arguição necessária para atuar na instituição, o ex-psiquiatra, em um belo recurso de fotografia, surge em um púlpito explicando sua tese enquanto uma ilustração do próprio demônio é projetada sobre sua figura, transformando-os em um só. Como estudo, nada mais irônico que tenha sido escolhida a primeira parte da Divina Comédia de Dante, Inferno, como perícia teológica e o propósito de sua estadia no país de origem do poeta.

    HANNIBAL -- "Dolce" Episode 306 -- Pictured: (l-r) Mads Mikkelsen as Hannibal Lecter, Gillian Anderson as Bedelia Du Maurier -- (Photo by: Ian Watson/NBC)

    A terceira temporada destaca-se das anteriores por não só mostrar um período tão aguardado pelos espectadores, a captura do protagonista, dando andamento à cronologia original, como também por ser o extrato mais fiel dos romances de Harris. À exceção de O Silêncio dos Inocentes, todos os restantes tiveram parte de seu universo explorado: Dragão Vermelho, Hannibal e Hannibal – A Origem do Mal. Fomos apresentados à origem de Lecter na Lituânia; a sua fuga para a Itália; à busca de Mason Verger (Joe Anderson, precedido por Michael Pitt) por seu maior inimigo; à estrutura familiar de Will Graham (Hugh Dancy); ao casamento de Margot Verger (Katharine Isabelle), como sempre desconstruído pela produção, e muitos outros. Cada momento específico é rearranjado pela produção em diferentes espaços temporais, desconstruindo a narrativa original de forma não-linear e dando pistas sobre o real e o imaginário. Uma estrutura enfatizada pelo Palácio das Memórias conceituado por Hannibal para armazenar as lembranças mais vívidas que se tornam indistinguíveis.

    Dividido em três atos, como em uma tragédia clássica, o terceiro ano comprova por que são necessários tempo e equilíbrio para a construção de um argumento. O primeiro ato, que mantém a tradição de cada episódio intitulado com um prato da gastronomia – italiana, já que se passa neste país – mostra-se extremamente demorado, com sete episódios para alcançar um desfecho: a prisão de Lecter. Já o segundo, após um salto cronológico de três anos, é apressado e turbulento, embora com doses cavalares de expectativa, já que estamos falando de um novo momento na série, a composição do primeiro denso antagonista: Francis Dolarhyde, ou o Grande Dragão Vermelho.

    HANNIBAL -- "The Wrath of the Lamb" Episode 313 -- Pictured: Mads Mikkelsen as Hannibal Lecter -- (Photo by: Brooke Palmer/NBC)

    Richard Armitage, cujo maior papel até então fora Thorin na franquia O Hobbit, captou excelentemente o espírito do Dragão e produziu o melhor personagem de toda a franquia. É assustador como o Fada do Dente, como também foi conhecido pela operação de sua captura, se vê como indivíduo para alcançar sua provação. O processo de tornar-se o Dragão Vermelho é o mesmo modus operandi de Lecter como canibal: ambos veem na carne uma transmutação e matam para tornar-se alguém. Tal é a identificação do primeiro pelo segundo que o serial killer procura seu mentor, intentando reconhecimento. Como João Batista batizando o Messias e identificando seu mestre com base em uma paixão mútua: o gosto pela modificação através da morte.

    A proximidade, no entanto, não se expande, mas é definitiva para causar estragos. A cena da invasão à residência de Will, afetado pelo caso e pelo retorno ao convívio da amizade destrutiva de Hannibal, possui a mesma carga dramática envolvendo familiares inocentes que a da adaptação anterior, Dragão Vermelho. A aparência de Dolarhyde também impressiona: o lábio leporino, a dentadura e a grande tatuagem da pintura O Grande Dragão Vermelho e a Mulher Vestida no Sol, de William Blake destacam-se na caracterização do personagem e formam sua base destrutiva, como um figurino que veste para conquistar a força do Dragão – o design ideal, como diria Graham. Pontuada não só pela aversão à sua própria aparência, mas também pela intimidação devido ao trauma da figura feminina, a esquizofrenia arcaica do vilão, como tipificação e estudo complexo da psicologia da personagem, demonstra por que Thomas Harris é um romancista de grandes virtudes.

    dragão-vermelho-temporada-3

    Já o terceiro ato encerra o ciclo entre Will e Hannibal, que enfim retomam os laços negados pelo detetive em um abraço, símbolo maior de cumplicidade, afetuosidade e – por que não? – de amor. Amamos nossos inimigos com a mesma potência que amamos nossas pessoas queridas. O reconhecimento no outro além das nossas diferenças é um ato de amor. Se analisarmos a obra como uma desconstrução do universo apresentado nos livros, o final pretendido produz sentido.

    Com tantos núcleos, tramas e subtramas, é uma tarefa difícil avaliar a temporada como um todo, com altos e baixos disputando espaço em 13 episódios que deveriam ser enxutos. Hannibal encerrou-se de forma abrupta para quem esperava, até com um resquício de esperança, uma nova adaptação com Clarice Starling, que ao lado de Hannibal tornou-se icônica. Logo após o cancelamento, houve a vontade explícita de Fuller em produzir um filme com um final para o seriado, mesmo que a ideia contrarie o desfecho e o de seus personagens. Uma pena, já que o final, melodramático e lacrimoso, põe fim a qualquer motivo de espera por novos pratos da alta gastronomia que por ventura pudessem saciar a fome de seus espectadores.

    Texto de autoria de Karina Audi.

  • Review | Believe – 1ª Temporada

    Review | Believe – 1ª Temporada

    believe-posterBelieve é um seriado criado pelo vencedor do Oscar 2014, Alfonso Cuarón, junto a Mark Friedman e com direção executiva de J. J. Abrams. A trama acompanha Bo Adams (Johnny Sequoyah), uma menina com habilidades de difícil compreensão, entendimento e controle, como levitação, controle da natureza e premonição. Um grupo de pessoas interessadas nesses poderes persegue a menina, protegida até completar dez anos de idade. O único capaz de defendê-la é William Tate (Jake McLaughlin), um homem que está preso por um crime que não cometeu. Relutante, ele aceita o pedido dos que criaram a menina, para acompanhá-la e protegê-la dos que a caçam, contando com a ajuda do grupo liderado por Milton Winter (Delroy Lindo) e auxiliado por Channing (Jamie Chung).

    No piloto, a câmera de Cuarón é muito diversa da costumeira produção de seriados televisivos, e a impressão de cinema na tela pequena é a sua melhor definição. A linguagem faz toda a diferença: não há muita preocupação em explicar todos os pormenores; a história começa a partir do mistério episódico; não há tantas restrições à violência; a fotografia é soturna; e a câmera objeta ângulos de difícil execução para os padrões do seu canal de exibição, a NBC. A trama contém muito de espionagem e o velho jogo de gato e rato, onde um grupo caça e o outro tenta proteger a pequena menina dos olhos.

    A ligação entre Tate e Bo contém algo de misterioso até para os pares, e é muito curioso como ambos vão se lapidando. A garota, apesar da perseguição costumeira que sofre, se vê capaz de sonhar e de fantasiar como uma menina de sua idade, longe da ganância de “dominação global” de seus antagonistas. Até a puerilidade das motivações dos antagonistas é justificada, registrada, no início, através dos olhos da infante. No segundo episódio, Origins, a agente do FBI Elizabeth Ferrel (Trieste Kelly Dunn) é introduzida. A investigadora policial é encarregada no caso de “sequestro” e percebe que Bo é fruto de experimentos impostos pelas forças governamentais americanas. A personagem é inserida presenciando a ação de um dos outros experimentos paranormais em humanos. Um de seus superiores é Roman Skouras (Kyle MacLachlan), um dos elementos que tenta cooptar Bo – o que abre uma enorme gama de discussões a respeito do maniqueísmo presente nas ações dos opositores de Milton, inclusive sobre as intenções dele.

    Com o desenrolar dos fatos, é evidenciado que a disputa entre Roman e Milton não é tão maniqueísta quanto o grupo de proteção quer demonstrar no começo. Os dois rivais sentam-se calmamente em um café e quase não fazem menção a sua rivalidade pessoal, somente discutem a importância da menina e a possível exploração de suas habilidades únicas. O idealismo de mudar o mundo era compartilhado por ambos quando ainda trabalhavam juntos no caso de Nina Adams (Ella Rae Peck), a ex-vidente que teria dado à luz a Bo e que, desde antes de sua morte – consequência do uso excessivo de seus poderes paranormais -, precisava deixar a herdeira aos cuidados de terceiros.

    Os poderes de Bo se manifestam de modo parecido com o que ocorria com Nina, materializando-se de modo mais visível quando a menina está sob pressão ou sofrendo de ansiedade. Por isso o jogo de gato e rato a faz estar mais propensa em utilizar suas habilidades de modo pouco seguro – algo que claramente incomoda os dois lados interessados. O desenrolar da perseguição é prolongado demasiadamente, de modo a tornar algumas sequências um tanto enfadonho e desnecessário.

    A Orchestra, organização encabeçada por Roman Skouras, acha-se no direito de reaver Bo, não por considerá-la um objeto de exploração, mas para tentar adequá-la, uma vez que foi o grupo que a ajudou a desenvolver seus poderes. Com o desenvolvimento da trama, Milton faz seu antigo parceiro perceber que não são a única organização com o intuito de capturar os indivíduos com habilidades sobre-humanas. O nível de paranoia dentro do grupo de Skouras aumenta de modo vertiginoso, fazendo com que o líder acredite que há sabotagem e vazamento de informações por parte de Zoe Boyle (Kerry Condon) para Winter.

    Próximo do final, surge uma variação de Bo, Daniella Sullivan (Mia Vallet), uma versão mais velha e ressentida da menina que guarda consigo a vontade de destruir a criança, a Orchestra e tudo o que envolve os experimentos com os superdotados. A tentativa da perturbada mulher é apagar todo e qualquer rastro do que fizeram a ela, muito por causa de seu passado, que envolve o assassinato de seu irmão John em um evento acidental, demonstrando que seu destempero emocional é um fator perigoso para alguém desequilibrado emocionalmente possuir os poderes que as duas mulheres especiais carregam.

    A ingenuidade de Daniella é equivalente a de sua contraparte juvenil, ainda que a mulher seja movida pelo ódio discriminado àqueles que a fizeram ser o que é. Sua sede por destruição faz com que Roman procure Milton para conseguir alcançar novamente a menina. Graças a informações vazadas pelo próprio mandante da Orchestra, Bo parte finalmente com Tate, que é a única pessoa em quem ela confia, retornando para aquele com quem tem laços sanguíneos. Se para Bo a confiança é que a move, Daniella relaciona sua mente e seus problemas à carência e até aos ciúmes de Bo, por esta ser a “preferida” de Skouras. Sua vontade de provar ser única torna-se uma obsessão. Uma das muitas mostras que ela faz de sua perturbada e torta noção da realidade torna-se mais flagrante diante da postura da menina, que tenciona ajudar a traumatizada antagonista motivada pelo contato com sua finada mãe.

    O milagre que Bo Adams pratica envolve a motivação daqueles que a cercam. A inspiração de procurar o melhor dentro de si, apesar da premissa piegas analisada num primeiro momento, caracteriza-se por uma mensagem carregada de simbolismo, simples, mas, em momento algum, simplória. O pirotécnico embate final entre as duas criaturas poderosas carece de efeitos especiais mais aprimorados, fruto, claro, de um orçamento não tão pomposo quanto as de outras produções de Cuarón, no entanto condiz com a mensagem de renovação exposta através dos doze episódios da série. O preceito do seriado envolve um axioma muito otimista, utilizando-se da vitória sobre o lugar-comum e os obstáculos seculares como modo de lidar com a perda. O que Friedman e Cuarón entregam é uma produção de cunho emocional belo e fantasioso, que, apesar de todas as dificuldades, se mostra competente ao que propõe, ficando um pouquinho acima da linha de mediocridade.

  • Review | Hannibal – 2ª Temporada

    Review | Hannibal – 2ª Temporada

    hannibal-season-2A morte é um dos elementos primordiais nos trabalhos de Bryan Fuller. Suas séries, se não tiveram sequências e o êxito esperados, ao menos exploraram argumentos interessantes e característicos. Misturando drama e humor negro, Dead Like Me, exibida de 2003 a 2004, tem como plot o cotidiano de Georgia “George” Lass (Ellen Muth), uma garota sem amigos, com problemas com a família, e que, depois da própria morte, tem uma segunda chance de fazer as ações deixadas em aberto. Em 2004, após o cancelamento da série, Fuller criou Wonderfalls, comédia que foca a vida de Jaye Tyler (Caroline Dhavernas), atendente de loja que conversa com os objetos vendidos no estabelecimento. A trama só durou uma temporada. Pushing Daisies – Um Toque de Vida, exibida de 2007 a 2009, é o seu trabalho de maior fôlego, mas foi cancelado após duas temporadas em razão da baixa audiência na época. Lembrando um conto de fadas moderno – novamente utilizando-se de uma referência ao mundo fantástico –, a história tem como foco um confeiteiro (Lee Pace) com o dom de trazer os mortos de volta à vida.

    Sua mais recente produção, a adaptação para a televisão da aclamada franquia literária Hannibal, utiliza-se da morte. Porém, ao contrário dos trabalhos anteriores de Fuller, o tema é abordado de forma grotesca, retratando o famoso psiquiatra canibal, criado por Thomas Harris em sua série de romances, como um bestial caçador de carne humana, muito mais visceral do que o personagem evocado nas adaptações cinematográficas. Longe das grades e da desconfiança pública, Hannibal Lecter – excelentemente interpretado por Mads Mikkelsen – percorre os corredores do escritório policial do FBI e realiza reuniões gastronômicas em sua mansão sem oferecer o menor sinal de suspeita, o que confirma seus poderes de fingimento e influência.

    Exibida de fevereiro até o fim do último mês, a segunda temporada dá sequência aos eventos do gancho apresentado no ano anterior, com Will Graham (Hugh Dancy) preso, acusado de ser o Estripador de Chesapeake, mostrando a luta para provar sua inocência. Longe de Hannibal, Will começa a recordar-se do fatídico episódio em que foi hipnotizado ante a morte de Abigail Hobbs (Kacey Rohl). Pouco a pouco, a imagem do alce negro, que simboliza o torpor de seu estado psicológico, antropomorfiza-se, remetendo à figura de seu maior inimigo.

    Ao longo dos treze episódios – nomeados por pratos culinários japoneses, seguindo a mesma tendência da temporada anterior, que homenageou a gastronomia francesa – Lecter, ainda que tenha escapado da apuração de provas físicas em sua residência, continua sendo o alvo de Will, cuja única aliada, Beverly Katz (Hettienne Park), é a primeira a perder no bizarro jogo de destruição causado pelo monstro. Em seguida, o doutor Frederick Chilton (Raúl Esparza) também é envolvido, tornando-se a nova vítima, não necessariamente fatal. Todos os personagens que se colocam contra o psiquiatra são prejudicados, demonstrando que ele não sente pena ou remorso e age com violência até mesmo quando no tédio.

    Diferentemente da temporada anterior, que trabalhou a disfunção mental de Will promovida pelo assassinato de Garret Jacob Hobbs (Vladimir Jon Cubrt) e aprofundada pelo poder de persuasão de Lecter, esta é centrada na relação de Graham com seu psiquiatra. Os dois personagens entram em um embate psicológico onde um joga contra o outro em busca de proveito próprio, embora não haja sinais claros em tela que comprovem a trapaça envolvida.

    Focando em demasia os dois personagens centrais, não houve espaço para trabalhar os outros núcleos. Não há na história menção à influência de Lecter sobre a doutora Alana Bloom – Caroline Dhavernas, presente, quase dez anos depois, em outro trabalho de Fuller –, evidenciando que o relacionamento dos dois teve mais função de um possível triângulo amoroso em companhia de Will do que caracterizado por um resistente trabalho de manipulação usado pelo psiquiatra. Além disso, Jack Crawford (Laurence Fishburne) revela em seu semblante uma espécie de conformismo que não combina com um chefe de seção do FBI voltada à investigação de serial-killers. Esse fator pode ser explicado pela doença de sua mulher, Bella (Gina Torres), o que pode ter afetado o seu trabalho investigativo, mas não justifica a falta de poder perante todos os movimentos narrativos que o envolvem.

    A temporada transcorre bastante irregular ao dar mais destaque aos ganchos e revelações, além do choque pelo choque, do que à coerência do roteiro em si. Reapresentando personagens tidos como mortos, a série peca em não aprofundá-los como deveria, prejudicando recursos que poderiam ser mais bem explorados, caso da volta da trainee Miriam Lass (Anna Chlumsky), quase esquecida pouco tempo depois de ser salva, e o retorno de Abigail no season finale, injustificável por si só. Além disso, a reaberta investigação do real assassino de Chesapeake – ainda não encontrado – e a consequente libertação de Will foram desenvolvidas em sete episódios, uma demora que não se explica senão pela justificativa de criar mais suspense em algo desnecessário.

    A inclusão dos irmãos Margot (Katharine Isabelle) e Mason Verger – interpretado de forma magnânima por Michael Pitt (Os Sonhadores) –, trouxe, porém, maior energia à trama. Mason futuramente será um dos maiores inimigos de Lecter, e a sua participação na série foi muito fiel à cronologia de Hannibal, quarto livro de Harris no qual aparece. Mason é um autêntico psicopata que bebe lágrimas de pessoas que massacra, e não demonstra nenhum tipo de piedade, nem com a irmã, subjugada por ele. Até mesmo a aterradora frase “você deveria ter aceitado o chocolate”, proferida pelo personagem em uma dúbia mas mórbida cena que o envolve junto a Margot, é lembrada, comprovando a mesma força aterrorizante que o personagem manifesta no romance.

    Enquanto falha no roteiro, a série continua primorosa em relação ao caráter técnico. Os tons lavados da fotografia em planos abertos salientam a artificialidade do lugar, distanciando o público daquele universo. Enfatizando as cores em cenas de crime como uma paleta – semelhante a do serial-killer que aparece no início da temporada –, mostra-se a beleza no horrendo. A morte como linguagem da arte.

    Há a impressão de que os roteiristas não querem que a história alcance os eventos de captura do canibal para, assim, focar com mais intensidade a vida do doutor longe das grades. Talvez para mascarar uma história executada de maneira disforme, apelam para toda a sorte de situações, chegando ao incabível. Um plot twist e o aparecimento, no final, da doutora Bedelia Du Maurier (Gillian “Agente Scully” Anderson) como personagem importante à trama não são o bastante para dar credibilidade necessária a um roteiro que carece de maior apuro. Se confirmados os boatos de que a próxima temporada da série contará com a participação de Francis Dollarhyde, o antagonista de Dragão Vermelho, livro que sucede os eventos de prisão do psiquiatra canibal, será preciso haver mais desenvoltura para que a história não pereça em qualidade como sofreu anteriormente.

    Com o risco de ser fechada ao final da primeira temporada e quase agoniando outro possível cancelamento ao final desta, a série de Bryan Fuller ultrapassou a meta de alcançar a realização de um terceiro ano da produção, algo que o produtor nunca teve em mãos. Que a morte, tão presente em suas obras, se mantenha apenas como temática e não se transpareça em seu campo de ideias e argumentos.

    Texto de autoria de Karina Audi.

  • Review | Smash

    Review | Smash

    smash

    Para você que gosta de musicais como High School Musical e HairSpray, este seriado não te pertence.

    A história começa quando a compositores escritores Julia Houston (Debra Messing) e Tom Levitt (Christian Borle) decidem criar um novo musical, baseado na vida de uma das maiores estrelas de Hollywood, Marilyn Monroe.

    Eileen Rand (Anjelica Huston) é uma produtora conceituada no ramo que está passando por um momento delicado em sua vida, a separação de seu marido, Jerry Rand (Michael Cristofer) outro grande produtor.

    Para dar prestígio ao musical, trazem o grande e mulherengo diretor de musicais Derek Wills (Jack Davenport) para dirigir o espetáculo. Karen Cartwright (Katharine McPhee) é uma aspirante a atriz que trabalha como garçonete que ama cantar, faz uma ótima audição para o musical e vira uma das favoritas ao papel principal do espetáculo.

    Ivy Lynn  (Megan Hilty) é uma experiente dançarina e cantora da Broadway, amiga de Tom e tem um caso com Derek, também é uma das favoritas ao papel de Marilyn. A trama principal da historia é focada na disputa entre Karen e Ivy ao papel principal do show, duas mulheres muito diferentes mas com muito talento em comum.

    Smash é um seriado adulto que mostra os bastidores, os dramas, conflitos e problemas familiares, e ainda arruma tempo para realizar ótimas interpretações de grandes canções. Criada por Theresa Rebeck e produzida por Steven Spielberg. As músicas da série são originais e escritas pela dupla Marc Shaiman e Scott Wittman.

    Texto de autoria de Henrique Romera.