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  • Crítica | O Mistério do Relógio na Parede

    Crítica | O Mistério do Relógio na Parede

    Boa parte dos cineastas cuja filmografia é rebelde vez ou outra cede aos gracejos de Hollywood e aceita fazer um filme comercial e convencional. Os maiores sucessos em bilheteria de Robert Rodriguez são da franquia Pequenos Espiões, mesmo David F. Sanbderg decidiu aceitar adaptar Shazam para o cinema, e em O Mistério do Relógio na Parede o diretor Eli Roth parece ter cedido, ao adaptar o livro de John Bellairs, que mostra a história do pequeno Lewis Barnavelt (Owen Vaccaro), um menino recém órfão, que vai morar com seu tio, um homem bastante peculiar.

    A casa de Jonathan Barnavel (Jack Black) é visivelmente diferente de todas as outras da cidade de Zebedeee, e a comunidade em volta considera o lugar mal assombrado, graças a um acontecimento misterioso do passado, além de obviamente todos acharem Jonathan estranho e excêntrico graças ao seu modo de vestir e agir. Próximo dele há a Senhora Zimmermann (Cate Blanchett), uma mulher também misteriosa. Juntos, Jonathan, Zimmermam e Lewis forma uma trupe de desajustados, cada um a sua forma, e logo eles percebem suas semelhanças.

    Há uma criação de cenário muito cuidadosa e acertada, não só da casa repleta de elementos mágicos que aos poucos se revelam como parte da trama mística, como também da escola onde Lewis estuda, com o menino sendo normalmente alvo de rejeição e bullying. A busca do garoto por aceitação apesar de óbvia faz um enorme sentido dentro da trama proposta.

    Apesar da abordagem extremamente infantil, a ideia por trás das ilusões familiares e delírios fantasiosos são levados de um modo corajoso e até arrojado em se tratando de um filme para crianças. O grande problema é a trama que se mune de muitos clichês, e a falta de um vilão realmente assustador. A participação de Kyle MacLachlan é bem sub-aproveitada, e talvez essa seja a única comparação justa deste filme com a saga Harry Potter, pois o Isaac Izard visto aqui é tão ruim quanto os vilões acessórios da saga do bruxinho, apagado e sem muita importância tendo como ponto positivo e único o fato do mal ter se originado e catalisado através da grande guerra mundial que ele travou em solo alemão.

    Mesmo com as soluções bastante óbvias do final, O Mistério do Relógio na Parede resgata um tipo de história de aventura infantil, subgênero meio em desuso no cinema dos últimos anos, mas ainda assim o roteiro de Eric Kripke (Supernatural) merecia ser melhor trabalhado, pois os momentos finais soam apressados e mal construídos, apesar de conter parte das boas e melhores piadas do filme.

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  • Review | Believe – 1ª Temporada

    Review | Believe – 1ª Temporada

    believe-posterBelieve é um seriado criado pelo vencedor do Oscar 2014, Alfonso Cuarón, junto a Mark Friedman e com direção executiva de J. J. Abrams. A trama acompanha Bo Adams (Johnny Sequoyah), uma menina com habilidades de difícil compreensão, entendimento e controle, como levitação, controle da natureza e premonição. Um grupo de pessoas interessadas nesses poderes persegue a menina, protegida até completar dez anos de idade. O único capaz de defendê-la é William Tate (Jake McLaughlin), um homem que está preso por um crime que não cometeu. Relutante, ele aceita o pedido dos que criaram a menina, para acompanhá-la e protegê-la dos que a caçam, contando com a ajuda do grupo liderado por Milton Winter (Delroy Lindo) e auxiliado por Channing (Jamie Chung).

    No piloto, a câmera de Cuarón é muito diversa da costumeira produção de seriados televisivos, e a impressão de cinema na tela pequena é a sua melhor definição. A linguagem faz toda a diferença: não há muita preocupação em explicar todos os pormenores; a história começa a partir do mistério episódico; não há tantas restrições à violência; a fotografia é soturna; e a câmera objeta ângulos de difícil execução para os padrões do seu canal de exibição, a NBC. A trama contém muito de espionagem e o velho jogo de gato e rato, onde um grupo caça e o outro tenta proteger a pequena menina dos olhos.

    A ligação entre Tate e Bo contém algo de misterioso até para os pares, e é muito curioso como ambos vão se lapidando. A garota, apesar da perseguição costumeira que sofre, se vê capaz de sonhar e de fantasiar como uma menina de sua idade, longe da ganância de “dominação global” de seus antagonistas. Até a puerilidade das motivações dos antagonistas é justificada, registrada, no início, através dos olhos da infante. No segundo episódio, Origins, a agente do FBI Elizabeth Ferrel (Trieste Kelly Dunn) é introduzida. A investigadora policial é encarregada no caso de “sequestro” e percebe que Bo é fruto de experimentos impostos pelas forças governamentais americanas. A personagem é inserida presenciando a ação de um dos outros experimentos paranormais em humanos. Um de seus superiores é Roman Skouras (Kyle MacLachlan), um dos elementos que tenta cooptar Bo – o que abre uma enorme gama de discussões a respeito do maniqueísmo presente nas ações dos opositores de Milton, inclusive sobre as intenções dele.

    Com o desenrolar dos fatos, é evidenciado que a disputa entre Roman e Milton não é tão maniqueísta quanto o grupo de proteção quer demonstrar no começo. Os dois rivais sentam-se calmamente em um café e quase não fazem menção a sua rivalidade pessoal, somente discutem a importância da menina e a possível exploração de suas habilidades únicas. O idealismo de mudar o mundo era compartilhado por ambos quando ainda trabalhavam juntos no caso de Nina Adams (Ella Rae Peck), a ex-vidente que teria dado à luz a Bo e que, desde antes de sua morte – consequência do uso excessivo de seus poderes paranormais -, precisava deixar a herdeira aos cuidados de terceiros.

    Os poderes de Bo se manifestam de modo parecido com o que ocorria com Nina, materializando-se de modo mais visível quando a menina está sob pressão ou sofrendo de ansiedade. Por isso o jogo de gato e rato a faz estar mais propensa em utilizar suas habilidades de modo pouco seguro – algo que claramente incomoda os dois lados interessados. O desenrolar da perseguição é prolongado demasiadamente, de modo a tornar algumas sequências um tanto enfadonho e desnecessário.

    A Orchestra, organização encabeçada por Roman Skouras, acha-se no direito de reaver Bo, não por considerá-la um objeto de exploração, mas para tentar adequá-la, uma vez que foi o grupo que a ajudou a desenvolver seus poderes. Com o desenvolvimento da trama, Milton faz seu antigo parceiro perceber que não são a única organização com o intuito de capturar os indivíduos com habilidades sobre-humanas. O nível de paranoia dentro do grupo de Skouras aumenta de modo vertiginoso, fazendo com que o líder acredite que há sabotagem e vazamento de informações por parte de Zoe Boyle (Kerry Condon) para Winter.

    Próximo do final, surge uma variação de Bo, Daniella Sullivan (Mia Vallet), uma versão mais velha e ressentida da menina que guarda consigo a vontade de destruir a criança, a Orchestra e tudo o que envolve os experimentos com os superdotados. A tentativa da perturbada mulher é apagar todo e qualquer rastro do que fizeram a ela, muito por causa de seu passado, que envolve o assassinato de seu irmão John em um evento acidental, demonstrando que seu destempero emocional é um fator perigoso para alguém desequilibrado emocionalmente possuir os poderes que as duas mulheres especiais carregam.

    A ingenuidade de Daniella é equivalente a de sua contraparte juvenil, ainda que a mulher seja movida pelo ódio discriminado àqueles que a fizeram ser o que é. Sua sede por destruição faz com que Roman procure Milton para conseguir alcançar novamente a menina. Graças a informações vazadas pelo próprio mandante da Orchestra, Bo parte finalmente com Tate, que é a única pessoa em quem ela confia, retornando para aquele com quem tem laços sanguíneos. Se para Bo a confiança é que a move, Daniella relaciona sua mente e seus problemas à carência e até aos ciúmes de Bo, por esta ser a “preferida” de Skouras. Sua vontade de provar ser única torna-se uma obsessão. Uma das muitas mostras que ela faz de sua perturbada e torta noção da realidade torna-se mais flagrante diante da postura da menina, que tenciona ajudar a traumatizada antagonista motivada pelo contato com sua finada mãe.

    O milagre que Bo Adams pratica envolve a motivação daqueles que a cercam. A inspiração de procurar o melhor dentro de si, apesar da premissa piegas analisada num primeiro momento, caracteriza-se por uma mensagem carregada de simbolismo, simples, mas, em momento algum, simplória. O pirotécnico embate final entre as duas criaturas poderosas carece de efeitos especiais mais aprimorados, fruto, claro, de um orçamento não tão pomposo quanto as de outras produções de Cuarón, no entanto condiz com a mensagem de renovação exposta através dos doze episódios da série. O preceito do seriado envolve um axioma muito otimista, utilizando-se da vitória sobre o lugar-comum e os obstáculos seculares como modo de lidar com a perda. O que Friedman e Cuarón entregam é uma produção de cunho emocional belo e fantasioso, que, apesar de todas as dificuldades, se mostra competente ao que propõe, ficando um pouquinho acima da linha de mediocridade.