Tag: Hugh Jackman

  • Crítica | X-Men 2

    Crítica | X-Men 2

    O início de X-Men 2 é eletrizante, e repete o monólogo que Xavier proferiu em X-Men: O Filme levemente modificado, apontando para as estrelas, mostrando que a ambição do filme mudou, assim como prestígio de Bryan Singer. A trama de fato começa na Casa Branca com o presidente dos EUA correndo perigo, ao ser facilmente invadido por um mutante. O Noturno de Alan Cumming é introduzido de maneira selvagem, agressiva e uma violência demoníaca, que combina com sua aparência, magnificada pela música repleta de elementos góticos. Em cinco minutos, Singer demonstra o que poderia ter sido feito em seu primeiro filme, caso tivesse mais dinheiro, e ainda faz a cena de abertura que melhor traduz o heroísmo e o escapismo dos quadrinhos até hoje.

    X-Men 2 não demora a mostrar seu protagonista, Wolverine (Hugh Jackman), achando o Lago Alkali, o lugar que deveria mostrar um pouco de sua origem. Também não há demora em apresentar os outros mutantes, mas claramente a idade pesa sobre Famke Janssen, que está claramente com idade demais para aparentar uma mulher de vinte e poucos anos, mas seu desempenho dramático surpreende. Singer e seus roteiristas eram mestres em por elementos a serem evoluídos, ao passo que não trabalhavam bem com sutilezas.

    O Xavier de Patrick Stewart é mais atuante, ele aparece em ação fora da mansão, e mesmo ao cometer atos antiéticos – quando manipula os pensamentos de pessoas inocentes que viram os seus alunos em ação – há um cuidado grande em mostra-lo como um grande mentor e ideal a ser seguido, ainda que algumas de suas ações sejam discutíveis.

    O roteiro tem bons momentos ao associar a origem de Logan, não resolvida em Alkali com o ataque na Casa Branca. Engraçado que Ororo/Tempestade (Halle Berry) deve uma certa submissão a Jean, e isso pouco se nota de tão sutil que é a cena de encontro com Kurt. Mesmo diante de clichês, como o fracasso com antigos alunos, o filme lida melhor com a carga dramática mais adulta, a exemplo da cena na casa dos Drake onde Bobby (Shawn Ashmore ) tem de ratificar que não escolheu nascer diferente, onde se resume bem a ideia do preconceito embutido na sociedade comum. Outra parte bem trabalhada se dá na cena da invasão da Mansão Xavier, que ocorre com pouco mais de 30 minutos de exibição, sendo esse o momento onde Wolverine pode ser o assassino sangue frio das HQs clássicas, escondendo o sangue nos corredores escuros das instalações.

    A figura de William Stryker (Bryan Cox) como vilão mistura elementos do chefe do projeto Arma X, que injetou adamantium em Wolverine com o personagem homônimo dos quadrinhos, que está em Deus Ama O Homem Mata, um pregador evangélico louco e intolerante. Ele usa os poderes de seu filho para seu próprio anseio maligno. Outro momento interessante e depois reutilizado em Logan, é a pressa em salvar o Professor X de se tornar uma arma de destruição em massa, referenciando ainda que de leve a famigerada saga Massacre.

    Claramente, Singer queria lidar com a Fênix nos filmes seguintes, pois há uma bela evolução de Jean Grey como personagem. Ela que antes só movimentava seringas com a mente agora é capaz de deter mísseis. A aproximação de Magneto com os alunos de Xavier faz uma bela referência as fases que o mestre do magnetismo se bandeou para o lado dos mocinhos, ainda que aqui fique bem claro que ele só se movimenta por interesse próprio. A união dessas forças gera bons momentos, como a cooperação em equipe bem coordenada por Singer, o brilho de Rebecca Romijin como espiã e alívio cômico (sua personalidade impressiona), e claro, as batalhas entre o casal Summers e os detentores do adamantium. O filme não é perfeito, existem algumas conversas complicadas, como a piegas fala entre Noturno e Mística, em que o rapaz a indaga sobre esconder a própria aparência. Esse ponto encontraria eco em X-Men: Primeira Classe, seja nos momentos bregas de demonstração dos poderes dos mutantes ou no clichê de orgulho mutante que Jennifer Lawrence profere.

    A modernização do mito de Frankenstein de Mary Shelley beira a perfeição na relação parental entre William e Jason funcionam como condutores do mal, um maquiavélico e outro tolamente manipulado pelo ideal de um fanático, e o resultado final não poderia ser mais agressivo, em especial na vendetta que Magneto arquiteta rapidamente, demonstrando seu enorme poder mutante, rivalizando ele com sua capacidade intelectual e tenacidade. A forma como os heróis corrigem esses rumos soa um pouco apressada, mas conversa muitíssimo bem com o cânone dos quadrinhos, resultando num belíssimo filme de equipe onde o protagonismo é mais balanceado, mesmo que Jackman tenha muito mais brilho. Janssen é soberba quando exigida, em melhor forma até que Stewart, e seu sacrifício no final faz o ate então inexpressivo James Marsden brilhar. A direção de atores de Singer é exigida e tem muito êxito, exceção a Halle Berry, mais uma vez sub aproveitada.

    Singer claramente queria fechar a trilogia, mas se envolveu em Superman: O Retorno, e a Fox optou por não esperá-lo. Jamais saberemos quais eram seus planos à época para o terceiro filme, ainda que ele tenha retornado a franquia como produtor em Primeira Classe e diretor em X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido e X-Men: Apocalipse. X-Men 2 entrou para história como um dos melhores filmes de quadrinhos, sendo talvez o melhor no quesito ação, contendo um bom trabalho de equipe, oposição aos heróis carismática e bem representada, sacrifícios e um belo gancho para futuras obras, que jamais seriam tão bem urdidas e construídas quanto essa, mesmo com os remendos no reboot da saga anos depois.

    https://www.youtube.com/watch?v=xF9FW5_yDxs

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  • Crítica | X-Men: O Filme

    Crítica | X-Men: O Filme

    O filme que ajudou a inaugurar o exploitation de heróis recentes começa com um monologo, acompanhado de uma abertura em CGI que explora a sinapse cerebral de uma pessoa com gene x. Enquanto emula o início de Clube da Luta, Patrick Stewart empresta sua voz para explicar uma das razões pelos quais ele e os seus são discriminados. Os próximos momentos de X-Men: O Filme de Bryan Singer mostram dois cenários, e a origem de dois mutantes, Erik Lensher e Anna Marie, Magneto e Vampira, e tanto para o vilão quanto para a futura heroína, o mesmo destino, pessoas comuns olhando para eles com olhos vis, claro, em momentos da historia bem distintos, um nos campos de concentração durante o holocausto e outro nos anos 2000.

    A cena imediatamente posterior é pouco sutil, há uma apresentação de Jean Grey (Famke Janssen), no senado, interrompida por Robert Kelly (Bruce Davison), um político que usa sua influência para denegrir os mutante. O conteúdo do debate e da discussão entre os antigos amigos, Erik e Charles Xavier é bem explicito, fruto claramente da falta de investimento da Fox que não contratou um roteirista mais gabaritado e não permitiu que esse filme lançasse mão de obviedades para compor seu quadro. Tal qual foi com Star Wars, não se acreditava no potencial deste. O roteiro de David Hayter (baseado no argumento de Tom DeSanto e Singer) é apressado, com dez minutos a maioria dos personagens clássicos já aparecem e dão o ar de sua graça.

    Hoje, discutir Hugh Jackman no papel de Wolverine parece loucura, mas na época houve muita discussão, pelo fato de Logan ser baixo e Jackman ter pouco menos de dois metro de altura, mas fora toda a artificialidade da apresentação e no cenário que ele usa para conseguir alguns trocados em lutas clandestinas de arena, seu desempenho faz lembrar sim os quadrinhos clássicos de Frank Miller. Essa estranheza gritante até faz sentido, esse é um mundo preconceituoso, e Singer como diretor judeus e homossexual tenta passar o espectador um pouco das sensações que tinha ao perceber como as pessoas comuns o viam. A mão é um pouco pesada, mas a mensagem é passada de maneira inteligente.

    Mesmo Anna Paquin não tendo um desempenho espetacular, a condição de orelha não é totalmente descartável, de todas as caracterizações forçadas, a dela é uma das mais tranquilas, e é difícil não achar no mínimo engraçados alguns pontos, como o esconderijo da irmandade de mutantes, que é estiloso, feito por Magneto com um arquitetura terrível e nada prática- com bolinhas de bater que rodam sem cordas e que caem quando o mestre de magnetismo sai – ou a base dos heróis, com letras X por todo lado, exposição das roupas pretas dos mesmos, e acesso livre para Wolverine. Há também de se lembrar que ainda não havia sido lançado Homem Aranha de Sam Raimi e Batman Begins de Chris Nolan, filmes de herói eram comuns na Dc com Superman 22 anos antes e a recém acabada franquia do Morcego, onde Batman & Robin tinha encerrado mal a saga 3 anos antes. Ha muitas criticas injustas ao que Singer fez, mas esse ajudaria a pavimentar o caminho da Marvel, a partir de 2008 e de todo o campo de super heróis, que resolvia misturar a fantasia com algo mais realista. Mais do que isso, universo Ultimate da Marvel, lançado em 2001 bebia muita da fonte aberta por este filme, retribuindo assim as referências aos quadrinhos invertendo a lógica de inspiração e inspirado.

    É louvável que o ponto de partida do filme já tenha em mente a maioria dos aspectos básicos de revistas de heróis. Mesmo Vampira fazendo as vezes de menina desprotegida que Kitty Pride e Jubileu foram nas HQs, mesmo com Wolverine sofrendo explicações sobre o colégio de super dotados, a gênese da luta dos alunos de Xavier já é totalmente explicada com menos de 30 minutos, e a duração de 104 minutos é bem utilizada. Os momentos de ação também são eletrizantes, a Mistica de Rebecca Romijin é deslumbrante não só por conta das curvas da atriz e da forte maquiagem, o efeito usado na sua transformação é sensacional e o uso que ela faz dos pés é algo seminal também.

    O que se nota é que os conceitos e ideais estavam em estágio embrionário, fazendo assim justificado até o livre uso de arquétipos  nos personagens principais. Por mais que não tenham tanto espaço de tela quando Wolverine, são os dois mentores os melhor apresentados personagens. Enquanto Patrick Stewart inspira confiança, Ian McKellen é carismático e exibicionista. Toda a questão expositiva e exibicionista que apresenta tem sentido só por conta de seu desempenho, mesmo quando da show off de suas ideias, personalidade, poderes e habilidades de seus capangas. Ele precisa justificar isso, pois a exibição não é para o público, e sim para seu opositor politico, no caso, Kelly, que é seu prisioneiro. Essa exposição até conflita com alguns conceitos do filme, e claramente eles não são amadurecidos quanto deveriam, mas ainda assim há uma justificativa.

    O exemplo maior dessa fragilidade se vê na invasão fácil que Mística faz a escola, não há nenhuma segurança nem nesses tempos de paranoia e mesmo que isso já tenha ocorrido nos quadrinhos (aliás, o tempo todo), um filme que pretende ser realista precisa identificar isso como prioridade. Isso, unido a questão dos efeitos especiais serem fracos, faz a obra envelhecer mal. É absurdo como quando Singer era prolifico, não havia dinheiro, e hoje com ele em desgraça pessoal, há investimento em detrimento de péssimas historias.

    Falta em Hayter um trabalho mais acurado na adaptação dos roteiros dos quadrinhos, ainda que haja da parte do diretor claramente uma insistência em alguns momentos mais expositivos, no entanto o senso de urgência é grande, e até bem trabalhado, se não fosse tão acompanhado de conversas óbvias e não trabalhasse tanto mal os papeis de James Marsden e principalmente Halle Berry, que é completamente desperdiçada, certamente haveria maior êxito. Tal qual eram as reclamações de Chris Claremont quando roteirista dos Fabulosos X-Men, Tempestade não tem o destaque que merece, enquanto Logan é o centro das atenções, não surpreenderia se esse longa chama-se Wolverine e seus amigos.

    Alguns pequenos absurdos são bem charmosos, como o fato da pista de pouso e lançamento do jato Pássaro Negro ficar embaixo da quadra de basquete, mas dado a pouca verba, esse acaba mesmo sendo um evento engraçado. Dos aspectos técnicos, a música de Michael Kamen é bem icônica(ele aliás, também compôs a música tema do desenho de 1993), e a fotografia trabalha bem os elementos fantasiosos e o uso indiscriminado de CGI. É realmente uma pena o pouco orçamento, que influiu muito nos últimos atos, que careceram de una luta mais elaborada, sobrando apenas a breve batalha de Mistica e Wolverine como algo realmente bom.

    Cabe a Logan a pecha de heroi em sacrifício, o que vai para o combate final com o vilão e o que tenta resgatar a vida da mocinha, dando a Vampira seu poder, mas para cada um dos quatro X-Men há seu momento de brilho na Batalha de Manhattan, mesmo considerando estranho alguns pontos, como a batalha ser na Estátua da Liberdade. X-Men: O Filme está longe de ser perfeito, mas a despeito de todos os infortúnios que passou, certamente é uma bela obra, pavimenta bem a saga para mais filmes e para se tornar uma franquia, mas é auto contido ao ponto de soar bem como adaptação solo, capturando bem o espírito do grupo de alunos de Xavier, além de ter feito historia nos filmes de ação.

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  • Crítica | O Favorito

    Crítica | O Favorito

    Novo longa de Jason Reitman, agora focando em uma história biográfica e política, O Favorito fala a respeito do político Gary Hart (Hugh Jackman), um democrata que chegou a disputar a corrida presidencial, e sofreu um revés estranho, perdendo mesmo estando à frente de quase todas as pesquisas e isso se deu por uma razão peculiar e inesperada em face da vida pública dos Estados Unidos.

    A trama começa durante as primárias do Partido Democrata, em 1980. Ele, casado com  Lee (Vera Farmiga), perde e isso o marca profundamente. Algum tempo depois ele acaba conseguindo ser o escolhido do partido e as administrações anteriores favorecem sua campanha, largando bastante na frente. O filme é dividido de forma capitular, em uma contagem regressiva semanal até o dia do pleito majoritário.

    O clima de vitória certa fortalece a parte cômica do roteiro de Reitman, Matt Bai e Jay Carson, o fato de haver poucas ou nenhuma preocupação torna todo o astral que poderia ser estressante em um verdadeiro mar de rosas e a trama faz questão de tornar Hart uma figura simpática e preocupado com os menos favorecidos, bem ao estilo JFK, tanto em suas virtudes quanto em seus defeitos.

    As caracterizações do filme buscam ser fidedignas, como foi com The Post: Guerra Secreta de Steven Spielberg e Spotlight: Segredos Revelados de Adam McKay. O roteiro segue dando indícios de que aquele paraíso é construído sob uma base frágil, com pequenos elementos que desconstroem a perfeição de Paladino que Hart ostenta. A proximidade com a imprensa faz com que assuntos tabus sejam timidamente levantados, como por exemplo, porque ele não se divorcia mesmo, claramente, não tendo uma vida íntima com sua esposa. Além disso, ocorrem ligações anônimas para a imprensa, inicialmente ignoradas pelo Washington Post, mas que ganham força ao chegar no Miami Herald, um tabloide conhecido pela sua fama sensacionalista.

    A partir daí começa uma trama diferenciada em formato thriller, com perseguição do jornal menor ao político, interrogatórios com a pessoa que teria se relacionado com o político, e outros tantos eventos sensacionalistas. A câmera de Reitman basicamente está lá para registrar os acontecimentos, mas sem julgamentos. O que mais se aproxima disso, é uma discussão na redação, onde os jornalistas falam que os desvios sexuais de Lyndon B. Johnson e John F. Kennedy eram tolerados e acobertados pela maioria das pessoas em nome de uma boa convivência. Quem determina se isso é algo relevante ou não, segundo um dos editores é o leitor e isso é um sinal dos tempos, ao menos é o que se alega, mesmo que não haja nesse momento como o povo saber de qualquer fato que não seja via imprensa.

    A grande questão do filme de Reitman é que ele não se arrisca. A abordagem de um evento tão complexo é feito de um modo demasiado careta e sem sal. A trajetória de Gary Hart desperta curiosidade, assim como o desempenho de Jackman é bastante interessante, mas a falta de um posicionamento mais contundente e a isenção política do texto final pesam contra os dois aspectos positivos citados, tornando desimportante a jornada e todo o desenrolar dos fatos, o que é lastimável pois a condução inicial do cineasta parecia no começo levar para outra direção.

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  • Crítica | X-Men Origens: Wolverine

    Crítica | X-Men Origens: Wolverine

    Em 2009, surfando na onda de extrema popularidade da trilogia X-Men, iniciada pelo diretor Bryan Singer, começava a primeira tentativa de aventura solo do universo mutante, e coube a Gavin Hood, diretor de Infância Roubada e que ganhou três anos antes o Oscar de melhor filme em língua estrangeira, comandar essa iniciativa. O filme já começa mostrando a que veio, quando traz o jovem e frágil James Howlett (Troye Silvan) saindo do seu leito, onde claramente estava doente, para desferir um golpe no assassino de seu pai de criação. A cena, que deveria adaptar o clímax da revista clássica Origem consegue ser um evento dos mais mal construídos do cinema de ação recente, dada a artificialidade do movimento do jovem em direção a figura assassinada, só não aparecendo o cabo que o faz ter esse movimento por muito pouco.

    Logo após essa apresentação, os irmãos Victor Creed (Liev Schreiber) e James Howlett (Hugh Jackman) são mostrados em uma montagem parecida com a que abre Watchmen, onde aparecem juntos lutando em eventos importantes da história. Ainda que lembre muitos dos clichês de filmes da Segunda Guerra e Vietnã, esse é o melhor momento do filme até o seu  encerramento.

    X-Men Origens: Wolverine sofreu de um mal parecido com o de Tropa de Elite, ainda que os efeitos para si fossem totalmente avessos ao que ocorreu no filme de José Padilha. Um release inacabado caiu na internet, com efeitos especiais a serem finalizados, e isso causou uma má impressão tremenda, com campanhas da parte dos produtores para que as pessoas fossem ao cinema conferir o resultado final. A grande questão aí é que Tropa realmente justificava o ingresso por sua qualidade, enquanto esse é tão repleto de falhas de concepção que assisti-lo sem os efeitos especiais de computação gráfica por completo não tornaria o filme pior.

    O filme transita muito mal entre grandes espaços temporais. Depois da famigerada montagem videocliptica, o público é apresentado a um grupo de mutantes, liderados por William Stryker (Danny Huston), que funciona como uma força-tarefa que  deveria adentrar em uma republiqueta típica dos filmes genéricos de brucutus, onde acontece mais uma vez uma demonstração de ruptura entre James e Victor, com o primeiro impedindo o outro de matar alguém. Essa parte serve tão somente para introduzir Wade Wilson, de Ryan Reynolds, que faria anos depois o filme Deadpool, o personagem descolado Espectro do rapper Will I Am, e outros mutantes genéricos, como Blob (Kevin Durand) e outros, formadores da Equipe X.

    Seis anos depois, James está casado com Kayla (Lynn Collins), vive uma vida calma, no campo, sem maiores preocupações, enquanto isso, os outros coadjuvantes são abatidos um a um. O mutante de garras parece sentir a ausência desses, pois tem pesadelos quase premonitórios, acompanhados de um despertar no susto, onde põe suas garras para fora. Essa representação é de uma ignorância atroz e de uma tentativa de imprimir uma gravidade à situação, além da própria sensação de premonição que nunca existiu com o personagem. Wolverine não é Xavier ou  Jean Grey, tampouco é Sina (personagem secundária dos X-Men que tinha poderes sensitivos fortes), ele é tão somente o melhor no que ele faz, e aparentemente, não poderia ter uma vida tranquila e feliz exatamente por conta desses predicados e de seu passado.

    Poucas coisas irritam tanto no filme quanto o cabelo de galã do personagem principal. Não combina com ele, aliás toda a postura dele não faz sentido, ele é pacífico, menos impulsivo que seu irmão – a ideia do roteiro em mostrá-lo como uma fera anestesiada é até boa, mas não cabe aqui porque o único momento em que ele realmente age como um predador é no seu início, em uma das cenas mais constrangedoras de uma obra que é equivocada em quase tudo que se propõe. Quando os antigos patrões vão atrás do homem que assumiu a alcunha de Logan, o impacto pelas perdas pessoais que ele tem é completamente suavizado, pois esse claramente não é o sujeito sem escrúpulos e de natureza selvagem que o leitor ou fã dos filmes do universo dos mutantes se acostumou a ver.

    Reza a lenda que a iniciativa Origens contemplaria não só Wolverine, mas outros tantos personagens mutantes, como Magneto, e para muitos, X-Men: Primeira Classe é a evolução desse pensamento, e dada a total falta de complexidade desse filme de 2009, é natural que o projeto tenha mudado. Logan aceita a proposta de Stryker em inserir adamantium em si, graças a perseguição que Victor faz ao seu antigo esquadrão que, é bom lembrar, teve apenas uma missão com o personagem principal, e que aparentemente, causa alguma preocupação nele.

    A escolha por essa atitude é tardia, e não é mostrado em tela momento algum que o homem que perdeu tudo não conseguiria vencer seu irmão mais velho em uma luta sem a utilização do adamantium. A cena inicial do processo cirúrgico e traumático em que ele viria a sofrer a experiência é mostrada de maneira fria, sem um clímax, toda colorida e iluminada, sem a violência e sujeira com que era premeditada em X-Men de 1998 ou no quadrinho Arma X, aliás, a sequencia dela é ainda mais irreal, já que ao sair da mesa de cirurgia, Logan, já com a dogtag de Wolverine sai nu da pós-operatório, mas quando sofreu a interferência o sujeito estava de cueca boxe. Talvez a tentativa do filme fosse utilizar o corpo do galã para alcançar um novo público, ainda que a via seja mais gratuita que Michelle Pfeiffer em uma roupa de couro em Batman: O Retorno, pois até no filme de Tim Burton isso era mais justificado.

    Por mais que rejeite a ideia de ser encarado como herói, Logan age de maneira muito correta, sem parecer o anti-herói que o tornou conhecido nos quadrinhos. Ele se refugia em uma fazenda com dois velhinhos simpáticos, que fazem as vezes de Martha e Jonathan Kent, e que são postos ali só para serem mais uma perda irreparável (desimportante, na verdade) para o protagonista. É tudo tão tolo que faz perguntar se os roteiristas David Benioff e Skip Woods estavam realmente levando a sério a história que estavam propondo ao público.

    Há desfiles em slow motion (talvez mais de uma dezena, ao longo apenas 107 minutos), show off de garrinha de adamantium — Wolverine a usa pra ver o céu e até para acender uma linha de álcool que está no chão. Há também a pretensão do roteiro em dar uma origem até para outro rival de Logan que não Dentes-de-Sabre, em uma personificação de Scott Summers ainda mais caricata e sem profundidade do que a que fizeram com James Marsdem.

    Por mais que Ciclope seja mostrado de forma torta, nada se compara ao que fizeram com Blob. Ele é mostrado mais velho e obeso, mas a forma como isso ocorre retira qualquer peso (sem trocadilhos das escolhas e dos eventos que ocorreram até agora no filme), e a justificativa para acontecer uma briga entre eles é completamente ilógica e estúpida.

    Por outro lado, Creed é mostrado perseguindo mais mutantes, demonstrando de forma didática ao espectador e ao personagem o quanto ele estava sendo manipulado no final das contas. Ver X-Men Origens: Wolverine é basicamente um pretexto para assistir Jackman atravessando o universo dos X-Men (ou uma paródia bem mal feita deste) para ter mini crossovers com personagens que não se fizeram presentes nos filmes da equipe, e claro, tendo essas inserções da maneira mais gratuita possível. Remmy Lebeau, por exemplo, tinha tido seu nome prenunciado nos arquivos da Arma X em X-Men 2, mas aparece aqui, como o Gambit de Taylor Kitsch, que é basicamente um show off do carteado, e nada mais.

    Na época de seu lançamento, muitos elogiavam a performance de Liev Schreiber, até se comparando com Jackman, mas a realidade é que ambos tem papéis tão fracos e ilógicos que elogiá-los beira o ofensivo. Não há nada. Nem complexidade e nem gravidade em suas ações. Tudo que o roteiro dedica aos atores soa extremamente bobo, quando não risível.

    Uma nova ameaça surge, a Arma XI, e ela é tratada como o guerreiro superior, que reúne todos os poderes dos mutantes que passaram pelo projeto genético. Supostamente não seria Deadpool a identidade inicial do algoz, mas aparentemente Reynolds agradou muito nas exibições testes, e seus olhos foram inseridos em cima da péssima animação inserida em cima do ator e dublê Scott Adkins. Mesmo a cooperação entre irmãos é mostrada de forma burra, não há tática, não há justificativa para aquilo, mas ainda haveria de piorar muito nos momentos finais.

    Stryker para deter Logan usa uma bala de adamantium que seguindo os tecnobables, apagaria sua memória (?!). Raposa Prateada se vinga do vilão, usando seus poderes para convencer o mesmo a andar até seus pés sangrarem. Gambit ao cair do céu gira seu bastão, como se fosse um helicóptero (e como tem helicóptero esse filme…), e Xavier aparece no final, para salvar as crianças em uma tentativa horrorosa de rejuvenescer Patrick Stewart por computação gráfica. Toda a ideia por trás de X-Men Origens: Wolverine é extremamente bem intencionada, tanto Origem quanto Arma X são revistas incríveis e poderiam gerar ótimos filmes, e caso esse fosse um longa apenas sobre as ações de Wolverine nas guerras, poderia ter sido algo melhor, mas claramente não era essa a pretensão, o que resulta em um filme sem alma, sem história e equivocado até em suas cenas pós-créditos, tão asquerosas quanto todo o decorrer de suas tramas.

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  • Crítica | O Rei do Show

    Crítica | O Rei do Show

    A principal pergunta a respeito de P.T. Barnum é se ele é um trambiqueiro ou um visionário. O Rei do Show se dedica a responder essas perguntas além de fazer uma ode à arte circense, baseando-se na história por trás do homem que aparentemente criou o conceito de show business. O personagem principal é mostrado ainda novo, em uma infância humilde, se apaixonando pela moça que seria a mãe de seus filhos. Na idade adulta, Barnum passa a ser interpretado por Hugh Jackman – novamente muito inspirado -, enquanto sua esposa, Charity Barnum, tem como intérprete Michelle Williams.

    O musical do diretor estreante Michael Gracey, valoriza o consumo de arte popular através da jornada de Barnum rumo ao autoconhecimento e ao estrelato, primeiro mostrando sua busca por pessoas incomuns para o seu show, depois ao revelar seu desprezo pela crítica especializada, que sempre considera seus números de mal gosto, basicamente por aparentarem vulgaridade.

    O roteiro e as músicas remetem a uma inclusão do diferente e quase todos os personagens exalam isso, mesmo os “bem-nascidos”, como Phillip Carlyle, de Zac Effron, um garoto de família tradicional que se junta ao tal circo, ainda que sua reputação esteja a beira da falência ao aceitar tal coisa. Nesse ponto a história é esquemática, mas mesmo nessas apelações ela acerta em tons de drama, especialmente no que tange a participação de Zendaya, como a acrobata Anne Wheeler, sendo ela a responsável pelo melhor desempenho físico do filme inteiro.

    Talvez a questão mais discutível do filme inteiro seja as curvas que Barnum. Ele se aventura por outras formas de shows, ao lado da cantora de ópera Jenny Lind (Rebecca Ferguson), basicamente por que vê nela uma oportunidade de ascensão. Após alguns fracassos, ele volta arrependido e não há reprimenda, isso soa um pouco inverossímil. O protagonista precisa passar por vários clichês de fracasso e redenção para perceber que a felicidade estava ali ao lado.

    Ao final se percebe que as condições de trambiqueiro e visionário não se anulam, ao contrário, se complementam para formar de fato a figura de um sujeito que enxerga muito além do entretenimento atual, alguém que está à frente do seu tempo e que ainda assim tem muitíssimas falhas. As histórias adocicadas e otimistas são as mais fáceis de digerir e de se apresentar e nem por isso são mais pobres, e até na defesa desse tipo de conto, O Rei do Show acerta em cheio, por ser carregado de significados, repleto de nuances e discussões adultas.

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  • Por que Logan não é um filme de super-heróis?

    Por que Logan não é um filme de super-heróis?

    Na entrevista coletiva dada em São Paulo, semanas antes da estreia mundial de Logan, o ator e produtor Hugh Jackman comentou que o longa em concepção não deveria e não tinha a intenção de ser visto como um “filme de super heróis”, ou um “filme baseado em quadrinhos”, mas sim visto como um grande filme pura e simplesmente.

    Como já dito aqui no Vortex, filme de super-herói não se reflete como um gênero. Não há regras que definem seus códigos e temas, como é com o drama e a ação. Seria então um gênero tautológico. Dessa forma seria algo oscilante mesmo, podendo sobreviver desde que mudasse rapidamente quais seus temas e abordagens. X-Men iniciou como uma sci-fi meio perdida no tempo, acrescentando as roupas de couro — vistas também em Matrix e Equilibrium, demonstrando a tendência de olhar para seres extraordinários de maneira mais sóbria. Na mesma coletiva Jackman lembrou-se que em X-Men o diretor Bryan Singer proibiu quadrinhos no set, pois gostaria que seu filme fosse uma adaptação relevante, algo além de uma cópia filmada. Existe um grande acerto nisso, como o Vortex já comentou no artigo sobre adaptações para o cinema. O filme não só não precisa, como não deve ser tão fiel assim ao seu material original. O termo-chave se chama “Especificidade do Meio”, que diz que cada mídia tem possibilidades de expressão particulares, e que assim funcionam a partir de fatores técnicos e artísticos.

    Mas claro, há espaço para tudo. A grande fazedora de filmes de super heróis atualmente, Marvel Studios, mesmo entendeu isso, e deu a oportunidade de que seus filmes tivessem gêneros distintos entre si. A parte da discussão sobre a fórmula Marvel ser um tanto previsível, ao menos a sensação é de conseguir extrair algo diferente do mesmo template a partir dos signos que cada gênero traz consigo, e assim atribuir alguma cor aos seus filmes. O thriller de espionagem que foi Capitão América e o Soldado Invernal, o filme de assalto que ao menos em algum nível conseguiu sair de Homem-Formiga, a paródia de Homem de Ferro 3. Sendo assim, basicamente nenhum filme de super herói precisa parecer com um, não precisa ter o mesmo gosto, apenas precisa despertar sensações que ressoem no material original.

    Não é, então, vergonha de ser colorido ou heroico. É apenas uma abordagem cabível em uma mídia que precisa interpretar aquele personagem de maneira um pouco mais robusta e condizente com a imagem que forma. Logan é, como disse o próprio diretor James Mangold, talvez o herói menos vaidoso que existe, sendo assim, se não for por motivos táticos (Como em X-Men 1, onde é insinuado que sua roupa alivia a dor da projeção das garras), ele seria o último personagem à vestir um uniforme amarelo e representar uma bandeira, chamar atenção pra si e servir como exemplo de algo. Seu heroísmo não heroico é aparentemente a melhor abordagem para o cinema, e a que vem se mostrando funcional até hoje, pois é condizente com o personagem.

    Logan então reflete muito do personagem dos quadrinhos, sua essência a motivações. A falta de uma memória e de momentos felizes que com ela vinham, bem como incerteza sobre o que é e o quem é, fazem de Logan um personagem mais interessante do que Wolverine e sua brutalidade. Um personagem híbrido e multifacetado que precisa constantemente escolher sobre como irá agir, e controlar aquilo que sente que não deve entregar ao mundo. Neste ponto, o conceito de família é extremamente relevante para sua personalidade, tanto quando à rejeita quanto quando à aceita. A família é aquilo que lhe dá o eixo, motivações, perspectiva de futuro e de ação.

    Leia nossa crítica de Logan, em cartaz nos cinemas.

    Texto de autoria de Marcos Paulo Oliveira.

  • Crítica | Logan

    Crítica | Logan

    A masculinidade tóxica é aquela que estabelece critérios para traçar o que é o ser masculino, montando cercas e delimitando emoções e ensinando a nos comunicarmos através da violência, legitimando-a na forma de um comportamento destruidor de si e daqueles ao seu redor. Essa masculinidade ainda nos entrega a nossa outrofobia, que é a aversão a tudo aquilo que não é o nosso EU.

    Lançado em 1963, no auge da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, X-Men é comumente associado à causa racial, devido o preconceito que sofriam ao serem segregados ao serem fisicamente “diferentes”, e às causas LGBT com suas intersecções, onde as referências são várias, como por exemplo, que a descoberta dos poderes mutantes ocorre geralmente na puberdade, além de diversas cenas onde filhos contam aos pais de maneira constrangida sua situação de mutante. Seus grandes líderes, Charles Xavier e Magneto são inspirações diretas de Martin Luther king Jr e Malcolm X. Sendo assim é sobre isso que se trata X-Men, sobre um tipo de poder renegando à tantos. O poder de ser aquilo e aquele que se é.

    E assim é Logan, filme que encerra a trajetória de 17 anos de Hugh Jackman à frente da franquia que iniciou o cinema de super heróis e suas principais temáticas. Uma Sci-Fi quase passada em um mundo sem data, sem futuro, mas com passado. Passado em 2029, após os eventos de Dias de um Futuro Esquecido e sem esquecer que houve todo um passado (Apesar da linha do tempo do universo X-Men nos cinemas, que não agrada muito quem se importa com isso), Logan usa os sentimentos nutridos por aqueles personagens para lhes dar profundidade e relevância. É desta forma que se torna chocante ver aquele que outrora foi Wolverine cansado e abatido pela dor de ser o que é. Envenenado por si mesmo. Por isso o choro fácil na primeira cena de interação entre Logan e seu mentor, Charles Xavier, a mente mais poderosa do mundo. Por isso e por conta da atuação de Patrick Stewart, que se apossou do personagem com uma entrega e paixão a qual só é possível agradecer. Agradecer pelas lágrimas e afeição provocadas, pois é raro ter esses sentimentos tão generosos dentro de uma sala de cinema que esteja projetando um filme dentro da temática heroica.

    Para amplificar essa relação, surge a X-23-Laura, a nova Arma-X, no papel de uma criança de olhos grandes e curiosos. Olhos de quem nunca viu o mundo, mas que o admira. Sua aparição e a presença de Charles Xavier foram Logan à deixar de atacar, mas cuidar. Não cuidar de maneira paternalista, mas tal qual uma leoa. “As garras a mais têm relação com o gênero dela. Leoas precisam caçar, mas também precisam defender” diz Xavier explicando sobre a biologia de Laura. Desta forma Logan se obriga a ser uma leoa e proteger, zelar pela vida e harmonia na medida de suas incapacidades emocionais.

    “Para que os brutos também possam amar”

    Charles assiste à uma cena de Os Brutos Também Amam, sobre a história de um pistoleiro espezinhado pelo seu passado, e que entende a violência como um caminho sem volta. Ela te persegue, seja a violência sofrida ou a violência gerada, sendo que nas duas situações o potencial transformador é o de piora do ser humano.

    Enquanto historicamente as mulheres e leoas se puseram responsáveis pela vida, os homens de puseram responsáveis pela morte e pela dor. Nas religiões matriarcais a vida está acima das ideias de maldade. Nós homens somos responsáveis por não compreender a vida, numa estratégia paternalista que nos confunde, baseada na glamourização violência e da crucificação, mas que por ser assim, estabelece nossa incapacidade de lidar com sentimentos, de prover carinho, vida e mudanças. Essa incapacidade é aquela que provoca nossa inveja que tanto mata, tanto fere e tanto nos torna incapazes de compreender laços.

    “O senhor da guerra não gosta de crianças”

    É preciso pensar, é preciso se curar… Curar das marcas, se curar daquilo que te ensinaram a ser, se curar daquilo que te machuca. É preciso retirar tudo aquilo que te envenena e não permite que sejamos nós mesmos em nossa plenitude. Pessoas na plenitude de suas fraquezas e de sua humanidade, sendo aquilo que escolheram ser. Por que podemos escolher um caminho melhor.

    Em determinado momento, porém, Logan diz para seu futuro: “Você não precisa ser aquilo que fizeram de você”. Não precisamos mesmo.

    Com um final espetacular para uma história tão gigante, Logan banca a assinatura do personagem e do seu diretor, James Mangold (Johnny & June), com uma violência seca e pungente, com ossos quebrando e gerando em nós sensações de aflição e tormento. Aqui a violência não é um espetáculo para ser apreciado, mas para ser sentido e incômodo. A ideia é que não há beleza nessa violência, mas consequências sérias e muitas vezes irreversíveis. É desta forma que surge aquele que é provavelmente o melhor filme baseado em quadrinhos em muito tempo, indo na contramão da espetaculização e se encontrando com o que há de humano em todos esses personagens e suas histórias, pois histórias são acima de tudo sobre pessoas.

    Texto de autoria de Marcos Paulo Oliveira.

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  • Crítica | Peter Pan

    Crítica | Peter Pan

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    A intenção de Joe Wright em refilmar o clássico literário e de animação Peter Pan é bem clara, e muito ligada a sua filmografia, comumente retratando cenários suntuosos e tramas que primam pelo visual. Como em Anna Karenina e no curioso Hanna, este Pan de 2015 consegue exprimir nuances no imaginário do público, distantes demais do que a maioria dos espectadores sabe a respeito do rapaz que não cresce.

    A trama se passa antes da época de As Aventuras de Peter Pan, filme animado premiado de Walt Disney, e se distancia muito da versão em live action da década passada, especialmente pelo esmero de seu diretor em dar ares de grandeza ao conto. Levi Miller dá vida ao personagem-título de uma maneira interessante, apoiado em um roteiro que apela para orfandade, claramente no intuito de universalizar ainda mais sua história. Pecados de clichês à parte, os defeitos do filme passam longe da personificação do ator mirim.

    Os efeitos especiais da trama são ligados às coincidências e às uniões que Pan faz ao chegar a Terra do Nunca. A construção de cenários e atmosferas do lugar mágico são curiosas, misturando pop, anarquia e crossdresser, fatores que fazem do caricato Barba Negra de Hugh Jackman um personagem que não prima pelo conteúdo, mas que funciona em quase todas as vezes em que é acionado, especialmente nos momentos musicais, onde os renegados entoam hinos grunge e punk.

    No entanto, a personificação de James Hook poderia ser melhor trabalhada. Garret Hedlund não tem qualquer carisma – vide Tron O Legado e Na Estrada – a ponto de seu personagem não dizer nada absolutamente ao público. Quando ele não está em tela, quase não se sente sua falta. A ausência de qualquer complexidade em seu comportamento o torna genérico, como qualquer anti-herói que se vira para o “lado do bem” repentinamente. O cuidado em construir um 3D que acrescenta á trama passa longe de ser o mesmo na atmosfera em volta do pretenso Capitão Gancho, pouco fazendo crer que ele se tornaria o antagonista de uma possível continuação.

    Apesar de tropeços na construção de cenários da terra dos nativos, onde habitariam os Garotos Perdidos e onde habitam aves esdrúxulas que mais lembram pokemóns deformados,  não há muito a se lamentar. As escolhas para retratar a matança de seres místicos são tão inocentes que beiram a poesia. Wright mais uma vez abusa das cores, o que faz pensar em certa ambiguidade de seu texto, referenciando não só à psicodelia, como também ao flerte com questões graves, como dislexia infanto-juvenil. Peter Pan não consegue o intento de ser uma obra-prima, em razão de algumas licenças textuais ruins, mas funciona como versão em carne e osso de uma história conhecida por ser animada, especialmente em comparação com as péssimas adaptações recentes, como Branca de Neve e o CaçadorAlice No País Das Maravilhas, Cinderela e o musical Caminhos da Floresta.

  • Crítica | Chappie

    Crítica | Chappie

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    A cotação é maior do que o filme realmente merece. As três estrelas são por todas as boas ideias e sacadas que mereciam ter sido melhor exploradas no roteiro. Boas intenções não fazem um bom filme, mas achei que valiam ao menos para incrementar a nota dada à história de um engenheiro – Deon (Dev Patel) – que, depois de ser o responsável pela invenção de droides autônomos, utilizados como força policial, esforça-se para desenvolver uma inteligência artificial que consiga replicar a consciência humana. Frustrado com a executiva da empresa onde trabalha, – Michelle Bradley (Sigourney Weaver) -, mais interessada em vender armas que poetas, resolve agir por conta própria.

    Desde Distrito 9, o público espera que Neill Blomkamp repita a dose do que se tornou sua “especialidade”: misturar ficção científica com crítica social. Elysium parecia promissor, mas deixou bastante a desejar. E este, apesar da boa premissa, também não chega aos pés do maior sucesso do diretor/roteirista.

    A maior falha é o roteiro não saber para que lado vai. A narrativa não se decide entre fazer graça, fazer crítica social ou partir para cenas de ação. Sem contar a infinidade de incongruências tecnológicas que deixam qualquer nerd indignado. Ok, é uma obra de ficção, mas um mínimo de bom senso e verossimilhança ajudam muito a mergulhar o espectador no universo da história. E o roteiro falha ostensivamente nisso. Vale reparar que essa “indecisão” vem desde os trailers. O primeiro dá impressão de que é um filme quase infantil, algo como Wall-E + ET. Enquanto o segundo já parte para a pancadaria, mais parecendo Robocop, dando enfoque ao vilão, Vincent Moore (Hugh Jackman).

    Inicialmente, parece que o roteiro irá focar na discussão sobre a substituição do contingente humano por um robótico no policiamento e em suas consequências, boas ou ruins. O filme avança mais um pouco, e o foco passa a ser a evolução da inteligência artificial, a possibilidade de construir máquinas (quase) à nossa imagem e semelhança, com capacidade para aprender e sentir. O espectador pensa “Ah, o filme é sobre a ética da IA.”. Ledo engano. Alguns minutos se passam, e o enfoque é o preconceito, a aceitação (ou não) de estranhos ou ‘diferentes’ em um grupo social. Mais adiante, é sobre a capacidade de adaptação e aprendizado de um ser inteligente não-biológico. Nesse meio tempo, o tom da narrativa também muda, mas de forma irregular e pouco consistente. Nenhuma história, nenhuma pessoa é séria ou cômica o tempo inteiro. Porém, neste roteiro o que fica nítida é a indecisão quanto à forma de contar a história de Chappie. Essa variação no tom mostra-se pouco “orgânica” – para usar um termo da moda. E incomoda quem assiste. Pois uma coisa é ir ao cinema achando que é um filme infanto-juvenil sobre um robô engraçadinho e descobrir logo nos primeiros minutos que é algo mais sério e violento. Outra coisa é o filme mudar essa perspectiva a cada cena.

    Falando dos personagens, apesar de algumas falhas na construção – perdão pelo trocadilho – Chappie é de longe o personagem mais bem estruturado, com mais profundidade. Os demais, em sua maioria, são estereotipados e, em alguns casos, pouco críveis. Michelle Bradley, diretora da OCP, digo, Tetravaal, é apenas uma executiva padrão. Ou até menos, pois que executivo não se apegaria à possibilidade de testar uma nova tecnologia que o deixaria à frente da concorrência? Deon Wilson é o engenheiro responsável pela criação do modelo de robôs policiais similares a Chappie. É um nerd típico que passa a noite em claro programando e movido a energéticos. E, convenhamos, por mais nerd que seja, ninguém deixaria sua própria criação, um salto tecnológico em IA, nas mãos de qualquer um. A gangue que “acolhe” Chappie – Ninja, Yolandi (Ninja e Yo-Landi Visser, vocalistas da banda sul africana de rap-rave Die Antwoord, responsável pela trilha sonora) e Yankie (Jose Pablo Cantillo) – está longe de ser ameaçadora, mais parece um grupo de comédia pastelão. Mas mesmo assim, em termos de complexidade e identificação com o público, estão anos-luz à frente de Vincent Moore. Mais clichê impossível. O engenheiro com ideias diametralmente opostas às de Deon, não é apenas um estereótipo, mas uma caricatura. Chega a ser chato, de tão previsível. Sua animosidade em relação a Deon é exagerada demais, teatral demais. Enfim, apesar dos personagens deixarem a desejar, não há o que reclamar do elenco, que faz o que pode com o material que tem em mãos.

    E há, como dito anteriormente, inconsistências, não apenas tecnológicas, que certamente atrapalham a suspensão de descrença necessária para comprar a ideia do filme: Douglas, parceiro no blog Cafeína Literária ajudou a lembrar as mais gritantes:

    1- O departamento, ou empresa, que cuida da segurança da Tetravaal deveria ser inteiramente dispensado. Que (falta de) segurança é aquela? Em que praticamente qualquer um tem acesso ao chip responsável pela programação dos robôs. Em que um funcionário consegue sair das instalações levando não apenas material da empresa mas também armas. E para que servem as câmeras de segurança que filmam essas ações, se aparentemente não há ninguém assistindo a elas?

    2- Como um capacete feito para ler ondas cerebrais – de novo, ce-re-brais – consegue ler o “cérebro” de um robô? Ok, são pulsos eletromagnéticos, mas até mesmo um leigo sabe que os pulsos emitidos por uma máquina, um forno micro ondas por exemplo, são beeeem diferentes da ondas emitidas pelo cérebro humano

    3- Se, como afirma Deon, Chappie tem poder de aprendizado acima da média, conseguindo inclusive descobrir como transferir a consciência de uma pessoa para um pendrive, por que continua falando como criança ou usando as gírias tolas de seus colegas de bando? Poderia, ao menos, sair falando feito He-man.

    É uma premissa muito boa, perdida em um roteiro mal construído. Na torcida para que o próximo Alien seja melhor que isso.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Crítica | X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido

    Crítica | X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido

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    A carreira de Bryan Singer se aproximava perigosamente da de seu contemporâneo Peter Jackson. Ambos tiveram um começo bom, com primeiros filmes de sucesso relativo, e que depois encabeçaram franquias de milhares de fãs, ainda que em X-Men, Singer dispusesse-se de muito (mas MUITO) menos orçamento do que Jackson angariou na trilogia O Senhor dos Anéis. Após ambos saírem de sua zona de conforto, insucessos vieram, já que King Kong, Um Olhar no Paraíso, Operação Valquíria e Jack, o Caçador de Gigantes não foram produções ruins necessariamente, mas ficaram muito aquém das expectativas dos estúdios. Em comum entre os dois estaria o retorno às franquias que os projetaram ao estrelato, mas diferentemente de seu igual, Singer logrou êxito ao falar dos seus conhecidos personagens, até porque sua vida pessoal o credencia a falar de excluídos. A segregação que sofreu por ser judeu e homossexual certamente é semelhante ao sofrimento mostrado em tela com a raça de homo superior caçada em 2023.

    O núcleo dos personagens “veteranos” é secundário, ainda que seja esta realidade a que origina o plot principal, pois como visto na publicação de Claremont e Byrne, o futuro dos mutantes e de seus simpatizantes é sombrio, com muitas referências visuais a Exterminador do Futuro de James Cameron  que por sua vez jamais assumiu a influência da história em sua obra. Kitty Pryde, personagem de Ellen Page, lidera um dos poucos grupos de resistência, e, por meio de uma mutação secundária (estigma adotado nas revistas X nos idos dos anos 2000), consegue transportar para um passado recente a consciência dos outros mutantes ao seu corpo. A Ninfa (ou Lince Negra), Robert Drake, o Homem de Gelo (Shawn Ashmore), e outros mutantes, vivem a fugir dos Sentinelas, até que recebem uma visita do que sobrou dos X-Men, Xavier, Magneto, Tempestade (Halle Berry) e, claro, Wolverine, interpretado por Hugh Jackman. O plano em conjunto é retornar ao passado através de Xavier para que este impeça Mística (Jennifer Lawrence) de assassinar Bolívar Trask, criador dos robôs caçadores. A saída do roteiro foi deveras inteligente, uma vez que a trama de Robert Kelly já havia sido descartada pelo próprio diretor, em 2000.

    Uma grande fonte de reclamações dos fãs relaciona-se à cronologia da franquia nos cinemas. Para todos os efeitos, o trabalho feito por Mathew Vaughn é sim um reboot que obviamente leva em consideração alguns pontos da história dos filmes de Singer. A Casa das Ideias sempre menciona que os quadrinhos Dias de Um Futuro Esquecido faz parte de uma realidade alternativa. Tais elementos podem ser encarados como problemas, mas para quem está acostumado a consumir quadrinhos mensais e tem de engolir novos recomeços a cada cinco anos, e claro, com conteúdos muito mais incongruentes, as concepções dentro do filme são de fácil digestão, até porque o foco maior é a continuação da trama inciada nos anos 60. Os dois grupos de mutantes liderados por Charles Xavier (James McAvoy) e Erik Lensher (Michael Fassbender) foram dissolvidos, e as causas dos eventos, muito ligadas ao aparentemente contido Bolívar Trask, são aos poucos mostradas em tela. Protagonizado pelo ótimo Peter Dinklage, Trask é um cientista que aparentemente busca a sobrevivência dos humanos, mas que impinge a muitos mutantes experimentos semelhantes aos que os nazistas realizavam com judeus. Obviamente, as experiências genéticas feitas por Trask causam ódio em Mística, que via seus iguais serem exterminados, o que a faz se transformar em uma autêntica máquina de matar suas cenas de ação são de um primor visual ímpar.

    O foco emocional é todo voltado à crise existencial de Xavier nos anos 70. O Professor X volta a andar graças a uma droga criada por seu então lacaio Hank McCoy (Nicholas Hoult), substância essa que reprime os poderes do Doutor, assim como seu ideal de querer mudar o status quo por meio do pacifismo. Ele é mostrado como um homem deprimido, resignado e desesperançoso, uma nuance pouco explorada nos quadrinhos, mas plenamente condizente com a época, visto que os anos 70 foram de muita decepção para os americanos, basta lembrarmos do Vietnã. Xavier quer interromper seus poderes por não aguentar mais ouvir em sua mente as vozes e as lamúrias das pessoas, além, é claro, de viver da culpa por ter perdido seus alunos e companheiros em lutas anteriores.

    Já Magneto também estava de mãos atadas, encarcerado, metros abaixo do Pentágono, acusado de um crime terrorista que não havia cometido. Sua fúria aumentou mais, a despeito até de sua postura mais calma quando reintroduzido. A ideologia presente nos primeiros discursos de Malcolm X torna-se ainda mais flagrante quando são analisadas as ações de seu passado em comparação com as de sua contraparte do futuro. Mas ambas as encarnações de Erik demonstram um poder magnânimo, algo que Singer ainda não podia mostrar antes nos filmes anteriores, talvez pela falta de verbas.

    Mesmo com tudo isso, os melhores momentos de Magneto são as discussões que envolvem Raven, Charles e ele, formando um triângulo amoroso/ideológico de cunho emocional e tocante, visto que todos se sentem traídos, até havendo razão em se sentirem assim. Dos embates o mais emocionante certamente é o primeiro encontro dos dois antigos amigos, precedendo uma sequência de ação das mais engraçadas, que, mesmo com o alívio cômico de Mercúrio (Evan Peters) — uma participação ótima —, consegue manter o tom emotivo e simbólico do que seria aquela amizade milenar e do quão ambos valorizariam um ao outro pela causa mutante.

    Pela primeira vez, em todos os filmes dos mutantes, Wolverine não é o protagonista. Porém, sua importância é obviamente gigante, fazendo a ponte para o encontro dos protagonistas, uma escada na maior parte de sua inclusões como personagem. Tal escolha não impediu que Singer registrasse o Carcaju expondo suas nádegas, dando vazão a (mais) fantasias de leitores talvez a questão esteja no contrato de Jackman com a Fox. Iniciada em X-Men – Primeira Classe, a pecha de transformar os filmes da franquia X-Men em películas em que se divide o protagonismo é cada vez mais solidificada, assim como o enfoque da questão social, deixada de lado em X-3 e nos spin-offs. Os assuntos mais interessantes retratados nas grandes histórias de mutantes são estes, o paralelo com as ideologias, a discussão a respeito do preconceito e até aonde esta guerra pode ir.

  • Crítica | X-Men: Dias de um Futuro Esquecido

    Crítica | X-Men: Dias de um Futuro Esquecido

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    Cronologia é algo divertido, mas complicado. Acompanhar os mesmos personagens ao longo de várias histórias e ver acontecimentos com consequências futuras são muito legais, mas os problemas não demoram a surgir. Além da necessidade de tudo estar amarrado e fazer sentido, o vício dos autores em revisitar o passado, recontar origens, adicionar mais detalhes ao background, invariavelmente leva aos famigerados furos da história. Nesse sentido, os X-Men são a franquia cinematográfica que melhor representa a mídia original, os quadrinhos. O mais recente longa dos mutantes chegou com a ambiciosa proposta de conectar a trilogia original, os filmes solo de Wolverine e o reboot não assumido X-Men: Primeira Classe. Se teve sucesso ou não, depende de como se avalia.

    A história não pode ser chamada de adaptação, pois é apenas inspirada livremente na célebre hq oitentista Dias de um Futuro Esquecido, de Chris Claremont e John Byrne. Num futuro próximo, o mundo foi devastado pelos Sentinelas, robôs criados para caçar mutantes mas que acabaram se voltando contra toda a humanidade. Revemos algumas figuras da trilogia num grupo comandado por Xavier e Magneto que basicamente foge e se esconde para sobreviver. A última tentativa desesperada é um plano de enviar a consciência de  para o corpo dele em 1973, data em que Mística assassinou Bolívar Trask, o criador dos Sentinelas, e foi capturada. O DNA da mutante foi a chave para os robôs se tornarem invencíveis. Logan precisará reunir as versões mais jovens de Erik e Charles (X-Men – Primeira Classe) para ter alguma chance de mudar o passado e salvar o futuro.

    Havia a expectativa de que Dias de um Futuro Esquecido consertasse ou ao menos tentasse explicar as discrepâncias entre os capítulos anteriores. Nesse aspecto, não se pode negar que o filme falhou miseravelmente: não só deixou de explicar os furos, como ainda adicionou mais alguns. Kitty Pride (Ellen Page) surge com outro poder além de se tornar intangível: mandar a consciência dos outros de volta no tempo (como raios alguém descobre ter um poder desses?). Muito melhor seria apresentar isso como uma evolução dos poderes do próprio Xavier, ou usar o personagem Forge construindo uma máquina. Charles recuperou seu corpo explodido em X-Men – O Confronto Final, Logan recuperou as garras de adamantium perdidas em Wolverine – Imortal, e sem nenhuma menção a esse respeito. A impressão é de que o cenário apresentado era um futuro da linha temporal de Primeira Classe, que POR ACASO continha elementos que lembravam a trilogia original, confirmando assim duas realidades distintas – algo que os produtores nunca admitiram.

    Superada essa falha, o núcleo futurista funciona muito bem. O peso dramático de um mundo pós-apocalítico é sentido perfeitamente. Estes X-Men agem como uma experiente unidade paramilitar acostumada a táticas de guerrilha. As cenas de combate contra os Sentinelas são ótimas, violentas e fazem bom uso dos poderes de todos os mutantes envolvidos. Além dos velhos conhecidos Kitty, Tempestade, Homem de Gelo e Colossus (pra variar, mudo como uma estátua), vemos pela primeira vez no cinema Bishop, Apache, Blink e o brasileiro com cara de mexicano Mancha Solar. Além disso, é sempre ótimo ver atores do calibre de Ian McKellen e Patrick Stewart, ainda que rapidamente.

    Pois a maior parte do história se desenrola no passado, confirmando que o filme é, acima de tudo, uma continuação de Primeira Classe. E o salto de 10 anos se mostra brutal: Xavier caiu numa depressão extrema, fechou a escola e debandou os X-Men, dos quais vários morreram, vítimas das experiências de Trask (Peter Dinklage, discreto e eficiente). Apenas o Fera permanece ao seu lado. Magneto foi aprisionado após seu envolvimento na morte de JFK. Mística atua como uma terrorista solitária lutando pela causa mutante. Logan cai no meio disso, e, com toda a sua finesse, terá que reuni-los. Aqui entra o gancho para a divertida e pontual participação de Mercúrio, com Evan Peters carismático como o herói nunca conseguiu ser nas hqs. Nada de muito original e revolucionário ao retratar a supervelocidade, mas as duas percepções (a do próprio velocista e a dos outros) foram mostradas de forma muito interessante.

    Numa história com tantos personagens, era fundamental ter foco em alguns e (infelizmente) sacrificar outros. Uma pena que o Fera (Nicholas Hoult) seja apenas um assistente/guarda-costas/capanga do bem de Charles, mas o roteiro de Simon Kinberg, Jane Goldman e Matthew Vaughn alcança um louvável equilíbrio ao centralizar as atenções em quatro mutantes. Hugh Jackman naturalmente tem destaque como o fio condutor da trama, mas não é nem de longe um protagonista absoluto – o que não deixa de ser uma surpresa; Jennifer Lawrence tem a chance de aparecer bastante de cara limpa (o que não é surpresa nenhuma) numa sólida atuação, aproveitando a importância colocada em sua personagem; Michael Fassbender tem uma participação sensivelmente diminuída em relação ao filme anterior, que era quase um “Origens: Magneto”. Mas o cara é tão bom que não precisaria nem de cinco minutos para mostrar isso. Sempre na linha entre vilão e anti-herói, Erik é aquele que não faz concessões, segue firme em sua convicção e mantém alianças de acordo com a conveniência.

    Mas o coração da história é inegavelmente Charles Xavier. Pela primeira vez na franquia, os holofotes se concentram nele, e o resultado é sensacional. Quase sempre retratado como uma rocha inabalável, dessa vez ele atravessa uma crise de fé, e temos a noção do quanto isso afeta os mutantes e por consequência o mundo inteiro. Não é fácil ser bom, honesto, herói e líder, e acreditar na proposta otimista (e ingênua) da coexistência pacífica entre humanos e mutantes e ainda assim continuar lutando por ela, especialmente num mundo onde isso parece impossível. Outro ponto a ser aplaudido é a ausência de maniqueísmo no filme: as retaliações de lado a lado parecem inevitáveis e justificáveis; todos estão errados. E cabe a Charles manter o fardo de ser o certo, redimir Mística, perdoar Magneto e salvar os humanos que querem aniquilar sua raça. James McAvoy faz um trabalho espetacular.

    Os méritos desse acerto devem ser dados também a Bryan Singer. Ele mostra mais uma vez o quanto entende desse universo, e consegue enxergar aquilo que realmente importa nos X-Men. Não uma fidelidade total a uniformes ou a altura de personagens (inacreditável a essa altura do campeonato ainda existir quem questione o Wolverine de Jackman), mas conteúdo moral, social e filosófico que sempre foram o cerne das melhores histórias dos mutantes. Dias de um Futuro Esquecido é o tipo de filme imperfeito, mas com acertos tão gratificantes que os erros merecem ser perdoados. Como o próprio final indica, a postura do espectador deve ser curtir a homenagem à trilogia original, mas esquecê-la. Apreciar as próximas aventuras sem esquentar tanto a cabeça com a cronologia, algo que os leitores de quadrinhos já aprenderam (ou deveriam ter aprendido) há tempos.

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • Crítica | Fonte da Vida

    Crítica | Fonte da Vida

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    Fonte da Vida (The Fountain, 2006), terceiro longa dirigido por Darren Aronofsky, foi um projeto complicado, com orçamento inicial de 75 milhões de dólares, primeiro com Brad Pitt, que abandonou o projeto ainda na pré-produção para fazer o péssimo Troia, culminando também na saída de Cate Blanchett do elenco. Com a perda das duas estrelas principais, o projeto foi inicialmente cancelado, tendo que ser reescrito para uma versão que consumisse metade do orçamento original, agora com Hugh Jackman e Rachel Weisz nos papéis principais.

    O filme tem o roteiro assinado por Aronofsky e Ari Handel e nos conta a história de Tommy Creo (Jackman), um cientista obcecado pela descoberta da cura do câncer, motivado principalmente pelo fato de sua esposa, Izzi Creo (Weisz), sofrer da doença já em estágio avançado. A possibilidade da cura é aventada com uma amostra de uma árvore única, vinda da Guatemala, que não apenas pode curar o câncer, como tem um efeito rejuvenescedor em quem o tratamento é submetido. Em paralelo à isso, temos a história do Conquistador (também Jackman) e da Rainha Isabel da Espanha (também Weisz), fruto de um livro que está sendo escrito por Izzi, em que o Conquistador deve buscar nas florestas da Nova Espanha a Árvore da Vida, para salvar seu reino da tirania de um inquisidor. Por último temos uma história no futuro, de Tommy, já como um astronauta em uma bolha com a Árvore da Vida, a caminho da nebulosa de Xibalba, que no mito de criação Maia é o mundo dos mortos. Esta terceira história é também fruto do livro escrito por Izzi, seu último capítulo, que ela pede para que Tommy escreva.

    Num primeiro olhar, essa não linearidade da narrativa pode parecer um tanto confusa, mas apenas um pouco de atenção por parte do espectador, e o preenchimento das lacunas deixadas meticulosamente em aberto pelo diretor, já são o suficiente para não apenas entender a obra, mas também dar-lhe uma conotação completamente pessoal.

    Com tantas interpretações e subtextos, seria impossível abordar todos, até porque estes incorreriam inevitavelmente na interpretação pessoal, e não apenas na análise da obra, mas alguns destes podem ser destacados, como o assunto central da narrativa, que funciona como uma grande reflexão poética sobre o amor e a morte, sua aceitação e sua condição como algo inexorável da vida, cíclica desde suas origens nas supernovas e poeira estelar, chegando até nós humanos.

    Além disso, outro tema já recorrente da filmografia do diretor também se faz presente, a já citada obsessão dos personagens interpretados por Hugh Jackman, colocando essa atitude como um difusor no olhar do protagonista, em que ele mira para objetivos inalcançáveis ou irreais, disposto a tudo por eles, mas ao mesmo tempo isso faz com que ele se afaste do que realmente importa na sua vida corrente. Como tenta, sem sucesso, lhe mostrar a Dra. Lillian (Ellen Burstyn), dizendo que mais do que a cura para a doença, o que Izzi mais precisa naquele momento é a presença de Tommy. Ideia reforçada também por Izzi, ao tentar fazê-lo enxergar que a tal descoberta de uma cura para tudo, até mesmo para a morte, não era de fato para ela, que se sentia serena e completa em face da fatalidade, mas sim para ele, que não aceitava o curso natural da vida.

    Outro ponto a se notar é a presença dos mitos de criação, mais explicitamente o Cristão e Maia, que servem como ponto de apoio para nos mostrar que a busca do cientista, do astronauta, e do Conquistador, é algo maior do que apenas a vida eterna, ele pretende se tornar algo que não apenas burla o ciclo que nem mesmo as estrelas escapam, mas se tornar tão grande, ou até maior, do que as nossas próprias mitologias.

    Fora toda a filosofia que pode se retirar da obra, as atuações também estão ótimas; Hugh Jackman, que à época do filme ainda não tinha tantos trabalhos de peso dramático em sua carreira, mostrava que era capaz de uma excelente atuação fora dos filmes de super heróis e ação, passando sempre o peso emocional requerido para o personagem, com uma dificuldade a mais para os trechos como astronauta, em que a situação psicológica do personagem varia entre o zen e a loucura rapidamente, além de estar quase o tempo todo sozinho.

    Rachel Weisz, apesar do pouco tempo de tela, também executa brilhantemente seus papéis, principalmente como Izzi, pois ao mesmo tempo que é uma pessoa em estado terminal que aceita sua condição, também tem os medos e inseguranças naturais de uma situação como essa, sem nunca passar do ponto ou com qualquer exagero habitual desse tipo de papel.

    A trilha sonora também merece ser observada, criada por Clint Mansell, repetindo a parceria entre o diretor e o compositor de PiRéquiem Para Um Sonho, ajudam e muito a compor toda a atmosfera que o filme exige, tanto nos trechos em que a dor, emoção, e amor são os temas, quanto aos momentos contemplativos vividos pelo astronauta Nova Era, estes também acompanhados de bons efeitos visuais, principalmente na simbiose entre o personagem e o Cosmo.

    Fonte da Vida é um filme que tem uma mensagem forte o suficiente até para o mais incauto espectador, mas que se torna ainda melhor se embarcarmos na reflexão por ele proposta, preenchendo as lacunas com nossas visões de mundo, crenças (ou falta delas), fazendo com que seja não mais um filme, mas uma verdadeira experiência produtiva e intensa.

    Ouça nosso podcast sobre Darren Aronofsky.

  • Crítica | Os Suspeitos

    Crítica | Os Suspeitos

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    Novo filme do cultuado diretor canadense Dennis Villeneuve, Os Suspeitos é um bom suspense de grande tensão: a procura de um pai por uma filha desaparecida, gerando grande conflito e envolvimento emocional em diferentes escalas dentro de um grupo de pessoas próximas.

    Situado na fria e chuvosa cidade de Boston, Keller Dover (Hugh Jackman) leva uma vida feliz ao lado da esposa Grace (Maria Bello) e os filhos Ralph (Dylan Minnette) e Anna (Erin Gerasimovich). Em visita a casa dos amigos e vizinhos Franklin (Terrence Howard) e Nancy Birch (Viola Davis), sua filha, a pequena Anna (Kyla Drew Simmons), desaparece. As famílias logo procuram a polícia e o caso cai nas mãos do detetive Loki (Jake Gyllenhaal) que prende um suspeito, Alex (Paul Dano), que logo é solto devido à ausência de provas. Alex é um adulto problemático e com sintomas de deficiência cognitiva, mas que parece ser o culpado para Dover, que irá ultrapassar os limites de tudo o que acredita para encontrar sua filha.

    Começando já na escolha do tema (desaparecimento de crianças) o diretor acerta no objetivo de mobilizar uma plateia da mesma forma que qualquer um desses casos mobiliza a opinião pública. O infalível aspecto de pureza e inocência de uma criança torna qualquer ato contra ela abominável e irá aglutinar na comoção e condenação desse ato e seus realizadores grande parcela da sociedade, da mesma forma que acontece com o público do filme, que embarca na história e se pergunta a toda hora se faria algo diferente do que lhe é mostrado.

    Emocionalmente falando, o filme então consegue compreender a dimensão devastadora de um caso como este, que não é incomum em nenhum lugar no mundo, e que mostra como toda a dimensão da tecnologia não é capaz de nos proteger dos terrores da própria humanidade. A sensação de impotência dos protagonistas é destacada a todo instante, assim como as brigas internas dos adultos, evidenciando em todo instante a frustração de não conseguir fazer nada. Também neste aspecto somos apresentados ao detetive Loki, que é deixado claro ser um policial típico de filmes de investigação: solitário, sem vida, obcecado pelo trabalho e empático com as injustiças sofridas pelas vítimas dos crimes que investiga. Loki e Dover são personagens interessantes, que por vezes se antagonizam, mas ambos buscam o mesmo objetivo, um dentro e outro a margem da lei, simbolizando o eterno conflito de “civilização x selva” que sempre vem à tona quando o assunto é a violência humana.

    Também é interessante a construção de Alex, um personagem que é a todo instante tratado como culpado, e que parece culpado realmente. Em todo o calor gerado por comoções públicas, faltou ao diretor movimentar a história mais nesse sentido, e tornar a vingança egoísta e personalista de Dover como também parte da opinião pública, e não só pessoal. No entanto, faltou ao filme um trabalho melhor no que tratou da parte policial e investigativa. Ao contrário de outros clássicos do gênero, como “O Silêncio dos inocentes”, Os Suspeitos em alguns momentos falha em manter a expectativa da resolução do crime, e as pistas oferecidas dão ao espectador a chance de desvendar pedaços da história antes de Loki, enfraquecendo seu personagem, como na cena onde é utilizado o velho clichê da mesa destruída pela frustração e ali uma pista crucial é desvendada, quando um espectador mais atento teria reconhecido aquela pista vários momentos antes.

    O mesmo se repete na cena final, quando detalhes importantes são ignorados a fim de se encerrar a história em um clímax instigante e que deixa no ar o que poderia ter acontecido, mas não a ponto de não responder exatamente isso ao “acostumado às respostas” público americano. Caso não se focasse na investigação policial em si, detalhes como estes poderiam ser relevados (Dover vai a casa da tia de Alex com mala, ferramentas e deixa várias pistas, que são ignoradas pela história quando a casa é invadida e revirada por policiais, e nenhuma resposta a essas pistas é dada), mas nesse caso, enfraquece a narrativa investigativa sob a perspectiva policial.

    Apesar de uma fotografia muito bem construída, e também atuações dignas de grandes atores (talvez a melhor de Jackman), Os Suspeitos se alonga por muito tempo em redemoinhos narrativos (como a tortura de Alex por Dover) e que desgastam o choque inicial, travando o desenvolvimento da história. Quando o filme acaba, sobra uma sensação de “ainda bem” misturada a outra de satisfação com uma história que traz à tona discussões interessantes sobre paternidade, violência e sociedade, mas que poderiam ter sido levadas por um caminho mais ousado, questionando mais o valor da mídia e das decisões pessoais nesses casos, como faz magistralmente o longa dirigido por Ben Affleck, “Medo da Verdade” (Gone Baby Gone).

    Os Suspeitos é capaz de entreter e tem uma crueza e aspereza condizentes com o tema retratado, mas que falha em desenvolver objetivamente seu ritmo e conduzir os protagonistas em um desenvolvimento que justifique o tempo de tela, assim como em produzir pistas e recompensas que causem mais do que um certo “eu já suspeitava” ao seu final, enquanto prometia algo além. É um bom filme, mas que não acrescenta muita coisa ao gênero, recheado de clássicos mais completos.

    * Detalhe para a horrível tradução do título em português. Prisioneiros traduziria perfeitamente o que o filme quer passar, quando pais são prisioneiros dos captores de seus filhos. Os Suspeitos além de genérico e vazio, entrega que já há mais de um suspeito do crime.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Crítica | Os Suspeitos

    Crítica | Os Suspeitos

    Prisoners 2013

    O canadense Denis Villeneuve tem uma carreira curta, porém proeminente, como realizador de filmes. Seus trabalhos já são muito bem quistos pela crítica e pelo público – especialmente depois de Incêndios (Incendies), que foi indicado pela academia como melhor filme de língua estrangeira em 2011. Esta sua primeira direção de um filme estadunidense e com um grande orçamento, a fita Prisoners (que deveria ter a sua tradução literal para o título do filme), é um suspense milimetricamente planejado e realizado com um esmero pouco visto no cinema atual.

    O primeiro mérito da produção é a autonomia com que Villeneuve leva o seu filme, conseguindo ultrapassar os limites que muitos diretores estrangeiros não conseguem, que é o de rodar exatamente o que se quer sem interferências externas. Os Suspeitos é uma película implacável, violenta e visceral, que não tem dó do seu expectador, esmiuçando os problemas de seus personagens sem piedade e apelando para uma questão de empatia universal: a relação de paternidade e o cuidado com os filhos.

    Hugh Jackman interpreta Keller Dover, um pai atencioso que tem sua filha raptada logo nos primeiros momentos de tela. A menina é levada junto com uma amiga, e o drama das duas famílias é explicitado em cena. Cada um dos membros dos clãs reage de uma forma, uns de forma passiva, outros inconformados. Keller se desespera, é sempre o mais propenso a agir, muito movido por uma auto-culpa por não ter conseguido impedir o sequestro , que se agrava com as constantes acusações de seu filho mais velho (Dylan Minnette). Dover se desentende com o responsável pelas investigações, Detetive Loki, interpretado por Jake Gyllenhaal, achando que ele não está se esmerando o suficiente e decide tomar uma atitude drástica com relação a um dos suspeitos e então o filme se divide em duas frentes, a demonstração das ações de Keller e a investigação do policial.

    Quando Loki vai atrás de pistas, as janelas pelas quais as imagens passam estão empoeiradas, numa óbvia alusão a completa falta de clareza nas investigações que move. O argumento é repetido com a neblina que sempre envolve o personagem, o detetive tem boas intenções mas esbarra em seus próprios defeitos, especialmente sua falta de perícia em dar andamento a procura por indícios do cativeiro das crianças. O agente da lei reclama o tempo inteiro por não ter boas condições de trabalho, principalmente no que tange a vigilância a Alex (Paul Dano), um dos suspeitos – seu superior justifica o erro apontando a falta de verba para o corpo policial, onde o roteiro evidencia as dificuldades que o sistema impõe em relação ao cumprimento do trabalho do servidor público. Mesmo que sua competência nas investigações seja discutível, Loki mostra uma paciência de Jó e não responde aos impropérios do pai inconsolado – as cenas entre Jackman e Jake Gyllenhaal são sempre muito boas, os atores possuem uma química incrível e ambos apresentam representações memoráveis e críveis no que tange os seus desempenhos dramatúrgicos.

    Nas cenas em que tem de aguardar as ações policiais, Keller usa um capuz que cobre o seu rosto, remetendo a vergonha e a dúvida sobre seus atos, se eles são corretos ou não, não tanto pelo maniqueísmo ou a briga certo/errado, mas sim pela obtenção de resultados, praticamente nula mesmo após tantas medidas extremas tomadas por ele. O alcoolismo retorna a sua vida, o personagem busca desesperadamente a coragem para prosseguir em sua busca. Sua atitude é extrema e culpável, se levado em conta o ideal moral e ético de comportamento humano, mas é plenamente cabível diante do desespero de não ter sua filha em seus braços, o sentimento paterno extrapola até o contrato social.

    Nas últimas cenas, após a descoberta do real vilão, Loki, após mais um erro de julgamento, e tentando não cometer mais equívocos, tenta levar a menina até o hospital a fim de retirar o veneno que lhe foi imposto. Graças a um ferimento na cabeça, o sangue escorre até os seus olhos, explicitando as feridas naturais que o impedem de enxergar a estrada a sua frente, e que mais tarde, o impede também de notar o paradeiro de Keller Dover, onde o papel de suposto foragido se inverte. O roteiro de Aaron Guzikowski é pródigo em usar os clichês do gênero de suspense de forma auspiciosa e muito competente, que junto à direção de Denis Villeneuve, faz desse Os Suspeitos um dos melhores filmes de 2013.

  • Crítica | Wolverine: Imortal

    Crítica | Wolverine: Imortal

    The Wolverine (Wolverine Imortal)

    Após o desastroso X-Men Origens: Wolverine, de 2009, é natural que qualquer fã do mutante mais famoso dos quadrinhos ficasse com um pé atrás a respeito de um novo filme do personagem, mesmo que os primeiros boatos a seu respeito fossem de um projeto com um cineasta de renome, como Darren Aronofsky, que acabou não se concretizando (para alegria de uns e tristeza de outros).

    Porém, as notícias da adaptação do clássico arco de histórias de Chris Claremont e Frank Miller com Wolverine no Japão permitiram novas possibilidades e o diretor James Mangold acabou por entregar uma história que por mais que não envolva totalmente o espectador nem apresente nada de novo em relação ao protagonista, ao menos não ofende o fã dos quadrinhos, de cinema e qualquer pessoa com senso crítico, como a produção anterior.

    Na nova história, Logan (Hugh Jackman) decidiu abandonar de vez a vida de herói e passou a viver sozinho na selva. Deprimido, ele é rastreado pela jovem Yukio (Rila Fukushima), enviada a mando de seu pai adotivo, Yashida (Hal Yamanouchi), que foi salvo por Logan algumas décadas antes, na detonação da bomba atômica em Nagasaki (em uma bela sequência). Yashida a princípio deseja reencontrar Logan para se despedir de seu salvador (já que está em seu leito de morte), mas depois faz uma proposta: transferir seu fator de cura para ele, de forma que Logan possa, enfim, se tornar mortal e levar uma vida como uma pessoa qualquer. Logan recusa o convite, mas acaba infectado por Víbora (Svetlana Khodchenkova), uma mutante especializada em biologia que é também imune a venenos de todo tipo. Fragilizado, Logan precisa encontrar meios para proteger Mariko (Tao Okamoto), a neta de Yashida, que é alvo tanto da máfia japonesa Yakuza quanto de outros oponentes que surgirão no decorrer da história, um tanto quanto cansativa.

    A trama, apesar de simples, é problemática em várias maneiras. Primeiro ao abordar novamente a Yakuza e seus membros tatuados e especialistas em artes marciais. Acredito que esse clichê já foi suficientemente usado em filmes de ação demais nos anos 80 e 90 (aliás, outro clichê é exatamente este: será que todo oriental sabe lutar e manejar armas?). A tentativa de dar ao filme um tom realista ao adotar a máfia como vilã inicial até funcionaria caso isso se sustentasse ao longo da narrativa, mas após sermos apresentados a Víbora e ao Samurai de Prata, toda a sequência com a Yakuza parece perder o sentido. Segundo por adotar corretamente a postura de dar tempo para os personagens se desenvolverem nos dois primeiros atos, mas se esquecer totalmente disso no terceiro, que é inchado com sequências de luta longas demais e, de certa forma, desnecessárias. E terceiro ao transformar radicalmente as relações dos personagens entre si e suas motivações gratuitamente de acordo com cada situação de maneira preguiçosa, a fim de encaixar a trama com um trabalho menor, torcendo para que ninguém perceba a incongruência.

    Exemplos disso não faltam: Shingen é envenenado pela Víbora e sofre alucinadamente, para depois aparecer e lutar de igual para igual com Yukio e vencê-la. Ela que antes havia dito que ele lutava “para o gasto”. Depois de vencê-la, Shingen ainda luta ferozmente contra Wolverine, em uma tentativa de remeter a icônica luta dos quadrinhos, mas extremamente mal-executada, já que, de uma hora para outra, Wolverine solta uma frase de efeito e abandona a luta para, segundos depois, voltar e matar o vilão que nunca deixa nada passar. Harada (Will Yun Lee) também é outro que age em um padrão o filme todo para no final, tomar uma atitude totalmente descabida. Há também a excessiva aparição de Jean Grey (Famke Janssen) nos sonhos de Logan, na função de servir de guia e desnecessariamente explicar a plateia cada momento do filme e o estado psicológico do protagonista.

    Os pontos positivos do filme ficam nas cenas iniciais (como a do urso e o enfrentamento no bar) e nas de ação, durante o enterro de Yashida e, principalmente, no trem, rendendo algumas cenas engraçadas. São cenas que, apesar de faltar violência e sairmos com a impressão de que ninguém foi morto pelas garras de Logan, conseguem transmitir perigo e um senso de urgência, além de serem bem executadas de modo que consigamos acompanhar, passo a passo, onde cada personagem está em determinado momento e o que estão fazendo, o que muitas vezes não é feito por diretores atuais. Porém, a melhor parte do filme ainda é a cena pós-crédito, que liga diretamente o filme ao próximo filme da franquia, chamado “Dias de um Futuro Esquecido”, trazendo personagens e atores conhecidos do público em um momento empolgante.

    Ao final, fica a impressão de que talvez tenha chegado a hora de tanto Marvel quanto Fox (assim como Hugh Jackman) repensarem o que a superexposição do Wolverine pode causar no desgaste do personagem, já que o veremos novamente protagonizado a sequência do ótimo X-Men: Primeira Classe. Encerrar aqui este ciclo do herói a exemplo da trilogia Batman de Nolan/Bale, daria chance a outras pessoas retomarem o herói com outros olhos e revigorar a combalida franquia solo de “Wolverine” nas telonas.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Crítica | Os Miseráveis (2012)

    Crítica | Os Miseráveis (2012)

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    Em 2001, com Moulin Rouge – Amor em Vermelho, os musicais ganhavam novamente destaque nas produções Hollywoodianas, com uma história amorosa que inovava no estilo cinematográfico e ainda era repleto de referências ao pop. Talvez não seja exagero afirmar que, ao lado do Western, é o gênero que mantém suas características próprias, sem diluir-se em uma mistura de gêneros que normalmente situam-se as produções contemporâneas que sempre dão espaço para o humor, ao drama, a ação, perdendo parte dos referenciais de outrora.

    Embora muitos não apreciem o gênero, parte da Era de Ouro do cinema americana foi fundamentada em torno de musicais. O Mágico de Oz, primeiro filme colorido, é uma aventura musical, um exemplo entre tantos outros filmes que transformaram suas canções em sucessos, ganhando força além deles.

    O musical é o gênero mais teatral. Quebra a ideia da verossimilhança a favor da arte. A procura de uma maneira de se expressar com maior intensidade, além da interpretação física e da modulação da fala prosódica. Ao utilizar a música como representação, o público reconhece o distanciamento da vida real, mas, por sua força, aproxima-o pelo elemento emotivo.

    Dirigido por Tom Hooper, do vencedor do Oscar de Melhor Filme Discurso do Rei, Os Miseráveis traz ao cinema a versão do musical da Broadway do romance do francês Victor Hugo. Um dos maiores sucesso do famoso teatro trouxe um conceito inédito ao se filmar o gênero. É o primeiro em que as canções foram realizadas direto da cena, sem a gravação prévia em um estúdio. As interpretações das canções mantem-se a favor da emoção das personagens e do desejo dos atores, mas falham se o ator não possui um bom gogó para conseguir refletir o que sente.

    Na trama, acompanhamos o ladrão Jean Valjean, que após roubar um pão e ser preso, decide redimir os erros de sua vida. Mas aos olhos da lei e do inspetor Javert, nenhuma mudança transformaria sua marginalidade. O que faz o inspetor persegui-lo durante a vida toda. Mesmo tornando-se um homem melhor, Valjean não reconhece o sofrimento de uma de suas trabalhadoras que cai em desgraça após ser demitida. É um novo sinal para recuperar sua crença e prometer que cuidará de sua filha, Cosette.

    A história trabalha, em toda sua magnitude que abrange o século XIX como um todo, o viés do tempo e das mudanças históricas. Acompanhando a vida de personagens que foram marginalizados tanto pelas misérias da vida como pela situação da França como país, aqui situado entre a grande batalha de Waterloo e a Revolução.

    Críticas mencionaram o exagero dramático da produção, mas é necessário pontuar desde já que um musical potencializa as ações representadas com maior intensidade e o próprio romance de Victor Hugo é uma narrativa romântica por sua construção sensível e representação crítica da sociedade.

    O grande pecado do filme é não saber diferenciar que o teatro tem formato diferente do cinema. No espetáculo da Broadway, pode ser funcional uma história de 160 minutos em que quase todas as falas são ditas de maneira cantada. No filme, o efeito soa artificial como se as personagens estivessem obrigadas a dizer suas falas somente dessa maneira. Até os musicais mais antigos se pautavam de maneira equilibrada entre números de dança ou voz e partes faladas que dão sequência a ação. Em uma história que permanece demais sequenciando canção após canção, a força das mesmas se perde. Ainda mais quando a gravação foi feita no decorrer da cena, evidenciando quem tem talento e quem fez aulas específicas para as filmagens.

    O astro da produção é seu protagonista, Hugh Jackman, que expõe seu talento vindo da tradição do teatro e, portanto, familiarizado com o estilo. O algoz da personagem, Russell Crowe, parece desconfortável em cantar, ainda que realize uma boa canção solo. O Oscar dado a Anne Hathaway é uma das premiações que se valeu de sua intensa cena solo, da canção mais famosa da trama, I Dream a Dream. Nas outras personagens coadjuvantes, Sacha Baron Cohen, em seu segundo filme musical, demonstra segurança tanto na interpretação como na voz e parece diferenciar sua carreira entre as produções próprias com personagens excêntricos  e aquelas mais tradicionalista que realiza com outros diretores.

    Tentando manter a fidelidade com o musical da Broadway, mesmo não sendo um espetáculo filmado, Os Miseráveis perde parte de sua alma como uma produção cinematográfica. A inovação de cantar do próprio estúdio não salva excessos que poderiam ser evitados se a adaptação não se apoiasse somente no espetáculo teatral, esquecendo que a sétima arte tem um formato diferente.

  • Crítica | A Origem dos Guardiões

    Crítica | A Origem dos Guardiões

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    A mais recente produção da Dreamworks Animation tem o consagrado estilo do estúdio: uma aventura leve, movimentada e divertida, claramente direcionada ao público infantil, mas com elementos que também agradam aos adultos. A Origem dos Guardiões segue uma premissa similar à do mega sucesso Shrek: depois dos contos de fadas, agora são figuras do folclore que ganham uma “repaginada” para se adequar aos novos tempos. Mas sua mensagem continua sendo a mais clássica possível – e emocionante justamente por isso.

    Na trama, quando o perigoso Breu (ou Bicho-Papão) ressurge após séculos para ameaçar as crianças do mundo todo, cabe aos Guardiões se reunirem para enfrentá-lo. Mas o time formado por Papai Noel, Coelhinho da Páscoa, Fada dos Dentes e Sandman pode não ser o suficiente diante da ameaça, pois o enigmático “Homem na Lua” escolhe um 5º guardião: o irresponsável Jack Frost. Ele vaga pelo mundo há trezentos anos, sem memória, objetivos ou mesmo reconhecimento por parte dos humanos. É essa sua busca pessoal, pelo seu “cerne”, que acaba sendo o motor da narrativa.

    Baseado na série literária Guardians of Childhood, de William Joyce, o filme é uma agradável surpresa, ao fazer dos Guardiões uma verdadeira equipe de super-heróis. Não falta nem a Jornada do Herói, representada no protagonista Frost. Igualmente bem conceituada e realizada é a roupagem cool que os personagens ganharam. Papai Noel não é mais só um bonachão: careca, tatuado, com duas espadas enormes, ele adquire uma divertida aura badass. O Coelhinho, ou melhor, Coelhão, é quase um ninja: é alto, sério, ágil e atira bumerangues. A Fada dos Dentes é meiga, mas protetora com suas fadinhas. E o Sandman não tem a aparência de Robert Smith, é um simpático gorduchinho (mas que sabe se virar numa briga) que se comunica usando a areia dourada dos sonhos.

    Um aspecto interessante é a reciprocidade na relação dos Guardiões com as crianças. Ao mesmo tempo em que eles representam e zelam por sentimentos como esperança, imaginação, alegria, capacidade de sonhar etc., eles dependem da crença dos pequenos para poderem existir e continuar seu trabalho. Isso gera alguns momentos tristes e reflexivos, bem coerentes dentro da narrativa, mas que talvez sejam resolvidos muito facilmente. Mas, como é um filme destinado a crianças, não dá para reclamar muito disso. Outro ponto negativo é que o protagonista fica devendo em matéria de carisma. Ágil, poderoso e com seu visual de personagem de anime, Jack Frost deve agradar crianças e pré-adolescentes, mas é inegavelmente insosso se comparado ao bom e velho Shrek ou ao Kung Fu Panda.

    Visualmente, o filme tem a competência habitual da Dreamworks, ainda que não traga nada inovador ou surpreendente. Também competente é a dublagem brasileira, nada devendo ao original (que conta com vozes famosas como Alec Baldwin, Hugh Jackman, Jude Law, entre outros). No fim das contas, A Origem dos Guardiões é uma boa recomendação até para quem não é particularmente fã de animações – caso deste que vos escreve.

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • 10 atores que poderiam ter sido James Bond

    10 atores que poderiam ter sido James Bond

    Com o sucesso de Skyfall, nada melhor do que algumas notícias, matérias e curiosidades sobre o agente secreto mais famoso do mundo. Dessa vez, uma singela lista de 10 nomes que em algum momento foram cogitados para interpretar 007 nas telonas.

    10. Richard Burton

    Richard burton poderia ser 007

    Richard Burton, ator galês que atuou em clássicos como Cleópatra e tem sete indicações ao Oscar, entre melhor ator e ator coadjuvante (apesar de não ter vencido nenhum). Também fez o papel de O’Brien no filme 1984. Pois bem, o criador da série de livros de James Bond, Ian Fleming, foi quem indicou Richard Burton como o seu preferido para o papel quando a primeira adaptação ao cinema foi sugerida, no final dos anos 50. Em uma carta escrita por Fleming em 1959, ele declara que Burton seria de longe o melhor James Bond.

    9. Cary Grant

    Cary Grant foi considerado para ser o primeiro James Bond

    Cary Grant, ator inglês, com um currículo de mais de 70 filmes na carreira, além de duas indicações ao Oscar e de um Oscar honorário. Foi considerado para o papel de James Bond para o primeiro filme da série. 007 Contra o Satânico Dr. No. O ator, porém, não queria assinar com os Cubby Broccoli e Harry Saltzman para várias sequências do personagem. Com isso, tivemos o icônico Sean Connery, como o primeiro – e melhor – agente 007.

    8. Adam West

    Adam West como James Bond

    Santo Batman, dentre todos dessa lista, o que me deixou mais chateado por não ter sido um Bond foi o Adam West. Imagine se tivéssemos dois personagens icônicos com um só ator. West foi considerado para dar continuidade ao 007 depois de 007 – Os diamantes são eternos, substituindo Sean Connery. E, caso você não saiba, Adam West é quem dava vida ao Batman na clássica série dos anos 1960. Agora imagine a situação que poderíamos ter, um crossover entre feira da fruta e Viva e deixe morrer – prefiro nem me arriscar a algum trocadilho óbvio fazendo sacanagem com o nome.

    7. Michael Billington

    Michael Billington possível james bond

    O ator britânico mais conhecido pela série de ficção científica dos anos 1970, UFO, é o ator com mais testes para filmes do James Bond até hoje, com testes para os seguintes: Viva e deixe morrer (1973), 007 contra o Foguete da Morte (1979), Somente para Seus Olhos (1981) e 007 Contra Octopussy (1983). Ele ainda fez uma participação como um agente soviético que James Bond mata no início de O Espião que Me Amava (1977). Eu não tenho certeza, mas acho que Michael Billington deve encarar o Roger Moore como o seu grande nêmesis da vida.

    6. James Brolin

    James Brolin um dos possíveis James Bond

    Pai do ator Josh Brolin, fez tester para interpretar Bond em 007 Contra Octopussy, que acabou tendo o retorno de Roger Moore para o papel. Porém, os testes feitos por James Brolin podem ser vistos nos extras da coleção recentemente lançada, Bond 50.

    5. Sam Neill

    Sam Neill como possível James Bond

    O norte-irlandês Sam Neill, mais conhecido pelo seu trabalho em Jurassic Park, já interpretou um espião na série de TV Reilly, Ace of Spies. Por seu papel nessa minissérie, foi cotado para interpretar 007 no cinema. Neill falou em outubro de 2012 ao Belfast Telegraph sobre o assunto: “Felizmente, não me ofereceram o papel. Havia muitas outras pessoas que seriam melhores para ele, e eu não teria gostado de atuar como James Bond.”

    4. Mel Gibson

    Mel Gibson um dos possíveis James Bond

    De acordo com o roteirista de Viva e Deixe Morrer, Tom Mankiewicz, era forte a ideia de Mel Gibson para interpretar Bond dentro da produtora United Artists. Mankiewicz disse em 2009: “Alguém me disse o seguinte, ‘Fale para Cubby Broccoli (produtor da franquia) que o Mel Gibson seria ótimo para o papel’. Então, ao conversar com Cubby, ele me disse, ‘Eu não quero fazer um filme do Mel Gibson, quero fazer um filme de James Bond’.”

    Se Adam West foi o que mais me gerou decepção ao saber desses possíveis Bond’s, Mel Gibson com certeza é o segundo colocado. Consigo até imaginar James Bond com a cara do Mel Gibson, em algum deserto asiático, perseguindo um soviético vestido apenas de tanguinha e se autoproclamando o aiatolá dos vermelhos.

    3. Hugh Jackman

    Hugh Jackman possível James Bond

    O eterno Wolverine Hugh Jackman foi cotado para substituir Pierce Brosnan depois de Um Outro Dia Para Morrer. Mas ele saiu do páreo justamente por estar interpretando Wolverine. “Eu recebi uma ligação do meu agente dizendo, ‘Há um possível interesse para você interpretar James Bond, o que acha?’ No momento eu não tinha interesse, estava para começar as filmagens de X-Men 2 e o Wolverine já marcaria demais minha carreira. Eu não queria fazer dois personagens tão icônicos ao mesmo tempo”, disse Hugh Jackman para a Press Association em 2011.

    Eu acho que Hugh Jackman seria uma boa escolha para o Bond, ainda mais se houvesse alguma possibilidade de crossover de papéis. Imagine só, 007 sacando suas garras de adamantium para enfrentar um vilão de 3 metros de altura e dentes de aço. Tenho a impressão que seria uma galhofa inacreditavelmente boa.

    2. James Purefoy

    James Purefoy possível James Bond

    O ator que depois viria a interpretar Marco Antonio na série Roma, James Purefoy, foi um entre tantos os atores que os rumores envolviam para representar James Bond depois de Pierce Brosnan. Alguns outros nomes eram Jude Law, Heath Ledger, Eric Bana e até Orlando Bloom (uma risada longa e exagerada, pelo nome de Orlando Bloom como Bond). Voltando ao ator em questão, Purefoy, no programa Good Morning America em 2004, quando perguntado se ele praticava a atuação para James Bond em frente ao espelho, respondeu: “Apenas quando estou sozinho em casa”. Funny Guy esse James não é. Mas no fim das contas, o que aconteceu é que, no treinamento do MI6, o Daniel Craig sentou a porrada em todo mundo, e só para ele foi concedida a licença para matar. Tomar martinis batidos, não mexidos. E algumas Bond Girls.

    1. Idris Elba

    Idris Elba possível James Bond

    A estrela de Skyfall, Naomie Harris, recentemente disse que Idris Elba conversou com a produtora da série, Barbara Broccoli, sobre a possibilidade de atuar como 007. Elba, no entanto, disse que são apenas rumores. Mas também disse que ser o primeiro Bond negro seria uma grande honra.

    0,5. Paulo César Pereio

    Mas e se houvesse uma versão à brasileira de James Bond? Quem seria o mais indicado para o papel? Eu votaria com certeza em Paulo César Pereio. Um Bond decadente, gordo, desgostoso com a vida. De bar em bar, no centro de São Paulo tomando cachaça pura porque acabou o dinheiro pros martinis. Lembrando de seus bons tempos, com alguma Bond Girl de respeito – Sonia Braga, Matilde Mastrangi, Helena Ramos. Ou até mesmo quando era expulso das surubas por mau comportamento. Não sei se seria um bom filme de ação, muito menos um filme de 007. Mas provavelmente seria uma ótima pornochanchada. E se tivesse alguma frase narrada pelo próprio Pereio, concorreria a filme do ano.

  • Crítica | O Grande Truque

    Crítica | O Grande Truque

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    A obsessão humana transcendendo os limites do agente que a gerou.

    Quando Christopher Priest foi abordado por produtores interessados em transformar o seu romance em filme através da visão de Chrisptopher Nolan, ele ficou bastante impressionado, pois o autor apreciava os filmes anteriores do diretor (The Following e Amnésia). Em meados dos anos 2000 Nolan terminou de ler o romance e envolveu o seu irmão na produção de um roteiro. Nascia assim O Grande Truque (The Prestige).

    Nolan pretendia terminar este filme antes mesmo de Batman Begins, mas a pressão do seu projeto do morcego era maior e o diretor teve que esperar um pouco para poder finalizar o seu “projeto paralelo”. O que se pensarmos bem, fez muito bem à produção de O Grande Truque (mais grana liberada pelo estúdio), além de facilitar o casting do mesmo, muito graças ao sucesso de Batman.

    O plot inicial soa quase despretensioso: Dois ilusionistas, após terem sido afastados por um trauma em um truque do passado se sucedem em uma obsessão dantesca na busca pelo truque de mágica máximo, gerando tragédias para ambos assim como para as pessoas próximas a eles. Mas dentro deste enredo Nolan explora diversos conceitos interessantíssimos da natureza humana, e extrapola para a ficção gerando inclusive dilemas filosóficos da representação do ‘’Eu’’ e sua natureza transcendental, ou não.

    Robert Angier (Hugh Jackman) e Alfred Borden (Christian Bale) são algumas das peças que Nolan tem para revisitar temas que marcariam toda a sua carreira. Um indivíduo obcecado e que está disposto a ir além do que muitos iriam, para alcançar de alguma forma a sua realização, o sentimento de ter cumprido a sua função existencial. Se aqui temos a busca pela fama e o reconhecimento como melhor ilusionista de Londres como foco, em Amnésia esta busca seria a vingança do assassinato de sua mulher, ou mesmo a obsessão de um vigilante mascarado em querer “limpar” uma cidade (e com isso amenizar as dores que o afligem desde criança). Todos eles em diversos momentos transitam em uma linha muito tênue do que consideram moral. Angier e Borden são constantemente questionados pelas pessoas ao seu redor sobre as suas ações, sobre a obsessão que os corrói, mas eles seguem sempre em frente, sempre na busca por algo que os libertará disso tudo. Ingênuos, eles se esquecem de que o caminho espinhoso percorrido deixará cicatrizes permanentes, não importa o quão gratificante seja ter atingido o seu propósito inicial.

    Outro tema recorrente em Nolan é o seu modo de brincar ou questionar a realidade. Seja através de uma lesão cerebral na qual as memórias não se fixam mais, seja através da insônia e um estado mental perturbado ou simplesmente com um truque de mágica. Aqui a metáfora do que é ou não real nunca foi mais clara. Nolan brinca em várias cenas com os truques de ambos, isso somado as reviravoltas do roteiro justificam assistir a obra mais de uma vez.

    Integram o cast de peso Michael Caine, Scarlett Johansson, Andy Serkis e a mais que curiosa participação de David Bowie como o cientista e inventor Nicola Tesla. A fotografia e a produção de arte são fidedignas a Londres do final do século IXX (o que rendeu 2 indicações ao Oscar), cores frias permeiam quase toda a película, representando em grande parte a racionalidade de nossos protagonistas, seus maquinários para os truques e sua amoralidade quando levado em conta seus objetivos. Essa frieza é contrastada em pequenos momentos que clamam mais do emocional humano, principalmente nas cenas de Michael Caine e a linda filha de Borden (Samantha Mahurin), um misto de ingenuidade e deslumbramento ao se deparar com os truques mais simples do mundo ilusionista.

    Vemos aqui que há um preço enorme a se pagar caso não haja limites para a sua obsessão. Seja ele pequeno (um pássaro que morre para o sucesso dos truques de desaparição) ou até mesmo os que podem comprometer de forma irreversível a sua vida. Direta ou indiretamente, Angier e Borden sofrem e muito com isso. Mas dentro deles há impulsos fortes demais para serem ignorados. Fica fácil perceber que não importa se eles serão alcançados ou não, o impulso sempre estará lá, forte e ainda devastador. Os sacrifícios decorrentes de tal perseverança são impactantes e é difícil se manter indiferente. A reflexão resultante de tais atos por si só já valem o filme. Pena que ele muitas vezes acaba passando ao largo da filmografia do diretor como algo menor. Ao meu ver, ele consta entre os melhores filmes de Christopher Nolan.

    Texto de autoria de Amilton Brandão.

  • Crítica | Gigantes de Aço

    Crítica | Gigantes de Aço

    Gigantes de Aço 1

    Falcão, o campeão dos campeões, encontra Transformers num filme do Rocky Balboa. Um crossover maluco? Nada disso, essa é basicamente a essência de Gigantes de Aço, filme estrelado por Hugh Jackman que estreou no dia 21 de outubro.

    Em 2020, o boxe como o conhecemos não existe mais. Devido à crescente ânsia do público por mais e mais violência, o esporte foi proibido para humanos. Em seu lugar, robôs se enfrentam em lutas até a “morte”. Nosso querido Wolverine vive um Charlie Kenton, um ex-boxeador que quase foi campeão mundial, e agora tenta sobreviver controlando sucatas velhas em lutas no mundo underground do boxe robótico. Azarado e ganancioso, ele se afunda em dívidas. Até que surge em sua vida Max, filho para o qual nunca deu bola. A mãe, uma ex-namorada, acaba de morrer de câncer, e o escrotíssimo Charlie tem a chance de faturar uma grana alta vendendo a guarda do menino para os tios, só vai ter que antes passar o verão com ele.

    Inevitavelmente, temos uma conflituosa relação entre pai e filho, mas o que salva o filme da chatice é Max ser um apaixonado e profundo conhecedor do boxe de robôs. Ele e o pai vão se conhecendo numa jornada que vai literalmente do ferro ao velho ao estrelato do esporte, através do robô Atom, um autômato velho mas capaz de copiar os golpes que vê, além de agüentar muita porrada.

    O filme é sem dúvida previsível, o que não tira em nada sua qualidade. Jackman manda bem como o pai canalha que vai aos poucos revendo suas atitudes e se transformando em alguém melhor, enquanto ator-mirim Dakota Goyo parece um clone do Anakin de Ameaça Fantasma, só que muito mais carismático. Também chamam atenção no elenco dois atores de Lost:

    Evangeline Lily, competente no papel de ajudante/amiga/interesse romântico de Charlie, e Kevin Durand, obviamente como um vilão.

    E quanto aos gigantes de aço propriamente ditos, sem exagero: esqueça Transformers. Misturando os bons velhos animatronics, técnicas de captura de movimentos e, claro, efeitos em CGI, temos aqui robôs mais VIVOS do que nunca. Cada um tem suas particularidades, e o realismo é exaltado em cada amassado ou arranhão na lataria. As lutas são ótimas, sem economizar em “sangue” e desmembramentos por causa da censura, afinal, são apenas robôs.

    Entre inspirações, homenagens e clichês, o resultado final é muito divertido e empolgante. Um dos melhores do ano, recomendado a todos que gostam de cinema.

    Texto de autoria de Jackson Good.