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  • Crítica | Peter Pan

    Crítica | Peter Pan

    Peter Pan 1

    A intenção de Joe Wright em refilmar o clássico literário e de animação Peter Pan é bem clara, e muito ligada a sua filmografia, comumente retratando cenários suntuosos e tramas que primam pelo visual. Como em Anna Karenina e no curioso Hanna, este Pan de 2015 consegue exprimir nuances no imaginário do público, distantes demais do que a maioria dos espectadores sabe a respeito do rapaz que não cresce.

    A trama se passa antes da época de As Aventuras de Peter Pan, filme animado premiado de Walt Disney, e se distancia muito da versão em live action da década passada, especialmente pelo esmero de seu diretor em dar ares de grandeza ao conto. Levi Miller dá vida ao personagem-título de uma maneira interessante, apoiado em um roteiro que apela para orfandade, claramente no intuito de universalizar ainda mais sua história. Pecados de clichês à parte, os defeitos do filme passam longe da personificação do ator mirim.

    Os efeitos especiais da trama são ligados às coincidências e às uniões que Pan faz ao chegar a Terra do Nunca. A construção de cenários e atmosferas do lugar mágico são curiosas, misturando pop, anarquia e crossdresser, fatores que fazem do caricato Barba Negra de Hugh Jackman um personagem que não prima pelo conteúdo, mas que funciona em quase todas as vezes em que é acionado, especialmente nos momentos musicais, onde os renegados entoam hinos grunge e punk.

    No entanto, a personificação de James Hook poderia ser melhor trabalhada. Garret Hedlund não tem qualquer carisma – vide Tron O Legado e Na Estrada – a ponto de seu personagem não dizer nada absolutamente ao público. Quando ele não está em tela, quase não se sente sua falta. A ausência de qualquer complexidade em seu comportamento o torna genérico, como qualquer anti-herói que se vira para o “lado do bem” repentinamente. O cuidado em construir um 3D que acrescenta á trama passa longe de ser o mesmo na atmosfera em volta do pretenso Capitão Gancho, pouco fazendo crer que ele se tornaria o antagonista de uma possível continuação.

    Apesar de tropeços na construção de cenários da terra dos nativos, onde habitariam os Garotos Perdidos e onde habitam aves esdrúxulas que mais lembram pokemóns deformados,  não há muito a se lamentar. As escolhas para retratar a matança de seres místicos são tão inocentes que beiram a poesia. Wright mais uma vez abusa das cores, o que faz pensar em certa ambiguidade de seu texto, referenciando não só à psicodelia, como também ao flerte com questões graves, como dislexia infanto-juvenil. Peter Pan não consegue o intento de ser uma obra-prima, em razão de algumas licenças textuais ruins, mas funciona como versão em carne e osso de uma história conhecida por ser animada, especialmente em comparação com as péssimas adaptações recentes, como Branca de Neve e o CaçadorAlice No País Das Maravilhas, Cinderela e o musical Caminhos da Floresta.

  • Resenha | Peter Pan – Volume 3

    Resenha | Peter Pan – Volume 3

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    Releituras de obras literárias clássicas não são algo novo, muito tem se realizado nesse sentido ao longo do tempo, não apenas na literatura, mas também em outras mídias, como acontece com o premiado álbum do francês Régis Loisel, em Peter Pan, clássico de sir J.M. Barrie, que chega ao seu desfecho no terceiro volume da série lançada pela Nemo.

    Assim como nos volumes anteriores (leia nossa resenha de Peter Pan – Volume Um e Peter Pan – Volume Dois), o autor continua a recriação o universo clássico do garoto que não queria crescer e os ambientes e personagens que orbitam à sua volta, como também inova ao desenvolver narrativas paralelas que criam um conectivo entre a história de Peter e a Londres do século XIX, como fica claro pela inserção do famoso assassino, Jack, o estripador.

    As liberdades utilizadas por Loisel não soam gratuitas ou desnecessárias, pelo contrário, sempre procurando se pautar pelo argumento adulto e sombrio dado a graphic novel, o autor deixa margem para interpretações, além de sedimentar posição firme sobre cada um de nós e a dubiedade existente, expurgando o moralismo barato e o maniqueísmo de sua obra.

    Se anteriormente nosso protagonista se tornava uma figura por vezes desagradável e irresponsável, neste último volume o autor consegue desconstruir sua imagem. Parte disso, graças, principalmente, ao continuar o desenvolvimento da importância da figura materna para Peter como também justificar o que provoca a ausência desse carinho materno na personagem.

    Podemos dizer que a importância do seio materno para o autor são um dos cernes deste último volume, já que além de Peter, essa trama também se desenvolve na figura de Rosie, a órfã que simboliza a como mãe à todos os garotos perdidos e algumas criaturas da Terra do Nunca.

    A arte estupenda se contrapõe entre a sombria e suja Londres e a vívida Terra do Nunca, que ao lado do roteiro demonstra que nem tudo está ao alcance dos olhos como se parece. Esses ares sombrios e cruéis podem se dar mesmo numa ilha edênica onde o tempo não passa, todavia o esquecimento é uma força descomunal aos seus habitantes, como também na dura e fria Londres, onde a preservação da inocência ainda se mantém para uma parte da sociedade.

    Compre: Peter Pan – Volume 3

  • 10 Filmes que Recontam os Contos de Fadas Clássicos

    10 Filmes que Recontam os Contos de Fadas Clássicos

    Cinderella 2

    Hollywood vive de identificar e seguir padrões. O que antigamente era feito do feeling de produtores de mente privilegiada, capazes de gerar novos formatos, ou por aqueles que observavam esses novos formatos à sua volta e corriam atrás do lucro, hoje é realizado por uma grande equipe que traça perfis e modela comportamentos a fim de antecipar tendências de mercado antes de seus concorrentes. Um mundo cada vez mais rápido exige decisões que o alcancem, e o resultado desse esforço descoordenado é uma leva de filmes todos quase iguais entre si. Quem não se lembra do ano em que parecia que no cinema só havia filmes com a Branca de Neve?

    Assim como a moda, o cinema segue o mesmo ciclo de tendências com períodos de uma ou duas décadas iniciadas com a descoberta, a solidificação, a era de ouro (era dos clássicos), fórmula, desconstrução e por fim a sátira ou hibridização/retomada. Vivenciando parte do período de desconstrução e início da hibridização, observa-se a tentativa de negação do maniqueísmo dos contos de fadas, bem como o distanciamento de seu caráter eventualmente conservador e machista.

    Novos olhares sobre os contos de fadas, vilões como protagonistas, quebra de paradigmas e uma série de tentativas  ̶  muito idênticas entre si  ̶  de reanimar este gênero tão precioso e que não precisa ser tão tão distante. Abaixo, uma humilde lista de reinvenções ou categorizações novas ou simplesmente repetidas:

    Caminhos da Floresta, por Marcos Paulo Oliveira

    caminhos da floresta iw

    Na recente leva de filmes que buscam diversificar e voltar um novo olhar sobre os contos de fadas clássicos, Caminhos da Floresta surge como uma grata surpresa  ̶  em partes porque a expectativa não era muito mais alta do que algum dos sete anões  ̶ e estabelece um bom ritmo durante o primeiro e segundo atos. Com a trama claramente dividida em duas partes, que se propõem a mostrar a interação entre diversos contos de fadas coexistindo num mesmo universo, o filme se perde ligeiramente ao inserir conflitos desnecessários no desfecho, deixando a sensação de que ou algo muito importante faltou, ou algo muito bobo sobrou. No caso, a resposta é a segunda opção. Mas essa falta de foco não é impedimento para apreciar as boas performances musicais, em especial as de Emily Blunt e Meryl Streep, bem como o levantamento de questões inerentes aos contos de fadas, que por traduzirem-se nos chamados arquétipos universais, são capazes de representar os mais variados temas. Vale como nota a participação de Johnny Deep como Lobo Mau em um visual que, apesar de bonito e ousado, destoa do resto da direção de arte, o que pode incomodar por algum tempo os mais sensíveis à proposta de seu personagem propositalmente fake. Interessante, bonito e elegante, há conteúdo para que os tropeços e pedras no caminho sejam relevados para apreciação deste bom musical.

    Alice no País das Maravilhas, por Doug Olive

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    Era uma vez um cineasta imperturbável e incorruptível em seu ofício e identidade, senão disposto a corroer qualquer quesito autêntico do artista em prol dos padrões que filmes populares precisam ter para garantir um retorno lucrativo certeiro – o mais garantido possível. Não apenas por ser ofensiva em relação ao sublime conto de Lewis Carrol, com ideias que destoam da qualidade das ideias originais: Tim Burton e cia. deturparam em 2010 o sublime de um universo maravilhosamente bizarro para extrair um bizarro do tipo esnobe e arrogante, direto de uma magia e inocência subestimadas e constantemente atacadas numa história mais realista que surreal, como é possível notar em inúmeras cenas chave. A apropriação de Alice no País das Maravilhas e do trágico Sombras da Noite são os únicos filmes de Burton em que seu inconfundível tom bizarro, por nós atestado em Edward Mãos de Tesoura e Ed Wood, é confundível e incrivelmente preguiçoso.

    Peter Pan, por Doug Olive

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    Adaptar a cultura popular é pior que surpreender esse mesmo senso, devido ao grau de expectativa diante do feito heroico de traduzir tradições para uma nova versão, público e mentalidades. Trazer o menino que não queria crescer para encantar jovens e adultos atuais que não querem amadurecer, e enxergam em filmes de super-herói e livros de vampiros diurnos uma longa rota de imaturidade, não poderia ser difícil. Nas mãos certas, com certeza não, fato que o filme que revive a lenda em plena Terra do Nunca é falho do figurino “carnaval amador” de Peter aos ponteiros do relógio na barriga do crocodilo Tic-Tac. O penalty desta versão, anoréxica e frágil, por não propor nada de novo ou interessante ao conto de J. M. Barrie, é ser esquecido em inevitáveis cinco minutos depois de uma projeção entediante. Nem fábula, nem conto, sonífero. E como se não bastasse o efeito, fica a ressaca de brinde.

    João e Maria: Caçadores de Bruxas, por David Matheus Nunes

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    Pegando carona na onda de adaptações mais sérias e adultas dos contos escritos pelos Irmãos Grimm e indo em direção contrária às adaptações mundialmente conhecidas pela Disney, João e Maria: Caçadores de Bruxas conta uma aventura vivida pelo casal de irmãos que, após o evento traumático sofrido em sua infância, quando os dois foram presos e quase comidos por uma bruxa, decide caçar essas estranhas e cruéis criaturas. João (Jeremy Renner) e Maria (Gemma Arterton) chegam a um pequeno vilarejo para investigar o desaparecimento das crianças do local. A investigação não demora muito para colocar a dupla em confronto direto com a antagonista da trama, a bruxa Muriel (Famke Jansen). O filme, infelizmente, é muito curto, não deixando espaço para um melhor desenvolvimento dos personagens. Em contrapartida, a diversão ainda é válida, uma vez que a parte artística da produção é bem elaborada, desde a fotografia até o visual de todas as bruxas que compõem o longa, cujas aparências são fantásticas. Além disso, o filme tem boas doses de violência, deixando de lado o teor de conto de fada.

    Malévola, por David Matheus Nunes

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    Após um hiato de três anos longe das telas, a atriz Angelina Jolie marcou seu retorno triunfal em Malévola, vivendo a personagem do título que adapta uma passagem de A Bela Adormecida. O filme, uma super produção de quase 200 milhões de dólares, muda em alguns pontos o conto original, narrando a origem de Malévola e mostrando seu passado, quando viveu uma história de amor com o rei Stefan (Sharlto Copley) que culminou com a maldição que a transformou numa feiticeira cruel e amargurada. A história também deixa claro que Malévola sempre teve uma relação de carinho e afeto com a bela, e futuramente adormecida, Aurora (Elle Fanning), filha de Stefan. Aliás, a parte que realmente adapta o conto dos Irmãos Grimm é uma das mais prejudicadas, talvez pelo fato de não ser o foco do filme. Apesar de não ser excelente, a película traz um final surpreendente, embora suspeitada, em uma decisão ousada tomada pela roteirista Linda Woolverton.

    Hook: A Volta do Capitão Gancho, por por Bernardo Mazzei

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    O ano era 1991 quando Steven Spielberg resolveu dar sua visão própria e toda especial para a fábula de Peter Pan. A história mostrava um Peter mais velho e sem memória de sua vida na Terra do Nunca, sendo levado de volta pelos Garotos Perdidos para, mais uma vez, combater a ameaça do Capitão Gancho. Apoiado em boas atuações de Robin Williams e de Dustin Hoffman, o filme mostra-se uma excelente diversão, apesar de parecer irregular em alguns momentos.

    Branca de Neve e o Caçador, por Bernardo Mazzei

    Branca de Neve e o Caçador iw

    Estrelado pela dupla Chris Hemsworth (Thor, Os Vingadores) e Kristen Stewart (a Saga Crepúsculo), Branca de Neve e O Caçador apresenta uma visão dark da fábula da moça que come a maçã envenenada pela bruxa. Com um visual bem interessante e de forte apelo, o filme patina um pouco devido ao roteiro confuso e seu ritmo vacilante. Chris Hemsworth até que se sai bem como o Caçador, mas a cara de tédio de Kristen Stewart não desperta a menor empatia. Pelo menos Charlize Theron, em um overacting digno de Nicolas Cage, ajuda a segurar um pouco a onda, e no fim, quase acabamos torcendo por ela. Vale uma espiada.

    Irmãos Grimm, por Bernardo Mazzei

    Irmãos Grimm iw

    Dirigido por Terry Gilliam e protagonizado por Heath Ledger e Matt Damon, Irmãos Grimm tinha tudo para dar certo. A trama colocava os autores das fábulas como dois vigaristas que aplicavam golpes simulando fenômenos fantásticos. Porém, ao se depararem com um verdadeiro evento de “conto de fadas”, a dupla teria que criar coragem e combater a ameaça. No entanto, apesar da boa atuação da dupla de protagonistas e dos coadjuvantes, a briga interna entre o diretor e os produtores, Harvey e Bob Weinstein da Miramax, nos deixou como resultado um filme mediano, que não engrena totalmente e que possui péssimos efeitos especiais, principalmente em seu terço final. Por terem o privilégio do “corte final”, os produtores possivelmente estragaram uma película que tinha tudo pra ser sensacional, visto a intimidade de Terry Gilliam com elementos fantásticos.

    Jack: o Caçador de Gigantes, por Filipe Pereira

    Jack o Caçador de Gigantes iw

    Bryan Singer passava por uma pequena crise criativa após retirar-se da franquia dos mutantes da Marvel. Após Superman – O Retorno, o diretor só conseguiria retornar aos tempos de glória em X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido, fazendo nesse meio tempo a produção executiva de X-Men: Primeira Classe, de onde retiraria seu protagonista, Nicholas Hoult. João – ou Jack – é um jovem fazendeiro que se vê em meio a um imbróglio envolvendo uma princesa sequestrada, que, antes de sumir, havia se apaixonado por ele. A adultização do conto não se diferencia dos seus primos pares, mas consegue reunir um roteiro ainda mais caótico do que João e Maria, Malévola e Branca de Neve e o Caçador. Um filme genérico, enfadonho e com uma direção fraca em comparação com os piores momentos de Singer, sendo este possivelmente o mais execrável de seus filmes, especialmente pelo grotesco aspecto imbecilizado e visualmente patético dos gigantes, não acertando a mão nem em uma visão madura, nem em algo digno para as crianças.

    Beleza Adormecida, por Filipe Pereira

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    Os irmãos Grimm não inventaram qualquer um dos seus contos. Seu trabalho foi mais de curadoria, reunindo em textos as tradições orais famosas. Nas transposições da Disney, houve uma grande suavização dos textos redigidos. No filme de Julia Leigh, toda a perversão presente no imaginário popular ganha corpo e nudez no drama de Lucy, vivida por Emily Browning no auge de sua forma física. Para suprir suas carências emocionais e monetárias, a personagem entra para a meretrício, atendendo a um nicho formado por homens que exalam degradação moral e carnal e que mal conseguem controlar sua libido. O título em comum – Sleeping Beauty – foi muito bem traduzido como Beleza Adormecida, uma vez que representa a bela pele exposta de Browning, referenciando o estado em que ela “trabalha”, sempre dopada para aplacar a vergonha e infâmia dos próprios serviços.

    Menções honrosas também a Oz: Mágico e Poderoso, de Sam Raimi; o filme protagonizado por Amanda Seyfried. A Garota da Capa Vermelha, dirigido por Catherine Hardwicke (diretora de Crepúsculo); o crássico Floresta Negra; o moderno e videoclíptico A Fera, com Vanessa Hudgens; o recente  Um Conto do Destino; a reprise constante da Sessão da Tarde Para Sempre Cinderela; o live action com Amy Adams e Patrick Dempsey, Encantada; e A Bela e a Fera, protagonizado pelos belos Vincent Cassell e Léa Seydoux; além dos seriados Grimm, Once Upon a Time e a fantástica obra em quadrinhos de Bill Willingham, Fábulas, da Vertigo.

  • Crítica | Hook: A Volta do Capitão Gancho

    Crítica | Hook: A Volta do Capitão Gancho

    Hook - Blu Ray

    Hook: A Volta do Capitão Gancho é um daqueles filmes que ficam na memória de qualquer criança que hoje está na casa dos 30 anos. Lançado em 1991, com jeito de super produção e com um elenco estelar, o longa teve muitos problemas, demorando, praticamente, 10 anos para sair do papel, além de trocas de estúdio, abandono (e posterior retorno) do diretor Steven Spielberg e demissão de roteiristas..

    À época, Spielberg já tinha em seu currículo clássicos dos estilos mais variados como Tubarão, Contatos Imediatos de Terceiro Grau, Os Caçadores da Arca Perdida, E.T. – O Extraterrestre, A Cor Púrpura e O Império do Sol, portanto, expectativa suficiente para fazer de Hook um grande sucesso. O que se viu, então, foi um sucesso de bilheterias, mas um desastre de críticas.

    Baseada na obra e na peça escrita por J.M. Barrie, a história é centrada no pai de família Peter Banning (Robin Williams), um advogado de sucesso que não tem tempo para a família, já cansada de seus atrasos e de suas falsas promessas. Durante uma visita à casa de sua sogra, Wendy (Maggie Smith), os filhos de Peter acabam sendo sequestrados pelo Capitão Gancho (vivido brilhantemente por Dustin Hoffman). Assim, a fada Sininho (Julia Roberts) também sequestra Peter e o leva de volta à Terra do Nunca. O problema é que Peter não lembra absolutamente nada a respeito de sua época na Terra do Nunca, nem da própria Sininho, muito menos dos Garotos Perdidos, que ficam divididos naqueles que acreditam ou não que aquele Peter é, seu líder, Pan. Porém, Peter tem apenas três dias para se lembrar e se preparar para um duelo contra o Capitão Gancho e que decidirá o futuro de seus filhos.

    A premissa já foi (e ainda vem sendo) desgastada por Hollywood, e a performance do grande elenco é o que mais deixa a desejar. Julia Roberts concorreu ao Framboesa de Ouro; Robin Williams deu início à saga de papéis iguais que o tornaram famoso. Além do mais, hoje, chega a ser constrangedor vê-lo adulto, levemente fora de forma vestindo a roupa de Peter Pan. Tais fatos acabaram por deixar Dustin Hoffman sobrecarregado, mas sem perder o brilho, juntamente com seu aliado pirata, Smee (Bob Hoskins) e um ou outro Garoto Perdido que se sobressai em relação aos demais.

    Analisando friamente a fita, chega-se à conclusão que o destaque fica para a direção de arte, que construiu uma Terra do Nunca bastante lúdica, além de um navio pirata sensacional, e os figurinos dos personagens (principalmente o do Capitão Gancho), que são impecáveis. Mas em que se pesem os aspectos negativos, podemos perceber que Hook: A Volta do Capitão Gancho é um filme feito pra entreter, e ele cumpre bem o seu papel. Pelo menos, o projeto seguinte de Steven Spielberg foi Jurassic Park.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Resenha | Peter Pan – Volume 2

    Resenha | Peter Pan – Volume 2

    Peter Pan - Vol 2

    O segundo volume do álbum de Loisel (leia nossa resenha sobre Peter Pan – Volume 1 aqui), livremente inspirado na obra de J.M. Barrie, Peter Pan, continua com a jornada do jovem Peter pela ilha misteriosa (o nome Terra do Nunca não é mencionado aqui) ao lado dos seres fantásticos do lugar. O segundo volume reúne a terceira e quarta partes da trajetória do pequeno herói: Tempestade e Mãos Vermelhas.

    Após a tarefa de apresentar os personagens, Loisel passa a edição desenvolvendo cada um deles, principalmente o irresponsável protagonista. O mundo de Peter também ganha vida neste desenvolvimento, fazendo um forte paralelo à suja Londres, cidade de onde surgiu. Os seres encantados desse local também servem como contraponto ao mundo real, fazendo-nos refletir sobre o conceito de conto de fadas conduzido pelo autor.

    A edição traz como mote a aproximação de Peter com esses seres fantásticos e a tentativa destes em afastar os piratas de sua ilha, criando um plano mirabolante com a ajuda das sereias para se livrarem de uma vez do Capitão e seus piratas. Obviamente, as coisas não saem como o planejado e o protagonista tem que conviver com suas escolhas e a responsabilidade de liderança.

    Loisel busca uma aproximação maior com a obra original, amarrando algumas pontas deixadas no primeiro volume. Além disso, seus personagens são sofridos, e principalmente Peter passará por difíceis caminhos para se tornar o Peter Pan mais próximo daquele que conhecemos, dando um estofo necessário ao protagonista. Isso sem que ele deixe de lado a malandragem e uma pitada de egocentrismo dadas pelo autor nessa nova versão.

    O autor aproveita o passado de Peter em Londres para desenvolver uma segunda linha narrativa, dessa vez trazendo um gancho com a história britânica envolvendo os casos não-solucionados de assassinatos que ocorreram no distrito de Whitechapel, cometidos pelo serial-killer denominado pela imprensa da época como Jack, o Estripador.

    Assim como na edição anterior, Loisel consegue transmitir emoções e características de forma competente. O mesmo ocorre no dinamismo de seus quadros. Essas qualidades influem diretamente na forma narrativa do autor, não sendo necessários “balões” excessivos para expor o que suas personagens querem expressar. Isso fica bastante claro no personagem de Sininho, que não possui falas, ou mesmo nos dos índios, que se comunicam em um língua intraduzível, mas que mesmo assim pode-se entender o que está sendo dito por cada um deles.

    Novamente um excelente trabalho da Editora Nemo, uma caprichosa edição em capa dura que faz jus ao trabalho apresentado pelo autor.

  • Resenha | Peter Pan – Volume 1

    Resenha | Peter Pan – Volume 1

    Peter-Pan-Capa-volume-1

    Peter Pan já faz parte do imaginário popular. O personagem de J. M. Barrie, criado para sua peça de teatro – que posteriormente se tornou um romance – há mais de 100 anos atrás teve inúmeras adaptações, seja para o cinema, teatro ou quadrinhos, contudo, talvez a mais notória delas seja a versão criada pela Disney, em 1953. Em 2003, o francês Régis Loisel decidiu dar sua contribuição para o clássico “infantil”.

    Talvez para muitos seja difícil abordar questões originais ao revisitar um clássico como Peter Pan, e esse é o grande mérito deste álbum. Loisel compreende o cerne dos questionamentos da história que tem em mãos e não só consegue recontá-la de forma original, como também questiona e critica aspectos sociais abordados superficialmente em outras versões. Cabe ressaltar que a versão de Loisel é dedicada ao público adulto.

    Loisel insere Peter numa Londres miserável, rodeado de orfãos, bêbados, estupradores e prostitutas. Peter tenta compensar seu mundo cinza e desesperançoso em algo fantasioso, como um conto de fadas. Suas frequentes humilhações o afastam dia-a-dia do mundo real, até que conhece uma fada, a quem Peter decide chamar de Sininho. A fadinha decide levá-lo à Terra do Nunca, uma ilha fantástica onde os habitantes desse lugar precisam de sua ajuda.

    Loisel adapta e recria Peter Pan de forma cínica, mas extremamente real. Peter está longe de ser um personagem cativante ou um modelo que deveria ser seguido, pelo contrário, suas atitudes são altamente questionáveis, mas compreensíveis, se analisarmos a sociedade de que ele saiu. Peter definitivamente não quer crescer, mas não porque acha o mundo das crianças o lugar ideal. Peter apenas conhece a sujeira do mundo adulto e o quão baixo eles podem descer.

    O autor entrega uma versão muito distante do conto de fadas da Disney. A Londres de Loisel é imunda, seu inverno é cruel, cinza e angustiante. Os moradores de Londres são figuras repulsivas para qualquer um de nós, quiçá para uma criança. A Terra do Nunca do autor está longe de ser um lugar seguro, porém é um excelente contraponto a Londres de Peter. O traço e o trabalho de cores do autor é incrivelmente expressivo e de encher os olhos a cada página, te colocando próximo daquele mundo e daqueles personagens. A narrativa gráfica é ágil, utilizando cada enquadramento em prol da história. Impressionante o nível de detalhes na arte de Loisel. Um deleite visual.

    Peter Pan, de Loisel, está entre as melhores publicações do ano, e mostra de forma chocante quão cruel e prejudicial o mundo adulto pode se tornar para uma criança.

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